• I
CONCIDERAÇOES CÂNDIDAS
V EI M P A R C I A E S
S O B R E A N A T U R E Z A
COMMERCIO
DDO ASSUCAR ;
E IMPORTÂNCIA COMPARATIVA
DAS, ILHAS BRITANNICAS , E FRANCEZASDAS ÍNDIAS OCCIDENTAES,
NAS QIIAES SE ESTABELECE O VALOR , E CON-SEQÜÊNCIAS' DAS ILHAS DE SANTA
L U Z I A , E GRANADA,
TRASLADADAS DO INGLEZ
DEBAXO DOS AUSPÍCIOS, E ORDEM
S - A L T E Z A R E A L ,
O P R Í N C I P E R E G E N T E
NOSSO S E N H O R .
P O R
ANTÔNIO CARLOS RIBEIRO DE ANDRADE
Formado em Leis, e Bacharel em Philosophia. P U B LIÇADAS
P O R „ „
FR. J O Z E M A R I A N O V E L L O S O .
L I S B O A ,
N A O F F I C . D A CASA L I T T E R A R I A DO ARCO DO CEG®. A N N O M . DCCC.
S E N H O R.
XÁ ARA completar & tratada do Assúcar, gene~ ro de mais 'valia da America Portugueza, e em qifè tanto se escora a riqueza deste Paiz, cum-<pria trasladar para o Portuguez alguma obrat
que tratasse dessa matéria. Eis o motivo, porque debaixo dos auspícios de V. A. ü * / e por sua ordem me arrisquei a traduzir estas
Considera-çaes Cândidas, sobre a Natureza do Comm-ercio do Assucar t que além de alguns- asizados raçiaciç nios sobre a importância das Colônias de
car de todas as Nações, tem de mais o merecU. mento de explanar miudamenre a cultura, e pre-par ação do cravo, noz moscada , ecanelia, e
demonstrar a possibillidade de se poderem cul-tivar estas preciosas plantas na Ilha de Tabago, de onda por analogia se argumenta para o JSra-, sil, mormente o Pará^ e Maranhão.
Queira V A. R. excusar meu denodo e ardimento, e acolher com a sua costumada *&»-nignidade este acanhado traslado, que humil-demente ojferece
y DeV.A.R. O mais fiel vassalo
C O N S I D E R A Ç Õ E S
C Â N D I D A S , ; E I M P A R C I A E S S O B R E
A N A T U R E Z A D O C O M M B R C I O
D O A S S U C A R .
X ^l AO há cousá alguma mais digna de hum bom cidadão em h u m estado livre ( 1 ) , do que estudar os negócios públicos com c a n d u r a , e assiduida-de. He seu privilegio , direito de seu nascimento , applicar-se ao c o n h e c i m e n t o das c o u s a s , que per-tencendo a todos , devem occupar o cuidado d e todos , e ser por amor disso bem entendidas. E m hum paiz livre , todo o h o m e m capaz , pôde ser chamado a tomar parte no governo , por isso q u e m descobrir em si talentos neccessarios para, A
es-( r ) Por estado iivre se entende todo o governo regu-lar , quer seja democracia quer aristocracia quer mo-narchia, ou qualquer outro governo, mixto , composto de maior , ou menor dose destas formas primeiras , e elemen-tares de governos , excluindo somente o ^despotismo revol-t a n revol-t e , e a anarchia desorganisadora. Tr.
2 C O N S I D E R A Ç Õ E S C Â N D I D A S
essas indagações , deve proseguillas , para p o d e r , quando se o f e r e ç a occasiào , ou que seu dever o peça , servir a* seu paiz ; isto h e servillo effi-ç a z m e n t e , com utilidade do b e m publico , e honra própria; pois estas são circumstancias in-separáveis, e deve servir-se o publico utilmente-, aliás não pôde h u m h o m e m dizer-se , ou t e r el-le mesmo consciência de t e r servido ao Publico com h o n r a .
Póde-se na verdade affirmar neste , assim c o m o em todos os mais empregos virtuosos , e honestos , que h u m h o m e m acha seu interesse combinado com seu dever. O estudo dos negó-cios públicos , alarga o espirito , corrobora suas faculdades , e e x t e n d e a esphera do entendimen-to. Eis o que elevou os grandes h o m e n s da anti-güidade a esse auge de r e p u t a ç ã o , e fez-los pa-r e c e pa-r , não só iguaes , mas ainda supepa-riopa-res aos mais exaltados postos. Isto habilitou-os , e nos h a b i l i t a r á , se proseguirmos c o m devida applica-çào , a julgarmos das cousas por nós m e s m o s , a. termos opiniões p r ó p r i a s , e ficarmos por con-seguinte fora do alcance da i m p o s t u r a , o que he o único m e t h o d o de conseguir firmeza de condu-c t a , e de condu-continuar invariavelmente nossos esfor-ços pelos interesses próprios , promovendo os de nossa pátria. Este h e o patriotismo a r r a s o a d o , e intelligivel, por cujo meio , n a s c e n d o do bem pu-blico a felicidade do indivíduo , não pôde elle ter n u n c a tentações de desviar-se do c a m i n h o di-reito , n e m lisongear-se com as loucas esperan-ç a s , de engrandecer-se a si , e a s u a f a m i l i a , á t usta de sua p á t r i a , que este estudo lhe persua-dirá ser h u m a prática tão fraca , como h e mal-: vada.
SOBRE A NATUREZA no ASSUCAR. 3
D a r e m - s e os h o m e n s á consideração dessas c o u s a s , seria proveitoso ao estado , e ao mesmo tempo ú t i l , e prestadio ao governo. As vistas de h u m a administração, são somente as que p o d e m , n a opinião de hum povo prudente , procurar-lhe a d e n o m i n a ç ã o , ou de b o a , ou de má • e como o b e m do estado deve ser o único objecto de h u -m a ad-ministração justa , he i-mpossivel, que ella desgoste , ou desanime semelhantes estudos , ou para fallar com mais propriedade , não os esti-m e , ou conforte.
Só delles pôde derivar sua estabilidade h u m a boa administração , pois que será melhor sus-t e n sus-t a d a por aquelles , que ensus-tendem mais bem seus desígnios. Se então a generalidade da na-ç ã o , ou ao menos os pais de família , e ricos , trilharem esta vereda , e se fizerem juizes hábeis , e imparciaes de sua c o n d u c t a , os Ministros bem intencionados nào t e m nada que temer. As fac-ções tem sua o r i g e m , e reforção-se por se i m p o r , e enganar aos espíritos fracos , e pendem sem-p r e sem-para o luxo , e descomsem-postura de c o s t u m e s , p o r q u e desviâo os pensamentos dos homens , da séria consideração de seus verdadeiros interesses, para a satisfação de seus c a p r i c h o s , ou paixões; m a s se as fontes r e a e s , c e r t a s , e permanentes , d a felicidade social, fossem exacta , e candida-m e n t e exacandida-minadas, e entendidas clara , e intei-r a m e n t e , não haveintei-ria lugaintei-r paintei-ra estas illusões ,• e a nação sentindo sua própria felicidade , nada t e -meria mais , que alterar suas circumstancias , p m u d a r as medidas , de que dimanárào tantos b e n s .
Sem duvida esta casta d e conhecimentos , re<juer algum trabalho , e muita attençào • são n e c -A ii
ces-4 C O N S I L E R A Ç Õ E S C Â N D I D A
cessarias muitas indagações , para se obterem as luzes p r e c i s a s ; alguma fadiga se deve f-uj-.-port.ir para comparar , e diggerir c l a r a m e n t e ' a s -déas, q u e dellas r e c e b e m o s . Mas estes obstáculos se e n c o n t r à o na descubeeta de toda a casta de ver-d a ver-d e s , e o p r a z e r , q u e se origina ver-de os v e w e r , n u n c a h e mais sensível, ou satisfacrorio, do que naquellas , q u e respeitão os interesses políticos. P o r este meio ', evitamos fazer juízos rigorosos, è apressados , sobre objectos de grandíssima imr
portancia , e c e r t a m e n t e b e b e m e m p r e g a d o hum pouco de t e m p o , e paciência , em examinar cou-sas de conseqüência para o publico , e decidillas com discrição^ , q u a n d o nós m e s m o s , e nossa posteridade , somos tão interessados no aconte-cimento , e deyemos , ou prosperar ,_ ou soffrer m u i t o , pela-justiça , ou injustiça da decisão.
P a r e c e p r e s e n t e m e n t e reputar-se ponto de . grande i m p o r t â n c i a , e digno de ser plenamente discustido , determinar , se a Ilha de Granada , e suas dependências , são justa , isto h e , inteiro equivalente, pela Ilha de Santa Luzia? Para des-cobrir i s t o , he não só necessário conseguir hum c o n h e c i m e n t o o mais distincto possível de cada h u m a destas I l h a s ; mas há t a m b é m muitas ou-tras cousas , que devem Ser p r e v i a m e n t e conhe-cidas , em ordem a bem cornparallas e n t r e si; e mais especialmente , devíamos para este fim ter h u m a idéa justa , ou ao m e n o s geral da nature-z a , e importância do c o m m e r c i o do A s s u c a r , e c o n c e b e r clarametne o verdadeiro estado das que até aqui se chamarão 1'has Neutraes. P o r q u e , sem fazer estas indagações preliminares , não he possível discernir as conseqüências , que prova-v e l m e n t e se pôde e s p e r a r , que se sigão desta tro-c a .
SOBRE A NATUREZA DÕ ASSUCAR. 5
ca , e com tudo só do prospecto destas- conse-qüências , h e que se pôde c e r t a m e n t e determi-nar a c o n v e n i ê n c i a , ou impropriedade de seme-lhante troca.
As C a n n a s , que produzem esse doce liquor, d e que se faz o Assucar , crescem em todas as quatro partes do Globo , e em trez dellas, es-p o n t a n e a m e n t e . Forão c e r t a m e n t e conhecidas pelos Antigos , ainda que o não fosse , o q u e chamamos Assucar ; pois a manúfactura do sue-co doce d a C a n n a - , nessa fôrma , foi invenção dos Árabes••, que l h e d e r à o o nome , que ora t e m , chamando-o em sua linguagem Succar. Foi tra-zida a Canna para a Hespanha , pelos Mouros, e por elles cultivada, com o maior suecesso, nos Reinos de Granada , Valença ,. e Murcia, N o s dous últimos ainda se faz Assucar muito perfei-to , ainda que p*õuco , pois com quanperfei-to se com-p u t e , que os Hescom-panhoes imcom-portâo a valia. d'ao menos hum milhão de peças de a oc/io em Assuca-res Estrangeiros , isto nasce inteiramente de hum. erro do governo , e do insupportavel Imposto de trinta e seis por cento , que já abateo m u i t o suas fábricas de Assucar, e que não obstante t o -das as representações , que se fizera» sobre esta matéria , provavelmente com o discorrer do tem-p o , lhes dará cabo.
Pelos princípios do século quinze , os Hes-panhoes introduzirão a manúfactura do Assucar,
e provavelmente as C a n n a s , nas Ilhas Canárias, onde prosperarão excessivamente ; produzindo grandes riquezas aos habitantes , e immensos r é -ditos á Coroa.
E m 1420 o Infante D . Henrique de Portu-gal , o Grande Fomentador das descubertas, fez,
tra-6 C O N S I D E R A Ç Õ E S C Â N D I D A S
trazer Cannas de Assucar da Ilha de Sicilia, para a da Madeira , o n d e medrarão com tanta f e l i c i d a d e , que d e n t r o d e h u m districto de nove milhas em circumferencia , o quinto, que esse Príncipe reservou para sua ordem m i l i t a r , mon-t o u a mil e quinhenmon-tas barricas. de A s s u c a r , ca-da h u m a de mil arrateis , e c o n s e g u i n t e m e n t e , todo elle produzio sete mil e quinhentas dessas barricas; o q u e nesses primeirOs t e m p o s , e quan-d o os navios empregaquan-dos em/ c o m m e r c i o erào muito pequenos , se r e p u t o u , e c o m muita ra-zão , h u m melhoramento , em extremo conside-rável. ;
A m e s m a n a ç ã o , t e n d o descuberto , e prin-cipiado a cultivar o paiz do Brasil na America, voltou seus p e n s a m e n t o s p a r a a cultura das Can-nas de Assucar, que se acharão ahi nativas , e con-t i n u o u seus esforços cóní con-t a n con-t o effeicon-to , que prin-c i p a l m e n t e p e l o luprin-cro , que tirou desta merprin-ca- merca-doria , principiou a formar p a r a si m e s m a ex-tensissimas vistas ; c r e n d o , q u e pelas vantagens da situação , clima, t e r r e n o , e rios , podia adian» tar seu c o m m e r c i o muito mais , q u e outra qual-q u e r nação ; á qual-qual predilecção em favor do Bra-sil attribuirão alguns escritores d e boa auctori-dade a decadência de seus interesses nas índias Orientaes. Mas estas e s p e r a n ç a s , ou b e m , ou mal fundadas , forào frustradas pela invasão dos Hol-lanãezes. Os Hespanhoes t e n d o vistas semelhan-tes ás dos Portuguezes , de m a n d o de Fernando o Catholico , conduzirão Cannas de Assucar das
Canárias , para a Ilha d e S. Domingos , onde forào pela primeira vez plantadas por Pedro de Atenca, e o primeiro e n g e n h o d e Assucar foi
eri-gido por Goncalo de Velosa, em i5o6. Mas acham
SOBRE A NATUREZA DO ASSUCAR. 7
do os nativos incapazes destes t r a b a l h o s , intro-duzirão os escravos Negros ; e assim traçamos a historia desta mercancia , e manúfactura. , q u e fiorece desde tempo i m m e m o r i a l no Oriente, até sua introducção nas índias Occidentaes.
He difficil dizer , em que t e m p o o Assucar fpi primeiramente trazido para a I n g l a t e r r a ; m a s que estava em uso c o m m u m em 1466, se eolli-ge da relação da festa dada pelo Doutor Joreolli-ge Nevil , quando foi sagrado Arcebispo de York , na qual se diz, que houvera o especiarias , assu-caradas delicadas , e filhos em abuzidancia. N o antiquissimo Tratado , intitulado Política de guardar o Mar, o Auctor declamando contra as c o u -sas inúteis , que os T^enezianos trazia o das ín-dias, a c c r e s e e n t a , que elles mui poucas das ne-cessidades da vida fornecião , excepto o Assu-car. E m tempos seguintes tiramos esta mercado-ria , como se pôde colher de nossos Escritores antigos de commercio , da Hespanha , Sicilia,
Portugal, Madeira, Berberia , e outros lugares *, o q u e , como augmentasse seu uso , pode prova-velmente suppôr-se ter criado em nós desejo d e obter hum p a i z , e m q u e o cultivássemos em gráo sufficiente para nosso consummo.
O famoso Sir Gualter Raleigh , por suas viagens. á America Meridional , no reinado da Rainha Isabel , e do Rei Jacques , deo tão alta opinião das riquezas da Guiana , que depois d e sua desgraçada morte , o projecto de cultivar es-se paiz , foi proes-seguido por Sir Olyff Leigh y
q u e para ahi enviou seo irmão , e depois por ou-tros , que a final desistindo de suas pretensões d e o u r o , e p r a t a , se contentarão com formar plantações , e depois de occuparem , e largarem v á -rios
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rios l u g a r e s , fixárão-se e m fim na barra , e mar-gens do rio Surinam ; a qual ainda que nossos Escritores t e n h ã o dado m u i pouca noticia d e l i a , p a r e c e t e r sido a primeira Colônia de Assucar , q u e tivemos , e ter subido por gráos á mais im-portância , do que talvez se julgou c o n v e n i e n t e conservar l e m b r a n ç a , pois foi este paiz cedido aos Hollandezes pelo tratado de Breda. Com tu-do pôde convir saber-se , para corroborar o que se disse , que se c o n h e c e o poucos annos antes d' ella ser c e d i d a , que tinha sessenta /////habitan-t e s , dous /////habitan-terços dos quaes erão-brancos , que cultivavão grande q u a n t i d a d e de Assucar , gengi-b r e , anil , e algodão , e p e r m i t t i n d o a todas as nações viverem , e c o m m e r c i a r e m alli livremen-te ,' sem algum freio c i v i l , religioso, ou m e r c a m t i l , empregavão p e r t o d e d u z e n t a s v ô l a s , que por tudo montavào a mais de quinze mil toneladas. Mas na cessão dó p a i z , se estipulou, q u e o povo tivesse inteira liberdade de apartar-se com seus effeitos, e em conseqüência disto a m ó r parte cios Inglezes se retirarão para h u m a , ou outra de nos-sas plantações.
Segundo algumas relações , h u m Navio en-viado por Sir Oliff Leigh para a Guiana, tocou pela primeira vez na Barbada. Mas segundo outras , esta Ilha foi descuberta por h u m N a -vio de Sir Guilherme Curteen , voltando d e Paranãbuc no Brasil, pelos princípios do ultimo* século. Ella foi depois , como teremos , mais der h u m a vez , occasiào de m e n c i o n a r , c o n c e d i d a pelo Rei Carlos I. por carta datada de 2. de J u -n h o , ao Co-nde de Carlisle , sob p r e t e x t o de ter elle feito grandes despesas para a cultivar. Os habitantes passarão quasi q u a r e n t a annos e m c u l
ti-S-OBRE A NATUREZA DÒ ASSUCAR. ^
tirar a n i l , gèugibre, algodão, e tabaco ; e se en-tregarão então ás cannas de Assucar , que forào para ahi trazidas do Brasil, e isto no curtíssimo espaço de dez annos mudou seus negócios de fei-ção , que os plantadores d e p o b r e s , q u e e r ã o , crescerão em grande opulencia , e ou importan-d o , ou compranimportan-do granimportan-de n u m e r o ' importan-d e Negros cia África , extendèrâo suas plantações, tanto para seu e m o l u m e n t o , como para o da Metrópole., e pelas repentinas , e espantosas fortunas , que fi-z e r â o , veio a ser conhecida a valia do commer-cio do A s s u c a r ; e elleprotegido como hum dos mais proveitosos, em que se já mais os Inglezes empenharão- Em conseqüência do que vários dos xnais eminentes plantadores, ou senhores de en-genhos forão criados baronetos pelo Rei Carlos 11. para que se visse , que o templo da honra es-tava a b e r t o , tanto áquelles, que accrescentávão ás forças da nação , aperfeiçoando as artes da paz , como aos que seassinalávâo em sua defesa, em. tem-:o de guerra.
Os q u e se estabelecerão nas outras nossas Ilhas , guiados pelo exemplo dos habitantes de Barbada , introduzirão igualmente nelías a ma-núfactura do Assucar, e accrescentando-se a. Ja-maica a nossos domínios , augmentou-se immen-samente o território próprio para Assucar ; em m a n e i r a , que durante a segunda ametade do ul-timo s é c u l o , excedemos muito a todas as outras nações , que até então tinhàq contratado nesta tmercancia , e não apparecendo ainda novos ri-vaes formidáveis , continuamos com. tanta van-t a g e m , que exporvan-tamosgran.de quanvan-tidade de As-sucar , mesmo para os páizes, de onde antiga-m e n t e tínhaantiga-mos iantiga-mportado este g ê n e r o ; particu-B
lar-i o C O N S I D E R A Ç Õ E S C Â N D I D A S
l a r m e n t e para o Levante , o n d e vendendo nossos Assucares mais baratos , que os seus ,. declinarão gradualmente todas as plantações primeiramente estabelecidas nos domínios Turcos, e a final de-sapparecèrão , e x c e p t o no Egypto. P o r é m em conseqüência de fazermos tão immensa quanti-dade de Assucar , tornou-se necessário buscar, e abraçar todos os methodos de promover seu con-., summo no interior , para sustentar nossas Colô-nias , pois tendo o m e r c a d o estrangeiro huma certa extensão s o m e n t e , o gênero estava e m perigo d e perder seu credito , caso se não achasse este expediente d e lhe conservar o preço ; todavia isto mostra c l a r a m e n t e , que houve m u d a n ç a con-siderável em nossas circumstancias , a respeito deste valioso artigo de c o m m e r c i o .
Os Francezes vierão a esta p a r t e do m u n d o , h u m pouco mais tarde que n ó s - , c o m o se pro-vará pelos seus mesmos Escritores , e não se adiantarão tanto afazer Assucar , posto q u e achas-sem as Cannas já c r e s c e n d o n a Ilha de Marti-nica n e m fizerão progresso algum de pondera-ção , por muitos annos depois de principiarem a plantar Assucar, não obstante t e r e m tido a as-sistência cie muitos dos Hollandezes , que se re-fugiarão em suas Ilhas, depois d'os Portuguezes os lançarem fora do Brasil. Influhio sobre isto grande variedade de causas ; p o r é m mais espe-cialmente o ficarem as mais de suas Ilhas por longo tempo e m propriedade , transferindo-se de h u m para outro proprietário; o desejo de adqui-rirem mais I l h a s , do que podião occupar; o fia-rem-se muito na força militar, e não t e r e m nu-mero sufficiente de Neg,-os. Muitos destes erros
?e corrigirão com o t e m p o ; m a s então tiverao «, de
SOBRE A NATUREZA DO ASSUCAR. I I
d e combater novas difficuldades , em m a n e i r a , que por fim, posto que a v a n ç a s s e m , avançarão vagarosamente , e fizerão pouca ou n e n h u m a fi-gura no commercio do Assucar , até depois da conclusão do tratado de Ryswick, tempo , em que a n a t u r e z a , e conseqtiencias do commercio começarão a ser plenamente entendidas , e vi-gorosamente proseguidas , scb os auspícios de
Colbert , que sabiamente considerava a adqui-sição do commercio , como base do poder mais solida, do que a adquisiçâo do território , e ti-n h a grati-nde cuidado de aproveitar-se das luzes dos mais experimentados negociantes, não s o d a .França , mas ainda de toda a Europ, as quaès d e novo melhorava , sugeitando-as ao juizo dos mais hábeis políticos.
A adquisiçâo de parte da Hespanhola foi pa-ra os Fpa-rancezes outpa-ra gpa-randíssima v a n t a g e m , ainda que não i m m e d i a t a , pois que a adquirirão gradualmente , e não sem considerável resistên-cia , o q u e , assim como os estorvou de planta-r e m - n a , assim também p planta-r e v e n i o , ao menos e m grande parte , as aprehensões , que aliás nasce-ria o de tão grande conquista. D e p o i s de se te-r e m fixado alli effectivamente , desampate-rate-rão suas plantações de Assucar da Ilha d e Tortuga , as quaes tinhão prosperado muito b e m , mas pare-cião insignificantes , em comparação do que se esperava de S. Domingos , para a qual se reti-rarão os habitantes. A guerra da successão da Hespanha enfreou por algum t e m p o seu adian-t a m e n adian-t o : porém ao mesmo adian-tempo lhes foi úadian-til por outro l a d o , pois que os livrou d e ulteriores disputas com os Hespanhoes , e bem que nós já • tivéssemos ciúme do progresso d e suas Colônias
13 C O N S I D E R A Ç Õ E S C Â N D I D A S *>
de Assucar , com tudo occupamo-nos jdemasiá-d a m e n t e com a guerra jdemasiá-da Europa, e os esforços que fizemos na America, forào conduzidos com t a m a n h a indifferença ,' q u e com q u a n t o soffres-sem , todavia soffrerao muito menos , do que aliás lhes succedería , se tivéssemos attendi-do mais á nossos próprios, i n t e r e s s e s , e á oppor-tunidade favorável, que então tivemos , de lhes-i embarjtaar efficazmente de virem a s e r , como se depois t o r n a r ã o , nossos mais formidáveis rivaes. Pelo tratado de Utrecht, na verdade adquirimos a cessão das partes , que elles possuhião na Ilha de S. Christovão. Mas os plantadores Francezes se retirarão dalli para suas outras I l h a s , e como llies não faltava terra , esta cessão da parte de S. Christovão lhes não foi desavantajosa , bem q u e para nós fosse c e r t a m e n t e h u m beneficio, muito considerável.
D e s d e a conclusão da paz d e Utrecht , &t» tenderão muito mais á seus interesses neste par-t i c u l a r , por conseguinpar-te melhorarão , e par-tiverào muitas outras vantagens casuaes. Suas Ilhas es-tava o cheias de habitantes , q u a n d o elles come-çarão a e m p r e n d e r com ardor, estabelecer suas plantações d e Assucar. Seu governo tinha atten-dido muito á seus interesses , mas especialmen-t e em q u a n especialmen-t o aos direiespecialmen-tos , os quaes , não obs-t a n obs-t e obs-todas as precisões de seu e s obs-t a d o , conobs-tinua- continua-rão sempre a conservar-se b a x o s ; o qtíe animou m u i t o seus plantadores. Além disto , fizerão-se muitos sabio.s regulamentos á cerca da remessa de brancos,e pretos , e s e l h e s d e t ã o muitos soccor ros tanto para sustentar sua i n d u s t r i a , como para ©ssuppriF de negros. P o r é m talvez c o m todas es-tos vantagens, n u n c a se adiantaria© t a n t o , a não
. SOBRE A NATUREZA DO ASSUCAR. I 3
ser a assistência que lhes dera o os habitantes de nossas Colônias Septentrionaes, tomando-lhes sua aguardente , e melassos , beneficio ,. que seu mes-m o governo lhes não podia f a z e r , e que era pa-r a nós h u m d e t pa-r i m e n t o , o-qual, a pesapa-r de logo o c o n h e c e r m o s , e nos queixarmos a l t a m e n t e , nunca se póde-efficazmente remediar.
Os Hollandezes vierão primeiros á Ameri-ca com forças militares , e com h u m a forte es-quadra atacarão o Brasil , o qual estava na mão dos Hespanhoes, que nesse tempo erão senho-res de Portugal ; fizerâo alli grande impsenho-ressão em i i ) a 4 , a qual continuarão com tanto effeito<, que se apossarão de seis das quatorze Capitanias, e m que este paiz está dividido( 1 ) , as quaes possuirão perto de trinca a n n o s , e em que. fize-râo annualmente perto de vinte e cinco mil cai-xas de Assucar. Os Portuguezes, depois de saciv direm o jugo Hespanhol,. pretenderão expellir os Hollandezes d o Brasil, o que em fim consegui-rão , em rasão dalonga g u e r r a , que a Republica tinha com os Inglezes , posto que a cessão se nào fizesse , senão no anuo de 1661, na qual en-t r e ouen-tros aren-tigos vanen-tajosos oben-tiverão os esen-tados a somma de oito. milhões de florins ( a ) , qa& condescendèrão tomar e m A s s u c a r , e outras
mer-car
( 1 ) O Brasil está presentemente dividido em nove Ca-pitanias geraes , Pará i Maranhão , Bahia, Paranâbuc, R i o ide Janeiro , Minas Geraes, S. PauTo Goyazes , e Matto-Grosso, e em nove particulares com o titulo de Governos , Rio Negro , Ceará, Piaulii, Rio Grande do Norte , Parai-b a , Sergipe d'E!Rei, Espirito Santo ,. Santa Catharina,. e Rio Grande do S u l : não entrâo nessa numeração a Comarca dos Ilheos , Itamaracá , e Porto Seguro as quaes os E s -trangeiros contâo como Capitanias , não o sendo já. ( a ) Ema aoasa moeda. 8,o38ooo cruzados. T/v
i 4 C O N S I D E R A Ç Õ E S C Â N D I D A S
-cadorias , debaixo do titulo de equivalente. N a p r i m e i r a guerra Hollandeza, no reinado de Car-los I I . , elles nos tomarão Surinam , que lhes ioi c e d i d a e m troca da Nova York , pelo tratado
de Breda e m 1667 , e essa cessão confirmada p e -lo tratado de TVestminster e m 1674 , d u r a n t e o qual p e r í o d o , e por algum t e m p o depois , isto h e , até que o Rei de França supprimio sua com--panhia-das Índias Occidentaes , os Hollandezes aproveitárão-se da maior parte dos Assucares fei-tos nas Ilhas Francezas , e m cujo c o m m e r c i o , diz-se , que empregarão h u m a s cem velas. A' sua
Colônia de Surinam elles accréscentárão Brebe-cia^ e Isaquepe , no m e s m o continente , e posto q u e todo este paiz seja muito p a n t a n o s o , emal-são , c o m t u d o julga-se , que ahi fazem huma q u a n t i d a d e de Assucar , n a d a inferior ao que ti-ravão do Brasil, e m q u a n t o o possuhiâo.
Além destas Colônias, que são no continen-t e daT America Meridional, elles continen-t e m
igualmen-t e as Ilhas de S. Eusigualmen-tachio , e Curaçao, lugares, q u e serião insignificantes nas mãos de qualquer o u t r a n a ç ã o ; mas c o m o cuidão dellas , são-lhes vantajosas. Sendo portos livres , a que recorrem todas as nações Europeas-, em t e m p o de paz
fa-zem, por ellas h u m grandíssimo commercio por a l t o ; e em tempo de guerra ganhão ainda muito mais pelo commercio de contrabando. Os vastos armazéns de toda a qualidade de fazendas da Europa, e da índia, que t e m nestas Ilhas cons-t a n cons-t e m e n cons-t e sorcons-tidos , e as conveniências , que fa-zem aos Navios de todas as nações , que a ellas vem para" commerciarem humas c o m as o u t r a s , e m gêneros , e do m o d o , que nas mais partes se •não p e r m i t t e , convidâo para estas Ilhas grande
SOBRE A N A T U R E Z A DO ASSUCAR. r5
freqüência de vasos , pelos quaes os Habitante» Hollandezes se enriquecem i m m e n s a m e n t e , e conservando os direitos muito baxos , e aprovei-tando-se de toda a casta de commercio , m a n d ã o a n n u a l m e n t e para a Metrópole consideráveis r e -tornos.
P o r é m além de tudo i s t o , elles tem sempre tirado , e continuão ainda a tirar immensas van-tagens , da Arte de refinar Assucar , particularm e n t e eparticularm Aparticularmsterdão , a cujo porto trazião p r i -m e i r a -m e n t e -maravilhosa q u a n t i d a d e , não só da Berberia, Portugal, e Madeira , mas t a m b é m Ao Levante, eEgypto, c o m o ainda o trazem deL
suas mesmas Colônias, da Inglaterra, França , Brasil, e quando o podem fazer com l u c r o , d e seus estabelecimentos das índias Orientaes, p a r ticularmente de Java, onde fazem vasta q u a n -tidade. Estes Assucares refinados, por meio dos grandes rios da Allemanha , o Weser, o Elba ,. o Rhin , o Mein , e o Mosella, v e n d e m elles por todo esse extenso , e povoadissimo p a i z , e os escambão por varias qualidades de gêneros b r u t o s , q u e depois se manufacturão em suas pro-víncias , e assim por sua perpetua attencão ás neccessidades de todos os seos visinhos , pela destreza de c o n v e r t e r e m essas precisões em van-tagem s u a , por sua infatigavel industria , e ba-rareza de sua navegação , fazem h u m ganho mui-to m a i o r , e t a m b é m mais seguro , e constante , do que geralmente se imagina , ou facilmente se acreditaria , se acaso se explanasse esta matéria mais p l e n a m e n t e .
Os Dinamarquezes estiverão muito t e m p o de posse de S. Thomaz , I l h a , que fica mais a Oeste de todas as chamadas as Virgens*. Na v e r d a d e ,
ei-i 6 C O N S I D E R A Ç Õ E S C AI* D I D A S
ella ponco mais h e , do que h n m m o n t e altíssi-m o , coaltíssi-m h u altíssi-m a estreita aba de terra plana e altíssi-m r o d a de s i , que não t e m vinte milhas d e circum-ferencia , mas com h u m porto m e d i o c r e m e n t e b o m , seguro 7 e c o m m o d o , h u m a vez q u e se en-t r o u . O uso , que p r i m e i r a m e n en-t e fizerão desen-ta Ilha foi o m e s m o , que os Hollandezes ainda fa-z e m das de Santo Eustachio , e Curaçao ; isto h e , admittirão os Navios de todas as n a ç õ e s , e n ã o fizerão excepçôes á q u a l i d a d e alguma de c o m -m e r c i o . Fora o nisto ainda alé-m dos Hollandezes, o u antes os Hollandezes fizerão neste porto Di-namarquez , por meio de armadores , o commer-cio , que não julgarão absolutamente seguro fa-zer nos seus ; e por este meio lançarão o ódio d e s e m e l h a n t e c o n d u c t a sobre os Dinamarque-ses ; r e c o l h e n d o porém o lucro , que delia nas-cia. Mas a s c o u s a s estão agoia de todo mudadas. Q u a n d o os Francezes deixarão Santa Cruz, que fica cinco legoas distante de S. Thomaz, apos-sárão-se os Dinamarquezes dessa Ilha , que he m u i t o mais considerável e m extensão , pois tem t r i n t a milhas d e c o m p r i d o , e nove , ou dez de l a r g o ; e na qual b e m que hajão e m i n ê n c i a s ; não liá c o m tudo m o n t e s . Nestes altos t e m elles abun-d â n c i a abun-de abun-differentes qualiabun-daabun-des abun-de excellente m a d e i r a ; porém a água h e m á , e o ár malsão. D e ambas estas Ilhas esteve de posse a Compa-nhia Dinamarqueza das índias Occidentaes, até q u e á ' m u i t o pouco tempo , que Sua Magestade Dinamarqueza presente , tendo-lhe comprado suas a c ç õ e s , dissolveo essa C o m p a n h i a , e p r o c u * rou animando-as , quanto se podia i m a g i n a r , ou d e s e j a r , melhorar estas pequenas Ilhas. E m con-seqüência d i s t o , as ladeiras do grande m o n t e da
-SOBRE A NATUREZA EO ASSUCAR. 17
p e q u e n a Ilha de S. Tkomaz „ primeiramente^men-c i o n a d a , esção neste t e m p o .tão primeiramente^men-cultivadas de to-d o , que proto-duzem a n n u a l m e n t e entre to-duas ., e t r e z mil barricas de A s s u c a r , e a Ilha de Santa
Cruz, ooni t o d a s a s s u a s desavantagens está igual-m e n t e e igual-m igual-muito boigual-m c a igual-m i n h o de ficar t a igual-m b é igual-m c o m p l e t a m e n t e plantada , a i n d a -que principal-m e n t e por vassallos Britannicos, e.põr este principal-meio supprir-se-há a Dinamarca de Assucar -pt-ra o futuro , e terá t a m b é m algum supérfluo para os m e r c a d o s estrangeiros.
T r a ç a n d o assim s u c c i n c t a m e n t e a historia d o A s s u c a r , ou o seu c o m m e r c i o , v e m o s , por quão differentes m à o s e l l e passou. Podemos tam-r b e m sem g r a n d e difficuldade discernir as cau-, sas , que produzirão essas alterações. Conhecer-se-há d a q u i , que não h e n u a m e n t e a possibilida-d e , possibilida-de. cultivar as cannas , o que he muito pra-ctivavel é m differentes partes da Europa, e que se já mostron crescerem n a t u r a l m e n t e nas outras trez partes do g l o b o ; n e m ainda ã habilidade e m as m a n u f a c t u r a r , que conservará este c o m m e r -cio a qualquer nação. Segue-se pois , que as es-peranças d e fazer o monopólio do A s s u c a r , e de o vender por conseqüência por Jium preço altís-simo , h e m e r a m e n t e h u m a c h i m e r a m e r c a n t i l , cujo intento probabilissimamente o transferiria p a r a alguns d e seus. primeiros possuidores , o u , o que h e o, mesmo , o fixaria actualmenté nas mãos dos Hollandezes , que d e v e m seos sucçes-sos e m commercio ao &eo firme afferro, a h u m a m á x i m a mui s i m p l e s , e clara. , Q u e os,que por d e m vender, o melhor gênero pelo, m e n o r p r e ç o , hão de sempre dominar o mercado.
Podiào deduzir-se muitos mais pontos de
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d è - u t i l i d a d e , de huma historia mais a m p l a deste mui lucrativo commercio , mais intentalla faria avolumar muito esta p e q u e n a Obra , o n d e t u d o o que se disse , teve principalmente e m vista, introduzir h u m a e n u m e r a ç ã o muito succincta da* v a n t a g e n s , que nos provém do q u i n h ã o , q u e t e -mos no c o m m e r c i o do Assucar. Por q u e sem ter h u m a idéa geral do todo , h e impossível julgar
c o m algum gráo de c e r t e z a , ou p r e c i s ã o , de al-gumas de suas p a r t e s , pois q u e os benefícios par-ticulares , que dellas d i m a n ã o , derivão-se princi* p a l m e n t e da r e l a ç ã o , q u e t e m com o t o d o , e p o r isso o meio o mais s e g u r o , e j u n t a m e n t e o mais claro de os fazer visíveis , h é a p o n t a r , e illustrar as diversas circumstancias, porque nossas Colônias de Assucar são em vários sentidos prestadias á Grã Bretanha , è por isso compensâo amplamen* te a p r o t e c ç ã o , que delia r e c e b e m ; e a metrópo-le ao mesmo t e m p o lhes m e r e c e a continua at-tenção,que por sua mesma utilidade lhe deVem ellas sempre guardar. Porque sem p l e n a m e n t e entender-mos , e conservarentender-mos c o n s t a n t e m e n t e riá-mehiô^ ria esta natural , esta inseparável connexãq de interesses , ficaremos sugeitos a contínuos enga-nos , pois na verdade todos os e r r o s , "em que ca* h i m o s , a este respeito , não forào devidos â ou-tra c a u s a , senão á s u p p ó r m o s , e m conseqüência de alguns pretextos plausíveis , que podièl haver differença e n t r e os interesses desta nação , nas Colônias, e os de nossos compatriotas nellas es*-tabelecidos , o q u e r e a l m e n t e n u n c a p ô d e aconte-cer ; de feição , que em conseqüência de' sermos illudidos por semelhantes a p p a r e n c i a s , a s medi-das erramedi-das , á que fomos arrastados!, e sedüizí-dos , forão sempre , igualmente perigosas , e em
SOBRE A NATUREZA DO ASSUCAR. 19
Os habitantes das nossas Ilhas Americanas, q u e pela sua principal mercancia , ou antes m a -núfactura , se denomina o Colônias de Assucar, compõem-se de Brancos , e Negros , ou por ou-tras palavras de vassallos Britannicos ,. e escravos Africanos. A habilidade , e industria dos primei-ros , sustentada pelo p e n o s o , e infatigavei traba-lho dos segundos , h e q u e recolhe nesses paizes e exporta para differentes partes do m u n d o , nàó só o Assucar , mas ainda varias outras m e r c a d o -rias d e irnmenso valor. D a barateza do trabalho d e s t a pobre gente , que t a m b é m delle tira ,a• maior p a r t e de sua própria subsistência, derivão-se es-tas c u s t o s a s , e extensas obras , necessárias em h u m e n g e n h o de Assucar , e igualmente todo o mais neccessario , q u e e l l e r e q u e r , e tudo o que c o n t r i b u e para as commodidades , conveniência , e abundância de nossos compatriotas nestas I l h a s , d e que são senhores ; e na verdade a e s t a c i r c u m -stancia da barateza de seo t r a b a l h o , h e devido o estar o commercio do Assucar ao menos quanto á Europa , limitado em grande parte á America, a o mesmo tempo , q u e por outro lado o estar circumscripto á America , he a principal causa d e produzir t a m a n h a variedade de v a n t a g e n s , e mais e s p e c i a l m e n t e de contribuir tanto para. o sustento da navegação, e por conseguinte paia a m a n u t e n ç ã o das forças navaes ; depois destes es-boços geraes da importância de nossas Colônias d e Assucar , e n t r a r e m o s , em rasão da clareza , a tratar h u m DOUCO mais m i u d a m e n t e dos ramos
d e seo commercio com a Grani Bretanha. A estes escravos Negros , c-omprâo na Áfri-ca os merÁfri-cadores Inglezçs por grande variedade d e fazendas de lã ; por h u m a qualidade d e armas
ao C O N S I D E R A Ç Õ E S C Â N D I D A S
d e fogo baratas , vindas de Birmingham , She-. fteld, e de outros l u g a r e s , e por pólvora, bailas i
barras de ferro , e de cobre , vasos de cozinha d e b r o n z e , cerveja, c e b o , cachimbos;, fazendas d e Manchester, c o n t a s de vidro, ou vidriihos, algumas qualidades particulares de pannós de l i n h o , o b r a s d e ferro,e c u t e l a r i a , certas mercancias de pouco ya-lor,algumas fazendas da índia, mas e m geral muito
poucos destòs artigos não são d e nosso próprio fun-do , ou manúfactura. Além destes e s c r a v o s , q u e fazem a mór parte d e sua c a r r e g a ç ã o , nossos ne-gociantes Africanos c o m p r ã o t a m b é m o u r o , mar? fim, e páos de t i n t u r a r i a , com algumas drogas de valia • e nas índias Occidentaes t a m b é m , quando lhes sobrâo escravos , vendem-nos por altíssimo preço ás nações estrangeiras , por cujo meio se ganiiavão primeiramente grandes sommas , e t u d o voltava k Grani Bretanha. Q u a n d o s e v e n d e m es-tes Negros aos plantadores Britannicos, elles n ã o podem ser empregados, n e m fornecidos dos ins-trumentosproprios para seo. trabalho diário, sem que dahi venha nova vantagem á n a ç à o Britannica.
Porque em seos trabalhos ruraes deve o plan» tador supprir a seos. Negros d e fouces , e n x a d a s , m a c h a d o s , ç a d è a s d e ferro , e de outra ferramen» ta heccessaria, o que t u d o , e m conseqüência de se usar c o n t i n u a m e n t e ,. precisa renovar-se an-n u a l r an-n e h t e . para se e an-n c h e r <t vasio , ique fica , o q u a l , especialmente neste c l i m a h ú m i d o , e quen» t e , chega á s o m r a a m u i t o considerável. Podemos
accrescentar a isto , q'ue esta pobre g e n t e ,, vi-vendo muitodujtamente > e vendendo grande,par.--1
te das provisões, c|ue c o l h e , despeíide constan» t e m e n t e o pequeno produc to , que tira d e sua in* dustria, e que se lhe p e r m i t t e r e t e r , c o m os ne» gociantes chamados dos Negros, comprando
ci-SOBRE A NATUREZA DO ASSUCAR. 21
cipalmente mercadorias de Birmingham , Sheffi eld, e Manchesier , a p o n t o de t o r n a r para cá igualmente tudo isto , que ,i considerado-o seo n u m e r o , não m o n t a a somma ídespresivel, o que se m e n c i o n a mais para. mostrar , que , se acaso se imaginassem, alguns meios de fazer sua condi-ção mais. t o l e r á v e l , e fazellos mais abastados , os fructos de seo m e s m o trabalho , e igualmente todo o empregado n o serviço de seo a m o , c o n -c e n t r a r - s e - h i â o n e -c -c é s s a r i a m e n t e nesta Ilha.
Mas as desipesas r u r a e s , são insignificantes, e m c o m p a r a ç ã o dos utensílios neccessarios , nos engenhos de Assucar, taes c o m o c o b r e s , caixas para o engenho , c u l h e r e s , escumadeiras , alamb i q u e s , o e n g e n h o , e outros artigos quasi i n n u -meraveis , a que se p o d e m ajuntar p r e g o s , fe-c h a d u r a s , q u i fe-c i o s , f e r r o l h o s , e fe-c h u m b o , empre-gados pelo plantador n o s outros, seos edifícios , e o s quasi inhumeraveis artigos d e ferro usados nos c a r r o s , carretas , obras do engenho , e o u t r a s c o u s a s , não só excessivamente dispendiosas, quand o se p õ e m pela primeira v e z , mas 1 q u e por e s -t a r e m e m con-tinuo uso , gas-tâo-se cons-tan-temerr- constantemerr-t e , e p e d e m ser renovadas. T u d o i s constantemerr-t o , a qual-q u e r p r e ç o qual-q u e s e j a , deve-se tirar da GramBre-tanha , e m e s m o os trastes grossos de m a d e i r a , o g a d o , e t c . b e m q u e vénlião das plantações Se-ptentrionaes , são pagos pelos plantadoces de As* sucar , e vem s o l d a r i a oaiança- r que
respecti-v a m e n t e derespecti-vem essas Colônias á Gram Bretanha; ou- ao menos grande ^parte delia.,solda-se por es-t e m e i o .
D e v e m o s afuntar a i s t o a maior p a r t e dos materiaes neccessarios para construírem suas c a -s a -s , c o m o-s mai-s de -seo-s movei-s ; e não -só pela industria d e l l e s , e seo bom successo s e
2 3 CoNSIDteR-S.O.ÕES C ANDTÍD A;éi
« e a. Gram Bretanha, m a s t a m b é m pelo seo lu-xo , quando elíes estòo ean e s t a d o d e t e r e m mais que as «omuáódidades da v i d a ; taes c o m o coch.es, carroças , ' s e j e s ,* j u n t a m e n t e com todas as qua-s lidades> de vestidos de uso , e grande p a r t e d e suas p r o v i s õ e s , c o m o queijos , t o u c i n h o , c a r n e s d e
salmoura , cerveja c o m flor de luparo , ou sem ella , é vinho d e m a ç a n s e m m u i t a quantidade , e flor de f a r i n h a , e biscouto, <. q u a n d o são bara-f tos. Seus .negros t a m b é m são m u i t o proveitosos a este respeito',-1 pois - ridículo- c o m o h e seo
Vesti-d o , consommem i m m e n s a q u a n t i Vesti-d a Vesti-d e Vesti-de-pannos d e linho pintados , hollandas listradas , fustões , c o b e r t o r e s para as c a m a s , baetas compridas pa-r a vestidos d e a q u e c e pa-r , chapeos gpa-rosseipa-ros, bapa-r- bar-r e t e s de l ã , lenços de algodão , e s e d a , f a c a s , n a v a l h a s , fivelas, c a c h i m b o s , apparelhos d e pes-» e a r , vidrilhos , linhas , agulhas , alfinetes, e innumeraveis outros artigos , t u d o d é f u n d o , o u .manufacturas Britannicas. Como a compra destas cousas h e s o m e n t e limitada pelos meios de as adquirir , fica por isso m e s m o e v i d e n t e , q u e á p r o p o r ç ã o , que estas Colônias p r o s p e r a r e m , os fornecimentos da Gram Bretanha augmentaráò e o n t i n u a m e n t e , e m m a n e i r a q u e tudo , o que contribuir a a u g m e n t a r a prosperidade dos ha--, b i t a n t e s , o u b r a n c o s , ou negros destas I l h a s , ex-t e h d e r á n ao m e s m o ex-t e m p o neqcessariamenex-tJe , e prolongará o c o m m e r c i o Britànnieo. v
>\ Mas não nos devemos e s q u e c e r , q u e , como o Assacar , .aguardente, e melassos , e igualmen-t e o algodão, a n i l , p i m e n igualmen-t a , m a h o g a n y , .amorei-r a dos tintu.amorei-rei.amorei-ros ,*• e n^l.amorei-ruma palav.amorei-ra tudo o que vem destas p l a n t a ç õ e s , são mercancias volumo-«as, r e q u e r e m , e émpregâo i m m e n s a q u a n t i d a d e
SÍOASÍET mivW&min2Ür;ao'- ASSUCAR. L) a ^ s
«íe navios,>cujos fretes de ida', e volfa, seguros ,-commissões , e p e q u e n o s e n c a r g o s , são todos pa-gos pelos habitantes destas Ilhas , e recebidos por mercadores , e feitores Brptannicos , e quantos mais elles f o r e m , maior:s-erá; o beneficio ,
que-tiraráô os vassallos Britdnnivos, > em conseqüência da l e i , pela qual todas as ptodueções destas Colô-nias Britannicas,. ficão effectivamente seguras á Gram Bretanha. D e v e m o s t a m b é m m e t t e r nesta linha de conta: a grandíssima r e n d a , que d e s t o
commercio* provém1 a n n u a l m e n t e pára a coroa r
e q u e se a»ugnientará c o n t i n u a m e n t e >, se esse c o m m e r c i o se e x t e n d e r por qualquer modo. ..'t
Se e m summa considerarmos a t t e n t a m e n t e „ q u e á industria só se d e v e attribuir a riqueza r e a l d e h u m a n a ç ã o , e J q u e n e m a fertilidade d o t e r r e n o , n e m a excellencia do e l i m a , e n e m m e s m o o número»do p o v o , se não for u t i l m e n t e e m pregado , p ô d e dar força a h u m estado , ou s e -gurar paz , e i n d e p e n d ê n c i a aos indivíduos r d o
qü«; cóm tudo deve sempre d e p e n d e r sua feli-cidade : se resolvermos em? nossos espirites , q u e espantosa1 variedade de corhmercios sustentâo*se
diariamente c o m ; a>s petições, dos mercados d a África.' e das índias Occidentaes ,. pois muitos delles'dafei-tiverão sua origem- v se reffecti*mos> sobre as mrmerosas famílias desses officiaes , e* artífices'pque--' assim se-ímgmíéinj , e contemplar-mos a afbastança ' ie a b u n d â n c i a , que h e a cons-t a n cons-t e ,'fe-ju'scons-ta recompensa de seos incessancons-tes cons- tra-balhos r se combinarmos c o m estas as diversas t r i b u s dê povoíuítivo*, e o c c u p a d o , que se e m -prega c o n t i n u a m e n t e e m construir , concertar^ l a z e r ràac^mes''' e p r o v e r , e esquipar a multidão-d e m a r i n h e i r o s , ^que ganhâo s e o s salários- riave* -ii...
gan^-2 Í C O N S I D E R A Ç O E S C J L gan^-2 Í D I D A S "
g a n d o , e o prodigioso povo m i ú d o , que o b t é m seo sustento, c a r r e g a n d o , d e s c a r r e g a n d o , e fa-zendo outros trabalhos neccessarios n o s navios : se nos lembrarmos , <que a subsistência de todas estas o r d e n s , -e classes dèY h o m e n s , u t i l m e n t e
empregados , constitue h u m novo fundo , que? sustenta os interesses t e r r i t o r i a e s , e mercantis , deste paiz , q u e seos varias c o n s u m m o s contri-b u e m a elevar o valor das terras , a acontri-briu hum» m e r c a d o regular , e c o n s t a n t e , para immensas quantidades de n o s s o s gêneros nativos , e igual-m e n t e a p r o c u r a r saída para nossas innuigual-meraveís m a n u f a c t u r a s , e q u e tudo isto h e igualmente re-g u l a r , p e r m a n e n t e , e c e r t o ; podemos , disso formar h u m a idéa c o m p e t e n t e da prodigiosa va-i lia de nossas Colônias d e Assucar , e conceber, j u s t a m e n t e sua immensãri i m p o r t â n c i a , para a grandeza , e prosperidade desta sua m e t r ó p o l e , a q u e m pela circumstancia desta relação ellas pa-r gâo contentes•_tão prodigiosos-tributos.
O m e t h o d o usual de tratar estas matérias-? para. as p ô r no ponto de vista o mais, cjgro e lu-m i n o s o , t e lu-m sido reduzir os lucros do ralu-mo par-ticular de c o m m e r c i o , que se c o n s i d e r a , a algu-m a sorte d e c a l c u l o , no qual c o algu-m tudo coalgu-moen-. t r a n e c c e s s a r i a m e n t e alguma p a r t e , e-muitissi* m a s vezes grande quantidade- d e supposiçâo , e se asseverão muitas cousas ^ cuja v e r d a d e ( b e m q u e real y p ô d e , s e r mui:difficil , se não.for im-possível de p r o v a r ; p o r , i s s o as peesoas àet juízo
critico fazem frequentissimamertte p o u c a monta delle. Todavia h e de esperar , q u e , b e m consi-d e r a consi-d a s toconsi-das as c i r c u n s t a n c i a s , se ha consi-d e conr c e d e r , q u e - o que se segue ^a respeito da Ilha de ^Barbada., a mais;antijgti'; de nossas Colônias de
As-;SOBRE A NATUREZA DO ASSUCAR. *?/•
Assucar das índias Occidentaes , fica antes mui-to a b a x o , do que-^além dos limites da verdade. Excluamos tudo o que delia tirou o povo da In-glaterra, antes da r e s t a u r a ç ã o , e avaliemos seu p r o d u c t o desde mil seiscentos e s e s s e n t a , a t é
mil setecentos e sessenta , a dezeseis barricas d e Assucar , que fazem doze mil toneladas an-n u a l m e an-n t e , e omittian-ndo ian-nteiramean-nte as aguar-d e n t e s , ou e s p í r i t o s , melassos, algoaguar-dão ,-gengi-bre , aloes , e todas as outras mercadorias da I l h a , reputando-se isto a vinte libras a tonelada , mon-tará a duzentas e q u a r e n t a mil libras poranno, ou a vinte e quatro milhões de libras esterlinas, o u ganhos , ou poupados por esta n a ç ã o , no dis-curso do s é c u l o , o q u e , considerando-se não ser a Barbada m a i o r , que a Ilha de Wight , deve parecei* h u m a somma espantosissima ; e com tu-do em prova da moderação deste computo , seria fácil nomear h u m author muito intelligente, q u e antes do fim do ultimo século affirmou, que c o m a posse da Barbada , não tínhamos ganho no t e m p o , em que escreveo , menos de trinta mi-lhões. Porém aindaque h e possível, que seu zelo o levasse h u m pouco longe , não fica o menor lugar para d u v i d a r , que os melhores juizes, p e -los quaes se deve e n t e n d e r , os que são mais bem versados nesta casta de cousas , e q n e c o n h e c e m t a m b é m melhor este commercio , não hajão de concorrer a fixar o total cie nossos lucros , du-rante o período sobredito, a n t e s á-trinta , d o q u e á vinte e quatro milhões.
Concluamos esta parte de nosso projecto, com humas poucas de observações geraes , as quaes , pelo que se já disse , não podem deixar d e ser clara, e plenamente comprehendidas. ,
2.5 C O N S I D E R A Ç Õ E S C Â N D I D A S
E m primeiro lugar a g o r a , por h a v e r melhor c o n h e c i m e n t o da matéria , se obvia incontestavelmente á velha objecção , que por alguma a p -parencia de verdade tinha c e r t o gráo de peso antes de se e n t e n d e r inteiramente este o b j e c t o , a qual consiste em dizer-se , que indo o povo para nossas plantações , enfraquece a metrópole. A q u e l l e s , que se retirão para nossas p l a n t a ç õ e s , fazem-no , ou por principio de n e c c e s s i d a d e , ou com vistas de fazer fortuna. N o primeiro c a s o , não poderião , e no segundo não quererião ficar em sua pátria : e m maneira , que quando consi-deramos a t t e n t a m e n t e as conseqüências de sua ida para as plantações , isto h e a conseqüência d e l i a , a respeito da Grarn Bretanha; em vez de darmos por perdida semelhante gente , devemos consideralla, como preservada a este paiz o que não aconteceria , se não fossem nossas planta -ções. Porque seguramente muito melhor he ago-ra paago-ra esta n a ç ã o , mais especialmente a respeito dos habitantes da parte Septentrional desta I l h a , q u e se r e t i r e m e m tão grande numero para nos-sas Colônias, do q u ê quando se espalhavão pela Rússia, e ainda pela Ásia, a exercitar as Artes m e c h a n i c a s , supprião de Soldados a Suécia, França, e Hollanda , ou carregavão de mendigos o vasto Reino de Polônia. Além de que d e n -tre elles, os que conseguem os seos fins , e tem a felicidade de sobreviver , tornão geralmente pa-ra a pátria , o que de outros paiz.es, pa-rapa-ras vezes faziâo, ou podiâo fazer; não pode por tanto des-ta causa nascer temor de despovoaçâo justo, ou b e m fundado.
E m segundo lugar, este modo devisitar nos-sos, territórios mais distantes , longe de diminuir
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os habitantes da metrópole, he h u m , e na verdade o principal» meio de augmentar nossa povoa -ç ã o , provendo-nos de tão vasta variedade de niet h o d o s , para obnieterse h u m a subsisnietência c o m m o d a , pela lavoura, e i n d u s t r i a , neste p a i z ; m e t h o -d o s , que antes -de termos estas p l a n t a ç õ e s , erào i n t e i r a m e n t e desconhecidos , e q u e vão continua-m e n t e crescendo , á proporção , que cresce o c o m m e r c i o , com as nossas Colônias. Por este m e s -m o p r i n c i p i o , póde^se verdadeira-mente affir-mar, q u e Corno as plantações fazem , que não sejào perdidos para este p a i z , a habilidade, e trabalho dos q u e para lá v ã o , o quesuccederia , se fossem para outra qualquer pai t e , assim fornecendo gran-de variedagran-de gran-de novos empregos , e differentes meios d e subsistência, livrâo-nos da neccessida-d e , e neccessida-de muitas neccessida-das tentaçõeíf neccessida-de nos neccessida- derramar-mos por paizes estranhos, as quaes tiverão lugar , e como se já observou, nos agitarão nos primei-ros t e m p o s ; e pela mesma r a s à o , -por c[ue Londres está sempre cheia de povo, e a Hollanda h e m a i s b e m h a b i t a d a , que outros p a i z e s , a qual vem a s e r , porque há mais meios de vida nesta Cidade, q u e e m outras partes da Gram Bretanha, e na-quella provincia , que ho resto da Europa; por essa mesma h e , que os soccorros ministrados p e -lo commercio das Colônias , consèrvão mais gen-t e na Gram Bregen-tanha, e lhe agen-tgen-trahem mais po*-v o , do que aliás teria , ou poderia manter sem esta ajuda.
E m terceiro lugar, se a industria h e , como não se d u v i d a , a riqueza de h u m a n a ç ã o , t u d o , o que a p r o m o v e , e recompensa , h e hum aug-m e n t o real de riqueza. Nós soaug-mos deaug-masiadaaug-men- demasiadamen-te inclinados a imaginar , que a Nação só pode
ga-áS C O N S I D E R A Ç Õ E S C Â N D I D A S
ganhar pelo seo commercio e s t r a n g e i r o , e pela b a l a n ç a , que delle n a s c e ; sendo entretanto c e r -tíssimo , que tudo ó q u e habilita os h o m e n s a sustentar-se na abastança , e i n d e p e n d ê n c i a , e recompensa os esforços honestos com h u m a subsistência commoda , h e riqueza ., p a r a e l l e s , tanto como para sua pátria ; quer provenha de-fina , quer a aclquirão no paiz. Isto se mostrará n o melhor ponto de vista, se considerarmos os effeitos do commercio do Assucar, a respeito da Gram Bretanha , e da França. Nós primeiramen-te , isto h e no reinado de Carlos I I . consumiaJ
môs perto de mil barricas de Assucar , e expor-távamos mais do dobro dessa quantidade ; no fim cio ultimo século consumíamos perto de vin<-te mil barricas, e exportávamos quasi outro tan-í t o . Agora consumimos perto de oitenta mil bar-ricas , e exportamos muito pouco , excepto em tempo de guerra. Pelo c o n t r a r i o , os Francezes, fazem grande quantidade de Assucar, seo con-s u m m o h e pequeno , e por concon-seguinte , exportâo m u i t o em tempo de paz. Segue-se p o r é m , que r
por consumirmos oitenta m u barricas de Assu-car , e coiiseguintemente importarmos alguma cousa mais , hajamos de ganhar muito menos r
do que quando não importávamos mais d a ame-tade desta quantidade? N ã o c e r t a m e n t e , nós par gamos agora o A s s u c a r , como. em. outro- tempo,. isto he , pagamo-lo com as nossas mercadoriasr
e manufacturas , e por todos os outros meios aci-ma descritos ;. temos por tanto agora lucro dbrado , do que tínhamos antigamente ;, e se o-eonsumimos , h e causa disto o augmento de nos-sa industria, isto h e , d e nosnos-sa riqueza. Se a ri-queza da França fosse i g u a l , ou tão geralmente.
SOBRE A NATUREZA DO ASSUCAR. Z§
derramada, isto he , se a massa de seo povo fos-se toda empregada, e por isso tão abastada, co-mo he actualmente o grosso da Nação Britanni-*
ca, ella consumiria por conseguinte muito mais ,
e exportaria muito menos.
No tempo, que Sir Josias Child, esse gran-de Mestre da Sciencia mercantil , escreveo seo-excedente Tratado , que agora há perto de hum século, servio-se de muitos destes argumentos, em favor de nossas Colônias de Assucar, e tra-tou, esta matéria tão ampla , e habilmente , como se podia esperar de huma pessoa de grandes ta-r lentos, e partes , extensos conhecimentos , e são juízo. Todavia com todas estas vantagens, seos escritos acharão muita opposição, e da parte dê homens astutos, perfeitamente versados em t o -das as artes de manejar as controvérsias políti-cas , insistindo em tópicos populares, ornando-os-plausivelmente, e. attribuindo- toda a decadência^ real, e supposta de diversos ramos de nosso com-mercio , somente á perda das pessoas , que se retiravão para as-plantações. Estas ,-allegavão el-l e s , nos roubava o o povo , e , como o nume-ro de homens constituiria a riqueza.,, assim como a força de huma nação, á proporção, que pros-perassem , estas plantações iriâo crescendo, e augmentando-se , em quanto a metrópole perdia gradualmente seo poder ,. e se esvaecia sua su-bstancia. Sir Josias- respondeo a todas estas tris-tes apprehensões arrasoada , e solidamente ; elle prévio , e predisse conseqüências mui differen-t e s ; e com differen-tudo só os mais jpdiciosos conhece-rão a força, de suas rasões, e por isso
seaccomo-dárão á sua opinião.
^ Mas, juntamente com seos argumentos, que*
*en-3 o CO W S l D E R AÇÕES Ç A U D I D A S
sendo fundados n a verdade , n u n c a p o d e m p e r -d e r sua força", temos h u m , q u e elle não po-dia
t e r , e q u e c o n c l u e mais q u e todos elles, vem a ser a experiência. A evidencia dos factos , ^essa evidencia , q u e não pôde m e n t i r , e q u e por con-seguinte n u n c a enganará , decidio e m favor de seus r a c i o c í n i o s , verificando suas predicções. El-l e , por sua consummada capacidade , e perfeito c o n h e c i m e n t o da n a t u r e z a , eeffeitos do commer-cio , podia , ainda na distancia d e h u m s é c u l o , discernir as felizes c o n s e q ü ê n c i a s , que em t e m -pos -posteriores nascerião de nossos estabeleci-m e n t o s . Mas nós , gozando do beneficio de suas i d é a s , e t e n d o t a m b é m visto essas conseqüências,, n ã o podemos deixar d e nos c o n v e n c e r da c e r t e -z a , e efficacia de suas causas. Se presumirmos pois descortinar h u m p o u c o mais l o n g e , e affir* m a r mais positivamente , o que podem as m e s -mas causas produzir daqui em d i a n t e , não fique-m o s por isto expostos á censura. Pois h e preci-so , que sejamos na verdade Pigmeos de enten-d i m e n t o , se montaenten-dos nos hombros enten-deste gi-gante , e fornecidos d e luzes maiores , e mais
c o n s t a n t e s , do que elle o b t e v e , s e n ã o e x t e n d e r alguma cousa nosso p r o s p e c t o , e os objectos se t o r n a r e m proporcionalmente mais claros.
Por estes princípios , h e que nos aventura-m o s a affiraventura-mar, não que os habitantes da Graaventura-m Bretanha estão mais ricos, m e r a m e n t e por con-s u m i r e m o i t e n t a mil barricacon-s d e Acon-scon-sucar , em vez de m i l ; mas s i m , q u e este augmento de nos-so consumo h e prova indubitavel do crescimen-to de nossas riquezas , c o n s e q u e n t e m e n t e de nos-so commercio e considerando quão grande par-t e despar-te se origina de nossas Colônias, par-temos a
SOBRE A NATUREZA DO ASSUCAR. 5 I
mais c o n v i n c e n t e , e c o n c l u d e n t e d e m o n s t r a ç ã o dos l u c r o s , que dellas havemos t i r a d o , e tarnbem a mais clara evidencia , que h e possível d e s e j a r , •de termos nellas os recursos mais sólidos, para
a m a n u t e n ç ã o , e extensão de nosso c o m m e r c i o , e por conseguinte preservação , e a u g m e n t o d e todas as innumeraveis v a n t a g e n s , q u e delle a p -p a r e n t e m e n t e nascem. Isto mostra igualmente , que não obstante exportar a França e m t e m p o de p a z , tão grande quantidade de A s s u c a r , c o m t u d o , c o m o isto procede visivelmente da p e q u e n h e z d e s e o c o n s u m o d o m é s t i c o , devese c o n -siderar c o m o evidencia i n c o n t e s t á v e l , de que ella não t i r o u , considerada c o m o nação , as m e s -mas vantagens de seu c o m m e r c i o , que nós , e que está agora no m e s m o estado , e m que a n t i -g a m e n t e estivemos , quando b e m que trouxéssem o s de nossas Colônias trouxéssem e n o r quantidade de A s -s u c a r , do que a g o r a , com tudo exportávamo-s pa-r a os paizes estpa-rangeipa-ros m u i t o maiopa-r quantidade dessa mercadoria , do que p r e s e n t e m e n t e faze-r m o s .
Mas nós , de bom grado c o n s u m i r í a m o s , o q u e p r e s e n t e m e n t e c o n s u m i m o s , e exportariamos t a m b é m ; e sem duvida a l g u m a , com o d i s c o r r e r do t e m p o podemos vir a fazello, em c o n -seqüência da grande accessão de terras de Assu-c a r , que adquirimos pela Paz. P o r é m antes d e mostrarmos , como se isto deve , e ha de f a z e r , h e neccessario discutir osegundo ponto p r e l i m i -n a r , â respeito das Ilhas Neutraes, mostrar como ellas chegarão a ser consideradas neste ponto de vista , e que vantagens devemos igualmente tirar
d e cessarem ellas de ser consideradas desta m a -n e i r a , e tor-narem-se daqui e m dia-nte h u m a partem
5 a C O I T S I D E R A Ç O É Í Í C A N D Í D Á S
dos territórios da Gram Bretanha, o que nos ei^ forçaremos depois por estabelecer o mais clara, e b r e v e m e n t e , que p u d e r ser.
Nós já observámos , que os Inglezes-chega.-r ã o ás índias Occidentaes p Inglezes-chega.-r i m e i Inglezes-chega.-r o , q u e os FInglezes-chega.-ran- Fran-cezes, o que c o m t u d o , os Escritores Francezes negào p o s i t i v a m e n t e , e se f u n d ã o , em t e r e m fi-xado ambas as Nações seo primeiro estabeleci-m e n t o na Ilha de S. Christovão , no estabeleci-m e s estabeleci-m o dia. I s t o , a se c o n c e d e r , q u a n t o a essa I l h a , não tem c e r t a m e n t e nada com o resto , e ainda a respei-to desta concessão , seos próprios Escrirespei-tores con-fessâo que se acharão nellaalgumas poucas depesso-a s de depesso-ambdepesso-as depesso-as ndepesso-ações,vivendo depesso-amigdepesso-avelmente com os índios Caraybes >, quando se fez esta supposta d e s c u b e r t a , em m a n e i r a , que estes Navios não forão os primeiros d e h u m a , ou de outra N a ç ã o , q u e estiverão nessas p a r t e s , e por isso ainda \ se-g u n d o esta r e l a ç ã o , devemos ir buscar mais lon-ge os primeiros aventureiros.
A verdade h e , que desde o Reinado da Rainha Isabel, até o de Carlos I. diversas pessoas de al-t a classe na Inglaal-terra, se embarcarão para se-m e l h a n t e s d e s c u b e r t a s ; e n t r e ellas podese-m nuse-me- nume-rar-se os Condes de Nottingham , Essex, Curti*, berland, Lindsey, Pembroke , Lord Baltimore,
Lord Delawar, Lord Thomas Howard, Sir Gual-ter Raleigh , Sir Roberto Dudley ( chamado na Itália D u q u e de Northumberland) Sir Ricardo Greenvile , Sir Thomas Gates, Sir Jorge Sum-mcrs , Sir Olyff Leigh , Sir Thomas Rowe, Mr. G. Percy, irmão do Conde de Northumberland, o Capitão Rogero North, irmão de Lord North, o Capitão Carlos Parker, irmão de Lord Morley, o Capitão Harcourt, e outros muitos , dos quaes
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e x p u z e r â o suas pessoas , e todos empregarão seos bens , no que então se chamava o av^mttrras ma-rítimas.
Q u a n t o aos estabelecimentos na Virgínia, Nova Inglaterra , e outras partes da America Septentrional, e nas Ilhas Bermudas, nas listas authenticas dos que contribuirão para elles , pod e m acharse os nomes poda mór pai te poda n o b r e -za , e famílias médias do reino. A.respeito porém daquelles , que sustentarão as muitas expedições para estabelecerem h u m a Colônia na Guiana, sobre o rio Surinam, cedida, como se já disse, aos Hollandezes , temos informações muito m e -nos exactas. E m conseqüência com tudo de - nos-sas differentes virgens para esses p a i z e s , viemos a c o n h e c e r , e formamos o designio de povoar algumas das Ilhas das índias Occidentaes, o q u e , segundo as melhores noticias, que podemos con-seguir ,-aeonteceo deste modo.
N o n u m e r o dos Cavalheiros, que a com pa-ra o o Capitão Rogero North k Guiana, entpa-rava M r . Thomas Warner, que adquirindo lá intimo conhecimento* com o Capitão Thomas Painton , m a r i n h e i r o muito e x p e r i m e n t a d o , este lhe sug-gerio , q u a n t o mais fácil seria fixar, e conservar e m boa ordem , h u m a Colônia em huina das p e -quena;*"' Ilhas das índias Occidentaes , desprcsa-d a s / e desprcsa-desamparadesprcsa-das pelos Hespanhoes , cio q n e neáse vasto paiz no continente , onde por falta d e sufficiente authoridade , tudo cahio em con-fusão ; e apontou particularmente a ilha de S.
Christovâo, a qual elle conhecia assàz bem , pa-r a mencionapa-r muitas boas pa-r a s õ e s , com que copa-r- cor-roborar sua r e c o m m e n d a ç à o . Morrendo este Car ; valheiro , Mr. tVarner tornou á Inglaterra em
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162o, inteiramente resoluto a pôr e m e x e c u ç ã o o projecto de seu a m i g a ; para o que associou-se com quatorze pessoas mais ( das quaes todas se podião referir os n o m e s , sendo n e c c e s s a r i o ) cu-jas, circumstancias as inelinavão a concorrer para seu desígnio , e com ellas embarcou de passagem a bordo de h u m Navio , que hia para Virgínia. D a h i e l l e , e seos companheiros derão á vela pa-ra S. Christovão , aonde chegarão em Janeiro de 162.5 , e no mez de Septembro tinhão obtido h u m a boa novidade de tabaco ( q u e devia ser seu principal gênero de c o m m e r c i o ) mas esta foi totalmente destruída por h u m furacão de vento. Vemos assim c o m o , quando , e por q u e m fof S.
Christovão colonisa.da. , e isto pela relação das
mesmas p a r t e s . - ~ Estando nesta situação o novo
estabelecimen-to , c h e g o u de Londres no Hopexvell, o Capitão Jeferson, em 18 de Março de 1624, e foi quasi por este t e m p o , q u e desembarcarão os France-zes, e começarão afazer plantações no outro la-do da Ilha. Â Colônia Ingleza teve a f o r t u n a de conservar sua segunda novidade , e tendo- com el-la carregado seo Navio, o Capitão- JVarner , dèo a vela para Londres em Septembro de 1625. He muito provável, que o Hopexvell já mencionado. ( pois achamos o m e s m o Navio empregado em viajar para alli , n o serviço*desse fidalgo ). fosse
actualmente enviado á custa do Conde de Cor* lisle , que em virtude dessa e x p e d i ç ã o , sollicitou.,. e obteve no primeiro a n n o d o Rei Carlos I . , hu-ma ordem por escrito , para se lhe concederem , por cartas patentes sellacías com o grande sellode iftglaterra^ís Ilhas Càraybes, incluindo se também a Barbada. Mas quando hia a passar-se a
SOBRE A NATUREZA DO ASSUCAR. 35
s ã o , oppoz-se-lhe o Conde dê Marlborough-, que sendo então somente Lord Ley , mas já avança-do ao lugar de Lord Thesoureiro Mór de Ingla-terra , tinha obtido no reinado p r e c e d e n t e , h u m a concessão da Ilha de Barbada, e provando ple-n a m e ple-n t e i s t o , e o t e r feito graple-ndes despesas em enviar Navios , h o m e n s , e provisões, para colo-nisar essa I l h a , o Conde de Carlisle, e m ordem a m a n e j a r , e levar avante seo negocio , fez h u m ajuste amigável com o Conde de Marlbo-roug/i,pelo qual se obrigou a pagar a elle , e a seos
herdeiros h u m a annuidade p e r p e t u a de trezentas libras por anno , em consideração de desabrir mão
d e suas pretensões , e com esta condição passou e m 1627 a p a t e n t e do Conde de Carlisle ; isto lie h u m a p r o v a , a mais p l e n a , que se pôde de-s e j a r , de que a. Barbada foi actualmente colo-"nisada no reinado de Jacques I. e se estriba e m m u i t o m e l h o r a u t h o r i d a d e , que a dos Escritores *le v i a g e n s , e Historiadores geraes. Porque
de-b a t e n d o - s e n o v a m e n t e em conselho este nego-cio , i m m e d i a t a m e n t e depois da restauração do R e i Carlos I I . , produzirão-se actualmente estas •cartas p a t e n t e s , e estes fsctos já m i u d a m e n t e ^propostos, forão todos claramente provados , c o
-m o nos infor-ma p l e n a , e a u t h e n t i c a -m e n t e o gran-d e Congran-de gran-de Clarengran-don, que c o m o Lorgran-d Chan-celler Mór , e Ministro d e Estado , considerou, aftentissimamente toda esta matéria.
Como a verdade c o n d i z , e h e sempre c o n -soante h u m a á o u t r a , assim comparando a rela-ção Franceza, e suas c o n s e q ü ê n c i a s , com a q u ê antes d e m o s , estabelecerseha plenamente a r e a -lidade , e credibi-lidade da derradeira. Os Frarí<ezes dizeniiios , que o Sieur D"Esnanibuc d e -E ii