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Os significados do trabalho para jovens estudantes do ensino público do DF : reflexões e contribuições da psicodinâmica do trabalh

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Academic year: 2017

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FERNANDO CÉSAR MAGALHÃES LOUZADA

OS SIGNIFICADOS DO TRABALHO PARA JOVENS ESTUDANTES DO ENSINO PÚBLICO DO DF: REFLEXÕES E CONTRIBUIÇÕES DA

PSICODINÂMICA DO TRABALHO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Educação da Universidade Católica de Brasília – UCB, como requisito parcial para a obtenção do Título de Mestre em Ciência em Educação.

Orientadora: Profª. Dra. Kátia Cristina T. R. Brasil.

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Ficha elaborada pela Biblioteca Pós-Graduação da UCB

23/09/2011

L895s Louzada, Fernando César Magalhães

Os significados do trabalho para jovens estudantes do ensino público do DF: reflexões e contribuições da psicodinâmica do trabalho. / Fernando César Magalhães Louzada – 2010.

174f. : il.; 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2010. Orientação: Kátia Cristina T. R. Brasil

1. Trabalho. 2. Educação de jovens. 3. Ensino público-Distrito Federal. 4. Inclusão social. I. Brasil, Kátia Cristina T. R., orient. II. Título.

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AGRADECIMENTOS

Agradecer é um ato, que marca o fim de um ciclo. As palavras que conheço são insuficientes para expressar meus sinceros agradecimentos:

Aos jovens estudantes que participaram desta pesquisa, pela disposição em compartilhar sonhos, esperanças, prazeres e dores que o trabalho representa em suas vidas.

À minha família, Oswaldo, Cláudia, Carla, Aline, Luís Rafael, Gabriel , Daniel e Helena, que abriu mão de minha presença e me apoiou durante o período desta pesquisa.

Às professoras queridas Cecília Brusco, Salete Andrade, Maria de Lourdes Fusca Tirone, Carmem C. Carvalho (in memoriam) e Myriam Del Nero Port que proporcionaram o contato com as primeiras palavras e seus significados em minha vida e que ajudaram a plantar o amor pela educação.

À minha família de alma Rosângela Melo, Carlos Roberto, Lisiane, Fátima, Adriana e Paulo, Luzinete e Alex, Carlos Alberto, Alex, Ronaldo e Renato pelo apoio, amizade, carinho e compreensão sem os quais não seria possível ter chegado até aqui.

Aos cuidadores Vitalina, Eduardo Rabelo, Revia, Andréia, Carla, Eliana, Márcia, Rosinete Guimarães, Luís Piva Jr., Roberto Gandara, Lewis Nádia, Carmen Alquezar Oliveira que dispensaram atenção e cuidados em todos os momentos durante esta jornada.

Às chefias de Gilnei e Ana Regina, e aos colegas de trabalho pelo apoio incondicional durante o mestrado e a confecção desta dissertação.

Aos mestres, aos(às) colegas Ivana, Anna Carolina, Sheila, em especial à Roseli, ao pessoal de apoio e às bibliotecárias do Mestrado e Doutorado em Educação da Universidade Católica de Brasília pela acolhida, pela disposição e empenho durante todo o mestrado.

Às Profª. Dra. Carmen e Elisabeth por aceitarem o convite de participar da banca examinadora, pelas contribuições e discussões que auxiliaram este trabalho

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Você não sabe o quanto eu caminhei Pra chegar até aqui Percorri milhas e milhas antes de dormir Eu não cochilei

Os mais belos montes escalei

Nas noites de frio chorei A vida ensina e

o tempo traz o tom... A estrada

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RESUMO

Referência: LOUZADA, Fernando. Os significados do trabalho para jovens estudantes do ensino público do DF: reflexões e contribuições da Psicodinâmica do Trabalho. 2010. 174 páginas. Dissertação de Mestrado do Curso de Pós-Graduação stricto sensu em Educação – Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, 2010.

O significado do trabalho que adolescentes e jovens constroem, em meio a vulnerabilidade social funciona como um termômetro das expectativas da inclusão social pelo trabalho para esse segmento da população. A pesquisa aqui apresentada investigou palavras que expressam o significado de trabalho para adolescentes e jovens em situação de vulnerabilidade social. Os participantes foram 852 adolescentes e jovens, cursando o ensino médio em escolas públicas do Distrito Federal situadas em regiões com baixo índice de Desenvolvimento Humano. Os participantes da pesquisa tinham idade entre 13 e 23 anos e responderam a um questionário com 109 questões sobre fatores de risco e proteção em seu desenvolvimento. O procedimento que dirigiu a investigação foi a análise das palavras evocadas pelos adolescentes e jovens em relação ao significado do trabalho e estas foram analisadas na perspectiva teórica da psicodinâmica do Trabalho. A psicodinâmica do trabalho procura investigar as relações entre prazer e sofrimento no trabalho, bem como os elementos que cercam o trabalho como, a idealização, a complementaridade da identidade pelo trabalho, e a violência juvenil, abordada como estratégia de defesa coletiva contra o sofrimento frente a impossibilidade de inclusão social pelo trabalho. A análise de conteúdo foi utilizada para agrupar as 132 palavras que os participantes da pesquisa relacionaram ao trabalho e que foram agrupadas em cinco categorias finais: idealização com o mundo do trabalho; consolidação e construção da identidade com o mundo do trabalho; reconhecimento pelo mundo do trabalho; Prazer-sofrimento em relação ao trabalho ou ao mundo do trabalho; Desfiliação em relação ao mundo do trabalho. Para os respondentes foi mais importante o reconhecimento pelo mundo do trabalho, expresso nas palavras esforço e responsabilidade, seguido pelos significados de consolidação e construção da identidade com o mundo do trabalho expresso pelas palavras honra e dignidade. No caso específico desta pesquisa os jovens possuem uma avaliação boa em relação à escola e a violência que permeia seu cotidiano, no momento, não foi capaz de tirar a esperança de um futuro ingresso no mundo do trabalho e de uma vida mais saudável. As reflexões e contribuições da Psicodinâmica do trabalho contribuem para compreender os novos significados para o trabalho e sua relação com a saúde mental dos sujeitos, fornecendo subsídios para uma rearticular das ações e da dinâmica curricular nas escolas para a formação e desenvolvimento profissional, bem como, para o planejamento do processo e de políticas nas áreas de educação, saúde, trabalho e segurança pública.

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ABSTRACT

Reference: LOUZADA, Fernando. The means of work to public secundary young students of Distrito Federal: reflexions and contribuitions about Psychodynamic of the Work. 2010. 174 pages. Master Degree in Science Dissertation in Educacion – Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, 2010.

The meaning of the work that adolescent and young constructs, in way the social vulnerability functions as a thermometer of the expectations of the social inclusion for the work for this segment of the population. The research presented here investigated words that express the meaning of work for adolescents and young in situation of social vulnerability. The participants had been 852 young adolescents and, attending a course average education in situated public schools of the Federal District in regions with low index of Human Development. The participants of the research had age between 13 and 23 years and had answered to a questionnaire with 109 questions on factors of risk and protection in its development. The procedure that directed the inquiry was the analysis of the words evoked for the adolescents and young in relation to the meaning of the work and these had been analyzed in the theoretical perspective of the Psychodinamic of the Work. The psychodinamic of the work looks for to investigate the relations between pleasure and suffering in the work, as well as the elements that surround the work as, the idealization, the complementariedade of the identity for the work, and the youthful, boarded violence as strategy of collective defense against the suffering front the impossibility of social inclusion for the work. The content analysis was used to group the 132 words that the participants of the research had related to the work and that they had been grouped in five final categories: idealization with the world of the work; consolidation and construction of the identity with the world of the work; recognition for the world of the work; pleasure-suffering in relation to the work or the world of the work; separated in relation to the world of the work. For the respondents the recognition for the world of the work was more important, Express in the words effort and responsibility, followed for the meanings of consolidation and construction of the identity with world of work the express for the words honor and dignity. In the specific case of this research the young possess a good evaluation in relation to the school and the violence that it interlaces its daily one, at the moment, was not capable to take off the hope of a future ingression in the world of the work and of a more healthful. The reflections and contributions of the psychodynamic of the work they contribute to understand the new meanings for the work and its relation with the mental health of the citizens, supplying subsidies to rearticulate of the actions and the curricular dynamics in the schools the formation and professional development, as well as, for the planning of the process and of politics in the areas of education, health, work and public security.

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RÉSUMÉ

Référence: LOUZADA, Fernando. Les signification du travail pour jeune etúdiants du reseau de enseignement publique du Distrito Federal: refléxions et contribuations de Psychodynamique du Travail. 2010. 174 pages. Dissertation Maîtrisse en Science de Education – Universidade Católica de Brasília – UCB, Brasília, 2010.

La signification du travail qui adolescents et jeunes construisent, dans moyen la vulnérabilité sociale fonctionne comme un thermomètre des attentes de l'inclusion sociale par le travail pour ce segment de la population. La recherche ici présentée a enquêté des mots qui expriment la signification du travail pour adolescents et jeunes dans situation de vulnérabilité sociale. Les participants ont été 852 adolescents et jeunes, navigation l'enseignement moyen dans des écoles publiques du District Fédéral placées dans des régions avec j'abaisse indice de Développement Humain. Les participants de la recherche avaient âge entre 13 et 23 ans et ont répondu à un questionnaire avec 109 questions sur des facteurs de risque et à de protection dans leur développement. La procédure qui a dirigé la recherche a été l'analyse des mots évoqués par les adolescents et des jeunes concernant la signification du travail et celles-ci ont été analysés dans la perspective théorique de la Psychodynamique du Travail. La psicodinâmica du travail cherche à enquêter les relations entre plaisir et la souffrance dans le travail, ainsi que les éléments qui entourent le travail comme, l'idealization, complementairé de l'identité par le travail, et la violence juvénile, abordée je mange stratégie de défense collective contre la souffrance devant l'impossibilité d'inclusion sociale par le travail. L'analyse de contenu a été utilisée pour regrouper les 132 mots que les participants de la recherche se sont rapportés au travail et qu'ils ont été regroupés dans cinq catégories finales : idealization avec le monde du travail ; consolidation et construction de l'identité avec le monde du travail ; reconnaissance par le monde du travail ; plaisir-souffrance concernant le travail ou au monde du travail ; séparé concernant le monde du travail. Pour les répondants est plus important la reconnaissance par le monde du travail, exprimé dans les mots effort et responsabilité, suivante par les significations de consolidation et de construction de l'identité je mange monde du travail exprimé le mots honneur et dignité. Dans le cas spécifique de cette recherche les jeunes possèdent une évaluation bonne concernant l'école et la violence que il entrelace son quotidien, au moment, n'a été capable d'enlever l'espoir d'une future admission dans le monde du travail et d'une vie plus saine. Les réflexions et les contributions du psychodymaique du Travail ils contribuent pour comprendre les nouvelles significations au travail et à sa relation avec la santé mentale des sujets, en fournissant subventions pour une rearticular des actions et de la dynamique curriculaire dans les écoles pour la formation et développement professionnel, ainsi que, pour la planification du processus et des politiques dans les secteurs d'éducation, il salue, travail et sécurité publique

.

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 – Mapa dos Capítulos ... 18

Figura 2 – Trabalho na Antiguidade ... 23

Figura 3 – Primeiras Greves 1917-1920 ... 37

Figura 4 – Representações da Violência Escolar ... 45

Figura 5 – Mapa das Regiões Administrativas do Distrito Federal ... 49

Figura 6 - Gráfico Comparativo das Palavras = Trabalho por Categoria Temática ... 129

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LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Categorias de Significados ... 31

Quadro 2 – Linha do Tempo da Psicodinâmica do Trabalho ... 86

Quadro 3 – Variáveis e perguntas do trabalho e de contexto... 102

Quadro 4 – Categorias Temáticas Iniciais... 108

Quadro 5 – Categoria Final A – Idealização com o Mundo do Trabalho ... 109

Quadro 6 – Categoria Final B - Consolidação e Construção da Identidade com o mundo do trabalho ... 110 Quadro 7 - Categoria Final C - Reconhecimento pelo mundo do trabalho ... 111

Quadro 8 - Categoria Final D - Prazer-sofrimento em relação ao trabalho ou ao mundo do trabalho ... 112 Quadro 9 - Categoria Final E - Desfiliação em relação ao mundo do trabalho ... 112

Quadro 10 – Violência Ativa entre jovens – Outros Motivos... 135

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LISTA DE TABELAS

Tabela 1 – Índice de Desenvolvimento Humano - IDH- DF ... 50

Tabela 2 – Censo Escolar do Distrito Federal 2001 ... 77

Tabela 3 – Comparativo de Atendimento Escolar no DF por segmento ... 78

Tabela 4 – Taxas de Rendimento e de Fluxo Escolar do DF – 2000 ... 79

Tabela 5 – Características da População da Pesquisa ... 104

Tabela 6 – Categoria Idealização com o mundo do trabalho ... 115

Tabela 6.1 – Palavras relevantes para idealização ... 115

Tabela 7 –Idealização Satisfação e Expectativas ... 118

Tabela 8 – Categoria Consolidação e Construção da identidade com o mundo do trabalho ... 119 Tabela 8.1 – Palavras relevantes para a idealização do mundo do trabalho ... 119

Tabela 8.2 – Significados Identidade e Saúde ... 121

Tabela 9 - Reconhecimento pelo mundo do trabalho ... 122

Tabela 9.1 – Palavras relevantes para o reconhecimento pelo mundo do trabalho ... 122

Tabela 9.2 – Renda do Individual do Jovem (SM = R$ 350,00 ) ... 123

Tabela 10 – Prazer-sofrimento em relação ao trabalho ou ao mundo do trabalho ... 124

Tabela 10.1 – Palavras relevantes para o prazer-sofrimento pelo mundo do trabalho... 124

Tabela 11 - Desfiliação em relação ao mundo do trabalho... 125

Tabela 11.1 – Desemprego Familiar e Trabalho Próprio ... 125

Tabela 11.2 – Desfiliação e Violência... 125

Tabela 12 – Palavras relevantes = trabalho (freqüência ≥ 1%)... 127

Tabela 13 – Avaliação da qualidade da escola... 132

Tabela 14 – Importância, Satisfação e Apoio em Ambientes Escolares... 132

Tabela 15 – Violência em ambientes escolares... 133

Tabela 16 – Violência Ativa entre jovens... 135

Tabela 17 – Violência Policial... 136

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 16

Justificativa ... 20

Objetivo Geral ... 22

Objetivos Específicos ... 22

Capítulo I - Trabalho e Sociedade: significando o Trabalho ... 23

1.1 Significado ou Sentido do Trabalho? ... 24

1.2 Trabalho: Política e Cidadania ... 28

1.3 Breviário de Valores e Padrões de Significados ... 29

1.4 Perspectivas históricas ... 33

1.5 Trabalho no Brasil ... 36

1.6 O Papel do Trabalho nas sociedades capitalistas contemporâneas ... 40

1.7 A formação do significado do Trabalho para o sujeito ... 43

Capítulo II – Trabalho, Educação-Escola e Violência ... 45

2.1 Gênese das Cidades Satélites ... 46

2.1.1 Aspectos históricos e sociais da fundação de Brasília ... 47

2.1.2 Qualidade de Vida no Distrito Federal – IDH ... 49

2.1.3 Breve histórico de Brazlândia... 51

2.1.4 Breve histórico de Paranoá ... 52

2.1.5 Breve histórico de Planaltina ... 53

2.1.6 Breve histórico de Samambaia ... 54

2.2 Juventude Candanga e Violência ... 56

2.2.1 Adolescência e Juventude em foco ... 57

2.2.2 Juventude e Transformações ... 62

2.2.4 Um pouco da cultura da violência contemporânea no Brasil ... 63

2.2.7 Relações entre Violência e Escola ... 68

2.3 Educação-Escola e Trabalho ... 72

2.3.1 Juventude e os desafios do mundo do Trabalho ... 73

2.3.2 Aspectos Legais da Educação e do Trabalho ... 75

2.3.3 Educação-Escola na rede pública do Distrito Federal ... 77

Capítulo III – Trabalho e Juventude: Reflexões e Contribuições da Psicodinâmica do Trabalho ... 84

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3.1.1 Revolução do Trabalho e da Saúde Mental ... 88

3.1.2 A Metodologia da Investigação em Psicodinâmica do Trabalho ... 90

3.2 Juventude, violência e trabalho: contribuições da psicodinâmica do trabalho ... 91

3.2.1 Trabalho e Saúde: prazer-sofrimento-prazer ... 91

3.2.2 Relação psicodinâmica entre trabalho e a violência juvenil ... 93

3.2.3 Desfiliação do Trabalho... 96

3.2.4 Desemprego e Violência Juvenil ... 97

3.2.5 Violência e Escola: a nova arena ... 98

Capítulo IV - Método de Pesquisa ... 102

4.1 Instrumento de Pesquisa ... 104

4.2 Ética da Pesquisa com seres humanos ... 105

4.3 Coleta dos Dados ... 105

4.4 População e Amostra ... 105

4.4.1 Perfil do participante do Distrito Federal ... 106

4.5 Tratamento dos Dados ... 107

4.5.1 Análise quantitativa ... 107

4.5.2 Análise de conteúdo dos significados das palavras ... 107

4.5.2.2 Classificação do Conteúdo nas Categorias de Significados ... 115

4.5.2.3 Análise e Interpretação dos Conteúdos ... 115

Capítulo V - Resultados e Discussão ... 117

5.1 O trabalho em palavras significa... ... 117

5.1.1 As palavras relevantes para significação subjetiva do trabalho ... 129

5.2 Cenário das relações psicodinâmicas com o mundo trabalho nas cidades satélites do Distrito Federal ... 132

5.2.1 O estudante secundário do ensino público das cidades satélites do DF. ... 132

5.2.2 Educação-Escola ... 134

5.2.3 Comportamento de risco e violência... 138

Capítulo VI - Considerações Finais ... 142

Referências ... 145

Anexo I – Questionário ... 156

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INTRODUÇÃO

Os significados ou sentidos do trabalho que adolescentes e jovens desenvolvem, em meio às relações complexas, muitas vezes violentas, em seus diversos cenários – familiar, escolar, grupos de convivência, outros – funcionam como um termômetro das expectativas e da esperança de uma vida adulta e saudável dessa juventude. Em alguns casos, podem representar a inserção e o reconhecimento social. Por outro lado, podem representar o desprezo, a dor e o sofrimento pela desesperança do desemprego ou do trabalho precário frente à reestruturação produtiva contemporânea. O que dizer desse quadro, quando direitos básicos – saúde e escola – são negados, colocando os adolescentes e jovens em situação de risco, vulnerabilizando a realização do sonho de um futuro? E quais significados o trabalho imprime na identidade de jovens estudantes, em situação vulnerável?

Para buscarmos respostas a esta situação problema, propomos nesta dissertação de mestrado uma investigação das palavras que exprimem o significado de trabalho. Para tanto, utilizou-se a base de dados gerada nas entrevistas dos participantes do Distrito Federal, da pesquisa “Juventude Brasileira e Latino americana: Fatores de Proteção e Risco” (LIBÓRIO; KOLLER et al., 2009), que ainda não haviam sido objeto de estudo. Identificar quais palavras expressam significados psicossociais, para esses jovens, busca revelar a percepção do corolário do trabalho desses estudantes, em meio a outros aspectos levantados como fatores de risco e proteção de jovens brasileiros.

O tema dos significados psicossociais é pouco investigado no Brasil, principalmente neste caso, porque considera a concepção e a expressão de adolescentes e de jovens estudantes. A amostra foi composta pelos estudantes do ensino médio das cidades satélites do Distrito Federal, Brazlândia, Paranoá, Samambia e Planatina, num ensaio metodológico para análise e estudo desses significados e futuramente pode ser utilizado para estudos comparativos.

Em contextos de vulnerabilidade sócio-econômicas, representado pelos baixos indices de desenvolvimento humano - IDH, o trabalho assume vários significados, como fator de proteção às situações de risco (LIBÓRIO; KOLLER et al., 2009) e mediando e promovendo saúde mental (DEJOURS; 1980, 1992, 1997, 2005, 1999, 2004, 2007a) entre os trabalhadores e seus filhos.

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desestruturado e precário (ANTUNES; 1999, 2005, 2006, LANCMAN; SZNELWAR; 2004, 2008). Esses jovens convivem com o fenômeno da violência, seja ativa ou passiva, que pode se configurar como uma estratégia de defesa (DEJOURS; 2007a, 2007b; VALLETE, 2003) contra o sofrimento pela desfiliação provocada pela frustração da idealização, do ingresso e reconhecimento promovido pelo trabalho.

A Teoria da Psicodinâmica do trabalho propõe a percepção do trabalho como mediador da subjetividade experimentada nas relações psicodinâmicas de sofrimento-prazer intersubjetivas frente à organização do trabalho. Para a Teoria da Psicodinâmica o trabalhar revela ao sujeito sua humanidade, que propõe para o significado do trabalho, uma possibilidade de reconhecimento e inserção social, um elemento essencial para formação da subjetividade humana (DEJOURS; 1999, 2004, 2007a, 2007b). Quando isto não ocorre, para se defender do sofrimento causado pela dor do mundo do não trabalho são desenvolvidas estratégias de defesa da saúde mental desses sujeitos em formação, por meio de atos violentos.

Birman (2008) sublinha que na América Latina existem cerca de cinquenta milhões de jovens fora do mercado de trabalho, esta situação estaria na base das dificuldades crescentes deste segmento da população que é atingida por este mal-estar revelado pela violência criminosa ou não da contemporaneidade.

Assim a violência passa a ser entendida com uma estratégia de defesa contra o sofrimento relacionado à ausência da inserção da juventude no mundo do trabalho, como um signo ostensivo de sua inscrição precária no mundo social (DEJOURS, 2007a; BIRMAN, 2008). Outro fator importante de formação de significado do trabalho, na Teoria da Psicodinâmica, é representada pela relações estabelecidas pelos pais/cuidadores com o mundo real do trabalho (MERLO, 2002).

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Figura 1 – Mapa dos Capítulos

Trabalho e a Sociedade: significando o trabalho (Capítulo I) Neste capítulo tratamos dos significados do trabalho, numa perspectiva histórico-social e discutimos o papel que o trabalho assumiu na sociedade capitalista contemporânea. Além disso, resgatamos o discurso oficial sobre o significado do trabalho junto ao governo brasileiro. O corolário dos significados do trabalho se transformou no decorrer da história da humanidade, podendo significar a dor lacerante do castigo (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006) até o prazer recompensador (DE BOTTON, 2009). Neste capítulo abordamos alguns autores e suas discussões sobre significados ou sentido do trabalho, a partir da filosofia e da Teoria da Comunicação (SAUSSURE; 1916/2006, JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006); o Trabalho: Política e Cidadania abordamos a condição humana e suas atividades básicas – labor, trabalho e ação que na Teoria Política Arendtiana é condição necessária para o cidadão pleno e detentor de poder. Quando este poder político do cidadão se esvai e não é reconhecido, a violência entra em cena e tensiona as relações e a construção da subjetividade (ARENDT; 1958, 1969, 2009); no Breviário de Valores e Padrões de significados relacionamos pesquisas que abordam os significados do trabalho sob as óticas da Psicologia Organizacional e da Administração Contemporânea (SILVA; VILELA, 2004; CODA; FONSECA, 2004; MORIN et al, 2007; BORGES, 2007); nas Marcas do sujeito para a formação do significado do Trabalho abordamos o sujeito, a afetividade e o sofrimento na construção da subjetividade

V Resultados e

Discussão

IV Método de Pesquisa

III Reflexões e contribuições da Psicodinâmica do

II Trabalho,

Educação-Escola e Violência I

Trabalho e Sociedade: significando o trabalho

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relacionada ao trabalho, presentes nas discussões sobre o significado do trabalho na era da reestruturação produtiva, com especial atenção para a Teoria da Psicodinâmica do Trabalho (DEJOURS, 1980/1992; 1987; 1993/2009, 1997/2005; 1999; 1999/2006; 2004, 2007a, 2007b, 2008; 2010; LANCMAN; SZNELWAR, 2004, 2008; MOLINIER, 2008) que auxiliam a elucidar e a analisar os resultados dessa investigação científica.

Trabalho, Educação-Escola e Violência (Capítulo II) - Este capítulo tem o objetivo de promover o resgate da gênese das cidades satélites, contamos um pouco da história das cidades que compõem a amostra deste projeto de pesquisa, demonstramos as relações entre o trabalho e educação-escola por meio dos marcos fundamentais da educação no Brasil (LDB e PNE), aprofundamos um pouco mais sobre a literatura de violência, demonstramos as sutilezas das relações difusas do trabalho e das relações e atitudes violentas entre os atores do teatro educação-escola da rede pública do DF.

Estas propostas de reflexão passam pelo reconhecimento da reprodução e da violência simbólica engendrada no binômio educação-escola; e pelo deslocamento da ótica do tema violência da esfera da segurança pública, para a esfera da saúde coletiva e do desenvolvimento social.

Trabalho e Juventude: reflexões e contribuições da Psicodinâmica do Trabalho (Capítulo III) - Neste capítulo esclarecemos o conceito de Psicodinâmica do Trabalho, sua origem e fazemos uma revisão de sua teoria buscando esclarecer como são tratadas as relações do trabalho e a saúde mental do sujeito trabalhador. As reflexões e contribuições estão relacionadas ao tratamento da violência como estratégia de defesa da saúde mental do jovem, bem como os construtos subjetivos de idealização, de identidade, pertencimento, reconhecimento e todos aqueles que o prescrito do trabalho se materializa confrontado no mundo real do trabalho.

Estudos sobre psicodinâmica do trabalho não são tão novos no Brasil, a novidade, como referencial teórico, é a tentativa de compreender como a juventude percebe e significa o trabalho, em meio às relações violentas experimentadas em suas famílias, escola e grupos sociais. Além disso, a desfiliação provocada pela empregabilidade precária e a situação econômica dos pais/cuidadores pode influenciar a percepção do significado do trabalho para esses jovens, frustrando a inserção social destes e a perspectiva de algum futuro.

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análise quantitativos e qualitativos.

Resultados e Discussão (Capítulo V) – Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados dos conteúdos subjetivo-psicodinâmicos que as palavras evocadas pelos respondentes ocultam e quais são as mais relevantes para o grupo. O cenário das relações psicodinâmicas com o mundo do trabalho nas cidades satélites do Distrito Federal apresenta os atores e a avaliação desta intrincada arena social: o estudante secundário, a avaliação do binômio educação-escola e o comportamento de risco e violência entre os jovens participantes desta investigação.

Considerações Finais (Capítulo VI)Neste capítulo revisamos os objetivos propostos, ressaltamos algumas das reflexões e as contribuições da Teoria Psicodinâmica do Trabalho para o processo de significação do trabalho pelos jovens do Distrito Federal, bem como as influências destas constatações para os processos de ensino-aprendizagem e das políticas nas áreas de educação, saúde, trabalho e segurança pública.

Convidamos o leitor(a) a se aventurar descobrir conjuntamente o caminho percorrido entre a inquietação da idéia, do problema de pesquisa, dos argumentos que justificam e o embasam, num exercício planificado de objetivos de pesquisa, e do método mais adequado para análise e sua explicação, ou seja, a compreensão do fenômeno social, que se objeta enquanto sujeito desta investigação científica?

JUSTIFICATIVA

Esta dissertação é complementar à pesquisa sobre a juventude brasileira (LIBÓRIO; KOLLER et al., 2009) e pretende abordar o significado do trabalho para os jovens, notadamente nas cidades satélites do Distrito Federal, ainda não analisados. As palavras que significam trabalho para esses jovens, precisam ser melhor exploradas, tanto do ponto de vista social, quanto do ponto de vista dos sujeitos que percebem e expressam os significados para o trabalho nas suas vidas. Ainda, como esses conceitos e significados do trabalho delimitam e projetam as relações presentes e futuras desses jovens com o mundo do trabalho, da educação-escola e da sáude fisica e mental.

Abramo (1997) em suas considerações sobre a tematização da juventude no Brasil, ressalta que:

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presentes nas vidas dos jovens, poucas delas [pesquisas] enfocando o modo como os própios jovens vivem e elaboram essas questões (ABRAMO, 1997, grifo nosso).

Esta dissertação é uma tentativa de olhar o jovem por si, por sua fala, por sua expressão, sujeito e participante da vida contemporânea.

Apesar de ser uma pesquisa em âmbito nacional, o foco no Distrito Federal procura demonstrar uma juventude exposta ao contraste, por vezes obscuro, entre as condições sociais e culturais de Brasília e das cidades satélites. Tendo em vista as pesquisas e as observações sobre os temas envolvendo juventude, violência, resiliência, fatores de risco e outros, que têm sido desenvolvidas nos últimos anos e demonstram a força dessas temáticas (BURSZTYN, 2001; ABRAMOVAY et al., 2002; AMPARO, et al., 2005; BRASIL, et al., 2006; BRASIL, et al., 2007; LIBÓRIO; KOLLER et al., 2009) no âmbito do DF, bem como no cenário nacional, sem contudo se aprofundar sobre os significados que o trabalho assume para esse contingente, notadamente no que tange ao significado de inserção social e possibilidade de futuro pelo trabalho. Portanto, esta dissertação pretende circuscrever o significado do trabalho no contexto particular da juventude candanga1.

Para o Distrito Federal pode auxiliar no enfrentamento das situações de violência vivenciadas nas escolas, contribuindo com um outro olhar, o de saúde mental coletiva relacionada ao trabalho. Discutir a problemática da juventude candanga e brasileira pode representar uma re-articulação das coisas, processos e políticas, a partir do sujeito, adolescente e jovem, em situação de vulnerabilidade econômico biopsicossocial, que para seu desenvolvimento necessita de saúde, educação-escola, trabalho, mas acima de tudo de dignidade e respeito.

Abramo (1997) chama atenção sobre a tematização social da juventude no Brasil, que diferente da tradição de outros países, tiveram por muito tempo como alvo a educação formal. Desenvolver e sistematizar pesquisas sobre a juventude, com viés transdiciplinar, busca além do diagnóstico. Procura propor soluções para os entraves ideológicos e práticos que envolvem os processos de ensino-aprendizagem e da dinâmica curricular, praticados na atualidade e relacionados a uma parcela tão significativa e vulnerável da população.

Esta investigação guarda aspectos políticos-pedagógicos, que podem auxiliar na proposta de políticas públicas, da dinâmica curricular e das técnicas de ensino-aprendizagem

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articuladas pelo tema juventude, seja sob as óticas da saúde física, mental e coletiva, da educação-escola, da cultura, do trabalho e emprego no contexto maior do projeto de desenvolvimento da sociedade brasileira e do Distrito Federal, a partir das contribuições e reflexões da Psicodinâmica do Trabalho (DEJOURS; 1980,1987,1992,1993,1997,1999, 2004, 2005, 2006, 2007a, 2007b, 2008, 2009,2010; LANCMAN, SZNELWAR, 2004, 2008; MOLINIER, 2008).

Do ponto de vista geográfico-populacional, argumentamos que as relações entre trabalho, educação-escola e violência, na população adolescente e jovem do Distrito Federal ganham importância na medida em que o espaço urbano, planejado e idealizado por seus fundadores, não foi capaz de promover o acesso às garantias constitucionais e legais (BRASIL - ECA, 1990) aos jovens e adolescentes que aqui residem. A representatividade desse segmento populacional e as conseqüências no futuro, que projetam a problemática da juventude brasileira e do Distrito Federal dão à tônica e a relevância essenciais ao tema proposto nesta dissertação de pesquisa. Os temas juvenis assumem vital importância para o Distrito Federal.

Por fim, o sentimento que nos toma é que o tema encontrou o pesquisador. O empenho nesta pesquisa busca desvelar os significados mais profundos e verdadeiros de sujeitos em formação e, se o norte estiver claro, certamente tanto o caminho, quanto o local de chegada ficarão mais evidentes. Buscar outras formas de compreender o trabalho e suas relações com a educação-escola, tensionados por violências, é procurar alternativas de enfrentar essa situação que ameaça o futuro desses jovens e sua inserção na sociedade, é ainda, buscar políticas públicas e práxis que sejam alternativas a situação aqui diagnosticada.

OBJETIVO GERAL

O objetivo geral desta pesquisa é identificar os significados do trabalho em meio à situação vulnerabilidade sócio-econômico de adolescentes e jovens estudantes da rede pública de ensino de cidades satélites do Distrito Federal.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

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Discutir e relacionar o significado do trabalho frente à situação sócio-econômica familiar;

Abordar a relação entre significado,desfiliação e a violência em jovens; Capítulo I - Trabalho e Sociedade: significando o Trabalho

Figura 2 – Trabalho na antiguidade Fonte: Albornoz (2009)

O corolário dos significados do trabalho se transformou no decorrer da história da humanidade, podendo significar a dor lacerante do castigo (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006) até o prazer recompensador (DE BOTTON, 2009). Esse emaranhado, de questões e dúvidas, delimita parte da problemática desta dissertação de pesquisa discutida neste capítulo. Resgatamos alguns autores e suas discussões sobre Significados ou Sentido do Trabalho, partindo da Filosofia e da Teoria da Comunicação (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006) apresentamos uma palavra Trabalho e suas multivariadas referências subjetivas (FREUD, 1930/1996) e objetivas; em Trabalho: Política e Cidadania, abordamos a condição humana e suas atividades básicas – labor, trabalho e ação, que na Teoria Política Arendtiana é condição necessária para o cidadão pleno e detentor de poder. Quando este poder político do cidadão se esvai e não é reconhecido, a violência entra em cena e tensiona as relações e a construção da subjetividade (ARENDT, 1958/2009; 1969/2009); em Breviário de Valores e Padrões de significados relacionamos pesquisas que abordam os significados do trabalho sob as óticas da Psicologia Organizacional e da Administração Contemporânea (SILVA; VILELA, 2004; CODA; FONSECA, 2004; MORIN et al, 2007; BORGES, 2007).

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Trabalho no Brasil sintetizamos o percurso do trabalho servil ao trabalho livre e organizado, a partir da Revolução Industrial tardia em solo nacional, o trabalhismo à brasileira e a interpretação do trabalho para os intelectuais brasileiros, além disso, resgata o discurso oficial sobre o significado do trabalho junto ao governo brasileiro. O papel do trabalho nas sociedades capitalistas contemporâneas discute o papel que o trabalho assume na sociedade capitalista contemporânea e na Formação do significado do trabalho para o sujeito abordamos o sujeito, a afetividade e as relações sofrimento-prazer na construção da subjetividade relacionada ao trabalho, presentes nas discussões sobre o significado do trabalho na era da reestruturação produtiva, com especial atenção para a Teoria da Psicodinâmica do Trabalho (DEJOURS, 1980/1992; 1987; 1993/2009, 1997/2005; 1999; 1999/2006; 2004, 2007a, 2007b, 2008; 2010; LANCMAN; SZNELWAR, 2004/2008; MOLINIER, 2008) que auxiliam a elucidar e a analisar os resultados desta investigação científica.

1.1 SIGNIFICADO OU SENTIDO DO TRABALHO?

Uma melhor compreensão do Trabalho, na sociedade contemporânea, se inicia com uma discussão sobre as origens do próprio significado ou sentido das palavras. A discussão aqui proposta aborda três perspectivas sobre o significado de palavras. A primeira perspectiva apóia-se na Filosofia da Linguagem (SAUSSURE, 1916/2007), a segunda na Psicanálise (FREUD, 1930/1996; BRASIL, 2005a) e a terceira sobre o ponto de vista sócio-histórico da Condição Humana (ARENDT, 1958/2009), da obra Arendtiana que influencia o pensamento ocidental e a obra da Escola Psicodinâmica do Trabalho.

Parte da discussão sobre os significados do trabalho esbarra na confusão entre as palavras significado e sentido. Por significado, encontramos a origem da palavra no latim

significare e no campo da Filosofia da Linguagem, a Teoria do Significado examina os vários aspectos de nossa compreensão das palavras e expressões linguísticas (Semiologia) e dos signos em geral (Semiótica). Segundo Nöth (2010) a Teoria dos Signos ora chamada de Semiologia por autores como Saussure e Barthes, ora de Semiótica por autores como Pierce e Morris, remonta às tradições, contextos históricos-sociais vividos e aproximações teóricas, algumas em desuso que, a partir de 1969, a Associação Interncional de Estudos Semióticos decidiu adotar o conceito de Semiótica para definir o campo de estudos dos signos em geral. Qual a relação entre a semiótica com as palavras que significam trabalho?

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referência, que representa a relação entre o signo linguístico e o real, o objeto designado pelo signo. Outro aspecto importante é o sentido, uma distinção proposta por Frege, modo pelo qual a referência é feita”(JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006, p. 252).

Para o Estruturalismo Linguístico (SAUSSURE, 1916/2007) há uma distinção a ser considerada entre o significado (conceito) e o significante (a imagem acústica) que são indissolúveis e formam o signo linguístico (a palavra). O processo relacional que une significante + significado = signo é o processo de significação. Quando o adolescente e o jovem expressam palavras que significam trabalho ou o seu oposto, estamos defronte de um processo de significação objetivo e subjetivo. De objetivo temos as palavras (signos) relacionadas às várias referências (significantes), algumas impostas sócio-historicamente, outras vivenciadas num processo de significação, que remetem a sentidos subjetivos que transcendem as próprias palavras (signos).

Por outro lado, o sentido originado do latim sensus, designa os órgãos receptores que nos trazem as sensações de objetos externos, também pode ser entendido como a capacidade intuitiva de julgar no – sentido moral – ou, como sinônimo de significação. Retomando Frege citado por Japiassú e Marcondes (2006) é necessário lembrar que há uma distinção entre o sentido (Sinn) de uma palavra ou expressão, de sua referência (Bedetung), dito de outra forma uma mesma referência pode ter mais de uma expressão lingüística (palavras). Além disso, o sentido nos remete a ação verbal de sentir, quando o que nos afeta já aconteceu (passado) e a partir deste “algo” que nos toca, adquire-se nova direção, atribui-se um valor subjetivo à experiência vivida.

Esta pesquisa retrata o trabalho numa multiplicidade de significados e de sentidos, pois linguisticamente o significado da palavra trabalho (referência) traz consigo muitos sentidos – históricos, sociais, subjetivos e outros – que a investigação levantou.

Nesse ponto a palavra trabalho deixa de ser observada algo objetivo, fruto de convenções sociolingüísticas para adquirir um sentido subjetivo. Para uma melhor compreensão da palavra e da comunicação na constituição do sujeito, buscou-se na Psicanálise interpretações possíveis a cerca do símbolo e do signo.

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Ainda, para a autora a palavra como “signo simbólico é condição para se ter acesso aos signos dos outras e da cultura” (BRASIL, 2005a, p. 02). O estabelecimento da comunicação e da compreensão se faz por meio da palavra e da linguagem que uma sociedade se utiliza, compreender essa linguagem simbólica é a tentativa de compreender a cultura e seu povo, num dado momento de sua história.

No caminho da compreensão do símbolo, para a psicanálise, tem-se este como marca da produção imaginária, ancorada no próprio corpo. Brasil afirma que os símbolos pessoais “como se revela na histeria necessitam da linguagem ordinária para fazer emergir seus significados. Nesse contexto, é possível falar de sintoma simbólico” (BRASIL, 2005a, p. 02).

Para Brasil a Psicanálise introduz de maneira eficaz a questão semiológica na clínica, visto que a linguagem é um pólo semiótico diferenciado e está sempre posta em relação ao corpo pulsional. Nesse contexto emerge o termo freudiano do símbolo, que não é somente convencionado, mas principalmente motivado (BRASIL, 2005a, p. 03).

Da palavra à linguagem (simbólica) é que se desvenda o universo do sujeito na clínica psicanalítica. É pela qualificação da fala do sujeito, como evento da cotidianidade e expressão do desejo e do sentido que a Psicanálise se diferencia da abordagem clássica da Psiquiatria (BRASIL, 2005a, p.03). A autora apresenta o símbolo freudiano, vida de regra, como signo de outra coisa e aponta três características desta “resignificação simbólica”: (1) o símbolo mnêmico ligado a uma recordação insuportável, (2) o símbolo do sonho ligado a realização do desejo e (3) o símbolo como formação de angústia, ele se torna um sucedâneo defensivo resolutivo do conflito (BRASIL, 2005a, p. 03).

A maneira como BRASIL (2005a) aborda as distinções entre significado, sentido, símbolo e signo, a partir da Psicanálise Freudiana dá uma dimensão da complexidade dos significados (objetivos) e dos sentidos (subjetivos) que as palavras relacionadas ao trabalho prometem revelar. Estes autores ressaltam na interpretação freudiana as características que podem impregnar os significados da palavras expressas como trabalho nesta pesquisa. Estamos diante de conteúdos ligados às “ recordações insuportáveis” , em alguns casos, às “realizações de sonhos e desejos”, em outros casos, ainda podemos nos deparar com a “formação da angústia e do sofrimento” para muitos adolescentes e jovens quando deparados com o mundo do trabalho, o que levará esses sujeitos a construírem novos sentidos para o trabalho.

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indivíduo tão firmemente à realidade quanto à ênfase dada ao trabalho, visto a capacidade do trabalho fornecer um local seguro em parte da realidade e da comunidade humana”.

Parte deste sentido subjetivo é construído pela transferência de componentes libidinais para o trabalho, num exercício dual de prazer-sofrimento, e para as relações humanas a ele vinculadas fornecendo valor indispensável à preservação e à justificação do sujeito em sociedade. A atividade profissional constitui fonte especial de satisfação, notadamente se for de livre escolha do sujeito, pois possibilita “por meio da sublimação tornar possível o uso de inclinações existentes, de impulsos instintivos persistentes ou constitucionalmente reforçados” (FREUD, 1930/1996, p. 88) nos ambientes e nas situações de trabalho.

É interessante a observação feita por Freud, em 1930 no texto ‘Mal-Estar da Civilização’, chamando à atenção para o fato de que naquela época, no caminho para a felicidade humana, o trabalho é desprezado, pois em sua opinião os indivíduos não se esforçavam em suas relações laborais, como faziam com relação às outras fontes de prazer.

Essa opinião sobre o trabalho como fonte de prazer pode ser considerada um marco que será retomado por Dejours nos estudos psicopatológicos e psicodinâmicos posteriores (DEJOURS, 1980/1992; 1987; 1993/2009, 1997/2005; 1999; 1999/2006; 2004, 2007a, 2007b, 2008; 2010; LANCMAN; SZNELWAR, 2004/2008; MOLINIER, 2008), demonstrando a evolução do significado e dos sentidos do trabalho na sociedade pós-industrial contemporânea, seja do ponto de vista subjetivo, seja do ponto de vista objetivo e coletivo.

Nesse ponto pode-se perguntar o(a) leitor(a): Qual a importância do significado e do sentido do trabalho para a formação do profissional de educação e de saúde? Inicialmente, podemos relacionar a temática significado e sentido, à capacidade de comunicação que esses profissionais buscam desenvolver nos seus processos de formação. Essa capacidade permeia todos os processos relacionais entre os diversos atores que compõem, tanto o universo escolar, quanto o universo clínico.

A capacidade de falar, ouvir, sentir e afetar, a si e ao outro, estabelece possibilidades de induzir, explicar, sentir e se posicionar num mundo real e complexo, em constante movimento. Isto tem exigido dos profissionais a habilidade de se adaptar às situações que a escola não tem a capacidade de prever e fornecer outras ferramentas, que não sejam o desenvolvimento da reflexão e da crítica, das habilidades de se comunicar e compreender como o outro significa e sente o mundo (real e imaginário) ao seu redor, notadamente com o mundo do trabalho.

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espaço público de discussão-reflexão e preparação de futuros profissionais, porém, antes de tudo de sujeitos e cidadãos.

No próximo tópico retratamos a fusão do labor ao trabalho, a partir da revolução industrial sob a ótica do pensamento político de Hannah Arendt, que influencia o pensamento ocidental sobre trabalho e significados.

1.2 TRABALHO: POLÍTICA E CIDADANIA

O significado do trabalho pode ser relacionado ao exercício pleno da política e da cidadania entre os sujeitos de uma sociedade. Num determinado ponto da História da sociedade ocidental, em meio a Revolução Industrial, o labor e o trabalho se fundem e passam a expressar trabalho.

Em “A Condição Humana” (ARENDT, 1958/2009) o sujeito é percebido por meio da

vita activa, representada por três atividades fundantes: labor, trabalho e ação. Segundo Arendt:

O labor corresponde ao processo biológico, à sobrevivência do sujeito, o singular – em suma a própria vida. O trabalho, por sua vez, corresponde ao artificial das coisas, à criação da existência humana não contida, necessariamente, no ciclo vital da espécie, ele é capaz de produzir um mundo artificial, diferente do mundo natural. O mundo do trabalho (artificial) tem a pretensão de sobreviver à existência do humano individualmente, sua condição é a mundanidade. Por fim, a ação é a única atividade que é exercida entre os homens, sem mediação de coisas ou da matéria, corresponde a condição humana da pluralidade(1958/2009, p. 15).

A autora ressalta que, todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política, mas a pluralidade é especificamente a condição – não apenas a conditio sine qua non, mas a conditio per quam – de toda vida política (cidadã). Ainda, propõe uma analogia entre a condição humana, política essencialmente, ao relacionar as expressões latinas: viver = estar entre homens (inter homines esse) ou morrer = deixar de estar entre os homens (inter homines esse desinere).

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trabalho). A percepção da autora chama-nos à atenção, para o aspecto primordial da vida em sociedade – a cidadania, pelo exercício político que se concretiza na mundanidade do trabalho.

Aqui se coloca um aspecto essencial do trabalho, como atividade inerente à condição humana, a capacidade de transformar o homo laborans (vivente) que sobrevive, em homo faber (o artífice) criador do mundo que o circunda e que o transcenderá.

Como dito anteriormente, a revolução industrial descaracterizou as diferenças etimológicas do significado das palavras labor e trabalho, bem como suas significativas diferenças na condição humana. O trabalho sobreviveu, bem como abarcou as sinonímias dessas palavras sem, contudo, atentar para o enunciado arendtiano inquisidor e reflexivo sobre o homem e o trabalho e a sociedade contemporânea.

O quadro, aqui desvelado, demonstra que os significados de trabalho e de labor se fundem com a condição humana do sujeito. O homem, na sua condição humana, labora, trabalha e age em busca de participação política (cidadania), de poder e de reconhecimento que o trabalho proporciona. Quando o poder, decorrente do exercício político, fenece ou deixa de ser reconhecido, a violência se expressa na suas variadas formas (ARENDT, 1969/2009).

Apesar do tempo decorrido entre as constatações da “Condição Humana” e de “Sobre as Violências” trazidas pelas investigações e observações de Arendt (1958/2009; 1969/2009), suas reflexões e críticas são atuais e dão pistas importantes sobre a importância e os significados múltiplos do trabalho e como a violência se insere neste contexto de relações políticas que esta dissertação aborda. No próximo tópico, trazemos algumas pesquisas sobre os significados do trabalho sob a ótica da psicologia do trabalho e da administração da empresas.

1.3 BREVIÁRIO DE VALORES E PADRÕES DE SIGNIFICADOS

Alguns estudos abordam os significados do trabalho, seja na ótica da psicologia do trabalho em Silva e Vilela (2004), Coda e Fonseca (2004), Ribeiro e Leda (2004) e Morin et al (2007), seja sob a ótica da administração de empresas em Borges (2007). Significado do trabalho sob a ótica da medicina do trabalho, mais especificamente, sob ótica da Psicodinâmica do Trabalho tem as investigações da escola francesa com Dejours (1997/2009; 2004) e Molinier (2007).

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(2004) uma revisão bibliográfica, com intuito de identificar a importância do significado do trabalho, sua divisão e sua aplicabilidade real dentro de uma estrutura organizacional, bem como essa importância é utilizada na área de recursos humanos. Para os autores, o significado do trabalho se relaciona com as funções que determinam a vida dos sujeitos. Relatam os autores o conceito plurivariado, decorrente das obras de Albornoz (1994), de Brief e do Meaning of Working International Research Team – MOW (1987) nos quais a variedade de significado se relaciona a produção de alguma coisa. Nessa produção de coisas, o sujeito desenvolve os aspectos físico, mental e social que auxiliam e marcam a construção de sua subjetividade. Ainda os autores encontraram o caráter sócio-histórico e de representação social na obra de Borges (2007). Constatam os autores, que o trabalho assume valores individuais, quando do ato em si; finalizando suas considerações ao afirmar que os significados dependem do tipo de compreensão, necessidades, interesses, valores pessoais, políticos e sociais de cada individuo.

No estudo realizado por Crespo (1998), os autores relatam uma análise lexicográfica das respostas, a partir de duas perguntas abertas, nas quais se buscou a freqüência das palavras: (a) O que é mais importante para você a respeito do trabalho em geral? As respostas mais freqüentes foram - dinheiro, trabalho e gosto [prazer]; (b) O que você encontra de mais negativo no trabalho? As respostas mais freqüentes foram – tempo, horas e pouco. Por se tratar de uma investigação com vários níveis educacionais, num segundo momento, a pesquisa segmentou as respostas buscando um indicador social, no uso do vocabulário dos respondentes (SILVA; VILELA, 2004). Na segunda parte desta investigação, Crespo (1998) identifica estruturas discursivas dos grupos, a partir das contradições sobre a necessidade de trabalhar; encontrando as antinomias gosto versus sofrimento e liberdade versus submissão. O autor indica um discurso coercitivo, no qual o trabalho aparece como uma imposição, “um remédio” para sobreviver, não viver. Aqui, encontramos similitudes com o labor presente na discussão da vida ativa e da condição humana descrita por Arendt (1958/2009).

Silva e Vilela (2004) preconizam a guisa de conclusão, significado do trabalho relacionado aos diversos momentos do nosso cotidiano. Esses significados obedecem a normas sociais estabelecidas que possibilitem uma ética profissional. As análises dos significados expressos em discursos de diferentes extratos sociais denotam coerção e heterogeneidade para segmentos economicamente desfavorecidos, diferente da realização pessoal dos segmentos economicamente melhor posicionados, cuja explicação se vincula a situação socioeconômica dos sujeitos.

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trabalho, entre executivos, tem seus resultados relacionados aos desejos e necessidades do sujeito, transformando o trabalho num instrumento de realização pessoal. Os autores constataram que o trabalho quando realiza esses desejos e necessidades do sujeito, enche-se de significado para os sujeitos participantes da pesquisa, gerando um sentimento de satisfação e prazer. Esse estudo identificou 10 categorias de significados semelhantes aos estudos realizados pelo MOW (1987), como demonstra o quadro abaixo:

Meio de participar de algo, fazer parte

Independência, autonomia

Instrumento de transformação da sociedade, da organização Meio de construir algo, realizar uma obra

Ampliação de conhecimentos, desenvolvimento

Meio de ajudar, contribuir com as pessoas e com a sociedade, ser útil

Meio de testar as próprias habilidades, supera os próprios limites

Possibilidade de relacionar-se e estabelecer vínculos com as pessoas

Meio de expressão de conhecimentos e habilidades Segurança, manutenção pessoal e da família Quadro 1 - Categorias de Significados Fonte: Coda e Fonseca (2004)

Coda e Fonseca (2004) refletem que estudos dessa natureza, significado do trabalho, têm benefícios para os próprios participantes, pois induz os sujeitos ao auto-conhecimento e à reflexão sobre a atividade profissional, bem como para as empresas que buscam conhecer esses significados e promovem os ajustes necessários para harmonizar os objetivos organizacionais e as expectativas individuais dos sujeitos.

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sobrevivência (o labor arendtiano).

Para as autoras os resultados indicam ainda, que o trabalho para ter sentido são fundamentais os valores: (a) variedade na natureza das tarefas, (b) aprendizagem, (c) autonomia, (d) reconhecimento e (e) segurança. Sintetizam as autoras que o tema do significado do trabalho no Brasil merece ser mais pesquisado, em face das transformações no mundo organizacional nestes últimos vinte anos, seja em abordagens mais descritivas, seja em pesquisas com orientações mais críticas.

Essa mudança e reestruturação produtiva no mundo das organizações empresariais e os seus reflexos para os significados do trabalho são temas de investigação e reflexão das pesquisas de Ribeiro e Leda (2004) e de Borges (2007).

O “Significado do Trabalho em Tempos de Reestruturação Produtiva” investigado por Ribeiro e Leda (2004) tem por objetivo investigar qual o significado do trabalho na sociedade contemporânea. As psicólogas autoras da pesquisa resgatam os significados do trabalho desde os primórdios na sociedade ocidental até os dias atuais, caracterizado pelo desemprego, pela precarização e pela desvalorização do trabalho no seu papel de realização pessoal. A pesquisa identifica um esvaziamento do valor social e psicológico, devido à tendência de mercantilização do trabalho.

As autoras preconizam os aspectos positivos e negativos do trabalho, ressalvando que há o fenecimento do valor positivo do trabalho, sendo reduzido a um mero instrumento de acesso a bens materiais. Afirmam ainda, que há necessidade de mais pesquisas sobre a exposição do trabalhador às situações de precarização da mão de obra, frente ao risco de desumanização e de significação do trabalho para o sujeito.

Por outro lado, Borges (2007) pesquisa e relaciona o modelo de empresa integrada e flexível contemporânea e o significado do trabalho na sociedade atual. A autora analisa as experiências propiciadas aos agentes (sujeitos) pela vivência da empresa industrial, e discute se há, dentro da experiência da empresa flexível alterações importantes em elementos estruturantes do significado do trabalho. Essa análise se utiliza do conceito de trabalho de Hannah Arendt (1958/2009) como base da investigação do significado, a partir das relações instituídas pelas propostas do novo modelo organizacional.

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As pesquisas aqui descritas demonstram certa similaridade com os achados de MOW (1987) bem como, muitas vezes se relacionam com amostras de trabalhadores já inseridos no contexto do mundo do trabalho. Pode-se notar uma pluralidade de resultados sobre significados e sentidos para o trabalho nestas pesquisas. Ressaltamos que, as pesquisas de Coda e Fonseca (2004) e Morin et al. (2007) apontam a necessidade de mais pesquisas sobre a temática significado do trabalho, com a extensão da amostra para as questões de gênero, classe social e outros.

1.4 PERSPECTIVAS HISTÓRICAS

Etimologicamente a palavra trabalho origina-se do latim tripalium , instrumento de três paus utilizado para tortura. Na Grécia e na Roma antigas, o trabalho é uma atividade humana, exercida pelos escravos, em oposição ao otium (lazer, atividade intelectual) dos cidadãos livres (JAPIASSÚ; MARCONDES, 2006). Essa concepção de trabalho servil era corroborada por Aristóteles na obra Política, afirmando que o trabalho era incompatível com a vida livre e o ócio dos cidadãos gregos ocupados das tarefas nobres como a política, a filosofia e as artes (ARISTÓTELES, 1997).

Das sociedades antigas, Grega e Romana, à idade média, pouco mudou no mundo do trabalho e de seus atores (os servos, camponeses, artesãos, mercadores) que produzem e vendem tudo àquilo que a sociedade necessita. Os nobres se encarregam das guerras e o clero da teologia.

É importante ressaltar que a palavra “trabalho” não adveio com o início da prestação de serviços, mas que, foi somente por volta do século XI que passou a ser assim denominado o oferecimento da força pessoal de uma pessoa em favor de uma outra. A palavra “trabalho” no início teve uma conotação negativa ou depreciativa, significando, a dificuldade em viver, ou mesmo de sobreviver, pois tudo o que é difícil de ser alcançado, é denominado de “trabalhoso”. No começo o termo “trabalho” era usado para indicar as obras e tarefas humildes dos homens e mulheres que daí retiravam qualquer proveito (DELFINO, 2008)

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alicerçada nos ideais protestantes. Nessa época as atividades laborais alcançam lugar de destaque, de um lado o trabalho é visto como expressão da força do homem. De outro lado, o significado religioso, cerne da Reforma Protestante, dá status moral, pois o exercício do trabalho dignifica o homem (ALBORNOZ, 2009).

Da filosofia à economia, o trabalho reafirma seu lugar de destaque, quando no século XVIII passa a nortear as teorias de economia política, em detrimento à concepção clássica de que a riqueza de uma nação advém do ouro que esta possui (SMITH, 1776/1985). Afinal, Smith propõe, como explicação para as nações emergentes daquela época, o trabalho como fonte geradora de riqueza dos países. Pouco tempo depois Hegel, por volta de 1803-1804, cunha a idéia de que o trabalho é a mediação entre o ser humano e o mundo, afirmava que o trabalho era espiritual e o homem só podia ser, realmente, homem se fosse capaz de auto-satisfazer suas necessidades pelo trabalho (HEGEL, 1830/1995).

A partir da Revolução Industrial iniciada no século XIX, o trabalho passa por transformações radicais que o levaram a um elevado grau de especialização, ditado pelo uso de máquinas nas unidades fabris e pela divisão do trabalho. Nesse contexto histórico, entram em cena as concepções de Marx (1867/1989) e Weber (1930/1996) que vão reorientar o tema trabalho. A análise crítica proposta por Marx (1867/1989) corrobora a idéia de Hegel (1830/1995) sobre o trabalho ser o fator de mediação entre o homem e a natureza, além disso, a teoria econômica e as relações com o trabalho fazem surgir os conceitos de trabalho concreto e abstrato, trabalho morto, trabalho vivo, mais valia e outros que contribuem para a terminologia trabalho (MARX, 1867/1989).

Por outro lado, retomando o discurso do trabalho enobrecedor do homem, âmago da Reforma Protestante Calvinista, Weber dá uma preciosa interpretação ao trabalho, notadamente sobre a moral cristã, relacionando intimamente a economia e a ética protestante (WEBER, 1930/1996). Com o decorrer do tempo e as necessidades, quase sem limites da acumulação do capital, pelo trabalho, entra em cena uma interpretação política para o trabalho. Parte dessa concepção nasce da tensão crítica de Arendt (1958/2009) que busca na polis grega a resposta para a natureza humana. Propõe a autora uma diferenciação entre o labor – atividade de subsistência e o trabalho livre, consciente, transformador e político, contrário da supervalorização da produção fabril e do trabalho alienante, nele expresso e defendido por Marx (1867/1989) já expressos no subitem 1.2 deste capítulo.

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produção capitalista, apesar de não mais se aplicar nenhum destes em sua integralidade. Sinteticamente, Taylor (1990) propôs um sistema de produção baseado na Organização Cientifica do Trabalho (OCT) e trouxe para as fábricas um modo de produção organizado, retirando os trabalhadores dos ambientes altamente insalubres e impróprios para uma melhor produtividade que eram comumente utilizados desde a Revolução Industrial. Nesse modelo de produção o sujeito é reduzido a um operador de instruções e regras, não havendo muito espaço para a criatividade e o prazer na realização das atividades de trabalho.

O sistema proposto por Ford, segundo Costa et al. (2008) baseava-se na divisão do trabalho e na produção em massa, de acordo com a capacidade produtiva das fábricas, e empregou, na sua época, grande parte da mão-de-obra desempregada e sem qualificação laboral, apesar de seu sistema também não qualificar o empregado (DELFINO, 2008). A divisão do trabalho exigia pouca qualificação da mão de obra e uma facilidade maior no treinamento dos trabalhadores envolvidos. Porém com a divisão do trabalho, cria-se também a divisão dos homens o que na atualidade, juntamente com a OCT contribuem para o maior esvaziamento da organização coletiva dos trabalhadores para o enfrentamento das adversidades do mundo real do trabalho (DEJOURS et al.,1997).

Tanto a OCT taylorista quanto a divisão do trabalho fordista continuam a influenciar os modos de produção e organização do trabalho na atualidade. Com uma nova roupagem ou, simplesmente, com outros nomes – Toyotismo, 5S, Qualidade Total, Capital Humano e muitas outras denominações – os modos de organização e de produção capitalista proposto por Ford e Taylor ainda se encontram presentes nos dias atuais e influenciam os significados e sentidos do trabalho.

No intuito de encontrarmos significados na história do trabalho nos deparamos com filósofos, economistas e sociólogos, ora defendendo o cidadão grego e romano ocioso, ora em outros tempos alicerçado no Iluminismo Humanista e Reformista, ganhando o trabalho o valor cristão e moral. Nas críticas ao nascente liberalismo econômico e capitalista (SMITH, 1776/1985), do século XVIII, encontramos o trabalho alienante, o trabalho abstrato, o labor (MARX, 1867/1989; HEGEL, 1830/1995; ARENDT, 1958/2009), porém encontramos alguma convergência na atividade humana, transformadora da natureza e do próprio homem, que o realiza, que o identifica, insere e causa dor e sofrimento-prazer (ARENDT, 1958/2009; DE BOTTON, 2009; SENNETT, 2009).

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encontramos nesta pesquisa. Não podemos esquecer que o trabalho na era digital, vai transformar a dimensão do trabalho que ora conhecemos e ressignificar seu sentido, inserindo o caráter virtual a atividade laboral.

Diante desse quadro internacional, como se comportou o trabalho no Brasil? No próximo tópico buscamos resgatar um pouco do trabalho e dos seus significados na sociedade brasileira.

1.5 TRABALHO NO BRASIL

O trabalho no Brasil oscilou entre o trabalho escravo e servil, sendo o trabalho livre reservado para poucos artífices, burocratas e empregados públicos. Isto é decorrência do tipo de colonização escolhida por Portugal para explorar a terra brasilis, as capitanias hereditárias distribuídas aos nobres portugueses capitalistas e o contingente humano egresso de metrópole com sonho de enriquecimento fácil, alimentado pelos relatos da carta de Caminha.

Os nativos indígenas não se adaptaram com facilidade ao eito feudal dos primórdios brasileiros, tampouco o contingente português era suficiente para enfrentar os desafios do gigante adormecido. Nesse contexto, dá inicio ao trabalho escravo africano, nas atividades agropastoris. Porém, a gênese do trabalho escravo remonta a própria história do trabalho humano, após a Era Neolítica compara-se a uma história de terror e de desrespeito ao sujeito. Sendo que a primeira civilização conhecida já era escravocrata, há mais de 5.000 anos. Na língua dos antigos Sumérios, a palavra escravo era derivada do termo utilizado para designar os estrangeiros, denunciando a origem política deste flagelo (DELFINO, 2008).

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serem enterrados vivos, junto com o cadáver de seu senhor para servi-lo no além-túmulo. O trabalho nesse contexto de servidão à brasileira está impregnado de hábitos “estrangeiros” (africanos, portugueses, franceses, ingleses e holandeses), pois além dos nativos indígenas, todos os demais povos eram estrangeiros, de certa forma, escravizados pelo modo de trabalhar em terras inóspitas e contraditoriamente, ricas e hospitaleiras.

Nos demais continentes, como no Brasil, a escravidão africana era a forma de realização dos serviços a serem executados, seja ele doméstico, ou no campo. O comércio escravagista sustentado pela grande quantidade de população africana perdurou até a intervenção inglesa ocorrida no século XIX. Na verdade, o fim da escravidão dos povos africanos teve uma de suas origens no advento da Revolução Industrial, pois a mão de obra escrava era imprópria para trabalhar com as máquinas nas indústrias e colocava em risco a formação de um mercado consumidor, pois não possuíam renda para comprar os produtos produzidos em massa.

Com o advento da Lei Áurea (1888) acentua-se a migração de parte da mão de obra recém liberta e desqualificada para as cidades, iniciada após o retorno dos soldados da Guerra do Paraguai. A fixação dessa população se dá nos arredores das aglomerações urbanas, notadamente no Distrito Federal daquela época (Rio de Janeiro) , naquilo que hoje conhecemos por favelas, campos afastados dos centros urbanos das cidades, onde construíram suas habitações.

O trabalho da “nova” mão de obra, se resume aos serviços domésticos, pois as atividades de maior valor social estavam nas mãos dos cidadãos livres, burocratas, artífices e profissionais liberais (médicos, advogados, farmacêuticos e outros) mais ligados ao comércio e as atividades agrárias.

Mesmo sendo uma das responsáveis pela libertação dos escravos no Brasil (DELFINO, 2008), a Revolução Industrial sob o modelo fabril e com mão de obra operária, características do trabalho industrial, dá os primeiros indícios de materialização, a partir de 1917 durante a primeira Guerra Mundial. Nessa época as greves dos trabalhadores

conquistaram aumento de salarial de 20%, salários fixos mensais, direito à organização,

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Figura 3 – Primeiras Greves 1917-1920 Fonte: Costa (2002)

Com a crise de 1929 e a quebra da bolsa de Nova Yorque, levando à bancarrota os barões-fazendeiros, que formavam a elite da sociedade agrária brasileira, o clima foi propício para as greves no início dos anos 30, que culminaram com a redução da jornada para 08 horas, regulamentação do trabalho do menor e da mulher, definição do salário mínimo e da lei de férias (COSTA, 2002).

É nesse contexto histórico-social que Vargas chega ao poder em 1930, dá início ao trabalhismo à brasileira, por meio de decretos. Para fortalecer as “conquistas trabalhistas nacionais”, e seu governo, com apelo fortemente populista, aproveita a comemoração do dia do Trabalho, em 1º de maio de 1943, para publicar a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT regulamentando o trabalho no Brasil, que a despeito do tempo decorrido o texto e os direitos, ali expressos, se mantém quase que na sua totalidade até os dias atuais.

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Com a CLT, nasce a Justiça do Trabalho, para interpretar a lei e dirimir os conflitos que a valorização do trabalho humano demanda, frente às contradições entre o capital e o trabalho no Brasil. Para tanto, o conceito jurídico de trabalho supõe que este se apresente como objeto de uma prestação devida ou realizada por um sujeito em favor de outro. Tal ocorre quando: (1) uma atividade humana é desenvolvida, pela própria pessoa física; (2) essa atividade se destina à criação de um bem materialmente avaliável; (3) surja de relação por meio da qual um sujeito presta, ou se obriga a prestar, a própria força de trabalho em favor de outro sujeito, em troca de uma retribuição (MARANHÃO; CARVALHO, 1993).

Para Furquim (2001) trabalho em sentido geral é todo esforço físico ou intelectual com o objetivo de realizar alguma coisa. Merece destaque também, a definição de Cesarino Júnior (1970) que conceitua o trabalho como a aplicação da atividade humana à produção de bens e serviços em proveito de outrem, que o remunera.

Reis (2001), na monografia Trabalho Voluntário e os Direitos Humanos, define o trabalhador voluntário como aquele que presta serviços de natureza gratuita a entidades públicas ou privadas, sem fins lucrativos com objetivo de garantir os direitos humanos fundamentais a seus semelhantes. Enfatizou este conceito para identificar as duas possibilidades de trabalho: Oneroso ou Gratuito.

O entendimento de Reis (2001, grifo nosso) vai ao encontro da conceituação que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE (2009) utiliza para a metodologia de coleta de dados sobre trabalhadores e não trabalhadores, em suas pesquisas. O conceito fundamental é o de trabalho: significa a ocupação econômica remunerada em dinheiro, produtos ou outras formas não monetárias, ou a ocupação econômica sem remuneração, exercida pelo menos durante 15 horas na semana, em ajuda a membro da unidade domiciliar em sua atividade econômica, ou a instituições religiosas beneficentes ou em cooperativismo ou, ainda, como aprendiz ou estagiário.

Pode-se notar que o conceito de trabalho no Brasil sofre influências de diversas áreas do conhecimento, algumas se completam, outras parecem se contradizer. Para facilitar a compreensão do leitor, propomos a definição de trabalho que o Ministério do Trabalho e Emprego – MTE como: “uma prática social específica, de caráter histórico e cultural, por meio da qual o ser humano constrói suas condições de existência. Nessa perspectiva, é constituinte do sujeito na sua totalidade; é o espaço onde ele se realiza como produtor de si mesmo e produtor de cultura” (BRASIL-MTE, 2009).

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Figura 1 – Mapa dos Capítulos
Figura 2 – Trabalho na antiguidade  Fonte: Albornoz (2009)
Figura 4 – Representações da Violência Escolar  Fonte: www.nervocorvo.kit.net (2009)
Figura 5 – Mapa das Regiões Administrativas do DF   Fonte Guia Geográfico, 2009
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Referências

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