• Nenhum resultado encontrado

Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação do Porto Processo nº 26393/17.2T8PRT.P1

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2022

Share "Sumário. Texto Integral. Tribunal da Relação do Porto Processo nº 26393/17.2T8PRT.P1"

Copied!
9
0
0

Texto

(1)

Tribunal da Relação do Porto Processo nº 26393/17.2T8PRT.P1 Relator: RUI ATAÍDE DE ARAÚJO Sessão: 07 Dezembro 2018

Número: RP2018120726393/17.2T8PRT.P1 Votação: UNANIMIDADE

Meio Processual: APELAÇÃO Decisão: NÃO PROVIDO

ENCERRAMENTO DO ESTABELECIMENTO

ALTERAÇÃO DO LOCAL DE TRABALHO PREJUÍZO SÉRIO

RESOLUÇÃO DO CONTRATO DE TRABALHO

Sumário

I - Os factos, ainda que parcialmente conclusivos, não deixam de ser

atendíveis se e na medida em que revelem realidades globais, perceptíveis ou sensíveis, baseadas em provas concretas.

II - A alteração do local de trabalho do Porto para Lisboa, por encerramento do estabelecimento ali situado, é indicativa de um prejuízo sério justificador da resolução do contrato de trabalho pelo trabalhador.

III - Não basta vislumbrar como possíveis vantagens na alteração do local de trabalho, designadamente ao nível da manutenção da relação laboral, da progressão na carreira ou de compensações financeiras, para dar como não demonstrado o prejuízo sério.

IV - A existência de razões ponderosas, do ponto de vista empresarial, para o encerramento do estabelecimento, não afasta o direito à resolução, estando a licitude do comportamento do empregador já ínsita na limitação da

indemnização (que não pode ascender aos limites do art. 396º, ficando-se pelos do art. 366º do Cód. Trabalho).

Texto Integral

Processo nº 26.393/17.2T8PRT-P1

Origem: Tribunal da Comarca do Porto – Juízo do Trabalho do Porto, Juiz 1

(2)

Acordam no Tribunal da Relação do Porto:

1 – Relatório

B… intentou a presente ação declarativa sob a forma de processo comum contra C…, S.A., pedindo que se condene a R. a ver reconhecida a licitude da resolução do contrato de trabalho que a unia ao A. e operada por este, e, em consequência, a pagar ao mesmo a compensação correspondente, bem como a pagar-lhe a quantia de €25.500 relativa à retribuição em espécie que retirou, tudo acrescido de juros de mora, à taxa legal, contados desde a citação, até efetivo e integral pagamento.

Alegou, para tanto e em suma, que, trabalhando para a R., foi por esta

transferido, sem o seu acordo, de local de trabalho, o que lhe causou prejuízos sérios. Mais referiu que a R. lhe retirou unilateralmente o veículo automóvel que lhe havia disponibilizado para uso profissional e pessoal.

A R. contestou a ação, defendendo, em suma, que o A., com a transferência de local de trabalho determinada, não sofreu qualquer prejuízo, tendo a mesma sido imposta por razões de sustentabilidade financeira e organizacionais da R.

Igualmente alegou que os veículos que foram sendo disponibilizados ao longo do tempo ao A. foram-no enquanto este manteve funções que exigiam

deslocações em serviço, sendo que se o mesmo usou tais viaturas para satisfação de interesses pessoais, fê-lo por mera tolerância da R.

Foi proferido despacho saneador e, realizada a audiência de discussão e julgamento, foi proferida sentença, na qual o Tribunal a quo decidiu que:

“Pelo exposto, julgo a presente ação parcialmente procedente, por parcialmente provada, e, em consequência:

a) Declaro lícita a resolução do contrato de trabalho levada a cabo pelo A., B…, no dia 19 de outubro de 2017;

b) Condeno a R., C…, S.A., a pagar ao A. o montante de €62.425 (sessenta e dois mil quatrocentos e vinte euros) a título de compensação pela apontada resolução contratual, acrescido de juros de mora, à taxa legal, contados desde a citação, até efetivo e integral pagamento;

c) Absolvo a R. do restante peticionado;

d) Absolvo o A. do pedido reconvencional contra o mesmo formulado;

e) Ainda condeno o A. e a R. nas custas do processo, na proporção de vinte por cento para o primeiro e de oitenta por cento para a segunda.”

Não se conformando com o assim decidido, a Ré interpôs recurso,

………

………

………

3 – Objeto do recurso

(3)

……….

……….

……….

3.2 – Da existência (ou não) de fundamento para a resolução do contrato Em sede do direito aplicável, a questão que se discute no processo e com cuja solução, por parte do Tribunal a quo, a recorrente discorda é, essencialmente, a de saber se a ordem de transferência de local de trabalho dirigida pela R. ao A. justificava a resolução, por este, do contrato de trabalho, com direito a indemnização.

Como é sabido, o local de trabalho é um elemento decisivo do contrato de trabalho, condicionando não só a vinculação inicial como o desenvolvimento da relação laboral, que se tem de cingir, por principio, ao âmbito territorial contratualmente definido – cfr. art. 193º do Cód. Trabalho.

Neste sentido, há por parte do trabalhador um direito à manutenção do local de trabalho, estando a entidade empregadora impedido de transferir os seus empregados … para outro local de trabalho, salvo nos casos previstos neste Código e nos instrumentos de regulamentação coletiva de trabalho, ou quando haja acordo (art.º 129.º n.º 1 f) do C. do Trabalho).

Este princípio geral de inamovibilidade admite desvios, como desde logo ressalva este último preceito, mas justamente e por serem desvios ou

exceções, a sua interpretação normativa não pode alargar-se a casos análogos – cfr. o art. 11º do Cód. Civil.

O art.º 194.º do C. do Trabalho prevê as duas situações em que, temporária ou definitivamente, é admitida a mudança de local de trabalho por determinação da entidade patronal.

De acordo com o seu n.º 1, o empregador pode transferir o trabalhador para outro local de trabalho: a) em caso de mudança ou extinção, total ou parcial do estabelecimento onde aquele preste serviço; b) quando outro motivo do interesse da empresa o exija e a transferência não implique prejuízo sério para o trabalhador.

Como historia Monteiro Fernandes, in Direito do Trabalho, 12.ª edição, pág.

423, enquanto o regime do pretérito art.º 24.º da L.C.T. (Lei do Contrato de Trabalho) estabelecia, neste domínio, um princípio geral de proibição da

transferência – fazendo prevalecer o interesse do trabalhador na “estabilidade geográfica” da prestação sobre as conveniências empresariais que apontam para a mobilidade do pessoal –, o regime estabelecido pelo Código do Trabalho de 2003 passou ser mais sensível aos interesses do empregador, visto que lhe confere, por norma, a faculdade de transferência individual. E esta disciplina legal mantém-se idêntica no domínio do Código do Trabalho de 2009 (cfr. os

(4)

art.ºs 193.º n.º 1 e 194.º n.ºs 1 b), 2 e 4).

No caso dos autos, ninguém pôs em causa que o estabelecimento no qual o A.

prestava a sua atividade mudou de local, definitiva e completamente, na sequência de decisão, tomada pela R., de concentrar em … o cerne da sua atividade desenvolvida em território nacional.

Sendo assim e não sendo essa opção de gestão empresarial sindicável do ponto de vista jurídico, a questão que podemos e devemos debater – porque colocada à primeira instância e em sede de recurso – é apenas a de saber se tal mudança confere ao trabalhador o direito a resolver o contrato e, por via desta resolução, a receber uma indemnização.

Com efeito, ao trabalhador que se veja confrontado com uma alteração unilateral do seu local de trabalho por mudança do estabelecimento da empregadora assiste o direito de resolver o contrato de trabalho nos termos do nº 5 do art. 194º, que passamos a transcrever: “no caso de transferência definitiva, o trabalhador pode resolver o contrato se tiver prejuízo sério, tendo direito à compensação prevista no artigo 366º”.

Há então que aprofundar, pois que nisso se centra a controvérsia entre as partes, o que seja o “prejuízo sério” a que alude o ora transcrito preceito legal.

A 1ª instância atendeu, a este propósito, aos ensinamentos da doutrina e jurisprudência. Assim e como ali se cita, para Monteiro Fernandes (ob. cit., pág. 395) “… é necessário que o prejuízo expectável seja sério, assuma um peso significativo em face do interesse do trabalhador, e não se possa reduzir à pequena dimensão de um «incómodo» ou de um «transtorno» suportáveis”.

Por seu turno e como, por sua vez, cita o próprio Monteiro Fernandes, 13.ª edição, pág. 428, refere Bernardo Xavier (in), que a situação implica a

”ponderação das distâncias objetivas, da situação profissional do cônjuge e dos filhos menores, sem uma concreta definição da exata cobertura ou

compensação financeira por banda da Entidade Empregadora”, “um confronto ou balanço das vantagens/inconvenientes pessoais do trabalhador”, de modo a apurar se há “ prejuízos importantes, a provocar alteração substancial das/nas condições de vida do A. (ausência da família, omissão de acompanhamento regular no apoio aos filhos menores, perda ou diluição das relações sociais, etc.)”.

Como já destes ensinamentos decorre, a extensão do prejuízo e a sua

seriedade têm de ser apuradas no caso concreto e não abstractamente. Como salienta MENDES BAPTISTA “O legislador entendeu, e bem, não enunciar a noção de prejuízo sério, certamente por pensar que só perante o caso

concreto, poderá o julgador, segundo o seu prudente arbítrio, fazer a

apreciação e decidir em conformidade” (in “O conceito de prejuízo sério e a transferência do local de trabalho nas grandes aglomerações urbanas”,

(5)

Prontuário de Direito do Trabalho, nº54, Centro de Estudos Judiciários, 01-02- 98 a 31-03-98, p.28).

De todo o modo, estando o interesse da entidade empregadora salvaguardado com a insindicabilidade da opção de mudança do estabelecimento,

naturalmente que a apreciação do “prejuízo sério” se há-se centrar numa avaliação dos interesses do trabalhador. Neste sentido e para o caso em especial da alínea a) do nº 1 do art. 194º do CT (mudança ou extinção de estabelecimento) – não já da alínea b), em que se atende expressamente ao

“interesse da empresa” - não seguimos de perto a posição de Monteiro Fernandes quando afirma que “…a seriedade do prejuízo deve ser apurada também em confronto com a importância das consequências que a não

transferência acarretará à empresa.” (Monteiro Fernandes, ob. cit., pág. 394).

Já ao nível dos interesses do trabalhador, ai sim, pode haver relatividade, pois que e como refere o mesmo autor, “uma transferência pode ser prejudicial para um trabalhador e vantajosa para outro”, dando o exemplo de um

trabalhador com filhos em idade escolar que é transferido de uma fábrica em local isolado para um escritório da empresa situado em cidade distante, mas com boas estruturas escolares.

Naturalmente que, em casos como o dos autos em que o trabalhador não chegou a acatar a ordem de transferência, o prejuízo a considerar é apenas um prejuízo hipotético ou virtual. Como explica Lobo Xavier (O lugar da prestação de trabalho, Lisboa, 1971, pág. 37), “o prejuízo hipotético, neste sentido, há-de ser achado através de uma avaliação diferencial ou de uma comparação entre a situação do trabalhador e aquela em que ele

provavelmente estaria se tivesse sido transferido.”. Aliás, talvez seja por esta razão que o legislador falou nesta sede em prejuízo e não dano, como que a significar que não tem de se verificar um prejuízo concreto, um dano real.

Quanto aos aspetos da vida do trabalhador que devem ser ponderados de forma a averiguar a existência de prejuízo sério, têm sido apontados pela Doutrina e Jurisprudência os seguintes: o local de trabalho do cônjuge, a escola dos filhos, a assistência a pessoas de família, o desempenho de outras atividades profissionais ou extralaborais pelo trabalhador, a inexistência de meios de transporte ou meios de transporte muito precários, além do tempo gasto em deslocações para o novo local de trabalho.

O que releva é que não estejam em causa meros incómodos ou desvantagens que o trabalhador deva suportar em benefício do funcionamento da empresa, como é o caso de o trabalhador ter de efetuar um percurso de mais alguns quilómetros ou ter de caminhar mais alguns minutos desde a paragem do transporte coletivo até à porta do novo local de trabalho.

Ora, resolvida a impugnação da matéria de facto nos termos supra transcritos,

(6)

podemos dar por demonstrado que a vida pessoal do A. está assente numa relação de proximidade com a sua família, a qual conta com sua presença quotidiana; que a mudança de local de trabalho do Porto para … – localidade situada a mais de 300 quilómetros da residência do seu agregado familiar – implicaria o seu afastamento da família durante toda a semana de trabalho;

que o A., assim como os membros do seu agregado familiar, residem na zona do Porto, onde adquiriram a sua habitação, onde matricularam a filha no

ensino e em diversas atividades formativas não escolares, como a catequese, a música, a patinagem e o ballet, este com uma periodicidade trissemanal; que o A., pelo menos algumas vezes por mês, costuma ir buscar a filha menor ao ballet, sendo que por vezes também a leva a tal atividade extracurricular; que a filha menor do A., que conta nove anos de idade, frequenta o quarto ano de escolaridade num estabelecimento de ensino localizado na cidade do Porto, cidade esta onde sempre viveu pelo menos desde os três anos e meio de idade;

que a filha menor do A. tem amigos na cidade do Porto e é afectivamente muito ligada ao pai; que o A. costuma dar explicações à filha ao nível dos currículos escolares; que a esposa do A. é doméstica e constitui com o A. um casal unido; que o A. tem uma irmã, um cunhado e uma sobrinha na cidade de Barcelos, com os quais, juntamente com a sua esposa e filha, se relaciona; e que a esposa do A. tem um irmão, uma cunhada e três sobrinhos no Porto, com os quais, na companhia do marido e filha, se relaciona.

Face à factualidade apurada e que agora se elencou, não temos dúvidas em considerar, tal como o Tribunal a quo, que existiria um prejuízo sério para o A.

com a alteração do local de trabalho promovida pela R. Na verdade e como se refere na sentença recorrida, “ainda que a esposa do A. seja doméstica, a filha do casal mostra-se inserida em contexto escolar, lúdico e social na cidade do Porto, sabendo-se que, face à distância que separa esta de …, o A. só

conseguiria conviver com a sua família nuclear aos fins-de-semana, estando assim impedido de beneficiar da presença diária da sua filha, com a qual tem uma relação afetiva forte, de a acompanhar, como tem feito, no percurso escolar e a atividades extracurriculares. Desenraizar uma criança de nove anos de idade do seu ambiente natural de sempre, obrigando-a a uma

mudança completa de vida e colocando-a a uma distância de mais de trezentos quilómetros do seu centro atual de interesses, não é razoavelmente de impor.

Sem olvidar que a restante família do A., com a qual o mesmo se relaciona, reside em Barcelos, cidade bem mais próxima do Porto que de …. E sem esquecer também que a família da esposa do A. reside na cidade do Porto, relacionando-se todos”.

Subscrevemos este entendimento, sem prejuízo de reconhecermos a licitude da opção da Ré, ora recorrente, em encerrar o estabelecimento do Porto onde

(7)

o Autor prestava funções.

Aliás, por deslocações para distâncias bem menores já alguma jurisprudência tem considerado haver prejuízo sério - vd., entre outros, o Acórdão desta Relação do Porto, de 18.01.2010, no proc. 125/08.4TTMAI.P1, em que foi relatora Albertina Pereira, relativo a um caso em que se discutia uma

transferência de Maia para Estarreja (pese embora esta decisão não viesse a ser confirmada pelo STJ no Acórdão de 13.04.2011, do Relator Fernandes da Silva). Em casos de deslocações para distâncias análogas à dos autos, cremos não haver consideráveis divergências na jurisprudência em entender, por princípio, que existe prejuízo sério, assim tendo ocorrido, por exemplo, com o Acórdão desta mesma Relação do Porto de 26/03/2012, no proc.

15/10.0TTSTS.P1, em que foi relatora Paula Leal de Carvalho, relativo a um caso de transferência da Trofa para Alenquer.

Refere a recorrente que que “a mulher do Recorrido não trabalha, logo (…) teria maior disponibilidade para mudar de cidade”; que “não existem pessoas a quem o Recorrido e a mulher tenham que dar assistência, para além da sua filha menor”; que “não se demonstrou que o Recorrido tivesse outras

atividades profissionais ou extraprofissionais”; que “no que concerne a meios de transporte, só se poderia ponderar a existência ou inexistência de melhor condições se se soubesse onde o Recorrido optaria por viver em …”; e que

“por muito que a filha menor esteja integrada na cidade onde vive, certo é que, é do senso comum que as crianças têm maior capacidade de adaptação à mudança do que os adultos”.

Contudo e salvo o devido respeito, estes argumentos partem do pressuposto que o trabalhador é, mais do que sujeito de uma relação jurídica, quase seu objecto, que pode ser deslocado, levado a alterar o seu modus vivendi, a situação familiar, habitacional e de mobilidade, apenas por ser um mal menor em comparação com os benefícios para o serviço/empresa. Mais: aquele tipo de argumentos arrasta os próprios elementos do agregado familiar do

trabalhador para mudanças que dependem de opções - da entidade

empregadora deste - a que aqueles são totalmente alheios, olvidando que cada um tem vida própria. A consideração legal do “prejuízo sério” ultrapassa, a nosso ver, um mero raciocínio objectivo entre vantagens e inconvenientes, tendo de se centrar na análise da situação pessoal do trabalhador, com tudo o que ela tem de subjectivo em termos de opções de vida, afectividade no

relacionamento com a família nuclear e alargada, vida social com amigos, actividades extraprofissionais e outros factores que tornam a vida do

trabalhador única e intransmissível. Qualquer alteração que ponha em risco significativo este equilíbrio e mundo pessoal, em termos de desenraizar o trabalhador, o afastar das pessoas que lhe são queridas e colocar num

(8)

ambiente hostil é, a nosso ver, susceptível de integrar o prejuízo sério, por mais compreensíveis e meritórias que sejam as opções/intenções da entidade empregadora.

Aliás, a licitude do comportamento do empregador é um pressuposto que, in casu, não contende com a licitude da resolução. Esta, no caso de mudança ou extinção de estabelecimento, depende apenas da existência do prejuízo sério e não também da inexistência de justificação da entidade empregadora para alterar o local de trabalho (cfr. a alínea a) do art. 194º, nº 1, do CT, por

confronto com a alínea b). E é justamente por isso, ou seja por pressupor um comportamento licito do empregador, que – dizemos nós numa interpretação teleológica e sistemática (cfr. art. 9º, nº 1, do CC) - a indemnização não pode, no caso, atingir os limites da indemnização típica da resolução com justa

causa – ou seja, até 45 dias de retribuição por ano de antiguidade (art. 396º do CT) -, antes se ficando pela indemnização típica de outras formas de cessação do contrato de trabalho por iniciativa do empregador baseada em causas licitas (extinção do posto de trabalho, inadaptação ou despedimento colectivo) – art. 366º do CT.

Não subscrevemos por isso a posição defendida pela Ré/recorrente no sentido de que a “análise do prejuízo sério do trabalhador não pode ser dissociada da análise do interesse relevante da empresa”. Ainda que, no caso dos autos, estivesse em causa a viabilidade financeira da empresa e uma decisão racional e estratégica de gestão, para justificar a resolução por parte do trabalhador basta a constatação de que haveria um prejuízo sério para este.

Compara Mendes Batista (“Notas sobre a mobilidade geográfica dos trabalhadores, Separata da Obra “VII Congresso Nacional de Direito do Trabalho”, Coimbra, Almedina, 2004) este sistema, centrado no interesse do trabalhador, com o de outros ordenamentos e conclui que “Pode-se em todo o caso ter criado um sistema demasiado pesado em matéria de mobilidade geográfica, porquanto ordenamentos jurídicos como o italiano, o espanhol, o francês e o alemão, operam tão só com base nas exigências de natureza

técnica, organizativa e produtiva, desconhecendo o conceito de prejuízo sério, e não admitindo, em princípio, o direito de resistência do trabalhador a uma ordem de transferência ainda que a mesma lhe causa prejuízo sério”. Mas seja como for e por ora, não é esse o enquadramento da nossa Lei (aparentemente tributária ainda de um maior humanismo nas relações laborais).

É certo que a recorrente poderia, como argumenta em tom de “ameaça”, não ter privilegiado a manutenção e segurança de postos de trabalho de largos anos e antes ter optado pela forma mais fácil do despedimento de todos os trabalhadores dos escritórios do Porto. Mas não cabe aqui equacionar se seria lícito ou não o recurso ao despedimento colectivo, à extinção do posto de

(9)

trabalho ou a outras hipóteses que não se verificaram nem constituem causa de pedir na ação. O que cumpre equacionar é, tão só, se a resolução do contrato por parte do trabalhador tinha, como causa justificativa, o prejuízo sério previsto na lei.

Também não se nos afigura suficientemente relevante o argumento de que a

“sua (do recorrido) mudança para … permitir-lhe-ia, além da proximidade com a equipa, chefia direta e administração, manter o seu longo vínculo contratual, manter as suas condições remuneratórias, que no momento atual e atendendo aos valores do mercado se podem considerar bastante atrativas, e continuar a progredir na carreira numa empresa que tem por ambição tornar-se cada vez mais sólida e competitiva”. Nem muito menos será relevante o argumento, vago, de que “a deslocação da sua vida para …, a escassos quilómetros da capital do País, poderia proporcionar-lhe, a si e à sua família, melhores oportunidades para o futuro”. Todos estes factores, embora pudessem ter pesado na opção do trabalhador em não resolver o contrato de trabalho, não são, por si só e uma vez que optou pela resolução, definidores do prejuízo sério que justifica esta.

Posto isto e dado que o cálculo da indemnização devida não foi posto em causa no recurso, nada vemos que obste à confirmação da decisão recorrida, ainda que com a ligeira alteração da matéria de facto de que acima se deu nota.

4 – Decisão

Pelo exposto e sem prejuízo da alteração introduzida ao ponto 20 da matéria de facto, acordam os Juízes da Secção Social do Tribunal da Relação do Porto em julgar improcedente a presente apelação, confirmando a decisão recorrida.

Custas pela Ré/recorrente

Porto, 7/12/2018 Rui Ataíde de Araújo:

Fernanda Soares:

Domingos Morais

Referências

Documentos relacionados

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

Este era um estágio para o qual tinha grandes expetativas, não só pelo interesse que desenvolvi ao longo do curso pelas especialidades cirúrgicas por onde

Todas as outras estações registaram valores muito abaixo dos registados no Instituto Geofísico de Coimbra e de Paços de Ferreira e a totalidade dos registos

O objetivo desse estudo é realizar uma revisão sobre as estratégias fisioterapêuticas utilizadas no tratamento da lesão de LLA - labrum acetabular, relacionada à traumas

O emprego de um estimador robusto em variável que apresente valores discrepantes produz resultados adequados à avaliação e medição da variabilidade espacial de atributos de uma

Our contributions are: a set of guidelines that provide meaning to the different modelling elements of SysML used during the design of systems; the individual formal semantics for

Já no mês de Outubro, o Diário de Notícias dedicou mais páginas do seu jornal ao tema “Sociedade”, abordando assuntos maioritariamente na área da educação e casos de

Outras possíveis causas de paralisia flácida, ataxia e desordens neuromusculares, (como a ação de hemoparasitas, toxoplasmose, neosporose e botulismo) foram descartadas,