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PANTANAL E A PERCEPÇÃO DO HOMEM PANTANEIRO

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Academic year: 2022

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PANTANAL E A PERCEP

PANTANAL E A PERCEP Ç Ç ÃO DO HOMEM ÃO DO HOMEM PANTANEIRO

PANTANEIRO

Cristhiane G. Amâncio 1 Peter G. Crawshaw Jr.2 Walfrido M. Tomas 1 Micheline V. da Silva 3 Rozângela B. Rodrigues 3

(1) Embrapa Pantanal (2) Parque Nacional do Pantanal IBAMA (3) UFMS, Corumbá, MS

(2)

A conservação da onça-pintada

(Panthera onca)

no Pantanal tem sido

um problema mal-resolvido...

... principalmente devido ao conflito gerado pela

predação no gado

doméstico.

(3)

Década de 70 - caça comercial pela pele, caça desportiva, e o controle exercido por fazendeiros, resultou na redução da onça-

pintada no Pantanal.

Restaram apenas duas

populações viáveis: ao longo do rio São Lourenço e outra no rio Miranda.

Essas populações começaram a se recuperar a partir da década de 80, devido ao esvaziamento de fazendas de pecuária forçado pelas grandes enchentes a partir de 1974, nas partes mais baixas da planície de inundação.

(4)

O aumento da população de onças e a retomada gradual da pecuária, durante o período relativamente mais seco que se iniciou em 2000 e se estendeu até 2006, tem mostrado que o conflito persiste, e parece ter se intensificado novamente.

Vale ressaltar que a predação nunca desapareceu do Pantanal, e não é por acaso que vários projetos de pesquisa estão focalizados na avaliação deste conflito, com uma preocupação sobre o futuro da espécie nesse ecossistema.

(5)

Ações isoladas, como abate indiscriminado, apesar de ter

função paliativa em algumas situações, não resolvem o problema em escala condizente,

além de envolver riscos legais.

(6)

O QUÊ DIZ A LEGISLA

O QUÊ DIZ A LEGISLAÇÃOÇÃO??

Lei de Crimes Ambientais ou Lei da Natureza - Lei nº 9.605/98:

Art. 37. Não é crime o abate de animal, quando realizado:

I - em estado de necessidade, para saciar a fome do agente ou de sua família;

II - para proteger lavouras, pomares e rebanhos da ação predatória ou destruidora de animais, desde que legal e expressamente autorizado pela autoridade competente;

Ill - (VETADO)

IV - por ser nocivo o animal, desde que assim caracterizado pelo órgão competente.

(7)

Mesmo porque a eliminação do animal responsável geralmente implica na substituição, em pouco tempo,

por outra onça (organização social da espécie).

(8)

Pontos Importantes:

O Pantanal enfrenta atualmente uma pressão de desmatamento e substituição de vegetação nativa por espécies exóticas cultivadas.

É contraproducente um confronto com o fazendeiro que procura meios para diminuir o prejuízo econômico causado pela

depredação do gado por grandes felinos

É preciso, sim, urgência na busca de modelos

alternativos mais condizentes com a

conservação, ao mesmo tempo em que se garanta viabilidade econômica às fazendas de pecuária.

(9)

A área disponível em grandes fazendas de pecuária (95%) e aquela protegida em unidades de conservação no Pantanal (5%, incluindo UCs federais, estaduais e RPPNs), ressalta a necessidade da cooperação de fazendeiros bem-intencionados em um programa abrangente de conservação da onça-pintada, à longo prazo.

A conservação da onça no Pantanal depende menos das UCs do que das fazendas de pecuária, onde as decisões

sobre abater ou não são tomadas

(10)

A conservação em larga escala da onça- pintada no Pantanal passa

necessariamente pelo manejo sustentável das fazendas e por uma compreensão da dimensão humana na convivência entre o

Homem e esses felinos.

(11)

É preciso também avaliar e

valorizar a importância econômica representada pelas onças para o turismo na região. Já existem no Pantanal propriedades nas quais o eco-turismo, com enfoque na

onça-pintada, compensa, com vantagens óbvias, os prejuízos decorrentes da depredação do gado.

Esse tipo de experiência tem contribuído para uma

mudança de atitude, ainda que gradual, de alguns pecuaristas, em relação à espécie.

(12)

Quanto maior a disponibilidade de presas nativas em uma determinada

área, tanto menor será a predação em animais domésticos.

(13)

Por esse motivo, no manejo da vegetação na fazenda, deve-se preservar tanto quanto possível, áreas de habitats naturais, possibilitando uma maior

diversidade e densidade de espécies-presas dos grandes felinos.

(14)

Existe uma série de suposições acerca dos motivos que levam ao abate da onça-pintada, mas não há estudos que verifiquem quais desses motivos são os mais importantes em orientar a tomada de decisão sobre caçar ou não o animal.

(15)

No presente estudo, foi feito um primeiro contato com o problema, com o objetivo de caracterizar os atores envolvidos, identificar as diferentes

percepções que eles tem sobre a onça-pintada e os motivos que levam ao abate de indivíduos dessa espécie.

(16)

Área de estudo

Um mosaico de unidades de conservação:

1.Parque Nacional do Pantanal Matogrossense,

2.Parques Estaduais Encontro das Águas e do

Guirá, e

3.Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPN) Dorochê, Rumo Oeste, Penha, Acurizal, Engenheiro Eliezer Batista e Santa Teresa, estas duas últimas ainda em fase de implantação

(17)

Dados de campo

Entrevistas semi-estruturadas foram realizadas entre fevereiro e abril de 2007, no Pantanal, com o seguinte público :

1.três famílias de ribeirinhos,

2.dois ex-moradores ribeirinhos (atualmente estudantes universitários - graduação em Biologia),

3.dois funcionários de RPPNs,

4.dois proprietários de fazenda na área de estudo.

O roteiro de entrevistas foi desenvolvido com base em seis perguntas que procuraram identificar o significado, os signos e os mitos que envolvem a onça-pintada no Pantanal para esses diferentes atores.

(18)

Resultados

parece não haver homogeneidade de pensamento entre os moradores e usuários do Pantanal sul-matogrossense, apesar de haver uma convergência: onças ainda são abatidas mesmo havendo uma certa noção da ameaça de sua extinção.

A decisão de não caçar, por outro lado, é influenciada por convicções pessoais ou pela imposição de terceiros.

(19)

O efeito do “discurso do mestre” é evidente, já que a atitude de empregados de fazendas frente às onças depende do posicionamento e dos interesses dos

proprietários: pecuarista ou dono de RPPN.

Atores cuja economia não depende da criação de

rebanhos são mais tolerantes

(ribeirinhos pescadores, por exemplo), mas a onça

assume um caráter folclórico em seu

imaginário.

(20)

Em todos os casos apresentados, a orientação do imaginário sobre o objeto (a onça) é ditada, principalmente, pela lógica do prejuízo

econômico diretamente ligado à atividade pecuária.

Foi identificada também uma forte visão antropocêntrica da realidade. Nota-se

uma certa intransigência das pessoas, com a onça constituindo um signo de afronta ao domínio

humano sobre a natureza.

(21)

Vislumbramos a possibilidade de atingir com mais eficiência aquele que orienta a ação do capataz, dos funcionários e de seus familiares sobre as

atitudes frente à onça-pintada.

Seu papel é

fundamental para a orientação da reconstrução do imaginário social

acerca desta espécie e, muito provavelmente, das demais espécies de grandes carnívoros.

(22)

É difícil mudar atitudes daqueles que invariavelmente decidem abater onças sem induzir essa mesma mudança nos proprietários de terra.

Esta indução, a nosso ver, só pode ser efetiva se estiver alinhada com um

paradigma no qual seja possível vislumbrar soluções integradas de mitigação de

prejuízos e melhorias na condição econômica das fazendas.

(23)

Este fato é reforçado pela realidade:

no Pantanal, a maior parte

das populações de onças estão em fazendas de pecuária, e não nas UCs.

Assim, qualquer estratégia de conservação da espécie precisa levar

em conta a dimensão do conflito Homem-onça e buscar soluções

duradouras e viáveis.

(24)

A A ú ú nica sa nica sa í í da da é é o o estabelecimento estabelecimento

de um novo de um novo paradigma para o paradigma para o desenvolvimento desenvolvimento

para o Pantanal

para o Pantanal

(25)

UM NOVO PARADIGMA DE CONSERVA

UM NOVO PARADIGMA DE CONSERVAÇÇÃO PARA O PANTANAL:ÃO PARA O PANTANAL:

É preciso uma abordagem integrada da conservação, através do uso sustentável dos ecossistemas, baseado em:

1. Uma garantia de manutenção da diversidade biológica.

2. Valorização diferenciada dos produtos oriundos das fazendas comprovadamente alinhadas a esse ponto de vista (bovinocultura de baixo impacto) – certificação?

3. Inclusão da depredação por grandes felinos na busca de critérios de manejo do ecossistema, evitando-se uma abordagem isolada da questão;

4. Valoração de boas práticas na gestão do conflito predador- economia que considerem aspectos técnicos relevantes (sem caça indiscriminada, possibilidade de suporte à remoção de animais-problema);

(26)

5. Melhoria nos aspectos ligados à produtividade nas fazendas (aspectos sanitários, zootécnicos e de manejo dos rebanhos) como forma de compensar perdas causadas por grandes predadores (e por outros animais silvestres, como serpentes).

6. Isenção ou desconto diferenciado em impostos sobre essas atividades pecuárias no Pantanal como forma de remuneração indireta para aqueles que se enquadram no modelo e garantem a conservação da espécie em suas propriedades.

7. Incorporação da co-

existência com as onças como um fator ecológico inerente ao ecossistema, assim como as

enchentes e outros

aspectos importantes do Pantanal.

(27)

DEPOIMENTO RECENTE DE UM FAZENDEIRO:

“Após sua visita, fizemos uma reflexão sobre o assunto das onças e, de nossa parte, decidimos:

1- Fazer o investimento necessário para manter o gado protegido por luz, cerca elétrica, pastor noturno e barulho, conforme sua indicação.

2- Assumir o custo dos bovinos abatidos por predadores e

3- Apenas tomar atitudes drásticas se oficialmente autorizados e acompanhados pela instituição responsável.”

(28)

“…Em troca, solicitamos através do Ibama e do Parque Nacional :

1- Propor e acompanhar as técnicas e manejos contra os ataques dos predadores em nossa fazenda.

2- Avaliar, validar e divulgar os resultados do experimento durante um período determinado.

3- Propor e experimentar soluções alternativas se as técnicas não atingirem os objetivos.”

“Estamos certos de que essas atitudes podem significar um divisor de águas na forma de encarar o problema das onças no Pantanal”

(R.Jank Jr. e T. Bracher, abril 2007).

(29)

É É IMPORTANTE SABER! IMPORTANTE SABER!

Não Não existe existe uma uma solu solu ç ç ão ão infalí infal ível vel que resolva definitivamente o problema!

A eficácia das diferentes medidas vai variar conforme a situação particular de cada fazenda ou propriedade, mas a estratégia de conservação precisa ser necessáriamente, de grande abrangência geográfica.

Por isso é tão importante a colaboração

entre técnicos, proprietários e empregados

para somar o conhecimento de todos.

(30)

O Pantanal não será mais o mesmo, se um

dia a onça- pintada for

extinta.

Ela é parte integrante dele e deve ser considerada como um

símbolo dos esforços nesse sentido.

(31)

AGRADECIMENTOS:

Ao Dr. José Augusto F. de Lima, diretor do PARNA Pantanal;

Ao CENAP/IBAMA, principalmente Ronaldo G. Morato;

À Fundação Ecotrópica;

À Fundação Boticário de Proteção à Natureza;

À Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) – Campus Pantanal

À Roberto Hugo Jank Jr. e Teresa Bracher;

À Ricardo Pinheiro Lima, ESREG/IBAMA/Corumbá.

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Referências

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