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A apropriação do Projeto Bola na Mão Gol Cidadão pela comunidade da Vila Bandeirante - Teresina - PI

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EDVALDO CESAR DA SILVA OLIVEIRA

Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa

Stricto Sensu em Educação Física

A APROPRIAÇÃO DO PROJETO BOLA NA MÃO GOL CIDADÃO

PELA COMUNIDADE DA VILA BANDEIRANTE – TERESINA-PI

Brasília - DF

2011

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EDVALDO CESAR DA SILVA OLIVEIRA

A APROPRIAÇÃO DO PROJETO BOLA NA MÃO GOL CIDADÃO PELA COMUNIDADE DA VILA BANDEIRANTE – TERESINA-PI

Projeto apresentado ao Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu no Mestrado em Educação Física da Universidade Católica de Brasília como requisito básico para defesa e obtenção do título de Mestre em Educação Física.

Orientadora: Profª Drª.Tânia Mara Vieira Sampaio

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O48a Oliveira, Edvaldo Cesar da Silva.

A aprovação do Projeto Bola na Mão Gol Cidadão pela comunidade da Vila Bandeirante – Teresina-PI. / Edvaldo Cesar da Silva Oliveira – 2011.

110f. ; il.: 30 cm

Dissertação (mestrado) – Universidade Católica de Brasília, 2011. Orientação: Tânia Mara Vieira Sampaio

1. Esportes. 2. Política e educação. 3. Inclusão social. 4. Escola ativa. I. Sampaio, Tânia Mara Vieira, orient. II. Título.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a todos os meus amigos, especialmente os do handebol por estarem sempre ao meu lado nos momentos de maior dificuldade, estendendo esse agradecimento a meus professores que mostraram o caminho do conhecimento e do crescimento pessoal, em especial:

• Ao Prof. Dr. Acácio Salvador; que me apresentou o mundo cientifico e me mostrou que o conhecimento é um poder incomensurável.

• À Profª. Dra. Ana Maria Rodrigues; que durante minha graduação sempre foi um farol, mostrando o caminho correto e digno da profissão de professor. • À Profª. Dra. Marlene Araujo de Carvalho; com sua enorme sabedoria e

simplicidade que me mostrou que o saber deve sempre vir temperado com a coerência, simplicidade, o respeito, e a amizade e principalmente que um título cientifico não deve mudar suas condutas.

• À secretária Jandira de Morais Silva; por sempre me apresentar uma palavra de incentivo e esperança, sem ela, acho que não estaria escrevendo hoje aqui.

• À Profª. Dra. Maria Fatima Glaner, pelo respeito e amizade que demonstrou à minha pessoa.

• À Profª. Dra. Gislane Melo que sempre me deu uma palavra amiga de incentivo para meu crescimento profissional.

• À Profª. Dra. Tânia Mara Vieira Sampaio por sempre ter uma palavra de carinho e amizade nos momentos mais críticos, seu apoio foi fundamental para a realização desse trabalho, não só pela orientação cientifica e muito mais pelo exemplo de profissional comprometida e responsável. Com a professora Tânia, aprendi a ser uma pessoa melhor na vida e principalmente para o próximo respeitando as diferenças e sempre procurando o lado bom das coisas.

• À grande Danielle secretaria do mestrado que nunca mediu esforços para garantir todas as condições para o desenvolvimento de nosso trabalho.

• À Estefane, secretaria do minter que sem sua preocupação em ajudar e resolver problemas esse trabalho não teria acontecido.

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“No mundo os saberes são múltiplos e o domínio deles lhe garante o poder. Para o príncipe se manter no poder a aquisição de saberes deve ser a prioridade em sua

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RESUMO

OLIVEIRA, Edvaldo Cesar da Silva. A apropriação do projeto bola na mão gol cidadão pela comunidade da vila bandeirante – Teresina-PI. 2010. 110f. Dissertação (Mestrado em Educação Física)- Universidade Católica de Brasília, Brasília, 2010.

O presente estudo teve como objetivo analisar se o Projeto Bola na Mão Gol Cidadão contribuiu para a melhoria da comunidade Vila Bandeirantes - Teresina-PI. Nesse sentido, traçamos um referencial pautado em um levantamento sobre políticas públicas de esporte e lazer, em aspectos relevantes da sociologia de Bourdieu e considerações sobre discriminação, preconceitos, sexualidade e disciplina no ambiente escolar. Utilizamos uma metodologia qualitativa do tipo interpretativa, a qual exige observação prolongada, aprofundada e rigorosa da situação. O campo da pesquisa foi a escola CAIC Balduino de Deus da rede estadual de ensino, localizada na comunidade do bairro da Vila Bandeirantes, zona leste de Teresina-PI. O instrumento da pesquisa consistiu em questionário estruturado com questões abertas, aplicados a quatro grupos, familiares (SF), professores (SP), voluntários (SV) e estudantes (SE). Para a análise dos discursos foram organizadas as respostas em 09 categorias, separadas da seguinte maneira: lazer; desporto, preconceito, função profissional, problemas sociais, características pessoais, melhora pessoal, melhorias educacionais, valorização da escola, dificuldades escolares e perspectivas futuras. O questionário coletou a percepção de cerca de 150 pessoas do CAIC Balduino de Deus sobre o projeto, incluindo alunos; professores; pais e membros da comunidade que possuem um convívio próximo com os alunos. Nos resultados identificou-se que o projeto trouxe o componente do lazer, da diversão e da alegria a essa comunidade, melhorando as relações de amizade, respeito e diminuindo as atitudes preconceituosas mudando o pensamento discriminatório e segregador de muitas pessoas. Outro ponto importante foi que mostrou a responsabilidade do desenvolvimento de princípios educativos para construir cidadãos mais comprometidos, apresentando uma saída concreta dos problemas sociais relacionados à retirada das crianças da rua melhorando a relação em casa, na escola e na sociedade, no tocante à disciplina pessoal e a auto-estima. Desencadeou também respeito e conservação do bem público, melhorando o rendimento dos alunos, permitindo a valorização do ambiente escolar, tornando-o um espaço atraente. Conseguiu melhorar o rendimento escolar e diminuiu a evasão, percebeu-se também que a figura do professor responsável pelo projeto foi de fundamental importância para o mesmo dar bons resultados. Concluímos que o

Projeto Bola na Mão Gol Cidadão modificou a comunidade da vila Bandeirantes principalmente o CAIC Balduino de Deus, além de desenvolver dentro da comunidade o sentimento apropriação do Projeto ao dar continuidade às atividades desenvolvidas sem qualquer subsídio do poder público.

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ABSTRACT

OLIVEIRA, Edvaldo Cesar da Silva. The ownership of the project goal ball in hand by the village community citizen Scout - Teresina-PI. 2010. 110f. Dissertation (Master of Physical Education) - Catholic University of Brasilia, Brasilia, 2010.

This study aims to analyze if the project “Ball in Hand, Citizen Goal" has contributed to bring improvements to the community Vila Bandeirantes, in Teresina-PI, Brazil. We draw a reference process based on a survey of public policies for sports and leisure, on relevant issues of Bourdieu’s sociology and considerations on discrimination, prejudices, sexuality and discipline within the school environment. We used an interpretative qualitative methodology, which requires prolonged, accurate and deep study of the situation. The field of research was the public school CAIC Balduino de Deus, located in the community Vila Bandeirantes, on the eastern district of Teresinas- PI. The survey instrument consisted of a form with subjective questions, answered by four groups: family (SF), teachers (SP), volunteers (SV) and students (SE). Enabling the analysis of the interviews, the responses were organized into 09 categories, separated as follows: leisure, sport, prejudice, work function, social problems, personal characteristics, personal upgrade, educational improvements, valuing school, learning difficulties and future prospects. The questionnaires demonstrated the judgments of about 150 different people from CAIC Balduino de Deus about the project, including students, teachers, parents and community members who have a close interaction with the students. The results showed the Project brought leisure, entertainment and joy to this community, improving relations of friendship and respect, decreasing prejudicial attitudes and changing many people’s discriminatory and segregating thoughts. Another important point showed the responsibility of educational principles development to make more engaged citizens, showing an efficient solution to social problems related to the removal of children from the street by improving the relationship at home, school and society in regard to personal discipline and self-esteem. It also unleashed respect and preservation of the public goods, improving the students' performance, enhancing the school environment to an attractive area. Besides that, it managed to improve school performance and decreased the dropout, it is also clear that the teacher responsible for the project was essential for its good results. We concluded that the project “ball in hand, citizen goal” changed the community from Vila Bandeirantes, especially the CAIC Balduino de Deus. Moreover, it developed a feeling of assimilation regarding the Project, once the performed activities kept going on without any financial help from the government.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 11

2CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO BOLA NA MÃO GOL CIDADÃO ... 15

2.1ORIGENS E DESENVOLVIMENTO DO PROJETO BOLA NA MÃO GOL CIDADÃO . 15 2.2A LEGITIMAÇÃO SOCIAL DO PROJETO E SUA APROPRIAÇÃO. ... 17

2.2.1 A luta política na busca de transformação de projeto em política pública. ... 20

2.3POLÍTICAS PÚBLICAS E O PROJETO BOLA NA MÃO GOL CIDADÃO ... 24

2.4A SOCIOLOGIA DE BOURDIEU E O PROJETO BOLA NA MÃO GOL CIDADÃO ... 33

2.5 SITUAÇÕES EVIDENCIADAS NO AMBIENTE ESCOLAR A PARTIR DO PROJETO: PRECONCEITO, DISCRIMINAÇÃO; SEXUALIDADE E DISCIPLINA ... 46

3METODOLOGIA ... 60

3.1O CAMPO DA PESQUISA ... 61

3.2INSTRUMENTOS DE COLETA DE DADOS ... 62

3.3O UNIVERSO DA PESQUISA ... 63

3.4PERFIL DA AMOSTRA: ... 65

4RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 70

5CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 95

6REFERÊNCIAS ... 99

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1 INTRODUÇÃO

A questão da exclusão social é uma constante na sociedade baseada em padrões competitivos; nesta alguns têm sucesso e outros são levados ao fracasso. Muitas vezes a falta de oportunidades iguais configura-se como fator determinante no processo de exclusão social de membros da sociedade. De acordo com o pensamento de Spozatti (2003), a exclusão social se caracteriza pelas diferenças nas relações societárias fundadas na desigualdade de oportunidades e na concentração da riqueza e de poder. A exclusão afeta indivíduos e grupos, em áreas urbanas e rurais, afeta sujeitos que são de alguma forma alvos de discriminação ou segregação.

A promoção de oportunidades iguais de acesso nem sempre é possível, principalmente devido à própria mecânica da lógica de mercado que estimula a competição e promove luta dentro da mesma sociedade. É nessa perspectiva que os gestores públicos devem intervir no sentido de garantir as mesmas condições de acesso a todos, sem discriminação de qualquer forma. Entre as dificuldades está o fato de que nem sempre os

gestores conseguem ordenar as finanças de maneira a garantir a todos, os mesmos direitos, ou por falta de recursos financeiros ou devido a organizações prioritárias de escolhas e podendo até chegar a ser” por falta de vontade política, que muitas vezes beneficia apenas uma pequena parcela da população (HOFLIN, 2001, p. 03).

As políticas públicas são organizadas no sentido de garantir às comunidades menos favorecidas socialmente, condições de melhoria de caráter social relevantes a seu bem estar dentro da sociedade. Nesse sentido, o desenvolvimento educacional poderia ser uma das principais opções para a melhoria de alguns aspectos ligados à vida das pessoas nessa esfera social já tão desprestigiada.

Podemos entender que a melhoria da vida das pessoas deve ser trabalhada em diferentes vertentes para conseguir alcançar suas potencialidades. Esses eixos podem ser divididos em social que trata do acesso ao esporte promovendo o direito à participação social nas tomadas de decisão e ações integradas. O cultural que se relaciona à formação de habitus para a construção dos estilos de vida e, por

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simbólico que se relaciona diretamente com a superação de preconceitos e aspectos ligados a violência nas suas mais diferentes vertentes.

Sendo assim, no contexto do processo educativo emancipatório, o esporte pode se apresentar como um veículo potencial de transformação, por meio de seus procedimentos auxiliando em possíveis transformações mais consistentes, proporcionando melhores condições a essas comunidades menos favorecidas e excluídas.

A prática de atividades físicas, esportivas, recreativas e de lazer por toda população, representa um conjunto de elementos que contribuem para o bem estar físico e mental, para promoção da saúde, o aproveitamento do tempo livre e a elevação da qualidade de vida sendo instrumento de educação permanente dos indivíduos, através da inclusão e integração dos mesmos devem contemplar toda a população, respeitando as características e necessidades específicas, dando ênfase aos cidadãos mais excluídos (FILL, 2008, p. 06).

A questão é que nem sempre isso ocorre, e na maioria das vezes nessas comunidades menos favorecidas, a falta de oportunidades de ter contato com o fundamental para sua inclusão dentro da sociedade é uma realidade, como a garantia à habitação, alimentação, saúde e lazer, os quais são direitos básicos.

Esta realidade de falta de acesso aos bens básicos de direito pode desenvolver um sentimento de revolta que cada vez mais permeia o ambiente escolar, manifestando-se de diferentes formas, mas principalmente nas ações depredatórias e/ou violentas contra a escola e seus constituintes. Em alguns momentos essas ações se apresentam de maneira discreta dentro da escola, porém quando ações violentas se tornam a regra e não a exceção se faz necessário entender melhor essas causas.

A presente pesquisa teve por objetivo analisar a percepção das pessoas sobre o Projeto Bola na Mão Gol Cidadão sua contribuição para a melhoria da comunidade Vila Bandeirantes -Teresina-PI, identificando o potencial que existe em projetos sociais pautados na prática da atividade física e esportiva, desenvolvidas dentro de uma escola, localizada em uma área de vulnerabilidade social.

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educacionais desenvolvidos por diferentes estabelecimentos de ensino e principalmente a relação entre atividade física, esportes e a inclusão social conseguida junto à comunidade dos diferentes estabelecimentos de ensino.

Ao identificar em que medida esse projeto conseguiu melhorar a realidade no CAIC Balduino de Deus, local de implantação do Projeto Bola na Mão Gol Cidadão, se pode socializar esse procedimento e, quem sabe, contribuir para a melhoria da vida de inúmeros educandos vítimas de uma sociedade que nem sempre oferece as mesmas condições e oportunidades e não raras vezes se apresenta de maneira discriminatória e segregativa. Considera-se fundamental modificar de maneira concreta e significativa o processo de inclusão social, diminuindo os índices de violência, depredação, uso de drogas tão comuns dentro do ambiente escolar das comunidades carentes.

Entre os questionamentos permanece este: por que projetos sociais como esse que, apesar do tempo de atuação limitado, promovem resultados positivos, não são usados pelas autoridades competentes como direcionador de uma possível incorporação como política pública de atividade física e esporte comunitário a ponto de tornar-se política de estado?

Acredita-se que com um suporte técnico bem fundamentado e recursos financeiros bem alocados por parte dos gestores pode-se garantir o funcionamento de projetos de natureza esportiva e consequentemente verificar seus benefícios no sentido de melhorar a vida de comunidades como a existente dentro dessa escola localizada na Vila Bandeirantes.

Para fazer essa análise o referencial teórico de base foi organizado a partir de uma reflexão sobre políticas públicas de esporte e lazer, sobre aspectos relevantes da sociologia de Bourdieu que permitem analisar tal realidade e por último algumas considerações sobre discriminação, preconceitos, sexualidade e disciplina no ambiente escolar.

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2 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO BOLA NA MÃO GOL CIDADÃO

2.1 ORIGENS E DESENVOLVIMENTO DO PROJETO BOLA NA MÃO GOL CIDADÃO

A Federação de Handebol do Estado do Piauí – (FHEPI) foi fundada em 21 de novembro de 1980, constituindo parte de um programa de incentivo ao esporte desenvolvido pela Fundação de Assistência Geral aos Desportos do Piauí – (FAGEP). Sua criação foi agregada ao processo de implantação da prática de Handebol no estado do Piauí. Somente em janeiro de 1981, a FHEPI conseguiu sua filiação junto à Confederação Brasileira de Handebol, órgão máximo de gestão do esporte no território nacional (ESTATUTO, FHEPI, 2000).

A política de desenvolvimento da prática esportiva desenvolvida pela FHEPI tem se resumido a tímidas participações em campeonatos em nível estadual e municipal, deixando muito a desejar quanto à realização de seu principal objetivo que é a popularização e incentivo da prática desportiva dentro do Estado, para contribuir com a melhoria das condições físicas, psíquicas e sociais dos seus participantes.

Considerando essa lacuna existente dentro da política esportiva desenvolvida pela Federação, em 2003, seu gestor resolveu desenvolver um projeto de caráter social financiado pela Confederação Brasileira de Handebol. Nasceu assim, o Projeto Bola na Mão Gol Cidadão que objetivava principalmente utilizar a prática do handebol como instrumento de inclusão social e modificação da realidade social vigente, buscando uma melhoria na vida de crianças e adolescentes além de popularizar a prática do handebol.

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núcleos com isso promover uma relação maior entre escola/federação/família para com isso melhorar o acompanhamento da vida dos alunos pertencentes ao núcleo.

Na formatação original, em cada núcleo existia um monitor responsável pela aplicação das aulas, onde parte dos monitores era atleta de handebol. Junto a esses monitores existia uma equipe multidisciplinar para atender os (FHEPI, 2009) dez núcleos compostos de 02 (dois) coordenadores formados em Educação Física, 02 (dois) Psicólogos, 02 (dois) Assistentes Sociais e 01 (um) representante da FHEPI para gerenciar e acompanhar o mesmo, não havendo influencia do projeto político pedagógico da escola com as atividades desenvolvidas nos núcleos. No transcorrer do projeto apenas o núcleo da Vila Bandeirantes continuou com o acompanhamento do coordenador e do psicólogo até seu término, além do representante da FHEPI. Os outros núcleos perderam esse atendimento devido principalmente a questões ligadas ao deslocamento e desembolso financeiro.

Os núcleos ofereceram aulas da prática esportiva com caráter educativo além de palestras educativas para os familiares e participantes do projeto. As palestras foram pautadas sobre cidadania, participação social, drogas, violência, educação formal, saúde, prostituição, alcoolismo, espiritualidade entre outros temas sugeridos pela comunidade. Cada palestra era ministrada por profissionais específicos das áreas convidadas. O projeto tinha um tempo de vigência determinado em 12 (doze) meses devido a dotação orçamentária do Governo Federal ordenado pela Confederação Brasileira de Handebol e gerenciado pela Federação de Handebol do Estado do Piauí (FHEPI, 2009).

A entrada desse projeto dentro da escola aconteceu devido principalmente a amizade que o presidente da Federação de Handebol possuía com a direção da escola e os responsáveis dentro da Secretaria Estadual de Educação (SEDUC), que facilitou a aceitação da implementação desse projeto dentro da referida escola.

Atualmente, somente o núcleo da Vila Bandeirante continua a oferecer as aulas de handebol, orientadas por um ex-aluno do projeto que hoje é estudante de Educação Física e atua sob a supervisão do professor de Educação Física do CAIC Balduino de Deus, o qual trabalhou no projeto original nessa localidade, ficando as outras atividades suspensas devido ao encerramento do tempo de vigência do projeto.

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comunidade da vila Bandeirantes que possuía um alto grau de violência escolar, depredação, drogas, intolerância das mais variadas formas e que parecem ter diminuído significativamente. Mesmo após o término do projeto os próprios alunos continuam a desenvolver as aulas dentro do CAIC Balduino de Deus e conseqüentemente auxiliando de maneira concreta para melhoria da vida da comunidade escolar e adjacências.

2.2 A LEGITIMAÇÃO SOCIAL DO PROJETO E SUA APROPRIAÇÃO.

No Brasil, as desigualdades sociais e econômicas ainda colocam-se como um problema a ser superado. Inúmeros indivíduos vivem um processo de segregação social constante, catalisados pela falta de emprego, baixa renda, ambientes com alta criminalidade. Criando um difícil acesso à saúde, educação, ao esporte, ao lazer, à cultura, ao transporte, ao saneamento básico, entre outros serviços básicos necessários ao bom desenvolvimento das pessoas.

Dentre todos esses aspectos relacionados ao bem estar das pessoas, o acesso ao lazer e ao esporte são muitas vezes desprestigiados. O que é um erro. Pois o lazer é um direito de todas as pessoas independentes da classe social ou poder econômico. Segundo Carvalho; Vargas:

A condição social após a Revolução Industrial possibilitou que o lazer fosse estendido às classes populares, tendo em vista que até então era privilégio de poucos. Mas tal fato relacionou-se à conquista trabalhista da carga horária máxima de trabalho diário e a importância do descanso (CARVALHO; VARGAS, 2010, p. 05).

Desta forma, o lazer como direito constitucional, garante nos dias de descanso uma atividade componente que contribui para a garantia da saúde das pessoas. “O lazer tem papel fundamental enquanto meio alternativo para o relaxamento e alívio dos problemas advindos da contextualidade e do cotidiano do indivíduo, seja ao nível pessoal quanto profissional” (PEREIRA; BUENO, 1997, p. 76).Não devendo com isso ser encarado como uma condição compensatória do trabalho realizado, o lazer não pode ser visto por essa ótica simplista.

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dessa data, o lazer só aparecia como direito garantido pela Declaração Universal dos Direitos do homem em 1948.

A Legitimação do lazer é tão importante para uma sociedade que aparece em diferentes situações, diluído na Constituição, observa-se no Art. 6º que “são direitos sociais a educação, a saúde, a alimentação, o trabalho, a moradia, o lazer...”. No Art. 7º, inciso IV, decreta que o salário mínimo deve atender às “necessidades vitais básicas” do trabalhador e de sua família, como moradia, alimentação, educação, saúde, lazer, vestuário, higiene... . O Art. 217, em seu § 3º, afirma que “o Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social.” No Art. 227, lê-se que “é dever da família, da sociedade e do Estado assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer (BRASIL, 1988).

Em relação às crianças e jovens, as evidências são ainda mais trágicas. Sem cuidados médicos, com acesso restrito e sem o devido tempo de serem crianças, muitas vezes ilegalmente, contrariando o Estatuto da Criança e Adolescente que proíbe o trabalho infantil, o que infelizmente não é observado. Muitas dessas crianças realizam trabalhos além de suas forças, como forma de garantir sobrevivência, passando por um desenvolvimento social extremamente conturbado.

São, desde muito cedo confrontadas com a realidade do trabalho pela necessidade da sobrevivência. Mundo violento, sem afeto, crianças tantas vezes maltratadas, agredidas sexualmente, fisicamente, psicologicamente e moralmente (GAYA, 2008, p. 9).

Essas crianças engrossam as estatísticas dos órgãos de desenvolvimento social, denominadas “crianças em situação de risco social”, e podem permanecer como dados estatísticos se não forem realizadas intervenções com uma proposta concreta para mudar essa realidade social cruel. ”Crianças em situação de risco social, em verdade são crianças excluídas dos direitos humanos mais elementares” (GAYA, 2008, p. 13).

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promover mudanças nos mais variados níveis de organização seja no ambiente escolar, seja nas demais esferas sociais.

O trabalho pedagógico deve se comprometer e buscar conscientizar a população de seus direitos e deveres para que os mesmos possam estar interferindo em sua realidade social, a questão da cidadania não pode ser desprezada, e se levarmos em conta que em sentido restrito, cidadania é o fato de que membros de uma sociedade desfrutam dos direitos políticos e dos direitos civis que a constituição lhes assegura, porém devemos levar em conta não apenas a existência desses direitos, mas o importante e fundamental é a consciência que as pessoas devem ter desses direitos, porque sem ela não há exercício pleno da cidadania (VIANNA, 2006, p. 15).

Projetos sociais, tais como, Programa Segundo Tempo (AMARAL; JUNIOR, 2008), Manguinhos (PERES et al, 2005), Esporte na Baixada (MELO; MARTINS,

2006), Vila Olímpica da Maré (MELO, 2006) dentre outros, apresentam como eixo de desenvolvimento que “o esporte visando melhoria social é fator preponderante no processo de inclusão social” (COALTER; ALISSON; TAYLOR, 2000, p. 10).

Reconhecendo a relevância da prática da “atividade física e esportes como fenômeno sócio-cultural e sua potencialidade em configurar-se como coadjuvante de alto significado em ações comprometidas com a inclusão social” (GAYA, 2008, p. 12), percebe-se que a proposta do Projeto Bola na Mão Gol Cidadão tem a proposta de assumir um papel importante no processo de educação de crianças e jovens vítimas da exclusão social, criando uma perspectiva de inclusão dessa clientela fruto de uma sociedade discriminatória e excludente.

O referido projeto com sua intenção voltada para democratizar o acesso ao esporte, principalmente objetivando a inclusão social de crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.

Mostra o caminho que devem ser construídas através da formalização de parceiros independentes da condição existente na instituição, podendo ser de caráter público e/ou privado como forma de garantir o atendimento aos integrantes do projeto, possibilitando uma condição de se alcançar as proposições inicialmente delimitadas, notadamente a melhoria da vida dessas comunidades.

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possibilidades de significação”, como, por exemplo, a de ser democratizador ou gerador de inclusão social (AMARAL; JUNIOR, 2008, p. 1).

Senna (2008) considera que programas sociais devem oferecer às crianças e aos jovens oportunidades de desenvolvimento humano por meio da educação, buscando soluções educacionais capazes de colaborar nessa empreitada, promovendo a co-responsabilidade social visando à melhoria de vida dos indivíduos beneficiados e/ou pertencentes à comunidade. Ou seja, na garantia de direitos não basta às leis, o empoderamento é importante para legitimar os direitos garantidos pelas leis dentro de uma sociedade civil organizada.

2.2.1 A luta política na busca de transformação de projeto em política pública.

O processo de formação do poder público atua para resolver problemas ou minimizar situações adversas ao desenvolvimento social, ainda que essa ação seja feita de forma precária e provisoriamente. É fundamental a garantia de direito das pessoas para alcançar condições mínimas de cidadania e, por conseguinte, de melhorias nas diferentes comunidades, visto que essa conquista por menor que seja, “resulta de negociações que envolvem os atores sociais e políticos de determinadas localidades” (PINTO, 2008, p. 46).

Nessa perspectiva, deve-se pensar uma forma de articular segmentos sociais para promover transformações efetivas de projetos sociais em políticas públicas, para assim garantir experiências positivas no processo de construção da cidadania dentro de comunidades menos favorecidas.

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É possível pensar em superar barreiras para conseguir mudanças concretas no processo de construção de políticas públicas criadas a partir de projetos sociais já existentes, pois segundo Pinto (2008, p. 12) “o curso histórico de políticas públicas no Brasil, apresentam dois aspectos a serem inovados: as dimensões da justiça social e da cidadania e o compromisso político com a inovação”. Observando que inovação aqui citada está ligada a questões sociais. A definição de inovação social vem ganhando destaque pelas visões acadêmicas e políticas. A inovação social é considerada,

[...] como uma resposta nova e socialmente reconhecida que visa e gera mudança social, ligando simultaneamente três atributos: satisfação de necessidades humanas não satisfeitas por via do mercado; promoção da inclusão social; e capacitação de agentes ou atores sujeitos, potencial ou

efetivamente, a processos de exclusão/marginalização social,

desencadeando, por essa via, uma mudança, mais ou menos intensa, das relações de poder (ANDRÉ; ABREU; 2006, p. 140-141).

Diferentemente da inovação exclusivamente tecnológica, que algumas vezes busca o sentido mercantil, do lucro, de sobressair perante a concorrência, “a inovação social apresenta um caráter mais coletivo, inclusivo, visando transformações nas relações sociais e geração de coesão social” (SILVA, 2010, p. 20).A introdução de políticas públicas de inovação social cria ambientes favoráveis fortalecendo assim o sentimento de pertencer a uma comunidade, de influir como sujeito ativo na sua cidade e no seu entorno, possibilitando a todos a plenitude da condição de cidadão e a conquista da felicidade.

Para que realmente haja uma mudança de projetos sociais em políticas públicas devemos ter em mente essas inovações, pois se isso não acontecer podemos repetir modelos arcaicos já deficientes para garantia de direitos a comunidades desfavorecidas.

O processo de construção de políticas públicas baseadas em projetos sociais existentes enfrenta outro problema, que pode estar ligado à nossa herança histórica do período colonial, onde as relações eram baseadas em trocas de vantagens pessoais ou pressões de grupos administrativos. E quase sempre, não leva em consideração as necessidades socioculturais da população em questão.

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exerce monopólio nas políticas sociais: desenhando, implementando, unificando funções, financiando e controlando suas ações” (PINTO, 2008, p. 49).

Porém, a sociedade civil organizada, poderia reunir forças para superar essa limitação, principalmente quanto a transformação de projetos sociais em políticas públicas. Onde entendemos por projetos sociais um empreendimento planejado que consiste num conjunto de atividades interrelacionadas e coordenadas para alcançar objetivos específicos dentro dos limites de um orçamento e de um período de tempo dado (ONU,1984).

Já as Políticas Públicas é arte (implica sensibilidade para conhecer os sujeitos, suas necessidades e demandas no sentido da promoção do bem comum) é ciência (fundamenta-se em estudos sobre o comportamento humano) de governar (trata de relações de poder), de cuidar das decisões sobre problemas de interesse da coletividade(refere-se, pois a vida na polis, á vida em comum nas cidades).

Com base na universalidade dos direitos sociais (democratização), pode-se propor a criação de políticas públicas usando projetos sociais já existentes que apresentam resultados para melhoria da vida das pessoas, pois o princípio da inclusão e equidade ao qual as políticas são organizadas devem ser sempre buscados dentro desses projetos sociais. A busca pela inclusão e equidade pode ser encurtada quando observamos projetos já existentes e verificamos seus resultados positivos, atestando sua viabilidade para transformar-se em política pública com real efetivação da melhoria da vida dos membros atendidos por esses projetos.

A equidade procurada através de projetos de inclusão social pode:

[...] nos colocar diante do reconhecimento e da valorização das necessidades das pessoas e seu desenvolvimento social e humano, fruto de ações em um conjunto de condições objetivas e subjetivas que proporcionam a qualidade de vida (PINTO, 2008, p. 51).

Essa concepção reflete a importância de observar projetos que apresentem resultados concretos, para assim propor a construção de políticas públicas mais direcionadas para garantir a tão perseguida equidade social, que, em última análise, é função dessas políticas garantirem.

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sociais, pois busca com maior precisão “os beneficiários potenciais e desenho de programas que assegurem, por meios diversos, um impacto per capita elevado

sobre o grupo selecionado, ou seja, os mais necessitados” (PINTO, 2008, p. 54). Todas essas observações são pertinentes e de extrema necessidade, mas devemos verificar uma questão mais direta que é a captação de recursos, pois a construção de políticas públicas baseadas em projetos sociais pode permitir uma focalização de problemas com maior eficiência\eficácia e objetividade deixando o planejamento das medidas para atender as pessoas mais diferenciadas e específicas podendo concentrar os recursos na população em maior risco de vulnerabilidade social, de maneira mais concreta, otimizando os recursos e maximizando os impactos positivos. “O indicador utilizado é a relação custo-impacto, que permite apreciar se o programa está otimizando os recursos e maximizando o impacto, ao menor custo possível” (PINTO, 2008, p. 59).

Para realmente conseguir avançar no processo de organização de políticas públicas de atendimento a populações desfavorecidas, tem-se que concentrar esforços para se conseguir uma relação direta e organizada, no sentido de desenvolver e valorizar os processos de informação, conhecimento e participação, dos problemas sociais que precisam ser combatidos. Essa tríade pode ser um caminho para construção de políticas públicas a partir de projetos sociais mais seguros e com vistas a resultados mais concretos.

O que se deve ter em foco sempre é a necessidade de se garantir a participação significativa da população na formação de políticas que possam mudar a realidade social e, por conseguinte, melhorar a vida das pessoas. Mas existe uma questão que precisa ser considerada nesse pensamento, que é o poder, muitas vezes, centralizador do Estado. As decisões sobre o que e porque fazer obedecem a uma hierarquia de escolhas dentro do universo de decisões tomadas com bases em interesses que podem ser direcionados pelas pessoas que formam o Governo dentro do Estado. Tendo assim, esse corpo burocrático e algumas vezes centralizador que intervir dentro dos processos decisórios do Estado, promovendo de maneira direta ou não a exclusão das comunidades dos processos participativos e decisórios.

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implementadas. A cidadania ativa pela participação é, pois um princípio democrático, e não um favor (PINTO, 2008, p. 64).

A utilização de poder do Estado para a participação popular compartilhando processos de tomada de decisões sobre as políticas públicas pode ser vista como um avanço que, longe de reduzir o poder estatal para as decisões sobre políticas públicas, torna o processo mais ágil e eficiente, pois os sujeitos da população estão mais diretamente envolvidos nos problemas existentes na comunidade e, por conseguinte, aptos a indicar as melhores soluções de como resolver esses problemas com o máximo de eficiência e o mínimo de tempo. “O princípio da descentralização amplia a participação das comunidades e as aproxima do governo, possibilitando maior agilidade e controle das ações e decisões governamentais, bem como prática política mais justa e menos autoritária” (PINTO, 2008, p. 66).

Pode-se perceber que a utilização de projetos sociais que tiveram resultados positivos podem ser transformados em políticas públicas, para com isso facilitar o atendimento das comunidades e garantir os resultados mais favoráveis e permanentes junto às pessoas menos favorecidas, podendo possibilitar mudanças rápidas e concretas na vida das comunidades que se apropriam desses projetos, bem como servirem de alicerce para mudanças mais profundas.

2.3 POLÍTICAS PÚBLICAS E O PROJETO BOLA NA MÃO GOL CIDADÃO

Quando falamos de políticas públicas devemos ter sempre em mente seu conceito, pois segundo Carvalho et al (2002, p. 10), “políticas públicas são

construções participativas de uma coletividade, que visam a garantia dos direitos sociais dos cidadãos que compõe uma sociedade humana”. Sendo assim podem extrapolar a dimensão do Estado e agregar a todos os espaços e formas de organização social que buscam meios de concretização dos direitos humanos.

As políticas públicas de cunho social surgem como uma possibilidade de contemplar a diversidade das necessidades de vários segmentos sociais, entretanto é necessário um grande planejamento, visto que o desenvolvimento social não está simplesmente atrelado ao desenvolvimento econômico de uma forma linear (FILL et

al, 2008, p. 3).

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e determinação são importantes. Especialmente quando se focaliza as políticas sociais (usualmente entendidas como as de educação, saúde, previdência, habitação, saneamento etc.) os fatores envolvidos para a aferição de seu "sucesso" ou "fracasso" são complexos, variados, e exigem grande esforço de análise. “A implementação de políticas saudáveis impõe uma agenda de gestão que implica ações intersetoriais” (KREMPEL, 2004, p. 10).

Intersetorialidade “é a articulação entre indivíduos de setores sociais diversos e, portanto, com saberes, poderes e vontades diversas, para enfrentar problemas complexos” (FEUERWERKER; COSTA, 2000, p. 3). Desta forma, a abordagem intersetorial ou o processo de construção da intersetorialidade não está isento de conflitos, contradições e problemas desencadeados por essas diferenças.

Nessa perspectiva a comunidade aparece como um fator importante e agregador, visto que dentro das comunidades vários são os conflitos enfrentados. Portanto talvez somente a partir da vontade popular e política iniciada dentro das comunidades, as políticas podem conseguir uma ação concreta no sentido de enfrentar os problemas sociais a que elas se propõem. Essa característica torna necessária a formação de algumas parcerias/alianças para potencializar o resultado final proposto por essas políticas sociais.

Nessa proposta, as universidades quando desenvolvem projetos de extensão junto a comunidades menos favorecidas poderiam começar a incentivar essa relação entre comunidade acadêmica e população de maneira mais integrada, potencializando seus efeitos benéficos, fazendo assim:

[..] dos projetos extensionistas verdadeiros laboratórios de pesquisa estimulando o intercâmbio dentro e fora da Universidade, assim como a efetivação de parcerias com instituições públicas e privadas, promovendo uma discussão política com a sociedade que é a maior interessada nesse debate. Enfim é a partir dessas ações e a troca de vivências e experiências é que vamos poder avançar na elaboração das políticas públicas de esporte e lazer em nossa sociedade (VIANNA, 2006, p. 22).

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Os representantes locais desempenham através do processo de mediação cultural papel-chave “no processo de socialização, objetivando ampliar oportunidades, transmitir valores, construir identidades, transformar trajetórias e projetos diante da situação de risco e vulnerabilidade social” (PERES, 2005, p. 20).

Quando tratamos de políticas públicas deve-se ter em mente a sua real necessidade dentro de uma sociedade, cada governo em suas diferentes esferas deve promover políticas públicas para gerenciar alguns problemas que a sociedade apresenta na maioria das vezes em virtude de fatores econômicos. Políticas Públicas são fundamentais ao se referir às chamadas "questões de fundo", as quais “informam, basicamente, as decisões tomadas, as escolhas feitas, os caminhos de implementação traçados e os modelos de avaliação aplicados, em relação a uma estratégia de intervenção governamental qualquer” (HOFLING, 2001, p. 12).

Nesse sentido, faz-se necessário uma diferenciação entre o Estado e o governo, pois a implementação dessas políticas é desenvolvida a partir do entendimento das especificidades e particularidades de cada um deles. “Entende-se como Estado o conjunto de instituições permanentes como órgãos legislativos, tribunais, exército” que não formam um bloco monolítico necessariamente que possibilitam a ação do governo; e “Governo, como o conjunto de programas e projetos que parte da sociedade (políticos, técnicos, organismos da sociedade civil e outros)” propõe para a sociedade como um todo, configurando-se a orientação política de um determinado governo que assume e desempenha as funções de Estado por um determinado período (HOFLING, 2001, p. 12).

Na atualidade, “as políticas públicas ocupam um papel estratégico na construção de uma sociedade solidária” (SANTOS, 2003, p. 4), buscando promover uma diminuição das diferenças de caráter econômico e social entre os indivíduos pertencentes a uma mesma sociedade. Dentro dessa garantia de atividades temos o esporte e o lazer que são de extrema importância para desenvolvimento dos indivíduos.

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Para que “uma política pública exista é necessário que as diferentes declarações e/ou decisões sejam reunidas por um quadro geral da ação que funcione como uma estrutura de sentido” (MULLER; SUREL, 2000, p. 5). Esse quadro geral pode ser visto na Constituição Federal e nas leis infraconstitucionais que lhes dão operacionalidade. Portanto, ao iniciar uma análise sobre a elaboração e implementação de políticas públicas torna-se condição sine qua non identificar

como se processam os jogos políticos, mais que isso, como as leis são postas em ação. Para Faleiros (2004, p. 6) “essa correlação de forças não segue um padrão, ou seja, não se efetiva sempre da mesma forma”, o que aciona uma tendência à existência de alianças, divisões, pressões e contrapressões com o objetivo de manter o Estado como poder articulador geral da sociedade.

Baseado nesse jogo de forças políticas que vão direcionar as escolhas para o desenvolvimento e aplicação das mais diferentes políticas dentro do Estado, um fator não pode ser esquecido. Nesse sentido, Flexor; Leite (2007) complementam que essa dinâmica pode ser traduzida como o resultado de um processo político que visa igualar as preferências de acordo com os interesses de quem detém o poder em organizações e instituições. Em síntese, a criação de uma política esportiva abrangente poderia resultar, em uma formação social baseada no esporte de maneira mais concreta, podendo levar a benefícios ligados a aspectos psicossociais mais presentes levando a construção de uma sociedade mais igualitária e justa.

O papel das políticas de esporte e de lazer em um projeto de sociedade progressista(baseada nas mudanças e modernidades) deve ser prioritário, não no sentido de estar à frente de outras políticas, mas de estar integrada a estas, promovendo uma potencialização das ações, aumentando as chances de alcançar os objetivos propostos.

Considerando os vários aspectos existentes na sociedade brasileira, a possibilidade do esporte e do lazer serem políticas prioritárias são reduzidas. No entanto, segundo Santos (2003, p. 14), “se o esporte e o lazer não estão no mesmo patamar de outras políticas públicas prioritárias como habitação, saúde e educação” também é verdade que o Estado nunca ignorou totalmente essa área. Ou também como afirma Linhares (2001, p. 49):

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acabam por constituir mecanismos de seletividade. Nesse sentido, alguns setores acabam sendo priorizados em detrimento de outros, tanto em função de um ordenamento de prioridades sociais (uma política de saúde pode ser considerada mais urgente que uma política de esporte), quanto em função do potencial mobilizatório de cada setor (é mais provável que os setores organizados de uma população se mobilizem em torno de uma política salarial do que para reivindicar espaços e estruturas de lazer).

Pode essa diferenciação entre as políticas de esporte e lazer junto às comunidades menos favorecidas, causar a situação de exclusão social enfrentada pelas camadas populares e população favelada está longe de anular a capacidade reflexiva e crítica, de produzir cultura, gerar conhecimento, enfim, de “criar e recriar uma sociabilidade cotidiana, participando de diversas formas de associativismo e manifestações coletivas” (PERES, 2005, p. 1).

Para fazer a ponte entre o mundo dos favorecidos economicamente e o dos desfavorecidos é necessário a participação dos líderes comunitários comprometidos com as causas sociais que percebem a capacidade e a “potencialidade de que iniciativas no campo do lazer, esporte e cultura possam atenuar ou remediar de certo modo essa situação de exclusão, na medida em que apresentam alternativas a estes jovens e crianças” (PERES, 2005, p. 5).

Assim, apesar de as “lideranças comunitárias transitarem entre diversas estratégias há uma predominância de um aspecto que podemos chamar de

transformativo ou reflexivo” (PERES, 2005, p. 5), provocando atitudes de caráter

transformador da realidade vivida por esses indivíduos e sua comunidade ao mesmo tempo em que ocorre uma reflexão mais concreta sobre os problemas existentes dentro das suas comunidades e somente a partir dai desenvolver ações direcionadas para a resolução dos problemas mais presentes e com isso melhorar as condições de suas comunidades.

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passando por um processo constante de exclusão, estando sempre à margem da sociedade e das práticas de cidadania, limitando-se ao mínimo de condições estruturais e pequenas medidas como as diversas “bolsa auxílio”, mantendo uma cultura assistencial paliativa e eleitoreira.

Esses processos de beneficiamento assistencialista, algumas vezes influência as lideranças comunitárias, pois essas lideranças, funcionam como

mediadoras culturais “estão associadas às representações e às categorias de

pensamento e classificação que possuem a respeito do que eles denominam lazer, esporte e cultura“ (PERES, 2005, p. 8). Essa condição lhes permite identificar e conviver com situações concretas da vida social dessas comunidades desfavorecidas, que, muitas vezes, não são compreendidas.

Deve-se destacar, neste sentido, que o problema central se circunscreve ao

tempo qualificado como ocioso. “É o não ter o que fazer que se constitua em

tempo-arriscado ou tempo-problema” (PERES, 2005, p. 9). O ócio pode caracterizar o fator

catalisador de problemas sociais graves dentro das comunidades, porém o ócio também pode ser criativo, e nessa perspectiva é muito importante para vida das pessoas. Contudo, o importante é que esta perspectiva se configura numa equação que conjuga a falta de oportunidades, ou seja, "não ter o que fazer", às condições de pobreza e exclusão social com todas as suas variáveis, resultando no risco da inserção de crianças e jovens na criminalidade. Cultura, lazer e esporte são vistos, sobretudo, como meios que podem modificar essa situação de ausência de atividades e, por conseguinte, os processos de criminalidade entre crianças e jovens e não como fins em si mesmos (STUCCIHI, 2009).

Analisando outro aspecto das políticas públicas de esporte e lazer, Peres (2005, p. 13) “propõe reflexões acerca do percurso e do lugar da Educação Física e do Esporte Escolar como objetos de políticas públicas do projeto liberal no Brasil”, reconhecendo a importância da preocupação com a formação da cidadania em relação à melhoria da vida dos indivíduos pertencentes à sociedade.

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importância dessa prática dentro de uma sociedade. É fundamental que se aponte para as reais contribuições do esporte e lazer quando desenvolvidos de maneira adequada com ações concretas com vistas a contribuir para a melhoria da vida e a solução de problemas sociais graves inerentes à sociedade moderna atual.

O valor da prática esportiva e de lazer ajudar no desenvolvimento de aspectos sociais importantes, necessitando de um conjunto de situações e não apenas que os representantes do poder público percebam a força dessas práticas como fator transformador. Somente quando o poder público assumir uma postura mais determinada e com isso incentivar as práticas de esporte e lazer dentro da sociedade poderá ter políticas públicas de ação direta nessas áreas que sejam percebidas com a mesma importância e prioridade que as demais políticas, não ocorrendo negligência por parte dos governantes, e, por conseguinte, podendo modificar de maneira concreta a conjuntura social vigente.

Os programas de políticas públicas de esporte e lazer têm estado em pauta nos últimos anos (NORONHA, 2006, p. 10) tendo como marco a criação do Ministério do Esportes em 2003 e as secretarias estauais,municipais de Esporte pelo país para atender a demanda da lei prevista na Constituição Federal de 1988, buscando atender a uma demanda social crescente que é a necessidade de atividades de esporte e lazer para o tempo livre da população de nossas cidades que objetivem melhorar a vida das comunidades, tendo como conseqüência, o aumento da importância do esporte e lazer na organização urbana, relacionado ao bem-estar físico e social das populações.

Nesse sentido, essas políticas deve atingir os segmentos sociais e a periferia da cidade, buscando a distribuição democrática de recursos existentes com prioridade quanto aos recursos públicos para as práticas desportivas, podendo possibilitar a incorporação dessas práticas à dinâmica da cidade e consequentemente contribuindo para a afirmação cultural e de cidadania. Nessa perspectiva o Projeto Bola na Mão Gol Cidadão se apresenta como possível opção de catalisador dessas transformações sociais necessárias para a melhoria da vida nas grandes cidades.

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prática esportiva de maneira organizada e eficiente como, por exemplo, atividades meio ou complementar em políticas educacionais e de saúde. Porém, segundo Linhares (2001, p. 7), há que se ressaltar “a importância do esporte como bem cultural, historicamente construído pela humanidade e, portanto, passível de ser legitimado como um direito de todos”.

A prática de atividades físicas, esportivas, recreativas e de lazer por toda população, representa um conjunto de elementos que contribuem para o bem estar físico e mental, para promoção da saúde, o aproveitamento do tempo livre e a elevação da qualidade de vida sendo instrumento de educação permanente dos indivíduos, através da inclusão e integração dos mesmos devem contemplar toda a população, respeitando as características e necessidades específicas, dando ênfase aos cidadãos mais excluídos (FILLl, 2008, p. 6).

Existe um discurso relativamente disseminado sobre a capacidade de integração social do esporte. Segundo ele, as pessoas, nas atividades esportivas, participam conjuntamente, independentemente de classe, sexo, religião, etnia, idade, origem. Nesses espaços as diferenças são esquecidas e todos se irmanam em torno de suas agremiações. Nessa proposta a classe social se apresenta como uma “variável bastante importante para a compreensão das relações sociais, particularmente para o entendimento do processo educacional, já que as classes sociais menos favorecidas são vítimas de um processo excludente discriminatório, ficando muitas vezes cerceados do direito às práticas de esporte e lazer” (ASSUMPÇAO, 2003, p. 37) por suas diferenças diversas.

Buscando enfrentar esse problema, projetos sociais como o ProjetoBola na Mão Gol Cidadão, aparecem podendo conseguir garantir às comunidades mais carentes a condição de participação de atividades de esporte e lazer visando o bem estar psicossocial, contribuindo para melhoria de vida desses indivíduos.

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No Brasil, nas últimas três décadas, o conceito de políticas de esporte e lazer extrapolou a antiga perspectiva, onde predominava o esporte de rendimento, de competição, abrindo espaço para “o esporte e lazer popular, estimulando a participação de todos os segmentos da sociedade, através de práticas esportivas formais e não-formais e adaptando-se aos recursos e à cultura popular local“ (FILL

et al, 2008, p. 9).

Porém a criação de uma política pública passa por um processo complexo, onde se deve discutir a identificação dos diversos atores e dos diferentes interesses que permeiam a luta por inclusão de determinada questão na agenda pública e, posteriormente, a sua regulamentação como política pública. Assim, pode-se perceber a mobilização de grupos representantes da sociedade civil e do Estado que discutem e fundamentam suas argumentações, no sentido de regulamentar direitos sociais e formular uma política pública que expresse os interesses e as necessidades de todos os envolvidos (CARVALHO et al, 2002, p. 13).

Com base nessa perspectiva podem-se fazer alguns questionamentos sobre o Projeto Bola na Mão Gol Cidadão, tais como: por que um projeto social de esporte e lazer não foi transformado em política pública? Por que apesar da comunidade ter aceitado o projeto não houve nenhuma movimentação popular no sentido de pressionar os gestores públicos da Confederação de Handebol para manutenção do projeto como política pública? Quais interesses estão em jogo na decisão da não manutenção do projeto como política pública de esporte e lazer para essa comunidade carente?

Os questionamentos tomam como base a realidade observada no Projeto Bola na Mão Gol Cidadão da Vila Bandeirantes, em que, mesmo depois de ter sido encerrado oficialmente, a própria comunidade continuou ofertando práticas de esporte e lazer através de trabalho voluntário, demonstrando um interesse concreto na manutenção do mesmo e, reconhecendo sua ação eficiente no combate aos problemas sociais existentes no ambiente escolar e na comunidade do entorno. Esses são em muitos casos conquistas reais, fruto do empoderamento da população objetivo principal das políticas públicas.

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comunidade, configuraria uma perda significativa para possíveis garantias da melhoria de vida de seus indivíduos, pois políticas públicas de esporte e lazer permitem de maneira facilitada o contato com atividades criativas e prazerosas, que preservam a identidade e a história das comunidades, dos grupos e subgrupos sociais marginalizados, resgatando e valorizando práticas presentes em suas manifestações autênticas de idéias expressivas e criativas da cultura popular.

Dessa forma, as políticas sociais básicas são inesgotáveis, são meios de se garantir direitos incondicionais de todos os sujeitos. Cabe ao poder público, em parceria com a sociedade civil, construir políticas públicas de esporte lazer para satisfazer essas necessidades e desenvolver cidadãos ativos que, sejam capazes, segundo Pereira (2009, p. 4), “de desfrutar uma vida prolongada e saudável”.

2.4 A SOCIOLOGIA DE BOURDIEU E O PROJETO BOLA NA MÃO GOL CIDADÃO

Em nossa sociedade do século XXI, percebe-se que as diferenças são cada vez maiores, obrigando os sujeitos a seguir uma linha de conduta marcada por algumas características dominantes como condição para uma participação plena e para conseguir usufruir dos direitos básicos de todo cidadão.

A grande maioria das pessoas não consegue exercer de maneira plena sua cidadania, experimentando grandes problemas de ordem social, política, econômica e cultural. Nessa luta os participantes de grupos menos favorecidos ficam em desvantagem gerando um quadro de desigualdade e discriminação, não simplesmente resultante de diferenças no âmbito econômico.

Segundo Bourdieu (1990), a redução do campo social e do espaço multidimensional ao campo econômico não permite ter uma visão mais ampla da realidade e desse modo poder entendê-la em sua complexidade.

[...] erro maior, o erro teoricista encontrado em Marx, consistiria em tratar as classes no papel como classes reais, em concluir, da homogeneidade objetiva das condições, dos condicionamentos e, portanto das disposições, que decorre da identidade de posição no espaço social, a existência enquanto grupo unificado, enquanto classe (BOURDIEU, 1990, p. 156).

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material, economicamente mensurado seria um erro extremamente grosseiro. As classes sociais devem ser pensadas como algo mais amplo em que diferentes enfrentamentos simbolicamente arquitetados vão ser formados em diferentes campos de ação causando uma organização social de classes dinâmica e mutável variando em função do habitus, campos e capitais presentes em cada individuo

pertencente a uma comunidade socialmente construída. Ao trabalhar com a perspectiva apenas econômica se “ignora as lutas simbólicas desenvolvidas nos diferentes campos, nos quais está em jogo a própria representação do mundo social e, sobretudo, a hierarquia no seio de cada um dos campos e entre os diferentes campos” (BOURDIEU, 1990, p. 133).

Portanto, a questão da diferença social é claramente indissociável da crença na legitimidade de um bem, de um saber ou de uma prática, isto é, indissociável daquilo que poderíamos chamar de grau de desejabilidade coletiva que existe a seu

respeito. “De fato, o que separa uma diferença social e uma desigualdade social é o

acesso a toda uma série de bens, práticas, saberes, instituições etc”. (LAHIRE, 2003, p. 24).

Nessa perspectiva pode-se entender a limitação das análises que levam em consideração apenas a questão econômica, mascarando um processo contínuo de segregação e separação social que tem raízes mais profundas e diversificadas. Buscar as demais vertentes que se agregam à econômica é fundamental para entender os processos de legitimação de um poder construído historicamente pelos grupos sociais dominantes.

A partir da idéia apresentada anteriormente é que as comunidades menos favorecidas economicamente são formadas e engendradas com o peso do preconceito e da segregação social. Porém, esses grupos, apesar das adversidades, de diversas formas, vêm lutando contra o discurso dominante que os deprecia, buscando assim alternativas para combater esta situação incômoda, marcadamente histórica. A criação de uma diferença, qualquer que seja, é também política, pois cria a desigualdade, quando se constroem hierarquias e valores sociais.

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Nesse quadro de incertezas e lutas socialmente construídas pode-se analisar a prática de esportes, no caso desse estudo, o Handebol dentro de comunidades menos favorecidas pode se constituir em um grande aliado no processo de incluir e não discriminar.

O reconhecimento do esporte como canal de socialização positiva ou inclusão social, é revelado pelo crescente número de projetos esportivos destinados aos jovens das classes populares, financiados por instituições governamentais e privadas. Na literatura em educação física, esportes e lazer, sociologia e em outras áreas, são apresentadas indicações dos benefícios proporcionados pela prática regular de esportes, na formação moral ou da personalidade dos seus praticantes (VIANA; LOVISOLO, 2009, p. 44).

As propostas teóricas e políticas, as possibilidades de profissionalização, a formação estética dos corpos, o impacto positivo sobre a saúde e o campo multifacético do lazer, da sociabilidade, do entretenimento são atrativos conhecidos dentro de nossa sociedade, porém contraditórios, pois, apesar das possibilidades da prática esportiva e do lazer apresentarem benefícios propagados e conhecidos pela grande maioria da sociedade, ainda existe alguns problemas de aceitação e manutenção dessas práticas por “algumas pessoas, parece existir uma contradição entre a amplidão e aparente profundidade das crenças que as pessoas possuem sobre seus benefícios e a baixa adesão à atividade física sistemática” (VIANA; LOVISOLO, 2009, p. 147).

Partindo desse pressuposto pode-se entender que existe algo além da simples execução motora. A relação entre os benefícios anunciados através da prática da atividade física e a sua real aceitação pela sociedade em geral, nos mostra que deve haver algo bem mais determinante envolvido no processo de escolha para pratica da atividade física, que simplesmente o gosto pessoal.

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Seria essa falta de apoio por parte do poder público o ponto crucial para não haver a preferencia em larga escala da sociedade pelas práticas de atividades físicas e esportes? Pode-se considerar que existe algo bem mais complexo por traz dessas escolhas sobre à prática da atividade física e esporte que somente o grau de oferta das mesmas? Essas questões são determinantes para entendermos as contribuições da sociologia desenvolvida por Bourdieu, principalmente para responder problemas complexos sobre as escolhas da prática da atividade física e esporte e sua posterior manutenção dentro dos mais variados nichos sociais.

Observa-se que a atividade física e o esporte são ferramentas fundamentais para proporcionar a qualquer grupo social um ingresso em alguma atividade coletiva, podendo usufruir dos benefícios sociais, psicológicos e físicos decorrentes dessa atividade.

Esse sentimento de pertencer a um grupo promove, mesmo que de maneira discreta, a constatação de se considerar incluído no meio social, o que já é um começo. Mas para que esse fenômeno possa acontecer com maior intensidade agregando um número cada vez maior de pessoas, devemos ter em mente uma questão muito importante, que é a formação do habitus.

Segundo Brandão (2010), o habitus, o conceito fundamental na concepção

de Bourdieu, tem sido alvo da maior parte das críticas, pois a ele se atribui frequentemente um caráter mecânico e inescapável de produtor da "reprodução" social. Entretanto, Bourdieu ressaltou inúmeras vezes que a noção de habitus visava

marcar uma ruptura com a filosofia intelectualista da ação, que se fundava no pressuposto do caráter racional de toda a ação verdadeiramente humana.

O habitus é um operador de racionalidade, mas de uma racionalidade prática, imanente a um sistema histórico de relações sociais e, portanto transcendente ao indivíduo (Bourdieu, 1990, p. 26).

Deve-se entender que a sociologia de Bourdieu chama a atenção para a indissociável relação entre os campos e o habitus. O habitus é um saber agir

aprendido pelo agente na sua inserção em determinado campo. O campo na proposta de Bourdieu, se concretiza pelo local onde os sujeitos sociais se apresentam, travando suas lutas e conquistas, sempre baseados no habitus

(37)

produção e consumo de bens, com regras próprias de funcionamento e relações entre agentes pertencentes aos campos que buscam possuir o capital necessário para dominá-lo.

O habitus garante a coerência entre a sociedade e o indivíduo; “fornece a

articulação e a mediação entre o individual e o coletivo” (BOURDIEU, 1990, p. 27). Por meio desta noção, surge um pensamento específico da produção social dos agentes e de suas lógicas de ação. Na sociedade as forças sociais vivem num equilíbrio constante e instável possibilitado pela formação de habitus que se

materializam em enfrentamentos desenvolvidos no campo socialmente construído.

[...] resultado de uma correlação dialética entre a situação dada socialmente, o campo (visto como um espaço social de dominação e conflito), e o habitus (visto por ele como um sistema de disposições e predisposições mais ou menos duráveis que integram muitas experiências passadas) (MURAD, 2009, p. 125).

Através da definição de habitus se vê que estes são caracterizados por

serem, atitudes interiorizadas e que funcionam como princípios inconscientes de ação, percepção e reflexão, que muitas vezes são reproduzidos quase sem nossa consciência acontecendo de maneira espontânea, ou seja, não se manifesta de forma obrigatória, controlada.

Nesse sentido Murad (2009, p. 127), divide o habitus em dois componentes

básicos: o Ethos e a Hexis.Ethos: princípios ou valores em estado prático, a forma

interiorizada e não-consciente da moral que regula a conduta cotidiana: são os esquemas de ação, mas de maneira inconsciente.” Hexis: corresponde às posturas,

disposições do corpo, relações ao corpo, interiorizadas inconscientemente pelo indivíduo ao longo de sua história. Essa conceituação de ethos e hexis também é

corroborada por Junior (2009), quando traça conceitos sobre os dois elementos constituintes do habitus. Observe o que diz Bonewitz (2003) sobre essa questão:

O habitus é simultaneamente a grade de leitura pela qual percebemos e julgamos a realidade e o produtor de nossas práticas. Gostar mais de cerveja do que de vinho, de filmes de ação do que de filmes políticos, votar na direita mais do que na esquerda são produto do habitus. Do mesmo modo, andar com o tronco erguido ou curvado, ser desajeitado ou ter

facilidade nas relações interpessoais são manifestações da hexis corporal.

Enfim, considerar determinado indivíduo como pequeno, mesquinho, ou,

pelo contrário, generoso, brilhante, depende do ethos (BONEWITZ, 2003, p.

Referências

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