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Raízes da educação no Brasil

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DA EDUCAÇÃO NO BRASIL

zyxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

Aécio Feitosa

I I I IZ 'S da Educação no Brasil, é procurar

simul-11111'I IYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAd nossa formação cultural e, em particular, , III III I ria da Educação, em nosso País.

I I 11' origens, como veremos, estão

eminentemen-II , I 1111101religioso e educativo instalado no Brasil pelos

II

01 I hlllcação brasileira, escreve Maria do Carmo I I 1111111,I m seu início aos 29 de março de 1549,

1111'11111Ido, do Governador Geral, Tomé de Souza, de-II I 1\ de-IItliI primeiros emissários da Companhia de

1 1Illlllliui brasileiras permaneceram os jesuítas

du-11111,1111 eja, de 1549 quando chegam sob o coman-I 11coman-I1coman-Il'!da N6brega, até 1759, quando por determina-I determina-II 'ti • d Carvalho e Melo (Marquês de Pombal),

11111I destes dois séculos, implantando escolas; insta-1IIIIIIII1d eminários, missões e confrarias; construiu-,,01, 11nulo aldeamentos indígenas; organizando "entra-vi 11Indo cidades, vilas e povoados; desbravando I I' 11111P 10 colonizador lusitano; catequizando índios, 11111 • 1111'rf rindo direta ou indiretamente na organiza-111"" 1111mica da vida brasileira e, adentrando a

men-111 men-111ti litoral para o interior da Colônia, foram os 1" 111lil i , enão únicos mentores" da nossa educação 11"1111111• da nossa formação cultural.

I 111 ,I mbra Valnir Chagas, a Companhia de Jesus 1"11I I()t i in

rt

uência externa que se registra na

forma-1,,1 111Isil ira. Na sua forma inflexível e ao seu gosto 11 111, 1'11 mararn-se gerações de letrados que iriam de I1 I upcr slrutura da incipiente vida brasileira e,

(2)

pouco a pouco, sob o influxo de fatores end6genos e finir o estilo e a linha de comportamento que estão muito do que viemos a ser até agora". (2)

Será, portanto, a partir de uma análise do prograrnu 1111,1

do no Brasil-Colônia pelos jesuítas, que iremos, numYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAp l ' \ l I I "

mento, buscar as raízes de nossa educação.

Contudo, sendo o fato educativo uma variável situad I 1\ I I

c no espaço, sua análise implica num exame preliminar do 11'111 no qual ela se insere. Isto equivale a dizer que na bu c1 ti I 1 da educação brasileira, devemos situar o discurso dos j 'l i 1I 1 1

do quadro de idéias, movimentos e propósitos da ép ' I

chegam ao Brasil.

"A obra civilizadora que o jesuíta realiza

Fernando Azevedo, não pode ser compreendida senã 111111. sua época, dentro das condições da vida social da Metr p l l l

Colônia e dentro do espírito com que nasce a Comi 11111 Jesus". (3)

Numa tentativa de situarmos as raízes de

partir da época, das condições da vida social da M 11111",1 Colônia e do espírito com que nasceu a Companhia d I I1

cessário se faz que procedamos uma reconstrução, emb I ' I 1111\ do contexto cultural da Europa, em geral, de Portugal dll 11 em particular, à esta época.

No transcorrer do século XVI, quando aportam a 1 1 1 I

primeiros emissários de Loiola, a quase totalidade da E u : 11' I

va abalada pelas idéias e ideais renascentistas. Estas id iI

ideais encontram no Humanismo Liberal a força maior d 1\ pressão. Sob sua inspiração e impulso, o Humanismo i l l l l 11 um amplo questionamento em todos os domínios da c l I I I I I I 1

péia.

No setor econômico, por exemplo, ele question feudal, filho da Idade Média, que repousa nos latifúndi priedade da terra por uma pequena burguesia.

No setor político, ele questiona as formas de G V ' I I I I I

setor cultural, ele sugere uma maneira diferente de v r {I 1111111 os feitos humanos, as relações sociais, as ciências etc.

B uma nova filosofia de vida que se instala na v 111 I 1 \11 seiscentísta. Filosofia que provoca rupturas, discussõc ti 1 elevando a liberdade humana como seu valor maior e in '01\1 I

No plano da individualidade, são as amarras d 1111I11 111 excessivo autoritarismo medieval que lança seu grito d 1l i 1I I

Pico de Mirandola, um dos intérpretes deste moviment I I1

este respeito: "O homem foi colocado no centro do 111\11111" I1 que possa melhor perceber o que nele se passa" e, a J 1111 I til

construir seu projeto existencial. (4)

W 6 E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t . ( 1 0 ) J u l h o / D 11111111 t

este quadro de idéias e

(3)

sua organização economica e em suas instituições edm 11I I

denternente, este medievalismo que domina a culturYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAI I '11111

não se restringe apenas ao País, mas, por extensão, c 1"111

suas Colônias ultramarinas, entre estas, o Brasil.

Evocar as condições da vida brasileira àquele mom '11111, I

necessário na tentativa de caracterizarmos o context qu I

de inspiração para a construção de algumas raízes de n s, I ti I

Neste período, forma-se na Colônia uma socicdude I1 I

nea, marcada por antagonismos variados. Sob o plano I 1111

forma-se uma sociedade latifundiária e agro-escravocratu 11I

opulência da casa-grande contrasta com a miséria da H ' l i 111

este prisma, segundo René Dumont e Marie-France M ttln,

diante de uma sociedade "profundamente inegualitária", ( 1 1 )

Sob o plano político, deparamo-nos com uma soe I1 I

que o poder dos senhores de engenho, subordinando I ( 11

municipais, desrespeitando o "pacto colonial" e rivalizurulu I

poder da Metrópole, põe em risco a própria unidade t iI ( I "

O Estado Colonial, nesta época, escreve Caio Prado J(111 111

poder dos senhores de engenhos", (9) ,

Sob o plano étnico-cultural, temos uma sociedade

composta de três raças diferentes - a branca, a negra

na - na qual se confrontam línguas, costumes, usos

crenças européias, africanas e nativas.

Sob o plano pedagógico, até a chegada dos je uítu ,

diante de uma sociedade em que as instituições escolar' 111

desconhecidas, respondendo por um analfabetismo qua c I" 11111

meio colonial.

Em resumo, "estamos diante de uma sociedade " ' I I1

onde vivem lado a lado, valores morais e amorais; o h I l H 111 I

o pobre; o letrado e o analfabeto; . 0 homem livre, o '111 I

o escravo; o opressor e o oprimido; o europeu, o a f r / 11111

indígena. (10)

É neste panorama da Europa, de Portugal e do 111I 11

nem primeiro momento tentaremos buscar as raízes de 1111 I

cação,

Num segundo momento, buscaremos estas raízes no

tos que levaram Portugal a enviar os jesuítas à Colônia.

Quanto a estes motivos, registra-se uma unanimídad 1111

historiadores em afirmar que razões eminentemente reli 10 11

dem na base da instalação da Companhia de Jesus em ( " l i I

siJeiras.

Estas razões são inegáveis à luz de muitos d 'UIII 11111

século XVI, que tivemos a oportunidade de manusear '111 I I I

pesquisas junto aos arquivos da Torre do Tombo, da Bibllo! I

108 E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r t . ( 1 0 ) J u l h o / D e z I I l h l l

"111 'mo nos arquivos da Universidade de

I I ti, passagem, se inserem dentro da p~ópria

II 111 \nv lvida por Portugal durante os seculo.s

I " I " t i , colonialista e cristianismo sempre.

cami-" 111 I m Portugal. Com efeito, onde ele Instala

1I 11 Itil uma missão. Onde ele cria um

entre-I1 Ij I um centro de difusão do Evangelho. Onde

111 I111 , vai igualmente o missionário. ~sto se

I iuuquistas portuguesas situadas na Africa, na

111 mérica. É o trono aliado ao altar. É o poder

1111111"11 irmanado ao poder espiritual. Daí a

expres-~",IIIII1UI II 11111' ' l ' U I ' o cristianismo ao colonialismo sempre

II 111111 di Portugal e nenhum outro país colonizadc:r,

I I 111" I , .ol ca a catequese na base de sua expansao

1 1 1

I l iI cI" 'rislianismo à vida política de Portugal

re-I 111I I .ns históricas do Condado Portucalen~e no

11111 cntuo empreendidas por D. Afonso Hennques,

I"

l'olmbra, de Santarém e de Lisboa os m?uros

1,,1I q l l ' visam salvaguardar não apenas a unidade

11I11 ) preservar a unidade da fé católica em seus

I 1'1 ' l nça ativa e efetiva do Cris~i~nismo c?mo

d l l nolltica colonialista de Portugal e incontestável.

" 11 10 ato do "descobrimento". .

d 11111' 22 de abril de 1500 era um domingo de

t i " 1 0 fi primeiras porções de terras deslumbradas

1111111/ I 'I res foram denominadas "Monte Pascoal".

q l l l ' C nduzem os artífices da colonização

estam-I, I 111 nsagem do cristianismo: a grande Cruz_de

I 111I 'S vivas em suas velas. Nestas embarcaçoes,

111111, o conquistador lusitano e o ,missionário

ca-I I Fl,.,1 dos novos donos da terra e um gesto e~

I 1111111 rande cruz é erguida e, à sua sombra, frei

I111111 I .clcbra a primeira missa. O primeiro

documen-I I I I r gistra igualmente esta indissolubilida.de entre

111111I11 i l l'mo. Seu autor, Pero Vaz de Caminha,

re-I i1111,,' I no rei D. Manoel: "a principal cousa que

I111 p o l i ' razer em benefício destas terras é nelas

111 1111 ti n ssa santa fé" (12)

l i I '111111, I conjugação do binômio

cristianismo-col~n.ia-III ti l'ortu al, vem ainda explícita no texto de vano~

11II o, [uais os "Regimentos" do Governador Tome

" do .urncnto, assinado aos 28 de dezembro de

(4)

1548, na Vila de Almeirim P

b expansão da fé vem proclamada , rasIlelra" O . . I'

como o móvel da colonização '. pnncipa intento que

me move ao povoamento desUJ,5 terras, afirma o monarca D. João

, . .::anta fé" (13)

HI, e nelas expandir a nossa i" _

Estes propósitos,' . aSSOClanQ. jO a expansao. _ da fé à exp~nsao- co-Ionialista, presidem outrossim as neg~claçoes_ empreendIdas por Portugal junto ao Vaticano vi&t1n~o I a ínstalação da Companhia de

Jesus nos seus domínios. A est~YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAt í t u o, c~t~~os a passagem de uma correspondência do rei D. JoPo 111, dirigida ao seu embaixador

junto ao Vaticano, D. Pedro de Mascarenhas:. "Meu propósito, assim como o do meu pai, afií,ua o mon~r~a, fOI sempre em todas as conquistas difundir a fé, ..VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAS e este obJet:vo, acrescenta o rei, é o mesmo da Companhia, melbpres terr~s. n,~o encontrarão (para a expansão da fé) do que em m~tlS domínios . (14)

Motivos de ordem religio~a estão !g~al~~nte presentes na base da instalação da Compan111a, na Colônia, A razão pela qual fomos enviados a estas terras, escreve o padre Manu~l da Nóbre-ga, é para que o nome de N O ~ s O Senhor seja conheCIdo e louva-do" . (15) Por sua vez, o pav1re Baltazar Fernandes ,-contemporã neo de Nóbrega fi seus confrades de Coimbra: "No

, a lança aos g d r d '

Brasil, nossa Empresa é um p ( O rama es ma o a propagação da

f é " (16)

Por todas estas razões, O teólogo belga Eduardo Hoornaert conclui: "No Brasil, a E&~~;sa 17col?mst~ desenvolvida por Portugal é uma empresa sagraJ I(d)' isto e, umA programa em que à Igreja é atribuído um ~ape e suma relevância,

O cristianismo. . . vaI represeI'. A ta r , portanto. ' .peça. de primei ra o~-. dern na construção da pirâmide colonial brasileira e, constituir a

primeira raiz de nossa educaçãO' t 'r

Neste sentido, o discurso ea. eque ICO e educativo da Com-panhia de Jesus, deixaram efe~ramente marcas profundas no processo de formação social brPsl eira.

Em verdade indo a's senz~as. e nelas. destruindo mitos e

fetí-, 6r1Os no teri d

ches africanos; construindo ora! . ~~ ~nor a casa-grande; colocando o ensino como s u p o r te subsidiário da catequese: fun-dando igrejas nos mais difereO,es recan~os. da Colônia, pregando incansavelmente o Evangelho elltre dOs. índios, negros e brancos; indo aos hospitais e prisões pS(1I a rmrnstrar os. sacramentos; or-ganizando solenes "jubileus" pOs aldea~ento~, ;rIlas e povoados; combatendo de forma ardorosa ,IIS crendices indígenas: instalando, sob sua iniciativa, a primeira dlocese, na Colônia e f~ndando se-minários para a formação do c!ero, o programa dos Jesuítas, no Brasil, foi sobremaneira um projeto em que, ao cristianismo, é

oncedido largo espaço.

1 1 0 E du c a ç a o- e m O e b a t e ,F o r t . ( 1 0 ) J u l h o / D e z e m b r o ' . 1 9 8 5

I I I c lembrar ainda que a Companhia de Jesus foi criada

In do de Loiola como uma instituição particularmente

volta-I l volta-I r I 11 propagação da fé. Com este objetivo, ela surge em 1534

1111Ieste propósito se instala em 1540, em Portugal e em 1549

I 10 Brasil.

Mas, se razões religiosas repousam na base da instalação da IlIlpanhia de Jesus no Brasil, razões de ordem política também

rc i urarn neste fato,

Estas razões decorrem, ao nosso ver, da própria conjuntura I , l l I j 'o-social que caracteriza a colônia à época em que chegam

11 primeiros emissários de Loiola. Esta conjuntura, como vimos,

I vu marcada pela presença de antagonismos variados que punham

I I I jogo a própria preservação da unidade colonial.

Aos olhos de Portugal, confiando aos jesuítas a catequese e o nino na Colônia, confiava-lhes a Metrópole uma outra missão h '111mais árdua: a missão de salvaguardar a unidade

político-cul-t111 liI no meio brasileiro, Dizer isto equivale a afirmar que, à luz

dos interesses de Portugal, a Companhia deveria ser, no Brasil, lima força aliada e de sustentação do poder político, um instrumen-t o de reprodução dos interesses do aparelho do Estado, E, neste domínio, a Companhia se revelou realmente de grande valia para

I metrópole.

A este respeito, citamos Fernando Azevedo:

"Atraindo os meninos índios às suas casas ou índo-Ihes ao encontro nas aldeias; associando na mesma comunidade escolar, filhos de nativos e de reinós - brancos, índios e mestiços -, pro-curando na educação dos filhos, conquistar e reeducar os pais, os jesuítas não estavam servindo apenas à obra da catequese, mas

1.nçavam as bases da educação popular e, espalhando nas novas gerações a mesma fé, a mesma língua e os mesmos costumes, co-meçavam a forjar, na unidade espiritual, a unidade política de uma nova pátria". (18)

Por seu turno, Joaquim Nabuco acrescenta que seria de todo "duvidoso" a salvaguarda da unidade política, na Colônia, sem a presença dos jesuítas em nossa Hist6ria. (19)

Pensam nestes mesmos termos Serafim Leite, Gilberto Freyrc, Sílvio Romero e João Ribeiro. "O catecismo dos jesuítas, escreve Gilberto Freyre, foi o cimento de nossa unidade política." (20)

A busca desta unidade manifesta-se em diversos aspectos do discurso da Companhia, no Brasil: como conselheiro das autori-dades governamentais; pela interferência na vida política da 01

nia; preparando quadros dirigentes para a máquina adrninistrutivn do meio brasileiro e, até mesmo, tomando parte ativa em rnovim '11-tos armados, como foi o caso típico de Nóbrega, quando da ' II I I

são dos franceses do Rio de Janeiro, em 1560.

(5)

Destas duas raízes de nossa educação - a buYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA' I

religiosa e da unidade política - depreende-se uma t I

a transplantação cultural.

"Quando a alma portuguesa, heróica e moça, n lIll I I I I . !

o s muros de Castela e os muros do mar, queria d i l a t u r I " I

, te

jesuítas que encontrou para apoiá-Ia, no seu esíorç 111&'111

e refreá-Ia, nos seus ímpetos aventureiros, um dos muhu I

mentos de domínio e uma das vias mais seguras de P' l i I1 I

cultura européia na cultura dos povos conquistados", (' I )

Fenômeno idêntico vamos encontrar entre os d m i n h 1111

p.recesso de expans~~ do colonialismo espanhol em p u l I ' l iI

rrca Central e América do Sul, no transcorrer dos sécul«

XVI.

Esta transplantação realizada pelo jesuíta se faz p-lu 11

se; l~los curr~culos esc~lares elaborados segundo 'p 111 11'

Colégio de Coimbra, aSSIm como através de muitos . 111111

Companhia que da Colônia são enviados às Univ r id" h

péias. '

Tal transplantação, no entender de Nelson W 1'11' I

vem rnarcada por "traços de brutalidade" (22) acarr 1I11ti11

quências desastrosas sobretudo para a cultura 'indígenll.

. Esta cult.ura "não somente quanto à língua, ma 11I I I

neidade e variedade de suas formas, se foi lentamente sul! I 111I

no raio de influência dos missionários, por outro tip dI 1111

de acordo com os ideais dos jesuítas, e sua cone pçuo l i

idêntica para todos os povos". (23)

.Nes!e aspecto, ~eside a maior crítica que se faz t i I p l l ' I

dos jesuítas no Brasil, O contato do missionário com U 11111111

dígena foi um contato demolidor e desagregador. "Os .111111

genas, por exemplo, de tão agreste sabor substituíram 1110

jesuítas por outros, compostos por eles, secos e mecânlcu

naturalidade das diferentes línguas regionais superimpus 'I1111

só, a "geral". Entre os caboclos ao alcance de S1,1acal qu I

baram com as danças e os festivais" (24); à nudez ind 111 I

impõem o vestuário; a autoridade dos feiticeiros cede lu 11

tori~a~e do missi~nário; o nomadismo e a liberdade indlp

" I

reprimidos pela VIda sedentária que os padres impõem IHI l i "

ment~si novas formas de habitação, de alimentação, de I1 I"1I

de higiene corporal, de organização familiar e tribal 110 111I

:adas na c~ltura nat.iva s~b a influência do jesuíta. N~m I p11I I

e todo o ritmo de VIda, e todo o metabolismo da cultura Ili11II I

que se vêem alterados pela ação dos jesuítas.

Contudo, debaix? do ponto de vista da Igreja e d 1"111'

tos que marcam a vinda da Companhia ao Brasil, "é fOI\11 10

nhecer terem os padres agido com heroísmo; com adrnh I I I

1 1 2 E d u c a ç ã o e m D e b a t e , F o r ! . ( 1 0 ) J u l h o / D e z 011)/11 II

1.1 I; , m lealdade aos seus ideais. Toda crítica

111 1I 11" .lu deles na vida e na cultura indígena,

pre-01111 I r q u c l e superior motivo de atividade moral

IlIlhI I I l l n t c a cultura indígena que sofreu as

con-II " 111 pluntação. Os demais segmentos da vida

co-I '1 1111 P li" ela alcançados. _

I P -cificarnente ao ensino, esta transplantaçao

1111 ícul s das escolas e colégios elaborados a

11111 u l o t u d o pelo Colégio de Coimbra que, desde

\ l iI \11 j uítas e, por dois séculos, serviu de

pro-I pro-I I 11 tituições educativas de Portugal e sua~

~o-1111 I qu rientam a vida destas escolas e colégios

1'1111 j ualmente esta transplantação. Estas normas

11I M Ir p le e, no mais das vezes, sem um

conhe-II I ulidudc colonial para a qual se destinam.

om escreve Maria do Carmo Tavares de

os jesuítas a preocupação em construir um

IlIlIS "receber os mundos feitos da Europa

olônia". (26)

liI I pc11' U da mesma forma quando afirma que o

1111 I 11 Brasil, não foi "construir uma nação a

ti 11 11" humano que encontram, mas sim, transplantar

" 11 vida da Metrópole para a Colônia". (27)

1111" 111', facilitaram e favoreceram esta

transplanta-lftIlll"~\t'IIIU!1 I tlv lua pelos jesuítas. Citamos algumas.

I I "I 111' 11', lembramos a "falta de iniciativa do

colo-II l i que, fi contrário do colonizador inglês da

Amé-""1

I r uxe, com o ideal religioso, o da instrução".

111 11. r p ruamos a "inatividade externa das orde~s

I ' I III fins do século XVIII, se mantiver~m

recol~l-1111 -uíos", (28) sem nenhuma ação que direta ou

m-I l I I t i alcance da vida social brasileira.

Ressal-11 III • que, por dois séculos, o ensino na Colônia

es-I es-II" 111'10 monopólio dos jesuítas. "

I 1111 t incias, o espaço cultural brasileiro ficou em

1111 111 I I I b'o luta dos padres da Companhia.

I" I 'li'r m a esta influência. Nem mesmo a

casa-gran-11\1 11 'revelou contrária aos jesuítas, escapou desta

.111 I 'IL • através dos "tios-padres", o jesuíta acabou

1111110111. pussando a viver sob o mesmo teto e senta~do-se

II I '1"l ubriga os senhores de engenho e,

conseqüente-I ""1 111 10 ic u s modos de vida. (29)

111111111 I 'ta transplantação caminha uma outra raiz de

I 111 l i litização. Historicamente, na medida em que

(6)

acompanhamos o desenrolar do programa educativo d~s jesuítas no

Brasil, percebemos que, já a partir do século XVI, este programa

evolui lentamente para uma elitização. No final deste século, este

programa já não guarda mais aquele caráter preferencial pelo

indí-gena, conferido por Nóbrega. Pelo contrário, o sistema educativo

da Companhia se afasta desta linha e passa a se preocupar

preferen-temente com uma clientela de elite, oriunda da aristocracia dos

en-genhos do século XVI, da pequena burguesia do século XVII e dos

donos da mineração do século XVIII. Os colégios são então

cons-truídos para atender a esta elite colonial e preparar o quadro

diri-gente da vida pública colonial.YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

É nestes termos que vamos encontrar já em fins do século XVI

o Colégio da Bahia conferindo graus de "Bacharéis em Letras" aos

seus alunos, títulos que, segundo depoimento de contemporâneos,

rivalizavam com aqueles outorgados pelos melhores colégios da

Europa.

Esta elitização no ensino, implantada pelos jesuítas, vai

persis-tir durante a época pombalina, durante a Monarquia, passa pelo

período imperial e chega aos anos da República. E, nos dias atuais

nosso sistema educativo ainda guarda com muita nitidez esta

eliti-zação.

Ao lado desta elitização caminha no ensino jesuítico o

acade-micismo literário. Numa sociedade de base agro-escravocrata, onde

as preocupações sociais "não iam além da satisfação das

necessida-des elementares" ligadas à sobrevivência material, desenvolvem os

jesuítas. um ensino onde figuram o estudo do latim, do grego, da

retórica, da metafísica e até mesmo do hebraico. Trata-se, portanto, de um ensino sem 'vinculação direta com a realidade colonial:

trata-se de um ensino "ornamental", (30) "marginalizado", (31) voltado

para a formação de letrados, de eruditos, que bem retrata os medie-vais propósitos pedagógicos dominantes em Portugal, à esta época.

"Humanistas por excelência, e os maiores do seu tempo,

escrc-ve Fernando Azeescrc-vedo, ?s jesuítas concentram todo o seu esforço (na

Colônia), em desenvolver nos seus discípulos, as atividades

literá-rias e acadêmicas que correspondem, de resto, aos ideais de "homem

culto" em PÇlrtugal, .onde, como em toda a península ibérica, se

encastelara o espírito da Idade Média e a educação, dominada pelo

clero, não visava por essa época, senão a formação de letrados e

eruditos". (32)

Resulta deste academicismo "o apego ao dogma, à autoridade,

à tradição escolástica e literária, o desinteresse quase total pela

ci-ência e a repugnância pelas atividades técnicas e artísticas". (33)

Reproduz-se, assi~, na Colônia, "uma educação fechada e

irre-dutível ao espírito erttico e de análise, à pesquisa e

experimenta-114 Educação em Debate, For!. (10) Julho/Dezembro: 1985

110", (34) retratando fielmente as mesmas notas que marcam I \

11irio educativo de Portugal.

Contudo, seria injusto deixar de lembrar que apesar desta li.

mitações, foram as escolas e colégios dos jesuítas o berço de Hgu

rus proeminentes de nossa Literatura, como Alvarenga Peixoto,

láu-dio Manoel da Costa, Santa Rita Durão, Tomás Antonio

Gonza-ga, Gregório de Matos, Basílio da Gama e Antonio Vieira, entr utros.

Concluindo, diremos que, tendo o Cristianismo como base, o

academicismo literário como suporte, a marginalização, a

elitiza-ção, a aversão ao espírito crítico e à investigação como

conseqüên-cias, estas são, ao nosso ver, as raízes que, com os jesuítas,

mar-caram os primeiros ensaios de construção do nosso sistema

edu-cacional.

REFE~ÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

I MIRANDA, Maria do Carmo Tavares de.VUTSRQPONMLKJIHGFEDCBAE d u c a ç ã o 1 1 0 B r a s i l , Editora

Universitária, Recife, 1975, p. 11.

2 CHAGAS, Valnir. E d u c a ç ã o b r a s i l e i r a : o ensino de 1.0 e 2.° Graus. Edição

Saraiva. S. Paulo, 1975, p. 1 e 2.

3 AZSVEDO, Fernando. A C u l t u r a B r a s i l e i r a . Editora Universidade de

Brasília, 1963, p. '517.

4 PICO DE MIRANDOLA, A p u d ERNST BLOCH - L a P h i l o s o p h i e d e I a

R e n a i s s a n c e . Pequena Biblioteca Payot, Paris, 1980, p. 14.

5 BLOCH. Ernst. Op. c i t . , p. 14.

6 SARAIVA, José Herrnano. H i s t ó r i a C o n c i s a d e P o r t u g a l . Publicações

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7 SARAIVA, José Hermano. H i s t ó r i a C o n c i s a d e P o r t u g a l , Publicações

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8 RE ~-DUMONT e MOTTIN, Marie-France - L e M a l D é v e l o p e m e n t ( '1 1

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9 PRADO rUNIOR. Caio. E v o l u ç ã o P o l í t i c a d o B r a s i l , E d , Brasilicnsc, S.

Paulo, 1975, p. 14.

10 FEITOSA, Aécio. L e t t r e s d e s [ é s u i t e s : une contribution à l'Histoirc ,li

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11 VERMECH, A p u d CONSTANTINO BAYLE - E s p a i i a e n lt u l i u » , 111111

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12 MARQUES, joão Martins da Silva - D e s c o b r i m e n t o s P o r t u g u c w s . \ • •1 111,

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13 REGULAMENTOS do Governador Tomé de Souza, a p u t l 11"li •• 1I I

(7)

116 Educação em Debate, Fort. (10) Julho/Dezembro: 1985

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Ja-neiro, 1950, pp. 1-110.

14 LEITE, Serafim - M o n u m e n t a B r a s i l i a e , vol. J, Via dei Penitenziari,

Ro-ma, 1956, p. 131.

15 Idem, o p . c i t . , vol. IV, p. 42'i.

16 Idem, o p . c i t . , vol. Il l, p. 7.

17 HOORNAERT, Eduardo. "Formação do Catolicismo Guerreiro no Brasil",

R e v i s t a E c l e s i á s t i c a B r a s i l e i r a , vol. XXXIII, fase. 132, Vozes, Rio de

Janeiro, 1973, p. 855.

18 AZEVEDO, Fernando. Op. c i t . , p. 507.

19 NARUCO, Joaquim, apud AZEVEDO, Fernando, op, c i t . , p. 534.

20 FREYRE, Gilberto. C a s a - G r a n d eYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA& S e n z a l a , José Olympio Editora, Rio

de Janeiro, 1975, p. 62.

21 AZEVEDO, Fernando, o p . c i t . , p. 503.

22 SODRIÕ, Nelson Werneck. S í n t e s e d e H i s t ó r i a d a C u l t u r a B r a s i l e i r a ,

Civi-lização Brasileira, Rio de Janeiro, 1978, pp. 11· 12.

23 AZEVEDO, Fernando. O p . c i t . . p. 509.

24 MIRANDA, Maria do Carmo Tavares de. O p . c i t . , p. 24.

25 CHAGAS, Valnir. O p . c i t . , p. 4.

26 AZEVEDO, Fernando. Op, c i t . , p. 528

27 AZEVEDO, Fernando. O p . c i t . , p. 545.

28 ROMA ELLI, Otaíza de Oliveira. H i s t ó r i a d a E d u c a ç ã o 110 B r a s i l .

Edi-tora Vozes, Pctrópolis, 1978, p. 33.

29 CHAGAS. Valnír. Op. c i t . , p. 11.

30 SODRÉ, elson Werncck. O p . c i t . , p. 11.

31 AZEVEDO, Fernando. O p . c t i . , p. 516.

32 AZEVEDO, Fernando. O p . c i t . , p. 516.

Referências

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