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Anistias no Brasil: mobilizações, experiências e trocas simbólicas

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JOSÉ GERARDO VASCONCELOS

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

I

FEDCBA

ANISTIAS NO BRASIL:

MOBILIZAÇÕES,

EXPERIENCIAS

E TROCAS

SIMBÓLICAS

(AMNESTIES IN BRAZIL: MOBILlZATIONS,

EXPERIENCES ANO SYMBOLlC CHANGES)

RESUMO

yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Tem esse estudo o objetivo de a na lisa r o

mo-vimento pela a nistia e o seu desfecho na for ma da

Lei n° 6.638 de 28.08.1979. Mostr a r emos que a

a nistia r epr esentou a esper a nça de r eor ga niza çã o

da vida na ciona l e, pr incipa lmente, que esse

movi-mento já esteve pr esente em outr os momentos da

histór ia do Br a sil. A noçã o de esquecimento e fim

da culpa bilida de r eintegr a os excluídos políticos

a o espa ço público, r epondo os seus dir eitos r etir a

-dos pela for ça . Resta sa ber : esse a to nã o ter ia sido

a pr opr ia do pelos dir igentes pa r a conter a s or ga

ni-za ções popula r es?

Palavras-chave: Anistia, mobilização,

socieda-de civil

ABSTRACT

The objective of this study is to a na lyze the

movement for a mnesty which r esulted in the

pr omulga tion ofla w No. 6.638 on the 28th

. O f August,

1979. We will show how the a mnesty r epr esented the

hope for a r eor ga niza tion of the life of the na tion,

a nd especia lly how this type of movement wa s pr esent

in other pa ges of Br a zil 's histor y. We will dea l with

the notion of for getting a nd the end to bla ming, a s

well a s the r eintegr a tion of exi/ed politicia ns to the

public spher e a nd the used by those in power to conta in

popula r or ga niza tions?

Keywords: Amnesty, mobilization, civil society

INTRODUÇÃO

Do ponto de vista etimológico, temos a

pa-lavra a mnestia - esquecimento - formada pelo

prefixo indicador de negação a e a mnestia ,

lem-brança, que estão representados no latim por

a mnistia . A origem política da anistia seria

en-contrada com o grande legislador Solon, no sécu-lo V antes de Cristo, consoante Barbosa (1896),

citado por Martins (1978) e confirmado pelo J or

-na l da Anistia (1978).

Como muitas das instituições democráticas, a

anistia nasceu na Grécia, com sua primeira aplicação

conhecida na época de Solon (594 a .Cc). Foi adotada em Roma e, como na Grécia, aplicada a pessoas que

divergiam dos govemantes, geralmente concedida em

ocasiões de celebrações de divindades.

Há, contudo, uma discordância em relação ao

fato que originaria a anistia a partir do legislador Solon,

levando alguns juristas a defenderem o nome de Trasíbulo, pelo acordo de paz realizado entre espartanos

e atenienses, ajustado por ele. Martins (1978), nos diz o seguinte:

D uzentos a nos depois de Solone a inda a ntes de

Tr a síbulo,a Anistia er a nova mente usa da como

meio de cur a pa r a as pr ofunda s tr ibula ções na

na çã o gr ega . D esta feita foi P a tr ocleides que,

dia nte do a niquila mento do impér io a teniense,

em 405 a .C; r esta beleceucom r estr içõesa

co-munhã odos dir eitoscivise políticos afa vor dos

numer ososcida dã ospr ocessa dose condena dos,

tendo or dena doa queima de todos os r egistr os.

O s a tenienses,gr a tifica dos,fizer a m na a cr ópole

um solene jur a mento de r econcilia çã o ger a l

(Martins,

1978:17).

IProfessor Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Educação Brasileira da Universidade Federal do Ceará. Editor-Chefe da Revista Educa çã o em D eba te da Faculdade de Educação da UFC. Mestre e Doutor em Sociologia.

(2)

No rol das anistias no Brasil, a de 1945 foi

uma das mais significativas. A diferença em relação

à de 1979 pode ser descrita pelo seu caráter popular.

2Conforme VASCONCELOS (1993), tivemos, no Brasil, 85 anistias, 3 indultos e 8 graças.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

~ Aanistia", então, surge para desqualificar

juri-dicamente um ato condenável politicamente. É a

esfe-ra pública ativada como

yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

locus da manifestação do

diferente. Os gregos não poderiam conviver na esfera pública sem a manifestação do outro. Conforme bem

lembrado pelos escritos de Arendt (1991), ao se referir

à polis como o domínio da liberdade eà família como o domínio da necessidade.

Esse movimento político é fortemente referido

em vários capítulos da história brasileira. Aqui,

tematizaremos os momentos que antecederam o

mo-imento de 1979, época conturbada pelo desgaste do

regime militar que, por outro lado, acenava com as-censão das organizações populares. Para tal,

dividire-mos o trabalho em dois segmentos: no primeiro,

mostraremos a importância das anistias na história

brasileira e, em seguida, analisaremos o contexto das

mobilizações em prol da anistia de 1979. 5 )

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1

-1 -

FEDCBA

ANISTIAS NO BRASIL: UMA EXPERIÊNCIA

DEMOCRÁTICA

),

r - Debate acerca da anistia no Congresso

Nacio-nal, no Parecer

n?

22, de 1979, do relator deputado

Ernani Satyro, verifica-se, no que se refere ao

núme-ro de anistias no Brasil, um acordo com o MDB. a

[ o

Ia

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Sã o, a o todo, como r econhece a justifica çã o

oposicionista , e como consta do leva nta mento

feito pela Biblioteca da Câ ma r a , 93a tos, entr e decr etos, decr etos-lei e lei pr opr ia mente dita .

No ca so da histór ia , e a pr opósito da s ma is

diver sa s e difer entes concessões de Anistia s, per pa ssa m figur a s ina pa gá veis de nosso pa

s-sa do político, como P edr o I, J osé Bonifá cio,

F r a ncisco da Lima e Silva , Diogo Antônio

F eijó, Ar a újo Lima , Ber na r do P er eir a de Va

s-concelos, P edr a 11,Deodor o, F lor ia no, P r

uden-te de Mor a es, Ca mpos Sa les, Rodr igues Alves,

Afonso P ena , Her mes da F onseca , Wencesla u Br a z, Epitá cio P essoa , Getúlio Va r ga s.(Satyro,in:

Docwnento do Congr esso Na ciona l sobr e a

Anis-tia ,1982: 359).

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r,

É

certo que na história política do Brasil,

den-tre tantos movimentos libertários, emancipacionistas

e golpistas, a anistia se fez presente. É neste caso que

a história política brasileira pode ser resgatada pela

his-tória da anistia, que nem sempre foi justa ou aplicada

corretamente.

r.

e

1 1

a

É por isso que Barbosa (1896) utilizou a

expres-são Anistia Inver sa . Mesmo assim, é preciso que se

diga: ao se reconhecer os limites de algumas anistias,

isso não invalida esse mecanismo institucional que em muitos casos acompanhou as lutas populares.

Enquanto o Congresso Nacional fala de 93

anis-tias, o J or na l da Anistia não especifica o número, mas relaciona mais de 60. Martins (1978) mostra a

existência de mais de 90 entre decretos e artigos

rela-cionados com a anistia. Baseado nestas informações,

catalogamos 98 anistias-inversas, Indultos, Graças e

anistias propriamente ditas. São vários decretos,

de-eretos-leis, decretos legislativos e leis e até artigos

em constituições relacionados com a Anistia.

No Quadro abaixo dividimos os atos de anistia da seguinte forma: Brasil-Colônia, com 10 anistias;

Reino, com 9; sendo 5 no Primeiro Reinado e 4 no Segundo; Brasil República, com 59 atos relacionados

com a anistia, sendo que 25 foram aplicados na

Pri-meira República e 34 na Segunda. Embora as lutas

populares não tenham sido de menor intensidade no

Brasil Colônia e Império, o que se constata é que a

relação e o trato com os movimentos nacionais

libertários foram bem mais cruéis. Um período tão

longo e com tão poucas anistias. Isso reflete de algu-ma foralgu-ma o autoritarismo de Portugal. A noção de

di-reitos é "gelatinosa" neste período, quase que ausente,

o que caracteriza o grande número de graças. A noção

de cidadania é apagada em função de lutas nacionais.

O que se buscava era consolidar modelos já

consoli-dados por outros povos e a maioria das lutas políticas

era ainda difusa e diluída no sentimento nativista.

Na República, mesmo que prossiga com a forte referência na cultura autoritária, o mecanismo

institu-cional é mais democrático e com maior mobilidade

na gestão das coisas públicas. É evidente que o laço

da tradição com o patriarcado convive na República.

Isso possibilita vários governos autoritários e o

refor-ço das políticas tradicionais. Mesmo assim, a

socie-dade consegue se mover e impedir o total controle do

público e do privado. Éneste caso que as anistias

apa-recem como possibilidade de pacificação e

manuten-ção do social. O grande número de anistias na república

mostra, por um lado, a face cruel do autoritarismo e,

por outro, a resistência de um povo no sentido de

tra-zer para o cenário político os seus líderes, a sua

cultu-ra e os seus projetos.

(3)

ANISTIAS NO BRASIL

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

PERÍODO ANISTIA INVERSA ANISTIA INDULTOS GRAÇAS TOTAL

OU ANTIANISTIA

Brasil Colônia 10 10

Reino 02 07 09

Brasil Império

I Reinado 01 04 05

II Reinado 01 10ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAI i

Brasil República

I República 02 21 01 01 25

II República 02 30 02 34

TOTAL 05 85 03 08 98

Fontes:

yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

J or na l da Anistia ; (MARTlNS, 1978). D ocumento do Congr esso Na ciona l Sobr e Anistia Neste caso, o seu conteúdo foi muito mais radical no

combate ao autoritarismo, exigindo não só a libertação

dos presos políticos, como também o fim da ditadura.

O contexto era outro. O ano de 1945 marca a derrota

do fascismo no mundo. A Segunda Grande Guerra do

nosso século chega ao fim e, conseqüentemente, as

tropas de Hitler e Mussolini são aniquiladas.

o Brasil, crescem as manifestações e

mobili-zações em prol da anistia. Saído de amplas camadas

sociais e de todas as correntes democráticas, esse

movimento ganha as ruas. O caráter de massa que

tivemos em 1945 difere, essencialmente, de quase

todos os movimentos pela Anistia no Brasil,

inclu-indo o de 1979. Com raras exceções, a an istia de 1979

não foi revestida de mobilizações de massa. Isso se

deve, particularmente, ao fato de que 1979

represen-tou a Anistia, mas não o fim da ditadura.

Em 1945, Q fim da Ditadura Vargas foi entoado

pelas aclamações populares em sintonia com as lutas internacionais contra o fascismo, que o próprio

go-verno Vargas com bateu na Europa.

A Anistia for a uma conquista popula r e

demo-cr á tica . Dela beneficia r a m-se dir eta ou indir e-ta mente, os pr esos políticos, os exila dos e todos

os per seguidos. Os cla ndestinos e for a gidos

podem vir à luz do dia : 563 pr esos políticos sã o liber ta dos. Entr e eles, muitos na ca deia há qua se

10 a nos, pa r ticula r mente da insur r eiçã o na

ci-ona lliber ta dor a de 1935, comunista s, socia

lis-ta s, a ntifa scislis-ta s, liber a is e os integr a lista s de

1938. Entr e os nomes ma is conhecidos, Luís

Ca r /os P r estes, Ca r los

HGFEDCBA

M a r ig h e lla , J or ge Ama -do, Apa r icio Tor elli, Agildo Ba r a ta , Agliber to Vieir a de Azevedo, Her co/ino Ca sca r do, o s

integr a lista s Belmir o Va lver de eGusta vo Ba r -r oso. Ta mbém beneficia -r a m-se da Anistia o spr

o-fessor es Her mes Lima , Leônida s Resende e

Ma ur ício de M e d e ir o s , r eintegr a dos em sua s

cá tedr a s; J oã o M a n g a b e ir a ,futur o

constituin-teefunda dor do P a r tido Socia lista Br a sileir o, o pr esidente deposto de 30, Wa shington Luís; o

futur o vice-pr esidente, J oã o Ca fé F ilho(Martins,

1978: 88 - 89).

Er a gr a nde contr a diçã o: comba ter -se o F a

s-cismo exter na mente e ma ntê-Ia no pa ís. Aos

poucos, a mpla s for ça s socia is vã o se

unin-do pa r a der r uba r a dita dur a do Esta do Novo

(Martins,1978:38).

A amplitude da Anistia de 1945 dependeu,

prin-cipalmente, da mobilização criada no conjunto da

so-ciedade. Ao ser criada essa grande força social, a

Anistia acabou reforçando a sociedade civil e, ao

mes-mo tempo, ampliando a construção da cidadania e as

noções de direitos humanos. Era na realidade uma

so-ciedade que se complexificava em suas lutas e saía

das amarras do autoritarismo. Era uma sociedade que, A principal exigência das forças democráticas era

a Anistia. E, neste caso, o Brasil convive com uma das

maiores campanhas de massa de sua história.

(4)

ao reforçar a consciência política, as organizações

par-tidárias, os sindicatos e associações, robusteciam na

sua base o movimento democrático e a marcha da

sociedade civil. Esse movimento percorrerá o Brasil

dos anos 50 e início dos anos 60. O Brasil mudaria de

"rosto" somente com outro governo autoritário que mais uma vez instalaria, após o golpe de 1964, um

ou-tro governo autoritário.

o

FEDCBA

CONTEXTO DAS MOBILIZAÇÕES EM

PROL DA ANISTIA DE 1979

HGFEDCBA

r n o -

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llis-sde

'iuis

Martins(1978) afirma que o ano de 1977

cons-titui-se um demarcador de mudanças qualitativas na

luta pela anistia. Isso, na sua interpretação, deve-se

ao fato de que a anistia sai dos ambientes fechados

das universidades e atinge as ruas. Com os olhos da

época, parece correto esse entendimento. Mas, se

re-cuarmos no tempo e penetrarmos a década de 70, te-remos que discordar. O que constatamos nesse estudo,

sem a paixão de um ator da época, foi que a anistia da

década de 70 não teve um caráter de mobilização

po-pular. As manifestações em prol da anistia, em sua

grande maioria, ocorreram em locais fechados:

uni-versidades, principalmente, e com um número

restri-to de participantes.

O Rio Grande do Sul foi citado como o

realiza-dor do primeiro ato público pró-anistia, realizado em

abril de 1977, em Porto Alegre, em protesto contra as

prisões políticas. Verificamos que este ano realmente

inclui algumas manifestações, mas extremamente

li-mitadas, sem participação de massas e restritas à

clas-se média.

Para dimensionar um pouco o contexto de

medo, convém informar que no Ceará, um dos

pio-neiros na luta pela anistia, o pânico das sessões

públi-cas e reuniões coletivas era tão grande, que, com o

intuito de realizar um debate sobre repressão política,

passaram um filme sobre a baixa Idade Média - sobre

a vida de Giordano Bruno. O debate não ocorreu após

o filme, pois, segundo atores da época, os

participan-tes levantavam-se um após o outro, deixando a sala

de projeção vazia.

Algumas manifestações ocorreram já no ano da

anistia, em 1979. Mesmo com todo o clima favorável à anistia, as dificuldades eram visíveis. Temos como

exemplo uma manifestação programada para o Rio de

Janeiro em junho de 1979, contra o caráter restrito do

projeto de anistia. ma

-srto

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pro-ie e

tua s

uin-tiro.

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tins,

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a

res-e as

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

r s O

-saía

que, 3Professor da Universidade Federal do Ceará, militante do PC do B, preso e exilado no período da ditadura.

Ma is de mil pessoa s pa r ticipa r a m do a to público

em r epúdio a o ca r á ter r estr ito e pa r cia l da a nis-tia do gover no r ea liza do ontem (27.07.79) em

fr ente à Câ ma r a Municipa l do Rio de J a neir o,

na Cinelâ ndia . P olicia is da Secr eta r ia de

Segu-r a nça impediSegu-r a m a entSegu-r a da dos ma nifesta ntes na

Câ ma r a e nã o per mitir a m sequer que o a to

pros-seguisse, deba ixo da chuva , na s esca da r ia s da

ca sa . A or dem er a disper sa r qua lquer ma

nifes-ta çã o que ocor r esse. Mesmo com a inter vençã o

dos pa r la menta r es Hélio F er na ndes F ilho, Clemir

Ra mos, Coimbr a Meio e J osé F reja t, todos do

MDB, que ga r a ntir a m a os policia is que nã o ha

-ver ia "desor dens ", a segur a nça continua va a

a fir ma r que poder ia m inter vir pois esta va m cum-pr indo or dens(Tribunada Imprensa,28.07.1979).

O ato foi realizado depois de muito impasse.

Os impedimentos sofridos para sua efetivação em

1979, no momento em que o Presidente falava em pacificação da vida nacional e enviava o projeto de

anistia ao Congresso Nacional, mostram a

dificulda-de ainda maior dificulda-de suposta manifestação dois anos antes. Sobre isso, Manuel Domingos' esclarece em seu

depoimento:

o

que me consta é que não era exata-mente um movimentode massas (...) acho que a

ligaçãodo movimentoda anistiacom o

movimen-to de massa no Brasil,jamais ocorreu, mas ela

não deixoude ser importantepara o movimento de massaporqueo

movimentopelaanistiapermi-tiu a rearticulaçãode uma parceladas lideranças

de esquerda.

Tivemos, entretanto, vários atos na

universida-de. O ato pela reintegração dos cientistas da

Funda-ção Oswaldo Cruz, por exem pio, teve grande destaque.

o

a to foi r ea liza do à s 17 hora s no sa lã o de confer ência s da Escola de Sa úde P ública ,

cedido pela pr ópr ia a dministr a çã o da

F IOCRUZ. Reuniu cer ca de 300 pessoa s,

entr e pr ofessor es e a lunos da ENESP epa r la menta

-r es do g-r upo a utêntico do MDB.

O

r epr esenta nte

da a ssocia çã o de docentes da F unda çã o

Oswa ldo Cr uz, Her a ldo Ma r tins, a br iu a

sole-nida de com um discur so em que a fir mou que a

F IOCRUZ a inda hoje sofr e r estr ições por pa r te

de ór gã os de segur a nça ( O Globo, 01.08.1979).

(5)

Temos, também, o caso da manifestação na UFRJ, que prestou homenagem, em junho de 1979, a

25 professores cassados pelo AI- I e AI- 54.

yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

... ma is de 2.000 pessoa s compa r ecer a m a o a to, onde velha s e nova s ger a ções de

intelec-tua is se encontr a r a m, r ea fir ma ndo a fé numa

univer sida de democr á tica e cr ítica (Folhade São Paulo,26.06.1979).

Vale ressaltar que entre os professores

encon-travam-se nomes de projeção nacional e

internacio-nal. Os nomes eram os seguintes: Abelardo Zaluar,

Alberto Coelho de Souza, Alvécio Moreira Gomes,

Darcy Ribeiro, Demerval Trigueiro, Elisa Frota

Pes-soa, Eulália Maria Lameyert Lobo, Evaristo de

Mo-rais Filho, Jaime Tiommo, João Cristóvão Cardoso,

José Américo Mota Pessanha, José Leite Lopes, José

de Lima Siqueira, Manoel Maurício de Albuquerque,

Maria Laura Mouzinho Leite Lopes, Maria Yeda

Lei-te Linhares, Mário Antônio Barata, Mariza Coutinho,

Míriam Limoeiro Cardoso, Moema Eulália de Olivei-ra Toscano, Oswaldo Gusmão, Quinio Campofiorito

e Sarah de Castro Barbosa.

A universidade, sem dúvida, foi duramente

ata-cada pelo autoritarismo. ão seria novidade se, na

retomada dos direitos e no fortalecimento da

socieda-de civil, esse espaço institucional assumisse a

dian-teira e se apresentasse como um abrigo de várias

manifestações.

No rol dos atores incluídos no bloco da

resis-tência, destaca-se a participação da Igreja Católica.

Com muitos religiosos perseguidos, a posição da Igreja

acompanhava o movimento da sociedade ci

FEDCBA

ile, ao mesmo tempo, oscilava internamente no conflito que

se estabelecia entre conservadores e progressistas. o

caso da CNBB, sua posição inicial foi de muita caute-la. A revista Veja de 01.03.1978, traz uma notícia

so-bre a posição

asc

BB que até então não havia se posicionado como instituição.

Em Br a silia , Ovice-pr esidente da Confer ência

Na ciona l dos Bispos do Br a sil (CNBB), Dom Ivo

Lor scheiter ; ditou uma decla r a çã o nota velmente

ca utelosa a os r epr esenta ntes que lhefizer a m

ine-vitá vel per gunta sobr e a a nistia . P r epa r a do pa r a

a situa çã o, ele sa cou de um pa pel ma nuscr ito e

leu textua lmente: "todos os br a sileir os devem

fa zer tudo pa r a conseguir a pa cifica çã o e a r econcilia çã o na ciona l. P onto. Isso cer ta mente

envolve e exige a r evisã o de numer osa s pena

li-da des ir fligili-da s. P onto. Isso nã o coincide com

o discur so sobr e a a nistia , vír gula , por que ta l

discur so envolve cr iter ioso exa me de quem e

por que r ecebeu pena s. P onto e a spa s. Ouvi-r a m? F echei a spa s (Veja, O1.03.78,p.36).

Essa declaração de Dom Ivo mostra, por um lado,

o receio da hierarquia da Igreja e o conseqüente

envolvimento com os problemas políticos nacionais de que se chocasse com o discurso oficial. Por outro lado,

não poderia deixar de se posicionar em relação a um

ponto de tamanha relevância para a época, que

signifi-cava, sobretudo, a pacificação nacional. Essa tensão

evidencia-se no dia seguinte, quando o presidente da

CNBB, dom Aloísio Lorscheider, anunciaria pela

pri-meira vez a posição da entidade acerca da anistia.

É a r evisã o de todos os ca sos de condena çã o

de pessoa s, onde ta lvez tenha entr a do ma is a

emoçã o que a estr ita a plica çã o da justiça .

HGFEDCBA

A

a nistia nã o se destina a os que cometer a m cr

i-mes comuns, pois nã o podemos per der de vista

cer ta s dimensões d ajustiça . Nã o podemos con-dena r ninguém por ter essa ou a quela posiçã o

política . Ma s, se ela pr ejudica r o bem comum deixa de ser justa . Em suma , poder ia ha ver uma

a nistia pa r a todos os a tingidos por a tos de

ex-ceçã o. Depois, o julga mento na justiça comum

dos que cometer a m cr imes comuns (Veja, 01.03.78,p.36).

A posição da Igreja, aparentemente limitada,

deixava espaço para interpretações diversas. Quando

Dom Aloísio admite uma anistia geral, para todos os

atingidos pelos atos de exceção, se posiciona ao lado

do CBA e das entidades democráticas. Por outro lado,

o jogo de cintur a da Igreja era evidente, o que

mostra-va uma hierarquia unificada no que se referia aos

gran-des temas nacionais e

à

tentativa de não entrar em

choque com os militares, quando admitia o julgamento

dos chamados "crimes comuns".

4O AI- I, baixado a 9 de abril de 1964. reintroduz no Brasil com o movimento militar pós-64, a figura da cassação. Esse referido ato.

nasce sem número, pois pretendia ser o único e, que teria duração limitada; o AI-2, baixado em 27/1 0/65, também tinha poder limitado.

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

J áo AI-5, que passa a vigorar a partir de 13 de dezembro de 1968, não tinha prazo de duração e se sobrepunha àprópria constituição em vigor: ccseu texto, como os anteriores, autoriza o presidente da República a cassar os direitos políticos de qualquer cidadão pelo prazo de IO anos, sem que haja prévia defesa ou julgamento". (J or na l da Anistia , 1978: 22)

(6)

cr ito

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Todavia, a atuação da Igreja não pode ser

anali-sada só pelas declarações na imprensa. Sua participação

foi muito mais ampla, quando nos referimos ao

cotidia-no das lutas em defesa dos direitos humacotidia-nos. É no coti-diano que, segundo Heller (1989), o homem se manifesta

por inteiro. Não era preciso que a hierarquia da Igreja

saísse em passeata endossando a bandeira da Anistia

Ampla, Geral e Irrestrita. Com algumas exceções, o

con-junto da Igreja participou de um projeto contra o

autoritarismo. Em determinados setores, o combate foi

explícito. Isso ocorreu no caso de Dom Paulo Evaristo Arns, Dom Pedro Casadáliga, Dom Estevão Cardoso

A velar, Dom Alano Pena, Dom Adriano Hipólito, Dom Helder e outros. Segundo Auto Filhos.

A Igreja desenvolveu uma importantíssima

tare-fa. Um trabalho muito importante, muito grande em

defesa dos perseguidos políticos. E quando houve a

derrota militar do movimento de guerrilha e a

destrui-ção de organizações políticas de esquerda e grande parte

das pessoas envolvidas nesse movimento foram pre-sas, aí o trabalho da igreja foi muito forte. Se

publica-mente havia um cuidado dos Cardeais de não afrontar

a ditadura, pelo menos aqui dentro, no terreno da

ativi-dade cotidiana, a Igreja foi uma das maiores críticas e

foi uma das maiores adversárias da ditadura militar.

Énesse contexto que os vários atores iam com-pondo um cenário político de contestação, erguendo

vozes, lançando manifestos, arrumando os sinais que pudessem nortear as novas disputas no interior de uma

sociedade civil cada vez mais presente e na busca de

direitos que pudessem recompor a esfera pública. No

dia 21 de fevereiro de 1978, o Comitê Brasileiro pela

Anistia - CBA foi lançado em solenidade realizada na

cidade do Rio de Janeiro, presidida pelo general da

reserva, ex-ministro do STM e punido pelo AI- 5, Pery

Constat Bevilácqua.

Esse acontecimento acelerou o debate e a rede

de apoio a favor da anistia. Logo em seguida ao

lan-çamento do CBA, o reitor da UNICAMP, professor

Zeferino Vaz, declarou-se favorável à an istia dos

cien-tistas aposentados: o anúncio nos jornais registrando a

adesão de 57 publicitários paulistas e cariocas ao CBA;

a tímida, mas importante posição da Igreja, favorável

à anistia, só confirmava essa corrente produzida no

interior da sociedade. Sem falar na OAB, ABI, IAB e

várias entidades da sociedade civil, que foram pouco a

pouco aderindo ao movimento pela anistia. Sobre isso, a ABI declarava:

É com a ma ior sa tisfa çã o que lhe decla r a mos que a ABJ , desde a sua funda çã o, em 1908,

sempr e consider ou a a nistia como um r

emé-dio indica do pa r a super a r a s ma is gr a ves cr

i-ses política s instituciona is (NETO, Prudente

de Morais,em carta ao MFPAem 1975,ln: J

or-na l da Anistia , 1978: 17).

No dia 27 de junho de 1979, o presidente Figueiredo, com um pronunciamento à Nação, em

solenidade marcada para as 1~ horas, no segundo

an-dar do Palácio do Planalto, envia ao Congresso

Naci-onal o Projeto de Lei n? 14 de 1979 (CN). Era o projeto da anistia. O projeto causa muita polêmica,

principal-mente porque excluía os chamados "terroristas'" .

Em-bora o MDB tenha sido convidado para a solenidade,

o seu comando decide não comparecer. Motivo:

o

pa r tido nã o foi ouvido nem consulta do na ela bor a çã o do texto que nã o conhece; o MDB

defende a nistia a mpla , ger a l e irrestrita ;

pe-la s notícia s da impr ensa o gover no nã o

con-ceder á a nistia a mpla , ger a l e irrestrita (Jornal POVO,28.06.1979).

Tamanha era a apreensão da sociedade, no

sen-tido de conhecer o dito projeto, que este foi roubado

no dia anterior (26.06.1979) do gabinete do Ministro

da Justiça. Era a imprensa competindo por

informa-ção, tentando antecipar-se aos concorrentes. Ao que

tudo indica, o "descuido" deveria ser atribuído ao

jor-nal O G lobo, que acabou publicando uma versão

er-rada do projeto.

o

jor na l jluminense deu como cer to que os ex-cluídos pela a nistia ser ia m a pena s a queles que

tivessem pa r ticipa do de a ções de que houvesse

r esulta do mor tes, qua ndo o pr ojeto excetua va

dos beneficios da a nistia os que for a m

conde-na dos pela pr á tica de cr imes de ter r or ismo, a

s-SMilitante trotskista no período autoritário. Ficou preso no Instituto Penal Paulo Sarasate.

6Terrorismo era a principal acusação feita pelos militares aos militantes de esquerda conforme relata VASCONCELOS (1995). O terrorismo é um método de ação. sem qualquer mediação que implica em violência. " É uma estratégia que pode ser usada por grupos ou pessoas com ideais políticos totalmente diferentes. Apesar da divergência de objetivos. observa-se uma grande semelhança entre os meios empregados pelos terroristas de extrema esquerda e extrema direita ( ... ). Tem como instrumentos a destruição. a ameaça ou o assassinato de adversários ( ... ). Há ainda o caso de minorias dentro de países onde predominam instituições democráticas que falam em nome da democracia mas agem contra a democracia. São exemplos as Brigadas Vermelhas da Itália, o Baader-Meinhof da Alemanha, a Action Directe da França e grupos japoneses" (ABREU, 1994: 27-28).

(7)

66 •

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

E D U C A Ç Ã O E M D E B A T E · F O R T A L E Z A · A N O 2 1 • V 2 • N Q 3 8 • p.

FEDCBA

60-71 • 1 9 9 9

yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

sa lto, seqüestr o e a tenta do pessoa l (Tribunada Imprensa,28.06.1979).

Embora a tentativa de desviar o foco central do

problema com o roubo do projeto, as restrições da lei

da anistia continuavam a ser a principal expectativa.

Sobre isso, podia-se ler na "Coluna do Castelo", no O

HGFEDCBA

P O V O de 28.06.79:

Ao longo da cha ma da guer r a subver siva , os

DOI - CODI per der a m 95 homens, num sa

-cr ificio que impede o sistema de devolver a

liber da de a muitos dos r esponsá veis por a

que-la s mor tes. O r esulta do é que a o invés dos

130 pr esos políticos que continua r ia m a es-per a r novos a tos de clemência ou

esquecimen-to,fica r ã o nessa s condições ma is de 200 pr esos

r otula dos de ter r or ista s .

Outra grande polêmica era em torno de um

grupo de atores denominados "torturadores", cuja

condenação era reivindicada por setores da

socie-dade civil. Na realisocie-dade, isso não constava no rol

de preocupação exteriorizada pelos militares. Na

óptica dos dirigentes, evidentemente, não haveria nenhum motivo para a autopunição. Esse tipo de

castigo só seria possível se a sociedade civil se or-ganizasse e tivesse força de mobilização suficiente para impor a condenação aos torturadores. Ora, a

anistia, embora tenha modificado a proposta

inici-al - de uma simples revisão dos processos - como

afirmamos, não representou uma mobilização

po-pular que tivesse hegemonia para questionar o

fun-damento do autoritarismo.

A anistia reforçaria as organizações políticas

na esfera cotidiana e enriqueceria a formação de iden-tida des coletiva s no interior da sociedade civil. Mas,

o autoritarismo ainda estava de pé. No discurso do

presidente Figueiredo, o "terrorismo" situa-se no eixo

de suas preocupações e, conseqüentemente, dos

ata-ques. O Presidente justificava a exclusão da seguinte

maneira:

O ter r or ismo nã o se volta contr a o gover no ou

o r egime. Seu cr ime é contr a a huma nida de.

P or isso mesmo, em todo mundo, tem-se como

indispensá vel leis que coíba m esses a tos (O

P OVo, 2 8 . 0 6 . 1 9 7 9 ) .

Apesar disso, a imagem do general Figueiredo

veiculada pela imprensa era outra. Coincidência ou

não, o presidente Figueiredo teve o pai anistiado em

11 de abril de 1946, pelo decreto-lei n? 7.474, de 18

de abril de 1945. A idéia repassada à opinião pública era: a figura magnânima do estadista humano e

bon-doso, detentor do mais elevado padrão ético e o mais

aprimorado senso de justiça. O homem que desejava

pacificar a Nação em nome da "revolução".

Esper o ver os a nistia dos r eintegr a dos na vida

na ciona l. E que, isso feito, sa iba m, possa m e

queir a m pa r ticipa r do nosso esfor ço em pr ol dos

idea is que - sendo os da r evoluçã o de 1964

-sã o os de toda na çã o (OP OVO, 28.06. 1979).

Esses ideais, na visão do Presidente,

alcança-riam altos índices no que se refere às questões

econômicas; tratava-se, agora, de democratizar as

ins-tituições e a anistia era a principal medida concreta

de ampliação e socialização da política.

Nos últimos quinze a nos, o gover no r evolucio-ná r io pr omoveu r efor ma s instituciona is

pr ofunda s. Atingimos a lto pa ta ma r de

desen-volvimento econômico. Agor a , a na çã o na plenitude da or dem constituciona l, toma

cons-ciência da necessida de de se a per feiçoa r em

a s estr utur a s socia is, pa r a tor ná -Ia s ma is

de-mocr á tica s (O POVO, 28.06. 1979).

O Presidente receita o "remédio":

A a nistia tem justa mente esse sentimento: de

concilia çã o dos idea is democr a tiza ntes de

1964, que hoje r eencontr a m sua melhor e ma is

gr a ndiosa expr essã o (O POVO, 28.06. 1979).

Comprova-se no discurso do Presidente que os

ideais do golpe de 64 foram "cumpridos" no que se

refere ao desenvolvimento econômico. Mas, em

rela-ção ao projeto democratizante, que também era parte

do projeto global, conforme Silva (1967), não foram.

O que deveria ser feito era simplesmente aprofundar

esses ideais e, ao mesmo tempo, compassadamente, ir

abrindo as instituições.

O primeiro grande trunfo dessa suposta

abertu-ra eabertu-ra a imprensa, com a conseqüente manipulação

da informação. Para Heller (1982: 1 07), a dita dur a

so-br e os ca r ecimentos, no que se r efer e a infor ma çã o

significa (..) que nã o existe nenhuma possibilida de

de infor ma çã o difer ente. Isso ocorria no pós-64,

fa-zendo com que o Presidente construísse as imagens

num jogo de linguagem explícito ou implícito que o

(8)

· e

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

18 rlica

bon-paz e, ao mesmo tempo, dos ideais de 1964. Era a tentativa última de salvar os pedaços de um movimen-to golpista que não mais se sustentava.

Esse jogo de informação que envolvia o cenário rigorosamente construído pela imprensa utilizava ain-da como recurso a própria esfera íntima do Presiden-te, quando lembrava da punição do seu pai.

mais

[ava

yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

vida

a me

sl dos

l64 -9).

Vi, na minha pr ópr ia fa mília , o a ma r go de ór

-fã o de pa i vivo. Conheci a s fr ustr a ções do

sol-da do a fa sta do sol-da pá tr ia e de seu ser viço, por

delito político (Jomal O POVO, 28.06. 1979).

n ç a -tões

ins-reta

o

que passa é a mistura do público e do privado. O Presidente, levado pelo sentimento de orfandade -pois seu pai foi punido e posteriormente anistiado -tenta colocar-se como o grande pai que quer o melhor para os seus filhos. Contudo, essa pacificação deve "excluir" para "unir" a Nação. Na mensagem ao Con-gresso, contudo, volta ao problema dos "terroristas".

(cio-na is

sen-) na

ons-[ r em

• de-

HGFEDCBA

A a nistia tem o sentido de r eintegr a r o cida

-dã o na militâ ncia política e o ter r or ista nã o

foi e nã o é um político, a menos que se

sub-ver ta m os conceitos em nome de umfa lso

li-ber a lismo (Documento do Congresso Nacional sobre a Anistia, 1982:22).

: de

• de

na is

Além do problema do "terrorismo", a polêmica era ainda ampl iada aos torturadores. Em bora algumas personalidades, como Pery Bevilácqua defendessem

a a nistia r ecípr oca , esquerda e setores do MDB exi-giam a punição aos torturadores. Hélio Fernandes publicava um artigo no Jornal O Esta do, em Fortale-za, sob o título "Democracia àBrasileira, só torturado-res Anistiados". Nesse artigo, faz um apelo ao Congresso Nacional.

~ ) .

~os : se

.la-irte

im.

dar

Agor a sa bemos o nome pelo menos de233 tor

-tur a dor es. A r evista Em Tempopublicou tudo numa r epor ta gem r ea lmente cor a josa e

escla r ecedor a . e o Congr esso nã o pode nem se

a cova r da r , nem se a cumplicia r com esses cr

imi-nosos. P oiséde cr iminosos que se tr a ta , e cr imi-nosos da pior espécie, que ma ta m, tor tur a m,

violenta m, per seguem, pr otegidos pelo a pa r elha

-mento que eles mesmos monta r a m usa ndo o

di-nheir o do pr ópr io contr ibuinte que estã o

tor tur a ndo e ma ta ndo (OEstado, 20.06.1979). : , I r

tu-.ão

50-t ã o

lde

fa-ens

eo É evidente que o Estado militar, buscando uma

transição "sem traumas" no projeto de distensão de da

Golbery, não poderia defender a punição aos tortura-dores. Por outro lado, a pressão da sociedade civil não era suficiente para a realização de tal propósito. O que se tinha naquele contexto era um projeto de anistia li-mitado, que organizações da sociedade civil e entida-des democráticas lutavam para ampliar. As restrições eram anunciadas nos jornais. No dia (26.06.1979), O

P OVO anunciava: Anistia deixa r á for a cer ca de 130 punidos. No mesmo dia, a F olha de Sã o P a ulo

divul-gava a homenagem aos punidos pelos atos institucionais. o dia 27.06.1979, o Presidente manda o projeto ao Congresso Nacional. No dia seguinte, 28.06.1979, ten-tam um ato público no Rio de Janeiro, mas a ordem era

dispersar qualquer manifestação. Se da parte da socie-dade civil havia uma grande tentativa de articulação, O

mesmo não acontecia em relação ao bloco do poder. Mesmo a anistia, que excluía cerca de 200 pessoas, era questionada pelos militares da chamada linha dura. Eles ainda falavam do perigo comunista. A anistia seria ino-portuna e prematura. Os rumores de endurecimento mais uma vez pairavam sobre a sociedade como se o

con-junto do social dependesse exclusivamente da vontade política dos militares.

Nesse processo, houve mudanças profundas na cúpula militar, fortalecendo ainda mais a chamada linha dura nos postos essenciais de repressão e con-trole do Estado, enquanto os chamados "liberais" eram deslocados para órgãos burocráticos. Essas informa-ções tentavam, contudo, isentar o presidente Figuei-redo, que deveria continuar com a imagem do grande

pai da Nação, colocando-se acima das divergências políticas e sempre apelando para o seu lado "humano".

Já o discurso da chamada "linha dura", veicu-lado pela imprensa, toma a bater na tecla anticomunista para contestar a anistia e apela para o não "arrependi-mento" dos derrotados.

o

gover no deposto em ma r ço de 1964 nã o er a na ciona lista e sim comunista e quer ia colo-ca r o Br a sil sob o jugo r usso (..). Eles nã o

estã o dispostos a concilia çã o, nã o estã o

inte-r essa dos na mã o estendida do P inte-r esidente. Eles

só quer em é volta r pa r a inicia r nova mente a

luta pelo poder . Nã o podemos confia r em

B r i z o l a , J u l i ã o , P r estes, Ar r a es. Sa bemos quem sã o eles e o que fizer a m e pr etendem

fa zer (Tr ibuna da Impr ensa , 07.1979).

Com tudo isso, o que se tinha era um jogo de forças entre conservadores e progressistas, esquerda e militares, e a imprensa era aos poucos o palco privi-legiado desse debate. Com todo esse pânico que

(9)

tavam passar, a sociedade civil não parava de se orga-nizar. Os espaços começavam a aparecer. Na "Coluna

do Castelo" de 12.07.1979 podia ser lido o ataque do

Presidente aos grupos de direita. Lembra Carlos

Cas-telo Branco que, até aquele momento, já era o quinto

atentado conta o jornal

yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Em Tempo. E, ao mesmo

tem-po, noticiava a posição de Dom Paulo em relação aos

torturadores.

o

Ca r dea l Ar ns, de Sã o P a ulo, é contr á r io a que se a nistie os tor tur a dor es, a ponta dos

como a utor es de cr imes comuns. Ma s já se

sa be que o pr ojeto de Lei a br e ja nela pela qua l

esca pa r ã o

HGFEDCBA

à puniçã o, na ba se da futur a lei da a nistia , os a cusa dos de ma ltr a ta r em pr

e-sos políticos e r ea liza r pr isões a r bitr á r ia s e

violenta s(Jornal

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

°

POVO, 12.07.1979).

Na semana seguinte, a Igreja volta às páginas

dos jornais. Desta vez com o secretário geral da CNBB,

Dom Luciano Mendes. O que verificamos não era mais

a posição tímida de Dom Ivo e Dom Aloísio expres-sadas em março de 1978, mas a defesa de uma anistia

ampla, geral e irrestrita. Com todo o avanço, Dom

Luciano defende o perdão aos torturadores.

Quem nã o a nistia gua r da r a ncor e com isso

impede a concilia çã o na ciona l e a super a çã o

da s injustiça s (..). Quem nã o a nistia os tor

-tur a dor es, a ma nhã poder á tor tur a r , por que

deseja vinga nça (Tribuna da Imprensa, 19. 07.1979).

Essa verdadeira queda de braços na imprensa

con-tinuaria até a votação da lei da anistia, em 22.08.1979, mas só seria sancionada no dia 28.08.1979, na forma da

Lei n? 6.638. Com essa lei, seriam beneficiados,

segun-do dasegun-dos segun-do J or nf!! da Anistia (1978: 22),200 presos

políticos; 4.877 cassados; 128 banidos; 10.000 exilados (incluindo as famílias); 263 estudantes atingidos pelo 477

e 500.000 condenados, processados, indiciados ou

sim-plesmente presos desde 1964.

FEDCBA

POR QUE ANISTIA?

A anistia, mais do que uma simples discussão

acadêmica, significava muito para muita gente. Na

realidade, essa batalha que tem um desfecho legal em

1979, com a aprovação da Lei

n?

6683 de 28 de

agos-to de 1979, inicia-se já em 1964. É importante

ressal-tar que esse movimento de caráter democrático

buscava, acima de tudo, juntar os pedaços de uma

sociedade civil esfacelada pelo autoritarismo. Écerto que, pelo menos antes do AI-5, as mobilizações contra

a ditadura foram sucessivas e tiveram como grande

marco os movimentos de 68 como a passeata dos 100

mil, por exemplo. No final desse mesmo ano, a

legisla-ção autoritária se completaria com o quinto Ato

Institucional. Os conflitos tornam-se fragmentados e

dispersos. Temos uma pulverização da esquerda e,

grande parte, assume a tática de focos.

Os movimentos democráticos como a anistia res-gatavam a possibilidade de retomada da sociedade

ci-vil e, ao mesmo tempo, apontava na construção de um

cor po políticoJ unda do na Lei. É por isso que Barreira

(1992), ao discutir as novas formas de lutas urbanas

esposa a seguinte opinião:

Na r ea lida de, os movimentos de democr a ti-za çã o, a nistia e outr os, der a m ma ior r espa

l-do a conflitos episódicos de luta pela ter r a e

exper iência s a ssocia tiva s que, por um cer to

per íodo, ma ntinha m-se isola da s do conjunto

da s mobiliza ções (Barreira,1992:30).

Mas, se a anistia teve esse caráter de

reorgani-zar, redemocratizar e respaldar uma sociedade marcada

pelo terror, isso não se deve à bandeira em si, mas a

uma conjuntura que possibilitou o recobro da

consci-ência de conjunto, desencadeando, assim, ações

cole-tivas. No caso da anistia, o que temos é um movimento

que engloba setores expressivos da sociedade civil,

tanto na oposição como no governo. A meta era

"pa-cificar" o Estado de Guerra instaurado na sociedade.

Como dizia o senador Marcos Freire, do MDB, na

justificativa do substitutivo n? 1:

Anistia , entr eta nto, dever á a tender a todos, pa r a que ninguém possa a limenta r pr etextos

pr opícios a cultiva r a nimosida de, r eva

nchis-mos e sentimentos divisionista s na luta pela

elimina çã o dos ma les socia is do pa ís, ma les

que exigem um a to pa cífico, ma s pr ofundo,

fr a nco e sem pr econceitos ma tr eir os(Freire.ln:

Documento do Congresso Nacional sobre a Anistia, 1982:55).

É

evidente que este movimento que buscava a "normalidade" e que estava ficando numa conjuntura

de-terminada, só poderia existir se as possibilidades

históri-cas o permitissem. É isso, inclusive, o que o senador

Marcos Freire percebeu e acrescentou à sua justificativa.

P r oblema s gr a víssimos a fligem o povo br a

si-leir o nesta hor a . A infla çã o, o desempr ego, a

(10)

ir a

ti-spa

l-r l-r a e

zerto

'unto

cr ise ener gética , o pr eço do petr óleo, a s dívi-da s exter na e inter na flutua nte, a s infelizes

oper a ções de cr éditos pr a tica da s pela s a

dmi-nistr a ções de ba ncos oficia is, empr esa s

pú-blica s e outr os ór gã os gover na menta is, a concentr a çã o de r enda , o incr emento da

cr imina lida de, a s inunda ções e a s seca s, o

êxodo r ur a l, a s moléstia s de ca r ência em

ex-pa nsã o, o a umento dos tr ibutos pa r a enfr

en-ta r a s exigência s da s r edes de ser viços públicos

essencia is, a s a spir a ções insa tisfeita s, e ca da vez

ma ior es, dita s pela socieda de de consumo, a

po-luiçã o, tudo isso convoca a s ca ma da s ma is

escla r ecida s do povo, por cima de diver gência s

pa r tidá r ia s, ideológica s e r eligiosa s, a r

econhcer que está sur gindo um clima a dequa do a extr

e-mista s de dir eita e de esquer da a tea r em fogo

HGFEDCBA

à

tenr a pla nta de democr a cia que se busca

culti-va r

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

(Documento do Congresso Nacional sobre a Anistia,1982:55).

tr o da má quina milita r . Isso nã o deixa va de

sus-cita r indigna çã o entr e muita gente. Eu a cr edito

que a disposiçã o pela Anistia cr esceu com a

in-digna çã o pelo que se pa ssa va .

O que tivemosfoi ta mbém um desga ste

do modelo socioeconômico insta la do em 1964.

Contudo, nã o podemos tor na r pa r cia is nossa s

a ná lises, concentr a ndo ofoco na dissoluçã o na

-tur a l de um modelo. Essa dissoluçã o deve-se, em gr a nde pa r te, à r esistência de uma socieda de

que a tuou na s ma is diver sa s fr entes de comba te.

O que temos é um duplo a specto, a tua ndo num

movimento dia lético de ba ixo pa r a cima e de

cima pa r a ba ixo. A socieda de civil, mesmo esfa

-cela da , a tua va no sentido de super a r os limites

da distensã o, que se r edefinia consta ntemente

pa r a nã o se a pa r ta r . Coutinho (1992) nos a

pon-ta esse movimento.

Esse pr ojeto de a ber tur a pelo a lto

cho-cou-se com o pr ocesso de a ber tur a , sendo fr eqüentemente a lter a do emesmo der r ota do

por ele, ou seja , pela movimenta çã o r ea l da

socieda de civil, pela pr essã o que vinha de

ba ixo pa r a cima . Essa movimenta çã o se or i-enta va no sentido de super a r os limites do pr

o-jeto geiselia no, ma s de cer to

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

s ea r ticula va com ele - a inda que sempr e contr a ditor ia mente

-na medida em que tinha como meta ocupa r e

tenta r a mplia r os espa ços de luta ede r epr e-senta çã o que ia m sendo pr ogr essiva mente

to-ler a dos ou conquista dos. Há vá r ios exemplos

de vitór ia s desse pr ocesso r ea l de a ber tur a . Ba sta r ia r ecor da r a qui que, em vez da r evisã o

seletiva de pr ocessos de ca ssa çã o pr oposta

pelo r egime milita r , chegou-se em 1979 a

vol-taà vida p o l i t i c a lega l de pr a tica mente toda s a s per sona lida des e cor r entes de opiniã o (Coutinho,I992: 51).

certo

lontra rande

5100

gisla-Ato dos e da e,

ares-le ci-eum rerra anas

a n

I-.ada as a

isci-

ole-ento

ívil,

'pa-ide.

o

senador Marcos Freire apontou um proble-ma fundamental na compreensão da anistia:

entendê-Ia na sua época, na sua conjuntura. Até que ponto poderíamos afirmar que foi a anistia que desencadeou a democratização? Ou, ao contrário, poderíamos afir-mar que foi o governo Geisel, no seu projeto de distensão, que utilizou a anistia para conter o movi-mento de oposição que já assinalava com algumas manifestações isoladas e até greves?

Domingos, 49, professor da UFC, conforme depoimento', analisa a Anistia da seguinte forma: na

m

-ior

v a .

... setor es impor ta ntes, ponder á veis, da vida na

-ciona l, a br a ça r a m o movimento por

senti-r em o esgota mento do modelo. Num cer to

momento a gr a nde impr ensa pa ssou a ter

sim-pa tia pelo movimento da Anistia . Setor es que

inclusive tinha m sido beneficia dos pela dita

-dur a , tinha m cr escido dur a nte a dita dur a ,

sentia m que chega va o esgota mento na tur a l do

modelo. Há um outr o a specto que convém

lem-br a r no movimento da Anistia . É um a specto de

cer ta for ma omitido. Ha via ta mbém, na época ,

um desga ste pr ofundo da dita dur a por conta

da cor r upçã o. Difundia m-se notícia s a cer ca dos

escâ nda los. Os ma is desta ca dos ocor r er a m na

P onte Rio-Niter ói e na Tr a nsa ma zônica . Ma s,

os jor na is nã o deixa va m de noticia r os

numer oslssimos pr ocessos de cor r upçã o

den-ale lembrar que Figueiredo, sucessor de Geisel, antes de tomar posse, questionava a idéia de anistia.

dos, a os

his-leia

iles

I d o ,

.In:

re a

a

a

de-Numa entr evista a oJornal do Brasil, o gener a l J oã o Ba ptista F igueir edo julgou um pr ejuízo pa r a

o pr ópr io a nda mento da s r efor ma s política s o

mo-vimento pela Anistia nos ter mos em que vem

sen-do coloca da , ou seja , a mpla , ger a l, ir r estr ita e

ur gente (..) eles edecla r ou tota lmente contr a a

a nistia a os condena dos pela Lei de Segur a nça

Na ciona l. Anistia é esquecimento, enunciou

rsi-I ,a 1Entrevista realizada em Fortaleza em 11.11.92.

(11)

entã o F igueir edo a

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

VEJ A, e nã o é possível

es-quecer

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

o s cr imes dos que a ssa lta r a m ba ncos, a ssa ssina r a m eseqüestr a r a m. O a lega do moti-vo político nã o justifica na da (VEJ A, n" 436, de

01.03.78,p.35).

o

Estado militar não tinha, pelo menos inicial-mente, a pretensão de decretar uma anistia, muito

menos com as características que a sociedade exigia.

Essa idéia foi se afirmando à medida em que a própria sociedade civil se rearticulava. E na medida do

forta-lecimento da sociedade civil, mais o modelo do Estado

militar ia se esgotando. Os militares tiveram, então,

que alterar os mecanismos de controle. Como não

poderiam atuar com o mesmo nível da repressão,

pas-sam a formular o Projeto de Distensão, cujo conteúdo é de um contexto de crise e de retomada.

Essa idéia tem origem já em 1964. Resta saber

quem foi o seu gesto r. O PC do B assume a

paternida-de, já em 64, logo após o golpe. Contudo, outras

for-ças políticas da época poderiam ter assumido essa idéia

como o PCB, setores da Igreja e mesmo a esquerda do MDB. Pinheiros, dirigente do PC do B no Ceará,

afirmou em entrevista que:

... onosso pa r tido foi um dos pr imeir os a leva ta r a ba ndeir a da Anistia , como ta mbém a ba

n-deir a da constituinte, isso já em1964, logo a pós o

r egime milita r . Embor a entenda a quilo como nã o

sendo uma ba ndeir a de a çã o imedia ta , ma s

enten-do como um pr ocesso jur ídico e inconstituciona l

no pa ís no qua l isso ha via sido inter r ompido e você ia ter no pa ís um per íodo longo de dita dur a .

Entã o, você ter ia que ter mina r isso com uma a

nis-tia , com uma nova constituiçã o.

Outras vozes também ecoaram logo após o golpe.

Cony, em 1965, ao analisar o golpe, aponta uma saída.

É pr eciso que a pa la vr a cr esça : inva da o s mu-r os e a s consciência s. Desde ]O de a br il que o gover no tem dia nte de si um dilema

incon-tor ná vel: ou pr ocessa e condena regula rmente

o s milha r es de a cusa dos em todo pa ís; ou

con-cede a nistia . A pr imeir a opçã o ca iu por ter r a :

o spr ocessos, em sua ma ior ia , nã o for a m feitos

e o spoucos que estã o em cur so peja r a m-se de

ir r egula r ida des e defor ma ções jur ídica s e

po-licia is. Resta a segunda opçã o: a a nistia . Que

8Entrevista realizada em Fortaleza em 13.10.92.

o Congresso vote a a nistia , ba sea do na fa lta de

pr ocessos r egula r es, na fa lta de cr itér ios e, pr

in-cipa lmente, na fa lta de pr ova s (Cony,1965:22).

No próprio regime militar havia vozes a favor da

anistia. Foi o caso do general Pery Beviláqua, ministro

do STM e posteriormente punido pelo AI-5 que, em 1979, lança o Comitê Brasileiro pela Anistia, e o general Olímpio

Mourão Filho, principal articulador do golpe.

Pery Beviláqua, já em 1965, defendia a idéia

da anistia. Sou por uma Anistia a mpla que a br a nja

todos os cida dã os tidos como subver sivos e como ta l

punidos, ou em via s de o ser , por motivos políticos

(Martins, 1978: 123); o segundo, o general Olímpio

Mourão Filho, também do STM, afirmava:

... o a tua l governo nã o tem condições de

coerên-cia política pa r a da r Anistia . Sendo a concessã o

da Anistia uma a tr ibuiçã o exclusiva do P oder

Legisla tivo (..)

o

novo Congr esso que toma r

pos-s eem1967, compete decidir sobre oa ssunto (...).

Neste ca so, a ca mpa nha política dos futur os

de-puta dos dever á indica r cla r a mente qua is sã o a fa vor da Anistia . Eu sou (Martins, 1979:130).

Com o governo Costa e Silva, surge a

promes-sa de "governar com o povo". Contudo, o que temos

é, por um lado, as manifestações de massa,

principal-mente, as da juventude em 1968. E, por outro, a

res-posta autoritária com o AI-5, a ilegalidade da UNE e a perseguição ao movimento estudantil. Isso não foi

suficiente para silenciar ajuventude-68. Entre as

rei-vindicações, além do fim da ditadura, o fim das inter-venções policiais nas escolas e universidades, estava

a anistia para professores e estudantes punidos pela

legislação autoritária.

Essa conjuntura, por um lado favorável à

anis-tia e respaldada no movimento de massa, mas por

ou-tro, apontado para o fortalecimento do autoritarismo,

leva ao primeiro embate no plano institucional: o

pro-jeto de autoria do deputado Paulo Macarini

(MDB-SC) que concedia anistia a todos os estudantes,

trabalhadores e intelectuais punidos por atos

relacio-nados com manifestações políticas, a partir de 28 de

março. Esse projeto encontrou largo apoio. Foi

apro-vado na Comissão de Justiça por 13 votos a 1. O

go-verno Costa e Silva, diante do fortalecimento da

proposta, resolve fechar questão contrária ao projeto.

Em 20 de agosto de 1968, a votação somou 145 votos

favoráveis ao projeto contra 198 arenistas contrários.

O interessante é que dos 145 favoráveis, 35 eram

arenistas que votaram contra o governo.

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Esse impasse no Congresso resultou em

protes-tos contra a intervenção do Executivo no sentido de

pressionar 'Osdeputados. Isso traria naquele momento um grande descontentamento da sociedade civil. A

res-posta do governo foi ainda pior. Em dezembro do

mes-mo ano, foi publicado o AI-5, que cassava, inclusive, o

autor do projeto, 'Odeputado Paulo Macarini. C'Omesse

At'O,diferente dos demais, a sociedade passa a ter uma

Lei de exceçã'O permanente que suspendia 'Osmais

ele-mentares direitos do homem. O resultado já é

conheci-do:

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'O terror generalizado em meio à sociedade.

Neste caso a luta democrática teria que passar

necessariamente pela anistia, pois traria a normalidade

institucional. O problema é que a sociedade brasileira

teria que esperar pelo menos uma década pela Lei da

Anistia. O período de 1969 a 1979 foi marcado, na sua

primeira metade, pela violência concentrada no Estado

autoritário. De 1976 em diante, começa o esgotamento

do modelo socioeconômico e, em contrapartida, o

cres-cimento da sociedade civil. Mas para se chegar ao

mo-vimento pela anistia, a sociedade teve que conviver c o m

a face brutal do autoritarismo.

Se o autoritarismo dilui o indivíduo, reduzin-do-se a uma sombra, a anistia busca sua reintegração

à comunidade política, construindo garantias legais

no sentido de reintegrar o conceito de cidadão. O

autoritarismo, ao criar a categoria de inimigo objetivo

(Arendt, 1989), dilui a possibilidade de reintegrar 'O

homem à sociedade. Sendo assim, corno entender 'O

perigo de que falavam 'Os militares? Será que esses

"inimigos" eram tão p'Oder'Os'Osquanto 'OEstado Mili-tar propagava. É neste caso que passaremos a

cons-truir o perfil dos atingidos pelo autoritarismo, para

então determinar o caráter da anistia. ~2).

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PUBLICAÇÕES

J or na l da Anistia (1978)

J or na l F olha de Sã o P a ulo (26.06.1979) J or na l OEsta do (20.06.1979)

J or na l O G lobo (O 1.08.1979)

J or na lO P O VO (28.06.1979); (26.06.1979); (12.07.1979). J or na l Tr ibuna da Impr ensa (28.06.1979); (28.07.1979)

(07.1979). Revista VEJA,

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436, 01.03.1978 .

Referências

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