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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS Programa de Pós-Graduação em Veterinária

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS

Programa de Pós-Graduação em Veterinária

Dissertação

Avaliação soroepidemiológica de Toxoplasma gondii

em humanos e sua relação com o convívio com gatos

(Felis catus) como animal de estimação

Luciana Siqueira Silveira dos Santos

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LUCIANA SIQUEIRA SILVEIRA DOS SANTOS

Avaliação soroepidemiológica de Toxoplasma gondii

em humanos e sua relação com o convívio com gatos

(Felis catus) como animal de estimação

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Veterinária da Universidade Federal de Pelotas, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Ciências (área do conhecimento: Parasitologia).

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Nara Amélia da Rosa Farias

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Dados de catalogação na fonte: Ubirajara Buddin Cruz – CRB-10/901 Biblioteca de Ciência & Tecnologia - UFPel

S237a Santos, Luciana Siqueira Silveira dos

Avaliação soroepidemiológica de Toxoplasma gondii em humanos e sua relação com o convívio com gatos (Felis

ca-tus) como animal de estimação / Luciana Siqueira Silveira dos Santos. – 59f. ; tab. – Dissertação (Mestrado). Programa de Pós-Graduação em Veterinária. Área de concentração: Para-sitologia. Universidade Federal de Pelotas. Faculdade de Ve-terinária. Pelotas, 2012. – Orientador Nara Amélia da Rosa Farias.

1.Veterinária. 2.Toxoplasma gondii. 3.Toxoplasmose. 4.Fatores de risco. 5.Felídeos. 6.Epidemiologia. 7.Felis catus. I.Farias, Nara Amélia da Rosa. II.Título.

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Banca examinadora:

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Nara Amélia da Rosa Farias (UFPel)

Examinador 1: Prof.ª Dr.ª Neusa Saltiél Stobbe (UFRGS)

Examinador 2: Dr. Tiago Gallina Corrêa (EMATER/RS)

Examinador 3: Dr. Jerônimo Lopes Ruas (UFPel)

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Agradecimentos

Agradeço:

Primeiramente a Deus por ter me possibilitado concluir meu trabalho de mestrado.

A meus pais, Paulo Roberto Silveira dos Santos e Carmen Lúcia Siqueira dos Santos pelo incentivo e apoio aos estudos.

A minha avó, Irene Vieira Siqueira, pelas incansáveis orações dedicadas a mim.

Meu agradecimento especial a amiga Farmacêutica e Bioquímica, Aline Machado Carvalho, pela realização das coletas, pois sem o seu auxílio espontâneo não teria cumprido esta etapa do trabalho.

A WAMA Diagnóstica, pelo fornecimento de 10 kits Imuno-COM Toxoplasmose para determinação de anticorpos anti-Toxoplasma gondii por imunofluorescência indireta (IFI).

A doutoranda Beatris González Cademartori que me ensinou a fazer o teste de imunofluorescência indireta (IFI) e a interpretar os resultados no microscópio de imunofluorescência.

A todos os voluntários que aceitaram participar da pesquisa e ainda, indicaram novos participantes.

Ao MSc. José Antônio Weicamp Cruz, coordenador do curso de Ecologia (UCPel), e a Maria Helena Silveira Vaz, funcionária do Museu de História Natural da Universidade Católica de Pelotas (MUCPel), agradeço por permitir o acesso às dependências do laboratório do museu para realização de coletas.

Ao doutorando Demétrius da Silva Martins, a doutoranda Naylê Oliveira e a MSc. Cibele Velleda dos Santos por terem auxiliado na obtenção de voluntários em seus respectivos locais de trabalho.

Novamente a MSc. Cibele Velleda dos Santos que me ensinou a utilizar o programa Epi-Info para efetuar as análises estatísticas necessárias. A

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mestranda Anne Gomes Sacco, ao doutorando Giovanny Vinícius Araújo França, ao Prof. Dr. Thomaz Lucia Júnior e a mestranda Cíntia Lidiane Guidotti Aguiar pela realização das análises estatísticas dos resultados obtidos.

Ao amigo Fernando Recuero, secretário do Colegiado do Instituto de Biologia da UFPel, por estar sempre disposto a esclarecer minhas dúvidas sobre estatística.

A grande amiga e colega, Laura Maria Jorge de Faria Santos, pelo companheirismo e parceria no dia-a-dia de trabalho no Laboratório de Parasitologia, também aos amigos Mariana de Moura Mendes e Diego Silva da Silva pela companhia e paciência nas refeições do Restaurante Universitário (pois sempre tinham que esperar eu terminar de almoçar) e pelas horas que passamos sentados ao sol descansando após o almoço, jogando conversa fora.

A todos os funcionários e professores do Programa de Pós-Graduação em Parasitologia da UFPel, principalmente Prof.ª Dr.ª Gertrud Müller Antunes (coordenadora do curso de pós-graduação) e Valter Eduardo Pires Júnior (secretário) que sempre estiveram dispostos a ajudar-me quando precisei.

E especialmente a minha orientadora, Prof.ª Dr.ª Nara Amélia da Rosa Farias, que teve a ideia inicial do tema da pesquisa e acreditou na minha disposição para desenvolvê-la, agradeço pela dedicação, pelos conhecimentos que me transmitiu e pelos “puxões de orelha” quando se fizeram necessários.

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Resumo

SANTOS, Luciana Siqueira Silveira dos. Avaliação soroepidemiológica de Toxoplasma gondii em humanos e sua relação com o convívio com gatos (Felis catus) como animal de estimação. 2012. 59f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-Graduação em Veterinária. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

Toxoplasma gondii é causador de uma protozoonose de importância em

saúde pública, a toxoplasmose, que pode causar graves consequências nas espécies infectadas. Os felídeos são hospedeiros definitivos do protozoário que ao se infectarem, eliminam oocistos podendo se tornar fonte de infecção para humanos. Existem controvérsias nos resultados de diferentes autores sobre o convívio com gatos de estimação, como fator de risco para a infecção humana. Neste estudo, foram avaliadas amostras de soro de 108 pessoas que têm/tiveram gatos e de 110 pessoas que não gostam e nunca tiveram gatos. Um questionário epidemiológico também foi aplicado. Os resultados indicam soroprevalência de 39,8% para as 108 pessoas que convivem com gatos e 26,4% para as 110 pessoas que nunca tiveram esses animais. Na análise dos fatores de risco, foi constatada associação significativa com a soropositividade das variáveis: idade superior a 31 anos (p = 0,000), convívio com gatos (p = 0,0143) e manuseio de carne crua (p = 0,0290). Conclui-se que mesmo em uma população com escolaridade elevada, conviver com gatos pode aumentar duas vezes a chance de infecção por T. gondii, desde que esses não sejam mantidos no interior do domicílio e em condições higiênico-sanitárias adequadas.

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Abstract

SANTOS, Luciana Siqueira Silveira dos. Seroepidemiological evaluation of Toxoplasma gondii in humans and its relationship to living with cats (Felis

catus) as a pet. 2012. 59f. Dissertação (Mestrado) – Programa de

Pós-Graduação em Veterinária. Universidade Federal de Pelotas, Pelotas.

Toxoplasma gondii is causative agent of a protozoonosis of public health

importance, toxoplasmosis, that may have serious consequences on species infected. Cats are definitive hosts of the protozoan, when they become infected they eliminate oocysts and may become a source of infection for humans. There are controversies in the results of different authors about living with pet cats as a risk factor for human infection. This study analyzed serum samples from 108 individuals who have or had cats and from 110 individuals who do not like cats and never had one. An epidemiological questionnaire was applied. The results indicated seroprevalence of 39.8% for the individuals who live with cats and 26.4% for the 110 individuals who never had these animals. The analysis of risk factors showed significant association between seropositivity and of variables: aged over 31 years (p = 0.0000), living with cats (p = 0.0143) and handling of raw meat (p = 0.0290). It was concluded that even in a population with a high level of education, living with cats may increase twice the chance of infection by T. gondii, when the animals are not kept in the household and in adequate sanitary conditions.

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Lista de Tabelas

Tabela 1 Perfil de moradores de Pelotas, Rio Grande do Sul, que convivem e não convivem com gatos como animais de estimação, no período de maio a dezembro de 2011 (n = 218)....

28

Tabela 2 Frequência dos possíveis fatores de risco à infecção por

Toxoplasma gondii e relação com a sorologia positiva em

pessoas que convivem e não convivem com gatos, após análise univariada (n = 218)...

30

Tabela 3 Associação (p ≤ 0,05) dos fatores de risco à infecção por

Toxoplasma gondii com a soropositividade em pessoas que

convivem e não convivem com gatos, após análise multivariada (n = 218)...

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Lista de Abreviaturas e Siglas

CE Ceará

ELISA Ensaio imunoenzimático

FIV Vírus da imunodeficiência felina GO Goiás

HAI Hemaglutinação indireta

HIV Vírus da imunodeficiência humana IC Intervalo de confiança

IFI Imunofluorescência indireta IgA Imunoglobulina A

IgE Imunoglobulina E IgG Imunoglobulina G IgM Imunoglobulina M IH Imuno-histoquímica MS Mato Grosso do Sul MT Mato Grosso

OR Razão de chance

PAP Peroxidase-antiperoxidase

PCR Reação em cadeia da polimerase

PE Pernambuco

PR Paraná

RS Rio Grande do Sul

SAE Serviço de Atendimento Especializado

SP São Paulo

T. gondii Toxoplasma gondii

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Sumário 1 Introdução Geral...10 2 Revisão de Literatura...11 2.1 Taxonomia e Importância...11 2.2 Morfologia e Biologia...12 2.3 O Gato e a Toxoplasmose...13 2.4 Formas de Transmissão...14 2.4.1 Transmissão Congênita...14

2.4.2 Transmissão por Carnivorismo...14

2.4.3 Transmissão Fecal-Oral...15

2.4.4 Outros Tipos de Transmissão...15

2.5 Aspectos Clínicos em Humanos...15

2.6 Métodos de Diagnóstico Laboratorial...16

2.6.1 Diagnóstico Parasitológico...16 2.6.2 Diagnóstico Sorológico...17 2.7 Medidas de Prevenção...18 2.8 Epidemiologia...19 3. Objetivos...23 3.1 Geral...23 3.2 Específicos...23 Artigo...25 4 Conclusões...40 5 Referências...41 Apêndices...49 Anexos...56

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1 Introdução Geral

Toxoplasma gondii (Nicolle; Manceaux, 1909) é um protozoário

intracelular obrigatório, causador da toxoplasmose, protozoonose de grande importância em saúde pública e na produção de algumas espécies animais (DUBEY et al., 1995; COSTA et al., 2007).

Os felídeos são fundamentais no ciclo biológico de T. gondii por serem hospedeiros preferenciais que se infectam ao ingerir pequenos mamíferos e aves (hospedeiros intermediários) contendo taquizoítos ou, principalmente, cistos teciduais com bradizoítos (VIDOTTO, 1992). Os felinos, durante o período patente, liberam diariamente, junto com as fezes, milhares de oocistos (100.000 oocistos/grama de fezes), que esporulam no ambiente, tornando-se a principal forma infectante do parasito, pela facilidade de contaminação e elevada resistência aos agentes físicos e químicos, podendo sobreviver no ambiente por vários meses (DUBEY, 2010).

A infecção em humanos pode ocorrer através da ingestão de cistos em carnes cruas ou mal cozidas, oocistos em hortaliças, frutas ou água contaminadas, e ainda através da placenta, quando taquizoítos atingem o feto (DUBEY, 1986; SPARKES, 1998).

Segundo Dubey (1996) a infecção por T. gondii em seres humanos geralmente é assintomática, os sinais clínicos frequentemente acometem imunocomprometidos, como os portadores de HIV, e crianças infectadas congenitamente. Em imunocompetentes a forma clínica mais frequente é a ocular.

O fato de somente os gatos, entre as espécies domésticas, eliminarem oocistos em suas fezes, leva a questionamentos sobre o risco que essa espécie representa para a infecção de humanos que os possuam como animais de estimação. E os resultados contraditórios de pesquisas realizadas em diferentes locais ainda deixam dúvidas sobre esta questão.

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Este trabalho teve como finalidade avançar no conhecimento da importância do convívio com o gato como animal de estimação enquanto fator de risco para a infecção humana por T. gondii, além de indicar medidas profiláticas adequadas aos dados epidemiológicos obtidos.

2 Revisão de Literatura

2.1 Taxonomia e Importância

Toxoplasma gondii (Nicolle; Manceaux, 1908) é um protozoário parasito

intracelular obrigatório pertencente ao filo Apicomplexa, classe Sporozoa, subclasse Coccidia, subordem Eimeriina, família Sarcocystidae (LEVINE CHAIRMAN et al., 1980; COSTA et al., 2007). Foi descrito pela primeira vez na Tunísia, em 1908, por Nicolle e Manceaux, encontrado em tecidos de pequenos roedores norte-africanos, conhecidos popularmente como gondi (Ctenodactylus gundi, Pallas, 1778). Concomitantemente, Splendore, no Brasil, descobriu o parasito infectando coelhos de laboratório, sugerindo a ampla distribuição do parasito (DUBEY, 2008).

O T. gondii é descrito como agente etiológico da toxoplasmose, uma protozoonose de grande importância em saúde pública e sanidade animal por causar graves consequências nos animais homeotérmicos infectados, inclusive o homem (DUBEY; WEIGEL; SIEGEL, 1995).

Nos animais de produção a infecção toxoplásmica causa grandes perdas econômicas para os produtores, devido à ocorrência de abortos, mortalidade neonatal (que pode chegar a 50%) e defeitos congênitos (ACHA; SZYFRES, 2003). Entre os animais destinados à alimentação humana, caprinos, ovinos e suínos são mais sensíveis à infecção, do que bovinos, equinos e aves (MILLAR et al., 2008).

No homem, pode causar principalmente toxoplasmose ocular de origem adquirida, cuja manifestação mais comum é a retinocoroidite granulomatosa necrotizante que pode vir acompanhada de outras alterações oculares (CARMO et al., 2005). Também pode ocorrer infecção congênita, na qual o parasito atinge o feto por via transplacentária, podendo resultar em morte fetal ou em graves manifestações clínicas (SPALDING et al., 2003).

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2.2 Morfologia e Biologia

A morfologia de T. gondii é diversificada, depende do habitat e do estágio evolutivo. O parasito apresenta no seu ciclo biológico, três formas infectantes: taquizoítos, bradizoítos (em cistos teciduais) e esporozoítos (em oocistos). Essas possuem organelas citoplasmáticas características do filo Apicomplexa, que compõem o complexo apical (conóide, dois anéis polares, microtúbulos, roptrias, micronemas e grânulos densos), estrutura que facilita a transposição de membranas celulares (KAWAZOE, 2005).

A fase sexuada (macro e microgametas) do ciclo biológico desse parasito coccídio ocorre no epitélio intestinal do hospedeiro definitivo, felídeos não imunes, resultando na produção de oocistos, que são eliminados junto com as fezes. Após um mínimo de 24 horas expostos à temperatura ambiente, os oocistos esporulam e originam oito esporozoítos que podem permanecer viáveis (infectantes) por cerca de 12 a 18 meses, em condições favoráveis de temperatura, umidade e local sombreado (AMATO NETO; MARCHI, 2010).

Esses oocistos podem ser ingeridos pelo homem, aves, roedores, ovinos ou suínos, que são alguns dos hospedeiros intermediários, realizando a fase assexuada (extra-intestinal) do ciclo do protozoário; os esporozoítos liberados dos oocistos se transformam em taquizoítos (forma proliferativa ou livre), que irão infectar e se multiplicar em um vacúolo parasitóforo, em diferentes tipos de células do hospedeiro (exceto as hemácias) por um processo de endodiogenia (onde duas células-filhas são formadas dentro da célula-mãe, através de brotamento, sendo liberadas após ruptura) (REY, 2008).

Grande parte desses taquizoítos é eliminada pelo sistema imunológico, porém, sete a 10 dias após a infecção, os taquizoítos formam cistos teciduais contendo bradizoítos, que irão permanecer encistados em vários órgãos (cérebro, retina, músculos cardíacos e esqueléticos) do hospedeiro intermediário persistindo durante a vida (TENTER; HECKEROTH; WEISS, 2000).

O ciclo se completa quando gatos ou outros felídeos não imunes ingerem oocistos, taquizoítos ou cistos contidos nos tecidos dos hospedeiros intermediários, iniciando-se novamente a fase sexuada do parasito (MARTINS, 2010).

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2.3 O Gato e a Toxoplasmose

Gatos domésticos e outras espécies de felídeos são fundamentais no ciclo biológico de T. gondii, por serem hospedeiros definitivos, que se infectam ao ingerir oocistos esporulados presentes no ambiente, taquizoítos encontrados nos órgãos, sangue e secreções ou, principalmente, cistos teciduais com bradizoítos contidos em pequenos mamíferos e aves (hospedeiros intermediários) (VIDOTTO, 1992; TENTER; HECKEROTH; WEISS, 2000; FIGUEIREDO et al., 2010).

Apesar de o gato ser o único hospedeiro urbano completo, o ciclo epidemiológico em áreas não urbanizadas é mantido por felídeos silvestres, que também eliminam as formas infectantes do protozoário junto com as fezes (BONAMETTI et al., 1997).

A soroprevalência de T. gondii em gatos apresenta valores elevados, entretanto a toxoplasmose-doença não é muito frequente, pois o ciclo enteroepitelial é subclínico (FIALHO; TEIXEIRA; ARAUJO, 2009). Felinos infectados congenitamente têm maior probabilidade de apresentar sinais clínicos. Os mais comuns incluem febre, inflamação ocular, anorexia, letargia, desconforto abdominal e anormalidades neurológicas (ELMORE et al., 2010).

A infecção felina mais comum ocorre após o nascimento através da ingestão de presas infectadas com cistos teciduais, taquizoítos, ou raramente oocistos; o tempo decorrido entre a infecção e o aparecimento de oocistos nas fezes de gatos jovens depende da forma ingerida: três dias quando a infecção ocorrer por cistos; 19 dias ou mais, por taquizoítos e 20 ou mais, por oocistos (KAWAZOE, 2005; ELMORE et al., 2010).

Os gatos desenvolvem imunidade após a primeira infecção toxoplásmica, mas gatos adultos podem voltar a eliminar oocistos devido a fatores imunodepressores, como tratamentos com corticóides, porém em quantidade muito inferior ao verificado na primoinfecção. Gatos acometidos pelo vírus da imunodeficiência felina (FIV) podem apresentar sinais clínicos da toxoplasmose aguda secundariamente, sem eliminar oocistos nas fezes (FARIAS, 2002).

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2.4 Formas de Transmissão

Conforme Dubey (1986) existem três principais formas de transmissão: via transplacentária (taquizoítos – fase aguda da infecção), carnivorismo (cistos com bradizoítos – fase crônica) e fecal-oral (oocistos). O homem pode adquirir a doença através da ingestão de oocistos esporulados provenientes das fezes de gatos infectados, encontrados na água ou em hortaliças; e também através da ingestão de cistos tissulares presentes em carnes cruas ou mal cozidas oriundas das espécies suína, ovina e caprina (transmissão horizontal) (SPARKES, 1998).

2.4.1 Transmissão Congênita

A transmissão congênita ocorre quando a primoinfecção coincide com a gestação, pois os taquizoítos multiplicam-se rapidamente na placenta, difundindo-se para os tecidos fetais (transmissão vertical). Os danos têm gravidade inversamente proporcional ao período gestacional: quando ocorre no primeiro trimestre da gravidez, causa aborto, mortalidade neonatal, lesões oculares (de intensidade variável) e alterações cerebrais sérias (FRENKEL, 1973).

2.4.2 Transmissão por Carnivorismo

Os humanos são infectados pelo protozoário principalmente ao consumir carnes e produtos de origem animal, crus ou mal cozidos que contenham cistos teciduais viáveis (SUKTHANA, 2006). Estudos revelam que mais de 25% dos ovinos e dos suínos apresentam-se infectados, enquanto que em bovinos o isolamento de cistos é mais raro, apesar de apresentarem soropositividade de dois a 10% (BONAMETTI et al., 1997).

Pereira (2005) realizou um estudo comparativo de soroprevalência de T.

gondii entre suínos criados em granjas (criação industrial) e criados em

pequenas propriedades (criação artesanal) na região sul do Rio Grande do Sul, e obteve uma prevalência de 33,9% em suínos de criação artesanal e 5,8% em suínos de criação industrial. Pappen (2008) ao verificar a prevalência de anticorpos para T. gondii em ovinos de propriedades da mesma região, constatou que 20,2% dos ovinos são sorologicamente positivos.

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Galinhas caipiras desempenham um papel importante na epidemiologia do T. gondii no meio rural, pois são consideradas como um bom indicador da contaminação do solo por oocistos de T. gondii, em função do hábito de ciscar (DUBEY, 2010). Galinhas domésticas mantidas livremente têm maior chance de serem infectadas pelo parasito, podendo apresentar soroprevalência de até 100%, porém sua importância como fonte de infecção por T. gondii em humanos é menor, pois se tem por costume consumir a carne de frango bem cozida (KIJLSTRA; JONGERT, 2008).

2.4.3 Transmissão Fecal-Oral

Outra via de infecção é a ingestão de oocistos provenientes de alimentos ou água contaminados com fezes de felinos infectados (SUKTHANA, 2006).

A inalação de poeiras contaminadas com oocistos pode acarretar infecção, pois estes podem permanecer viáveis no solo, por mais de um ano, resistindo a variações de temperatura e à dessecação (CAMARGO, 1996).

2.4.4 Outros Tipos de Transmissão

Pode haver, ainda, a transmissão de taquizoítos pelo consumo de leite cru não pasteurizado, transplante de órgãos, transfusão sanguínea de doadores com taquizoítos circulantes para receptores soronegativos e acidentes laboratoriais (DUBEY, 1986; TENTER; HECKEROTH; WEISS, 2000; HIRAMOTO et al., 2001).

2.5 Aspectos Clínicos em Humanos

A toxoplasmose adquirida é considerada uma doença de evolução benigna e auto limitada em adultos saudáveis imunocompetentes. Na maioria dos casos ocorre de forma assintomática e os sinais clínicos, quando presentes, são semelhantes aos da gripe, originando febre, fadiga, mialgia e linfadenopatia (SILVEIRA, 2001; MARTINS, 2002). Uma das formas clínicas mais frequente é a ocular, que está relacionada à presença de cistos na retina (CAMARGO, 1996).

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As formas graves da toxoplasmose são observadas na síndrome da imunodeficiência adquirida, nas imunodepressões medicamentosas, nos transplantes de órgãos, nas enfermidades debilitantes e nos imunologicamente imaturos, como o feto e o recém-nascido (CAMARGO, 1996).

Em pacientes HIV positivos pode ocorrer a neurotoxoplasmose, ou seja, manifestações de reagudização da infecção toxoplásmica crônica, em indivíduos que já haviam apresentado anticorpos anti-T. gondii anteriormente (HEGAB; AL-MUTAWA, 2003). Dessa maneira, ocorre uma reativação de cistos teciduais localizados no cérebro, com ativação de bradizoítos, que se transformam em taquizoítos, promovendo infecção oportunista em pacientes com comprometimento imunológico (COSTA et al., 2008).

A transmissão transplacentária ocorre quando a primoinfecção (materna) acontece durante a gestação: no primeiro terço ou metade da gestação, pode causar morte fetal ou alterações congênitas; quanto mais adiantada estiver a gestação, maior será a probabilidade de infecção do neonato e menos intensas as sequelas (VIDOTTO, 1992; KASPER et al., 2002).

A toxoplasmose congênita pode se apresentar de quatro formas: 1) doença neonatal sintomática; 2) doença que se manifesta nos primeiros meses de vida; 3) sequelas ou reativação de uma infecção prévia não diagnosticada que se apresenta apenas na infância ou na adolescência; 4) infecção subclínica (MARTINS, 2002). Os sintomas podem se manifestar após o nascimento ou se desenvolver mais tarde, na forma clássica da tétrade de Sabin, que inclui o aparecimento de coriorretinite bilateral, calcificações intracranianas, hidrocefalia e retardo mental (KAWAZOE, 2005).

2.6 Métodos de Diagnóstico Laboratorial

Conforme Amato Neto e Marchi (2010), o diagnóstico laboratorial baseia-se na demonstração direta, com busca e isolamento de T. gondii (parasitológico), e por métodos indiretos como pesquisa de anticorpos (sorológico).

2.6.1 Diagnóstico Parasitológico

A análise direta do coccídio através da detecção de taquizoítos na forma aguda da doença pode ser realizada a partir de diversos componentes

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orgânicos, como: sangue, líquido cefalorraquidiano, saliva, escarro, medula óssea, cortes de placenta, bem como de conteúdos de infiltrados cutâneos, do baço, fígado, músculos e gânglios linfáticos. Na forma crônica os cistos com bradizoítos são observados em tecidos obtidos por punção, biópsia ou necropsia e podem ser utilizados em provas biológicas através da inoculação via intraperitoneal em camundongos albinos jovens. O exsudato peritoneal desses animais deve ser examinado depois de seis a 10 dias. O resultado é considerado negativo quando os animais resistem vivos por mais de seis semanas e os parasitos não forem encontrados após oito a 10 passagens (FARIAS, 2002; AMATO NETO; MARCHI, 2010).

O material colhido em biópsia de tecidos pode ser fixado e submetido a exame histológico para visualização de taquizoítos e bradizoítos. São utilizados os métodos de coloração de hematoxilina-eosina, Leishman, Giemsa e Wright (FIALHO, 2002), ou ainda através da imuno-histoquímica (IH) com peroxidase-antiperoxidase (PAP) para pesquisa direta de cistos de T. gondii em cortes histológicos de fragmentos de tecidos (ROSA et al., 2001).

As técnicas de flutuação simples ou centrifugação com solução de açúcar (Sheather) são empregadas para detectar oocistos nas fezes de felinos (FARIAS, 2002).

Métodos moleculares também têm sido utilizados, como PCR, por ser uma técnica rápida e por apresentar elevadas sensibilidade e especificidade. Segmentos amplificados de genes específicos de T. gondii são detectados em fluidos corporais ou fragmentos de tecido (CAMARGO, 1996; KOMPALIC-CRISTO; BRITTO; FERNANDES, 2005; REY, 2008).

2.6.2 Diagnóstico Sorológico

Testes sorológicos para identificação e quantificação de anticorpos específicos para T. gondii são baseados na resposta imunológica dos pacientes, das diferentes classes de imunoglobulinas (IgG, IgM, IgA e IgE). A sorologia indica o título (diluição do soro sanguíneo) de anticorpos circulantes correspondentes à fase da doença, e é utilizada não só no diagnóstico como também em estudos epidemiológicos (BERTOZZI; SUZUKI; ROSSI, 1999; AMENDOEIRA et al., 2003). Entre as provas mais empregadas pode-se

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destacar: ensaio imunoenzimático (ELISA), hemaglutinação indireta (HAI) e imunofluorescência indireta (IFI).

A reação de imunofluorescência indireta utiliza taquizoítos preservados, fixados em lâminas de microscopia, permitindo a identificação dos anticorpos conforme as classes de imunoglobulinas (COSTA et al., 2007). Possui alta sensibilidade e especificidade para detectar a presença de anticorpos IgG, sendo considerada positiva, a reação que apresentar taquizoítos com fluorescência completa. Na reação negativa os taquizoítos apresentam aspecto avermelhado ou parcialmente fluorescente (contorno fluorescente incompleto) (CERRO et al., 2009). Pode ser usada tanto na fase aguda (pesquisa de IgM), como na fase crônica (pesquisa de IgG) (KAWAZOE, 2005).

Os soros reagentes são titulados, experimentando-se diluições crescentes (provas quantitativas), incubadas sobre o antígeno constituído de taquizoítos aderidos na lâmina, para reação antígeno/anticorpo. Depois de lavadas, essas são novamente incubadas com conjugado fluorescente (anticorpos anti-IgG ou anti-IgM humanos marcados com fluoresceína). Observados ao microscópio de imunofluorescência, os taquizoítos apresentam um aspecto esverdeado fluorescente para os soros reagentes (CAMARGO, 1996; AMATO NETO; MARCHI, 2010).

2.7 Medidas de Prevenção da Infecção em Gatos e Humanos

De acordo com Farias (2002), para evitar a infecção humana com cistos, não se deve ingerir carnes cruas ou mal cozidas; congelar as carnes durante 24 horas em uma temperatura de -20ºC antes do seu consumo para inviabilizar os cistos; e tomar cuidados após a manipulação de carnes cruas e derivados. Para evitar a infecção com oocistos, limpeza diária da caixa higiênica do gato e destino adequado às fezes (vaso sanitário), para evitar a esporulação dos oocistos no ambiente. É importante que mulheres grávidas e indivíduos imunocomprometidos não realizem essa higienização, para evitar possíveis exposições aos oocistos. As frutas, verduras e legumes devem ser bem lavados antes do consumo, pois podem estar sujos de terra contaminada com oocistos; não ingerir água não tratada que não seja corretamente filtrada ou fervida; proteger as áreas de recreação infantil para evitar o acesso de gatos, além de realizar a troca da areia periodicamente.

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Os proprietários de gatos são aconselhados a manter os animais dentro de casa e alimentá-los somente com ração; os cães não devem ter acesso à caixa de areia dos gatos para evitar o contato com oocistos esporulados, pois esses podem permanecer nos pêlos e contaminar humanos posteriormente. Recomendações específicas para mulheres grávidas e pessoas imunossuprimidas, incluem o uso de luvas ao praticarem jardinagem, seguido de completa lavagem das mãos, espaço interdigital, pulsos e unhas (ELMORE et al., 2010).

2.8 Epidemiologia

A toxoplasmose acomete principalmente aves e mamíferos, inclusive o ser humano, com alta prevalência sorológica, crescente conforme os grupos etários, podendo variar entre 50 a 80% em indivíduos adultos, em determinados países (CAMARGO, 1996). Recentemente, tem sido relatada a presença de anticorpos anti-T. gondii em peixes da família Salmonidae, sugerindo que animais marinhos de sangue frio também possam ser fontes potenciais de T. gondii (TAGHADOSI; KOJOURI; TAHERI, 2010).

Existem diferentes fatores que podem influenciar na variabilidade da soroprevalência de infecção por T. gondii, como fatores geográficos e climáticos, padrões culturais da população, hábitos alimentares, faixa etária e procedência urbana ou rural (CONTRERAS et al., 1996).

Cademartori, Farias e Brod (2008) avaliaram a soroprevalência para T.

gondii em 425 gestantes atendidas nas Unidades Básicas de Saúde de

Pelotas, Rio Grande do Sul, e constataram soropositividade (IgG) de 54,8% (233/425); a maioria das gestantes (64,9%) desconheciam a doença e suas formas de transmissão; os fatores de risco estatisticamente significativos foram o consumo de carnes cruas ou mal cozidas e o contato direto com o solo.

Xavier (2009) verificou a prevalência de anticorpos para T. gondii em 250 amostras sanguíneas de pacientes HIV positivos em Pelotas, Rio Grande do Sul, correlacionando com os dados epidemiológicos de cada paciente. A soropositividade foi de 80% (200/250), indicando que estes indivíduos corriam o risco de desenvolver neurotoxoplasmose e toxoplasmose ocular. O fator de risco de infecção de maior importância foi a manipulação direta do solo. O

(22)

convívio com gatos e o consumo de água não tratada não representaram fatores de risco.

Loges, Cademartori e Farias (2012) analisaram a prevalência de imunoglobulinas tipo G e M (IgG e IgM) em 200 doadores de sangue do Hemocentro Regional de Pelotas, Rio Grande do Sul, juntamente com seus dados epidemiológicos; 57,5% (115/200) apresentaram anticorpos tipo IgG para T. gondii. Em nenhum doador foram detectados IgM, características de infecção recente. Os dados obtidos revelam que esses doadores não representam risco de transmissão da toxoplasmose via transfusão sanguínea. O convívio com gatos como animal de estimação não representou fator de risco significativo para a infecção por T. gondii, e sim, o hábito de consumir vegetais crus.

Spalding et al. (2005) realizaram uma triagem sorológica em 2.126 gestantes entre 12 e 48 anos, atendidas pelo Sistema Único de Saúde em 29 municípios (habitantes de áreas urbanas e rurais) no estado do Rio Grande do Sul. Destas, 74,5% (1.583/2.126) apresentaram anticorpos específicos (IgG) para T. gondii e, o fator de risco estatisticamente significativo foi o contato com o solo, tanto nas áreas urbanas (9,1%) quanto nas áreas rurais (6,8%). Considerando o local de moradia, houve uma diferença relevante de prevalência, pois 78% das mulheres grávidas de áreas rurais eram soropositivas contra 71,3% das áreas urbanas.

Blos (2009) realizou um estudo soroepidemiológico em seres humanos para verificar se a convivência com cães e gatos está relacionada, respectivamente, com a frequência de anticorpos para Neospora caninum e T.

gondii. A maioria dos participantes (94,6%) era residente de Porto Alegre e

Grande Porto Alegre (RS), 4,7% eram do interior do RS e 0,6% de outros estados. Foi constatada uma soroprevalência de 28% (14/50) para T. gondii em proprietários de gato e 22% (11/50) em pessoas sem convívio com animais de estimação; a posse de animais de estimação não representou ser um fator de risco.

Cantos et al. (2000) abordaram a ocorrência de toxoplasmose, considerando as diferentes técnicas aplicadas nos exames sorológicos realizados em 2.994 pacientes atendidos no Laboratório do Hospital Universitário da Universidade Federal de Santa Catarina. Os resultados

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mostraram que 1.281 pacientes (42,78%) apresentavam anticorpos para o protozoário. Os dados obtidos foram comparados aos dados encontrados na literatura, em que as prevalências oscilam entre 20% e 90%, nas diferentes regiões do mundo.

Lopes et al. (2009) analisaram associações entre os resultados sorológicos para anticorpos IgG e IgM anti-T. gondii e variáveis socioeconômicas e ambientais em 350 mulheres no primeiro trimestre da gestação, atendidas nas Unidades Básicas de Saúde de Londrina, Paraná. A prevalência de anticorpos IgG anti-T. gondii foi de 49,2% e as variáveis sociodemográficas que mostraram associação significativa com a presença de anticorpos foram: idade, escolaridade, renda per capita, presença de gatos e hábito de comer saladas cruas.

Figueiredo et al. (2010) averiguaram a prevalência da infecção por T.

gondii em 100 universitários de Campo Grande, Mato Grosso do Sul,

correlacionando-a a fatores que poderiam influenciar na transmissão do protozoário. Os resultados indicaram que a ocorrência de anticorpos para T.

gondii foi relativamente baixa (39%) em relação à prevalência média

encontrada em diferentes amostras populacionais do Brasil, e ressaltam que o fator de risco para a infecção estava relacionado à presença de gatos no domicílio.

Pôrto et al. (2008) realizaram um estudo transversal em 503 gestantes atendidas no ambulatório pré-natal do Instituto Materno-Infantil Prof. Fernando Figueira (IMIP) em Recife, Pernambuco, para determinar a soroprevalência para T. gondii e verificar possíveis associações entre susceptibilidade e fatores sócio-demográficos. Os resultados evidenciaram soropositividade de 74,7% e associação significativa entre susceptibilidade para toxoplasmose e escolaridade.

López-Castillo, Díaz-Ramírez e Gómez-Marín (2005) efetuaram um estudo de caso-controle para identificar os fatores de risco para toxoplasmose aguda em 48 mulheres grávidas atendidas pelo Programa de Toxoplasmose do Centro de Investigações Biomédicas da Universidade de Quindio da Armenia, no município de Armênia, Colômbia. Os fatores de risco mais fortemente associados à infecção por T. gondii foram consumo de carne mal cozida,

(24)

consumo de bebidas feitas com água sem ferver e o contato com gatos menores de seis meses.

Ramírez et al. (1999) realizaram um estudo transversal para determinar anticorpos anti-Toxoplasma em 59 indivíduos proprietários de gatos e em 24 de seus animais de companhia. A idade dos indivíduos variou entre 15 e 81 anos, e estes habitavam a região metropolitana de Guadalajara, Jalisco, México. Destes, 64,4% (38/59) eram positivos para IgG anti-Toxoplasma e dos 24 soros de gatos analisados, 70,8% apresentavam soropositividade para IgG, 8,3% para IgM e 62,5% para IgA. Concluíram que o convívio com gatos infectados por T. gondii é um fator que propicia a infecção humana pelo protozoário, já que a proporção de soropositividade encontrada em donos de gatos (64%) é maior do que na população em geral de Jalisco e na zona metropolitana de Guadalajara (38%).

Jiménez-Coello et al. (2011) desenvolveram um estudo transversal em 80 pessoas com idades entre 18 e 21 anos, sem história de contato prévio com gatos, na cidade de Mérida Yucatán, México. A prevalência de soropositividade foi de 25% (20/80) e o fator de risco associado foi o consumo de carne suína e carne de animais silvestres.

Bobić, Nikolić e Djurković-Djaković (2003) realizaram um estudo retrospectivo sobre os fatores de risco de infecção por T. gondii na Sérvia (Europa), com base em dados sorológicos e epidemiológicos de 2936 mulheres com idade entre 15 e 49 anos. A prevalência de infecção foi de 69%, consumo de carne mal cozida foi fator de transmissão representativo no grupo estudado, enquanto a exposição ao solo foi significativa apenas em mulheres com idade entre 15 e 19 anos. Ter gato de estimação não influenciou na soroconversão.

As controvérsias constatadas na literatura sobre a importância do convívio com gatos, para a infecção humana por T. gondii geraram o presente estudo.

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3 Objetivos

3.1 Geral

Conhecer a importância do convívio com gatos como animais de estimação, como fator de risco para a infecção humana por T. gondii em Pelotas, Rio Grande do Sul.

3.2 Específicos

Comparar a prevalência de anticorpos para T. gondii entre pessoas que convivem com gatos e pessoas que não se aproximam desses animais.

Avaliar pela reação de imunofluorescência indireta (IFI) a presença e a titulação de anticorpos IgG anti-Toxoplasma gondii nos soros dos voluntários.

Correlacionar os resultados sorológicos com dados epidemiológicos dos voluntários no município de Pelotas, Rio Grande do Sul.

(26)

ARTIGO

(27)

AVALIAÇÃO SOROEPIDEMIOLÓGICA DE Toxoplasma gondii EM HUMANOS E SUA RELAÇÃO COM O CONVÍVIO COM GATOS (Felis catus)

DE ESTIMAÇÃO, NO SUL DO RIO GRANDE DO SUL

Luciana Siqueira Silveira dos SANTOS1, Aline Machado CARVALHO2, Cíntia Lidiane Guidotti Aguiar1, Beatris González CADEMARTORI2 & Nara Amélia da

Rosa FARIAS3

Introdução

Toxoplasma gondii (Nicolle; Manceaux, 1909) é um protozoário parasito

intracelular obrigatório pertencente ao filo Apicomplexa, classe Sporozoa, subclasse Coccidia, subordem Eimeriina, família Sarcocystidae, amplamente distribuído no mundo1.

É descrito como agente etiológico da toxoplasmose, uma protozoonose de grande importância em saúde pública por causar graves consequências na espécie humana e animais homeotérmicos2.

Os felídeos são fundamentais no ciclo biológico do T. gondii, pois podem liberar milhares de oocistos nas fezes. Esses se tornam infectantes após esporulação no ambiente, contaminando água e alimentos por vários meses devido a elevada capacidade de sobrevivência no ambiente3,4.

Nas formas adquiridas, o homem pode infectar-se através da ingestão de oocistos esporulados encontrados na água ou em vegetais e por cistos tissulares presentes em carnes cruas ou mal cozidas5,6. Na transmissão congênita, a primoinfecção coincide com a gestação, quando os taquizoítos difundem-se para os tecidos fetais, causando danos graves7.

No Brasil, a taxa de prevalência de anticorpos IgG para T. gondii em indivíduos adultos varia de 50 a 80%8. A variação nas taxas de prevalência nas diferentes regiões do planeta está baseada em diversos fatores, tais como padrões culturais da população, hábitos alimentares, faixa etária, procedência

1

Programa de Pós-Graduação em Veterinária, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. E-mail: sssluciana@yahoo.com.br

2

Programa de Pós-Graduação em Parasitologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.

3

Professora do Departamento de Microbiologia e Parasitologia do Instituto de Biologia, Universidade Federal de Pelotas, Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil.

(28)

rural ou urbana, tipos de trabalho, fatores geográficos, climáticos, socioeconômicos e religiosos9,10.

Em Pelotas, no estado do Rio Grande do Sul, foi constatada soroprevalência de 54,8% (233/425) em gestantes atendidas em Unidades Básicas de Saúde11. No mesmo município, no Serviço de Atendimento Especializado (SAE), 80% (200/250) de pacientes HIV positivos eram sororreagentes a T. gondii12, enquanto que em doadores de sangue do Hemocentro Regional, a soroprevalência foi de 57,5% (115/200)13.

O potencial do convívio com felinos como fator de risco para a infecção humana por T. gondii tem gerado controvérsias na literatura. Alguns autores afirmam que a convivência com gatos propicia maiores riscos de infecção humana pelo protozoário14,15,16,17,18, enquanto outros constataram que o contato direto com esses animais não é considerado fator de risco para essa infecção11,12,13,19,20,21,22,23.

O objetivo deste estudo foi conhecer a importância do convívio com o gato como animal de estimação para a infecção humana por T. gondii, através de avaliação soroepidemiológica.

Material e Métodos

Foram constituídos dois grupos de estudo: um com 108 amostras de soro de pessoas que têm ou já tiveram gatos como animal de estimação e outro com 110 amostras de pessoas que não gostam e nunca tiveram gatos em suas residências.

A amostragem foi feita por conveniência, incluindo moradores da área urbana de Pelotas, RS, Brasil (31º 45’ S, 52º 21’ O). As coletas de amostras e de informações foram feitas em apenas um integrante de cada família.

As coletas de sangue foram realizadas no Laboratório de Análises Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas e nas residências de alguns participantes, por profissional qualificado, no período de maio a dezembro de 2011. Um questionário epidemiológico investigando fatores de risco para infecção por T. gondii foi aplicado durante as coletas.

As variáveis epidemiológicas analisadas através do questionário foram: idade, sexo, localização geográfica da residência, escolaridade, conhecimento sobre a doença e suas formas de transmissão, convivência com gatos, hábitos

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higiênico-sanitários em relação à posse de gatos, hábito de manusear carne crua, hábito de consumir verduras e legumes crus, carne crua ou mal cozida, embutidos caseiros, água não tratada e leite não pasteurizado, refeições realizadas em restaurante, hábito de lavar as mãos antes das refeições, contato direto com o solo e, histórico de transfusões sanguíneas.

As amostras de soro foram armazenadas em tubos tipo eppendorf® e congeladas a -20ºC até seu processamento no Laboratório de Parasitologia do Instituto de Biologia da Universidade Federal de Pelotas.

As análises qualitativa e quantitativa de anticorpos IgG anti-T. gondii nas amostras de soro foram feitas através da técnica de Imunofluorescência Indireta (IFI), utilizando o “kit” WAMA®

Diagnóstica*.

As variáveis independentes foram descritas quanto a sua distribuição de frequências. As diferenças entre as taxas de infecção entre grupos foram analisadas através do teste Qui-quadrado. Regressão logística (univariada e multivariada) foi usada para avaliar a associação entre soropositividade por T.

gondii e fatores demográficos e epidemiológicos. A análise dos dados foi

realizada pelo programa Statistix versão 9.0.

Aspectos éticos: O protocolo deste estudo foi elaborado de acordo com as Diretrizes e Normas Regulamentadoras de Pesquisas envolvendo seres humanos (Resolução do Conselho Nacional de Saúde nº196/96, 10 de outubro de 1996) e foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Pelotas (OF. 51/11). Os participantes foram previamente esclarecidos quanto à pesquisa a ser desenvolvida e aqueles que concordaram em participar, assinaram um Termo de Consentimento livre e esclarecido sobre a utilização do material coletado.

Resultados

Entre as 218 amostras analisadas, 33% apresentaram anticorpos IgG para T. gondii. Os títulos variaram de 32 a 64, sendo que a titulação mais frequente foi de 32 (98,6%). A soroprevalência das 108 pessoas que convivem com gatos como animais de estimação e das 110 pessoas que não gostam

*

Foram consideradas reagentes diluições a partir de 1:32, de acordo com as instruções do fabricante.

(30)

e/ou nunca tiveram gatos em suas residências, foi de 39,8% (43) e 26,4% (29), respectivamente.

De acordo com os resultados obtidos no questionário epidemiológico, a maioria dos entrevistados era do sexo feminino (69,3%), com idade média de 35,5 anos (dP 14,4), e nível de escolaridade médio e superior (90,4%) (Tab. 1).

Tabela 1 - Perfil de moradores de Pelotas, Rio Grande do Sul, que convivem e não convivem com gatos como animais de estimação, no período de maio a dezembro de 2011 (n = 218).

VARIÁVEL Convivem Não convivem

n Frequência (%) n Frequência (%) SEXO Feminino 76 70,4 75 68,2 Masculino 32 29,6 35 31,8 FAIXA ETÁRIA 15-30 anos 57 52,8 51 46,4 ≥ 31 anos 51 47,2 59 53,6 ESCOLARIDADE

Analfabeto e Ensino Fundamental Completo 11 10,2 10 9,1

Ensino Médio Completo 55 50,9 49 44,5

Ensino Superior Completo 42 38,9 51 46,4

A maioria dos entrevistados (84,4%) afirma ter conhecimento sobre toxoplasmose, mas, desses, apenas 23,9% citaram fontes reais de infecção humana pelo protozoário.

Quanto aos hábitos higiênico-sanitários, em relação à posse de gatos, entre as 108 pessoas que têm (ou já tiveram) gatos em seus domicílios, 67% possuem (ou possuíram) até dois gatos de estimação simultaneamente e 33%, mais de três. Na maioria dos casos, o(s) gato(s) tem/tinham acesso a todos os cômodos da casa (84,3%), são/eram frequentemente acariciados, pois 98,1% vão/iam ao colo e 69,4% dormem/dormiam na cama com o(s) dono(s). Os gatos defecam/defecavam em caixas de areia (71,3%) ou na rua (66,7%) e as fezes das caixas são/eram recolhidas e colocadas no lixo (67,6%). Apenas 15,7% dos proprietários desprezam/desprezavam as fezes no vaso sanitário.

(31)

Observou-se, na análise univariada, associação significativa (p ≤ 0,25) entre a soropositividade dos proprietários e a não utilização da caixa de areia para as evacuações do animal (p = 0,1645).

Em ambos os grupos estudados, a análise univariada dos fatores de risco, associados com a presença de anticorpos para T. gondii, que apresentou resultado de p ≤ 0,25 foram: idade superior a 31 anos, não higiene das mãos antes das refeições, convivência com gatos, desconhecimento sobre a toxoplasmose, ter feito transfusão sanguínea, manuseio de carne crua, sexo feminino, consumo de leite não pasteurizado sem ferver e consumo de verduras e legumes crus (Tab. 2).

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Tabela 2 - Frequência dos possíveis fatores de risco à infecção por

Toxoplasma gondii e relação com a sorologia positiva em pessoas que

convivem e não convivem com gatos, após análise univariada (n = 218).

Fatores de risco

Frequência Soropositividade

Valor de p

n % n %

Idade ≥ 31 anos 110 50,5 51 46,4 0,0000*

Não lavar as mãos antes das refeições 20 9,2 1 5,0 0,0052*

Convivência com gatos 108 49,5 43 39,8 0,0347*

Escolaridade até ensino fundamental 21 9,6 11 52,4 0,0458* Nunca ouviu falar em toxoplasmose 34 15,6 16 47,1 0,0583*

Transfusão sanguínea 17 7,8 9 52,9 0,0690*

Manuseio de carne crua 151 69,3 45 29,8 0,1284*

Sexo feminino 151 69,3 45 29,8 0,1284*

Consumo de leite não pasteurizado sem ferver 36 16,5 15 41,7 0,2277* Consumo de verduras e legumes crus 162 74,3 57 35,2 0,2493* Mexer com terra sem o uso de luvas 117 53,7 42 35,9 0,3322 Consumo de carne crua ou mal cozida 72 33,0 21 29,2 0,3947

Refeições em restaurante 75 34,4 22 29,3 0,4010

Não conhecimento dos modos de transmissão 65 29,8 24 36,9 0,4254 Presença de gatos no peridomicílio 141 64,7 49 34,8 0,4639 Hábito de provar tempero de carne crua 59 27,1 18 30,5 0,6300 Não lavar frutas, verduras e legumes 21 9,6 6 28,6 0,6479 Modos de transmissão citados incorretamente 133 61,0 44 33,1 0,9827

Consumo de água não tratada 70 32,1 23 32,9 0,9707

Consumo de embutidos artesanais 72 33,0 22 30,6 0,5858 *p ≤ 0,25

Após a aplicação do modelo de regressão logística multivariada, as variáveis que permaneceram estatisticamente significativas (p ≤ 0,05) foram: idade dos participantes, convivência com gatos e manuseio de carne crua. Verificou-se que pessoas com idade superior a 31 anos têm 3,99 vezes mais

(33)

chances de estarem infectadas, assim como aqueles que convivem com gatos estão 2,18 vezes mais expostos ao parasito. O manuseio de carne crua representa chance de infecção 0,47 vezes maior à dos que não manuseiam (Tab. 3).

Tabela 3 - Associação (p ≤ 0,05) dos fatores de risco à infecção por

Toxoplasma gondii com a soropositividade em pessoas que convivem e não

convivem com gatos, após análise multivariada (n = 218).

Variáveis OR (IC = 95%) Valor de p

Idade ≥ 31 anos 3,99 0,0000

Convivência com gatos 2,18 0,0143

Manuseio de carne crua 0,47 0,0290

*p ≤ 0,05

Discussão

A prevalência de 33% de anticorpos IgG para T. gondii verificada nas 218 amostras é relativamente baixa, pois levantamentos realizados no Brasil, mostraram que em indivíduos adultos, a taxa de prevalência varia de 50 a 80%8. Em outros trabalhos realizados no mesmo município (Pelotas, RS), foram constatadas soroprevalências de 54,8% em gestantes atendidas em Unidades Básicas de Saúde11, 80% em pacientes HIV positivos em acompanhamento no Serviço de Atendimento Especializado (SAE)12, e de 57,5% em doadores de sangue do Hemocentro Regional13.

A baixa prevalência verificada no presente estudo pode estar relacionada ao nível de escolaridade dos participantes, pois 90,4% possuem grau de instrução médio e superior, o que possivelmente colaborou com as medidas de prevenção gerais para exposição às formas de transmissão da toxoplasmose. A soroprevalência aqui observada é similar à encontrada em estudo realizado em Campo Grande, Mato Grosso do Sul, onde 39% (39/100) dos universitários analisados eram sororreagentes para T. gondii18. Em Porto Alegre – RS, a escolaridade (a partir de mais de nove anos de escola) das gestantes avaliadas, apresentou efeito de proteção para toxoplasmose, justificando a hipótese de que o grau de instrução diminui a exposição à doença24. Em Londrina, Paraná, gestantes com nível de educação até o ensino

(34)

médio apresentaram maior risco de infecção por T. gondii17, assim como em Goiânia, Goiás, onde foi constatado que mulheres em idade fértil com menor nível escolar e baixa renda têm mais chances de adquirir essa infecção25. Na China, mulheres grávidas que não frequentaram a escola tiveram maior risco de infecção por T. gondii26. O nível educacional inferior ao ensino médio também foi considerado fator de risco de infecção em estudos realizados em Pelotas – RS com pacientes HIV positivos12 e com doadores de sangue13. O mesmo foi verificado em estudo realizado em Taubaté, São Paulo, com gestantes de baixas condições socioeconômicas27.

Por outro lado, a maioria dos entrevistados (84,4%) afirma ter conhecimento sobre toxoplasmose, mas, desses, apenas 23,9% citaram fontes reais de infecção humana pelo protozoário. O desconhecimento sobre a toxoplasmose e, sobretudo seus meios de transmissão (citaram, por exemplo, urina de gatos, fezes de cães, contato com animais, etc.), constatado no presente estudo, também foi verificado em outros segmentos da população local11,12,13. Em pesquisa realizada em Cuiabá, Mato Grosso, 78,1% das gestantes referiram desconhecer a existência da toxoplasmose28. Esses dados ressaltam a necessidade de uma orientação à população sobre a doença, especialmente medidas de higiene relacionadas à alimentação.

A baixa titulação aqui observada (98,6% com título 32) é semelhante à encontrada em estudo realizado neste município, no qual a titulação de 64 foi a mais frequente (46,5%), seguida por 32 (41%)12. Títulos baixos sugerem infecção crônica8.

Com relação à idade dos participantes, observou-se correlação significativa entre a faixa etária acima de 31 anos e a soropositividade, corroborando a maioria dos levantamentos soroepidemiológicos em diferentes grupos da população em geral11,13,18,24,29. De acordo com a literatura, quanto mais alta a faixa etária, maior o tempo de exposição às fontes de infecção ao T.

gondii, e, consequentemente, maior o risco de ter sofrido a infecção.

Resultados do presente estudo revelam que manusear carne crua representa risco significativo de infecção, pois facilita a contaminação das mãos e utensílios de cozinha, além de outros itens alimentares, por cistos contidos na carne, durante o preparo de alimentos. Isso ressalta a atenção para o manuseio correto de carne crua, adotando medidas úteis de prevenção,

(35)

tais como o uso de sabão e água para limpar as mãos e os utensílios após o uso14.

Resultados similares foram observados por outros autores: em São Paulo, ao comparar a frequência de positivos segundo as ocupações (profissões), donas de casa e empregadas domésticas apresentaram maior positividade, subentendendo-se que o manuseio da carne e o hábito de provar a carne crua durante o preparo das refeições são fatores de risco30. A manipulação de carcaças e vísceras de suínos por magarefes representou maior exposição ao risco de infecção por T. gondii31. Um estudo realizado em Pato Branco – PR revelou que a alta prevalência em funcionários de matadouros está relacionada à manipulação não higiênica de carne bovina (principalmente para evisceradores e inspetores)32. Em pesquisa realizada em Palmas – PR com trabalhadores de um frigorífico de suínos, os autores concluíram que a manipulação de carcaças pode ter contribuído com a transmissão do parasito33.

Neste estudo constatou-se que pessoas que possuem gatos domiciliados estão 2,18 vezes mais expostas ao protozoário, ou seja, o convívio com gatos está significativamente associado à soropositividade por T.

gondii. Esse fato pode ser explicado pelos hábitos higiênico-sanitários que os

proprietários mantêm com seus animais, sendo que, entre as 108 pessoas que tem (ou já tiveram) gatos em seus domicílios, observou-se associação significativa entre a soropositividade e o livre acesso à rua dos gatos, pois 84,3% (91/108) dos donos de gatos permitiam o contato deles com o meio externo. Isso facilitaria a caça de pequenas presas, tornando-os mais suscetíveis à infecção pelo parasita e, por consequência, causando a contaminação por oocistos deste ambiente34,35.

Os resultados se assemelham às pesquisas realizadas em Guadalajara – Jalisco (México), onde a soropositividade encontrada em donos de gatos (64% - 38/59) é maior que a soroprevalência da população do estado (38%)15. Em Armênia - Quindío (Colômbia) foi constatado que ter contato com gatos menores de seis meses é um fator de risco significativo (p = 0,01), porém, com OR e IC95% indefinidos16. Pesquisa realizada na Noruega revelou que a limpeza da caixa de areia do gato e o contato com suas fezes aumentam o risco de infecção por T. gondii (OR = 5,5 e p = 0,02)14.

(36)

No Brasil, em Londrina – PR, os autores constataram que a presença de gatos nas residências de mulheres grávidas teve associação significativa (p = 0,004) com o risco de infecção por T. gondii17; em Campo Grande – MS, dos 39% (39/100) de universitários IgG reagentes para toxoplasmose, 72,97% declararam possuir ou ter possuído gatos em domicílio, enquanto que entre os soronegativos, 50% relataram possuir ou ter possuído gatos18; em Fortaleza, Ceará, 256 de 995 participantes mencionaram viver em contato com gatos, e, desses, 60% eram soropositivos, contra 51% daqueles sem contato (p = 0,01)36.

Contradizendo esses dados, outras pesquisas realizadas tais como em Pelotas – Rio Grande do Sul11, 12, 13, Porto Alegre – RS22, Recife – PE21

, Mérida Yucatán – México37, Estados Unidos19,23, Sérvia20 e em seis grandes cidades européias38, asseguram que contato com gatos não representa risco de infecção.

Através dos resultados obtidos no presente estudo, adverte-se a necessidade de informar a população quanto às principais formas de contaminação e prevenção da toxoplasmose. Quanto ao risco de ter gatos como animais de companhia, os resultados encontrados em diferentes pesquisas são controversos. No presente estudo, a soroprevalência de proprietários foi superior a de pessoas que não convivem com felinos. No entanto, são exigidos novos estudos que atinjam um número maior de pessoas (proprietários e não) e, sobretudo, de diferentes níveis socioculturais. Também ficou evidente que se pode reduzir o risco de infecção fazendo com que os gatos vivam exclusivamente no interior do domicílio e sejam mantidos em condições higiênico-sanitárias adequadas, tais como limpeza diária da caixa de areia com retirada das fezes, e alimentação exclusiva com ração, evitando oferecer carnes cruas.

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Referências

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gondii infection on 47 swince farms in Illinois. Journal of Parasitology.

1995;81:723-729.

3. Vidotto O. Toxoplasmose: Epidemiologia e importância da doença na saúde animal. Semina: Ciências Agrárias. 1992;13:69-75.

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