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PROTECÇÃO A ALTAS TEMPERATURAS COM RECURSO A ARGAMASSAS DE ELEMENTOS DE BETÃO REFORÇADOS COM CFRP

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PROTECÇÃO A ALTAS TEMPERATURAS COM RECURSO A ARGAMASSAS DE ELEMENTOS DE BETÃO REFORÇADOS COM CFRP

Inês Grilo Aluna PhD.

UC - Coimbra Portugal

Fernando Branco Prof. Auxiliar UC - Coimbra Portugal

Eduardo Júlio Prof. Assoc. Agreg.

UC - Coimbra Portugal

SUMÁRIO

A presente comunicação apresenta resultados de ensaios laboratoriais sobre colagens betão- FRP sujeitas a um esforço de corte puro, com o objectivo de determinar a eficiência de um sistema combinado de protecção na melhoria de desempenho de elementos de betão reforçados com CFRP sob aumento de temperatura. Testaram-se colagens sem protecção e com diferentes combinações de protecções à base de argamassa e pintura intumescente.

Palavras-chave: Altas Temperaturas, Sistemas de Protecção Térmica, Betão, CFRP.

1. INTRODUÇÃO

Ao longo da sua vida útil, as estruturas encontram-se sujeitas a diversas solicitações que conduzem à sua deterioração progressiva, diminuindo a sua capacidade resistente. Por vezes, o programa funcional da estrutura é também alterado, havendo necessidade de adequá-la às novas exigências. Surge então a necessidade de proceder a acções de reabilitação e, eventualmente, de reforço. Na actual conjuntura internacional de garantia de sustentabilidade ecológica, cada vez mais as operações de manutenção, reparação e reforço de estruturas serão actividades preponderantes na construção civil. Com o interesse crescente da reabilitação estrutural, novos materiais e tecnologias inovadoras têm vindo a ser desenvolvidas.

Além disso, procuram-se continuamente novos materiais e métodos de construção que assegurem uma vida longa e saudável às estruturas. Este desenvolvimento tecnológico conduziu ao aparecimento de diferentes sistemas de reparação e reforço, entre estes a técnica de colagem de armaduras exteriores ao betão, chapas de aço ou polímeros reforçados com fibras (FRP), utilizando resinas de epóxido.

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Este método de reforço é aplicável em vigas, pilares e lajes, e tem como principal função o aumento de resistência à flexão e/ou ao corte ou o aumento do confinamento. Os trabalhos de investigação realizados até à data são unânimes no reconhecimento das vantagens desta técnica no âmbito da reparação e do reforço de estruturas de betão. O uso de sistemas de materiais compósitos à base de fibras de carbono é vantajoso devido a inúmeras vantagens:

imunidade à corrosão, elevada resistência à tracção e à fadiga, grande capacidade de deformação e geometria e dimensões ilimitadas.

Estes sistemas, no entanto, apresentam algumas desvantagens, nomeadamente:

comportamento elástico até à rotura, coeficiente de expansão térmica diferente do betão e a degradação prematura e consequente rotura quando submetidos a elevadas temperaturas. De igual modo, é consensual o reconhecimento da sua principal desvantagem: o mau comportamento da resina de epóxido, como adesivo, quando submetida a elevadas temperaturas, provocando problemas de aderências que diminuem o aproveitamento máximo das potencialidades dos materiais FRP. Revela-se assim fundamental melhorar o comportamento das estruturas de betão armado reforçadas com FRP quando sujeitas à acção do fogo. Devido às suas características comparativamente com outros tipos de fibras, os CFRP (Carbon Fiber Reinforced Polymer) apresentam um melhor comportamento mecânico, evidenciando uma resistência à tracção e à compressão mais elevada, e um melhor comportamento à fadiga [1].

Um sistema de reforço com materiais compósitos é dividido em dois componentes distintos: o FRP e o adesivo. A função do adesivo consiste na impregnação do grupo de fibras, de forma a garantir a polimerização do conjunto do compósito FRP. Após esta polimerização ou endurecimento “in situ”, desenvolvem-se as propriedades de aderência na ligação desejadas, estando concluído o sistema de reforço estrutural [1]. A aplicação de reforço através de FRP inicia-se com a preparação da superfície de colagem. Esta fase é crucial, pois o grau de limpeza e rugosidade das superfícies no momento da colagem influencia significativamente a aderência e por consequência a resistência da ligação. e a colagem propriamente dita dos materiais compósitos. Após a colagem, a aderência na interface betão – adesivo - compósito FRP aumenta progressivamente. Face às exigências de um projecto de reforço estrutural, é necessário conhecer o comportamento do sistema a curto e a longo prazo, que depende do desempenho da ligação das superfícies coladas.

Nos sistemas reforçados com CFRP, é importante avaliar o efeito negativo da acção de elevadas temperaturas nas resinas de epóxido e nos compósitos. A exposição a altas temperaturas é bastante preocupante, pois conduz à degradação da resina, com redução da sua resistência e rigidez, e afectando a ligação betão – CFRP. Uma das grandes preocupações é a perda de resistência da interface resina/CFRP [2]. O desempenho ao fogo pode ser melhorado através da aplicação de revestimentos que retardam a penetração do calor no material compósito, tendo uma função isolante. Revestimentos cerâmicos e intumescentes têm sido utilizados para aumentar a temperatura de ignição e propagação da chama no interior do sistema de reforço. Uma das formas de possibilitar a aplicação de reforços de compósitos mesmo sob acção de altas temperaturas é o recurso a procedimentos adicionais de prevenção, nomeadamente a protecção da colagem com revestimentos térmicos e intumescentes.

Pelo exposto, verifica-se que o comportamento da ligação entre o betão e o compósito é um factor muito importante na eficiência desta técnica de reforço. Assim, torna-se relevante estudar a resistência da colagem. Existem diversos modelos de ensaio, idealizados por vários autores,

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para esse efeito. Os modelos de ensaio foram criados para avaliar a resistência da colagem entre o betão e chapas de aço, adoptando-os para avaliar a resistência da colagem entre betão/CFRP [3,4,5]. Branco [6] idealizou um modelo que transmite esforços de tracção a chapas de aço e compressão ao betão. A transmissão de esforços entre os dois materiais deve ser feita através da resina de epóxido. O esquema é constituído por duas amarras e uma abraçadeira (4). Cada amarra possui uma argola (3) que funciona como suporte de fixação à máquina de tracção. No interior da argola passa um casquilho horizontal (2), apoiado no centro da argola através de um roço, que permite a sua oscilação em torno desta. Cria-se então uma rótula que garante a transmissão de forças semelhantes em ambas as chapas que constituem a braçadeira. Por fim, no centro do casquilho atravessa uma cavilha (1) que tem como função interligar as chapas às amarras.

Figura 1 – Esquema idealizado por Branco [6]

O presente trabalho, realizado no âmbito de uma tese de Mestrado [7], tem como objectivo estudar a eficiência da utilização de um sistema combinado – argamassa de protecção e tinta intumescente - na protecção a altas temperaturas de elementos de betão reforçados com laminados de FRP colados. Para o efeito, realizaram-se ensaios laboratoriais, nos quais se comparou o desempenho de várias soluções comerciais para protecção de estruturas ao fogo.

As colagens betão-FRP foram sujeitas a um esforço de corte puro, adaptando um sistema de ensaio previamente desenvolvido pelos autores. Após a quantificação da resistência máxima da ligação, a frio, os provetes foram sujeitos a diferentes níveis de carregamento (50% e 75%

da carga máxima) e realizaram-se ensaios de aquecimento do sistema sem protecção e com diferentes combinações de protecções à base de argamassa e pintura intumescente. A taxa de aquecimento adoptada foi de 5ºC/min, tendo sido avaliado o tipo de rotura e a temperatura da ligação no momento da rotura.

Numa primeira fase, com o objectivo de comparar o desempenho da protecção térmica das argamassas de protecção e das tintas intumescentes, realizaram-se cinco tipos de ensaios de corte, aplicando uma força constante de 50% da carga última de rotura dos ensaios a frio. As argamassas e as tintas intumescentes utilizadas foram fornecidas pelas empresas de materiais de construção Sika Portugal, SA e Tria- Serviços, Materiais e equipamentos, Lda. Numa segunda fase, aplicou-se 75% da carga última dos ensaios a frio e ensaiaram-se provetes sem qualquer tipo de protecção e, posteriormente, com argamassa Tria.

2. TRABALHO EXPERIMENTAL

Realizou-se um conjunto de ensaios laboratoriais com o objectivo de estudar o comportamento da ligação betão/CFRP sob efeito de esforços de corte e aumento de temperatura.

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Para o efeito, adoptou-se o modelo de ensaio desenvolvido por Branco [6], pois era compatível com os ensaios previstos, mas houve necessidade de algumas adaptações. Este modelo foi desenvolvido para avaliar o comportamento ao corte de ligações betão/aço. Neste esquema, as chapas de aço possuíam um orifício por onde passava a cavilha, que atravessava a chapa de aço de reforço e se interligava com a amarra. No caso em estudo, não era possível furar o sistema de CFRP e atravessar a cavilha, pois isso originaria concentrações de tensões na lâmina de CFRP e tornava-a susceptível de sofrer uma rotura prematura. Assim, a adaptação do esquema de ensaio consistiu em cortar chapas de aço de forma a cintá-las ao CFRP, na zona da cavilha, por meio de parafusos (ver Figura 2). Estas chapas possuiam dimensões de 100x80 mm, com duas filas de dois parafusos e um orifício central onde encaixava a cavilha. A função das chapas foi acomodar o CFRP entre elas e, ao apertá-las, permitir criar uma zona que conseguisse transmitir de forma eficaz os esforços aplicados à ligação. Para melhorar o atrito entre os dois materiais, as superfícies das chapas de aço em contacto com o CFRP foram grenalhadas.

a) b)

Figura 2 – Modelo de ensaio: a) provete, com cavilha, casquilho e argola; b) pormenor da ligação do provete ao dispositivo de ensaio.

2.1 Definição/caracterização dos materiais e provetes

Os provetes utilizados nos ensaios de corte eram constituídos por três materiais distintos: o bloco de betão, duas lâminas de CFRP (coladas em duas faces opostas) e a resina de epóxido que possuía funções de agente ligante. O betão selecionado pretendia representar um elemento estrutural em betão que necessitasse de reforço. Escolheu-se assim um betão de resistência corrente (Quadro 1). Relativamente ao CFRP, a empresa MC-Bauchemie forneceu um manta flexível unidireccional, com uma espessura ≈ 0,2 mm e com largura de 30 cm. Para as colagens, adoptou-se uma resina de epóxido, fornecida pela empresa Sika, tendo como designação Sikadur-30.

Quadro 1: Propriedades mecânicas dos materiais que constituem os provetes Material

Resistência à compressão

(MPa)

Resistência à tracção (MPa)

Resistência ao corte (MPa)

Módulo de Elasticidade

(MPa)

Betão 24,60 - - -

Manta CFRP - 3700 - 240

Sikadur-30 - 70-80 14-17 11200

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Os provetes de betão possuíam dimensões de 200x100x100 mm3 e duas superfícies opostas de cada provete foram reforçadas com tiras de CFRP com dimensões 80x300 mm2. A área de colagem do CFRP às superfícies do betão foi de 80x150 mm2. O processo da colagem do CFRP ao betão consistiu na aplicação do feixe de fibras contínuas em estado seco sobre um adesivo epóxido previamente espalhado na superfície a reforçar. As fibras foram então aplicadas sobre o adesivo, aderindo ao substrato e, após a sua impregnação, foi aplicada mais uma camada de resina sobre elas. Os provetes foram mantidos em repouso durante 5 dias, para se assegurar a secagem da colagem, antes da realização dos ensaios.

As argamassas utilizadas para proteger termicamente o CFRP são argamassas de projecção anti-fogo: uma, produzida pela empresa Sika, com a designação comercial Sikacrete-213F, sendo a outra a argamassa pastosa projectada da Tria. Estas argamassas são constituídes por base de cimento e por agregados leves expandidos, apresentando excelentes propriedades de coesão e aderência. A acção das tintas intumescentes na protecção contra incêndio é activada pela temperatura. Com a acção do calor, estas aumentam de volume, formando uma camada de material termo-isolante e protegendo a estrutura que lhe serve de suporte. Este processo é normalmente iniciado acima dos 200ºC. As tintas intumescentes utilizadas nestes ensaios tinhas as designações comerciais: Sika Unitherm Concrete S e Pintura Intumescente Tria. A aplicação das argamassas ofi feita através da fixação de moldes de poliestireno (ver Figura 3) com 2 cm de espessura sobre a superfície a proteger, delimitando a área de colagem. Após a aplicação das argamassas, os provetes repousaram durante 3 dias. Finalmente, as tintas foram aplicadas utilizando um pincel e pintando todas as superfícies do provete. Fizeram-se duas passagens de tintas nas superfícies para assegurar a homogeneidade da pintura.

a) b) c)

Figura 3 – Aplicação de protecção num provete: a) provete não protegido; b) colocação dos moldes; c) provete final com protecção por argamassa.

2.2 Condições dos ensaios

Os provetes de betão reforçados com sistema de CFRP foram sujeitos a ensaios de corte com aumento de temperatura. Durante a realização dos ensaios, foi necessário determinar a evolução das temperaturas em pontos específicos do provete. Desta forma, durante os ensaios existiam termopares na zona de colagem e nas superfícies da protecção. Existia também um termopar no interior do forno, para se saber a evolução da temperatura dentro deste. Em todos os ensaios, a temperatura no interior do forno aumentou a uma taxa de aquecimento constante de 5ºC/min, até à rotura do provete. Os ensaios de corte foram realizados com auxílio da máquina de tracção, sendo a força aplicada a uma velocidade de 0,1 mm/s.

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2.3 Instrumentação dos provetes

A análise da resistência ao fogo foi feita através do domínio da temperatura, determinando-se as temperaturas críticas de cada tipo de ensaio, ou seja, as temperaturas para as quais os provetes romperam. A resistência ao fogo destes provetes foi então definida pela respectiva temperatura de rotura. Nos ensaios sem protecção, avaliou-se a temperatura de rotura na ligação. Nos ensaios com sistemas de protecção (Figura 4), determinou-se ainda a diferença de temperatura de rotura entre a superfície da protecção (2) e a superfície da ligação (1).

Na preparação destes ensaios, os provetes foram instrumentados com termopares, localizados nos seguintes pontos:

 Nos ensaios de provetes sem protecção térmica, fixaram-se termopares apenas na zona de colagem;

 Nos ensaios sobre provetes protegidos com argamassas, fixaram-se termopares na zona de interface entre a resina e a argamassa e na superfície desta;

 Nos ensaios sobre provetes protegidos com argamassas e tintas como isolantes térmicos, fixaram-se termopares na zona de interface entre a resina e a argamassa e na superfície da tinta intumescente.

Figura 4: Identificação das superfícies em estudo

2.4 Tipos de rotura

Os ensaios efectuados permitiram observar cinco tipos de rotura (Figura 5):

Rotura 1 - Rotura no betão: sofre um destacamento/arrancamento de forma regular;

Rotura 2 - Rotura na resina: esta possui uma resistência inferior à do betão devido à diminuição das propriedades iniciais quando submetida a elevadas temperaturas;

Rotura 3 - Rotura mista betão/resina: perda de aderência entre os materiais;

Rotura 4 - Rotura mista CFRP/resina: rotura da chapa de CFRP na zona mais frágil imediatamente após o inicio da rotura na resina;

Rotura 5 - Rotura na chapa de CFRP;

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Rotura 1 Rotura 2 Rotura 3 Rotura 4 Rotura 5 Figura 5: Tipo de rotura nos provetes

2.5 Resultados de ensaio

Nos ensaios realizados sem aquecimento, todos os provetes registaram uma rotrura pelo betão (Rotura 1), ocorrendo um arrancamento da parte superficial deste. Esta rotura é usual neste tipo de ensaios visto que, para a temperatura ambiente da ordem de 20ºC, o adesivo não se encontra degradade, garantindo uma colagem eficiente. Após a análise dos resultados dos ensaios, determinou-se o valor da força de rotura de 31,07kN, valor que foi utilizado como referência nos ensaios a quente.

Após os ensaios sem aquecimento, realizaram-se ensaios a quente, procurando avaliar a evolução da capacidade resistente de colagens betão/compósito CFRP com a variação de temperatura. Antes do aquecimento, foi aplicada nos provetes uma força constante. Em seguida, os provetes foram aquecidos a uma taxa de 5ºC/min até se observar a rotura da ligação.

Realizaram-se duas séries de ensaio a quente, que diferiam entre si no nível de carregamento aplicado: 50% e 75% da força de rotura observada a frio. Este procedimento permitiu avaliar a influência do nível de carga quando um provete se encontra sujeito às mesmas condições de aquecimento. Os parâmetros de avaliação de resultados foram o modo de rotura e a temperatura a que esta ocorreu.

O Quadro 2, esquematiza as várias condições de ensaio testadas, tomando como variáveis a percentagem de carga e o tipo de protecção.

Quadro 2: Esquema das etapas de ensaio ao corte em aquecimento

% Carga de rotura Protecção da ligação Força (kN)

50% de carga

Sem protecção

15,85

Argamassa Sika

Tria Argamassa + Tinta Sika Tria 75% de carga Sem protecção

23,30 Argamassa Tria

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O Quadro 3 apresenta os resultados obtidos nos ensaios realizados sobre provetes sem protecção, para um nível de carregamento de 50% da carga de rotura a frio. Observou-se uma rotura mista betão/resina, que sugere uma perda de aderência na ligação entre os materiais.

As temperaturas de rotura em todos os provetes testados apresentam valores da mesma ordem de grandeza.

Quadro 3: Temperatura e tipo de rotura dos ensaios sem protecção térmica na ligação Provetes F (kN) T (ºC) Tipo de Rotura

1º 16,3 101,1 3

2º 16,3 87,9 3

3º 16,3 96,6 3

Quando se aplicou uma protecção da colagem constituída por argamassa (Quadro 4), observou-se, nos provetes protegidos com argamassa Sika, uma diminuição da capacidade adesiva da resina. Ambos os provetes ensaiados romperam por descolamento, com a rotura localizada na resina. A temperatura na zona de colagem, no momento da rotura era, em ambos os casos, próxima de 65ºC. A diferença de temperatura entre a face exterior da camada de protecção (face exposta ao aumento de temperatura) e a face em contacto com a lâmina de CFRP variou entre 53ºC e 66ºC.

Os provetes protegidos pela argamassa Tria apresentaram distintos modos de rotura. No entanto, a temperatura registada na zona de ligação, no momento da rotura, era em todos os casos superior a 75ºC.

Comparando as diferenças de temperatura evidenciadas em faces opostas em ambos os tipos de protecção de argamassa no momento da rotura, observa-se que os provetes protegidos pela argamassa Tria revelaram uma temperatura de rotura mais elevada em relação aos provetes protegidos pela argamassa Sika. Verifica-se ainda que a diferença de temperaturas existente entre a superfície da argamassa e a resina é mais elevada nos provetes protegidos pela argamassa da Tria.

Os resultados obtidos indicam que a argamassa Tria proporcionou um efeito de isolamento térmico sobre a zona de colagem mais eficiente que o providenciado pela argamassa Sika.

Quadro 4: Temperatura e tipo de rotura obtidos nos ensaios com protecção.

Provetes F (kN) T1 (ºC) T2 (ºC) temp21(ºC) Tipo de Rotura Argamassa

Sika

1º 16,2 64,7 117,9 53,2 2

2º 16,2 68,5 134,6 66,1 2

Argamassa Tria

1º 16,3 90,8 147,9 57,2 5

2º 16,1 79,3 160,4 81,0 2

3º 16,1 75,3 137,9 62,6 4

Argamassa + tinta Sika

1º 16,1 59,9 120,0 60,1 4

2º 16,1 68,7 145,3 76,6 4

3º 16,3 72,2 110,9 38,7 4

Argamassa + tinta Tria

1º 16,7 59,9 119,9 52,5 4

2º 16,2 68,7 146,0 73,1 4

3º 16,4 72,2 146,7 73,8 4

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Em seguida, efectuou-se uma nova série de ensaios, em que se manteve o carregamento e a protecção com argamassas, tendo-se aplicado uma pintura intumescente sobre a argamassa (ver Quadro 4). Os resultados obtidos permitem observar que a diferença de temperaturas entre as faces da camada de protecção nos provetes protegidos por argamassas e tintas é idêntica à situação anteriormente descrita, em que existia apenas argamassa. Este resultado indica que a tinta intumescente não possui qualquer efeito isolante neste tipo de ensaios, tal como antecipado. De facto, a tinta intumescente apenas se torna eficiente a partir de valores de temperatura da ordem dos 200ºC, valores bastante superiores à temperatura atingida no corrente conjunto de ensaios.

Com o objectivo de quantificar a influência do nível de carregamento no comportamento da ligação sujeita a aquecimento, procedeu-se a um ensaio sobre provetes sujeitos a um carregamento de 75% da carga de rotura observada a frio.

Os resultados apresentados no Quadro 5, referentes a provetes não protegidos, permitem concluir que o aumento de carga provocou um decréscimo da resistência térmica na ligação.

De facto, a rotura de todos os provetes passou a ocorrer para uma temperatura na ligação acima de 68ºC, quando a menor temperatura no momento da rotura verificada para um nível de carregamento de 50% havia sido de 88ºC.

Nos provetes ensaiados com protecção de argamassa, para o nível de carregamento de 75%

(Quadro 6), verificou-se que a diferença de temperaturas entre a superfície da argamassa e a resina era semelhante à observada no ensaio de 50% de carga, pelo que se conclui que a características isolantes da argamassa são independentes do valor de carga aplicada no ensaio de corte.

Quadro 5: Temperatura e tipo de rotura dos ensaios sem protecção térmica na ligação Provetes F (kN) T (ºC) Tipo de Rotura

1º 24,0 75,3 5

2º 24,2 83,2 1

3º 24,1 68,4 1

Também nesta situação de ensaio a temperatura de ocorrência da rotura (acima de 52ºC) foi inferior à que havia sido observada para um carregamento de 50%. Embora um dos provetes tenha rompido devido a falha na lâmina de CFRP/resina (para temperatura de 70ºC), os restantes apresentaram uma rotura por falha no betão. Este resultado é consistente com o facto de a solicitação mecânica ser mais elevada, conduzindo à falha do betão antes que se verificasse a degradação da resina. De facto, em ambos os provetes que apresentaram uma rotura do tipo 1, a rotura ocorreu para uma temperatura aproximada de 52ºC.

Quadro 6: Temperatura e tipo de rotura obtidos no ensaio com argamassa Provetes F (kN) T1 (ºC) T2 (ºC) temp21(ºC) Tipo de Rotura

Argamassa Sika

1º 24,2 70,6 148,6 77,9 4

2º 24,2 52,9 115,9 63,0 1

3º 23,9 51,4 120,9 61,5 1

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3. CONCLUSÕES

O presente trabalho pretendia estudar a eficiência da utilização de um sistema combinado – argamassa de protecção e tinta intumescente - na protecção a altas temperaturas de elementos de betão reforçados com laminados de FRP colados. Para o efeito, realizaram-se ensaios laboratoriais, nos quais se sujeitaram ligações CFRP/betão a esforços mecânicos de corte puro, associados a aumento de temperatura, e comparou-se o desempenho de diversassoluções comerciais para protecção de estruturas ao fogo.

Realizaram-se ensaios de referência a frio que permitiram quantificar a resistência mecânica máxima da ligação. Depois, efectuaram-se duas séries de ensaio com aquecimento: numa delas, os provetes foram sujeitos permanentemente a uma carga com um valor de 50% da carga de rotura observada a frio, e na segunda fase aumentou-se o carregamento para 75%.

Os modos de rotura dos provetes protegidos por argamassa, sujeitos a carga de 50%, indicam uma perda da capacidade adesiva da resina, resultado da degradação das suas características iniciais. A comparação das duas argamassas mostrou que a diferença de temperaturas entre a superfície da argamassa e a da resina, nos provetes protegidos pela argamassa Tria, era mais elevada, permitindo concluir que esta argamassa é mais eficaz como isolante térmico quando comparada com a argamassa Sika. Testaram-se também provetes protegidos por um sistema argamassa+tinta intumescente. Os resultados mostraram, para ambas as situações, temperaturas de rotura idênticas, indicando que a tinta intumescente não apresenta qualquer efeito isolante neste tipo de ensaios. Este resultado era antecipado, visto que este tipo de tintas só se torna eficientes para temperatura da ordem de 200ºC.

Os resultados obtidos para ambas as condições de carregamento mostram que o aumento da carga aplicada aos provetes conduz a um decréscimo da resistência da ligação. A diferença de temperaturas entre a superfície da argamassa e a resina no momento da rotura são semelhantes nos dois níveis de carregamento. No entanto, para a carga de 75%, a rotura observada deveu-se a falha no betão, tendo ocorrido para uma temperatura de 50ºC. Ou seja, a rotura ocorreu antes de a resina sofrer uma degradação das suas características adesivas.

4. REFERÊNCIAS

[1] Juvandes, L. – Reforço e Reabilitação de Estruturas de Betão Usando Materiais Compósitos de CFRP, Tese de Doutoramento, Universidade do Porto, 1999.

[2] Kodur, VKR. and Baingo, D. - Fire Resistance of FRP Reinforced Concrete Slabs, RC International Report No 758, National Research Council of Canada, Ottawa, 1998, 37 p.

[3] L´Hermite, R. - L´Application des Colles et Resins dans la Construction. Le Beton a Coffrage Portant. Annales de L´ITBTP, nº 239, 1967.

[4] Bresson, J. - Nouvelles Recherches et Applications Concernant L´Utilisation des Collages dans les Structures. Béton Plaqué”. Annales de L´ITBTP, nº 278, 1971.

[5] Theillout, J.N. - Repair and Strengthening of Bridges by Means of Bonded Plates. Adhesion Between Polymers and Concrete. International Symposium Organized by RILEM, France, 1986, p. 542-555.

[6] Branco, F.G. - Influência da Temperatura na Fixação de Chapas de Aço a Betão, Tese de Mestrado em Engenharia Civil - Ciências da Construção, Universidade de Coimbra, 1998.

[7] Grilo, I. - Protecção ao Fogo de Elementos Reforçados com FRP, Tese de Mestrado em Engenharia Civil, Universidade de Coimbra, 2010.

Referências

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