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REPOSITORIO INSTITUCIONAL DA UFOP: Epidemiologia das riquetsioses em área de foco silencioso para febre maculosa brasileira, município de Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais.

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Academic year: 2019

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO

DÁRLEN CRÍSTHIÊ H. PENA

EPIDEMIOLOGIA DAS RIQUETSIOSES EM ÁREA DE FOCO

SILENCIOSO PARA FEBRE MACULOSA BRASILEIRA, MUNICÍPIO DE

SANTA CRUZ DO ESCALVADO, MINAS GERAIS, 2005 – 2006.

(2)

DÁRLEN CRÍSTHIÊ H. PENA

EPIDEMIOLOGIA DAS RIQUETSIOSES EM ÁREA DE FOCO

SILENCIOSO PARA FEBRE MACULOSA BRASILEIRA, MUNICÍPIO DE

SANTA CRUZ DO ESCALVADO, MINAS GERAIS, 2005 – 2006.

Dissertação de mestrado apresentada ao Núcleo de Pesquisas em Ciências Biológicas da Universidade Federal de Ouro Preto, como requisito para obtenção do grau de mestre em Ciências Biológicas, na área de concentração em Biologia Molecular.

Orientador: Márcio Antônio Moreira Galvão Co-orientador(a): Renata Nascimento de Freitas

Cláudio L. Mafra

(3)
(4)
(5)

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho aos meus dois grandes mestres na arte da vida: meus

pais e à minha linda filha Ana Gabriela, onde deposito os mais belos

(6)

AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus por me iluminar, me confortar e me fortalecer em todos os momentos da minha vida.

À minha amada filha, Ana Gabriela, por me compreender e me sustentar com seu amor e sua graciosidade. Por você, tudo vale a pena! Wellington, parabéns por ser o pai que é para ela! Aos meus queridos pais, David e Glória, que me ensinaram a persistir na luta dos meus sonhos, com coragem e esforço. Essa conquista também é de vocês! O meu eterno amor, admiração e agradecimento, por mim e por Ana Gabriela! Tenho muito orgulho de vocês! Aos meus queridos irmãos, Gêner, Breno e Geórgia por fazerem parte dessa família tão especial. Amo muito vocês! A você, Geórgia, meu eterno agradecimento por todos os momentos bons e difíceis dessa vida acadêmica. A você, Ingrid, minha irmã de coração, que, mesmo longe, sempre esteve presente em toda a minha jornada.

Ao Prof. Márcio Galvão, por ter me dado a oportunidade de começar a entender essa ciência tão interessante e tão instigante como a Rickettsiologia. Está valendo muito a pena! Obrigado mesmo!

À Renata, pela paciência e atenção dispensada sempre que precisei e também pelo exemplo de profissionalismo! Você nos motiva a sempre buscar mais!

Ao Mafra (UFV), que mesmo distante sempre me orientou, apoiou e me fez acreditar que “no fim, tudo dá certo”! Obrigada também pela assistência nas coletas de Santa Cruz.

Ao Dr. David Walker, não só por apoiar o projeto financeiramente, mas por toda confiança que depositou neste trabalho. Obrigado pelos conselhos e orientação nas pesquisas!

Aos queridos amigos, os Guardas da FUNASA, Ércio, José Paulo e Carlinhos, por toda a dedicação e profissionalismo nas coletas. Minha eterna admiração e respeito!

Ao prefeito de Santa Cruz do Escalvado, Geraldo de Aquino Filho e em especial à Mazarello, coordenadora do Serviço de Vigilância Sanitária do município por toda boa vontade, acolhida e disponibilidade. Também à Graziele, Eliseu e Dinho (Posto de Saúde) por toda atenção e colaboração nas visitas.

À Simone Calic, coordenadora do Laboratório de Rickettsioses e Hantaviroses (FUNED) por todo o apoio e disponibilidade na análise sorológica.

(7)

Aos meus amigos do Laboratório de Epidemiologia Molecular (LEM): Cris e Dê pela amizade e companheirismo em todos os momentos. Sem vocês, não seria possível! Ao Dick, Bruno e Amanda (“Turma das Riquétsias”) também pela amizade, trabalho e principalmente as viagens. Vão deixar saudades! Ao Dalton que, com sua amizade e carinho, me amparou em vários momentos! Obrigada por tudo! E ao Wander e Fabrício “Lerê”, obrigado também! À Rosângela, pelo apoio no laboratório!

Aos amigos distantes: Yara, Maria Carol, Danielle, Michael “Bigode” que, de forma importante, também fizeram parte dessa etapa.

A todos os professores do NUPEB e amigos de mestrado, em especial a Arlete, Lizi, Cléia, Lili, Valéria, Victor, Nilze, Juliana Boechat e ao querido Vinícios: saudade eterna!

Ao meu querido amigo “de infância”, o professor André Talvani, por toda a disponibilidade e colaboração nos momentos que precisei. Você é um exemplo para os pesquisadores! Tenho muito orgulho de você!

Aos professores Milton (Biofísica), Babá e Elísio (Biologia Celular), Terezinha (Parasitologia), Ieso (Biologia Molecular), Marcelo (ENUT) também pela disponibilidade e colaboração.

Ao Reitor Prof. João Luiz que, mesmo de forma indireta, acompanhou a jornada de toda a família Pena nesta instituição. Por sua causa, nunca mais esquecerei o Cálculo I! Obrigado pelo seu exemplo e seriedade no que faz!

Aos habitantes de Santa Cruz do Escalvado, em especial à D. Santinha que sempre nos acolheu com todo cuidado e atenção em sua pensão. Ao Sr. Bino e esposa (Fazenda Escalvado), obrigado pela companhia nas coletas da fazenda e também pelo belo cafezinho!!! À Escola Polivalente, aos diretores que sempre compreenderam a minha luta, principalmente agora no final; em especial a todos os meus alunos que, além de entenderem, sempre me apoiaram de forma positiva. Aos amigos Kelly, Rosângela, Arquimedes, Lourival, Patrícia, Cidão, Sônia, entre outros, que estiveram sempre presentes nos momentos bons e difíceis dessa etapa.

À Luciana do Laboratório de Bioquímica e Biologia Molecular (UFV) que não mediu esforços para me ajudar! Obrigada por tudo!

(8)

Ao Transporte da UFOP, em especial ao Rogério que sempre se disponibilizou para o cumprimento das viagens. E aos motoristas que tantas vezes nos acompanharam com amizade e profissionalismo.

Aos meus grandes amigos de Monlevade, Kátia, Alessandra, Tia Maura, Sirley, entre outros, que mesmo distantes me apoiaram e incentivaram sempre! Muitas saudades!

À Cecília Kaiser, Patrícia, Luíza e Lucas por fazerem parte da minha vida, sempre dispostos em me acolher com carinho e paciência. Amo vocês! Ao Nino, obrigado pelo inglês e pela amizade também!

Aos amigos da República Bicho do Mato e Pulgatório pela amizade e pelas ótimas festas! A todos aqueles que de alguma forma participaram deste trabalho....

(9)

"O que me tranquiliza

é que tudo o que existe,

existe com uma precisão absoluta.

O que for do tamanho de uma cabeça de alfinete

não transborda nem uma fração de milímetro

além do tamanho de uma cabeça de alfinete.

Tudo o que existe é de uma grande exatidão.

Pena é que a maior parte do que existe

com essa exatidão

nos é tecnicamente invisível.

O bom é que a verdade chega a nós

como um sentido secreto das coisas.

Nós terminamos adivinhando, confusos,

a perfeição."

(10)

R

ESUMO

A Ordem Rickettsiales abriga um grupo de parasitas intracelulares obrigatórios, responsáveis por várias doenças humanas conhecidas como riquetsioses. Artrópodes hematófagos e seus hospedeiros são responsáveis pela disseminação da doença ao homem. Desde a década de 20, o Brasil apresenta histórico de doença riquetsial, onde a febre maculosa Brasileira destaca-se como a mais comum e a mais letal dessas riquetsioses. Embora os métodos sorológicos ainda sejam os mais indicados na confirmação da doença, o emprego de técnicas de biologia molecular vem modelando uma nova realidade ao diagnosticar e detectar cada vez mais patógenos específicos em todo o mundo. O município de Santa Cruz do Escalvado, localizado no Vale do Piranga, Zona da Mata, Minas Gerais, é considerado foco antigo para riquetsioses. Dentro do município, na localidade de Soberbo foi construída em 2004, a Usina Hidrelétrica de Candonga, alterando assim, a paisagem natural da região. Com o objetivo de compreender a atual situação desse município, dentro de uma concepção de ocupação e transformação do espaço geográfico como nosso marco teórico, buscamos avaliar o nível de transmissão de riquetsioses na população de animais domésticos e silvestres coletados em duas localidades pertencentes ao município, utilizando métodos sorológicos e ferramentas da biologia molecular. Foram capturados 94 vertebrados silvestres dentre eles, os roedores Rattus rattus, Nectomys squamipes e Oryzomys subflavus, além de gambás Didelphis aurita. Dos roedores capturados, foram obtidos tecidos (fígado e baço). Foram coletados 427 ectoparasitos, entre Amblyomma cajennense, Rhipicephalus sanguineus, Anocentor nitens, Boophilus microplus e pulgas da espécie Ctenocephalides canis em animais domésticos (cães e eqüinos). Foram também coletadas 166 amostras de soro dos roedores e dos animais domésticos, sendo estas submetidas à reação de imunofluorescência indireta utilizando antígenos específicos para Rickettsia rickettsii, Rickettsia parkeri, Rickettsia felis, Rickettsia bellii e Rickettsia amblyommii. Após a extração de DNA das amostras de tecidos de roedores e de pools dos ectoparasitos coletados, foi realizada a amplificação através de PCR duplex, contendo pares de oligonucleotídeos iniciadores gênero-específicos (CS e 17kDa), sendo o produto obtido reamplificado com um par de iniciadores internos de 17 kDa (full nested PCR). Os produtos amplificados foram visualizados em gel de poliacrilamida 8% corado pela prata e as amostras positivas foram purificadas, seqüenciadas e comparadas com outras seqüências depositadas no GenBank. A análise das seqüências obtidas de tecidos de roedores permitiu a identificação do gênero Rickettsia em pools de ectoparasitos das espécies A. cajennense, A. nitens e B. microplus coletados em eqüinos e da espécie R. sanguineus em pulgas coletadas em cães. Os dados sorológicos apontam o R. rattus como o único roedor sororeativo com 81,25% de positividade para riquétsias do Grupo da febre maculosa, comparado aos demais roedores capturados, cujos resultados sorológicos foram negativos. Foi também encontrada uma freqüência sorológica relativamente expressiva entre os gambás capturados apresentando 14,3% para R. rickettsii e 14,3% para riquétsias do Grupo da febre maculosa (GFM). Os eqüídeos apresentaram 5,4% de sororeatividade para R. bellii e 2,7% para riquétsias do GFM, enquanto os cães apresentaram somente 2% para R. rickettsii e 2% para R. parkeri.

(11)

A

BSTRACT

The Order Rickettsiales evolves a group of obligate intracellular parasites, responsible for many diseases known as rickettsioses. Hematophagous arthropods and their hosts are responsible for the disease dissemination to man. Since the 20’s, Brazil shows a description of the rickettsial disease, where the Brazilian spotted fever appears as the most common and with more high case-fatality ratio rickettsiose. Although serologic methods continues to be most indicated in the disease’s confirmation, the use of molecular biology techniques has been molding a new reality in diagnoses and detect even more specific pathogens in the whole wide world. The city of Santa Cruz do Escalvado, located in the Piranga Valley, Zona da Mata, Minas Gerais, is considered an old focus for rickettsioses. In the city, in Soberbo, was built in 2004 the hydroelectric UHE-Candonga, modifying then, the natural landscape of the place. Trying to comprehend the current situation of this place, considering the occupation and transformation of the geographic space, we have investigated the level of rickettsioses infection in domestic and wild animal’s population of two localities of the city, by using serologic and molecular biology methods. There were captured 94 wild vertebrates among them, the rodent Rattus rattus, Nectomys squamipes and Oryzomys subfalus, and also Didelphis marsupialis opossum. Of the rodents captured, was made a tissue collection (liver and spleen). There were collected 427 ectoparasites among Amblyomma cajennense, Rhipicephalus sanguineus, Anocentor nitens, Boophilus microplus and Ctenocephalides canis fleas in domestic animals (canines and equines). There were also collected 166 samples of serum of rodents and of domestic animals, and those samples were evaluated through indirect immunofluorescence reaction using specific antigen for Rickettsia rickettsii, Rickettsia parkeri, Rickettsia felis, Rickettisia bellii, and Rickettisia amblyommii. DNA obtained from rodent tissue samples and from pools of collected ectoparasites, was amplified by a PCR duplex system, with oligonucleotides primers pairs (CS and 17kDa genes), and the obtained product was re-amplified with a pair of inner primers for 17 kDa gene (full nested PCR). The amplified product were visualized in polyacrylamide gel 8% silver stained and the positive samples were purified, sequenced, and compared with others sequences in the GenBank. The analysis of the sequences obtained from rodent tissues allowed the identification of Rickettsia ssp sequence, as well as in pools of ectoparasites from A. cajennense, A. nitens and B. microplus species collected in equines and the R. sanguineus and fleas collected in canines. The serologic data points the R. rattus as the only rodent with 81,25% of seroreactivity to spotted fever-group rickettsiae (SFG) when compared to the rest of captured rodents, with negative serologic results. There were also found a relatively expressive serologic frequency among opossums captured with 14,3% to R. rickettsii and 14,3% to spotted fever-group rickettsiae (SFG). The equines showed 5,4% of seroreactivity to R. bellii and 2,7% to spotted fever-group rickettsiae (SFG), while canines showed only 2% to R. rickettsii and 2% to R. parkeri.

(12)

L

ISTA DE

F

IGURAS

F

IGURA

P

ÁG.

FIGURA 1- Mapa da localização do Vale do Piranga, no estado de Minas Gerais.

41

FIGURA 2- Vista da Pedra do Escalvado, Santa Cruz do Escalvado,

Minas Gerais, 2006. 43

FIGURA 3- Vista da UHE- Candonga, Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais.

43

FIGURA 4- Mapa do estado de Minas Gerais, indicando a posição do município de Santa Cruz do Escalvado em relação à capital, Belo Horizonte.

73

FIGURA 5- Foto da vegetação característica de uma área da região de

Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais. 74 FIGURA 6- Foto de uma área próximo à estrada do PRONAF,

Patrimônio, onde armadilhas foram dispostas para captura de animais silvestres. Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais, 2006.

75

FIGURA 7- Foto da localidade de São Sebastião do Soberbo, antes do

enchimento da barragem da UHE-Candonga. 76 FIGURA 8- Localização das localidades estudadas pertencentes ao

município de Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais.

76

FIGURA 9- Foto de local próximo a uma rua de Patrimônio (estrada do

PRONAF), Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais. 77 FIGURA 10- Foto de amostras de fígado e baço coletados de roedores

silvestres capturados em Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais, 2006.

78

FIGURA 11- Coleta de sangue em cães da localidade de Patrimônio. 79 FIGURA 12- Coleta de sangue em eqüinos da localidade de Soberbo. 80 FIGURA 13- Coleta de ectoparasitos em roedores pelo método do

penteado.

81

FIGURA 14- Foto de uma área da localidade de Soberbo, onde armadilhas foram montadas para captura de pequenos mamíferos (bambuzal).

(13)

FIGURA 15- Foto dos destroços de São Sebastião do Soberbo, antes do enchimento do lago de Candonga.

92

FIGURA 16- Foto do ácaro da espécie Gygantolaelaps goyannensis coletado em roedores silvestres no município de Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais.

95

FIGURA 17- Foto do gel de poliacrilamida 8%, corado pela prata, da reação PCR duplex de DNA extraído de pulgas com os pares de primers 17kDa (1 e 2) e CS (78 e 323).

101

FIGURA 18- Foto do gel de poliacrilamida 8%, corado pela prata, da reação Nested-PCR de amostras coletadas em ectoparasitos de animais domésticos (eqüinos e cães).

102

FIGURA 19- Foto do gel de poliacrilamida 8%, corado pela prata, da reação Nested-PCR de DNA extraído de tecidos de roedores com os primers N 17kDa 1 e N 17kDa 2, em gel de poliacrilamida 8%, corado pela prata.

(14)

L

ISTA DE

G

RÁFICOS

G

RÁFICO

P

ÁG.

GRÁFICO 1- Percentual de ectoparasitos coletados no município de Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais.

97

GRÁFICO 2- Percentual de carrapatos coletados em cães e eqüídeos em Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais.

97

GRÁFICO 3- Percentual de soros reativos para riquetsioses ao título de 1:64 à RIFI em Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais.

(15)

L

ISTA DE

Q

UADROS

Q

UADRO

P

ÁG.

QUADRO 1- Dados dos iniciadores utilizados na reação PCR duplex. 85 QUADRO 2- Descrição das etapas de amplificação utilizadas na PCR

duplex.

85

QUADRO 3- Dados dos iniciadores utilizados na reação nested-PCR. 86 QUADRO 4- Descrição das etapas de amplificação utilizadas na

nested-PCR.

86

QUADRO 5- Relação do número de roedores capturados, ectoparasitos coletados e descrição dos locais de captura desses roedores.

94

QUADRO 6- Resultado apresentado pela RIFI em amostras de soro coletadas em cães.

98

QUADRO 7- Resultado apresentado pela RIFI em amostras de soro coletadas em eqüídeos.

98

QUADRO 8- Resultado apresentado pela RIFI em amostras de soro coletadas em gambás.

98

QUADRO 9- Resultado apresentado pela RIFI em amostras de soro coletadas em roedores da espécie Rattus rattus. 99 QUADRO 10- Identificação e descrição do local de captura de animais

domésticos e silvestres positivos para o sequenciamento e resultado sorológico dessas mesmas amostras.

(16)

L

ISTA DE

T

ABELAS

T

ABELA

P

ÁG.

TABELA 1- Total de animais investigados no município de Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais, entre maio/2005 e março/2006.

93

TABELA 2- Distribuição das amostras coletadas em espécies de pequenos mamíferos silvestres para identificação de infecção natural por riquetsioses no município de Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais.

95

TABELA 3- Distribuição de espécies de ectoparasitos coletados no município de Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais, por sexo e estágio de acordo com seus respectivos hospedeiros.

96

TABELA 4- Percentual de positividade para o teste de imunofluorescência indireta em animais domésticos e silvestres coletados no município de Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais.

100

TABELA 5- Percentual de amostras positivas pela reação nested-PCR segundo espécie e fonte dos tecidos e ectoparasitos. 104 TABELA 6- Dados parciais da pesquisa de homologia das seqüências obtidas

de amostras de tecidos de roedores realizada com o Programa BLASTn.

105

TABELA 7- Resultados parciais da pesquisa de homologia das seqüências obtidas de amostras de ectoparasitos, realizada com o Programa BLASTn.

(17)

L

ISTA DE

A

BREVIATURAS

µg micrograma, 10 -6g

µL microlitro, 10 -6L

µM micromolar , 10 -6M

BSA albumina de soro bovino

ddNTPs dideoxinucleotídeos trifosfatados

DNA ácido desoxirribonucléico

dNTPs desoxinucleotídeos trifosfatados

EDTA ácido etileno-diamino-tetracético

ELISA enzyme linked sistem assay

et al. e colaboradores

FMB febre maculosa Brasileira

FUNASA Fundação Nacional de Saúde

GFM Grupo da Febre Maculosa

GT Grupo do Tifo

kDa kiloDalton

LB meio Luria-Bertani

M molar

MEM meio essencial mínimo

mL mililitro, 10 -3L

mM milimolar, 10 -3M

NaCl cloreto de sódio

NaOH hidróxido de sódio

ng nanogramas, 10 -9 gramas

OMS Organização Mundial de Saúde

°C graus Celsius

pb pares de bases

PBS solução de fosfato tamponada

PCR reação em cadeia da polimerase

(18)

primer oligonucleotídeo iniciador

pg picogramas, 10-12 gramas

RIFD reação de imunofluorescência direta

RIFI reação de imunofluorescência indireta

sp. espécie

spp. espécie não determinada

SBF soro bovino fetal

SDS duodecil sulfato de sódio

TAE tampão tris-acetato EDTA

Taq Termophilus aquaticus

TBE tris-borato EDTA

Tm temperaturas de anelamento

TESP tifo exantemático de São Paulo

UHE Usina Hidrelética

X-Gal 5-bromo-4-cloro-3-indol- β-D-galactosídeo

CVRD Companhia Vale do Rio Doce

(19)

S

UMÁRIO

1.

INTRODUÇÃO

21

2.

MARCOS TEÓRICOS

25

2 .1 RIQUETSIOSES NA LITERATURA CIENTÍFICA MUNDIAL 26 2 .2 RIQUETSIOSESNALITERATURACIENTÍFICA BRASILEIRA 28

2 .3 ESPAÇO E DOENÇA 37

2.3.1 O Espaço em seu nível Macro-Social 40

2.3.2 O Espaço-Doença em seu Nível Ecológico 44

2.3.2.1 O Agente e a Doença 44

2.3.2.2 A Doença e o Ambiente 47

2.3.2.3 Os Vetores e a Interação Riquétsia-Vetor 48

2.3.2.4 Os Mamíferos Hospedeiros e Reservatórios 55

2.3.3 O Espaço-Doença e o Indivíduo 62

2.3.3.1 Patogenia e Características Clínicas dasRiquetsioses 62

2.3.3.2 Diagnóstico Laboratorial das Riquetsioses 64

3.

O

BJETIVOS

70

3 .1 OBJETIVO GERAL 71

3 .2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS 71

4.

M

ETODOLOGIA

72

4 .1 A LOCALIDADE-ALVO DO ESTUDO 73

4 .2 MATERIAIS E MÉTODOS 77

4.2.1 Captura de Animais 77

4.2.2 Coleta de Ectoparasitos 80

4.2.3 A Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) em Ectoparasitos e em

Tecidos de Roedores

82

4.2.3.1 Extração de DNA 82

4.2.3.2 Padronização da PCR–Obtenção do Controle Positivo 83

4.2.3.3 Reação em Cadeia da Polimerase (PCR) 84

4.2.3.4 Seqüenciamento 87

(20)

5.

RESULTADOS

90

5.1 CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO 91

5.2 CAPTURA DE ANIMAIS E VETORES 92

5.3 SOROLOGIA ANIMAL 98

5.4 EXTRAÇÃO DE DNA 101

5.4 .1 PCR Duplex e Nested-PCR (Ectoparasitos) 102

5.4 .2 PCR Duplex e Nested-PCR (Tecidos Roedores) 102

5.4 .3 Seqüenciamento 104

6.

DISCUSSÃO

109

7.

CONCLUSÕES

118

8 .

PERSPECTIVAS

122

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

124

(21)
(22)

22 Em todos os continentes, com exceção da Antártida, são encontradas infecções causadas por riquétsias, cuja associação a artrópodes vetores como pulgas, carrapatos, piolhos e ainda ácaros, ampliam a sua distribuição em todo o mundo. O caráter altamente epidêmico é o que determina a gravidade da doença, levando a uma alta taxa de letalidade. Dentre essas enfermidades a febre maculosa Brasileira (FMB) é considerada a mais prevalente doença riquetsial no Brasil (LEMOS et al., 2001).

Sua fama é alarmante, sobretudo porque envolveu a morte de pesquisadores nos primórdios das investigações. A epidemia do tifo exantemático, pertencente ao grupo das riquetsioses, não poupou diversos cientistas, dentre eles, o brasileiro Henrique da Rocha Lima, convidado pela Alemanha durante a 1ª Grande Guerra (1914-18) para esclarecer sobre a epidemia. O cientista sobreviveu à doença após um grande período de convalescença, tendo tornado-se famoso internacionalmente pela descoberta da causa do tifo epidêmico (ou exantemático), uma doença transmitida pelo piolho do corpo que afligia combatentes e prisioneiros de guerra na Europa (MORAES, 1968).

(23)

23 Já no Brasil, a doença também teve um desfecho funesto. Em 1935, o destacado pesquisador José Lemos Monteiro da Silva e seu auxiliar Édison Dias, ambos do Instituto Butantã, foram infectados no laboratório triturando carrapatos infectados para produção de vacina contra a doença, vindo a falecer poucos dias depois no Hospital de Isolamento, hoje Hospital Emílio Ribas (FALCÃO, 1966).

Há muitos anos, conhecida popularmente, pelo homem do campo, como “sarampo preto”, a febre maculosa é capaz de desencadear microepidemias intrafamiliares. As ocorrências já foram mascaradas pelo sarampo, não menos letal entre os pobres. Após o controle do sarampo pela vacinação, a febre maculosa adquiriu maior visibilidade. Durante a longa epidemia de doença meningocócica dos anos 70 do século passado, a meningococcemia também encobriu casos (GALVÃO, 1988).

O interesse mundial pelas infecções humanas causadas pelo gênero Rickettsia é crescente não só pela identificação de várias espécies novas com seus respectivos quadros clínicos, mas também pelo reconhecimento de que sua incidência e distribuição são maiores do que se imaginava anteriormente (GALVÃO et al., 2005).

Nos últimos anos, vários casos de febre maculosa em humanos têm sido relatados no Brasil, principalmente nos Estados de Minas Gerais e São Paulo, sendo identificados também casos no Rio de Janeiro, Espírito Santo, Santa Catarina e Bahia. A letalidade da doença em casos não tratados pode chegar a mais de 80% (GALVÃO et al., 1992). De caráter emergente, a doença é considerada, desde o ano de 2002, como de notificação compulsória (SVS, 2002), sendo monitorada por um sistema de vigilância epidemiológica com uma rede de laboratórios de referência para enfermidades riquetsiais, a qual foi iniciada nos Estados de Minas Gerais e São Paulo.

(24)

24 animais suscetíveis e o aumento da disseminação geográfica da doença (BARLETT e JUDGE, 1997). Dessa maneira, o estudo da epidemiologia dessas doenças torna-se vital para o melhor conhecimento dos focos naturais das zoonoses, estabelecendo-se assim, os fatores de risco existentes em determinados ecossistemas, a circulação de agentes entre os animais silvestres, e a importância do conhecimento das doenças nestes animais subsidiando as ações dos serviços de Saúde Pública.

Tem sido fundamental a implementação de técnicas inovadoras que permitem a distinção entre as diferentes doenças riquetsiais (GALVÃO et al., 2004) destacando-se, aqui, a aplicação de diagnóstico molecular, possibilitando, dessa forma, a descoberta de novas espécies de riquétsias em todo o mundo (EREMEEVA et al., 1994; BILLINGS et al., 1998), a caracterização molecular do gênero Rickettsia, bem como esclarecimentos importantes em relação a outras já descritas (FOURNIER et al., 1998).

Buscando uma possível explicação para a eclosão de epidemias de febre maculosa em regiões já colonizadas, em contraposição à outra forma da enfermidade, que é a ocorrência de casos isolados em indivíduos que adquirem a doença ao entrar em contato com o vetor em áreas conhecidas ou não como endêmicas, Galvão dedicou-se, a partir de 1982, à investigação de casos e ao estudo da febre maculosa e seus determinantes no estado de Minas Gerais (GALVÃO, 1988).

Além do estudo de áreas endêmicas como municípios pertencentes aos Vales de Jequitinhonha e Mucuri, esse último autor também estudou áreas de focos isolados como o relato, em 1985, da existência de dois casos suspeitos de FMB no município de Santa Cruz do Escalvado-MG, pertencente ao Vale do Piranga, sendo um deles posteriormente confirmado através de necropsia (GALVÃO et al., 1989). Dessa época para cá, este município vem se comportando como área de foco silencioso.

(25)
(26)

26

2.1

R

IQUETSIOSES NA

L

ITERATURA

C

IENTÍFICA

M

UNDIAL

O primeiro relato da Febre das Montanhas Rochosas (Rocky Mountain Spotted Fever-RMSF) data de 1896 em Idaho, nos Estados Unidos, publicado pelo Major Marshal H. Wood, médico do exército americano, que juntamente com a população, acreditava que a doença estava associada à contaminação da água que provinha do degelo das montanhas, no início da primavera (HARDEN, 1990).

Em 1899, Maxcy descreve, pela primeira vez na literatura médica, as manifestações clínicas da doença ocorrida no vale do Snake River, em Idaho, definindo-a como: “doença febril endêmica, não contagiosa e infecciosa, caracterizada clinicamente por febre alta, dores musculares, artrite e erupções petequiais ou purpurais profusas na pele, surgindo inicialmente nos tornozelos, pulsos e testa, difundindo-se rapidamente para todas as partes do corpo” (RICKETTS, 1909).

No início do século XX, MacCalla e Brereton demonstraram a transmissão da doença por carrapatos removendo um exemplar encontrado em um paciente colocando-o, em seguida, para se alimentar em dois voluntários saudáveis que, subseqüentemente, desenvolveram a doença (WALKER, 1998). Ficava demonstrado, assim, que o aumento na temperatura, responsável por derreter a neve, era também responsável por retirar de um estado de latência milhões de carrapatos que estavam no ambiente.

Em 1904, os pesquisadores Wilson e Chowning deram grande contribuição nos passos iniciais de determinação da história natural das riquetsioses do grupo da febre maculosa, descrevendo sua distribuição geográfica e sazonal, a especificidade de incidência quanto ao sexo e idade, as taxas de letalidade, sinais clínicos e sintomas e as lesões patológicas. Esses autores documentaram, ainda, a ausência de um agente etiológico bacteriano convencional e predisseram que a doença tinha um agente etiológico infeccioso e um carrapato como vetor (AIKAWA, 1916).

(27)

27 Entre 1916 a 1919, Wolbach visualizou o agente etiológico por microscopia de luz, demonstrando ainda sua presença em ovos e todos os estádios de desenvolvimento do carrapato, bem como em endotélio e musculatura lisa vascular de humanos, entre outros vertebrados. Descreveu o agente e, em reconhecimento a contribuição de Ricketts, nomeou-o Rickettsia rickettsii (WOLBACH, 1919).

Com o passar dos anos, várias ouras riquétsias têm sido reconhecidas mundialmente. Na Europa, uma riquétsia do Grupo da Febre Maculosa (GFM), a Rickettsia conorii, agente da febre maculosa do Mediterrâneo ou febre Botonosa, tem sido reconhecida, assim como a sua patogenicidade em humanos, como também a Rickettsia slovaca, destacando-se ainda as Rickettsia sibirica, agente do tifo do carrapato do norte da Ásia ou tifo Siberiano.

Na Austrália, além da identificação da Rickettsia australis, agente do tifo do carrapato de Queensland e a Rickettsia honei, agente da “Flinder Islands spotted fever”, ambas pertencentes ao GFM, também têm sido reconhecida a Rickettsia typhi do Grupo do Tifo (GT). Recentemente novas espécies (ou subespécies) têm sido detectadas na Austrália, como a “Candidatus Rickettsia marmionii”, responsável por causar uma doença com sintomatologia crônica e aguda.

Em várias regiões, também têm sido descritas outras riquétsias como a Rickettsia japonica, agente da “Japanese spotted fever” descrita pela primeria vez em 1984, Rickettsia

akari (Ricketsiose variceliforme ou Riquetsiose vesicular) e a Rickettsia africae, agente da “African tick bite fever “, descrita em 1998.

(28)

28 Mais recentemente, Venzal e colaboradores (2006) descrevem a sua prevalência em pulgas do gênero Ctenocephalides no Uruguai. A sua patogenicidade em humanos foi demonstrada, pela primeira vez nos Estados Unidos, em 1994, por Schriefer e colaboradores. Após esse período, houveram duas comunicações de riquetsioses causadas por R. felis na América Latina. A primeira foi feita por Zavala-Velazquez e colaboradores em 2000 no México. Em 2001, Raoult e colaboradores descreveram a ocorrência de dois casos humanos no Brasil. Também foram descritos casos na França, Alemanha e Tailândia (RICHTER et al., 2002; PAROLA et al., 2003; ROLAIN et al., 2003).

A Rickettsia parkeri, agente da riquetsiose parkeri teve o primeiro caso de infecção humana reconhecida nos Estados Unidos em 2004 (PADDOCK et al., 2004). Neste mesmo ano, essa bactéria foi detectada em carrapatos Amblyomma. triste no Uruguai, sendo a R. parkeri a espécie considerada como o agente patogênico responsável pela doença neste país (VENZAL et al., 2004). Mais recentemente, têm sido confirmados outros casos de Riquetsiose parkeri em humanos nos Estados Unidos (RAOULT e PADDOCK, 2005; FINLEY et al., 2006; SUMNER et al., 2007; WHITMAN et al., 2007).

2.2

R

IQUETSIOSES NA

L

ITERATURA

C

IENTÍFICA

B

RASILEIRA

No Brasil, apesar da escassez de informações sobre as doenças que acometeram o país nos tempos pré-colonial e colonial, na “História da Companhia de Jesus no Brasil” o Frei Serafim Leite faz referência a uma carta de Anchieta, na qual há citação de epidemias de “tobardilho”, designação utilizada no México para o tifo exantemático mexicano (MAGALHÃES, 1952).

(29)

29 Em 1920, Ulhôa e colaboradores, publicaram a primeira confirmação laboratorial de riquetsiose no Brasil, através da reação de Weil-Felix. Piza e colaboradores, em 1929, publicaram uma monografia sobre o tifo exantemático de São Paulo, discorrendo sobre aspectos clínicos e epidemiológicos, descrevendo a anatomopatologia de 34 casos humanos e os resultados de seus estudos experimentais com animais de laboratório.

Iniciou-se, dessa forma, a sua distinção das demais doenças exantemáticas no Brasil, demonstrando a sua similaridade com a RMSF descrita pelos americanos. O agente etiológico do tifo exantemático de São Paulo (R. rickettsii) e seu carrapato vetor (Amblyomma cajennense) foram subseqüentemente identificados (PIZA et al., 1932). Outros casos da doença tornaram-se conhecidos não só em São Paulo, como também nos estados do Rio de Janeiro (MALAGUETA, 1940) e Minas Gerais (MAGALHÃES, 1952).

Uma indicação da ocorrência da doença em Minas Gerais data do início do século XVII através de registros, sendo citada, por mais de um século, por profissionais do norte do estado como “pintada”, “febre que pinta” ou “febre chitada”. A moléstia foi confundida durante muitos anos com febre tifóide, meningococcemia, sendo até mesmo diagnosticada, em 1909, no município de Queluz de Minas, atual Conselheiro Lafaiete, por Assis Andrade como “tifo exantemático” (MAGALHÃES, 1952).

Os pesquisadores Amílcar Viana Martins e Octávio de Magalhães foram os pioneiros na pesquisa da doença no estado de Minas Gerais. Na década de 30, José Lemos Monteiro realiza estudos sobre as relações entre o tifo exantemático de São Paulo (TESP) e RMSF comparando a patogenicidade experimental do agente da FMB com a R. rickettsii, agente da RMSF, detectando diferenças em relação aos sintomas das doenças (LEMOS-MONTEIRO e FONSECA, 1932).

Demonstrou, ainda, a transmissão interestadial do agente da TESP pelo carrapato A. cajennense, além de verificar a transmissão vertical do agente por fêmeas adultas do carrapato. Ao examinar tecidos internos do carrapato, o autor identificou a bactéria que havia sido descrita como Rickettsia brasiliensis e incriminada como o suposto agente etiológico do TESP (LEMOS-MONTEIRO e FONSECA, 1932).

(30)

30 Um ano depois, Gomes descreve o isolamento do agente etiológico do TESP, apontando o gênero Amblyomma como o principal responsável pela transmissão da doença, sendo as espécies A. cajennense e Amblyomma ovale os vetores mais prováveis, reservando aos piolhos o papel de transmissor eventual (GOMES, 1933).

Em 1933, Octávio de Magalhães foi o responsável pelo isolamento da R. rickettsii de um doente proveniente do interior do estado, além de relatar a distribuição geográfica do tifo exantemático Neotrópico (como ele denominava a febre maculosa) em Minas Gerais, baseado na observação de 232 pacientes (MAGALHÃES, 1952). Na década de 30 na capital mineira, Belo Horizonte, um personagem da história da cidade, o Padre Eustáquio morreu ao contrair a doença nos arredores da cidade. Ainda em 1933, Lemos Monteiro e Afrânio Amaral procuraram classificar o “tifo exantemático de São Paulo”, cujos vetores habituais seriam, provavelmente os carrapatos e os roedores silvestres incriminados como reservatórios dos “vírus”.

No mesmo ano, Monteiro, em parceria com o Rocky Mountain Laboratory, nos Estados Unidos, verificaram, em uma série de experimentos utilizando cobaias, a identidade imunológica dos agentes, considerando: a) proteção cruzada dos soros de animais imunes à FMB em relação à RMSF (LEMOS-MONTEIRO, 1933; PARKER e DAVIS, 1933); b) resistência cruzada dos animais imunes ao agente da FMB frente ao da RMSF (DYER, 1933; LEMOS-MONTEIRO, 1933); c) vacinas produzidas a partir de vetores infectados pelos agentes das respectivas doenças protegerem animais contra as duas infecções (LEMOS-MONTEIRO, 1933).

Dyer descreveu que o “vírus” do tifo europeu clássico ou histórico poderia desenvolver-se na Xenopsylla cheopis. Meyer e Saborido apuraram, na época, que o “vírus” brasileiro poderia evoluir no Pediculus capitis, que transmitiria assim, após se infectar, a febre exantemática brasileira e Weigl, anteriormente, mostrou que o “vírus” da RMSF infectava o piolho do corpo. Segundo ainda Weigl, o vírus da RMSF poderia evoluir também em P. vestimentorum (LEMOS-MONTEIRO, 1933).

(31)

31 Fonseca (1935) demonstrou que o exemplar de A. ovale naturalmente infectado pelo agente do TESP era, na verdade, Amblyomma striatum, atualmente classificado como A. aureolatum. Apontou, então, as espécies A. aureolatum e A. cajennense como os ixodídeos de maior importância na transmissão do TESP, enquanto a espécie A. ovale jamais fora encontrada naturalmente infectada pelo agente desta doença.

Ainda em 1935, os pesquisadores do estado de Minas Gerais, Moreira e Magalhães foram os primeiros a conduzirem um estudo epidemiológico no Brasil. Embora a possibilidade da participação de animais silvestres no ciclo da febre maculosa já ter sido sugerida por Ricketts (1909), foi de Moreira e Magalhães o feito de isolar pela primeira vez o agente causador da febre maculosa de um animal silvestre. Através de um experimento, conseguiram reproduzir a doença em cobaias, após inoculação de sangue colhido de um gambá Didelphis marsupialis.

Além disso, estes autores também encontraram carrapatos A. cajennense naturalmente infectados pelo agente, parasitando um cão doméstico (MOREIRA e MAGALHÃES, 1935), demonstrando-se assim, o papel do carrapato como principal transmissor da doença ao homem. Conclui-se ainda que a FMB se tratava de uma moléstia infecciosa, febril, aguda, via de regra exantemática, de amplo espectro clínico e freqüentemente de elevada letalidade, predominantemente rural e registrada há mais de 30 anos em todo o estado de Minas Gerais.

Com a utilização da técnica de diagnóstico indireto de Weil-Félix, disponível na época do estudo, os autores listaram os seguintes hospedeiros vertebrados como prováveis reservatórios do agente: o gambá D. marsupialis, o cão Canis familiaris, o cachorro do mato (Dusicyon sp; Sin. Canis brasiliensis), o coelho do mato (Sylvilagus brasiliensis; Sin. Sylvilagus minensis), o preá (Cavia aperea) e a cutia (Dasyprocta azarae) (MOREIRA e MAGALHÃES, 1937).

(32)

32 Naturalmente, a espécie de carrapato poderia variar com as regiões, sendo que em regiões de mato era comum o A. brasiliensis (MOREIRA e MAGALHÃES, 1937).

Considerando os transmissores das riquetsioses, Pinkerton em 1936, propõe uma classificação para as moléstias febris que produziam estupor e exantema, aceitando o termo “rickettsioses” proposto por Afrânio Amaral e César Pinto, continuado por Lemos Monteiro, em dois grupos: o primeiro grupo seria transmitido por pulgas e piolhos e o segundo, por carrapatos, sendo essa classificação, mesmo para a época, considerada precária. Constatou-se ainda, na época, que o tifo clássico europeu poderia ser transmitido pelo percevejo da espécie C. lectularius (DIAS et al., 1937).

Segundo estudos posteriores, em 1939, o mesmo autor conseguiu afastar como vetores da moléstia cerca de 10 artrópodes, dentre eles a Pulex irritans, a X. cheopis, a C. felis e o Panstrongylus megistus (DIAS, 1939). Incriminaram, ainda, as espécies de carrapatos Riphicephalus sanguineus, transmitido de cão a cão, o Ixodes loricatus, transmitido de gambá a gambá e, mais raramente, Haemaphysalis leporis palustris, de coelho a coelho.

Octávio de Magalhães também descreve as características epidemiológicas da doença incluindo a sazonalidade dos carrapatos da espécie A. cajennense, sendo a fase de ninfa, comum nos meses de agosto e setembro, meses secos e quentes e as larvas, de abril a julho, meses frios e secos. Acreditava ele que o A. cajennense infectado, necessitaria de mais de 30 horas de picada para transmitir a moléstia. Em 1948, comprovou-se definitivamente que o A. cajennense era a espécie de carrapato mais freqüentemente envolvido na doença (MAGALHÃES, 1952).

Em 1941, Tostes & Bretz demonstraram que a doença não estava restrita aos estados de São Paulo e Minas Gerais, comprovando laboratorialmente que a mesma também ocorria no estado do Rio de Janeiro. Ainda no mesmo ano, Gregory descreve o primeiro relato de tifo exantemático ocorrido no estado do Rio Grande do Sul (GREGORY, 1941).

(33)

33 Esses mesmos autores, mais tarde, editaram um extenso trabalho sobre a manutenção e produção de carrapatos A. cajennense em laboratório para atender uma alta demanda de ixodídeos para produção de uma vacina (TRAVASSOS e VALLEJO, 1947).

As vacinas contra febre maculosa já haviam sido testadas desde 1929 quando utilizava-se suspensão fenolizada de carrapatos infectados com R. rickettsii, sendo, posteriormente, substituídas por vacinas preparadas com riquétsias cultivadas em membranas vitelinas de ovos férteis de galinha. O insucesso da vacina contra febre maculosa levou os pesquisadores a testarem métodos mais eficazes no tratamento dos doentes, sendo o advento dos antibióticos na década de 40, a principal arma encontrada pelos pesquisadores no combate à enfermidade, especialmente a lauril sulfato de tetraciclina (TIRIBA et al., 1968).

No início da década de 50, Octávio de Magalhães publica um extenso trabalho de toda a história clínica e comportamental da doença em Minas Gerais no período de 1929 a 1944, descrevendo 245 casos em 22 municípios mineiros (MAGALHÃES, 1952).

Apesar do sistema de divulgação e informação ineficiente, neste mesmo período foram notificados cerca de 863 casos de FMB nos estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, especialmente nas áreas rurais (PASCALE, 1946; MAGALHÃES, 1952), tornando-se de grande interestornando-se médico e científico.

Após uma fase de vários estudos e publicações sobre a febre maculosa brasileira nas décadas de 1930 e 1940, houve um silêncio na literatura médica. Jaime Neves, em relato pessoal, informa a existência de vários casos no período de 1957 a 1979 atendidos no Hospital Carlos Chagas, antiga Clínica de Doenças Infecciosas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais, a qual servia de referência para todo o estado. Entretanto, a desativação do Hospital Carlos Chagas, que culminou com seu fechamento em 1979, trouxe como resultado a extinção da memória da FMB e também de outras patologias infecciosas em Minas Gerais (GALVÃO, 1988).

(34)

34 Embora Monteiro e colaboradores (1932) tivessem sugerido a bactéria R. brasiliensis como o provável agente da FMB, nenhum outro autor adotou essa nomenclatura. A dúvida sobre a espécie causadora da FMB pairava sobre a falta de diagnóstico específico e caracterização do agente: o resultado obtido a partir de um animal ou humano com sorologia positiva para R. rickettsii não era esclarecedor em função das reações heterólogas entre as riquétsias do GFM, ou seja, o título de anticorpo apresentado poderia ter sido induzido por uma riquétsia não patogênica ou de baixa virulência do GFM (MCDADE e NEWHOUSE, 1986).

Em 1977, Buxton e Fraser passaram a considerá-las bactérias e não mais “vírus”, de tamanho muito reduzido, que haviam desenvolvido um modo de vida ultraparasitário.

Somente em 1978, após quatro décadas, veio a confirmação de que o agente causador da FMB era de fato a R. rickettsii, através da técnica de sorotipagem por microimunofluorescência de uma amostra do agente causador do TESP enviada por Lemos Monteiro ao pesquisador Parker no Rocky Mountain Laboratory ainda na década de 30 (PHILLIP et al., 1978).

Em 1979, foi relatada a presença presumida da FMB em Salvador, primeiro caso publicado no estado da Bahia (PLANK et al., 1979).

Gonçalves e colaboradores (1981) e Galvão e colaboradores (1983), diagnosticaram casos humanos no estado do Rio de Janeiro e Minas Gerais, fundamentados em aspectos clínico-epidemiológicos e laboratoriais e chamaram a atenção para os aspectos clínicos da doença no que se refere ao diagnóstico diferencial da FMB com outras entidades freqüentes na prática clínica. Melles e colaboradores (1992) diagnosticaram um caso positivo para FMB, através de sorologia e isolamento do agente em cobaias no estado de São Paulo.

(35)

35 No estado de Minas Gerais, em 1983, Galvão e colaboradores descrevem um surto epidêmico de FMB em Ribeirãozinho, município de Grão Mogol, norte de Minas Gerais baseado em critérios clínico-epidemiológicos e laboratoriais. Inicialmente foram 16 casos suspeitos, tendo quatro deles ficado como prováveis e 12 permanecidos como suspeitos pela reação de Weil-Félix. Desses 12, oito foram a óbito antes que se iniciasse a investigação. Foi realizado também um inquérito sorológico para riquetsioses em cães da mesma região, também através da reação de Weil-Félix, não sendo encontrado resultado positivo (GALVÃO, 1988). O autor citado alertava, nessa oportunidade, para a necessidade da implantação de uma política definitiva de vigilância epidemiológica das doenças, assim como o diagnóstico laboratorial em Minas Gerais, o que vem a ser consolidado somente a partir da metade da década de 90.

Em 1984, Galvão descreve no município de Ouro Verde de Minas, 12 casos suspeitos, com 100% de letalidade e no município de Bertópolis, 19 casos suspeitos com seis óbitos, apresentando 31,5% de letalidade, municípios esses pertencentes aos Vales do Mucuri e Jequitinhonha (GALVÃO, 1988).

Em 1989, houve a ocorrência de nove casos suspeitos de febre maculosa no município de Serro e em 1990 a doença foi observada no município de Virginópolis, até então o mais recente foco epidêmico conhecido da época, inclusive com características diferentes dos focos anteriores por se situar em área periurbana. Esse município pertencia à região do Vale do Rio Doce, região com dinâmica populacional e tipo de ocupação com características peculiares, embora contígua do ponto de vista geográfico à região Nordeste de Minas Gerais onde os casos relatados de FMB ocorreram predominantemente na década de 80 (GALVÃO, 1996).

Em 1992, é feito o isolamento do gênero Rickettsia em humanos, a partir da biópsia de pele de um paciente proveniente da zona rural do estado de São Paulo, fato esse que ainda não havia sido descrito na literatura internacional (MELLES et al., 1992).

(36)

36 A seguir ocorreram novos surtos em Caeté (1993), Nova Lima e Pará de Minas (1994) e Novo Cruzeiro, Santos Dumont e Juiz de Fora (1995).

Em 1996, Lemos e colaboradores encontraram um exemplar de carrapato da espécie Amblyomma dubitatum, anteriormente nomeado Amblyomma cooperi, naturalmente infectado por riquétsias do GFM em capivaras. Um ano depois, encontraram carrapatos também naturalmente infectados com organismos sugestivos de riquétsias em A. cajennense, R. sanguineus, Boophilus microplus e Anocentor nitens, aravés do teste de hemolinfa pela coloração de Gimenez (LEMOS et al., 1997).

Em 2002, no Rio de Janeiro, Rozental e colaboradores identificaram, por imunofluorescência direta, riquétsias do GFM infectando o carrapato da espécie R. sanguineus.

A partir de 2002, R. felis foram identificadas em pulgas do gênero Ctenocephalides, e também através do seqüenciamento de DNA, em carrapatos do gênero Amblyomma detectados nos estados de Minas Gerais e São Paulo (HORTA, 2002; VIANNA, 2002; GALVÃO M. A. M et al., 2002a; SANGIONI, 2003; SANTOS, 2003) e mais recentemente em carrapatos da espécie R. sanguineus (CARDOSO et al., 2006) além das espécies R. bellii encontrada em carrapatos A. dubitatum (cooperi) (LABRUNA et al., 2001), R. amblyommii em carrapatos do gênero Amblyomma (LABRUNA et al., 2003) e R. rickettsii isolados de carrapatos Amblyomma spp. (SANTOS, 2003).

A confirmação de casos com sorologia positiva para R. felis em Minas Gerais (RAOULT et al., 2001a), demonstrou a importância de se investigar outras riquétsias com potencial patogênico para o homem.

Através de análises moleculares, sugeriu-se, em pesquisa realizada no estado de São Paulo em 2004, que a espécie A. aureolatum seja também considerada vetor da R. rickettsii no Brasil, suportado pelo fato de isolarem a R. rickettsii e a R. bellii em células de cultura de carrapatos provenientes dessa mesma espécie (PINTER e LABRUNA, 2006).

Além dessa espécie, detectaram também a R. bellii em A. dubitatum e a R. amblyommi em Amblyomma longirostre, também por PCR (LABRUNA et al., 2004b).

(37)

37 Embora as doenças causadas pelo gênero Rickettsia sejam as mais presentes no Brasil, infecções por espécies do gênero Ehrlichia foram recentemente detectadas no país. Em 2004, Calic e colaboradores descreveram os primeiros casos clínicos humanos suspeitos do gênero Ehrlichia no estado de Minas Gerais (CALIC et al., 2004). Angerami e colaboradores descrevem, em São Paulo, em 2006, o primeiro caso confirmado por reação em cadeia da polimerase (PCR) de ehrliquiose humana no Brasil, descrevendo os aspectos clínicos, epidemiológicos e laboratoriais da doença.

Concluindo, é importante destacar que a Organização Mundial de Saúde considera que, devido às suas complexas relações epidemiológicas, as riquetsioses requerem uma estreita vigilância e estratégias de controle. A razão disso reside no fato de que, apesar do aparente controle obtido com o uso de antibióticos e de inseticidas, nenhuma riquétsia patogênica ao homem foi ainda erradicada (PERVIKOV, 1991).

2.3

E

SPAÇO E

D

OENÇA

Na Europa do final do século XVIII e a primeira metade do século XIX, encontramos os pilares da Medicina Social alicerçados nos modelos da Medicina Urbana Francesa, Medicina de Estado Alemã e da Medicina da Força de Trabalho Inglesa (ALMEIDA-FILHO e ROUQUAYROL, 1992) surgidas no intuito de minimizar as conseqüências trazidas pela Revolução Industrial à população da Europa, como a rápida expansão desordenada de grandes massas nos centros urbanos em condições bastante precárias de vida e de saúde.

Segundo Chadwick, principal representante e autor da reforma sanitária da época, essa intervenção não deveria afetar o modo de produção vigente, e sim, discipliná-lo de modo a coibir seus efeitos nocivos sobre as condições de saúde do proletariado. Chadwick, então, interpreta a doença como resultante de inadequações na estrutura urbana que poderiam ser corrigidas através de uma legislação sanitária bem organizada (RINGEN, 1970).

(38)

38 O aparecimento da Microbiologia ocorrido no final do século XIX, parecia ter a capacidade de ampliar os determinantes da doença, porém a mesma acabou restringindo-se em descrever a Teoria dos germes e o ciclo das infecções, mascarando a natureza simultaneamente biológica e social da doença, proposto pela ala liberal da Teoria do Anticontágio no advento da Medicina Social (GALVÃO, 1988).

Na década de 30, o parasitologista russo Pavlovsky, desenvolve a teoria dos focos naturais das doenças transmissíveis. Pavlovsky percebeu que extensas áreas do território da então União Soviética estavam sendo desbravadas e exploradas, emergindo, como conseqüência, graves problemas de saúde pública como a eclosão da leishmaniose na Ásia Central e as encefalites por arbovírus na Sibéria. Estabeleceu-se, a partir daí, o conceito, ainda que de cunho ecologista, de que o espaço era o cenário no qual circulava o agente infeccioso - a patobiocenose; este cenário era classificado em natural, ou intocado pela ação humana, e antropopúrgico, alterado pela ação humana (PAVLOVSKY, 1963).

A modificação do espaço, ou paisagem, determinava alterações ecológicas na patobiocenose, alterando a circulação do agente infeccioso (GALVÃO, 1988).

Os sucessos da moderna tecnologia microbiológica como as drogas antimicrobianas, vacinas, inseticidas, dentre outros, durante e logo após a 2ª Guerra Mundial, abriram a era dos pacotes tecnológicos para o controle das doenças, não levando em consideração que muitas vezes uma mesma doença pode assumir características diferentes conforme o local e população acometidos. Com isso surgiram as teorias “ecológico-geográficas” que buscavam na própria variabilidade da natureza a explicação para a variabilidade das doenças, iniciando o movimento chamado de “Geografia Médica”(SILVA, 1985).

No entanto, essas variantes ecológico-geográficas, também falharam por prescindirem de uma visão antropológica e social. Assim sendo, elas conseguem analisar no máximo a questão das paisagens modificadas pelo homem, não conseguindo entrar no problema das paisagens organizadas (GALVÃO, 1996).

O domínio da epidemiologia à base da biologia durante o século XX fez ofuscar a natureza social deixando para a sociedade somente o papel de modulador do processo de distribuição e intensidade da doença (SILVA, 1985).

(39)

39 A partir da constatação que a Epidemiologia é uma só no estudo dos determinantes da ocorrência e distribuição das doenças, o que deve variar são os processos explicativos empregados em cada estudo (SILVA, 1985). Dentro desse enfoque, a introdução de concepção de espaço se aplica como categoria de análise do processo saúde-doença. A grande questão passa a ser a compreensão da doença nos espaços ocupados e transformados pelo homem. Ainda que os primeiros investigadores dentro da linha da teoria dos focos naturais de Pavlovsky buscassem identificar padrões paisagísticos que permitissem antever as doenças existentes, a aceleração da intervenção humana no espaço natural se fez de maneira tão rápida, criando novos e mutáveis padrões de organização espacial, que o tratamento dado por Pavlovsky ao espaço se tornou rapidamente obsoleto, uma vez que o espaço natural praticamente passou a não mais existir.

A teoria dos focos naturais de Pavlovsky deixa implícito que há um conjunto de relações no interior da paisagem responsáveis pela ocorrência da doença, e à luz dos conceitos geográficos de George e Dollfus, permite a elaboração de um conceito operacional de espaço extremamente rico para a análise epidemiológica, incorporando os determinantes naturais e sociais numa visão de totalidade, permitindo, dessa forma, a análise do espaço e de suas transformações como ponto central da análise (SILVA, 1997).

Para a epidemiologia, o eixo de análise é a coletividade e seu comportamento, ou seja, o processo de interação desta com a natureza e a maneira como o meio é transformado, organizado para sustentar a atividade econômica, resultando numa perspectiva histórica da doença consentindo, assim, uma visão dinâmica do processo saúde-doença.

O determinante maior do processo de organização do espaço é a necessidade econômica que vai reorganizar o espaço conforme as necessidades das atividades que devem se desenrolar seja a agricultura, a exploração mineral, o transporte de mercadorias, a produção de energia, a fabricação de produtos ou a construção de cidades.

(40)

40 A identificação destas relações causais ou fundamentais é a chave do processo de investigação. Uma vez feita esta identificação, passa-se para a reconstrução do processo de organização do espaço que resultou no sistema de relações identificado. Dessa forma, ao invés de partir da doença e analisar como esta se insere no contexto, parte-se da totalidade, analisando como esta criou as condições de ocorrência da doença.

Assim, agente, hospedeiro e vetor serão analisados daqui para frente como membros ativos desse espaço, havendo uma interação constante entre os mesmos, não se admitindo uma identidade isolada de cada um.

O mesmo é dividido didaticamente por Barbosa (1985) em três níveis (macro-social, ecológico e individual), sendo o nível macro-social aquele no qual estão o modelo de sociedade e economia vigentes. As normas que são ditadas nesse nível irão refletir diretamente nos dois outros níveis, o ecológico e o individual. No nível ecológico estão o ambiente natural e o ambiente social, esse último onde estão situadas as classes sociais. No nível individual, se situam os caracteres genéticos e pessoais de cada indivíduo.

2.3.1-

O E

SPAÇO EM SEU NÍVEL

M

ACRO-SOCIAL:

O V

ALE DO

P

IRANGA NO ESTADO DE

M

INAS

G

ERAIS

(41)

41

Figura 1: Mapa da localização do Vale do Piranga, no estado de Minas Gerais.

A região pertence à bacia do Rio Doce e tem sua hidrografia composta por vários rios, ribeirões e córregos. Os rios mais importantes são Piranga (corta a região no sentido norte-sul), Carmo, Matipó, Casca e Turvo.

Compreende vários municípios, dentre eles: Abre Campo, Acaiaca, Amparo do Serra, Araponga, Barra Longa, Cajuri, Canaã, Coimbra, Diogo de Vasconcelos, Ervália, Guaraciaba, Jequeri, Oratórios, Paula Cândido, Pedra Bonita, Pedra do Anta, Piedade de Ponte Nova, Ponte Nova, Porto Firme, Rio Doce, Santo Antônio do Grama, São Miguel do Anta, São Pedro dos Ferros, Sem Peixe, Sericita, Teixeiras, Urucânia, Vermelho Novo.

Ainda fazem parte do Vale do Piranga alguns municípios onde a FMB já deixou o seu registro, como Viçosa, Ouro Preto, Mariana, Antônio Dias, Alvinópolis, Dom Silvério, Raul Soares e Santa Cruz do Escalvado.

(42)

42 A região estudada é bastante variada, tanto em aspectos econômicos, geográficos ou sócio-culturais. Existem grandes indústrias mineradoras (Ouro Preto e Mariana), de laticínios (Rio Casca), de ferramentas (Raul Soares), entre outras, todas de projeção nacional e internacional.

Destacam-se ainda, municípios como Ponte Nova, com atividades de gados de corte, cana-de-açúcar, cafeicultura, hortifrutigranjeiros, e principalmente suinocultura, que ocupa atualmente o quarto lugar de maior pólo produtor de suínos do Brasil e o maior no estado de Minas Gerais, respondendo por 33% de toda a carne consumida no estado.

Considerando o município de Santa Cruz do Escalvado, região que se caracteriza por uma topografia predominantemente montanhosa e ondulada, sendo banhada pelas águas do Rio Doce desde a localidade chamada Taboão até a divisa com o Município de Rio Casca e da localidade de São Sebastião de Soberbo até a divisa com Ponte Nova, sendo que o resto do município é banhado por pequenos córregos.

Sua economia é baseada na agropecuária destacando-se as atividades de criação de gado bovino, produção de leite e o cultivo de cana-de-açúcar, mas também devem ser considerados o de milho, feijão, arroz, café e a fruticultura. Desenvolvem-se, ainda, a produção de laticínios, rapaduras e de cachaça.

O Programa Nacional de Agricultura Familiar (PRONAF) presta serviços aos produtores rurais do município e mantém em sua sede municipal uma engarrafadora de aguardente, um tanque de resfriamento de leite além de vários equipamentos para uso no campo.

Apesar de o município apresentar casos de doenças como dengue e Chagas, atualmente a Leishmaniose tegumentar é a zoonose de maior preocupação, sendo notificados 7 casos em 2005 e 14 em 2006.

(43)

43

Figura 2: Vista da Pedra do Escalvado, Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais, 2006.

Entre os municípios de Rio Doce e Santa Cruz do Escalvado, na região da Zona da Mata, estado de Minas Gerais, foi construída a UEH-Usina Hidrelétrica do Candonga (Risoleta Neves). Localizada no rio Doce, com potência instalada de 140 MW e geração de 64,5 MW médios, equivalentes a 565.020 MWh/ano. O empreendimento foi construído em parceria pela Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) e Alcan Alumínio do Brasil com o intuito de represar a água necessária para girar as turbinas da barragem e produzir energia destinada ao auto-consumo exclusivo de indústrias desses dois gigantes do setor de minérios (Figura 3).

(44)

44 A localidade de São Sebastião do Soberbo, município de Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais, foi inundada e submersa pelas águas da barragem que ali se formou. A área inundada pelo reservatório da usina é equivalente a 2.830 Km2 no território dos dois municípios. O percentual da área inundada só na localidade de Soberbo é de aproximadamente 46%.

Todas as 120 famílias que compunham a comunidade de São Sebastião do Soberbo foram obrigadas a deixar as áreas em que tradicionalmente residiam, para ceder lugar ao lago da hidrelétrica, e se mudar para um núcleo urbano construído pelo consórcio, batizado de Nova Soberbo.

2.3.2

O

E

SPAÇO-DOENÇA EM SEU NÍVEL

E

COLÓGICO:

2.3.2.1

O A

GENTE E A

D

OENÇA

Sabe-se que as riquetsioses são causadas por parasitas intracelulares obrigatórios com características de bactérias gram-negativas (HACKSTADT, 1996).

Este agente pertence às -proteobactérias, descrita inicialmente como pequenos bastonetes e bacilos (0,3 x 1,5m), que retinha a fucsina básica quando corado pelo método Gimenez (GIMENEZ, 1964) e fracamente corados por Gram. Podem estar agrupados em pares, em cadeias ou isolados. Com exceção da R. prowazekii, causadora de tifo, não apresentam flagelos. Residem em glândulas salivares e ovários do artrópode hospedeiro (BILLINGS et al., 1998).

As riquétsias são bactérias que se especializaram em nichos ecológicos muito restritos e seu ciclo natural depende apenas de um hospedeiro, geralmente um artrópode (BACELLAR, 1996).

(45)

45 O gênero Rickettsia é composto pelo Grupo do Tifo (GT) e pelo Grupo da Febre Maculosa (GFM). Classicamente, baseado na presença de um lipopolissacarídeo, o GT inclui dois patógenos humanos: R. prowazekii, agente do tifo exantemático epidêmico e R. typhi, agente causal do tifo murino, transmitidas, respectivamente, por piolhos e pulgas (EREMEEVA e DASH, 2000), ambas, reconhecidamente patogênicas ao homem, além da R. canadensis e R. bellii que formam um grupo ancestral.

Dentro do GFM, um grande número de membros tem sido reconhecido através do desenvolvimento de técnicas moleculares e de isolamento em cultura celular. Novas riquétsias pertencentes a esse grupo, têm sido isoladas de artrópodes e humanos no mundo inteiro. As espécies que são reconhecidas como patogênicas ao homem e que tradicionalmente fazem parte desse grupo são a R. rickettsii, agente da RMSF e da FMB, a R. parkeri, agente da riquetsiose parkeri e a Rickettsia felis, agente da riquetsiose felis (LABRUNA, 2006a).

Atualmente há várias classificações para a ordem Rickettsiales, conforme a proposta de cada autor. A primeira proposta para a classificação desta ordem foi feita por Gieszczykiewicz em 1939 e está inclusa na Approved Lists of Bacterial Names. Com o passar dos anos, novos estudos e novas propostas foram feitos, sendo as mudanças descritas nestas 7 classificações que segue:

- Classificação da ordem Rickettsiales segundo a sétima edição do Bergey´s Manual of Determinative Bacteriology,1957;

- Classificação da ordem Rickettsiales segundo a última edição do Bergey´s Manual of Determinative Bacteriology, 1974;

- Classificação da ordem Rickettsiales segundo a primeira edição do Bergey´s Manual of Systematic Bacteriology, 1984;

Imagem

Figura 1: Mapa da localização do Vale do Piranga, no estado de Minas Gerais.
Figura 3: Vista da UHE- Candonga, Santa Cruz do Escalvado, Minas Gerais. Fonte: Construtora OAS
Figura 4:  Mapa do estado de Minas Gerais, indicando a posição do município de Santa   Cruz do  Escalvado em relação à capital, Belo Horizonte
Figura 5:      Foto da vegetação característica de uma área da região de Santa Cruz do Escalvado, Minas  Gerais, 2006
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