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AÇÃO DE INDENIZAÇÃO POR ACIDENTE DE TRABALHO CONTRA EMPREGADOR

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A Ç Ã O D E INDENIZAÇÃO P O R ACIDENTE DE T R A B A L H O C O N T R A E M P R E G A D O R

(Acidente do trabalho, obrigação de indenizar, objeto da indeniza­

ção devida a empregado, objeto da indenização devida a familiar de empregado morto, competência para julgar ação de empregado e competência para julgar ação de familiar de empregado morto)

R E N A T O D E C A R V A L H O G U E D E S (*)

A C I D E N T E D O T R A B A L H O

N o s t e r m o s d o s arts. 1 9 a 21 d a Lei n. 8.213/91, acidente d o trabalho é o evento q u e gera a mo r t e d o trabalhador, a lesão corporal o u a perturba­

ç ã o funcional, p e r m a n e n t e o u temporária, ocorrido n o trabalho, n a s e d e d o e m p r e g a d o r o u fora dela, n o percurso entre a residência d o trabalhador e o local d e trabalho, proveniente d e fato o u ato d e outrem, empregador, cole­

g a d e trabalho o u terceiro. Equipara-se a acidente d o trabalho, n a fo r m a d o art. 2 0 d o referido diploma legal, a d o e n ç a profissional e a d o e n ç a d o tra­

balho, cujos conceitos s ã o especificados n o citado dispositivo.

D e v e m o s observar q u e éstas colocações tèfn c o m o pressuposto tão- s o m e n t e o conceito legal d e acidente, e po r q u e n ã o t e m o s pretensão d e q u e este estudo tenha relevância a l é m d a prática, r e m e t e m o s o leitor mais interessado à obra d e Orlando Gomes e Elson Gottschalk*'* 1.

O B R 1 G A Ç A O D E I N D E N I Z A R .

O art. 1 9 4 d a Constituição Federal estabelece o princípio d a universa­

lidade d a cobertura d o seguro social. Por .esse.princípio, todo d a n o sofrido pelo empregado.deveria ser indenizado pela Seguridade Social, n a d a s e n d o devido pelo e m p r e g a d o r a o e m p r e g a d o vítima d e acidente d e trabalho.

(’) Jliiz d o Trabalho Substituto d a Justiça d o Trabalho d a 1 5 8 Região.

(1) Gomes, Orlando e Elson Goltschalk. "Curso d e Oireilo d o Trabalho", Forense, Rio d e Janeiro,

1 9 8 4 , 9"ed..pág. 34.0. . ■ . -

(2)

Ocorre, todavia, q u e o art. 7 a, incisos XXII e XXVIII, d a Constituição Federal d e 1 9 8 8 prevé:

Art. 7S São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem ã melhoria de sua condição social:"

(...)

“XXIIredução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança;"

(...)

“XXVIIIseguro contra acidente de trabalho, a cargo do em­

pregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado, quan­

do incorrer em dolo ou culpa;”

Verificamos, portanto, q u e ap e s a r d o art. 1 9 4 d a Constituição Federal estabelecer o princípio d a universalidade d a cobertura d o se g u r o sociai, o s incisos XXII e XXVIII d o art. 7 9 d a Constituição Federal d e 1 9 8 8 p r e v ê e m q u e subsiste a responsabilidade civil d o e m p r e g a d o r para c o m o e m p r e g a ­ d o acidentado.

A H e r m e n ê u t i c a ensina q u e n ã o s e p o d e considerar q u e det ermin ado artigo d e u m a Constituição p o s s a ser inconstitucional. A s s i m sendo, resta concluir q u e o conflito entre n o r m a s constitucionais é a p e n a s aparente, e q u e o intérprete de v e encontrar, se m p r e , u m a interpretação q u e concilie a aplicação d e todas a s regras d e u m a Constituição.

A S ú m u i a n. 2 2 9 d o Egrégio S u p r e m o Tribunal Federal representa e s s a conciliação d e regras constitucionais a p a r e n t e m e n t e e m conflito. Te m , a referida súmula, o seguinte teor:

“Súmula n. 229 ; A indenização acidentaria não exclui a do direi­

to comum, em caso de dolo ou culpa grave do empregador."

R e g u l a m e n t a n d o a s n o r m a s constitucionais, a Lei n. 8.213/91, e m s e u art. 121, prescreveu:

“Art. 121. O pagamento, pela Previdência Social, das presta­

ções por acidente do trabalho não exclui a responsabilidade civil da empresa ou de outrem."

S e c o n s i d e r a r m o s o art. 1 9 4 e o s incisos XXII e XXVIII d o art. 7- d a

Constituição Federal d e 1988, as s i m c o m o o art. 121 d a Lei n. 8.213/91,

interpretados à luz d a S ú m u l a n. 2 2 9 d o Egrégio S u p r e m o Tribunal Federal,

c o n c l u í m o s q u e o d a n o decorrente d o c a s o fortuito, força m a i o r e culpa

leve d o e m p r e g a d o r é c o m p l e t a m e n t e rep arado pelos benefícios d a S e ­

guridade Social (médico, hospital, remédio, fisioterapia, auxílio-doença,

auxílio-acidente, aposentadoria p o r invalidez, p e n s ã o por m o r t e etc....).

(3)

E S T U D O MULTIDISCIPLINAR 103

Todavia, subsiste a responsabilidade d o e m p r e g a d o r d e p a g a r indeniza­

ç ã o a o e m p r e g a d o o u a s e u s familiares (na hipótese d e mo r t e d o e m p r e ­ gado), q u a n d o o e m p r e g a d o r contribui para o acidente c o m dolo o u culpa grave, obrigação q u e encontra a m p a r o n o art. 1 5 9 d e 1916, dispositivo legal q u e encontra equivalente n o art. 1 8 6 d o N o v o C ó d i g o Civil. A res­

ponsabilidade p r e s s u p õ e “o s e l e m e n t o s c o m p o n e n t e s d o ato ilícito, d e a c o r d o c o m o art. 159, tido c o m o u m a d a s vigas-mestras d o direito civil, a o lado d o direito d e propriedade e d a família: o fato lesivo, o d a n o p r o d u ­ zido e o n e x o causal”l2), e l e m e n t o s estes ma n t i d o s pela regra d o art. 1 8 6 d o C ó d i g o Civil hoje e m vigor.

O B J E T O D E I N D E N I Z A Ç Ã O D E V I D A A E M P R E G A D O

C o n s o a n t e a regra d o art. 1.059 d o C ó d i g o Civil d e 1 9 1 6 o u a regra d o art. 9 4 4 d o C ó d i g o Civil atual, a obrigação d e indenizar p r e s s u p õ e dano.

Logo, s e o d a n o é reparado por benefício previdenciário, n ã o s e p o d e afir­

m a r q u e reste d a n o a ser reparado por empregador.

U m a v e z q u e o s benefícios previdenciários fornecidos a o s seg u r a d o s vítimas d e acidente d o trabalho, tais c o m o assistência m é d i c a e hospitalar, fisioterapia, m e d i c a m e n t o s , auxílio-doença, auxílio-acidente e a p o s e n t a ­ doria por invalidez, r e p a r a m a maior parte d o s d a n o s q u e o e m p r e g a d o p o d e sofrer, n ã o restam muitos d a n o s q u e p o s s a m ser objeto d e indeniza­

ç ã o peio empregador.

C o m efeito, obs e r v a n d o - s e a s regras d o s arts. 1.537 e seguintes d o C ó d i g o Civil d e 1 9 1 6 e a jurisprudência, as s i m c o m o a s regras d o s arts.

9 4 4 e seguintes d o N o v o C ó d i g o Civil, tem-se q u e d a n o s à s a ú d e o u à integridade física d e outrem, seja por crime d e lesão corporal, acidente d e aut omóve l o u atos d e outra natureza, s ã o indenizados me d i a n t e p a g a m e n ­ to d o vaior d o d a n o efetivo, lucros cessantes e d a n o s morais, geralmente pela imposição d e obrigação d e reembolsar d e s p e s a s m é d i c a s e hospita­

lares, reabilitação física, p e n s ã o correspondente a o período e m q u e a víti­

m a n ã o p o d e trabalhar, indenização d e red ução d a cap a c i d a d e d e traba­

lho, a l é m d e indenização por d a n o físico o u mora! decorrente d e cicatrizes, pe r d a d e m e m b r o o u transtornos psicológicos. Outrossim, a o s d e p e n d e n ­ tes e c o n ó m i c o s d a vítima morta, a jurisprudência r e c o n h e c e o direito à pensão, a s s i m c o m o garante a o q u e efetuou d e s p e s a s d e socorro e fune­

ral, indenização pelo q u e des pende u.

V a m o s examinar, inicialmente, a hipótese d e a ç ã o d e acidente d e tra­

balho proposta pelo e m p r e g a d o vítima sobrevivente d e acidente d e trabalho.

Q u a n t o a o e m p r e g a d o vítima d e acidente d e trabalho, salvo quanto a o d a n o físico o u moral por cicatrizes, perda d e m e m b r o o u transtornos psicológicos, a Seg u r i d a d e Social repara: a s d e s p e s a s m é d i c a s e hospita­

lares, c o m o fornecimento d e hospital, m é d i c o e rem édio (art. 2 S d a Lei n.

(2) Monteiro, Washington cie Banos. "Curso d e Direilo Civil", vol. I, Editora Saraiva, S ã o Paulo.

1 9 7 7 , 1 5 5 e d „ pãg. 278.

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8.212/91); a reabilitação, física, c o m tratamento fisioterapêutico e forneci­

m e n t o d e próteses (art. 89. e seguintes d a Lei n. 8.213/91); o prejuízo por impossibilidade temporária d e trabalho pela vítima, c o m auxílio-doença (art.

5 9 e seguintes d o referido diploma legal); a red ução d a cap a c i d a d e d e tra­

balho. c o m o auxíiioraçidente (art. 8 6 e seguintes d a referida lei); e, a inca­

pacidade, p e r m a n e n t e para o trabalho, c o m a aposentadoria por invalidez (ar.t. 4 2 e seguintes d a Lei-n. 8.213/91).

É cabível, portanto, a pretensão d o e m p r e g a d o receber d o e m p r e g a ­ dor indenização por d a n o físico e moral decorrente d e pe r d a d e m e m b r o , cicatrizes o u transtornos psicológicos, po r q u e o s benefícios previdenciá- rios n ã o indeniza m tais danos.

Registra-se q u e há, n a jurisprudência;- e nt endim ento s e g u n d o o qua!

s e q u e r a indenização por tais d a n o s era devida n o período c o m p r e e n d i d o entre o início d a vigência d a Lei n. 8.213/91 e rev ogaçã o d o s e u s arts. 81 e 83, q u e d e t e r m i n a v a m o p a g a m e n t o , a o e m p r e g a d o vítima d e acidente d o trabalho, d o benefício previdenciário d e n o m i n a d o ‘'pecúlio", cujo valor era d e 7 5 % d o saiárlo-de-contribuição n a hipótese d e invalidez. Isso po r q u e tal benefício servia para indenizar o s d a n o s decorrentes d e cicatrizes, perda d e m e m b r o o u transtornos psicológicos. Outrossim, até a rev o g a ç ã o d o art.

141 d a Lei n. 8.213/91, a Previdência Social, inclusive, r e e m b o l s a v a à p e s ­ s o a q u e providenciasse o funeral d e segurado, a s d e s p e s a s efetuadas (au- xílip-fuhéral).

O ent endim ento encontra forte f u n d a m e n t o n a regra d o art. 1 9 4 d a Constituição Federal e n o art. 1 B d a Lei n. 8.212/91, s e g u n d o o s quais, c o n f o r m e já observado, a Seg urida de Social de v e o b e d e c e r o princípio d a universalidade d a cobertura, d e m o d o q u e h a v e n d o cobertura d e todos os d a n o s pela Seguridade. Social, n ã o restaria d a n o .a ser indenizado peio emp regad or.

S e g u i n d o a jurisprudência, o juiz p o d e c o n d e n a r o e m p r e g a d o r q u e agiu c o m culpa grave o u dolo, a o p a g a m e n t o d e valor que, o b s e r v a n d o as condiçõe s s o c i o e c o n ó m i c a s d o ofendido e d o ofensor, seja justa, m a s q u e n ã o seja tão alta q u e estimule o s d e m a i s e m p r e g a d o s a s e fazerem vítima d e acidente d e trabalho c o m o f o r m a d e enriquecimento, e n ã o seja tão baixa a ponto d e permitir q u e o e m p r e g a d o r p e n s e q u e p o d e p e r m a n e c e r agindo c o m culpa grave o u dolo, encontrando, a preço baixo, a solução para o s p r o b l e m a s decorrentes d e s e u desleixo o u dolo(3L Pa r á a fixação d o valor e m e x a m e n ã o há, portanto, fórmula matemática. E m c a d a c a s o c o n ­ creto cabe. o arbitramento d a indenização. Efetivamente, c o m o é possível s e estabelecer, p o r e x e m p l o , q u e u m e m p r e g a d o d e u m a p e q u e n a serralharia, s e n d o vítima d e acidente d e trabalho, faça.jus à indenização d e valor igual à devida a u m e m p r e g a d o d e u m a gr a n d e indústria d e .auto­

mó v e i s multinacional,.ainda q u e o s referidos e m p r e g a d o s t e n h a m a m e s ­ m a co n d i ç ã o s o c i o e c o n ó m i c a ? Admitir-se isso seria violar o equilíbrio, 3

(3) S ouza, Mauro César Martins de. "Responsabilidade Decorrente d o Acidente d o Trabalho n a Doutrina e Jurisprudência", A g ã Juris Editora, C a m p i n a s , 2000, pág. 194.

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p o r q u e — o u a serralharia estaria s e n d o c o n d e n a d a a p a g a r valor impossí­

vel d e ser p a g o e q u e lhe estaria levando à falência, o u a indústria a u t o m o ­ bilística estaria s e n d o c o n d e n a d a a pa g a r valor irrisório.

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O B J E T O D E I N D E N I Z A Ç Ã O D E V I D A A F A M I L I A R D E E M P R E G A D O . M O R T O

Q u a n d o o e m p r e g a d o mo r r e e m virtude d e acidente d e trabalho, s u b ­ siste o direito d e se u s familiares à indenização pelo d a n o consistente n a pe r d a d o ente d a família.

C o n f o r m e já observado, a jurisprudência rec o n h e c e a o s d e p e n d e n ­ tes e c o n ô m i c o s d a vítima mo r t a o direito à pensão. Ad e m a i s , admite q u e faz jus à indenização aquele que. efetuou d e s p e s a s d e socorro m é d i c o e

funeral. .

Evi d e n t e m e n t e que. o.dep e n d e n t e . d e e m p r e g a d o mo r t o e m acidente d e trabalho t e m direito à indenização pela perda daquele q u e o provê d e recursos para a vida.

Cláudia Salles Vilela Viannam resume:

... “são beneficiários do Regime Geral da Previdência Social, na condição de dependentes do segurado:

i o cônjuge, a companheira, o companheiro e o filho não eman­

cipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido;

II — os pais;

III — o irmão, não emancipado, de qualquer condição, menor de 21 anos ou inválido.

Observe-se ainda:

' Os dependentes de uma mesma classe concorrem em igual­

dade de condições;

* A existência de dependente de qualquer destas classes exclui do direito às prestações os das classes seguintes.

Equiparam-se aos filhos, mediante declaração escrita do . segurado:

' o enteado:

' o menor que se encontra sob sua tutela e não possua bens suficientes para o próprio sustento e educação.

O filho de criação só poderá ser incluído entre os filhos do se­

gurado mediante apresentação de termo de guarda ou tutela. 4

(4) Vianna, Cláudia Salles Vilela. " M a nual Prático d a s Rela ç õ e s Trabalhistas", Editora LTr, S ã o

Paulo, 199S, 3 9 ed., pág.684. ■■

(6)

Considera-se companheiro ou companheira a pessoa que man­

tenha união estável com o segurado ou segurada.

Reconhece-se união estável aquela verificada entre o homem e a mulher, como entidade familiar."

A e s s a s p e s s o a s q u e a lei c h a m a d e d e p e n d e n t e s d o s e g u r a d o é garantido o direito a benefício consistente n o p a g a m e n t o d e prestação p e ­ cuniária mensal, benefício este d e n o m i n a d o p e n s ã o por mo r t e (art. 7 4 e seguintes d a Lei n. 8.213/91).

Sustenta-se q u e s e n d o assim, e m c a s o d e m o r t e d e e m p r e g a d o e m acidente d o trabalho, o d e p e n d e n t e n ã o p o d e rec lamar d o e m p r e g a d o r indenização por prejuízo n o s e u sustento, u m a v e z q u e o p a g a m e n t o d a p e n s ã o pela Previdência Social importaria n a eliminação d o prejuízo, n ã o havendo, portanto, dano, n e s s e sentido, a ser rep arado pelo emp r e g a d o r .

Ocorre, porém, q u e s e g u n d o a jurisprudência, é devida indenização a o s pais cujo filho é vítima d e acidente, ainda q u e os pais n ã o s e j a m d e ­ p e n d e n t e s e c o n ô m i c o s d o filho. C o m efeito, n o s termos d a S ú m u l a n. 491 d o Egrégio S u p r e m o Tribunal Federal, é devida a indenização ainda q u e o filho m e n o r n ã o exerça atividade rem unera da. E m c a s o s assim, o culpado, geralmente, é c o n d e n a d o a p a g a r indenização consistente e m p e n s ã o m e n s a l devida até à é p o c a e m q u e a vítima completaria 6 5 a n o s d e idade.

Sobreleva observar q u e n ã o s e encontra entre o s benefícios d a Previdên­

cia Social prestação equivalente à indenização e m e x a m e .

Logo, e m referidas circunstâncias, caberia tal indenização a o familiar d o e m p r e g a d o mo r t o e m con s e q u ê n c i a d e acidente d e trabalho.

A s con sider açõe s relativas a o ent e n d i m e n t o d e q u e n a d a é devido pelo e m p r e g a d o r a título d e indenização e m virtude d e acidente sofrido n o período e m q u e h o u v e vigência d o s arts. 81 e 8 3 d a Lei n. 8.212/91, t a m b é m v a l e m para a a ç ã o d e indenização proposta por familiar d e e m ­ p r e g a d o m o r t o e m acidente d e trabalho, p o r q u e o s referidos dispositivos legais pr e v i a m o p a g a m e n t o d e pecúlio d e valor equivalente a 1 5 0 % d o salário-de-contribulção a o s d e p e n d e n t e s d o e m p r e g a d o m o r t o e m acidente d e trabalho.

C o n f o r m e já o b s e r v a m o s , a Seg urida de Social cobre, qu a n t o a o s e ­ gu r a d o mo r t o e m acidente d o trabalho, a s d e s p e s a s m é d i c a s e hospitala­

res eve ntualmente existentes, me d i a n t e o fornecimento d e hospital, m é d i ­ c o e re m é d i o (art. 2 a d a Lei n. 8.212/91).

A C O M P E T E N C I A P A R A J U L G A R A Ç A O D E E M P R E G A D O

S e m p r e foi objeto d e controvérsia a questão relativa à c o m p e t ê n c i a

para o julgamento d a a ç ã o judicial entre e m p r e g a d o e e m p r e g a d o r c o m

pedido d e indenização decorrente d e acidente d e trabalho.

(7)

O Instituto Nacional d a S e g u r i d a d e Social é u m a entidade equiva­

lente a urna e m p r e s a seguradora, administradora d e u m sis tema q u e é o resultado d a evo lução d o contrato d e s e g u r o privado para o sistema d e previdência social, cuja história é apr e s e n t a d a d e m o d o im p a r por Cesa- riño JúniofíK E m face d a relação d e e m p r e g o , c a b e a o e m p r e g a d o e a o e m p r e g a d o r o p a g a m e n t o d e m e n s a l i d a d e d e se g u r o (premio), r e s p o n ­ d e n d o c a d a u m por s u a cota n a men salidade, e a entidade seg urado ra d e v e reparar o s d a n o s decorrentes d o s infortúnios eve n t u a l m e n t e sofri­

d o s pelo e m p r e g a d o .

Rosni FerreiralS) comenta:

“O seguro, como regra geral, tem como objetivo obrigar alguém a ressarcira outrem, através de uma indenização de pagamento úni­

co ou na forma de prestações, o prejuízo em consequência de um risco coberto e da ocorrência do sinistro. Assim, tanto é seguro o pagamento de uma indenização por danos ocasionados num veiculo, como o auxílio-doença em conseqüência de uma causa patológica.

Em ambos os casos, o ressarcimento se fundamentou num se­

guro, sendo que, na primeira hipótese, o seguro do automóvel é pri­

vado e, na segunda, o seguro é social.

O seguro privado é facultativo, dependendo, exclusivamente, da vontade da parte seguradora, mas, mesmo o privado pode ser obrigatório, como, por exemplo, seguro de veículos automotores, que, se não for feito, impede o licenciamento.

No seguro social, o entendimento é diverso. O seguro social é obrigatório e impositivo; forma-se por força da própria lei."

S e m p r e q u e o e m p r e g a d o r é c h a m a d o e m juízo por e m p r e g a d o q u e p e d e indenização, contesta a a ç ã o e denuncia a lide à Seg u r i d a d e Social.

R e q u e r a o juiz, c o m Isso, q u e n a hipótese d e haver c o n d e n a ç ã o d o e m ­ p r e g a d o r a o p a g a m e n t o d e indenização, a S e g u r i d a d e r e e m b o l s e a o e m p r e g a d o r o valor q u e este v e n h a a pa g a r a o e m p r e g a d o . C o n s o a n t e a regra d o art. 7 6 d o C P C , n a hipótese d e procedência d a den uncia ção d a lide o juiz profere sen tença c o n d e n a n d o o den uncia do a pagar a o denunciante171.

Evidentemente q u e o julgamento d e a ç ã o q u e c o n t é m denunciação d a lide exige juiz q u e tenha com petên cia para julgar a a ç ã o e a den uncia ção d a lide. C o m o a Seguridade Social n o Brasil é, atualmente, administrada por entidade federal, e c o m o o julgamento q u e envolve ente federal é d a c o m p e ­ tência d a Justiça Federal (art. 1 0 9 d a Constituição Federal), s e m p r e q u e o e m p r e g a d o r denunciasse a lide à Seguridade Social, ordinariamente, a c o m ­ petência para julgamento d a a ç ã o passaria a ser d a Justiça Federal.

E S T U D O MULTIDISCIPLINAR 107

(5) Júnior, A. F Cesaríno. "Direito Social’, LTr-EDUSP, S ã o Paulo, 1980. págs. 437/492.

(6) Ferreira, Rosni. "Guia Prático C e Previdência Social’, LTr, S ã o Paulo, 1 9 9 7 , 2 a ed.,pág. 194.

(7) Santos, Moacyr Amaral. "Primeiras Linhas d e Direito Processual Civil", vol. II, Editora Saraiva, S ã o Paulo, 1983, 8 a ed,, pág. 33.

(8)

A. pr e s e n ç a d o ente federal n a a ç ã o e a nec essid ade d e c o m p e t ê n c i a para julgar a denunciação afastam d a Justiça d o Trabalho a com petên cia d a s a ç õ e s d e acidente d e trabalho, u m a v e z q u e esta Justiça teria com p e t ê n c i a especializada a p e n a s para julgar a a ç ã o principal, o u seja, a d o e m p r e ­ g a d o contra o empregador, m a s n ã o para a a ç ã o contida n a den u n c i a ç ã o d a lide.

Ainda q u e a jurisprudência seja n o sentido d e q u e n ã o c a b e d e n u n ­ ciação d a lide à Previdência Social n a s a ç õ e s d e acidente d e trabalho (S.TJ,.

R E s p 70894, D J 14.4.97, pág. 12.738), s e n ã o h o u v e s s e u m a n o r m a e s p e ­ cial sobre a c o m p e t ê n c i a para julgar a ç ã o d e acidente d e trabalho, ocorre­

ria de, c o m a denunciação, toda a ç ã o d e indenização por acidente d e tra­

balho m o v i d a contra e m p r e g a d o r ac a b a r n a Justiça Federal.Tendo e m c o n ­ ta q u e a Justiça Federal, n a maioria d o s Es t a d o s d a Federação, s ó conta c o m varas n a s Capitais, a m a n u t e n ç ã o d a c o m p e t ê n c i a d a Justiça Federal n e s s e s c a s o s importaria gr a n d e obstáculo a o exercício d a ação.

Diante d é tais circunstâncias, d e s d e a Constituição Federal d e 1 9 4 6 (8) o legislador constituinte atribui à Justiça C o m u m Estadual a com p e t ê n c i a para julgar a s a ç õ e s d e indenização d e acidente d e trabalho, d e m o d o q u e e m face d a natureza constitucional d a regra, a c o m p e t ê n c i a d a Justiça C o m u m Estadual prevalece m e s m o q u a n d o a Seg u r i d a d e Social p a s s e a integrar a lide c o m o denunciada.

C o n v é m observar q u e até hoje a Justiça C o m u m d o s Es t a d o s é a q u e t e m varas n a maioria d o s municípios d o País, o q u e facilita o a c e s s o d o e m p r e g a d o à Justiça.

N a vigência d a Constituição Federal.de 1969, s e u art. 142, n o § 2 9, estabelecia q u e a c o m p e t ê n c i a para a a ç ã o d e indenização decorrente d e acidente d e trabalho era d a Justiça C o m u m Estadual. O inciso I d o art. 109 d a Constituição Federal d e 1 9 8 8 excluiu d a c o m p e t ê n c i a d a Justiça F e d e ­ ral a s a ç õ e s d e c o m p e t ê n c i a d a Justiça d o Trabalho e a s a ç õ e s d e acidente d e trabalho. S e n d o assim, pode-se éntender q u e n ã o é d a Justiça d o Traba­

lho a c o m p e t ê n c i a para julgar a ç ã o d e acidente d e trabalho, já q u e tendo, o texto constitucional, disposto q u e n ã o é d a Justiça Federal a c o m p e t ê n c i a para julgár a ç ã o d e c o m p e t ê n c i a d a Justiça d o Trabalho, s e a a ç ã o d e aci­

dente d e trabalho fosse d a c o m p e t ê n c i a d a Justiça Trabalhista n ã o haveria nec e s s i d a d e d a referência expressa d o art. 1 0 9 à a ç ã o d e acidente d e tra­

balho. Por isso é q u e alguns e n t e n d e m q u e c o m p e t e à Justiça C o m u m E s ­ tadual julgar a a ç ã o d e acidente d e trabalho!

H á q u e m sustente q u e a com p e t ê n c i a é d a Justiça d o Trabalho, s o b o a r g u m e n t o d e q u e a n o r m a d o art. 1 0 9 n ã o p o d e ser e x a m i n a d a e m conjun­

to c o m o q u e di s p u n h a o § 2 fi d o art. 1 4 2 d a Constituição Federal d e 1969, pois a regra antiga foi re v o g a d a c o m a entrada e m vigor d a n o v a Constitui­

ção. O q u e interesse é a regra q u e hoje define a c o m p e t ê n c i a para julgar a

(8) Giglio, W a g n e r D. "Direito Processual d o Trabalho", Editora Saraiva, S ã o Paulo, 1997, 1 0 a ed., pág. 43.

(9)

E S T U D O MULTIDISCIPLINAR 109

a ç ã o d s indenização por acidente d o trabalho, e n o s te r m o s d o art. 1 1 4 d a Constituição Federa/ d e 1988, compele à Justiça do Trabalho julgar ação entre e m p r e g a d o e empregador.

C o n v é m observar, ainda, q u e a l é m d a n o r m a d o art. 1 0 9 d a Constitui­

ç ã o Federal d e 1988, referendando a regra d o art. 1 4 2 d a Constituição F e ­ deral d e 1969, o § 2- d o art, 6 4 3 d a Con solidação d a s Leis d o Trabalho ratifica a regra d e q u e é d a Justiça C o m u m Estadual a c o m p e t ê n c i a para julgar a ç ã o d e indenização por acidente d e trabalho.

S e g u n d o a jurisprudência, representada pela S ú m u l a n. 15 d o Colen- d o Superior Tribunal d e Justiça18', a com p e t ê n c i a para. a ç ã o d e Indenização por acidente d e trabalho é d a Justiça C o m u m Estadual. N o m e s m o sentido é a orientação jurisprudencial d o Egrégio S u p r e m o Tribunal Federal, c o n ­ substanciada n a S ú m u l a n. 5 0 1 (S>.

S o m e n t e u m a e m e n d a constitucional poderia eliminar definitivamen­

te qualquer dúvida sobre a competência, pois a s que stões postas envol­

v e m regras d e artigos d a Constituição Federal (art. 109 e 114).

O e x a m e d a c o m p e t ê n c i a para julgamento d a a ç ã o d e indenização por acidente d e trabalho m o v i d a por familiar d e e m p r e g a d o mo r t o reforça a idéia d e q u e é d a Justiça C o m u m Estadual a c o m p e t ê n c i a para julgamento d a a ç ã o d e indenização m o v i d a por e m p r e g a d o vítima d e acidente d e tra­

balho, contra empregador.

C O M P E T Ê N C I A P A R A J U L G A R A Ç Ã O D E F A M I L I A R D E E M P R E G A D O M O R T O

Vejamos, agora, a questão relativa à c o m p e t ê n c i a para a a ç ã o d e indenização proposta por familiar d e e m p r e g a d o q u e é mo r t o e m acidente d e trabalho.

S e a aç ã o é proposta pelo emp regad o, a competência p o d e ser atribuí­

d a pelo intérprete à Justiça d o Trabalho, m a s s e a a ç ã o é proposta por fami­

liar d o trabalhador morto e m acidente d e trabalho, fica mais difícil sustentar q u e tal a ç ã o está abrangida pela n o r m a d o art. 1 1 4 d a Constituição Federal.

Efetivamente, a c o m p e t ê n c i a para tal a ç ã o n ã o encontra guarida n a primeira parte d a regra d o art. 1 1 4 d a Constituição Federal d e 1988, por­

q u e n ã o é a ç ã o d e trabalhador contra emp regad or, e n ã o c a b e n a s e g u n d a parte d o artigo, po r q u e n ã o h á lei estabelecendo q u e a c o m p e t ê n c i a para referida ação é da Justiça do Trabalho.

É importante observar q u e n ã o seria razoável a conclusão d e q u e a a ç ã o proposta pelo próprio e m p r e g a d o vítima d e acidente d e trabalho fos­

s e d a c o m p e t ê n c i a d a Justiça d o Trabalho, e a a ç ã o d e familiar d e e m p r e ­ g a d o mo r t o e m acidente d e trabalho fosse d a c o m p e t ê n c i a d a Justiça C o ­ m u m Estadual.

(9) Lopes, Maurício António RiPeiro. “C ó d i g o de Processo Civil", Editora Revista d o s Tribunais, S ã o Paulo, 1 9 9 8 , 3 a e d „ pág. 1.025.

Referências

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