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DESEMPENHO SUSTENTÁVEL NOS BRICS: UMA APLICAÇÃO DA ANÁLISE ENVOLTÓRIA DE DADOS

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DE DADOS

Erick Takahama Kitada (UFTM) Maahox@gmail.com Flavia de Castro Camioto (UFTM) flaviacamioto@yahoo.com.br

A busca pelo crescimento econômico faz com que, muitas vezes, países se esqueçam que este deve ser tratado como força impulsionadora para a geração de valor à humanidade, não ignorando, no entanto, os impactos que este crescimento venha a causar ao meio ambiente e à sociedade. Desta forma, este estudo objetiva uma análise de desempenho, considerando o conceito de desenvolvimento sustentável, dos países BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul). Para realizar a análise foi utilizada a técnica Análise Envoltória de Dados (DEA) com o modelo SBM variante e a análise de janela, os países componentes do BRICS foram considerados DMUs, os inputs e outputs foram definidos com base nos três pilares da sustentabilidade.

Assim, como inputs foram utilizadas as variáveis: energia e taxa de desemprego; e como outputs foram considerados: PIB, expectativa de vida (outputs desejáveis) e emissão de CO2 (output indesejável). Como resultado, foi criado um ranking de desempenho para os países BRICS. O país com melhor desempenho no período considerado, 2002 a 2011, foi a Índia (98,92%), seguido pelo Brasil (98,21%), o terceiro lugar foi assumido pela China (96,52%), o quarto e quinto lugar foram tomados pela Rússia (35,89%) e África do Sul (8,78%), respectivamente, ressaltando que este ranking é valido apenas quando se considera as variáveis propostas. Assim, levando em conta as diferenças entre os países, visto que o BRICS é ainda um grupo pouco coeso, espera-se que este estudo possa ser utilizado para que os países com baixo desempenho possam reavaliar suas políticas e estratégias, espelhando-se em países eficientes dentro do grupo analisado, bem como os países benchmark devem se inovar constantemente para expandir os limites de desempenho do grupo.

Palavras-chave: BRICS, DEA, desenvolvimento sustentável

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2 1. Introdução

A busca pelo o crescimento econômico deixa o mundo imerso em uma competitividade acirrada, que faz com que inúmeros países entendam como produto final o seu poder econômico. Porém, esquecem-se que este trata-se apenas do meio para chegar ao que realmente agrega valor à população, a qualidade de vida (MARIANO, 2012).

O entendimento pelo o que vem a ser qualidade de vida é um assunto que foi amplamente estudado por filósofos, cientistas, sociólogos e mesmo políticos, tais como Leonard Boff (2012) e Elkington (1997). A expressão qualidade de vida foi mencionada pela primeira vez por Lyndon Jhonson, 36º presidente dos Estados Unidos da América, que declarou que os objetivos só podem ser medidos pela qualidade que geram as pessoas e não pelo simples balanço dos bancos. (MONTEIRO et al, 2010).

Segundo Elkington (1997), a sustentabilidade pode ser resumida em 3 pilares, relacionados à sociedade, à economia e ao ambiente, conforme Tabela 1, que ficou conhecido como Triple Bottle Line.

Tabela 1-Pilares da sustentabilidade

Social

Valores sociais, culturais e à justiça na distribuição de custos e benefícios.

Econômico Aquisição de rendimento suficiente para o custo de vida em sociedade

Ambiental Manutenção dos ecossistemas à longo prazo.

Fonte: ELKINGTON (1997)

Neste contexto, no qual há uma busca frenética pelo crescimento econômico, é importante analisar a forma com que os países emergentes, como o grupo BRICS (Brasil, Rússia, Índia,

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3 China e África do Sul), estão se desenvolvendo, a fim de mensurar o desempenho dos países desse conjunto com relação a sustentabilidade e qualidade de vida da sua população.

Alguns trabalhos já estudaram o BRICS, como Camioto et al (2016) que analisaram a eficiência energética dos países desse grupo, devido ao rápido desenvolvimento econômico e importante papel desempenhado por esses países na economia mundial. Santana et al (2012) analisaram a eficiência desses países em transformar recursos produtivos e inovação tecnológica em desenvolvimento sustentável. Já Rebellato et al (2014) analisaram a questão sustentável dos países componentes do BRICS.

Estes trabalhos usaram a Análise Envoltória de Dados (DEA), que proporciona uma análise relativa considerando as variáveis selecionadas. Deste modo, o presente trabalho tem como objetivo analisar o desempenho sustentável desses países, calculando um índice de sustentabilidade por meio do DEA.

Assim, foi possível, além da criação de índices de desempenho para cada país, a comparação relativa dos países do BRICS com o país benchmark desse grupo.

2. Revisão literária 2.1. BRICS

O BRICs surgiu em 2001 inicialmente como um conceito (O’Neill, 2001), um acrônimo, sem que houvesse indicações da possibilidade ou viabilidade que os países Brasil, Rússia, Índia e China viessem a constituir um grupo formal. Sendo a África do Sul admitida oficialmente em 2010, o BRICs passou então à BRICS. Contudo, houve um aumento na popularidade do termo que passou a ser sinônimo do dinamismo econômico de países emergentes que revoluciona o equilíbrio mundial, tornando-o mais multipolar e democrático, deixando assim, o mundo menos dependente de uma única fonte de poder (AMORIM, 2015).

A crise internacional em 2008, não fora percebida tão dramaticamente pelos países emergentes, como apresentado na Tabela 2, sendo o crescimento médio destes países em 2008 e 2009 de 4,3%, enquanto os países desenvolvidos apresentaram um crescimento negativo de

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4 -1,3% (FMI, 2010), o que impactou positivamente na imagem dos países emergentes. Porém, há, ainda, diferentes perspectivas quanto ao papel do BRICS no cenário mundial (REIS, 2012).

Tabela 2 – Crescimento médio pós-crise (2008 e 2009)

Países emergentes (%) Países desenvolvidos (%)

2008 6,1 0,5

2009 2,5 -3,2

Média 4,3 -1,35

Fonte: FMI, 2010

Dúvidas ainda surgem quanto as diferenças econômicas, históricas e culturais entre os BRICS inviabilizando a formação de um bloco coeso. Entretanto, ainda assim, o fenômeno de dinamismo de países do “Sul” perante os países do “Norte” é real (Ribeiro e Moraes, 2015).

Surge, então, uma preocupação no modo como esses países (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul) se desenvolverão (CAMIOTO et al., 2016). Sendo o desenvolvimento sustentável por partes destes países importante para frear a tendência insustentável pela qual o planeta caminha.

2.2. Economia, sociedade e meio ambiente

Segundo Martine e Alves (2015) é inegável o progresso humano exponencial ocorrido nas últimas sete décadas, que embora benéfico, tem base no uso insustentável de recursos não renováveis, na destruição da diversidade biológica e na emissão de gases de efeito estufa, gerando ainda um distanciamento crescente entre ricos e pobres. Surge, então, a necessidade de repensar a situação atual considerando os limites impostos pela natureza.

Muito se discute sobre a relação entre economia, sociedade e meio ambiente. Malthus (1803) acreditava em uma correlação entre renda e fecundidade, desta forma, uma vez que a renda de uma população fosse aumentada, esta, então, tenderia a crescer em progressão geométrica, este modelo ficou conhecido como modelo malthusiano.

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5 Marx, em contrapartida, buscou mostrar que o “excedente” populacional não era resultado, como acreditava Malthus, das leis naturais, mas, da dinâmica capitalista que produzia uma superpopulação relativa com objetivos de regulação de oferta e demanda de trabalhadores e criação de estoque humano à disposição da expansão do capital. Tanto Marx quanto Malthus não levantaram questões sobre impactos ambientais relacionados à renda e sociedade. Mill foi visionário e se tornou precursor na ideia de que o crescimento econômico, a população e o planeta têm limites e o crescimento desenfreado destas três frentes, a longo prazo, é utópico, assim, o “Estado estacionário” deve predominar (MARTINE E ALVES, 2015).

Assim, cabe a análise, no BRICS, de alguns aspectos que impactam a sociedade, economia e meio ambiente, visto o impacto global que estão exercendo.

2.3. Emissão de CO2 – BRICS

Para Azuaga (2000) a poluição ambiental é caracterizada pela disposição discriminada de resíduos na água, no ar e no solo, de forma que impeça sua absorção ou reciclagem pelo meio ambiente, o que ocasiona malefícios sobre a saúde e bem-estar do homem e do ambiente, destacando-se acidificações de rios e florestas, danos materiais, bem como, o agravamento do efeito estufa e do aquecimento global.

Em vista do aumento considerável na emissão de CO2 ocorrido nas últimas décadas (Banco Mundial, 2013) é apropriado entender o papel do BRICS neste cenário. De fato, como apresentado na Tabela 3, em 2013 entre os 10 países que mais emitiam CO2, 4 deles (China, Índia, Rússia e Brasil) eram países do BRICS, sendo a China a maior poluidora global (BANCO MUNDIAL, 2013).

Tabela 3 –Emissão de CO2 nos BRICS em 2013

Toneladas de CO2 Ranking mundial

Brasil 503,677 10º

Rússia 1,789,074 4º

Índia 2,034,752 3º

China 10,249,463 1º

África do Sul 471,239 14º

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6 Fonte: Banco Mundial (2013)

Contudo, em termos de valores per capita, os países BRICS, contrapondo o alto nível de emissão em valores absolutos, são pouco poluidores, como apresentado na Tabela 4 (BANCO MUNDIAL, 2013).

Tabela 4 –Emissão de CO2 per capita nos BRICS em 2013

Toneladas de CO2 per capita Ranking mundial

Brasil 2,465870235 139º

Rússia 12,46681628 22º

Índia 1,590272829 163º

China 7,550916485 51º

África do Sul 8,859169093 37º

Fonte: Banco Mundial, 2013

Desta forma, pode-se explicar os altos valores absolutos de emissão de CO2, pela alta densidade populacional dos BRICS, possuindo 4 países entre os 10 mais populosos do mundo, tendo a China e a Índia uma população 3,7 e 2,5 vezes, respectivamente, maior que os Estados Unidos (3º lugar no ranking). As populações dos países BRICS, bem como suas respectivas posições no ranking global estão apresentadas na Tabela 5 (BANCO MUNDIAL, 2013).

Tabela 5 – Ranking populacional dos BRICS em 2013

População Ranking mundial

Brasil 72,493.59 5º

Rússia 119,897.00 9º

Índia 449,661.87 2º

China 667,070.00 1º

África do Sul 17,396.00 24º

Fonte: Banco Mundial, 2013

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7 A situação em relação ao BRICS merece mais atenção para a Rússia que, embora seja a 4ª maior poluidora mundial, possui a 9ª maior população, refletindo, assim, na emissão de CO2

per capita do país.

Considerando o impacto que a emissão desenfreada de gases poluentes pode exercer no meio ambiente, bem como o papel do BRICS nestas emissões, a variável emissão de CO2,

torna-se pertinente neste estudo.

2.4. Energia – BRICS

Segundo Gómez et al. (2012) a intensificação do processo de modernização dos países BRICS resultou no aumento da demanda interna por energia devido à industrialização intensa, urbanização e desenvolvimento de infraestrutura, emergência e inchaço de uma nova classe consumidora.

Os benefícios gerados pela eficiência energética, como mitigação da emissão de CO2 e diminuição da importação de energia, se complementam. Isso implica na redução necessária de energia por unidade de produto econômico, que, por sua vez, eleva a eficiência da economia, o que garante um menor uso de recursos naturais, bem como menores danos ambientais (CAMIOTO at al., 2016).

Embora países desenvolvidos componentes da OCDE estejam entre os maiores consumidores mundiais, suas participações em escala global têm sido diminuídas ao longo dos anos. Por outro lado, os países BRICS têm aumentado sua participação no consumo global de energia (BANCO MUNDIAL, 2013).

Para Gómez et al. (2012), não se pode afirmar que a redução na participação do consumo de energia dos países OCDE seja resultado de uma maior eficiência na utilização dos recursos energéticos, uma vez que os países BRICS possuíram nos mesmos períodos aumentos e baixas na eficiência energética equiparados com os países componentes da OCDE.

Na Tabela 6 está representado as participações no consumo energético global dos BRICS e dos países componentes da OCDE.

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8 Tabela 6-Participação no consumo mundial de energia para BRICS e OCDE em 2002-2013

Ano Consumo - BRICS Participação Consumo - OCDE Participação

2002 2,64E+12 26% 5,31E+12 51%

2003 2,86E+12 27% 5,38E+12 50%

2004 3,12E+12 28% 5,48E+12 49%

2005 3,29E+12 29% 5,51E+12 48%

2006 3,50E+12 30% 5,52E+12 47%

2007 3,66E+12 30% 5,55E+12 46%

2008 3,77E+12 31% 5,48E+12 45%

2009 3,95E+12 33% 5,23E+12 43%

2010 4,26E+12 33% 5,41E+12 42%

2011 4,53E+12 35% 5,31E+12 41%

2012 4,72E+12 36% 5,26E+12 40%

2013 4,96E+12 37% 5,30E+12 39%

Fonte: Banco Mundial, 2013

Assim, ressalta-se o impacto que o BRICS pode proporcionar na demanda e oferta energética global, visto que no período analisado houve um aumento de 11% na participação da demanda global de energia pelos BRICS.

2.4.1. Produto interno bruto (PIB) – BRICS

A economia mundial encontra-se em constante mudança, no início do século XX a Europa Ocidental era quem detinha a maior parte do PIB mundial, 32%, enquanto os BRICS apresentavam cerca de 28% da participação no PIB mundial. Com o fim da Segunda Guerra Mundial, os Estados Unidos consolidaram-se como a maior potência econômica, possuindo 27% do PIB mundial, deixando a Europa Ocidental em segundo plano, com 24%, enquanto o BRICS diminuiu sua participação, caindo para 21%. Em 1970, o Japão passou a ser mais participativo, aumentando para 8% sua participação no PIB global, e os países componentes do BRICS continuaram com 21%. Em 2008, início da crise econômica mundial, os BRICS representavam cerca de 30% do PIB global, contra 19% dos Estados Unidos, 14% da Europa Ocidental e 6% do Japão (FERNANDES et. al., 2015).

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9 Visivelmente, os BRICS aumentaram sua participação na economia global até 2015, com maior destaque à China, que apresentou o 2º maior PIB do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos (BANCO MUNDIAL, 2016).

Ainda segundo Fernandes (2015), é possível notar que embora a participação no PIB do BRICS esteja aumentando, as posições relativas dos países participantes no PIB total do BRICS alteraram-se com o tempo. Atualmente, há hegemonia econômica chinesa sobre os outros países do grupo.

Sendo o PIB um dos principais medidores econômicos utilizados para representar o desempenho dos países, ressaltando que os BRICS aumentaram sua participação no PIB global, com a China em 2015 com o 2º maior PIB global, a utilização desta variável é pertinente para este estudo.

2.5. Taxa de desemprego – BRICS

Para Reinert (2001), o desemprego é, atualmente, um dos maiores problemas sociais enfrentados pela humanidade e, embora esteja sendo amenizado, as taxas ainda se encontram em níveis elevados. Suas consequências vão do âmbito individual, como debilitação física e mental do indivíduo desempregado e, indiretamente, da família do indivíduo; a problemas sociais e políticos, como o aumento da violência e radicalização da política.

Entre inúmeras causas diretas e indiretas do desemprego, pode-se citar: globalização, terceirização, concentração de renda e o desenvolvimento tecnológico. Esse último pode estar relacionado a eventuais revoluções industriais e segundo Singer (1996) todas as revoluções industriais geram um acentuado aumento na produtividade e, consequentemente, podem causar desemprego tecnológico.

Ainda segundo Singer (1996), ressalta-se que nem sempre uma revolução industrial aumenta a taxa de desemprego, devido ao aparecimento de novos produtos e serviços. O nível de consumo também cresce de forma que os novos setores da economia absorvem mais força de trabalho para atender as novas demandas, do que os antigos setores liberam. Porém, os ocupantes dos novos empregos nem sempre são os mesmos expulsos dos empregos

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10 eliminados, de forma que isso não deve ser ignorado pelo fato da taxa de desemprego manter- se constante.

Devido ao impacto que o desemprego pode gerar nos âmbitos econômicos e sociais e aos países BRICS serem, em sua maioria, países emergentes em estado de aperfeiçoamento tecnológico, a variável, taxa de desemprego, torna-se pertinente para o estudo.

2.6. Expectativa de Vida – BRICS

Atualmente há uma crescente preocupação com as consequências da transição demográfica sobre o desenvolvimento, sendo o desenvolvimento entendido não apenas como o crescimento da renda, mas também como um processo de transformação estrutural em diferentes dimensões da sociedade. Assim, o crescimento econômico é elemento necessário para o desenvolvimento, porém, mudanças estruturais são determinantes para que esse seja amplo e inclusivo (PAIVA E WAJNMAN, 2005).

Para Kalache et al. (1987) o envelhecimento populacional é uma aspiração natural de qualquer sociedade. No entanto, é importante cobiçar uma melhoria na qualidade de vida daqueles que já envelheceram ou estão no processo de envelhecimento. O desafio se torna ainda maior para países subdesenvolvidos, uma vez que esses não dispõem de riquezas e um mercado assegurado para seus produtos. Assim, a forma como esses países em desenvolvimento reagirá ao envelhecimento de sua população depende, em grande parte, do grau de sensibilização da sociedade, profissionais e políticos.

A relação entre a transição demográfica e o desenvolvimento da população, bem como os desafios que países em desenvolvimento tendem a encontrar no envelhecimento de sua população, fazem com que a variável expectativa de vida seja oportuna neste estudo.

3. Materiais e métodos

Segundo Mariano (2008), técnicas de análise de eficiência foram inicialmente propostas para serem aplicadas no setor de manufatura. Com o tempo, essas técnicas ganharam abrangência nas áreas que contemplam um conjunto de inputs e outputs. Nesse contexto, essa ferramenta é, por exemplo, amplamente utilizada para análises de eficiência energética, como

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11 já propostas em análises de eficiência energética do BRICS e em setores industriais, por Camioto et al (2016) e Camioto et al (2014), respectivamente.

Para a utilização da ferramenta DEA, alguns conceitos são de total importância para o entendimento da aplicação da técnica. Uma breve explanação conceitual está apresentada na Tabela 7.

Tabela 7 - Conceitos para utilização do DEA

Eficiência

É o efeito de se conseguir alcançar o melhor desempenho, aplicando o mínimo de recursos. (HOUAISS, 2001). Seu valor varia entre 0 e 1.

Eficácia É a qualidade ou característica de quem consegue chegar realmente a consecução de um objetivo (HOUAISS, 2001).

Produtividade Relação entre os outputs (saídas) e inputs (entradas) de um sistema produtivo.

DMU

Unidade Tomadora de Decisão (DMU – Decision Making Units). Pode ser definida como todo tipo de sistema produtivo que transforma, de forma consciente, um conjunto de entradas (inputs) em um conjunto de saídas (outputs) (MARIANO, 2008).

Eficiência Produtiva de uma DMU

Resultado da comparação entre os valores reais de uma DMU e os valores ótimos de produtividade. Uma DMU eficiente é aquela que possui índice de eficiência 1 (100%), caso contrário está é dita ineficiente (MARIANO, 2008).

Fronteira de Eficiência Curva representativa da relação ótima entre inputs e outputs (CASA NOVA, 2002).

Definidos estes conceitos, para este trabalho foi utilizada a DEA, explicada no tópico 3.1, considerando os países do BRICS como DMUs. Com a DEA, as eficiências relativas desses países foram mensuradas e comparadas à uma fronteira de eficiência, composta pelos países que são benchmark.

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12 3.1. Análise Envoltória de Dados

A técnica DEA possibilita a criação de uma fronteira de ótima eficiência e a comparação através das folgas relativas dos países propostos (DMU).

Os inputs e outputs foram definidos com base nos três pilares da sustentabilidade.

Assim, como inputs foram utilizadas variáveis que deseja-se diminuir:energia utilizada e taxa de desemprego; e como outputs foram considerados PIB, expectativa de vida (outputs desejáveis) e emissão de CO2 (output indesejável). Tais variáveis foram escolhidas devido a sua relevância para o desenvolvimento sustentável, justificada na revisão literária. Ressalta-se que o desenvolvimento sustentável não pode ser resumido considerando apenas essas variáveis, no entanto, limitou-se a elas devido a disponibilidade de dados no website do Banco Mundial. A mesma justificativa aplica-se a escolha do período analisado nesse trabalho (2002-2011).

Neste estudo, foi realizado uma análise voltada para a minimização dos inputs alinhada com a maximização dos outputs, características estas que definem o modelo Slacks- Based Measure (SBM) variante. É importante ressaltar que esse modelo permite a comparação entre DMUs que operam em escalas diferentes, logo não há proporção obrigatória na relação entre a variação de outputs com a variação de inputs, sendo o inverso também verdadeiro. As Expressões (1) a (7) definem o modelo SBM variante, segundo Tone (2001):

(1)

Sujeito a: (2)

, para j = 1, 2, 3, ..., n (3)

, para i = 1, 2, 3, ..., n (4)

(5)

(13)

13

(6)

(7)

Em que:

λk: Participação da DMU k na meta da DMU em análise;

xjk: Quantidade do input j da DMU k;

yik: Quantidade do output i da DMU k;

xj0: Quantidade do input j da DMU em análise yi0: Quantidade do output i da DMU em análise;

z: Número de unidades em avaliação;

m: Número de outputs;

n: Número de inputs;

Si: Variável de folga do output i;

Sj: Variável de folga do input j;

t: Variável de ajuste linear

3.2. Análise de janelas

Para Camioto et al (2016), a análise de janelas é um método estruturado que permite analisar, dados de DMUs referentes a inúmeros anos diferentes, por meio da execução de múltiplas aplicações da DEA.

Inicialmente, com os dados disponíveis, determina-se o tamanho de cada janela, bem como o número de janelas a serem construídas, conforme as Expressões (8) e (9), em que k representa o número de períodos e p o tamanho da janela que, quando necessário, deve ser arredondado para cima (CAMIOTO et al, 2016).

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14 Tamanho_da_janela_(p) = (K + 1) / 2 (8) Quantidade_de_janela = k – p + 1 (9) Após a aplicação da DEA, deve-se construir uma tabela com os resultados obtidos para cada unidade em cada janela. Assim, o resultado final da eficiência de cada DMU é representado pela média da eficiência obtida em todos os anos em todas as janelas. O desvio- padrão também deve ser calculado para avaliar a estabilidade das eficiências no tempo (CAMIOTO et al, 2015).

4. Resultados e discussões

Com a aplicação do método descrito, pôde-se analisar o desempenho sustentável das DMUs no período proposto, calculando-se 5 janelas com amplitude 6. Com os resultados foi possível verificar que a Índia é o país mais eficiente do BRICS, quando se trata de gerar uma maior expectativa de vida e PIB sem aumentar a emissão de CO2, diminuindo ainda a taxa de desemprego e a energia utilizada. O ranking completo, bem como, as respectivos desempenhos relativos e desvios padrões do BRICS encontram-se nas Tabelas 8 e 9, respectivamente.

Tabela 8 – Análise de janelas-BRICS

País Janela 1 Janela 2 Janela 3 Janela 4 Janela 5

BRASIL 95% 99% 99% 99% 98%

CHINA 95% 93% 97% 98% 100%

ÍNDIA 100,00% 100,00% 100,00% 97,46% 97,14%

RÚSSIA 33,26% 34,79% 39,10% 37,70% 34,59%

ÁFRICA DO SUL 9,76% 8,85% 9,41% 8,35% 7,54%

Tabela 9 – Ranking DEA-BRICS

Ranking País Desempenho Médio Desvio Padrão

1 ÍNDIA 98,92% 4%

2 BRASIL 98,21% 4%

3 CHINA 96,52% 7%

4 RÚSSIA 35,89% 14%

5 ÁFRICA DO SUL 8,78% 2%

Desempenho de desenvolvimento sustentável

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15 De acordo com os resultados obtidos nota-se que, embora a China seja atualmente a segunda maior economia mundial, quando comparada com os demais países BRICS, em relação ao desempenho sustentável, mostra-se menos eficiente que a nona e a sétima maiores economias mundiais, Brasil (98,21%) e Índia (98,92%), respectivamente.

A análise de janela permite observar como as DMUs modificam seu desempenho no decorrer do tempo, países que apresentam maiores desvios-padrões, como a Rússia (14%) e China (7%), indicam maiores mudanças no decorrer das janelas. Assim, é possível constatar que a China a partir da segunda janela, apresentou melhorias constantes, tornando-se país benchmark na quinta janela, o que pode ser explicado pelo alto investimento realizado pelo país em energias limpas, principalmente a eólica. Países com baixo desvio-padrão, como o Brasil (4%), apresentam pouca variação no decorrer das janelas. Assim, o Brasil apresentou desempenho constante entre as janelas 2 e 4 (99%), com pequena queda de 1% na quinta janela (98%).

5. Considerações finais

O desenvolvimento econômico de um país é essencial para um crescimento no bem-estar da sociedade, este possibilita também grandes investimentos em desenvolvimento de formas sustentáveis de produção de energia e altos ganhos em escala na produção de suprimentos básicos para a população. É inquestionável a necessidade de que os países se tornem mais eficientes quanto a transformação econômica em desenvolvimento social e ambiental, ou seja, tornem-se sustentáveis.

Por décadas o desenvolvimento tecnológico foi suficiente para suprir a falta de produtividade de muitos países, pode-se citar por exemplo a Revolução Verde iniciada na década de 1950. No entanto, é arriscado a dependência de inovações tecnológicas para altos ganhos de produtividade, assim a conscientização global sobre a utilização mais eficiente dos recursos, bem como a transformação destes recursos em valor para a sociedade é, sem dúvida, um caminho a ser aprendido e percorrido.

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16 No presente estudo, por meio da DEA, foi possível realizar uma análise do desempenho dos países componentes do BRICS em transformar energia em PIB e expectativa de vida, possuindo uma baixa taxa de desemprego e sem aumentar as emissões de CO2. Como resultados tem-se que a Índia se mostrou com maior desempenho, considerando as variáveis propostas, seguida pelos países: Brasil, China, Rússia e África do Sul.

Assim, o presente trabalho apresentou o dinamismo dos países BRICS sobre as variáveis propostas. É importante ressaltar, que o índice proposto possui limitações relacionadas ao BRICS ser um grupo pouco coeso, possuindo heterogeneidade relacionadas a questões sociais, políticas, econômicas e ambientais. Logo, a interpretação dos resultados adquiridos deve considerar as singularidades de cada país.

Os resultados obtidos podem ser de grande ajuda, quando consideradas suas limitações, na construção de estratégias pelos governos dos países estudados, de forma que busquem espelhar-se nas boas práticas de países benchmark e tornem-se mais eficientes nas transformações das variáveis apresentadas, obtendo-se, assim, um crescimento que gere valor à população e preserve o ambiente.

Como futuro trabalho sugere-se uma análise mais abrangente, comparando o BRICS com outros países, além da possibilidade de considerar outros dados e informações que contribuam para uma análise mais ampla do conceito de desenvolvimento sustentável, com, por exemplo o índice GINI, que é um índice de desigualdade social, que devido a indisponibilidade de dados para os países e período estudos não pode ser utilizado nesse presente trabalho.

REFERÊNCIAS

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<http://www.dw.com/pt-br/brics-deixam-o-mundo-menos-dependente-de-uma-%C3%BAnica-fonte-de-poder/a- 18567022>. Acesso em 24 abril 2017.

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17 BANCO MUNDIAL. (2013). Apresenta diversas informações relativas aos países. Disponível em:<

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Referências

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