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JEAN-BAPTISTE DEBRET: UM ARTISTA À SERVIÇO DA CORTE PORTUGUESA NO BRASIL

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Academic year: 2021

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JEAN-BAPTISTE DEBRET: UM ARTISTA À SERVIÇO DA CORTE PORTUGUESA NO BRASIL

Valmilson Pereira dos Santos1

A Vinda da Corte Portuguesa para o Brasil

Para construção desse artigo, o ponto inicial será a observação do livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil (1808), de Jean-Baptiste Debret e 1808: como uma rainha louca, um príncipe medroso e uma corte corrupta enganaram Napoleão e mudaram a história de Portugal e do Brasil, escrito por Laurentino Gomes. Essas duas e outras obras foram utilizadas para descreverem a vinda da corte portuguesa para o Brasil, a necessidade da Missão Artística Francesa com destaque no pintor francês Debret e sua contribuição através de suas gravuras para a história do Brasil.

Para melhor compreensão da história do ofício dos barbeiros no Brasil iniciarei descrevendo a transferência da Corte Portuguesa. O Príncipe regente Dom João VI acompanhado de sua mãe, a rainha Dona Maria e de membros da Corte, sob a proteção da Marinha britânica, deixou Lisboa em novembro de 1807, chegando a Salvador, na Bahia, em 22 de janeiro de 1808.

Em março de 1808, a família real, acompanhada da Corte Portuguesa, chegou à cidade do Rio de Janeiro, onde permaneceu por treze anos. Napoleão Bonaparte, com o objetivo de dominar a Europa, contribuiu de forma preponderante para a transferência da Família Real Portuguesa para o Brasil. Mar à fora, logo depois a Corte já se encontrava no território da América.

Nesse contexto, a presença de D. João VI e sua esposa Carlota Joaquina acompanhado de centenas de pessoas dentre elas se destacaram escritores, pintores e desenhistas que passaram longos dias na atlântica travessia. O desconforto das viagens já foi retratado em diversas linhas, o que acreditamos não

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ser necessário fazê-lo aqui, porém, imaginamos o cotidiano de tantas pessoas a bordo. O que ansiava as pessoas nesses momentos? Sabemos que as difíceis condições pouco conservavam os alimentos, e como se dava a higiene de cada indivíduo?

Nas embarcações portuguesas, um problema gritante era a conservação de alimentos, que por sinal seu espaço era disputado entre ratos e baratas; o mesmo acontecia com a água que por passar pelo longo período acabaria de certa forma contaminada por bactérias e fungos.

Assim, na travessia rumo ao Novo Mundo, a falta de frutas e alimentos frescos tornou-se preocupante para os navegantes e logo quase todos os tripulantes sofreram de uma doença conhecida como escorbuto, doença fatal causada pela deficiência de vitamina C. A higiene pessoal era precária isto por que a falta de banho piorava a situação: “(...) é difícil indicar uma frequência precisa dos banhos, embora os regulamentos de algumas coletividades permitam vislumbrar alguns dados: um banho por mês.” 2

Ao desembarcarem no Brasil, os tripulantes já contavam com panorama em que as epidemias eram constantes e não davam tréguas, algumas sem soluções, pois a população, por muito tempo, enfrentava a escassez de remédios.

Entre tantos problemas causados pela desconfortável travessia, como já vimos, a embarcação, Afonso de Albuquerque, em seu destino para América portuguesa enfrentou também, uma dessas epidemias, a de uma micose, incomodando imensamente a cabeça de muitos inclusive os da realeza, ao passo que os nativos e os negros, estes em terra firme, não foram acometidos. É importante lembrar que,

O excesso de passageiros e a falta de higiene e saneamento favoreceram a proliferação de pragas. No Alfonso de Albuquerque, em que viajava a princesa Carlota Joaquina, uma infestação de piolhos obrigou as mulheres a raspar os cabelos e lançar suas

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perucas ao mar. As cabeças carecas foram untadas com banha de porco e pulverizadas com pó anti-séptico.3

O desembarque da Corte portuguesa se deu às pressas na Bahia, e a princesa Carlota Joaquina ainda na caravela logo raspou a cabeça, numa tentativa de atenuar o grande incomodo, cobrindo a cabeça com um longo turbante, causando impacto estético. O gesto da princesa, gerou uma mudança no comportamento, pois os barbeiros aumentaram suas atividades, raspando as cabeças, isto porque a moda passou a ser não ter cabelos e usar turbantes.

Ciente da riqueza brasileira, após 1808 D. João VI incentivou a vinda de numerosos estudiosos e cientistas que vinham realizar expedições científicas com o objetivo de conhecer a flora, a fauna, a geologia, a geografia e a etnologia do território, para melhor empreender formas de seu aproveitamento.

Faziam parte da Missão Artística Francesa que tinha como função criar no Brasil a Academia de Belas Artes, vários pintores como Taunay, Grandjean entre outros famosos como descrito por Villaça:

Jean-Baptiste Debret veio para o Brasil em começo de 1816 com a Missão Francesa. Esta compunha-se de Joachim Lebreton, o chefe, Debret, pintor histórico, Nicolas Antoine Taunay, pintor de paisagens, Auguste Henri Victor Grandjean de Montigny, arquiteto, Auguste Marie Taunay, escultor, Charles Simon Pradier, gravador, François Ovide, engenheiro mecânico, Sigmund Neukomm, compositor e mestre de capela.4

Neste sentido pelo conjunto de artistas, cientistas franceses que vieram ao Brasil, a cidade carioca e outras passaram a contar com a Missão Artística Francesa com o objetivo de desenvolver o ensino da arte no Brasil e embelezar a cidade carioca.

3 Cf. GOMES, 2007.p.94.

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Debret e A Missão Artística Francesa no Brasil

Nesse contexto, observaremos o pintor francês Debret a serviço da Corte e sua contribuição artística para o Brasil.

A visão européia de Debret modificou-se diante do Brasil. Debret tem a técnica e a novidade dos temas. Sem o Brasil, Debret não seria Debret. Foi o Brasil que lhe deu tudo, a sua matéria e a sua glória. Diante do Brasil, deslumbrou-se. 5

Um desses pintores foi Debret, que se impregnou no Rio de Janeiro, focalizando o cotidiano do carioca, transformando suas impressões em pinturas e desenhos, publicando o livro “Voyage et Historique au Brésil” composto por três volumes, demonstrando através de suas gravuras o cenário em que o Brasil se encontrava. Acreditamos que graças a essa obra, seu nome constitui uma das principais referências iconográficas, sendo bastante utilizado até os dias atuais. Há quem diga que Debret amou o Brasil e no Brasil encontraria o que seus olhos jamais tivessem enxergado: a beleza na qual possibilitava novas inspirações e, principalmente, a cidade do Rio de Janeiro como descrito por Villaça:

O seu itinerário pelo Brasil foi um itinerário de amor. Debret amou o Brasil. A sua obra nos transmite, vivíssimo, um grande amor ao Brasil, á cidade do Rio de Janeiro. Ele conheceu e fixou muito bem a vida urbana. Os tipos, as cenas de rua. 6

Jean-Baptiste Debret além de pintor foi desenhista, filho de Jacques Debret, funcionário do Parlamento francês e primo do famoso pintor Jacques-Louis David líder da escola neoclássica francesa na qual Debret estudou alguns anos e teve contato com os teóricos do estético neoclassicismo:

5 Cf. DEBRET, 1989.p.15.

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Pensar as imagens de Debret é antes de qualquer análise refletir sobre sua vinda da Europa, precisamente de Paris, lugar onde o pintor aprendeu seu ofício junto a seu primo, Jacques-Louis David pintor de temas clássicos. Tema este pintura predominante na França durante o século XVIII e XIX, intitulada de Neoclassicismo. As características deste período são aquarelas com temas embasados em Roma e na Grécia clássica. Este modelo de arte se desenvolveu a fim de serviu principalmente ao objetivo do Estado francês, especificamente a utilização do Imperador Napoleão. 7

As transformações políticas ocorridas na França de então, e os obstáculos enfrentados na vida pessoal, foram decisivos para pensar na travessia do Atlântico e

Jean-Baptiste Debret, nascido em Paris no ano de 1768, foi um artista bastante inserido em seu tempo: frequentou um ateliê de pintura, realizou o imprescindível séjour na Itália, ingressou na academia francesa, frequentou os Salões e recebeu alguns prêmios por suas cenas históricas. 8

No decorrer da vinda da Missão Artística Francesa para o Brasil, Debret aos 48 anos registrava os hábitos e costumes dos brasileiros. Embora a utilização do termo Missão Francesa, possa suscitar um ambiente de união, a realidade era outra, pois em 1805, Debret já estava abandonando a retratação da antiguidade pela modernidade, por muito tempo pintou obras relacionadas a Napoleão. Contudo, a derrota de Napoleão influenciou bastante para que viesse viver no Brasil. Momento importante foi o nascimento do seu único filho que após dezenove anos faleceu deixando Debret inconsolável. Vários convites chegaram a Debret para que fosse para outros países como a Itália, Rússia entre outros. Porém Debret preferiu o Brasil como exemplifica Villaça:

A perda de um filho único de dezenove anos deixou Debret numa prostração total. Louis David lhe sugeriu que fosse até a Itália, para distrair-se da sua grande dor. Grandjean de Montigny propôs que 7 Cf. SILVA, 2009.p.01.

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fosse para a Rússia com a missão de artistas franceses que o Czar pedira. Mas, na mesma hora, se preparava em Paris a missão ao Brasil, por solicitação de Dom João. Debret optou pelo Brasil. Preferiu o Brasil á Rússia. Embarcou no Havre a 22 de janeiro de 1816. Encerrava-se a primeira fase de sua vida. Abria-se diante dele um segundo período. O mar estava diante dele, o desconhecido, o futuro, a criação. O Brasil.9

Não existia união entre os pintores franceses no Brasil, ao contrário, havia bastantes desentendimentos, e viviam entre confusões, discórdias com o organizador Le Breton e o ciúme de Nicolas Taunay por Debret. Na verdade

A união entre os membros desse grupo também não era fator que viesse alimentar a ideia de uma missão coesa e organizada. São conhecidos os desentendimentos entre os franceses já no Brasil, principalmente as discussões que envolviam o nome de seu organizador, Joachim Le Breton. Uma carta de Debret a seu “bon vieux camarade”La Fontaine, de 17 de novembro de 1816, aponta mais uma discórdia no grupo, quando comenta a ira despertada em Nicolas Taunay ao ver a facilidade com que ele, Debret, se aproximava do rei português.10

Entre os artistas que estiveram no Brasil, observamos que o legado de Debret, teve uma longevidade maior, sendo comumente estudado e utilizado para ilustrar diversos exemplos, de como era o Brasil nos tempos do Império, sua produção iconografia é um quadro revelador desse momento. Suas pinturas revelam cenas dos colonizadores, dos índios e dos negros retratando os costumes, frutas, as ruas, paisagens do Sul, algumas cidades como Paraná, São Paulo, Santa Catarina e, principalmente, a Corte e povo.

A estadia de Debret no Brasil foi de 15 anos e recolheu todo material colhido no Brasil levando para França e depois transformando em seu livro no qual narra sua viagem ao Brasil. O livro da sua vida, o documentário da sua aventura no Brasil assim descreve o autor Villaça:

9 Cf. DEBRET, 1989.p.18.

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Um material riquíssimo - há as vistas da viagem, os índios com seus adornos, os negros, os costumes, as atividades, a Corte, seus hábitos, a burguesia nascente, as paisagens fascinantes, os motivos arquitetônicos, os temas religiosos, a fauna, a flora. 11

A Missão Artística no Brasil foi de grande importância para o desenvolvimento das artes dos brasileiros superando o atraso de sua experiência nesse campo, porém cabe entendermos que de início não foi fácil a implantação das artes no Brasil, os franceses era malvistos. Mesmo assim Debret derrubou barreiras e através do seu amor pelo Brasil deixou documentos importantíssimos.

Referências

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