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RECURSO À CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO (CGU)

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À CONTROLADORIA-GERAL DA UNIÃO (CGU)

RECURSO

Pedido de Acesso à Informação Nº 09200.000103/2015-82

CONECTAS DIREITOS HUMANOS, associação civil sem fins lucrativos qualificada como Organização da Sociedade Civil de Interesse Público – OSCIP, inscrita no CNPJ sob nº 04.706.954/0001-75, com sede na Av. Paulista, n.º 575, cj. 1971, São Paulo/SP, (a “Recorrente”) vem apresentar:

RECURSO

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Recurso – Pedido de Acesso à Informação Nº 09200.000103/2015-82

2 I – DA TEMPESTIVIDADE

1. De início, verifica-se que o presente recurso preenche o requisito de tempestividade, posto que a resposta ao Recurso em 2ª Instância junto ao Ministério das Relações Exteriores foi recebida pela Recorrente no dia 28 de maio de 2015.

2. É cediço que a Lei nº. 12.527/2011 estabelece o prazo de 10 (dez) dias para interposição de recurso, como se vê:

Art. 15, caput: “No caso de indeferimento de acesso a informações ou às razões da negativa do acesso, poderá o interessado interpor recurso contra a decisão no prazo de 10 (dez) dias a contar da sua ciência”.

3. O Decreto nº 7.724/2012, ao regulamentar a referida lei, reafirma tal previsão legal:

Art. 21: “No caso de negativa de acesso à informação ou de não fornecimento das razões da negativa do acesso, poderá o requerente apresentar recurso no prazo de dez dias, contado da ciência da decisão, à autoridade hierarquicamente superior à que adotou a decisão, que deverá apreciá-lo no prazo de cinco dias, contado da sua apresentação”.

4. Ainda, o artigo 66º da Lei nº 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, determina que “Os prazos começam a correr a partir da data da cientificação oficial, excluindo-se da contagem o dia do começo e incluindo-se o do vencimento”.

5. O mesmo artigo em seu parágrafo primeiro dispõe que: “Considera-se prorrogado o prazo até o primeiro dia útil seguinte se o vencimento cair em dia em que não houver expediente ou este for encerrado antes da hora normal”. 6. Portanto, a apresentação deste recurso obedece ao prazo de dez dias exigido

pela legislação, sendo tempestivo. II – DOS FATOS

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8. O Pedido versa sobre os telegramas trocados: 1) Entre a Embaixada brasileira em Teerã, no Irã, e a SERE – Secretaria-Geral das Relações Exteriores, no período de 1º de janeiro de 2015 a 27 de março de 2015; e 2) Entre a SERE e a Delbrasgen – Missão Permanente do Brasil junto à Organização das Nações Unidas e demais organismos internacionais em Genebra, no período de 1º de fevereiro de 2015 a 27 de março de 2015.

9. O Pedido visa o acesso às correspondências que contenham informações sobre a situação de direitos humanos no Irã e que comprovem o alegado “compromisso renovado do Irã com o sistema de direitos humanos. Essa expressão foi empregada pela diplomacia brasileira para justificar a abstenção em resolução que renovaria o mandato do relator especial para o Irã, proposta e aprovada durante a 28ª sessão regular do Conselho de Direitos Humanos das Nações Unidas.

10. O prazo de atendimento do Pedido estipulado pela plataforma e-SIC foi 27 de abril de 2015. Neste dia, o Ministério das Relações Exteriores encaminhou, via plataforma e-SIC, expedientes ostensivos em atenção ao Pedido (a “Resposta do MRE”, “Resposta do Itamaraty”, “Resposta” ou “Decisão”).

11. Adicionalmente, a Decisão trouxe negativa implícita de acesso a informações, que foram denegadas sob fundamento de que “as informações classificadas como sigilosas, submetidas temporariamente à restrição de divulgação, com base nos arts. 23 e 25 da Lei nº. 12.527/2011, não são de acesso público”. 12. Em 7 de maio de 2015, a Recorrente apresentou recurso à Decisão (o “Recurso

de 7 de maio”), baseado na contestação de três pontos:

 Ausência de fundamentos legais da classificação (Decreto nº. 7.724/2012, art. 19, § 1º).

 Ausência de fundamentos legais para a negativa de acesso (Decreto nº. 7.724/2012, art. 19, I).

 Ausência de informação sobre autoridade competente para apreciação do recurso (Lei nº 12.527/2011, art. 11, § 4º, e Decreto nº. 7.724/2012, art. 19, II).

13. O Recurso de 7 de maio trazia dois pedidos:

 Fossem disponibilizadas as decisões que classificam os documentos requisitados quanto ao grau de sigilo, com apresentação do assunto, fundamento legal da classificação, do prazo de sigilo e da autoridade classificadora, nos termos do Art. 28 da Lei nº. 12.527/2011.

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número do documento; ii) assunto; iii) grau e prazo de sigilo; iv) fundamento legal da classificação; e v) autoridade classificadora, nos termos do disposto no Art. 28 da Lei nº. 12.527/2011.

14. Em 12 de maio, o Ministério das Relações Exteriores apresentou resposta indeferindo (a “Resposta de 12 de maio”) o Recurso de 7 de maio.

15. Com relação ao primeiro pedido (item 13.1), o Itamaraty alegou que não estava “autorizado a disponibilizar as decisões que classificam os documentos requisitados quanto ao grau de sigilo, com apresentação de assunto, fundamento legal da classificação, do prazo de sigilo e da autoridade classificadora, uma vez que, de acordo com o parágrafo único do artigo 28 da Lei 12.527/11, a decisão que formaliza a classificação de informação em qualquer grau de sigilo ‘será mantida no mesmo grau de sigilo da informação classificada’.”

16. No que tange ao segundo pedido (item 13.2), o Ministério das Relações Exteriores arguiu que o “§1º do artigo 19 do Decreto 7.724/2012 determina que, negado o pedido de acesso à informação, as razões de negativa de acesso à informação classificada indicarão ‘o fundamento legal da classificação, a autoridade que a classificou e o código de indexação do documento classificado’”. O fundamento legal seria o inciso II do artigo 23 da Lei n. 12.527/11. Adicionalmente, foram encaminhados o código de indexação e a autoridade classificadora de quatro documentos, a saber:

Código de indexação de documento Autoridade classificadora

09576-010918-2015-R-14-20/02/2015-20/02/2020-N-00/00/0000

Regina Maria Cordeiro Dunlop – Embaixadora, Representante Permanente do Brasil junto à ONU em Genebra

09576-010931-2015-R-14-27/02/2015-27/02/2020-N-00/00/0000

Regina Maria Cordeiro Dunlop – Embaixadora, Representante Permanente do Brasil junto à ONU em Genebra

09576-010966-2015-R-14-12/03/2015-12/03/2010-N-00/00/0000

Regina Maria Cordeiro Dunlop – Embaixadora, Representante Permanente do Brasil junto à ONU em Genebra

09062-010392-2015-R-14-17/03/2015-17-03-2020-N-00/00/0000

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17. Em 22 de maio de 2015, a Recorrente apresentou Recurso de 2ª Instância à Resposta de 12 de maio (“Recurso de 22 de maio” ou “Recurso de Segunda Instância”), baseado na contestação de três pontos:

 Inexistência de fundamento que comprovasse haver ameaça à segurança da sociedade ou do Estado.

 Desproporcionalidade da restrição de acesso completo aos telegramas encaminhados na Resposta de 12 de maio.

 Irrazoabilidade da negativa de acesso aos documentos que classificaram como sigilosas as informações requeridas.

18. O Recurso de Segunda Instância trazia três pedidos:

 Disponibilidade das decisões que classificaram os documentos requisitados quanto ao grau de sigilo, com apresentação do assunto, fundamento legal da classificação, do prazo de sigilo e da autoridade classificadora, nos termos do Art. 28 da Lei nº. 12.527/2011.

 Encaminhamento da tabela contendo a relação dos documentos que consolidam as informações sigilosas aludidas na Decisão, contendo: i) assunto; ii) grau e prazo de sigilo; iii) fundamentação legal para a classificação e que essa não se resuma na mera repetição do disposto no texto legal, nos termos do disposto no Art. 28 da Lei nº. 12.527/2011.  Disponibilidade do conteúdo dos telegramas encaminhados na Resposta

do dia 12 de maio, com tarjas cobrindo as informações eventualmente consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, de acordo como Art. 23, II, da Lei nº. 12.527/2011.

19. Em 28 de maio, o Ministério das Relações Exteriores apresentou resposta indeferindo o Recurso de Segunda Instância (a “Resposta de 28 de maio” ou “Resposta ao Recurso de Segunda Instância”):

 Com relação ao primeiro pedido apresentado no Recurso de Segunda Instância, o Itamaraty alegou tratar-se do mesmo pedido formulado no recurso de 7 de maio, indeferido pela suposta ausência de autorização do MRE para disponibilizar as decisões que classificam os documentos requisitados quanto ao grau de sigilo, com apresentação de assunto, fundamento legal da classificação, do prazo de sigilo e da autoridade classificadora, conforme parágrafo único do Art. 28 da Lei 12.527/11.  Quanto ao segundo pedido, o Itamaraty alegou que as informações

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informação. Ainda segundo o Ministério das Relações Exteriores, a disponibilização do assunto do documento classificado não estaria abrangida pelo escopo do Decreto 7.724/12, e que tornar disponível essa informação seria o mesmo que fornecer parte do conteúdo do documento, o que equivaleria à "fundamentação política" da classificação.

 Quanto ao terceiro pedido, o Ministério das Relações Exteriores sustenta que a Recorrente elabora aquilo que denomina “pedido de desclassificação parcial de informações sigilosas” somente no Recurso de Segunda Instância. Nesta hipótese, o Itamaraty alega que o rito a ser adotado deveria ser o de solicitação de desclassificação, conforme Decreto 7.724/12, Art. 36, parágrafo único, e, nesta hipótese, a solicitação implícita supostamente contida no Recurso de Segunda Instância conteria vício formal, dado que foi endereçada à autoridade competente para a desclassificação dos documentos cuja indexação constava na Resposta de 12 de maio.

III – DO DIREITO

20. O indeferimento contido na Resposta de 28 de maio não deve prosperar, dado que não foram respeitados os requisitos legais impostos pela Lei nº 12.527/2011 e pelo Decreto nº 7.724/2012 no que se refere a:

 Princípio da Máxima Transparência: Incompatibilidade entre a interpretação do Art. 28 da Lei 12.527/11 esposada pelo Ministério das Relações Exteriores e o comando previsto na Constituição Federal de 1988 e reiterado pela Lei de Acesso da Informação.

 Emprego do Meio Menos Restritivo Possível: Incompatibilidade entre a interpretação sobre o escopo do Art. 19 do Decreto 7.724/2012 e o comando previsto na Constituição Federal de 1988 e reiterado pela Lei de Acesso à Informação.

 Princípio da Economia Processual: Incompatibilidade entre a interpretação do Art. 36 da Lei 12.527/11 esposada pelo Ministério das Relações Exteriores, no que se refere à necessidade de desdobramento da presente demanda em novas solicitações de informação, e o comando previsto na Constituição Federal de 1988 e nas normas de processo administrativo hoje vigentes no Brasil.

Sobre a inobservância do princípio da máxima transparência

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Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

Art. 5º, XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da sociedade e do Estado.

22. O princípio da publicidade tem por objetivo proporcionar maior transparência dos atos administrativos, exigindo ampla divulgação das ações praticadas pela Administração Pública.

23. Trata-se de um dos pressupostos de um Estado Democrático de Direito, pois é o instrumento de fiscalização dos administrados em relação aos administradores. É por meio do princípio da máxima transparência que a sociedade consegue verificar se a vontade dos administradores realmente corresponde às suas pretensões.

24. No que se refere à importância do dever estatal de informar, decorrência direta do princípio da publicidade constitucionalmente previsto e assegurado por normativa infraconstitucional, diz Luiz Armando Badin1:

É importante desde o início ressaltar que tais normas não impõem ao Poder Público apenas uma obrigação passiva de permitir o acesso a documentos administrativos, como se se tratasse de um simples direito de crédito do cidadão contra o Estado, cujo adimplemento pode ser exigido por meio do processo judicial ou administrativo. As normas constitucionais sobre acesso à informação só alcançam seu sentido pleno se compreenderem também a prescrição de um dever objetivo de agir positivamente para informar o cidadão de maneira clara, acessível, exata e honesta.

25. A publicidade, na lição de Hely Lopes Meirelles 2 , como princípio da administração pública:

1 Badin, Luiz Armando, O Direito Fundamental à Informação em Face da Segurança do Estado e da

Sociedade – Em busca da efetiva afirmação do princípio constitucional da publicidade, Tese de doutorado

defendida na Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo, 2007, p. 21.

2 Meirelles, Hely Lopes, Direito Administrativo Brasileiro, 30ª edição, São Paulo, Malheiros Editores, 2005,

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Abrange toda atuação estatal, não só sob o aspecto da divulgação oficial de seus atos como também de propiciação de conhecimento da conduta interna de seus agentes. Essa publicidade atinge, assim, os atos concluídos e em formação, os processos em andamento, os pareceres dos órgãos técnicos e jurídicos, os despachos intermediários e finais, as atas de julgamento das licitações e os contratos com quaisquer interessados, bem como os comprovantes de despesas e as prestações de contas submetidas aos órgãos competentes. Tudo isso é papel ou documento público que pode ser examinado na repartição por qualquer interessado e dele obter certidão ou fotocópia autenticada para fins constitucionais.

26. A aplicação do princípio da publicidade ou máxima transparência constitui a regra nos atos praticados pela Administração Pública. Há de se ponderar que a própria Constituição Federal de 1988 admite informações “sigilosas imprescindíveis à segurança da sociedade e do Estado” (Art. 5º, XXXIII), o que, porém, há de ser excepcional, sob pena de infringir o princípio da publicidade3. 27. A Lei de Acesso à Informação (nº. 12.527/2011) regulamentou o princípio da publicidade ou máxima transparência, insculpindo a publicidade como regra e sigilo como exceção no Art. 3º, I, in verbis:

Art. 3º - Os procedimentos previstos nesta Lei destinam-se a assegurar o direito fundamental de acesso à informação e devem ser executados em conformidade com os princípios básicos da administração pública e com as seguintes diretrizes:

I - observância da publicidade como preceito geral e do sigilo como exceção;

28. Em sua Resposta ao Recurso de Segunda Instância, o Ministério das Relações Exteriores alegou que a Recorrente interpretou incorretamente a Lei de Acesso à Informação e o Decreto 7.724/2012 no que se refere aos critérios que tornaria determinado documento passível de classificação. Segundo o Itamaraty, a dimensão preventiva do sigilo das comunicações referentes à condução de negociações ou das relações internacionais do Brasil seria elemento importante do rol de informações consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, conforme Art. 23, II, da Lei nº. 12.527/2011.

3 Silva, José Afonso, Curso de Direito Constitucional Positivo, 24ª edição, São Paulo, Malheiros Editores, p.

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29. Ponderando sobre sua própria competência à luz do mencionado Art. 23, II, da Lei de Acesso à Informação e o princípio da máxima transparência, o Ministério das Relações Exteriores declara, em sua Resposta de 28 de maio, que:

Com efeito, em que pese à importância conferida pelo Governo brasileiro, e por este Ministério em particular, ao direito à informação, a lei estabelece a necessidade de que os agentes públicos tenham a discricionariedade para proceder à classificação de informações cuja divulgação ou acesso irrestrito possam – e cabe à Administração Pública avaliar essa possibilidade e esse risco e atingir o equilíbrio adequado entre a divulgação e a retenção da informação sigilosa – prejudicar ou ameaçar a condução de negociações ou as relações internacionais do País. A possibilidade de classificação de uma informação como sigilosa não depende, portanto, do estabelecimento da existência, de fato, de uma ameaça à segurança da sociedade ou do Estado, mas de cálculo que visa a aferir a possibilidade de que a divulgação da informação x ou y tenha impacto negativo sobre as negociações e relações internacionais do país, por meio das quais este Ministério busca ativamente a defesa dos interesses e princípios da sociedade e do Estado brasileiros. [grifo nosso]

30. Ora, a interpretação dada pelo Ministério das Relações Exteriores desconsiderou o disposto no Decreto nº. 7.724/2012, que regulamentou a Lei de Acesso à Informação, acerca dos critérios de classificação de informações. Dispõe o Art. 25 do aludido decreto:

Art. 25. São passíveis de classificação as informações consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, cuja divulgação ou acesso irrestrito possam: II - prejudicar ou pôr em risco a condução de negociações ou as relações internacionais do País;

31. Logo, apenas são passíveis de classificação aquelas informações que (i) coloquem em grave risco a segurança da sociedade ou do Estado e (ii) incidam, alternativamente, nas hipóteses listadas nos incisos do referido artigo.

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33. Em outras palavras, a legislação exige que a publicidade da informação ameace do modo irrefutável a segurança da sociedade ou do Estado. Se e somente se isso ocorrer, devem ser verificadas, em um segundo momento, as situações que justificam a restrição da divulgação.

34. Essa é a única interpretação possível da letra da lei. Qualquer entendimento contrário a esse resultaria no completo esvaziamento de uma legislação que é fruto e símbolo de uma nova lógica de gestão da coisa pública, contrariando o comando constitucional que esposa do princípio da máxima transparência. 35. Não é difícil imaginar um cenário de total ineficácia da lei caso aqueles órgãos

públicos que tratam de negociações entre Estados simplesmente classificassem toda e qualquer informação em seu poder sob os frágeis argumentos de que essas informações teriam sido fornecidas em caráter sigiloso e sua divulgação poderia interferir na condução de processos negociadores, sem embasar como elas poriam em risco a segurança do Estado ou da sociedade, pressuposto absoluto para a exceção à publicidade.

36. O Ministério das Relações Exteriores não pode pretender se imunizar perante a Lei de Acesso à Informação, que, vale repetir, torna a transparência a regra e o sigilo a exceção. Assim, a exigência imposta pela lei deve ser cumprida por toda e qualquer entidade pública, sob pena de que a elas seja conferida uma indevida discricionariedade capaz de impossibilitar o acesso a determinadas informações pelo prazo de cinco ou mais anos.

Sobre a inobservância do dever de empregar do meio menos restritivo possível na classificação de informação pública

37. A Lei de Acesso à Informação consagrou a necessidade do emprego do meio menos restritivo possível na classificação de informações pela Administração Pública:

Art. 24, § 5º - Para a classificação da informação em determinado grau de sigilo, deverá ser observado o interesse público da informação e utilizado o critério menos restritivo possível, considerados:

I - a gravidade do risco ou dano à segurança da sociedade e do Estado; e

II - o prazo máximo de restrição de acesso ou o evento que defina seu termo final.

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o suposto prejuízo ou risco à condução de negociações ou às relações internacionais do Brasil decorrentes da divulgação das informações solicitadas pela Recorrente seriam imprescindíveis à segurança da sociedade e do Estado (Art. 25, II).

39. Ad argumentandum tantuum, supondo que o Ministério das Relações Exteriores houvesse adequadamente justificado a classificação das informações requeridas de acordo com os critérios do Art. 25 do Decreto nº. 7.724/2012, a restrição completa de acesso a seu conteúdo não respeitaria os critérios de interesse público da informação e de utilização do meio menos restritivo possível, conforme previsto no Art. 27 do Decreto nº. 7.724/12, in verbis:

Art. 27. Para a classificação da informação em grau de sigilo, deverá ser observado o interesse público da informação e utilizado o critério menos restritivo possível, considerados:

I - a gravidade do risco ou dano à segurança da sociedade e do Estado; e

II - o prazo máximo de classificação em grau de sigilo ou o evento que defina seu termo final.

40. Resta evidente que o critério menos restritivo possível, combinado com a observância do interesse público, não pode resultar na classificação como sigilosa das informações contidas nos documentos em referência em sua totalidade, em especial, como mencionado anteriormente, quando não há comprovado risco de dano à segurança da sociedade e do Estado.

41. A Recorrente apresentou solicitação em Segunda Instância requerendo o conteúdo dos telegramas encaminhados na Resposta do dia 12 de maio, com tarjas cobrindo as informações eventualmente consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, de acordo como Art. 23, II, da Lei nº. 12.527/2011.

42. Resposta ao Recurso de Segunda Instância, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que não poderia disponibilizar as informações requeridas com tarjas cobrindo as informações supostamente consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado dado que estas constituiriam “pedido de desclassificação parcial de informações sigilosas”. Nessa condição, sustenta o Itamaraty, o rito a ser adotado deveria ser o de solicitação de desclassificação, conforme Decreto nº. 7.724/12, Art. 36, parágrafo único, algo que requereria um novo pedido de informação.

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44. A negativa da Recorrida em disponibilizar as informações não abarcadas (supostamente) pelo Art. 23, II, da Lei nº. 12.527/2011, contraria o dever de emprego do meio menos restritivo possível na classificação de informações pela Administração Pública, ao deixar de aplicar instrumento que a própria Lei de Acesso à Informação prevê em seu Art. 7, § 2º, in verbis:

Art. 7, § 2º - Quando não for autorizado acesso integral à informação por ser ela parcialmente sigilosa, é assegurado o acesso à parte não sigilosa por meio de certidão, extrato ou cópia com ocultação da parte sob sigilo.

45. A disponibilização de conteúdo parcial não sigiloso, condizente com a lógica da transparência como regra e o sigilo como exceção, está prevista é ubíqua nas legislações de acesso à informação ao redor do mundo:

 Estados Unidos: Art. 2 do Freedom of Information Act.  França: Art. 6.3 da Loi Informatique et Libertés.

 África do Sul: Art. 28.1 do Promotion of Access to Information Act.  Chile: Art. 11 da Ley de Acceso a La Información Pública.

 Índia: Art. 10 do Right to Information Act.

 China: Art. 22 das Regulações sobre Informações do Governo Aberto.

46. O óbice à disponibilização do conteúdo parcial não sigiloso pelo Ministério das Relações Exteriores contraria, ainda, os princípios da Lei de Acesso à Informação, conforme previsto em seu Art. 3º, principalmente no que se refere à diretriz que preceitua a pró-atividade na divulgação de informações de interesse público (inciso II).

Sobre a inobservância do princípio da economia processual

47. O princípio da economia processual preconiza o máximo de resultado na atuação do direito com o mínio de emprego de atividades processuais4.

48. Trata-se de princípio que implica em uma ação racional da Administração Pública, cuja atuação deverá atender os interesses públicos sem recorrer a formalidades inócuas, sem sentido e que tenham como finalidade precípua burocratizar a atuação administrativa.

49. O princípio da economia processual é um desdobramento do princípio da eficiência administrativa, conforme preceituado pela Lei nº. 9.784/1999, que regula o processo administrativo no âmbito da Administração Pública Federal, in

verbis:

4 Grinover, Ada Pellegrini; Cintra, Antônio Carlos de Araújo; Dinamarco, Cândido Rangel. Teoria Geral do

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Art. 2º - A Administração Pública obedecerá, dentre outros, aos princípios da legalidade, finalidade, motivação, razoabilidade, proporcionalidade, moralidade, ampla defesa, contraditório, segurança jurídica, interesse público e eficiência.

50. Segundo preceitua Maria Sylvia Di Pietro, “o princípio da eficiência apresenta, na realidade, dois aspectos: pode ser considerado em relação ao modo de atuação do agente público, do qual se espera o melhor desempenho possível de suas atribuições, para lograr os melhores resultados; e em relação ao modo de organizar, estruturar, disciplinar a Administração Pública, também com o mesmo objetivo de alcançar os melhores resultados na prestação do serviço público”5.

51. Para José Afonso da Silva, o princípio da eficiência orienta a atividade administrativa no sentido e conseguir os melhores resultados com os meios escassos de que se dispõe e o menor custo, regendo-se pela regra da consecução do maior benefício com o menor custo possível; portanto, tem como conteúdo a relação meios e resultados6.

52. Em sua Resposta ao Recurso de Segunda Instância, o Ministério das Relações Exteriores alegou que não poderia disponibilizar o conteúdo não classificado como sigiloso dos documentos requeridos pois, supostamente, tratava-se de “pedido de desclassificação parcial” solicitado originalmente em sede recursal. Por conta disso, haveria um vício formal de endereçamento, dado que foi o Recurso de 22 de maio não foi dirigido às autoridades competentes para a desclassificação dos documentos, quais sejam, aquelas que constavam na indexação encaminhada na Resposta de 12 de maio, conforme tabela citada no item 16, acima.

53. Ora, conforme relatado acima (itens 12-16), as informações requeridas para a solicitação em alusão não estavam disponíveis à Recorrente até a resposta do Itamaraty em sede de recurso de Primeira Instância. Assim, é trivial supor que a solicitação somente seria possível após a obtenção das informações, o que parece ter sido ignorado pela Recorrida.

54. Mais uma vez, o princípio da máxima transparência e emprego de meio menos restritivo possível parecem não ter pautado a ação do Ministério das Relações Exteriores, que, desconsiderando o espírito da Lei de Acesso à Informação, preferiu interpretá-la restritiva e burocraticamente, de forma não condizente com o princípio da economia processual e eficiência administrativa, deixando de levar em consideração a regra de produção de maior benefício com o menor custo possível ao demandar a abertura de novo pedido de acesso à informação.

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14 IV – DO PEDIDO

55. Diante do exposto, visando dar pleno cumprimento à legislação de acesso à informação, requer-se seja recebido e provido o presente Recurso, no prazo de 5 (cinco) dias previsto no Art. 16 da Lei nº. 12.527/2011, para que:

 Sejam disponibilizadas as decisões que classificam os documentos requisitados quanto ao grau de sigilo, com apresentação do assunto, fundamento legal da classificação para além da simples indicação do artigo da Lei e que traga argumentação que sustente o risco posto à segurança da sociedade e do Estado caso a informação seja divulgada, do prazo de sigilo e da autoridade classificadora, nos termos do Art. 28 da Lei nº. 12.527/2011.

 Seja encaminhada tabela contendo a relação dos documentos que consolidam as informações sigilosas aludidas na Decisão, contendo: i) assunto; ii) grau e prazo de sigilo; iii) fundamentação legal para a classificação e que essa não se resuma na mera repetição do disposto no texto legal, nos termos do disposto no Art. 28 da Lei nº. 12.527/2011.  Seja disponibilizado o conteúdo dos telegramas encaminhados na

Resposta do dia 12 de maio, com tarjas cobrindo as informações eventualmente consideradas imprescindíveis à segurança da sociedade ou do Estado, de acordo como Art. 23, II, da Lei nº. 12.527/2011, desclassificados parcialmente em conformidade ao Art. Art. 7, § 2º da Lei de Acesso à Informação.

Nestes termos, pede deferimento. De São Paulo pra Brasília, 8 de junho de 2015.

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Vigência: 5 (cinco) anos para a fase de exploração e 27 (vinte e sete) anos para a fase de produção, prorrogáveis mediante as cláusulas e condições dispostas no Contrato

.6.1.4 As respostas aos recursos contra o resultado provisório nas provas escritas da Terceira Fase, o resultado final nas provas escritas da Terceira Fase, a aprovação e

7.4.1.5 As respostas aos recursos contra o resultado provisório na Segunda Fase, o resultado final na Segunda Fase, a convocação para a perícia médica dos candidatos que se

10.1 O candidato que tiver optado, no ato da inscrição, por concorrer às vagas reservadas nos termos da Lei nº 12.990/2014, se aprovado na Segunda e na Terceira Fases, ainda que