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Convite à Leitura de Paulo Freire

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Academic year: 2021

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HADDAD, Sérgio. “Prefácio”. In: GADOTTI, Moacir. Convite à Leitura de Paulo Freire. São Paulo: Spicione, 1991. pp. 7-9.

Prefácio

Os últimos 30 anos da história da educação brasileira foram caracterizados por importantes marcos no campo da educação popular e da educação de adultos. Paulo Freire é um desses marcos, talvez o mais significativo

Até a década de 50, praticamente inexistia uma forma própria de pensar a questão escolar dos adultos oriundos das camadas populares, cujo ensino era, quase sempre, referenciado pela reposição dos conteúdos escolares do ensino de crianças; a partir daí, as coisas começaram a mudar.

Tais mudanças brotaram numa época fértil, de intnsa mobilização política, em que os educadores – ao reconhecer que o trabalho escolar não tinha como propiciar mudança efetiva nas condições de vida dos trabalhadores que buscavam os bancos escolares – procuraram unir o pedagógico ao político. O pensamento de Paulo Freire estava aí presente, não só na crítica ao sistema educacional que concorria para a manutenção da sociedade opressiva, como também na formulação de uma pedagogia que contribuísse para a transformação social.

Ao seu lado, inúmeros educadores saíram à luta, reinventando práticas político-pedagógicas orientadas para um objetivo maior: aprimimorar a ação política do educador que se dispunha a construir uma sociedade mais justa. Viram, todos eles, suas intenções serem abortadas pelas forças conservadoras que assumiriam o poder em 1964.

Mas a semente já estava plantada. Enquanto o trabalho de Paulo Freire ultrapassava nossas fronteiras e alcançava reconhecimento no Chile, na África libertada e em inúmeros outros países abertos a uma luta por novos caminhos, por aqui desenvolvíamos formas de resistência à opressão.

Na ausência de Paulo Freire, suas idéias serviram de alimento para os educadores populares que buscavam – não apenas nos espaços escolares ou nos círculos de cultura, mas em todo o espaço social do bairro, da comunidade e do trabalho – formas de dizer não às injustiças do seu tempo e de buscar saídas onde parecia não haver portas. Assim, os educadores de adultos aproximaram-se mais e mais do cotidiano dos grupos populares, tornando-se cada vez mais comprometidos com a prática de tais grupos, na medida em que se propunha a não desvincular a ação educativa da vida dos educandos e, a partir dela, refletir sobre seu mundo em busca de maior consciência dos problemas e de saídas para eles.

Aos poucos, os movimentos populares ganharam força e começaram a pressionar o autoritário Estado brasileiro a conceder-lhes maior participação e a respeitar os direitos sociais. A luta pelo direito a uma escola pública de qualidade uniu os interesses populares aos educadores

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engajados na melhoria das condições de vida da população.

Os tempos eram outros. Já não se aceitava mais a escola libertadora da década de 60, aquela que imaginava ingeniamente poder converter as pessoas em cidadãos conscientes e empenhados na luita por uma transformação social, e não reconhecia as limitações do trabalho escolar para o alcance de tal objetivo. Tampouco se podia considerar a escola capitalista apenas como aquela voltada para a reprodução das relações de classe. O momento apontava para a escola capitalista como ela é, com todas as contradições da sociedade que a produz. É nesse sentido que o papel do educador se reafirma, não só na necessidade de uma formação profissional consistente, mas também de uma formação política que possa fazer da prática pedagógica uma ação empenhada na superação das contradições que envolvem a escola, seus métodos e conteúdos, e também o educador e o educando.

E aí, mais uma vez, Paulo Freire se faz presente, discutindo o papel do educador, seu compromisso com o educando, a forma como a educação se realiza, a questão do conhecimento, sua produção e transmissão, tendo sempre as camadas populares como interlocutoras privilegiadas. Sua luta por uma escola popular de qualidade não se dá com a negação das experiências educativas que vinham ocorrendo no âmbito dos movimentos sociais. Pelo contrário, Paulo Freire voltou ao Brasil querendo reaprendê-lo como um todo, querendo reencontrar o cotidiano que lhe fora negado, mas que não negou suas ideias e prática.

Este livro de Moacir Gadotti constitui uma iniciação à vida e à obra de Paulo Freire, aborda sua prática e suas ideias, sua história e seu cotidiano. Gadotti, como eu e inúmeros outros educadores, vivemos estes 30 anos de Paulo Freire bebendo de suas ideias e procurando confrontá- las com nossa prática. É impossível não identificá-las com aquilo que pensamos nós e a maioria dos educadores que procuram estar comprometidos com as classes populares. Isso vale tanto para o Brasil como praticamente para o resto do mundo, onde Paulo Freire é reconhecido, respeitado e querido,. Conhecer sua obra e, portanto, um dever imperativo para quem é educador ou se prepara para vir a sê-lo.

SÉRGIO HADDAD

Sérgio Haddad é coordenador do Programa de Educação Popular do CEDI – Centro

Ecumênico de Documentação e Informação - , e diretor dos cursos noturnos do Colégio Santa Cruz, São Paulo.

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