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Constatações da Realidade em Moçambique

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Academic year: 2022

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Constatações da Realidade em Moçambique

- Construindo uma melhor compreensão das dinâmicas da pobreza e bem-estar –

Relatório Anual

Ano Quatro, 2014 – Empreendedorismo

Em cooperação com:

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As Constatações da Realidade em Moçambique são

implementadas pela ORGUT Consulting (Suécia) em associação com a COWI Lda. (Moçambique) e o Chr. Michelsen Institute (Noruega), em nome da Embaixada da Suécia em Maputo. As Constatações da Realidade são implementadas entre 2011 e 2016, sendo o trabalho de campo realizado em cada ano nos Distritos de Cuamba, Majune e Lago, na Província do Niassa. Os Sub-Chefes de Equipa são Carmeliza Rosário, Minna Tuominen e Inge Tvedten.

Este é o Relatório Anual da 4ª Constatação da Realidade, sintetizando as principais conclusões dos três sub-relatórios. O relatório é escrito pelo Chefe de Equipa para as Constatações da Realidade em Moçambique, Dr. Inge Tvedten – com o apoio de Carmeliza Rosário, Minna Tuominen e Dr. Samuel Jones (Conselheiro Temático).

Este documento foi financiado pela Embaixada da Suécia em Maputo. A Embaixada não partilha necessariamente os pontos de vista aqui expressos. O seu conteúdo é da inteira

responsabilidade do autor.

Fotografias da capa:

1. Carpintaria, Lago. Fotografia: Inge Tvedten

2. Moageira Industrial, Lichinga. Fotografia: Sam Jones 3. Barraca, Majune. Fotografia: Yara Berti

ORGUT Consulting AB, 2014-12-15

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ÍNDICE

1. INTRODUÇÃO ... 4

1.1 As Constatações da Realidade ... 4

1.2 Metodologias ... 6

1.3 Indicadores Sócio-Económicos ... 7

1.4 Sector Privado / Empreendedorismo no Niassa ... 9

2. O SECTOR PRIVADO EM CUAMBA, LAGO E MAJUNE ... 12

2.1 Mudanças Mais Importantes ... 12

2.2 Cenário Económico ... 12

2.3 Contexto Institucional e Formalidades ... 14

2.4 Financiamento e Formação ... 16

2.5 Grandes Empresários ... 17

2.6 Resumo ... 21

3. MUDANÇA SOCIAL E ‘EMPREENDEDORISMO’ NAS COMUNIDADES ... 22

3.1 Mudanças Mais Importantes ... 22

3.2 Empreendedorismo Baseado na Comunidade ... 23

3.3 O Género no Empreendedorismo ... 27

3.4 Desafios Mais Importantes ... 28

4. RELAÇÕES SOCIAIS DA POBREZA ... 30

4.1 Relações Sociais de Troca ... 30

4.2 Dinâmicas da Família e do Agregado Familiar ... 31

4.3 Mobilidade Social ... 38

5. CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES ... 41

5.1 Principais Mudanças na Pobreza e Bem-estar ... 41

5.2 Desafios ao Empreendedorismo ... 41

5.3 Implicações de Política e Intervenções de Desenvolvimento ... 42

ANEXO 1 ... 44

LISTA DE LITERATURA ... 47

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2

ABREVIATURAS

ADC Acção para o Desenvolvimento Comunitário (Moçambique) AMODER Associação Moçambicana para o Desenvolvimento Rural BAU Balcão de Atendimento Único

DIC Direcção Provincial da Indústria e Comércio DNI Direcção Nacional da Indústria

DPIC Direcções Provinciais da Indústria e Comércio FDD Fundo de Desenvolvimento Distrital

GAPI Sociedade para a Promoção das Pequenas e Médias Empresas GEM Monitor do Empreendedorismo Global

IFAD Fundo Internacional para o Desenvolvimento Agrícola INAS Instituto Nacional de Acção Social

ISPC Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes

FM Fundação Malonda

MIC Ministério da Indústria e Comércio

Mt Meticais

PROMER Programa para a Promoção de Mercados Rurais SDAE Serviço Distrital de Actividades Económicas PME Pequenas e Médias Empresas

ASS África Sub-Sahariana

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3 Mapa 1. Constatações da Realidade em Moçambique / Niassa

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1. INTRODUÇÃO

A monitoria e avaliação da pobreza em Moçambique têm lugar principalmente no quadro da implementação da Estratégia de Redução da Pobreza em Moçambique PARP/A (GdM 2005;

2011) e assenta em dados quantitativos com origem em diferentes tipos de estudos nacionais e estudos similares feitos por organizações de ajuda bilateral e multilateral (ver e.g. INE 2010; MPD 2010; Banco Mundial 2007; UNICEF 2011).

Todavia estes estudos, pela sua natureza quantitativa, não captam todas as dimensões da pobreza que são relevantes para o desenho de políticas e programas. Embora os dados quantitativos forneçam informação valiosa sobre o mapeamento e perfil da pobreza no espaço e no tempo, são necessários dados qualitativos para melhor compreender as dinâmicas da pobreza e as estratégias de sobrevivência dos pobres (ORGUT 2011a; Addison et al. 2009).

1.1 As Constatações da Realidade

Neste contexto, a Embaixada da Suécia em Maputo e a Agência Sueca para o Desenvolvimento Internacional (ASDI) decidiram ser necessário avaliar ‘a partir de baixo’ o impacto das políticas de desenvolvimento e redução da pobreza e consultar regularmente as populações locais com o objectivo de entender os processos e relações locais.

Uma série de cinco “Constatações da Realidade em Moçambique” terá lugar no período 2011- 2016, focando as dinâmicas da pobreza e bem estar, com particular evidência para a boa governação, agricultura/emprego/clima e empreendedorismo, que são áreas de resultados importantes na cooperação Sueca para o desenvolvimento com Moçambique. Cada Constatação da Realidade será publicada na forma de um Relatório Anual e três Sub-Relatórios sobre cada um dos três locais de estudo seleccionados (ver ORGUT 2011a para mais detalhes).

Mais concretamente, espera-se que as “Constatações da Realidade em Moçambique”:

 Informem a discussão pública entre os actores chave do desenvolvimento sobre a redução da pobreza, especialmente na província do Niassa;

 Contribuam para uma melhor compreensão dos métodos qualitativos de monitoria da pobreza em Moçambique;

 Proporcionem à Suécia dados qualitativos relevantes sobre os desenvolvimentos e resultados da sua acção em Moçambique e apoiem a ulterior implementação do seu programa no Niassa.

Espera-se que as Constatações da Realidade atinjam estes objectivos através do aumento do conhecimento sobre:

 A pobreza (dimensões não tangíveis da pobreza, tais como a vulnerabilidade e a impotência;

percepções das próprias pessoas pobres sobre a pobreza; processos causais que sustentam as dinâmicas da pobreza: estratégias de luta/sobrevivência adoptadas por mulheres e homens vivendo na pobreza);

 As relações com o poder local e com as instituições do estado (instituições formais [i.e.

políticas, administrativas] que possibilitam ou refreiam as pessoas na execução das suas estratégias; instituições informais [i.e. culturais, sociais, baseadas na família ou no parentesco, etc.] que possibilitam ou refreiam as pessoas na execução das suas estratégias), e;

 As políticas e serviços (acesso, uso e procura de serviços públicos, de acordo com as pessoas que vivem na pobreza; qualidade dos serviços públicos, de acordo com as pessoas que vivem na pobreza).

Há também uma expectativa de que as Constatações da Realidade prestarão, na medida em que seja relevante para a população local em estudo, atenção especial às “questões prioritárias identificadas nas revisões anuais de projectos e programas dentro dos sectores prioritários Suecos” (ver os Termos de Referência).

A série de estudos começou por um Relatório Inicial publicado em Agosto de 2011 (ORGUT 2011a). Através desse exercício foi decidido que as Constituições da Realidade se basearão em trabalho de campo em três Distritos/Municípios diferentes na Província do Niassa que apresentem variações em termos de localização geográfica, acesso a serviços públicos e níveis de pobreza e

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5 bem-estar. As três áreas seleccionadas foram i) o Distrito do Lago, ii) o Município de Cuamba e iii) o Distrito de Majune (ver o Mapa 2).

Mapa 2. Constatações da Realidade em Moçambique / Locais do Projecto no Niassa

O trabalho de campo da 1ª Constatação da Realidade em Moçambique realizou-se em Setembro de 2011, com Sub-Relatórios dos Distritos do Lago (ORGUT 2011b), Majune (ORGUT 2011c) e Cuamba (ORGUT 2011d), bem como o 1º Relatório Anual que sintetizou as principais conclusões (ORGUT 2011e). A 1ª Constatação da Realidade serve

como ‘linha de base’ para os relatórios subsequentes e inclui informação sobre os antecedentes e dados acerca do Niassa e dos três locais do projecto, que são úteis ao ler os relatórios subsequentes para o período 2012-2015.

A 2ª Constatação da Realidade foi realizada em Setembro de 2012 (ORGUT 2012a, b, c e d). De acordo com os Termos de Referência, os relatórios da 2ª Constatação da Realidade tiveram um enfoque temático na governação. A 3ª Constatação da Realidade em Moçambique foi realizada em Junho de 2013 (ORGUT 2013 a, b, c e d), com um enfoque temático na agricultura, emprego e clima. Este é o Relatório Anual da 4ª Constatação da Realidade e sintetiza as principais constatações dos sub-relatórios de Cuamba (ORGUT 2014a), Lago (ORGUT 2014b) e Majune (ORGUT 2014c). O trabalho de campo foi realizado em Agosto de 2014. A pedido da Embaixada da Suécia, o enfoque temático original na infra-estrutura física e social foi substituído por um enfoque no empreendedorismo, a fim de melhor alimentar as actuais prioridades da Suécia.

Ilustração 1: Capa do Sub-Relatório de Cuamba

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As Constatações da Realidade produzidas até agora têm sido apresentadas e discutidas em vários cenários diferentes, incluindo i) a Embaixada da Suécia em Maputo para os parceiros nacionais; ii) seminários em Lichinga para representantes do governo, da sociedade civil e do sector privado no Niassa; iii) o Governo Local em Cuamba, Lago e Majune, iv) entrevistas para o jornal nacional “Notícias”; v) as rádios comunitárias em Majune, Lago e Cuamba; e vi) exposições de fotografias, exercícios participativos, etc. nos três locais do projecto (ORGUT 2011f). A pedido, começámos também a distribuir relatórios pelas Escolas Secundárias nos distritos onde trabalhamos, para uso nas ciências sociais.

1.2 Metodologias

Metodologicamente, os estudos baseiam-se numa combinação de informação quantitativa proveniente do Instituto Nacional de Estatística (INE) e das Autoridades Distritais; um Estudo de Base realizado nos três locais do projecto para este projecto; entrevistas a informadores chave na capital provincial Lichinga e nos Distritos/Município seleccionados; observação participante nas comunidades locais seleccionadas para o trabalho de campo; e um conjunto de metodologias qualitativas/participativas incluindo a imersão em agregados familiares com diferentes posições sócio-económicas. As metodologias são descritas detalhadamente num relatório separado intitulado “Constatações da Realidade em Moçambique. Abordagem Analítica e Metodologias”

(ORGUT 2011f), mas damos a seguir um breve resumo:

Dados quantitativos. Para o mapeamento da pobreza e bem-estar no Niassa, a equipa refere-se activamente aos dados quantitativos existentes. Estes dados quantitativos incluem o Censo Nacional de 2007 (INE 2009b); o Inquérito Nacional à Despesa dos Agregados Familiares de 2008/09 (INE 2010); e outros estudos sectoriais mais específicos (ver a Lista de Literatura). Além dos conjuntos de dados nacionais, usamos dados quantitativos de estudos baseados localmente, prestando particular atenção aos dados produzidos pelos governos provincial, distrital e municipal que formam a base dos seus planos de desenvolvimento – incluindo o Plano Provincial de Desenvolvimento Económico e Social (GdN 2007, 2011, 2013) e os Planos de Desenvolvimento Económico e Social Distritais (PESODs).

Assegurámos dados quantitativos adequados para mapear a pobreza e bem-estar e as relações das pessoas com os serviços públicos nos três locais de estudo através da realização de um Estudo de Base com um total de 360 agregados familiares, 120 em cada local (ver ORGUT 2011f). O estudo será feito duas vezes com as mesmas famílias, i.e. no início (2011) e no fim (2015) do período do projecto e representa um magnífico painel de dados. O Estudo de Base e o estudo subsequente procuram combinar i)

dados sócio-económicos clássicos sobre a composição dos agregados familiares, rendimento e despesa, níveis de instrução, saúde e acesso aos serviços públicos; ii) questões relacionadas com as percepções das pessoas sobre as condições no agregado familiar e na sua comunidade e iii) as relações sociais (com as instituições públicas, projectos de ajuda, família, amigos, etc.) em que estão envolvidas.

Dados qualitativos. Relativamente às dimensões política/ institucional das Constatações da Realidade, basear-nos- emos principalmente em i) entrevistas semi- estruturadas com actores chave do

desenvolvimento, incluindo o governo provincial, governo distrital/municipal, Instituições para Participação e Consulta Comunitária (IPCCs), autoridades tradicionais e representantes do sector privado e ii) estudos de caso de programas e intervenções específicas, com um enfoque no tema de cada relatório. Complementamos também a metodologia antropológica clássica de ‘observação participante’ com um conjunto de metodologias participativas específicas que são aplicadas em grupos focais e estudos de caso alargados ao nível de agregado familiar (ORGUT 2011f). Os

Ilustração 2: Apresentação das Conclusões do Projecto

Fotografia de: Yara Beti

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7 grupos são compostos por homens ou mulheres, jovens ou velhos, ou uma mistura desses grupos, dependendo do tópico em causa.

As metodologias participativas usadas na 4ª Constatação da Realidade incluem a Mudança Mais Importante (com o objectivo de identificar as principais mudanças políticas, económicas e sociais verificadas na comunidade durante o último ano); a Matriz dos Problemas Comunitários (para identificar e classificar os problemas mais importantes que afectam a comunidade em geral e a agricultura, a pesca e o emprego em particular); e a Análise do Campo de Forças (para identificar os mais importantes negócios/empresários existentes, que tipo de negócios/empresários a comunidade gostaria de ver no futuro e os prós e os contras para os obter). Além disso, revisitámos e referimo-nos aos exercícios em grupos focais realizados na 1ª (2011), na 2ª (2012) e na 3ª (2013) Constatações da Realidade para avaliar os possíveis desenvolvimentos e/ou mudanças.

Agregados Familiares Focais. O exercício inicial de classificação da riqueza feito em 2011 constituiu a base da nossa identificação dos Agregados Familiares Focais, com quem nos relacionamos estreitamente através de várias formas de imersão no decurso das Constatações da Realidade. Como discutiremos abaixo mais detalhadamente, as comunidades tendem a distinguir entre 2-4 níveis de pobreza ou ‘pessoas pobres’ e 1-3 níveis de bem-estar ou pessoas em ‘melhor situação’ – cada nível com as suas próprias dinâmicas e posição nas comunidades. No total foram seleccionados 21 Agregados Familiares Focais dentro destas categorias, os quais serão entrevistados em profundidade em cada ano, com enfoque nas mudanças nas suas relações com a família alargada, vizinhos e amigos, organizações comunitárias e instituições do estado, bem como nas alterações na sua posição sócio-económica.

A ética da pesquisa foi discutida no Relatório Inicial (ORGUT 2011a). Procuramos lidar com esse aspecto sendo transparente sobre os objectivos da série de estudos da Constatação da Realidade, seleccionando cuidadosamente e assegurando a anonimidade das pessoas que entrevistamos e com quem nos relacionamos1 e disseminando sistematicamente os resultados da investigação junto dos parceiros nas instituições relevantes e comunidades em estudo.

1.3 Indicadores Sócio-Económicos

Terminaremos estas notas introdutórias com um breve resumo da pobreza e bem-estar e da situação no que respeita ao sector privado/empreendedorismo no Niassa, para colocar o estudo no contexto. A província destaca-se por ter mostrado nos últimos anos os mais claros e consistentes progressos na pobreza baseada no consumo – embora com um ponto de partida muito baixo. A pobreza na província reduziu de 70,6% em 1996/97 para 54,1% em 2002/03 e 31.9% em 2008/09 – embora encobrindo uma discrepância invulgarmente alta na pobreza entre agregados familiares chefiados por homens (28%) e por mulheres (45%) (INE 2010). Como se pode ver na Tabela 1 abaixo, o Niassa exibe uma imagem variada em relação a outros indicadores quantitativos de pobreza e bem-estar em Moçambique. Um aspecto importante das Constatações da Realidade em Moçambique é a avaliação do realismo, relevância e dinâmicas por trás destes números, através da aplicação de metodologias qualitativas e participativas envolvendo a própria população.

1 Isto refere-se às opções para as pessoas de fora da comunidade identificarem os agregados familiares focais. Dentro da comunidade as pessoas sabem quem eles são, mas como seleccionámos agregados familiares de todos os grupos sociais, parece termos evitado uma atenção injustificada.

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Tabela 1: Principais Indicadores Chave Sócio-Económicos – Moçambique e Niassa (em percentagem)

Indicador Moçambique Niassa

Contagem de Pobreza 54,7 31,9

Coeficiente de Gini (0-1) 0,414 0,427

Proporção de Agregados Familiares Chefiados por Mulheres 29,6 16,3

Analfabetismo do Chefe do Agregado Familiar 44,3 51,6

Taxa de Frequência da Escola Primária 81 78

Malnutrição crónica abaixo dos cinco anos 43,7 45,0

Prevalência do HIV-SIDA 11,5 3,7

Qualidade da habitação (telhado sólido) 24,8 8,1

Luz eléctrica na habitação 13,2 5,8

Posse de bicicleta 38,1 65,4

Fontes: MISAU 2005; INE 2010 e 2009a.

Em termos quantitativos oficiais (INE 2010), os três Distritos possuem um conjunto de características sociais e económicas que revelam as suas similaridades e diferenças. Como se vê na Tabela 2, Cuamba é o distrito mais populoso seguido pelo Lago e Majune. Cuamba aparece geralmente como o distrito em melhor situação e Majune como o mais pobre e mais destituído dos três – com excepção da posse de bicicletas em que o Lago se situa atrás, principalmente por razões ‘topográficas’. De resto partilham as características de uma alta proporção de agregados familiares definidos como chefiados por mulheres. Os indicadores de pobreza e bem-estar são importantes e frequentemente usados nos cálculos estatísticos nacionais e dos doadores e serão actualizados no fim do período do projecto das Constatações da Realidade quando novos dados comparativos estiverem disponíveis (a recolha de dados para o próximo Inquérito Nacional do Agregado Familiar e da Despesa iniciou em Julho de 2014). Todavia, veremos que esses indicadores só parcialmente reflectem as percepções das próprias pessoas sobre o que significa ser ‘pobre’ ou estar ‘em melhor situação’.

Tabela 2: Indicadores Sociais – Distritos do Lago, Majune e Cuamba (em percentagem)

Indicadores Sociais Cuamba Lago Majune

População 184.773* 83.099 29.702

Proporção de Agregados Familiares Chefiados por Mulheres 24,0 35,1 35,2

Frequência da Escola Primária 67,3 65,01 54,3

Habitação com Tecto Sólido 0,79 1,18 0,13

Electricidade em Casa 6,3 4,38 0,39

Posse de Rádio 55,0 67,5 45,0

Telemóvel 3,3 0,97 0,61

Posse de Bicicleta 68,0 29,8 63,1

Fonte: INE 2009 * Desta população, 79.779 vivem no Município de Cuamba.

O contexto económico em que as pessoas dos três distritos desenvolvem as suas estratégias de sobrevivência e esforços de mobilidade social ascendente está reflectido na Tabela 3. Os dados são retirados dos Planos Económicos e Sociais Distritais (PESODs) e dos seus Balanços, que são os principais instrumentos de elaboração de políticas das Administrações Distritais. Estes dados também revelam as diferenças entre os três distritos, tanto na sua capacidade de recolha deste tipo de dados como no tipo e nível de actividades económicas. Algumas diferenças são o resultado natural das diferenças de população (como a produção agrícola total) e outras resultam de distinções geográficas (como a produção de peixe e o número de turistas), mas algumas também indicam como cada Administração Distrital desempenha as suas responsabilidades de desenvolver o seu Distrito (número de extensionistas, investimentos na silvicultura, clientes de energia, número de beneficiários da segurança social, uso do Fundo de Desenvolvimento Distrital, etc.). Em cada Constatação da Realidade serão fornecidos números actualizados, a fim de apurar a representação pelos próprios Distritos dos desenvolvimentos na sua área de responsabilidade.

Em 2014, os documentos principais para avaliar os dados dos próprios município/distritos mudaram de tipo. Tanto o PESOD como o Balanço, que antes continham uma combinação de texto explicativo e tabelas, agora só apresentam tabelas. Isto torna mais difícil avaliar a relevância

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9 e a qualidade dos dados. Ao mesmo tempo, a capacidade de produzir o tipo de dados na tabela varia. Enquanto Cuamba viu uma aparente melhoria na disponibilidade de mais dados, não foi possível este ano obter toda a gama de dados relevantes no Lago e em Majune. Em relação aos desenvolvimentos em cada distrito desde 2011, referimos os sub-relatórios individuais.

Tabela 3: Indicadores Económicos – Distritos do Lago, Majune e Cuamba 2013

Indicador Económico Cuamba Lago** Majune**

Área cultivada (Ha) 147.980 n.d. n.d.

Produção agrícola (1.000 kg) 207.309 87.480 n.d.

Extensionistas agrícolas 10 5 n.d.

Cabeças de animais domésticos / kg / proprietários 67.012 n.d. n.d.

Reflorestamento (novas árvores/ha) 524.820 n.d. n.d.

Número de camas de turismo 464 n.d. n.d.

Indústrias 175 103 n.d.

Estabelecimentos comerciais 385 n.d. n.d.

Energia (número de clientes) 12.212 2.300 n.d.

INAS (número de beneficiários) 3585 n.d. n.d.

Fundo de Des. Distrital (Nº de Projectos) 195 113 227

Fundo de Des. Distrital (Total, Mt) 10.433.690 n.d. n.d.

Fundo de Des. Distrital (Rembolsado, Mt) 1.089.567 n.d. n.d.

Fontes: GdN/Dd Cuamba 2014 ** Na altura do nosso estudo não estavam disponíveis os dados de 2013 para o Lago e Majune.

1.4 Sector Privado / Empreendedorismo no Niassa

Definição de empreendedorismo: O papel dos empresários nos processos de crescimento e desenvolvimento atraiu uma grande literatura. Desde o princípio, porém, deve reconhecer-se que não há uma definição estabelecida do que constitui exactamente um ‘empresário’, especialmente em contextos de baixo rendimento (Desai, 2009; Naudé, 2011). Segundo Schumpeter, a literatura económica tem focado frequentemente os empresários como inovadores, referindo-se em termos gerais à identificação e exploração de espaços desocupados num mercado competitivo – e.g., trazer novos produtos para o mercado. No contexto de países de baixo rendimento, porém, onde os mercados são pouco diversificados e as capacidades produtivas estão geralmente longe da fronteira internacional, a confiança numa definição restrita de empresários como inovadores pode vir a ser bastante restritiva.

À luz do acima mencionado, uma definição mais ampla de um empresário é: “alguém que gere, organiza e assume o risco de um negócio ou empresa através de investimentos em capital físico”.

Dois aspectos desta definição merecem comentários. Primeiro, o empresário é um gestor que toma decisões de negócio. Deste modo, os empresários são responsáveis pela estratégia da empresa e, no final de contas, pela sua interacção com clientes, fornecedores e empregados.

Segundo, os empresários assumem pessoalmente o risco financeiro da empresa. Em países avançados, podemos compreender isto como ter uma participação significativa no capital. Em situações de baixo rendimento, em que muitos empresários não estabeleceram (registaram) formalmente os seus negócios, assumir o risco implica actividades como o adiantamento para compras/aluguer de instalações, acumulação de capital circulante (stocks) e/ou investimento em bens de capital físico pelo qual se espera um futuro fluxo de retornos. Assim, o ponto principal é que o empresário não apenas gere como tem também uma participação social numa empresa que utiliza bens de capital físico para gerar rendimento.

Empreendedorismo em Moçambique: Voltando ao caso específico de Moçambique, houve muito pouca pesquisa quantitativa ou qualitativa séria sobre empreendedorismo per se. Em parte, isto reflecte as limitações de dados – a informação relativa ao sector empresarial é fragmentada, não está disponível um censo completo das empresas registadas e os dados do estudo focam quase exclusivamente empresas fabris. Assim, uma grande faixa de campos de acção onde podem estar situados empresários – e.g. empresas informais e/ou actividades de serviços ou de construção – permanecem completamente fora de vista.

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No que respeita ao quadro formal/legal que cobre as empresas de negócios, Schou e Cardoso (2014) resumem as definições oficiais usadas para distinguir entre tipos de empresas. Em princípio, o registo de empresas fabris em Moçambique é governado pelo Decreto 39/2003 de 26 de Novembro (GdM 2003), que classifica os estabelecimentos industriais em quatros classes (empresas micro, pequenas, médias e grandes) de acordo com três critérios (investimento inicial, capacidade eléctrica instalada e número de trabalhadores). (Ver o resumo no Anexo 1, Tabela 1.) Os passos necessários a dar para iniciar um negócio dependem do tamanho da empresa. É exigido o registo de todas as empresas mas, dependendo da localização, cai sob a competência de diferentes organismos. Por exemplo, o registo de empresas médias e grandes é da responsabilidade do Ministério da Indústria e Comércio (MIC), através da Direcção Nacional da Indústria (DNI). O registo de pequenas empresas é da responsabilidade dos governos provinciais, principalmente através das Direcções Provinciais da Indústria e Comércio (DPICs). As micro- empresas são registadas pelas autoridades distritais (i.e., Serviço Distrital de Actividades Económicas, SDAE), mas estas estão em processo de ter as suas responsabilidades alargadas (ver abaixo as mudanças em curso nas divisões de responsabilidade).

O Novo Código Comercial, Decreto-Lei Nº 2/2005) simplificou os passos necessários para iniciar um negócio (resumidos no Anexo 1/Tabela 2). Os passos 1 a 4 referem-se ao que é pedido para o registo e que é obrigatório para todos os negócios. Assim, uma definição comum para se saber se uma empresa é formal é se tem número único de identificação tributária (NUIT). Os passos restantes estão relacionados com o licenciamento formal, que é exigido para todos os negócios com excepção das micro-empresas (ver o Anexo 1/Tabela 1). Todavia, as micro-empresas que operam nas indústrias alimentar e farmacêutica também precisam de autorização para operar (Schou e Cardoso, 2014).

O mais recente relatório ‘Doing Business’ sobre Moçambique (Banco Mundial, 2013) revela alguns desafios persistentes. Como se mostra no Anexo 1/Figura 1, embora tenha havido um progresso razoável no que respeita ao número formal de procedimentos e tempo necessários para registar um negócio, Moçambique está noutras áreas muito longe da ‘fronteira’ – nomeadamente no registo de propriedade, acesso ao crédito e observância das disposições contratuais. Além disso, estas classificações são baseadas no que é oficialmente exigido por lei em vez de na implementação efectiva no terreno, que pode variar consideravelmente.

Rand e Schou (2012) usam dados de empresas fabris em Moçambique para identificar mudanças entre 2006 e 2012 nos constrangimentos ao ambiente de negócios observados (para as mesmas empresas). Como exposto no Anexo 1/Tabela 3, constataram que aumentaram as empresas que identificam como problemas sérios o acesso à terra, as práticas anti-competitivas e os transportes.

Curiosamente, também a maior parte das empresas cita a competição de importações ilegais e do contrabando como um problema sério. Se nada mais houvesse, estas percepções apontam para a natureza imprevisível do ambiente de negócios em Moçambique, bem como para os desafios estruturais que até as empresas mais bem estabelecidas enfrentam. É razoável concluir que estes desafios limitam as oportunidades económicas, especialmente para os empresários ‘noviços’ sem apoio financeiro significativo, economias de escala ou contactos políticos que possam ajudar a ultrapassar estes constrangimentos.

Empreendedorismo no Niassa: Se as limitações de dados são pertinentes para Moçambique no seu todo, são mais consideráveis para as províncias tomadas individualmente, especialmente para o Niassa. Devido a uma falta geral de actividades fabris no Niassa, por exemplo, a província não foi incluída nos estudos recentes de recolha de dados de empresas (DNEAP, 2013). De facto, as estimativas fornecidas por Schou e Cardoso (2014) sugerem que o Niassa tem o número mais baixo de empresas fabris de todas as províncias (ver também DNEAP, 2013).

A opinião de que as actividades de negócios não agrícolas são incipientes no Niassa é também obtida nos estudos ao nível de agregado familiar. O Anexo 1/Tabela 4 indica que o empreendedorismo informal se encontra nas áreas urbanas da província (i.e., 13% dos agregados familiares urbanos têm uma empresa doméstica), mas é significativamente menos prevalecente do que noutras províncias (e.g., no sul). Os dados do Censo de 2007 para a província do Niassa apoiam esta conclusão. A partir destes dados podem definir-se como ‘potencial empresário’ os trabalhadores não-agrícolas que declaram ser ou empregados por conta própria ou patrões. O

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11 Anexo 1/Tabela 5 indica a percentagem de trabalhadores que podem ser classificados como tal.

Conforme esperado, as áreas urbanas apresentam consideravelmente mais potenciais empresários, cabendo nesta definição 1 de cada 4 trabalhadores. Nas áreas rurais, devido à dependência da agricultura, os potenciais empresários são mais raros, com uma ligeira excepção que é o distrito do Lago, onde 18% dos trabalhadores são potenciais empresários. Isso reflecte provavelmente a maior prevalência de actividades mineiras.

Uma questão interessante é se estes potenciais empresários são empregados por conta própria ou patrões por escolha ou por necessidade. Pode obter-se alguma compreensão sobre este aspecto identificando a percentagem destes trabalhadores que se dedicam a uma só actividade (i.e., são especializados) ou a múltiplas actividades económicas (i.e., são diversificados). O Anexo 1/Tabela 6 mostra a percentagem de potenciais empresários que se dedica a múltiplas actividades económicas. Uma interpretação

comum deste aspecto é que é mais provável que sejam impedidos pela necessidade do que por escolha.2 A evidência estatística sugere que a necessidade é um factor chave de muito ‘empreendedorismo potencial’, implicando que a real importância dos empresários genuínos é significativamente mais baixa do que as percentagens mostradas no Anexo 1/Tabela 5.

Por último, o que sabemos nós acerca de programas e/ou apoio disponível para os empresários emergentes ou activos no Niassa? Notavelmente, o plano estratégico da Província do Niassa para 2007/2017 identifica explicitamente uma falta de empreendedorismo como uma fraqueza significativa e assume o compromisso de estabelecer centros empresariais nos distritos

estratégicos. Foram canalizados para o governo da província do Niassa e para o município de Lichinga fundos substanciais de doadores, em grande parte do governo Irlandês, para implementar os seus planos estratégicos.3

As actividades de micro-finanças foram encorajadas pela Fundação Malonda (FM). Neste sentido, uma avaliação intermédia do programa Malonda (Lambert, 2013) refere que: a FM apoiou cinco novos provedores financeiros para se estabelecerem no Niassa; 24 PMEs receberam crédito; e 651 micro-empresas beneficiaram do micro-crédito concedido pela AMODER (Associação Moçambicana para o Desenvolvimento Rural), a maioria do qual foi para comerciantes informais.

Este sucesso, porém, é matizado pelas baixas taxas de reembolso (Lambert et al., 2013: 8).

Outros programas de relevância incluem o PROMER (Programa de Promoção de Mercados Rurais), financiado pelo IFAD, que procura possibilitar que os agricultores de pequena escala aumentem o seu rendimento agrícola, ajudando-os a comercializar os seus produtos com maior lucro.4

2 Mais adiante no relatório, voltaremos a uma interpretação alternativa desta questão.

3 Para uma lista de fundos / projectos de doadores no Niassa ver: http://www.odamoz.org.mz/reports/provinces/1.

4 Ver: http://www.ruralpovertyportal.org/fr/country/voice/tags/mozambique/mozambique_road.

Ilustração 3: Loja de Motocicletas, Cuamba

Fotografia de: Carmeliza Rosário

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2. O SECTOR PRIVADO EM CUAMBA, LAGO E MAJUNE

2.1 Mudanças Mais Importantes

Começando, como habitualmente nesta série de Constatações da Realidade, com uma visão geral das principais mudanças globais nas áreas de estudo desde o último ano (2013), chegar a Cuamba ainda é complicado apesar da crescente importância económica da cidade nos mercados provincial e regional. Uma das formas é por estrada via Lichinga, outra é por estrada via Nampula, e uma terceira é por meio de um comboio ainda lento e inseguro a partir de Nampula. Ao mesmo tempo, um número crescente de engenheiros e operários vem para a cidade trabalhar na reabilitação de infra-estruturas. Em parte para acomodar este influxo, Cuamba tem um novo banco e vários novos hotéis e restaurantes. Os investimentos públicos parecem ir mais devagar, não estando ainda finalizadas as obras nas instalações da saúde e da educação que começaram no último ano. Nas comunidades focais do estudo em Cuamba, estão em curso alguns novos investimentos em infra-estruturas, embora a um ritmo lento. Todavia, apesar das muitas actividades económicas na capital económica do Niassa, há poucas grandes mudanças estruturais que afectem as características gerais da cidade.

Chegando à capital distrital do Lago, Metangula, o sinal mais visível de desenvolvimento e mudança é o grande número de casas em construção na direcção da até agora árida montanha que circunda a cidade. Há também um novo cais para o barco de passageiros Tchambo, que transporta pessoas entre o Lago e o Malawi e que foi vendido no ano passado pelo governo a um investidor privado. Os novos estabelecimentos económicos são dominados por barracas, restaurantes e bares – mas há também uma nova barbearia com cartazes da moda mais excitante da África Ocidental, uma nova casa à beira da estrada publicitando serviços de curandeiros e uma nova criação de galinhas. Ao abordar a Vila que aloja as instituições e funcionários públicos constata-se que desde o último ano foi construída uma nova estrada calcetada com paralelepípedos que leva à Administração Distrital, assim como um monumento dedicado aos heróis da luta pela Independência. O grande número de pessoas nas praias à volta de Metangula – indo buscar água, lavando utensílios de cozinha e roupas e tomando banho – lembra-nos a contínua falta de água potável na cidade.

Chegando a Majune tarde na noite, a mudança mais visível desde o ano passado é a chegada da electricidade ao distrito, que estimulou uma vida nocturna mais activa, estando muito mais pessoas fora das suas habitações do que era habitual. Embora beneficiando ainda apenas algumas pessoas, o plano é expandir gradualmente a electricidade para áreas fora da capital do distrito e para mais casas5. Outras mudanças realçadas pela Administração Distrital incluem o abastecimento de água canalizada na capital do distrito, uma nova ambulância para o hospital distrital, um tractor com uma niveladora para assegurar melhores estradas, um aumento do número de beneficiários do INAS e, (como por toda a província) um aumento do número de antenas da Movitel que facilita muito a comunicação. Um potencial ainda não explorado para o desenvolvimento económico local e a criação de emprego é o número crescente de parques de caça e de estabelecimentos relacionados com o turismo, todos geridos por pessoas de fora (Monte Mozal, Majune Safari, Safrique e mais recentemente Bué Safari). Apesar das mudanças, porém, Majune continua a ser um distrito isolado e arenoso onde a maioria das pessoas vive no limite da subsistência.

2.2 Cenário Económico

A seguir, a imagem geral do sector privado e do empreendedorismo em Moçambique e no Niassa, apresentada acima, será sujeita a uma análise mais detalhada nos três locais de estudo seleccionados - Cuamba, Lago e Majune - baseada em entrevistas a funcionários do governo e

5 De acordo com a Administração Distrital, as pessoas com casas ‘formais’ construídas com tijolos têm de pagar 3.500 Meticais pela ligação, enquanto as pessoas com tipos de habitação mais rudimentares (palhotas) têm de pagar 895 Meticais.

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13 outras autoridades e nos nossos próprios dados quantitativos e qualitativos (ver os sub-relatórios para mais detalhes).

Embora uma análise do contexto macro-económico mais alargado esteja fora do âmbito deste estudo, fica claro que estão actualmente em curso no Niassa mudanças relacionadas com os recentes investimentos em silvicultura, mineração, culturas de rendimento, corredores de desenvolvimento e ligações às economias crescentes em Cabo Delgado e Nampula que afectarão os empresários. Contudo, como mostraremos adiante, as economias de escala desta natureza têm tendência para não chegar ao tipo de comunidades locais e empresários locais que são o enfoque deste estudo.

Conforme assinalado acima, os município/distritos apresentam variações em termos de localização geográfica e qualidade dos serviços públicos, bem como dos níveis de pobreza e bem- estar. São também diferentes em termos de perfil e importância relativa das actividades do sector privado/ empresarial – tendo Cuamba, enquanto centro urbano, um sector comercial relativamente grande, tendo Majune muito poucos estabelecimentos que preencham os critérios formais dos negócios/ empreendedorismo e colocando-se o Lago algures entre os dois.

Antes de chegarmos a Cuamba, Lago e Majune, foram feitas entrevistas a diversos agentes do governo e do sector privado em Lichinga. O principal objectivo destas entrevistas era desenvolver uma visão qualitativa mais profunda sobre o contexto com que os empresários se defrontam na província, focando especialmente os constrangimentos e as oportunidades. Antes de os considerarmos, deve realçar-se que os entrevistados assinalaram consistentemente – isto é, estavam activamente conscientes de – o limitado estado de desenvolvimento do sector privado no Niassa. Isto é, a maioria das actividades envolve o comércio de pequena escala ou a comercialização de produtos agrícolas. Em Lichinga há um pequeno sector de serviços, mas é limitado na escala. As actividades industriais ou fabris fazem-se notar pela sua ausência.

Um constrangimento principal com que se defrontam os agentes económicos na província é a fraca infra-estrutura de estradas e caminhos de ferro, em comparação com o resto do país. Isto conduz a custos de transporte extremamente altos. Por exemplo, o transporte de bens entre Nacala e Lichinga (em camião 35 toneladas) custa à volta de 140.000 Mt, comparativamente com apenas 60.000-70.000 Mt entre Nacala e Quelimane, que é uma distância similar. Além disso, como a estrada para Nampula não é asfaltada, o acesso por estrada é extremamente precário (impossível) na época das chuvas. O ponto relevante é que isto representa um constrangimento significativo ao desenvolvimento de actividades produtivas, dado que estas devem operar em escala para serem lucrativas mas a escala requer o acesso a um mercado maior. Começaram as obras de modernização da estrada Lichinga-Nampula, no entanto, dada a sua escala, este projecto não será concluído nos próximos anos.

Um segundo factor que influencia indirectamente a estrutura económica da província é que o Metical é uma moeda forte. Em relação ao Malawi e à Tanzânia, as mercadorias são geralmente mais caras quando compradas em qualquer parte de Moçambique, especialmente quando são adicionados os elevados custos de transporte. O Metical forte torna vantajoso fazer compras no Malawi ou na Tanzânia.6 Por exemplo, muitos produtores de arroz preferem vender o seu arroz a comerciantes que o levam para processamento no Malawi, onde os custos de processamento são mais baixos e as fábricas são de maior confiança. Grosso modo, esta situação cria poucos incentivos ao envolvimento nas actividades fabris ou produtivas.

O papel central do comércio e do negócio de pequena escala na província é reflectido pela operação das entidades de licenciamento. As mudanças na legislação tornaram mais simples iniciar um negócio. De facto, as licenças para serviços ou actividades comerciais podem ser obtidas num dia no Balcão de Atendimento Único (BAU) em Lichinga ou nas instalações do governo nas capitais de distrito (SDAE). O licenciamento é um tanto mais complicado no caso do turismo ou da indústria, dado que são necessárias inspecções visuais e devem ser cumpridos os regulamentos laborais. Estas exigências e complexidades aumentam substancialmente os custos de estabelecimento de tipos específicos de actividade, enfraquecendo os incentivos nestes

6 Nós próprios tivemos experiência disso: Viajando à boleia com um condutor de camião no seu trajecto para a Tanzânia, ele não trouxe consigo um único item de Moçambique, mas gabou-se que voltaria da Tanzânia dois dias depois com carga completa.

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sectores em comparação com o comércio/serviços. A juntar a isto, alguns dos entrevistados notaram que o espaço para encontrar ‘dificuldades’ ou barreiras burocráticas tende a aumentar com o número de diferentes agências do governo com quem se tem de lidar. “Pode haver boa vontade da parte do governo, mas o governo é constituído por pessoas”.

Deve notar-se que, para além da aquisição de uma licença de comércio inicial, há também taxas regulares (e.g., anuais e/ou mensais) para licenças para desenvolver certas actividades de negócio e/ou empreender projectos de construção ou reabilitação. Estas taxas variam entre sectores e municípios/distritos (ver abaixo). Dentro do regime simplificado, os contribuintes têm também de pagar à autoridade fiscal, numa base trimestral, 3% das vendas. A Tabela 4 abaixo fornece um exemplo estilizado dos custos que um operador de uma pequena barraca tem de enfrentar no primeiro ano de operação. Assumindo um volume de vendas mensal de apenas 1.000 Mt, estes custos – que foram tirados da estrutura de taxas em Metangula – montam a cerca de 20% do total das vendas anuais (no primeiro ano). Se o volume de vendas mensal fosse 10.000 Mt, a percentagem correspondente seria 5% das vendas. Desta forma, as várias taxas/custos fixos para fazer negócio são regressivas, no sentido em que são mais onerosas para negócios mais pequenos.

Tabela 4. Custos para um proprietário de pequena barraca no Lago/Metangula, no primeiro ano de operação

Tipo de Despesa Custo/Ano (Mt)

Custo da licença comercial (regime simplificado) 1.500

Aprovação do projecto para comércio 400

Taxa anual da barraca 550

Taxa mensal da barraca 100×12

3% de imposto sobre vendas de 1.000 1.000×12×0,03

Total 4.010

Há uma consciência limitada das actividades do governo que visam apoiar/promover negócios locais de pequena ou média dimensão na província. Com excepção das simplificações da regulação e do Fundo de Desenvolvimento Distrital (sistema dos 7 milhões de Mt), nenhum dos entrevistados do governo ou do sector privado foi capaz de apontar outras actividades adicionais de apoio aos negócios locais. Uma área a considerar, sugerida por um entrevistado, é o uso mais estratégico dos contratos de compra do governo. De facto, muitos operadores – em Lichinga e em Metangula – salientaram o papel crítico das compras do governo na procura total final, particularmente para serviços como alojamento, alimentação e projectos de construção.

Uma preocupação comum, manifestada por agentes económicos fora da capital, é o acesso limitado a serviços financeiros. A maioria das capitais de distrito não tem agência bancária ou outra instituição onde se possam efectuar depósitos/levantamentos. Isto não representa apenas uma fonte de insegurança para os negócios, como também aumenta significativamente os custos operacionais, dado que obriga a fazer deslocações regulares até à capital provincial para ter acesso a serviços financeiros. Uma maior expansão dos serviços monetários por telemóvel e/ou serviços bancários por telemóvel beneficiaria significativamente os pequenos negócios.

Resumindo, a estrutura da actividade económica no Niassa reflecte a pequena dimensão e o limitado poder de compra do mercado e a sua posição geográfica relativamente isolada em relação ao resto de Moçambique. Embora as intervenções do governo tenham reduzido algumas formalidades burocráticas, há poucas intervenções pró-activas que estimulem a emergência de novas actividades, particularmente nos sectores produtivos (fora da agricultura).

2.3 Contexto Institucional e Formalidades

Apesar das responsabilidades públicas pelo desenvolvimento do sector privado descritas acima, a situação no terreno é complexa e pouco clara. As entrevistas com funcionários relevantes das administrações Distritais e Municipal em Cuamba, Lago e Majune mostram que eles não vêem como seu papel apoiar e desenvolver o sector privado e os empresários. Em vez disso, vêem como seu papel principal emitir licenças, cobrar impostos e contribuir para a obediência fiscal.

Quanto muito, os funcionários relevantes argumentam que a coisa mais importante que podem

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15 fazer para desenvolver o sector é contribuir com boas infra-estruturas em termos de estradas, electricidade e comunicações. A única intervenção directa de apoio ao sector privado é o FDD, mas todos reconhecem que não correspondeu às expectativas (ver abaixo). Ao mesmo tempo, argumentam que há muita iniciativa local, mas que a maioria das pessoas não tem os recursos e o conhecimento para iniciar um negócio.

Ao nível distrital, o SDAE está formalmente investido da responsabilidade de licenciar negócios.

Embora os maiores negócios estivessem anteriormente sob a responsabilidade da Direcção Provincial da Indústria e Comércio (DIC), localizada em

Lichinga, o SDAE tem agora o mesmo mandato que o BAU e o ‘regime simplificado’ (ver acima). Em cada distrito, o SDAE tem, pelo menos formalmente, uma unidade separada que lida com a ‘Indústria e Comércio’, embora possa não ter pessoas qualificadas para a tarefa.

Duas outras instituições estão actualmente envolvidas no licenciamento e tributação ao nível do Município/Distrito.

Uma é a Autoridade Tributária de Moçambique, até agora só estabelecida em Cuamba, Lago, Mandimba e Marrupa, que lida com o imposto sobre o rendimento pessoal dos donos de pequenas e micro-empresas (Imposto Simplificado para Pequenos Contribuintes, ISPC). E em segundo lugar, os municípios (Cuamba e Lago na nossa amostra) cobram vários impostos às empresas dentro das fronteiras municipais. Há, como se

mostra na ilustração, um grande número de potenciais taxas designadas ‘Taxas anuais’, ‘Taxas mensais’, ‘Taxas diárias’, ‘Outras taxas’, com diferentes tarifas para diferentes tipos de empresários.

As leis e regulamentos formais relacionados com o licenciamento e a tributação são claramente expostos em documentos legais relevantes, que são disponibilizados aos funcionários do governo local e sobre os quais muitos foram submetidos a cursos de formação (ver e.g. GdN 2011). No que respeita ao sistema de licenciamento simplificado, por exemplo, as responsabilidades estão listadas sob os títulos i) agricultura, ii) comércio e serviços, iii) construção, iv) desportos, v) indústrias, vi) transportes e comunicações e vii) turismo; são dadas definições legais para cada tipo de actividade (em comércio e serviços entre banca, barraca, comércio, ambulante e loja);

estão listados os impostos/taxas para cada tipo de actividade; em cada título são especificadas medidas para o caso de incumprimento.

Apesar das formalidades estarem no geral em vigor, há porém um amplo acordo entre os parceiros do sector público que o sistema não funciona como previsto. O SDAE em particular tem pouco pessoal, dá prioridade à agricultura (‘somos todos agrónomos’) e parece ter só uma compreensão parcial do que o sistema formal de licenciamento e tributação implica. Em Majune, por exemplo, um técnico do SDAE declarou que emitem uma ‘licença simplificada‘ por 1.400 Mt e um ‘cartão de identificação rural’ (Cartão de Identificação do Operador da Actividade Comercial Rural) por 575 Mt – mas não soube explicar a diferença. No Lago, o técnico explicou que eles licenciavam negócios de pequena escala que não fossem “ambulantes”, sendo estes da responsabilidade do Município, e não grandes negócios, que têm de ir para Lichinga - não percebendo que está em vigor um novo sistema simplificado e confundindo as áreas de responsabilidade do Distrito e do Município respectivamente.

Como se vê na Tabela 5, a grande maioria dos negócios/empresários que estão registados em Cuamba, Lago e Majune estão no comércio, com um número muito mais pequeno nas indústrias fabris e de construção (ver nos três sub-relatórios as mudanças ao longo do tempo). De acordo com funcionários públicos no Lago e em Majune, por exemplo, até agora só um empresário foi registado sob o regime simplificado em cada um dos distritos e só foram registados 50 contribuintes do ISPC no Lago, havendo muitos que simplesmente não pagam. De acordo com os mesmos funcionários, foi dada ênfase à educação fiscal, mais do que às penalidades, as quais o

Ilustração 4: Taxas!

Fotografia de: Sam Jones

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pessoal diz serem muito difíceis de pôr em prática7. Todavia, a educação fiscal parece ser também uma batalha difícil: em todas as três áreas em estudo, muitas pessoas afirmam que não pagarão porque não sentem que obtenham do Estado alguma coisa de volta. Entre aqueles que entrevistámos, que se registaram e pagaram, o seu argumento é que pensam que isto lhes abrirá as portas para relações económicas com o governo.

Tabela 5: Números e Tipos de Empresários Registados, Cuamba, Lago e Majune 2013

Tipo de Empresa Cuamba* Lago Majune

Lojas/Barracas 452 288 130

Moageiras 179 73 35

Carpintarias 10 7 23

Garagens 4 2 11

Construtores n.a. 10 5

Serralheiros n.a - 4

Pensões 18 29 3

Outros 6 2 -

2.4 Financiamento e Formação

A principal fonte de financiamento de negócios/empresários continua a ser o Fundo de Desenvolvimento Distrital ou “sistema dos 7 milhões de Mt”, iniciado nos distritos em 2006 e alargado em 2012 para incluir também municípios. As alocações anuais do Fundo por distrito /município aumentaram para cerca de 8 milhões de Mt (ou 260.000 USD), o que é uma soma considerável em áreas políticas/administrativas que têm fundos muito limitados para iniciarem os seus próprios investimentos públicos. As alocações variam entre 20.000 Mt e 200.000 Mt, com requisitos formais de reembolso num período de três anos. O objectivo original do FDD era contribuir para geração de rendimento e criação de emprego, e o fundo abrangeu um grande número de pessoas em Cuamba, Lago e Majune. Ao mesmo tempo, é cada vez mais reconhecido pelos parceiros do sector público que o programa tem diversas falhas graves. A proporção de projectos que podem ser caracterizados como ‘bem sucedidos’ é relativamente limitada, o processo de selecção tem sido baseado no favoritismo e nepotismo em vez de nas qualificações do negócio8 e a taxa de reembolso tem sido muito baixa. Na Tabela 3 aparecem os dados disponíveis sobre o número total de projectos, o valor total dos projectos e o valor dos reembolsos para Cuamba, Lago e Majune. A Tabela 6 abaixo mostra as alocações a projectos em 2013 em Majune.

Tabela 6: Tipos de projectos aprovados para financiamento pelo FDD em Majune em 2013 Tipo de iniciativa Projectos aprovados Intervalo de financiamento aprovado

Produção agrícola 89 20.000-60.000

Vendas de produtos agrícolas 77 35.000

Barraca e outra espécie de comércio 24 20.000-60.000

Criação de moageira 14 50.000-139.000

Venda de combustível 6 30.000-55.000

Carpintaria/serraria 3 30.000-76.000

Fabrico de pão 3 25.000-30.000

Criação de pequenos animais 2 35.000-50.000

Produção e venda de refeições 2 35.000

Ferreiro (mecânico) 2 50.000-171.000

Reparação de electrodomésticos 1 100.000

Pequena oficina 1 35.000

Compra de um veículo 1 390.000

Montagem de um salão de cabeleireiro 1 22.000

Pesca artesanal 1 20.000

Total 227

Fonte: Dados derivados e analisados a partir das estatísticas do governo distrital

7 A excepção é a polícia que controla as licenças, etc. em pontos de entrada das três áreas em estudo, muitas vezes cobrando uma mistura de multas formais, de acordo com o livro, e ‘informais’ na forma de pequena corrupção ou ‘refresco’.

8 Este ano, a Administração do Distrito do Lago reteve toda a alocação do FDD para o Posto Administrativo de Cobwe. As listas que receberam continuavam a mudar os nomes e sabia-se que muitos estavam estreitamente relacionados.

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17 De acordo com as autoridades públicas, uma solução para os problemas que actualmente afectam o FDD pode ser um maior enfoque nas pessoas comprovadamente registadas como agentes económicos e dar-lhes financiamento adicional para se expandirem e criarem mais emprego. Outros argumentam que o dinheiro devia preferivelmente ser usado em infra-estruturas (estradas, electricidade e comunicações) que beneficiam todos os agentes económicos. As autoridades também reconhecem que muitas pessoas têm falta de competências básicas para fazer negócios e argumentam que o dinheiro devia ser acompanhado por alguma forma de formação sobre negócios. O desafio é como ‘emendar’ um sistema que as pessoas passaram a ver como uma fonte de financiamento sem restrições (injustamente e desigualmente distribuído).

Em Majune e no Lago não há bancos (no Lago, espera-se que uma agência do Banco BCI abra este ano) e as altas taxas de juro e os custos de transporte tornam os bancos em Lichinga irrelevantes para a maioria das pessoas (os serviços bancários por telemóvel ainda não são acessíveis nas duas localidades). Cuamba tem quatro bancos (BIM, BCI, Standard Bank e Mozabanco) mas, para além das elevadas taxas de juro, não aceitarão clientes sem colaterais e garantias. Há instituições de micro-finanças em Cuamba que concedem empréstimos, como a GAPI, AMODER, ADC e Micro-Crédito de Cuamba, mas concedem empréstimos principalmente aos empresários de pequena escala no comércio, onde os investimentos são pequenos, os retornos são rápidos e os riscos são muito limitados.

“Se obtivermos um empréstimo de um banco, os juros são tão altos que pouco recebemos de retorno. A burocracia é também demasiada…. Precisamos de pagar muito, e eles mentem acerca das percentagens. O governo devia intervir nisto. É mais fácil pedir [dinheiro] aos amigos, porque o negócio nem sempre tem sucesso”.

Grupo focal com agentes económicos, Cuamba.

Praticamente todos os empresários que encontrámos e entrevistámos ‘viveram na vida por esforço próprio’, sem formação formal sobre como criar ou fazer negócio. Em Majune, os empresários mais bem sucedidos têm um certo nível de escolaridade, o que, dizem eles, é importante para o sucesso particularmente em ambientes competitivos como Lichinga, onde a comunicação é em grande parte feita por escrito. No Lago, porém, os empresários mais bem sucedidos só têm alguns anos de instrução primária e parecem ter orgulho em terem vencido ‘por esforço próprio’. Ao mesmo tempo, os muito poucos que tiraram alguma espécie de curso de gestão básica de negócios afirmam que beneficiaram muito em tê-lo feito – particularmente em termos de serem capazes de “planear e calcular”, como disse um deles.

Há iniciativas de formação relevantes no Niassa que são pouco conhecidas. Ao chegarmos ao aeroporto de Lichinga, um grande cartaz anuncia ‘cursos de negócios’ (ver Caixa). Uma ONG tem feito cursos de curta duração para as pessoas que têm a responsabilidade por projectos muito pequenos de trabalho intensivo com base na comunidade. E em Cuamba a Direcção de Educação promove um curso de dois dias sobre empreendedorismo, a Escola Secundária tem aulas de empreendedorismo e há um prémio anual atribuído a jovens inovadores pela Direcção da Juventude, Ciência e Tecnologia.

«Contabilidade geral e finanças / Gestão de recursos humanos / Relações públicas / Gestão de projectos / Estudos de viabilidade económica / Técnicas de mercado e de vendas / Plano e orçamento / Procurement / Inglês prático e técnico / Tecnologia de informação aplicada».

Colégio de Formação de Bassela: Investe no Teu Futuro. Entrada mínima requerida 10ª Classe

2.5 Grandes Empresários

Apresentamos abaixo alguns dos negociantes e empresários que, durante o nosso trabalho de campo, encontrámos em Lichinga, Cuamba e nas capitais de Distrito do Lago e Majune. Estes negociantes e empresários preenchem a definição formal de empresário como “alguém que gere, organiza e assume o risco de um negócio ou empresa através de investimentos em capital físico”

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e os critérios formais para micro, pequenas, médias ou grandes empresas (Anexo 1, Tabela 1).

Nas linguagens locais o ‘negócio’ é chamado malonda e os negociantes de grande escala são designados por munthu wa malonda.9 Isto tornará possível avaliar as dinâmicas do sistema formal acima descrito e os seus principais constrangimentos e oportunidades. No próximo capítulo avaliaremos o empreendedorismo ‘a partir de baixo’, tomando como ponto de partida as percepções das próprias pessoas (emic) sobre o que constitui um ‘negócio’ e ‘empresários’ – que não são menos importantes para o desenvolvimento económico e a redução da pobreza nas comunidades em questão.

Lichinga é a capital provincial e a maior cidade do Niassa, e alberga também a maior parte das instituições do governo da província. Há alguns empresários de diferentes níveis e em diferentes sectores. Entre os negócios mais bem sucedidos estão empresas de construção, supermercados, hotéis e restaurantes, serviços profissionais mais especializados desde garagens a cabeleireiros – e também alguns estabelecimentos mais inovadores que não seguem o ‘caminho batido’ como vender baterias de carros velhas para a Tanzânia e serviços de lavandaria. Um dos maiores empresários fez-se a si próprio começando por vender pequenos pãezinhos ou ‘bolinhas’, e agora é dono de uma empresa de construção, de supermercados, restaurantes e de um negócio de milho e emprega um total de 37 trabalhadores. Lichinga tem também algumas agro-indústrias, incluindo uma empresa de consultoria agrícola, uma criação de galinhas com 2.500 a 3.000 frangos, produção de soja (10 hectares) e uma plantação de bananas de 2 hectares.

Caso: Um jovem empregado num banco criou um negócio de fotocópias e computadores. É um dos poucos que encontrámos com educação sobre negócio/contabilidade (“Aprendi a importância de basear um negócio num estudo de viabilidade’). O seu sonho é abrir uma lavandaria que, segundo ele, faz falta em Lichinga. No entanto quer manter o seu emprego no banco, dado que fazer negócio no Niassa é arriscado (“Como empresário tem de se trabalhar muito, você não pode dormir de noite. É muito mais arriscado do que trabalhar para outros”).

Envolvendo relações com o governo e mais dinheiro do que noutras áreas no Niassa, os empresários em Lichinga têm desafios especiais. Como disse um empresário: “O governo é o melhor cliente, mas [também] o maior prejudicador]”. Embora o processo de obter uma licença de negócio se tenha tornado relativamente fácil, os maiores empresários argumentam que pagam tantas taxas que nem são capazes de as listar todas. Por outro lado, quando o governo e os funcionários do governo usam os negócios locais, como lojas e restaurantes, acabam frequentemente por pagar muito tarde ou até nem pagar. Há vários exemplos de negócios na cidade que, por esta razão, sobrevivem com grande esforço ou até abriram falência. Os relatos mais sérios de práticas ilícitas estão relacionados com o sector da construção. “Ninguém ganha um concurso público com honestidade” afirmou um empresário. Os funcionários públicos contactam muitas vezes directamente os potenciais licitantes e ajudam-nos a ganhar, argumentou, exigindo até 10% do valor do projecto em causa quando já está garantido.

Em Cuamba, os grandes empresários tendem a ser ou pessoas estrangeiras com experiência de outros países, ou pessoas vindas de outras cidades como Nampula. Sendo a cidade do Niassa com o ambiente económico mais diversificado e com grandes projectos de infra-estruturas (ver acima), o número de empresários em Cuamba aumentou consideravelmente. Os empresários estrangeiros, como Brasileiros e Nigerianos, tendem a trabalhar na construção da via férrea e de estradas, enquanto os outros se centram nas indústrias de apoio como hotéis e restaurantes. Os poucos empresários locais são muitas vezes membros de famílias com uma longa tradição de envolvimento em negócios, ou pessoas em fortes posições como os antigos militares. Isto indica

9 As variações locais deste termo incluem owipwanhera em Cuamba, que significa “os que têm capacidade de proporcionar emprego”.

Ilustração 5: Farinha de Milho feita em Cuamba

Fotografia de: Nair Noronha

Referências

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