Instituto de Física Gleb Wataghin - IFGW
Tese de Doutorado
Propriedades Físicas de Sistemas com
Interações Competitivas
RafaelMonteiro Fernandes
Orientador: Prof. Dr. Harry Westfahl Junior
GrupodeTeoria,LaboratórioNacionaldeLuzSíncrotron
Co-Orientador: Prof. Dr. Amir OrdacgiCaldeira
Departamento deFísica daMatériaCondensada,IFGW
Este exemplarcorrespondeàredaçãonaldatesededoutoradodefendidapeloalunoRafael
MonteiroFernandeseaprovadapelacomissãojulgadora(25/06/2008).
HomerSimpson,
afterLisaconstructsaperpetualmotionmachine
Thelaws of thermodynamics arevery simple:
Zeroth: Youmust playthe game.
First: Youcan'twin.
Second: Youcan'tbreak even.
Third: Youcan'tquit the game.
A Deus.
AoHarry,nãosópelaorientaçãodedicadaeimpecável,mastambémpelaamizadeconstruída
e demonstrada ao longo destes três anos. Expresso meu reconhecimento por toda a atenção
dispensadaamimepelasinúmerasevaliosasdiscussõesquetivemos,cientícasounão.
Ao Joerg Schmalian, orientadordurante o estágiode doutoradoem Ames (EUA), porsua
acolhida e pela conança depositada em mim. Agradeço sua inestimável contribuição para o
meu amadurecimentocientíco.
AosmeusprofessoresAmirCaldeira,EduardoMirandaeAntônioMansanares,portodosos
conselhoseaprendizados.
Aos meuspaisemeusirmãos,peloapoioincondicionaloferecidodesdeoprimeiromomento
noqualpenseiemseguirestacarreira. Umapoiotraduzido muitoalémdesuportematerialou
nanceiro,mas,principalmente,expressoporcarinho,reconhecimentoeincentivo.
Aos amigos com quem dividi esta parte da minha vida, compartilhando os momentos de
descontraçãoecomemoração,mastambém osdiasde aiçãoepreocupação. Seéinjusto citar
apenas algunsnomes dentre tantas pessoas importantes, mais injusto ainda, além de deveras
triste,énãocitarnenhum. Porisso,minhamençãoespecialàquelesquemeacompanhamnesta
empreitadadesdeoanode1999,Sergio,Tulio,DaviePedro. AlémdosamigosdeforadaFísica
quehátantosanosestãoaomeu lado,Carlão,Raphinha,JoõeseMarília.
Aopessoaldolamas,pelasinúmerasquintas-feirasnosbaresdeCampinas,alémdosfamosos
churrascosdemdesemana. AtodososamigosdaAPGF,pelasincontáveishistóriasjuntos. À
galeradobasquete,pelapersistênciademonstradaemtodosostreinosecampeonatosdisputados;
agoravocêsvãoprecisarencontraroutropivô.
Aos colaboradores cientícos, e, em particular, àLetícia, companheira de sala ede MnAs
pordoisanos. Registroumagradecimentoespecialpordisponibilizarasgurasdaseção2.1.
UmdosobjetivoscentraisdasCiênciasNaturaisérelacionarasestruturasdosmaisdiversos
sistemas com as funções particulares que os caracterizam. Por exemplo, no que se refere a
materiais,sejamelessintéticosoubiológicos,aciênciaestáconstantementebuscandoapredição
de diferentes propriedades macroscópicas a partir do conhecimento das suas estruturas
mi-croscópicas. Nesta tese, investigamosas propriedadesmagnéticas ede transportede sistemas
queapresentaminteraçõescompetitivasemdiferentesescalasdecomprimento. Comoresultado
desta competição, surge um estadotermodinâmico caracterizadoporumparâmetrode ordem
modulado, dando origem auma série de congurações espacialmente inomogêneas. A
termo-dinâmicadestes estadosmoduladospode serdescritapelochamadomodelode Brazovskii,que
prevêumatransiçãodeprimeiraordem,induzidapelasutuaçõesdoparâmetrodeordem,entre
afasehomogêneaeafasemodulada. HáumavastagamadesistemasencontradosnaNatureza
queparecemseencaixarnestadescrição deBrazovskii,compreendendoestruturastãodíspares
quantocristaislíquidos econdensadosdepíonsem estrelasdenêutrons. Nopresente trabalho,
investigamosdoissistemasfísicosparticulares. Motivadospelaricavariedadededomínios
obser-vadosexperimentalmenteemlmesnosmagnéticos,estudamosaspropriedadesmagnéticasde
blocosferromagnéticosdipolarescomdimensõesnitasecondiçõesdecontornonão-periódicas.
Desenvolvendo uma modelagem baseada na soluçãoda Hamiltonianade Brazovskii, pudemos
explicar, demaneirainéditaeconsistente,aestruturade domíniosmagnéticosdoslmesnos
de MnAs:GaAs, um promissorcandidato aaplicações no campo da spintrônica. Além disso,
estabelecemosuma relaçãoclaraentreofenômeno dereorientaçãomagnéticaea mudançana
forma das curvas de histerese observada nesses lmes. O segundo tipo de sistemas que
in-vestigamosforam osisolantes de Mott, cujas propriedadesde transporte foram determinadas
a partir do modelo de redes de resistores correlacionados. Considerando que a transição de
Mott térmica pertence à classe de universalidade de Ising, mostramos que a condutividade
macroscópica depende não apenas da magnetização, mas também da densidade de energia,
dandoorigemaumcomportamentodecrossover. Atravésdestesresultados,lançamosluzsobre
aaparente e misteriosaincoerência entre as previsões teóricase asmedidas experimentais
re-centes envolvendoisolantesdeMottnão-dopados. Prosseguindoparaasfasesinomogêneasdos
isolantes deMottdopados,estudamosacondutividademacroscópicadasmesofaseseletrônicas
comordenamentodecarga esméticoenemático,asquaissãoencontradasnosniquelatosenos
cupratos,respectivamente. InspiradosnosconceitosdaFísicadoscristaislíquidos,expressamos
deformabastanteintuitivaarelaçãoentreaspropriedadesdetransporteeatermodinâmicadas
One of the prime objectives of Natural Sciences is to relate the structures of systems to
their characteristic functions. For example, in what concerns materials, either synthetic or
biologic, science is constantly seeking for the prediction of dierent macroscopic properties
from theknowledgeof theirmicroscopicstructure. Inthis thesis, weinvestigatethe magnetic
andtransportpropertiesofsystemswithcompetinginteractionsindistinct lengthscales. Asa
resultofsuchacompetition,thereisathermodynamicstatecharacterizedbyamodulatedorder
parameter, originatinga set of spatially inhomogeneouscongurations. Thethermodynamics
ofthesemodulatedstatescanbedescribedbytheso-calledBrazovskiimodel,whichpredictsa
uctuationinducedrstordertransitionfrom thehomogeneousphasetothemodulatedphase.
ThereisalargediversityofsystemsforwhichtheBrazovskiidescriptionseemssuitable,including
utterly disparate structures such asliquid crystals and pion condensatesin neutronstars. In
thepresentwork,weinvestigatetwoparticularphysicalsystems. Motivatedbytherichvariety
of domains experimentallyobservedin magnetic thin lms, we study themagnetic properties
of ferromagnetic dipolar slabs with nite dimensions and non-periodic boundary conditions.
After developinga model based on thesolution of theBrazovskii Hamiltonian, we were able
to explain,in aconsistentandnovelway,the magneticdomainstructures ofMnAs:GaAsthin
lms,whicharepromising candidatesforspintronicsdevices. Moreover,weestablishedaclear
connectionbetweenthelm'smagneticreorientationandtheexperimentallyobservedchangein
thehysterisisloopsshape. ThesecondclassofsystemsweinvestigatedweretheMottinsulators,
whosetransportpropertiesweredeterminedfrom thecorrelatedresistornetwork model. After
consideringthatthenitetemperatureMotttransitionbelongstotheIsinguniversalityclass,we
showedthatthemacroscopicconductivitydepends notonlyonthemagnetization, butalso on
theenergydensity,givingrisetocrossoverbehaviour. Usingtheseresults,weshedlightuponthe
apparentandmysteriousinconsistencybetweenthetheoreticalpredictionsandtheexperimental
measurementsregardingundopedMottinsulators. Proceedingtotheinhomogeneousphasesof
dopedMottinsulators,westudiedthemacroscopicconductivity ofelectronicmesophaseswith
smectic and nematic charge ordering, which are found in the nickelates an in the cuprates,
respectively. Inspired by the concepts from the Physics of liquid crystals, we expressed in
an intuitive way theconnection between thetransport propertiesand the thermodynamicsof
Introdução . . . 1
Capítulo1. OModelo de Brazovskii . . . 7
1.1. Separação defaseseinteraçõescompetitivas . . . 7
1.2. Transiçõesdeprimeiraordeminduzidasporutuações . . . 13
1.3. Soluçãodecampomédioauto-consistentedomodelodeBrazovskii . . . 20
1.4. Flutuaçõeselásticaseoderretimentodafasemodulada . . . 28
Capítulo2. FerromagnetosDipolares com DimensõesFinitas . . . 41
2.1. EstruturamagnéticadoslmesnosdeMnAs:GaAs . . . 41
2.2. HamiltonianaefetivadeGinzburg-Landau: opapeldainteraçãodipolar . . . 45
2.3. Soluçãodecampomédioauto-consistente: diagramadefases . . . 53
2.3.1. Fasedelistras. . . 55
2.3.2. Fasetipobolhas . . . 60
2.4. AplicaçãoaoslmesnosdeMnAs:GaAs . . . 64
2.5. AlémdasimetriaIsing: omodeloXZ . . . 67
2.6. Reorientaçãomagnéticaecurvasdehisterese . . . 71
Capítulo3. Isolantesde Mott Dopados . . . 81
3.1. PropriedadesdetransporteeasfasesmicroscópicasdosisolantesdeMott: saisorgânicos, cupratoseniquelatos . . . 81
3.2. DescriçãomicroscópicadeisolantesdeMottdopadosenão-dopados . . . 88
3.3. Redesderesistorescorrelacionadoseexpansãoperturbativadacondutividade . . . 95
3.4. Transporteemcompostosnão-dopados: classedeuniversalidadedatransiçãotérmica . 101 3.5. Transporteemcompostosdopados: fasesesméticaenemática . . . 112
3.5.1. Faseesmética . . . 113
3.5.2. Fasenemática. . . 118
Capítulo4. Conclusões . . . 125
ReferênciasBibliográcas . . . 129
ApêndiceA. Transição de Kosterlitz-Thouless . . . 137
ApêndiceB. Transformação deHubbard-Stratonovich . . . 145
ApêndiceC. Paredesdedomínios deNéelemblocos ferromagnéticos dipolares . . . 151
Fasesespacialmenteinomogêneas,associadasaquebrasdesimetriastranslacionaise/ou
rota-cionais, são encontradas em uma enorme variedade de sistemas físicos, sob as mais diversas
condiçõesambientes depressão,temperaturaecamposeletromagnéticosexternos. Apesardeo
tamanhotípicodasinomogeneidadesvariardesdeescalasdecomprimentomicroemesoscópicas
até escalas genuinamente macroscópicas, são relativamente poucas as variedades das formas
destas fases inomogêneas,compreendendo umpequeno número de morfologiasbem denidas,
taisquaisfasesdelistras,debolhas,delamelasetipotabuleirodexadrez[1].
Àprimeiravista,ossistemasnosquaisestasfasessemanifestamparecemapresentarpoucos
aspectos em comum. Nos materiais de interesse da chamada Física da Matéria Condensada
Dura- supercondutores,materiaismagnéticos,isolantes deMott[2,3]- ainteraçãoeletrônica
e aenergia cinética são asprincipais responsáveis pelas suaspropriedades macroscópicas
(re-sistividade, susceptibilidade magnética, calor especíco). Contudo, nos sistemas investigados
pelaFísicadaMatériaCondensadaMole-polímeros,cristaislíquidos,microemulsões[4,5]-o
comportamentodaenergialivreédominadopelaentropia,enãopelaenergiainterna. Assim,o
contrasteentreospoucostiposdeformasassumidasporestasfasesinomogêneasealargagama
de sistemas microscópicos associados a elas sugere a atuação de algum mecanismo bastante
geral,comumatodoseles.
Osindícios experimentaiseteóricosreunidosapontamparaainterpretaçãodequeasfases
inomogêneassão manifestaçõesde conguraçõesmoduladas doparâmetro de ordem
termodi-nâmicodosistemafísicomicroscópicosubjacente[1]. Defato,asdistintasmorfologiasobservadas
podem serdescritasporcombinaçõesde vetoresdeonda damodulação demesmamagnitude,
massentidosedireçõesdiferentes. Ofatodepoucostiposdeformasseremassumidasporestas
fases estáassociado ao custo energéticodas conguraçõesreferentes às possíveiscombinações
entreosvetoresdeondadamodulação.
Nesta abordagem, a modulação do parâmetro de ordem surge como o resultado da
com-petiçãoentreinteraçõesdetendênciasdistintas,atuandoemdiferentesescalasdecomprimento
dosistema: emgeral,tem-seumainteraçãoforte,decurtoalcance,quetendeaordenarosistema
uniformemente,eoutrafraca,porémdelongoalcance,quetendeafrustraresteordenamento 1
.
Dessemodo,noqueconcerneasfasesinomogêneas,não importamostiposdasinterações
atu-antes,masapenasseucarátercompetitivo-porexemplo,ainteraçãodetrocaversus adipolar
emsistemasmagnéticos[6]ou,nocasodoscopolímerosdedibloco,acompetiçãoentrea
intera-çãodevanderWaals, quefavorece oscontatosentre monômerosdemesmo tipo,eosvínculos
1
volumétricos introduzidos pelo ponto de ligação covalente do copolímero [7]. O período das
modulações-e, conseqüentemente,ocomprimentotípico dasinomogeneidades-é, namaioria
dasvezes,umafunçãodecrescentedarazãoentreasintensidadesdainteraçãodelongoalcancee
dainteraçãodecurtoalcance,oqueexplicaavariedadedetamanhosdosdomíniosobservados.
Nossoobjetivo,nestatese,éinvestigarosefeitosdamorfologiaedatermodinâmicadasfases
inomogêneas nas propriedades macroscópicas dos sistemas a elas associados - em particular,
naspropriedadesmagnéticase detransporte. Em geral, estasestruturas inomogêneaspodem
serevidenciadasexperimentalmente por medidas deespalhamento deraios X ou denêutrons,
ou ainda por imagens obtidas atravésde técnicas de microscopia eletrônica. A possibilidade
de se correlacionara estrutura às funções destes sistemas pormeio de modelos teóricos é de
extremavaliaparaodesenvolvimentodemateriaiscujaspropriedadespossam serpreviamente
desenhadas.
No que concerne a termodinâmica das fases moduladas, o modelo analítico mais simples
capaz de capturar a essência dos fenômenos físicos envolvidos é o chamado modelo de
Bra-zovskii [8]. Nesta abordagem, as utuações de mais baixa energia do parâmetro de ordem
estendem-se ao redor de uma hiper-superfície esférica no espaço de momentos. Tal cenário
contrastacom os modelos termodinâmicos de fenômenoscríticos mais comumente estudados,
nosquaisasexcitaçõesfundamentaissedãoaoredordeumúnicopontonoespaçodemomentos
-nomodelo
φ
4
,por exemplo,isto ocorrepara
q = 0
[9]. Assim,asutuaçõesnaHamiltoniana deBrazovskiidesempenham umpapelfundamental,demodoqueaaproximaçãomaissimplesdecampomédio falhacompletamente nadescrição dodiagramade fasesdosistema. Defato,
sejausando-semétodosdecampomédioauto-consistentesousejausando-setécnicasbaseadas
no Grupo de Renormalização, mostra-se que as utuações do parâmetro de ordem induzem
umatransiçãode primeiraordementre afasedesordenadaeafasemodulada,dandoorigem a
fenômenosforadoequilíbriocaracterísticosdestetipodetransição,comonucleaçãoehisterese.
Háque se mencionar que aHamiltoniana de Brazovskiisurge não sóno âmbitoda Física da
MatériaCondensada,mastambémemsistemas deinteressedaFísicadeAltasEnergias,como
oscondensadosdepíons emestrelasdenêutrons[10].
UsandoosresultadosdomodelodeBrazovskii,estudamos,primeiramente,aspropriedades
magnéticas e a estrutura de domínios de lmes nos magnéticos crescidos sobre substratos
semicondutores,umtipodesistemacompossíveisaplicaçõesnopromissorcampodaspintrônica.
NossooutrointeresseénaspropriedadesdetransportedosisolantesdeMottantiferromagnéticos
dopados, os quais apresentamfases eletrônicas semelhantes às fases esmética e nemática dos
cristaislíquidos,equepodemserdescritaspelaHamiltonianadeBrazovskii.
Nocapítulo1,apresentamosascaracterísticasgeraisdomodelodeBrazovskii,queconstitui
oprincipal instrumento para a subseqüente investigação das propriedadesmacroscópicas dos
sistemas com interações competitivas de nosso interesse. Mostramos como a competição de
interações em diferentes escalas dá origem a uma Hamiltoniana efetiva de Ginzburg-Landau
cujoestadomaisestávelcorrespondeaumafasemodulada. Estudandoosefeitosdasutuações
demaisbaixa energiado parâmetrode ordem,indicamos comoatransição desegundaordem
entre afasedesordenadaeamodulada, previstapelaabordagemdecampomédio,éfrustrada
apre-sentamosasoluçãodecampomédioauto-consistentedaHamiltonianadeBrazovskii,que será
utilizadadurante todoo trabalho, comparando-a,qualitativamente,comsoluçõesoriundasde
outros métodos, como o Grupo de Renormalização e simulações numéricas. Por m,
inves-tigamos o efeito de outros modos de utuação do parâmetro de ordem no diagrama de fases
descritopelasoluçãoauto-consistente -emparticular, focamosnasutuaçõeselásticas dafase
de listrasbidimensional. Baseamo-nosna abordagemde Toner e Nelson[11] parademonstrar
que,naausênciadecamposcristalinosfortes,afasedelistraséderretida,dandoorigemauma
fase nemática - isto é, uma fase que não possui ordem de (quase) longo alcance posicional,
mas apenas ordem de (quase) longo alcance orientacional. Incluindo a atuação dos defeitos
topológicos,indicamoscomoafasenemáticasofreumatransiçãodeKosterlitz-Thoulessparaa
faselíquidaisotrópica.
Ocapítulo2édedicadoaoestudo dosefeitosdetamanhoedascondiçõesdecontornosobre
aspropriedadesmagnéticasdeumblocoferromagnéticodipolarcomlarguraeespessuranitas.
A motivação experimental reside na intrincada estrutura de domínios dos estreitos terraços
ferromagnéticos que são observados nos lmes nos magnéticos de MnAs crescidos sobre o
substratosemicondutorGaAs,paraumlargointervalodetemperaturasdecoexistênciadasfases
α
eβ
. Mostramoscomo ainclusãodasinteraçõesdeIsing edipolar, bem comodascondições decontornodeDirichletapropriadas,levamnaturalmenteàHamiltonianadeBrazovskiiemumespaçode momentosde dimensões nitas. Generalizando asoluçãoauto-consistente para este
caso, obtemos que atransição de primeira ordem induzida por utuações continua aocorrer,
apesarda discretizaçãodaoutrorasuperfíciecontínuademínimaenergiada Hamiltoniana,ao
redor daqualatuamasexcitaçõesmenosenergéticas. Demonstramos que,demaneirageral,a
fasedelistrascommenormodulaçãoaolongodadireçãolimitadaéamaisestável,einvestigamos
os efeitos de comensurabilidade entre a largura do bloco e o período da modulação sobre a
estabilidadedasfasesobtidas.
AplicandoesteferramentalmatemáticoaocasoconcretodoMnAs:GaAs,propomosuma
ex-plicaçãoconsistente paraonúmerodedomínios observadodentrodosterraçosferromagnéticos
apartirdeimagensde microscopiade forçamagnética(MFM),nointervalo dealtas
tempera-turas daregiãodecoexistência. Paradescreveraestruturadedomíniosnointervalodebaixas
temperaturas da região de coexistência, consideramos o caráter vetorial dos spins do bloco,
desenvolvendoumfuncionaldeGinzburg-LandauparaomodeloXZdipolar. Emseguida,
inspi-radospelosresultadosdaminimizaçãodaHamiltonianaefetivaobtida,concebemosummodelo
fenomenológico capaz de descrever o fenômeno de reorientação da magnetização do terraço,
observada nas imagensde MFM. Aplicandoo métodode Stoner-Wohlfarth [12], relacionamos
estareorientaçãocomamudançanaformadascurvasdehistereseobtidasapartirdemedidas
deespalhamentoressonantederaiosX.Osresultadosapresentadosnestecapítuloderamorigem
atrêsartigos,quejáestãopublicados[13,14,15].
Nocapítulo3,exploramosaspropriedadesdetransportedeisolantesdeMott
antiferromag-néticosdopados-emparticular,consideramosóxidosdemetaisdetransição,comooscupratos
eosniquelatos. Paracertasconcentraçõesdedopantes,háfortes indíciosexperimentaisdeque
estes compostos apresentam fases com listras ricas em buracos alternadas por listras pobres
maiornas listras ricas em buracos (mais condutoras)do que em relação àslistras pobres em
buracos(menoscondutoras). BaseadosnostrabalhosdeKivelsonetal. [16],argumentamosque
estafasedelistras podeserdescritapelo modelodeBrazovskii, eusamosasoluçãodecampo
médio auto-consistente para descrever sua termodinâmica. Resolvendo perturbativamente o
problema de uma rede inomogênea de resistores correlacionados, obtemos uma expansão da
condutividade macroscópica da fase inomogênea em potências do contraste entre as
condu-tividadesmicroscópicas das diferentes fases. Atravésdesta expressão,mostramos que, para o
casodeuma fasede listras comordenamento esmético, oespectrode utuações particulardo
modelode Brazovskii éreetido pelo comportamento anisotrópico do saltona condutividade,
que ocorreconcomitantemente à transição de primeira ordem. Os resultados obtidos trazem
novoselementos para oentendimento das propriedadesde transporte dosniquelatos, além de
forneceremprevisõespassíveisdeseremvericadasexperimentalmente. Parafazercontatocom
osexperimentos envolvendooscupratos, aplicamosomesmoformalismoparaocasoemque a
fasedelistraséderretidapelasutuaçõeselásticas,dandoorigemaumordenamentonemático.
Demonstramos a existência de uma relação linear entre a anisotropia da condutividade e o
parâmetrode ordem nemático, oferecendo uma explicação mais simplese mais intuitiva para
asua ocorrência do que a encontrada na literatura [17], onde são consideradas as utuações
quânticas,enãoclássicas,dasparedesdaslistras.
Ainda neste capítulo, o mesmo formalismo geral da expansão perturbativa da
condutivi-dadede uma redede resistorescorrelacionados éusadopara investigarumoutro problema, a
saber,a classede universalidade datransição de Mott térmica, associada aisolantes de Mott
não-dopados. Este problemafoi propostopelo Prof. Dr. Joerg Schmalian, doLaboratóriode
Ames, na ocasião domeu estágiode doutorado sanduíche no exterior,e realizado em
colabo-raçãocom o grupoliderado pelo Prof. Dr. Eduardo Fradkin, da Universidade de Illinois em
Urbana-Champaign. Atemperaturasnitas,osisolantesdeMottnão-dopadostambémpodem
formar fases inomogêneas, mas que não estão organizadas em listras ou em qualquer outro
padrão. Apesar de haverinterações competitivas neste problema, asescalas de comprimento
associadasaelasnão sãomuitodiferentes -primeirosvizinhosparaotermodehopping elocal
para o termo de Hubbard. Usando resultados de investigações teóricas prévias, descrevemos
atermodinâmica da fase inomogênea ao longo da linha de coexistência, formada porregiões
metálicaseisolantes,porumparâmetrodeordemdeIsing. Emseguida,mostramosque, perto
do ponto crítico, a condutividade macroscópica do sistema depende não só da magnetização,
mas também do comportamento singular da densidade de energia, dando origem aum
com-portamento decrossover. Depossedestes resultados, revisitamosexperimentosrecentes sobre
medidas de condutividade em sistemas bi e tridimensionais próximos da transição de Mott,
mostrandoqueosexpoentesnão-convencionaisporeles obtidospodem,de fato,seratribuídos
àclassedeuniversalidadedeIsing. Apesquisaenvolvidanocapítulo3resultouemdoisartigos
[18,19],sendoqueoprimeirojáestápublicadoeosegundoestásubmetidoparapublicação.
Porm,ocapítulo4trazasconclusõesgeraisdatese,bemcomoasperspectivaspara
inves-tigaçõesposteriores. Quatroapêndicesesmiuçamconceitosque foramapenas tangenciadosno
textoprincipal,asaber: atransiçãodeKosterlitz-Thouless,intimamenterelacionadaàexcitação
aqualpodemserobtidasHamiltonianasefetivasdeGinzburg-LandauapartirdeHamiltonianas
microscópicas (Apêndice B); o cálculoda largura das paredes de domínio de Néeldos blocos
ferromagnéticosdipolaresnitosatravésdaminimizaçãodaenergiatotal(ApêndiceC);omodelo
dasredesderesistoresaleatóriosnolimitedecontrasteinnito,cujaspropriedadesdetransporte
possuemumaíntimarelaçãocomaspropriedadesfractaisdoaglomeradopercolativoincipiente
O Modelo de Brazovskii
Neste capítulo, será introduzido o modelo de Brazovskii, no qual se fundamenta a maior
parte da pesquisa apresentada nesta tese. Trata-se de ummodelomínimo capaz de capturar
asprincipais característicasfísicasde umsistema cominteraçõescompetitivas,equetem sido
utilizado não sóno contexto desistemas fortemente correlacionados - objetos de investigação
deste trabalho- mas tambémna chamadaFísica daMatéria CondensadaMole, relacionada a
polímeros,microemulsõesecristaislíquidos. Apresentamos,noquesesegue,ascaracterísticas
geraisdomodelo, discutindosuaemergêncianadescriçãode sistemasde origenstãodistintas.
As propriedadesfísicas dos sistemas descritosporele serãocalculadaspela solução de campo
médioauto-consistentedaHamiltonianaefetiva,queforneceumcenáriosicamenteconsistente
ematematicamenteconávelparaseremdiscutidasasprediçõesmaisabrangentesdestemodelo.
Porm,serãoapresentadosincrementosaestaaproximaçãoatravésdainclusãodeoutrosmodos
de utuação usualmente presentes nesse tipode sistema - os chamados modos elásticos - e o
mecanismopeloqualelesalteramodiagramadefasesprevistopelo métodoauto-consistente.
1.1. Separação de fases e interações competitivas
Inúmerossistemas físicos apresentama tendência ase auto-organizaremem fases de
equi-líbrionãotriviais,ouseja,fasesquenãosãomeramenteuniformes,mascaracterizadasporuma
intrincada estrutura dedomínios de extensõesespaciais quevariamdaescalados nanômetros
à escala dos centímetros [1]. Por exemplo, em sistemas quase-bidimensionais, fases do tipo
listras (doinglêsstripes)surgememcompostosde óxidosde metaisdetransição dopados[20],
enquanto fases do tipo bolhas são observadas em lmes nos magnéticos sujeitos a campos
magnéticos externos [21]. Já no caso tridimensional, copolímeros de dibloco mostram fases
lamelares, cúbicas oucilíndricas com simetriahexagonal[22] e microemulsõesapresentam
es-truturaslamelaresdeauto-organização[23]. Alémdestes,váriosoutrossistemastêmestruturas
morfológicassimilaresàsdescritasanteriormente,tanto nodomíniodaFísicada Matéria
Con-densadaDura-porexemplo,lmesdesupercondutorestipoIeferrouidos-quantonodomínio
daFísicadaMatériaCondensadaMole-lmes deLangmuir,cristaislíquidos,uidossobuma
instabilidade de Rayleigh-Bénard(verreferênciascitadas em [1]). Uma interessantediscussão
sobreosparalelosentreestasduasgrandessub-áreasdaFísicadaMatériaCondensadapodeser
encontradaem[24].
Figura1.1. Fasestipolistras(esquerda)etipobolhascomsimetriahexagonal(direita)emumsistema
bidimensional. Coresclaras eescuras diferenciam domínios nos quaiso parâmetro deordem assume
diferentesvalores.
sistemas.Contudo,asestruturasmorfológicasobservadaspodemserclassicadasemumnúmero
relativamenterestritodepadrõesgeométricos: em duasdimensões,vericam-seprincipalmente
aexistênciadefasesdotipolistrasedotipobolhas,enquantoqueparasistemastridimensionais
aparecemas fases lamelares, as cilíndricas hexagonais e asesféricas cúbicas. Esta evidência,
portanto, apontapara uma origemfísica comumaestasestruturas dedomínios mesoscópicas.
Taluniversalidademorfológica,porassimdizer,éatribuídaàmanifestaçãodefasesmoduladas
resultantesdacompetiçãodeinteraçõesemdiferentesescalasdosistema.
Fisicamente, o que ocorre é que, enquanto uma interação forte de curto alcance tende a
separarosistemaemduasfasesmacroscópicasdistintasdemodoaevitaroaltocustoenergético
dacriação de paredes de domínios, uma outra interaçãomais fraca, porémde longo alcance,
tende a frustrar a formação destes extensos monodomínios. O resultado desta competição é
queafasedemenorenergianãoémaisauniforme,massim umestadomoduladocujoperíodo
característico é uma função monotonicamente decrescente da razão entre as magnitudes das
interaçõesfraca eforte. Assim, a separaçãode fasesem escala macroscópicadá lugar a uma
auto-organização em que as fases se alternam em escalas mesoscópicas. Neste contexto, as
estruturasdedomínios observadasexperimentalmenteediscutidas noparágrafo anteriornada
maissãoquemanifestaçõesdediferentestiposdemodulação. Porexemplo,asfasestipolistras
em
2D
e as lamelares em3D
podem ser entendidas como as mais simples fases moduladas que osistema pode assumir, resultantes de uma modulação unidimensional do parâmetro deordem. Já as fases do tipo bolhas em
2D
ou as cilíndricas hexagonais em3D
podem ser descritascomopadrõesde modulaçõesoriginadosdacombinaçãode múltiplosvetoresdeondademesmomódulo. A gura1.1ilustraalgunsdestesdistintospadrõesmorfológicos.Ficaclaro
queinúmeras fasesmetaestáveispodem surgirnesse cenário, abrindoinclusiveapossibilidade
deocorrênciadecomportamentosnão-ergódicosintrínsecosaosistema [25].
Matematicamente,omodelomaissimplescapazdeexpressaraenergiadeummicroestado
inomogêneodeumsistemacujafaseordenadaémoduladaécaracterizadopor:
H [φ] =
Z
d
d
x
"
τ
0
2
φ
2
(~x) + φ (~x)
∇
2
+ q
2
0
2
8q
2
0
φ (~x) +
u
4
φ
4
(~x)
#
,
(1.1)em que
φ (~x)
denota o parâmetro de ordem,q
0
é o módulo do vetor de onda descrevendo a modulaçãodafaseordenadaeτ
0
eu
sãoparâmetrosassociadosàsparticularidadesmicroscópicas dosistema. Namaior parte doscasosde interesse,τ
0
éuma funçãolinear datemperaturae,referirmosàfunção
H
, chamá-la-emos deaHamiltonianade Ginzburg-Landaudo sistema [9]. Contudo, deve-se terem mente queela nãoéaHamiltonianamicroscópicapropriamentedita,mas sim um funcional efetivo, resultante de uma expansãoem potências de
φ
, que fornece a energiadomicroestadoφ (~x)
emunidades daenergiatérmicak
B
T
. Paraaexpansãoparticular (1.1),caevidentequeseestáassumindoumsistemacomsimetriaporinversões,eportantonãohá campos conjugadospresentes. Neste contexto,afunção departição
Z
do sistema éobtida atravésdaintegraçãofuncional:Z =
Z
Dφe
−H[φ]
.
(1.2)
Asoluçãoauto-consistentedaHamiltoniana(1.1),bemcomooseudiagramadefases,foram
estudadospioneiramenteporBrazovskiinocontextodecristaislíquidos colestéricos[8],motivo
peloqualvamos nosreferira(1.1)comoaHamiltonianadeBrazovskiidaquipordiante. Antes
deinvestigarmossuaspropriedades,vamosdiscutircomoelasurgenaturalmentenadescriçãode
uma variedadede sistemasfísicosdiferentes. Especicamente,focaremosnosóxidos demetais
de transição dopados [26], em lmes nos magnéticos com forte anisotropia uniaxial [6], nos
copolímerosde dibloco [7]enasmicroemulsões[27]. Todosessessistemas podem serdescritos
porumparâmetrodeordemescalar
φ (~x)
queassumediferentessignicadosemcadacaso: nos óxidosdopados,eledenotaautuaçãodadensidadedecargalocalemrelaçãoàdensidademédia,de modoque
φ (~x) > 0
representauma região ricaem buracos, enquantoφ (~x) < 0
representa umaregiãopobreemburacos. Noslmesnos,oparâmetrodeordemserefereàmagnetizaçãonadireçãodo eixoanisotrópico;já noscopolímerose nasmicroemulsões,ele estáassociadoàs
utuações, respectivamente, da fração de volume local de um dos monômeros e da fraçãode
volumelocaldamoléculapolar.
Conforme explicado anteriormente, a Hamiltoniana (1.1) surge de uma competição entre
umainteraçãofortedecurtoalcanceeumainteraçãofracadelongoalcance. Darazãoentreas
suasmagnitudeséquedependeoperíodocaracterísticodafasemodulada
d = 2π/q
0
. Aparte referente àinteraçãoforte podeserdescritaporumsimplesmodeloφ
4
:H
1
[φ] =
Z
d
d
x
τ
0
2
φ
2
(~x) +
~
∇φ (~x)
2
+
u
4
φ
4
(~x)
.
(1.3)Fica claro que, para
τ
0
< 0
, a energia é minimizada por uma conguração uniforme, já que variaçõesespaciaisdo parâmetrode ordem custamenergiaao sistema, devidoà presençado termo
∇φ
~
2
. Assim,no casode oparâmetrode ordemser conservado
R d
d
xφ (~x) = cte
,
como ocorrenosóxidosdopados,noscopolímeros enasmicroemulsões,aHamiltonianaacima
prevêuma separaçãomacroscópicadasfasesenvolvidas,de modoahaverapenas uma parede
de domínio. Um exemplo bastante simples relacionado à experiência cotidiana é o caso da
mistura óleo-água, que pode ser encarada como uma microemulsão sem surfactante: o óleo,
formadopor moléculasapolares,separa-sedaágua,formadapormoléculaspolares,originando
um sistema bifásico bem denido. No caso dos copolímeros de dibloco, os dois monômeros
A
eB
que compõem o copolímero também tendem a se separar em uma fase macroscópica rica emA
e outra fase macroscópica rica emB
, já que contatosAB
possuem uma atração de van der Waals menor que a dos contatosAA
ouBB
. Já no caso dos óxidos dopados, osportadoresdecargaintroduzidospelosdopantes(usualmente,buracos)delocalizam-seemuma
regiãoseparada daquela ocupadapelos spins localizadosdometalde transição,dando origem
a uma região fortemente condutora apartada de uma outra região com fraca capacidade de
conduçãoelétrica.
Na situação em queo parâmetrode ordem não éconservado, como noslmes magnéticos
comforte anisotropiauniaxial, osistema não possui nenhum vínculo adicional que o obrigue
acriar paredes de domínio, de modo que a tendência expressa por(1.3) para
τ
0
< 0
é a de umaúnicafaseuniformecomamagnetizaçãoapontandoparacimaouparabaixo,seminterfacealguma. Atransiçãodafasedesordenadaparaafaseordenadaéacompanhadaporumaquebra
espontâneadesimetria,jáqueoparâmetrodeordemescolhe arbitrariamenteumadireção,de
maneiraqueafaseordenadaperdeasimetriaporinversãoqueaHamiltoniana(1.3)possui 1
.
Enquanto a interação forte de curto alcance pode ser descrita por (1.3) para todos esses
sistemas, a interação fraca de longo alcance pode ser descrita, de uma maneira geral, pela
expressão:
H
2
[φ] = Q
Z
d
d
xd
d
x
0
e
−
|
~
x−~x
0
|
/ξ
D
φ (~x) φ (~x
0
)
|~x − ~x
0
|
n
,
(1.4) que corresponde, grosso modo, a uma interação de Coulomb blindada generalizada, em queQ
é proporcional ao inverso da permissividade elétrica eξ
D
é o comprimento de blindagem. Analisemososignicado destes termo separadamentepara cada sistema: nosóxidosdopados,a repulsão Coulombiana entre cargas de mesma espécie é quem frustra a separação de fases
ditada pela interação de curto alcance, já que o custo energético de uma fase com todos os
buracosconcentradosnamesmaregiãoseriamuitoalto. Assim,como
φ (~x)
denota autuação da densidade de carga local em relação à densidade média,Q
pode ser interpretada como a magnitude da interação Coulombiana, e os parâmetrosn
eξ
D
assumem os valoresn = 1
eξ
D
→ ∞
.Nocasodoslmesmagnéticosanisotrópicos,emque
φ (~x)
refere-seàmagnetizaçãouniaxial, asdimensõesnitasdolmefazemcomqueainteraçãodipolarentreosmomentosmagnéticossejasempre relevante. Sua tendência em desalinhá-los pode ser traduzida em uma tendência
emcriaromaiornúmeropossíveldeparedes dedomínios, frustrandoaexistênciadeumafase
uniforme,previstapor(1.3). Assim,nocontextodaexpressão(1.4),
Q
denotaarazãoentre as magnitudesda interaçãodipolare dainteraçãode troca, e osparâmetrosn
eξ
D
assumem os valoresn = 3
eξ
D
→ ∞
.Já para ocasodasmicroemulsões, aadiçãode moléculas surfactantes àmistura óleo-água
frustraaseparaçãode fasesdevidoaosvínculosestequiométricosintroduzidospelas moléculas
anfílicas. Enquanto uma de suasextremidades -a hidrofóbica- prefereseligar àsmoléculas
deóleo, a outra extremidade, hidrofílica, prefere aligação comasmoléculas polaresda água.
Dessemodo,apresençadosurfactanteoriginaumainteraçãoefetivaatrativaentreasmoléculas
de óleo e de água, que pode ser expressa por (1.4). Nesta situação,
n
assume o valor1
, a constanteQ
éproporcionalàfraçãode volumedo surfactanteeξ
D
, aocomprimento médiode suasmoléculas. Vale salientarque, comoξ
D
énito, estainteraçãoéde alcancemaisrestrito1
que aquelas relacionadas aos sistemas anteriores, em que não havia blindagem propriamente
dita. Dequalquermodo,aindaassim, elaseestende porumaregião maiorqueainteraçãode
curtoalcancedescritapelomodelo
φ
4
.
Por m, no casodos copolímeros, a interaçãofraca de longo alcancesurge devido ao fato
de a molécula composta pelos monômeros
A
eB
ser incompressível e possuir um ponto de ligação covalente. Os vínculosintroduzidos pela simples existênciadeste ponto originamumaHamiltoniana efetiva de interaçãorepulsivaentre monômeros de mesma espécie quepode ser
descrita pela mesma expressão (1.4),com
n = 1
,ξ
D
→ ∞
euma constanteQ
proporcionalà fraçãodevolumemédiadosmonômeros.Emtodosossistemasdescritosacima,oresultadodacompetiçãoentreastendênciasopostas
expressas por (1.3)e por(1.4) é osurgimento de uma fase modulada em detrimento de uma
separaçãodefases(oudeumafaseuniforme,nocasodeoparâmetrodeordemnãoser
conser-vado). Istopodeservistomaisdiretamente noespaçodeFourier: denimosatransformadade
Fourierdeumafunçãoqualquer
f (~x)
por:f
~
q
=
Z
d
d
xf (~x) e
−i~
q·~x
,
(1.5)demodoquesuatransformadainversaédadapor:
f (~x) =
1
(2π)
d
Z
d
d
qf
~
q
e
i~
q·~x
.
(1.6)NoespaçodeFourier,aHamiltonianatotalassumeaseguinteforma:
H [φ] =
1
2 (2π)
d
Z
d
d
qφ
~
q
[τ
0
+ g (q)] φ
−q
~
+
u
4 (2π)
3d
Z
d
d
q
1
d
d
q
2
d
d
q
3
φ
~
q
1
φ
q
~
2
φ
~
q
3
φ
−~
q
1
−~
q
2
−~
q
3
,
(1.7)emqueacompetição entre asinteraçõesestáexpressaunicamente pela função
g (q) = g
1
(q) +
g
2
(q)
,quecontémumtermodevidoaH
1
eoutrodevidoaH
2
. Oprimeiroéobtidodiretamente domodeloφ
4
,
g
1
(q) = q
2
, traduzindoatendênciadeosistemaminimizaraenergiaatravésda
formaçãodeumestadouniforme
q = 0
. Jáosegundotermodependedaformadainteraçãode longoalcanceemquestão;todavia,emtodososcasosdeinteresse,como umaboaaproximaçãopode-se tomar
g
2
(q) = Qq
−n
0
, em que o expoente
n
0
∈ N
depende das particularidades do
sistema. Assim,afrustraçãoéreetidapelofatodeestetermoassumirseumenorvalorapenas
quando
q
→ ∞
, oque corresponderia a um estadoinnitamente modulado. Na gura1.2, apresentamosocomportamentogeraldafunçãog (q)
comoresultadodasomadestesdoistermos individuais. Vale mencionar que, no caso em queξ
D
é nito, temos, na verdade,g
2
(q) =
q
n
+ ξ
−n
D
−1
, de modoque aaproximaçãodescrita anteriormente só éválidapara escalas de
comprimentomuitomenoresque
ξ
D
.Logo, caclaroqueafunção
g (q)
daHamiltonianatotal(1.7)encontra oseumínimopara umvetordeondacommódulonãonuloq
0
∼ Q
1
n0+2
,correspondendoaumestadomodulado. A
g
2
g
1
q
g(q)
0
q
Figura1.2. Função
g(q)
(linhasólidaemvermelho)daHamiltonianadeBrazovskiinoespaçodeFourier, equação(1.7),esuascomponentesg
1
(q)
eg
2
(q)
(linhaspontilhadas)referentesàsinteraçõesdecurtoelongoalcance,respectivamente.
q
y
q
x
q
0
Figura1.3. Superfíciedemínimaenergia
q = q
0
daHamiltonianadeBrazovskii,representadanoespaço deFourier. Porsimplicidade,mostramosocasobidimensional.édescrita,portanto,porumcírculo deraio
q
0
, conformeesquematizadonagura1.3. Através daexpansãodeg (q)
emsériedeTaylor,g (q) = g (q
0
) +
1
2
(q
− q
0
)
2
d
2
g
dq
2
q
0
,
(1.8)torna-seevidente queaHamiltonianaassumeaforma(1.7),apósconsiderarmosasimetriado
sistemaporinversõesdoparâmetrode ordem, alémde realizarum re-escalamentoapropriado
doscamposedoparâmetro
τ
0
proporcionalàtemperaturareduzida. Neste contexto,podemos expressaras diversas estruturasmorfológicas discutidas anteriormente: afase tipolistras e afaselamelarcamdescritaspor:
hφ
~
q
i =
A
(2π)
d
[δ (~
q
− q
0
ˆ
n) + δ (~q + q
0
n)]
ˆ
óxidosdemetais de transição dopados [28] lmesnos magnéticos[6] copolímeros de dibloco[7] microemulsões [27] parâmetro de ordem utuaçãona densidadedecarga local magnetizaçãoao longodoeixode anisotropia utuaçãona fração de volumedo monômero
A
utuaçãona fraçãode volumeda moléculapolar origemda interaçãoforte (curtoalcance) interação antiferromagnética entrespins localizados + delocalização dos portadores interaçãodetroca contatosAB
energetica-mentemais custososque contatosAA
eBB
(vander Waals) repulsãoentre moléculas polarese apolares origemda interaçãofraca (longoalcance) repulsão Coulombianaentre osportadores introduzidospelos dopantes interaçãodipolar magnética vínculosdevido aopontode ligação covalente; incompressibil-idade vínculos este-quiométricos introduzidos pelasmoléculas anfílicasdo surfactante fasestípicas listras;tabuleirode xadrez listras;bolhas lamelar; esféricacúbica; cilíndrica hexagonal; lamelarTabela1.1. Principais características dosquatrosistemas discutidosnestaseção: signicadofísico do
parâmetro de ordem
φ (~
x)
, origemda interação fortede curtoalcance, origem dainteraçãofraca de longoalcanceefasesmaiscomunsencontradasnestessistemas.emque
A
éaamplitudedoparâmetrodeordemen
ˆ
éumversorparaleloàdireçãodemodulação. Jáafasetipobolhaseafasecilíndricahexagonalsãoexpressaspor:hφ
~
q
i =
A
(2π)
d
3
X
i=1
[δ (~
q
− q
0
n
ˆ
i
) + δ (~q + q
0
n
ˆ
i
)]
hφ (~x)i = 2A
3
X
i=1
cos (q
0
n
ˆ
i
· ~x) ,
(1.10)emqueacondiçãoadicional
3
P
i=1
ˆ
n
i
= 0
devesersatisfeitapelosversores.Atabela1.1apresentaas principaiscaracterísticasdosquatrosistemaspormenorizadosnestaseção,asaber: osóxidosdemetaisdetransiçãodopados,oslmesnosmagnéticosfortementeanisotrópicos,oscopolímeros
dediblocoeasmicroemulsões.
1.2. Transições de primeira ordem induzidas por utuações
associadas aeste modelo. Antes de enveredarpor uma solução propriamente dita da
Hamil-toniana, vamos abordar seus aspectos mais gerais de forma qualitativa. O modelo prevê a
existênciade uma fase ordenada modulada a baixas temperaturas. A principal pergunta que
surge,então, éacercadocaráter datransiçãoentre afasedesordenada(altastemperaturas)e
estafasemodulada(baixastemperaturas).
Atentativamaissimplesdeseresponderessaquestãoconsisteemusarumaabordagemde
campomédio, que,basicamente,equivaleasubstituir o parâmetrode ordemda Hamiltoniana
(1.1) pelo seu valor médio na fase modulada. De uma maneira mais rigorosa, este método
consiste em fazer uma aproximação de ponto de sela no cálculo da função de partição (1.2),
tomando apenas a contribuição dominante do estado de menor energia
hφ
0
i
no cômputo da integralfuncional:Z = e
−H[hφ
0
i]
=
⇒
F =
− ln Z = H [hφ
0
i] .
(1.11)Porsimplicidade, focaremosna fasede listras somente, descrita por (1.9). A substituição
destaexpressãonaHamiltonianadeBrazovskiiforneceaseguinte energialivre:
F = τ
0
A
2
+
3u
2
A
4
,
(1.12)
emqueassumimosoparâmetro
u
positivoeoparâmetroτ
0
proporcionalaumacerta tempera-turareduzidaτ
0
∝
T −T
c
T
c
,demodoqueele possa mudardesinalaosevariaratemperaturado
sistema. Aenergiaassumeseusvaloresextremosparaasseguintesamplitudes
A
:dF
dA
= 0 =
⇒
(
A
0
= 0
A
±
=
±p−
τ
0
3u
(1.13)Paradeterminaranaturezadospontosextremos,calculamosaderivadasegunda,obtendo:
d
2
F
dA
2
=
(
2τ
0
para A = 0
−4τ
0
para A = A
±
(1.14)Portanto, tem-se oseguinte cenário: para
τ
0
> 0
, correspondenteaT > T
c
, oúnico ponto extremo que existe éA
0
= 0
, que é o mínimo global da energia livre. Ou seja, o estado desordenadohφi = 0
éomaisestável. Contudo,paraτ
0
< 0
,correspondenteaT < T
c
,oestado desordenadonãoémaisummínimoglobal,masummáximolocal. Omínimoglobaldaenergialivreé degenerado e ocorrepara osvalores simétricos
A
±
=
±p−
3u
τ
0
, correspondendoa uma faseordenadamodulada2
. Exatamentenoponto
τ
0
= 0
,quecorrespondeàtemperaturaT = T
c
, aenergiadosdois estadoséa mesmaea amplitudeda fasemodulada assumeomesmo valorqueo correspondente àfase desordenada, ou seja,
A
±
= 0
. Portanto,T
c
é atemperatura de transiçãodosistema. Alémdisso,comoomódulodoparâmetrodeordemvariacontinuamentena transição de fase, trata-se de uma transição de segunda ordem. A gura 1.4 apresenta a
-
2
-
1
1
2
A
5
10
15
20
25
30
F
-
2
-
1
1
2
A
5
10
15
F
-
2
-
1
1
2
A
-
2
-
1
1
2
3
4
F
Figura 1.4. Evolução do perl da energia livre
F
(1.12), apresentada em função da amplitude do parâmetro de ordemA
, com a diminuição da temperatura do sistema. A seqüência corresponde a:T > T
c
(grácosuperioràesquerda),T = T
c
(grácosuperioràdireita)eT < T
c
(grácoinferior).evoluçãodoperldaenergialivreao sediminuir atemperaturadosistema,enquantoagura
1.5mostracomoaamplitudedoparâmetrodeordemvariacomatemperatura.
Portanto, a abordagem de campo médio prevê uma transição de segunda ordem entre a
fase desordenadae afase modulada. Neste ponto, vale falar umpouco mais sobre transições
de segundaordem: a mais importante propriedade delas reside no caráter universal dos seis
expoentes críticosque acaracterizam,denidos abaixo (omitimos osubscrito datemperatura
reduzida
τ
0
parasimplicaranotação):-
6
-
4
-
2
0
2
4
6
Τ0
0.5
1.0
1.5
2.0
2.5
A
Figura 1.5. Módulo daamplitude doparâmetro de ordem
A
emfunção datemperatura reduzidaτ
0
previstopelaenergialivredecampomédio(1.12). Umatransiçãodesegundaordemocorreparaτ
0
= 0
,ξ (τ, h = 0)
∼ τ
−ν
φ (τ, h = 0)
∼ |τ|
β
φ (τ = 0, h)
∼ h
1/δ
χ (τ, h = 0)
∼ τ
−γ
C (τ, h = 0)
∼ τ
−α
χ (x
→ ∞, τ = 0) ∼ x
2−d−η
.
(1.15)
Nestas relações,
h
é ocampoconjugado,ξ
éocomprimento de correlação,χ
éa suscepti-bilidade,C
é ocalorespecícoed
éa dimensionalidadedo sistema. Estes expoentes não são independentes,poisestãorelacionadosporquatrorelaçõesdeescala:α
= 2
− dν
β (1 + δ)
= 2
− α
2βδ
− γ = 2 − α
γ
= ν (2
− η) .
(1.16)AteoriadoGrupodeRenormalizaçãoelucidaocaráteruniversaldessesexpoentes,mostrando
queelesnão dependem dosdetalhesmicroscópicosdosistema,masapenas desua
dimensiona-lidade e do número de componentes do parâmetro de ordem. O embasamento físico desta
poderosa técnica, em poucas palavras,residena existênciade uma escalade comprimento do
sistemaquesetornainvariantenopontocrítico: ocomprimentodecorrelaçãodivergente
ξ
→ ∞
(paramaisdetalhes, ver[29],porexemplo).Aabordagemdecampomédioutilizadaclaramentedesprezaasutuaçõesdoparâmetrode
ordem
δφ = φ
− hφi
aotomarapenasacontribuiçãodovalormédioparaocômputodafunção departição em (1.11). Demaneirageral, existem inúmerosmétodospara selevaremconta ainuênciadessasutuações.Porexemplo,nocasodomodelo
φ
4
(1.3),podem-seusarastécnicas
doGrupodeRenormalizaçãoparademonstrarque,apesardeocaráterdatransiçãopermanecer
desegunda ordem, os expoentes críticos sofremalteraçõesem relaçãoaos valoresobtidos por
campomédioquandoadimensãodosistemaémenorquequatro(ver,porexemplo,[30]).
Contudo,nomodelodeBrazovskii(1.1)oespectrodeutuaçõesébastantediferentedaquele
domodelo
φ
4
: enquantonesteúltimoasexcitaçõesdemaisbaixaenergiasedãoapenasemtorno
do ponto
q = 0
no espaço de momentos, no primeiro elas ocorrem em torno da hiper-esferaq = q
0
, como esquematizado na gura 1.3 anterior. Assim, há relativamente mais modos de excitaçãonomodelodeBrazovskii,indicandoquesuainuênciadevesermuitomaisdramáticado que no caso do modelo
φ
4
. A apresentação de métodos sistemáticos capazes de levar em
conta estasutuaçõessedará na próxima seção. Por ora, vamos noslimitar auma discussão
maisqualitativaacercadosresultados obtidosapósainclusãodessas utuaçõesno cálculoda
energialivre(1.12). Atravésdeummétodode campomédioauto-consistente pode-semostrar
queaenergialivreassumeaseguinte formaperturbativaempotênciasdaamplitude
A
[31]:F = τ
R
A
2
+
u
R
4
A
4
+
w
R
36
A
6
,
(1.17)-
4
-
2
2
4
Τ0
1
2
3
4
5
Τ
R
-
4
-
2
2
4
Τ0
-
1.0
-
0.5
0.5
u
R
-
4
-
2
2
4
Τ0
0.5
1.0
1.5
w
R
Figura1.6. Parâmetros
τ
R
,u
R
ew
R
daenergialivre(1.17)renormalizadospelapresençadasutuações doparâmetrodeordememfunçãodatemperaturareduzidaτ
0
.temperatura reduzida
τ
0
na gura 1.6. Enquantoτ
R
> 0
ew
R
> 0
para qualquer tempe-ratura, oparâmetrou
R
muda de sinal para uma temperaturaT
∗
ligeiramente abaixo de
T
c
, permanecendo negativo paraT < T
∗
. Esta mudança de sinal torna necessária ainclusão do
termodeordem
A
6
naexpressãodaenergialivre,jáqueeladevesersempreumafunçãolimitada
inferiormente. Vale salientar que uma equação idêntica éobtidaatravésde uma expansão do
potencialtermodinâmicoaoinvésdaenergialivre,conformedelineadoem[32].
Vamos agorainvestigarasprevisõessobreocaráterda transiçãodefasesegundoaenergia
livrecorrigidapelasutuações(1.17),comparandocomosresultadosobtidosanteriormentena
abordagemdecampomédio. Osextremosde
F
ocorrempara:A
0
= 0
A
(1)
±
=
±
−3u
R
+ 3
q
u
2
R
−
4
3
w
R
τ
R
w
R
1/2
A
(2)
±
=
±
−3u
R
− 3
q
u
2
R
−
4
3
w
R
τ
R
w
R
1/2
.
(1.18)Calculando aderivadasegundaobtemos:
d
2
F
dA
2
A=A
0
= τ
R
> 0
,
d
2
F
dA
2
A=A
(1)
±
> 0
,
d
2
F
dA
2
A=A
(2)
±
< 0 .
(1.19)-
2
-
1
1
2
A
1
2
3
4
F
-
2
-
1
1
2
A
0.05
0.10
0.15
0.20
0.25
0.30
0.35
F
-
2
-
1
1
2
A
0.05
0.10
0.15
F
-
2
-
1
1
2
A
-
0.02
0.02
0.04
0.06
0.08
F
Figura 1.7. Evolução do perl da energia livre
F
(1.17), apresentada em função da amplitude do parâmetro de ordemA
, com a diminuição datemperatura dosistema. A seqüência corresponde a:T > T
esp
(gráco superiorà esquerda),T
trans
< T < T
esp
(gráco superiorà direita),T = T
trans
(grácoinferioràesquerda)e
T < T
trans
(grácoinferioràdireita).Assim,ospontos
A = A
(2)
±
correspondemamáximoslocaisenãoestãoassociados,portanto,aestados estáveis do sistema. Como
τ
R
> 0
para qualquertemperatura, afase desordenadaA = 0
correspondea um mínimo da energia livre sempre. Entretanto, isto não signicaque estesejaomínimoglobal. Abaixodatemperaturacorrespondenteàcondiçãoτ
R
=
3u
2
R
4w
R
,aqual
denotaremospor
T
esp
,afasemoduladacujoparâmetrodeordemtemamplitudeA = A
(1)
±
passaa ser também um mínimo da energia livre. Portanto, para
T
≤ T
esp
, o sistema possui três mínimoslocais: umemA = 0
(fasedesordenada)eoutroduplamentedegeneradoemA = A
(1)
±
(fasemodulada). Paradeterminarqualdeleséomínimoglobal,bastaencontraratemperatura
T
trans
paraaqual:F
A
(1)
±
= F (0) .
(1.20)Substituindo as expressões (1.18), obtemos que a temperatura
T
trans
equivale à condiçãoτ
R
=
9u
2
R
16w
R
. Dessemodo,para
T > T
trans
,omínimoglobaldaenergialivrecorrespondeàfase desordenadaA = 0
, enquanto paraT < T
trans
ele correspondeà faseordenadaA = A
(1)
±
. Agura1.7 apresentaaevoluçãodoperldaenergialivrecomadiminuição datemperaturado
sistema.
Apartirdestes resultados,podemoscomporoseguintecenário: para
T > T
esp
,aúnicafase estáveldo sistema éa desordenada. ParaT
trans
< T < T
esp
, há duas fasesem coexistência, sendoqueadesordenadapermanecesendoademenorenergia. Nesteintervalodetemperaturas,-
6
-
4
-
2
0
2
4
6
Τ0
2
4
6
8
10
12
14
A
Figura1.8. Móduloda amplitudedoparâmetro deordem
A
emfunção datemperaturareduzidaτ
0
, previsto pela energia livre renormalizada pelas utuações (1.17). Umatransição de primeira ordemocorrepara
T = T
trans
quandoatemperaturaévariadaadiabaticamente.limitedemetaestabilidade
T
esp
édenominadadeespinodal. ParaT < T
trans
,afaseestáveléa modulada,enquantooestadodesordenadopassaaserumafasemetaestável.Casoatemperaturado sistema seja diminuída adiabaticamente, atransição da fasedesordenada para a ordenada
dar-se-á em
T = T
trans
, razão pela qual ela é denominada temperatura de transição. ComoA
(1)
±
6= 0
para qualquertemperatura, inclusiveT
trans
, atransição defase éacompanhadapor umadescontinuidadenaamplitudedoparâmetrodeordem,comomostradonagura1.8. Assim,trata-se de uma transição de primeiraordem. É importante notar que, neste casoparticular,
nãoháumatemperaturaespinodalparaafasedesordenada,ouseja,elaésempremetaestável.
Na prática, efeitos dinâmicos de nucleação não incluídos nesta abordagem determinam uma
temperaturaapartirdoqualoestadodesordenadonãoémaisacessível[32].
Ao contrário das transições de segunda ordem, as de primeira ordem não apresentam
ca-racterísticas universais. Entretanto, algumas propriedades gerais são comuns a todas elas.
Conformeexplicado anteriormente,anão serqueatemperatura dosistema sejavariada
adia-baticamente,nãoépossívelsedeterminaruma temperaturadetransição bem denida,devido
àpresençadeumintervalodetemperaturasnoqualhácoexistênciadefases. Estefenômenodá
origemainteressantesefeitosdenão-equilíbriodosistema,omaisnotáveldelessendoahisterese,
queseráabordadacommaisdetalhesnaseção2.6.
Portanto, notamos que a transição de segunda ordem prevista pela abordagemde campo
médio aplicada ao modelode Brazovskiié frustradapelas utuaçõesdo parâmetrode ordem,
dando origem a uma transição de primeira ordem. Neste caso, diz-se que esta transição de
primeira ordem é induzida por utuações [33]. Além dos sistemas descritos pelo modelo de
Brazovskii, outros sistemas também sofrem uma transição de primeira ordem induzida por
utuações,masatravésdemecanismosdistintosdo queoapresentadoaqui. Exemplos detais
sistemas são estruturas antiferromagnéticas do tipo I ou do tipo II, em que o mecanismo da
transiçãoestá associadoaoelevadonúmerodecomponentes doparâmetrodeordem, ecristais
1.3. Solução de campo médio auto-consistente do modelo de
Brazovskii
Conformeexplicado naseção anterior, asutuaçõesdoparâmetrode ordemdomodelode
Brazovskiiinduzemumatransiçãodeprimeiraordementreafasedesordenadaeafasedelistras.
Nesta seção, vamos apresentar um método analítico que, apesar de relativamente simples, é
capazdefornecerresultadossatisfatóriosacercadatemperaturaespinodaldoestadoordenado,
datemperaturadetransiçãoedodiagramadefasesreferenteàHamiltoniana(1.1).
Umagrandezafundamentalnaanálise docomportamentocríticodeumsistema éafunção
decorrelaçãoconectada:
G (~x, ~x
0
) =
h(φ (~x) − hφ (~x)i) (φ (~x
0
)
− hφ (~x
0
)
i)i
G (~x, ~x
0
) =
hφ (~x) φ (~x
0
)
i − hφ (~x)i hφ (~x
0
)
i ,
(1.21)aqual mede ograu de correlação entre asutuaçõesdo parâmetrode ordem em dois pontos
~x
e~x
'. Emumsistema comsimetriaportranslaçõesespaciais,estafunçãodependeapenasda distânciarelativa|~x − ~x
0
|
entreestespontos. UsandoosconceitosbásicosdeFísica Estatística
(ver, por exemplo, [9]), mostra-se que, para uma Hamiltoniana qualquer
H [φ]
, esta grandeza podeserobtidaintroduzindo-seumcampoconjugadoauxiliarh (~x)
:H
0
[φ] =
H [φ] −
Z
h (~x) φ (~x) d
d
x ,
(1.22)etomando-seaseguintederivadafuncional dafunçãodepartição(1.2):
G (~x, ~x
0
) =
δ
2
ln Z
0
δh (~x) δh (~x
0
)
h(~
x)=0
,
(1.23) emqueZ
0
refere-seàHamiltonianaH
0
quecontémocampoconjugado[9]. Paraocasoemque
aHamiltonianaéquadráticanoparâmetrodeordem:
H [φ] =
1
2
Z
d
d
xd
d
x
0
φ (~x) A (~x, ~x
0
) φ (~x
0
) ,
(1.24)oscálculospodemserefetuadosdiretamenteatravésdeintegraisfuncionaisgaussianas,fornecendo
oseguinteresultado:
G (~x, ~x
0
) = A
−1
(~x, ~x
0
) .
(1.25)
Entretanto, em geral,existemtermos quárticosna Hamiltonianaque impedem umcálculo
analíticoda funçãodecorrelação,exigindoaaplicaçãodemétodosperturbativos. Dentreeles,
encontram-seexpansõesem
1/N
(emqueN
denotaonúmerodecomponentesdoparâmetrode ordem), métodos que usam as técnicasdo Grupode Renormalização eabordagensde campomédioauto-consistentes.NoqueconcerneomodelodeBrazovskii,usaremosesteúltimométodo
quandocomparadocomsimulaçõesnuméricas[34, 35]. Conformeexplicado anteriormente,ele
foidelineadoprimeiramenteporBrazovskiiem [8].
Inicialmente,reescrevemosaHamiltonianadeBrazovskii(1.1)daseguinteforma:
H[φ] =
1
2
Z
d
d
xd
d
x
0
φ (~x) G
−1
0
(~x, ~x
0
) φ (~x
0
) +
u
4
Z
d
d
xφ
4
(~x) ,
(1.26) em queG
0
(~x, ~x
0
)
denota a função de correlação nua (isto é, sem levar em conta o termo
quártico):
G
−1
0
(~x, ~x
0
) =
1
(2π)
d
Z
d
d
qG
−1
0
(~
q) e
i~
q·(~x−~x
0
)
G
0
(~
q) =
1
τ
0
+ (q
− q
0
)
2
.
(1.27)Agora,escrevemosoparâmetrodeordemdaseguinteforma:
φ (~x) =
hφ (~x)i + ψ (~x) ,
(1.28)em que
ψ (~x) = φ (~x)
− hφ (~x)i
denotaautuaçãodoparâmetrodeordem, e,portanto, possui valor médio nulohψ (~x)i = 0
. Desse modo, ca evidente quea função de correlaçãotambém podeserescritacomoG (~x, ~x
0
) =
hψ (~x) ψ (~x
0
)
i
. Substituindo(1.28)em(1.26), obtemos:H[φ] = H[ψ] +
1
2
Z
d
d
xd
d
x
0
hφ (~x)i G
−1
0
(~x, ~x
0
)
hφ (~x
0
)
i +
Z
d
d
xd
d
x
0
hφ (~x)i G
−1
0
(~x, ~x
0
) ψ (~x
0
)
+
u
4
Z
d
d
x
hφ (~x)i
4
+ u
Z
d
d
x
hφ (~x)i
3
ψ (~x)
+
3u
2
Z
d
d
x
hφ (~x)i
2
ψ
2
(~x) + u
Z
d
d
x
hφ (~x)i ψ
3
(~x) .
(1.29)Retendo apenas os termos que contenham potências pares do campo de utuação
ψ (~x)
chegamosa:H[ψ, hφi] =
1
2
Z
d
d
xd
d
x
0
ψ (~x) G
−1
0
(~x, ~x
0
) ψ (~x
0
) +
u
4
Z
d
d
xψ
4
(~x) +
3u
2
Z
d
d
x
hφ (~x)i
2
ψ
2
(~x) .
(1.30)Otermolinearde(1.29)foidesprezadopois
hψ (~x)i = 0
. Jáajusticativaparasedesprezar o termo cúbico desta mesma expressão reside nofato de ovértice cúbicohψψψi
ser pequeno comparado ao vértice quadráticohψψi
, o qual fornece a função de correlação, que é nossa grandezadeinteresse.No método auto-consistente de Hartree, transforma-seo termo quártico de (1.30),
ψ
4
, no
produto
ψ
2
ψ
2
, obtendoassim uma Hamiltonianaquadrática noscampos