Classificação e
Caracterização do HIV
Joao Goncalves Professor Associado
Faculdade de Farmácia da Universidade Lisboa
Instituto de Medicina Molecular
2
Sumário
• O que é o HIV?
• O que é SIDA?
• Pandemia do HIV
• Transmissão do HIV
• Patogenia do HIV
• Estadios da doença
3
O que é o HIV?
• H umano: Infecta humanos
• I munodeficiência: Diminui ou reduz a capacidade do corpo de combater as infecções
• V irus: Agente infeccioso com a
capacidade de replicar dentro da célula
4
O que é a SIDA?
• A dquirida: Estar em posse de algo novo. Não é inato
• I muno D eficiencia: Diminuição ou
incapacidade do organismo para lutar contra as infecções
• S índrome: Grupo de sinais e sintomas que ocorrem em conjunto e caracterizam uma
patologia
SIDA é estadio final de uma doença causada por
uma infecção viral pelo HIV.
Imunodeficiências
Primárias
Ausência ou falha do normal funcionamento de um mais elementos
do Sistema Imune
- Células B - Células T
- Complemento - Fagócitos
- Fármacos imunomoduladores - Esteróides
- Má-nutrição
(proteínas, Fe, Zn, Se, Cu, vitaminas A, B6, C, E...)- SIDA Defeitos
intrínsecos do Sistema Imune, na sua maior parte geneticamente determinados
Secundárias
Imunodeficiências
EPIDEMIOLOGIA
7
Adultos e Crianças com HIV/SIDA : 41 – 52 milhões
Western Europe 520 000 – 680 000
North Africa & Middle East
470 000 – 730 000 Sub-Saharan Africa 25.0 – 28.2 million
Eastern Europe
& Central Asia 1.2 – 1.8 million
South
& South-East Asia 4.6 – 8.2 million
Australia
& New Zealand
12 000 – 18 000
North America
790 000 – 1.2 million
Caribbean
350 000 – 590 000 Latin America 1.3 – 1.9 million
East Asia & Pacific 700 000 – 1.3 million
HIV: Pandemia Global
Portugal, 2010
Distribuição por idades, da infecção
Países de elevado rendimento
• 1.46 milhões de pessoas infectadas no Oeste da Europa e na América do Norte
• Prevalência está a aumentar modestamente - Prevenção
• Diminuição da taxa de mortalidade - Terapia anti-retrovirica
• Terapia anti-retrovirica - maior número de comportamentos de risco sobretudo em relações homossexuais – optimismo acerca dos
tratamentos e práticas de risco
•HIV/SIDA nas minorias étnicas e populações mais pobres - a incidência aumenta mais
rapidamente
América do Norte
920,000 Oeste da Europa 540,000
Australia e Nova Zelandia
15,000 HIV/SIDA
2000
Epidemiologia Mundial
11
Epidemia na Africa Sub-Sariana
Toxicodependentes:
• 50% do total de casos notificados em 2011
• Categoria com maior número de casos notificados.
• A proporção de casos tem diminuído desde 2008.
Heterossexuais:
• 28.8% do total de casos notificados em 2011.
• A proporção de casos tem vindo a aumentar desde 2005.
Homossexuais:
• 14.8% do total dos casos notificados em 2011.
Total:
• Decréscimo do número de casos diagnosticados desde 1996 até 2011.
Epidemiologia em Portugal
Transmissão Sexual
- Heterossexual - modo mais comum de infecção no mundo (sobretudo nos países em desenvolvimento) - Homossexual
Transmissão por sangue e Hemoderivados
- Hemotransfusões (Hemofílicos: menos de 1% dos casos) - Hemoderivados (+/- 1% dos casos)
- Transplantes
- Compartilhar utensílios de injecção - Toxicodependentes (+/- 25% dos casos)
Transmissão Materno - Fetal/Infantil - in utero - via transplacentária - durante o parto
- ingestão de leite materno contaminado
+ comuns
Transmissão
Mortes pela infecção do HIV vs Morte por infecção com SIDA
*For comparison with data for 1999 and later years, data in the bottom (orange) line for 1987−1998 were modified to account for ICD-10 rules instead of ICD-9 rules.
Mortes por HIV entre género (1987−2010)
Note: For comparison with data for 1999 and later years, data for 1987−1998 were modified to account for ICD-10 rules instead of ICD-9 rules.
*Standard: age distribution of 2000 US population
Mortes por HIV entre idades (1987−2010)
Note: For comparison with data for 1999 and later years, data for 1987−1998 were modified to account for ICD-10 rules instead of ICD-9 rules.
BIOLOGIA DO HIV
• Membro da família dos retrovírus humanos e do género dos lentivírus
• Transferência do HIV dos símios para os humanos alteração na virulência - mais relacionada com a resposta imune do hospedeiro do que com as propriedades do vírus.
• HIV-1
- Causa mais comum de doença pelo HIV em todo o Mundo - Compreende vários subtipos
Biologia do HIV
• HIV-2
- Originalmente restringido à África Oriental.
- Mais relacionado, filogeneticamente, com o SIV (vírus da Imunodeficiência Símia).
- Parece ser menos patogénico - Síndrome mais brando e com evolução mais lenta
- Causa mais frequentemente Encefalopatias
Biologia do HIV
21
Source: UNAIDS, 2006
Disseminação do HIV em Africa (1990-2010)
• 2 cópias de RNA
• 3 enzimas:
- Protease
- Transcriptase reversa - Integrase
• p7/p9 - nucleocápside
•p24 - capsídeo - Ag mais
facilmente detectado: diagnóstico
• p17 - proteína da matriz que rodeia o core
• gp120 (externa) e gp 41 (transmembranar) - invólucro - fundamentais para a infecção.
Estrutura do Vírus
Estrutura genética do Vírus
25
Células CD4+
Linfócitos T-helper Monócitos/
Macrófagos Células Dendríticas
Extensa replicação viral
Reservatório
Transporte para o cérebro Extensa
replicação viral Lise
Infecções oportunísticas e
neoplasias
As celulas de Langerhans capturam o vírus e transportam-no para os gg linfáticos onde infectam as
células T CD4+
Reservatório
após activação
Ciclo de Replicação
1) Infecção de Células
Robbins, 2010
28
HIV Receptors HIV Receptors
HIV and Cellular Receptors
2) Integração
Robbins, 2010
Provírus integrado pode permanecer em infecção latente durante meses a anos.
Para completar o ciclo de vida é necessário que ocorra:
activação celular
estimulação antigénica
citoquinas citoquinas
LINFÓCITOS T CD4+ MACRÓFAGOS
por
TRANSCRIÇÃO DO DNA PROVIRAL
PRODUÇÃO DE VIRIÕES
FUNÇÃO T
DIMINUÍDA LISE DAS CÉLULAS T
Ciclo de Replicação
3) Ativação da Replicação
Robbins, 2010
4) Produção e Libertação
Robbins, 2010
34
Saída do HIV dos linfócitos CD4+
Courtesy of CDC
Ciclo de Replicação
Ligam o HIV pelos receptores DC-SIGN
Levam dos pontos de entrada das mucosas para os gg linfáticos - infecção de linfócitos
Célula Dendritica HIV
DC-SIGN
MIGRAÇÃO PARA OS GANGLIOS LINFÁTICOS
Ciclo de Replicação
Celula dendrítica na apresentação do vírus às céls. T CD4+
Expansão no organismo
- Imunodeficência
- Reservatório
Expansão no organismo
41
Células infectadas pelo HIV
Cérebro: macrófagos e células gliais
Gânglios linfáticos e timo: linfócitos e células dendríticas
Sangue, sémen, fluidos vaginais: macrófagos
Medula óssea: linfócitos
Pele: Células de Langerhans
Cólon, duodeno, recto: células cromafins
Pulmão: macrofagos alveolares
42
Transmissão
Tropismo viral
Os Vírus transmitidos normalmente têm tropismo para os macrófagos
Tipicamente utilizam o receptor de quimiocinas CCR5 para ajudar à entrada na célula (juntamente com o
CD4)
Os pacientes homozigóticos para a mutação delta32
CCR5 são relativamente resistentes à transmissão
Não progressores impedem replicação do HIV
43
O GRAU DE DIVERSIDADE GENOMICA QUE O HIV ORIGINA NUM ÚNICO INDIVÍDUO PODE SER MAIOR QUE A DIVERSADE MUNDIAL DO VÍRUS
INFLUENZA DURANTE UMA EPIDEMIA.
Diversidade
45
Dinâmica Virus-Hospedeiro
10 mil milhões de viriões são produzidos diariamente
Tempo de vida médio de um virião de HIV no plasma é de ~ 6 horas
Tempo de vida médio de um linfócito CD4+ infectado pelo HIV é ~ 1,6 dias
HIV pode permanecer latente dentro de uma célula,
durante muitos anos, especialmente em células T CD4+
HIV-1
- Grupo M (major) - Responsável pela maioria das infecções no Mundo
- Grupo O (outlier) - Raro. Encontrado originalmente na República dos Camarões, Gabão e França.
- Grupo N - Identificado pela primeira vez numa mulher oriunda da República dos Camarões.
Diversidade
HIV-1
Grupo M
8 subtipos ou clades
( A, B, C, D, F, G, H e J)
4 formas circulantes recombinantes (CRF)
(principais)
• AE - Sudoeste Asiático
• AG - África Oriental e Central
• AGI - Chipre e Grécia
• AB - Rússia
• B - Predominante nos EUA, Canadá, América do Sul e Europa Ocidental e Austrália.
• C - Mais comum no mundo
inteiro. Predominante em África e na Índia.
• E- Predomina no Sudeste Asiático
Diversidade
HIV-1 → necessidade do uso de co-receptores para a infecção da cél. alvo
Diversidade
Co- receptor (citocinas)
Tropismo Indução de
sincícios Designações
Fase da infecção em que predomina
CCR5 Macrófagos Não R5
M-tropic Inicial
CXCR4 Céls T CD4+ Sim X4
T-tropic Final
diferentes estirpes
Diversidade Genética
Selecção Natural
Drogas anti-retrovíricas
em resposta a
Resposta Imune
Problema do desenvolvimento de uma vacina Passagem do HIV para novos terrenos do corpo
humano e da população humana
quando
USO DE NOVOS CO-RECEPTORES
ALTERAÇÃO DO TROPISMO DA CÉLULA
ESCAPE À NEUTRALIZAÇÃO
MUTAÇÃO
Diversidade
QUÃO CONSERVADO É O FENÓTIPO DO HIV?
?
ALTERAÇÃO DO MODO DE TRANSMISSÃO
Diversidade
51
Como é que o HIV é transmitido?
• Contacto sexual
desprotegido com um parceiro infectado
• Exposição de pele ferida a sangue infecado ou fluídos corporais
• Transfusão com sangue infectado pelo HIV
• Injecção com objectos contaminados
• Transmissão mãe-filho durante a gravidez,
nascimento ou
aleitamento
52
Progressão da doença
• Gravidade da doença é determinada pela
quantidade de vírus em circulação (carga viral) e o grau de imunosupressão (decréscimo da contagem de linfócitos T CD4+).
• À medida que a contagem de linfócitos T CD4+
diminue, a função imunitária também decresce.
53
História Natural do HIV
Fauci As, 1996
• Fase aguda
• Fase crónica
– assintomática prolongada
• Fase de crise
– doença sintomática
Apresentação clínica
• Ocorre 3 a 6 semanas após a infecção primária
• Síndrome típica de um síndrome viral agudo:
– Gerais
• Febre
• Faringite
• Linfadenopatia
• Cefaleias
• Letargia
• Anorexia
• Vómitos/náuseas/
diarreia
– Neurológicos
• Meningite
• Encefalite
• Neuropatia periférica
– Cutâneos
• Exantema maculopapuloso
• Úlceras cutâneo-mucosas
Fase aguda
• Pico de viremia
• Anormalidades imunológicas:
– Diminuição do nº de linfócitos CD4+
– Inversão da razão CD4+/CD8+ por elevação de CD8+ e manutenção da depressão CD4+.
• 3/17 semanas após a exposição:
– seroconversão
– produção de céls T CD8+ específicas que vão
“conter” a infecção e diminuir HIV plasmático
Fase aguda
• Estado assintomático prolongado - latência – 7 a 10 anos em doentes sem tratamento
• Diminuição da viremia
– Continuação da replicação do HIV nos
macrófagos e céls T CD4+ (níveis de RNA-HIV por PCR – implicação no prognóstico)
– Perda contínua de céls T CD4+ compensada por regeneração manutenção dos níveis plasmáticos periféricos (50/µl por ano)
• Até ao aparecimento dos 1º s sintomas constitutivos...
Fase crónica
• Descompensação do sistema imune:
– Diminuição do nº de céls T CD4+
– Aumento da proporção de céls T CD4+ infectadas que sobrevivem
– Aumento da viremia
• Linfadenopatia persistente
• Sintomas constitutivos significativos
• SIDA - o espectro das doenças observadas muda à medida que a contagem de células T CD4+ cai.
Fase de crise
• Diagnóstico de SIDA:
– Infecção por HIV
– Células T CD4+ <200/µl
– Alteração nas reacções de hipersensibilidade – Neoplasias secundárias
– Ocorrência de infecções oportunistas
• Candida albicans
• Pneumocystis carinii
• Cytomegalovirus
• Cryptococcus
• Mycobacterium tuberculosis
• Mycobacterium avium-intracelulare
Fase de crise
Mecanismos de
deplecção T-CD4+
Diminuição súbita e acentuada do nº de linfócitos T CD4+
Há uma proliferação de linfócitos que procura compensar a
sua destruição aumentada
O nº de linfócitos
T CD4+ atinge
valores <200
células /µL
Depleção de células T CD4+
Produção deficiente
Destruição aumentada
Diminuição de células T CD4+
circulantes Redistribuição
do espaço intravascular para os
orgãos linfóides
HIV
Directamente indirectamente
Inversão da razão CD4+/CD8+ no sangue:
de 2 passa para <0,5 nos doentes com SIDA
Possíveis causas para a depleção de
células T CD4+
Resposta imune
celular – Linfócitos
CD8+
• Resposta celular aguda exuberante: 10% das CTL CD8+
envolvidas
• Viremia diminui assim que a resposta CTL CD8+ atinge o seu máximo
• Resposta oligoclonal
• Dependência antigénica
Infecção aguda por HIV
• CTL HIV-específicas mantêm-se em elevadas concentrações
• 1-2% das CTL CD8+ circulantes e dos gânglios são específicas para o epítopo dominante
• Dependência antigénica
Infecção crónica por HIV
A resposta celular imune ao HIV é exuberante mas falha completamente o controlo da infecção.
% CTL CD8+ que contem perforina Menos de 15% das CTL
HIV- específicas
50% das CTL CMV- específicas
Baixos níveis de perforina Menor actividade citotóxica
As CTL CD8+ HIV-específicas têm menor
actividade citotóxica que as CTL CMV-específicas!
Porque é que a resposta celular imune ao HIV falha?
Resposta celular imune ao HIV
Papel das células T Helper CD4+ HIV-
específicas na resposta celular T CD8+
• A perda das células T Helper CD4+ é fulcral na patogénese da infecção por HIV e parece ser determinante no insucesso da resposta celular T CD8+
• Doentes com níveis elevados de células T Helper CD4+ apresentam baixa carga viral o que revela uma resposta celular mais eficaz e melhor controlo imune da infecção por HIV
Tratamento anti-retroviral (HAART- Highly Active Antiretroviral Therapy) permite a manutenção de níveis mais elevados de células T Helper
CD4+.
Papel das células T Helper CD4+ HIV-
específicas na resposta celular T CD8+
Infecção das cél. CD4+
Deplecção das cél.TH CD4+
Desregulação da resposta celular
< actividade citotóxicas das CTL
Selecção dos HIV mutantes
Latência vírica
Replicação virica