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Rev. Bras. Hematol. Hemoter. vol.28 número2

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Rev. bras. hematol. hemoter. 2006;28(2):81-87 Editoriais / Editorials

A existência de uma coagulopatia de caráter hereditário foi reconhecida pelo Rabino Simon Bem Gamaliel, em torno do século III, e no século XII pelos escritos de Maimondes, entre os judeus, e de Albucassis, entre os árabes.

A hemofilia foi claramente descrita por Otto em 1803 e coube a Nasse, em 1820, formular as leis de sua transmissão hereditária, e a Hopff, em 1828, e Schönlein, em 1939, cunha-rem o termo hemofilia, significando amor ao sangue.

A relevância histórica de hemofilia decorre dos acome-timentos dos descendentes da rainha Vitória da Inglaterra, difundindo a doença às diferentes casas reais da Europa, com maior notoriedade para o caso do filho do Tzar Nicolau II e pela influência do monge Rasputin, com seus alegados poderes paranormais.

Várias tentativas terapêuticas foram feitas no decorrer dos séculos, que incluíram o emprego de "substâncias ova-rianas, bioflavanóides, extratos de amendoim, citrato de sódio, lactados, irradiação e transplante esplênico". Adqui-riu um caráter mais científico com as observações de MacFarlane, em 1934, que descobriu que venenos de cobra eram capazes de coagular o sangue, particularmente em paci-entes com sangramento após extração dentária.

Em 1936, o plasma humano congelado foi utilizado pela primeira vez; em 1937, Patek e Taylor observaram que o preci-pitado do plasma tinha atividade coagulante e cunharam o termo globulina anti-hemofílica. Em 1940, Samuel Lange utili-zou sangue fresco em pós-operatório.

Ainda no início da década de 1940, Edwin Cohn reali-zou o fracionamento do sangue e observou que a fração denominada Cohn I tinha atividade anti-hemofílica.

No início dos anos 50, o plasma bovino e suíno foi utilizado e logo abandonado em decorrência de fenômenos anafiláticos. Em 1957-58, os primeiros preparados do fator VIII humano foram disponíveis, e a Dra. Nilsson, na Suécia, iniciou o primeiro programa de tratamento profilático da hemofilia. Entretanto, somente em 1964, Judith Pool padroni-zou a obtenção do crio precipitado, posteriormente liofilizado, em 1968, provocando uma revolução no manejo e na qualida-de qualida-de vida do paciente hemofílico.

Infelizmente, a obtenção de criopreciptado de um gran-de "pool" gran-de doadores levou à calamitosa contaminação gran-de grande parte dos hemofílicos pelo HIV e HCV, dizimando, segundo experiência própria, aproximadamente 50% dos hemofílicos de Curitiba. Rigorosa metodologia para eliminar os riscos de infecção viral, seja através da pasteurização ou pelo uso de detergentes, permitiram obter fator VIII mais se-guro. A busca para obtenção do fator VIII altamente purifica-do e com maior especificidade foi contemplada, após a iden-tificação do gene hemofílico, em 1984, e com a transfecção do

seu DNA em células ovarianas de hamsters chineses, resul-tou no fator VIII recombinante, de uso clínico corrente.

Outra abordagem na obtenção de fator VIII altamente purificado é através do uso de anticorpos monoclonais obti-dos em camundongos e utilizaobti-dos em colunas de imuno-afinidade. Esta abordagem foi o escopo do substancial e re-levante trabalho da Rossi-Ferreira R e colaboradores, desen-volvido com alto rigor cientifico no hemocentro de Botucatu e que é apresentado nesta edição.

Ambos os produtos são altamente específicos – acima de 3000 UI/mg de atividade específica – com igual papel nos protocolos de imunotolerância, porém o uso do fator recom-binante induz maior incidência de inibidores (15% a 30%) em comparação com o fator VIII altamente purificado e oriundo do plasma. A pasteurização do fator obtido por coluna de imunoafinidade mostrou-se eficaz na prevenção de infecções virais. Outra desvantagem do fator VIII recombinante é o alto custo.

Finalmente, com o claro domínio da tecnologia de pro-dução de anticorpos monoclonais anti-fator VIII e sua eficá-cia na produção altamente purificada desse fator, concla-mamos as autoridades competentes a organizar a sua produ-ção em escala industrial e estimular a independência do País para esse hemoderivado.

Referências Bibliográficas

1. Goudemand J, Rothschild C, Demiguel V, Vinciguerrat C, Lambert T, Chambost H, et al. FVIII-LFB and recombinant FVIII Study Groups Influence of the type of factor VIII concentrate on the incidence of factor VIII inhibitors in previously untreated patients with severe hemophilia A. Blood 2006;107(1):46-51.

2. Hoffman R et al. Hematology – Basic principles and practice. 4th ed. 2005, Elsevier.

3. Philipp CS. Monoclate-P Study Group Viral safety of a pasteurized, monoclonal antibody-purified factor VIII concentrate in previously untreated haemophilia A patients. Haemophilia 2001;7(2):146-53. 4. Purohit VS, Middaugh CR, Balasubramanian SV. Influence of aggregation on immunogenicity of recombinant human factor VIII in hemophilia A mice. J Pharm Sci 2006;95(2):358-71. 5. Wintrobe MM. Clinical Hematology – 7th edition. 1974, Lea &

Febiger.

Avaliação: O tema abordado foi sugerido e avaliado pelo editor. Conflito de interesse: não declarado

Recebido: 12/05/2006 Aceito: 24/05/2006

Anticorpo monoclonal anti-fator VIII

Monoclonal antibody anti-factor VIII

Eurípides Ferreira

Eurípides Ferreira

Professor adjunto de Hematologia e Oncologia Clínica, Faculdade de Medicina da UFPR; Professor adjunto de Imunologia – Univer-sidade Federal de São Paulo – Escola Paulista de Medicina; Médico hematologista do Hospital Israelita Albert Einstein, São Paulo.

Correspondência: Avenida Albert Einstein 627 – Morumbi

Referências

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