--A
SEGTJNDA ESCOLAVIEMNSE
CARLOS KATER
Instituto
de Artes doPla¡ulto
Universidade
Estøùnl
Paulistø-
UNESPRetorno
de
Viena ondea
'Tamosa" orquesttade Opemhaussabotou mhthzpetroucltlca.Decla¡aram
suþ. O senhor não podeimaginar
os
sat' .Os
vienen
podem tocarPeÛouchka.Eles mal conhecem Debussy e expulsaram Schoenberg para Berlim. Ora, Schoenberg é um dos maiores espíritos c¡iadores de nosso tempoz.
Essas declarações,
do
compositor
russoIgor
Stravinsky,ilustram
a intransigência e o conservadorismo reinanteno
meio musical vienense,no
início do
século. No entanto,essa
situação era
generalizada;outras
áreasdo
conhecimento encontravamse em estado semelhante, como podemos deduzir doviolento
tilulo
da revista fundada pelôarquiteto
Adolf
l¡os:
'O
outro,
umjornal
pelaintrodução da cultura ocidental
na Áustria'.Curiosamente,
foi
nesse ambiente averso ao novo, aooriginal,
que surgiram algunsdos fundamentos mais representativos
da
modernidadeocidental: Mttgenstein, Karl
Kraus,Ioos,
Kokoschka,Klimt,
Freud, Schoenberg, entre outros.Tendéncia
artística
e literdria, o expressionismo surgiu na Alemánha em 1910 comouma
rea$o
ao impressionismo, colocando-se contrao
conformismomoral
e a ordem social estabelecida. Na angustia dessaluta,
a arte tornou-se o meio de revelar aimedia-ticidade
da
existênciae de
expressara
realidade davida
interior.
Nesse sentido, o expressionismo, ao invés derejeitar
a estética romântica, apesar dos clamos revolucio-ndrios iniciais, deu continuidade e intensificou o processo de"interioriz¿ção",
caracte-ri'stico dessa estética.
Na literatura
musical, essetermo
é empregado com relativa imprecisão eambigüLi-dade. Considera-se que
o critico
e compositor austriâco Heinz Tiessen tenha sido, emjulho
de 1918, o primeiro autilizí-lo
musicalmente.Schoenberg, que dedicava considerável parte de seu tempo à pintura em
l9l0/l I
-época em que se
viu
obrigado a mudar paraBerlim
-,
logo se associou aos expressio-nistas.1c¿rtaaoc¡ítico Florence Schmitt,publicada
emLa Frønce de
2l
dejaneiro del9l3
2 TheDairy Mait, t3
lo2 |
tgl
3.T
ï
22
CarlosKater
"A
recusa emempregü
sagradostodos os procedimenlos
qu
nalidade'O
compositor
vienenseA
escrevlaquestão sua
-
estrutura de organizaSo.'A transiFo
da musicariodal
para atonal,
da monodia para apolifonia'
éum
dos,uro,
*o*.ntos
similares da hist-ória nos quais verifìcamosmodificapes täo
radicais.Desde 1904, Schoenberg tinha vários alunos, entre eles Alban Berg e Anton Webern'
Seu
himeiro
quarteto
cle-cordas (opus7)
ele compôs em 1905 baseado ainda numa-_
A
Segunda EscolaVimense
23 Sclroenbergcompôs,
em
1911,
suas Seß pe4uenas peças, parapiano (opusl9),
nasquais
a
suspensãotonal,
jd
muito
intensifìc¿dano final do
Segundo quatteto (opusl0),
atinge sua mais clara expressão.Esse caminho que
definia
os pontos-limites de sua linguagem dirige-se a uma novamúsica.
A
explora$o
cadavez mais
intensado
domihio
sonoro,via
cromatismo,resultou,
comojd
vimos, na desintegra$odo
universotonal.
Assim, as leis que haviamuito
regiam as produções musicais sofreram como conseqüência desse processo umdesgaste
ineparável,
não mais assegurandoa
continuidadede uma
evolução secular.A
partir
dessafronteira,
portanto,
novasleis
precisaram ser criadasa
fim
de
geraruma
coerência necessdria ao discurso musical, possibilitando levar a cabo a conquista sempre progressiva dodomínio
sonoro.Ao ¡enunciar à tonalidade, perdeure
o
meio mais importante utilizado na construção deobras de longa duração, pois a tonalidade era o fator principal quando se
ttata
de conferir coesiÍo formal. Era como se a luz tivese se apagado ! Era esa a nossa impressão.Nós não pudemos fazer nada para evitar a dissolução da tonalidade e nâo fomos nós que
criamos a nova lei: foi ela que se impôs (WEBERN 1984).
Todos os doze semitons da escala cromática passaram a integrar, enqu¡Into
elemen-tol
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tRIl
Cada uma das
quatro
formas seriais acima pode aindater
sua estrutura intervalar transposta aos doze graus da gama cromdtica, resultando,assim,48
possibilidades de variação ao alcance do desejo e das necessidades composicionais.3Est" é a série da Suíte Ltrica, de Alban Berg. Afora suas particularidades melódicas, elase ca-racteriza pela não-rcpetição de nenhum inter,¡¿lo è pela presença de tod¡s. Isto é,-2? mcnor,
6l
rne-nor, 39 meno¡, 7? menoi, 41 juòta, 5? diminuta, 5? justa, 2? maio¡' 6? maior,3? maior, 7? maior'I
24
Cark)sKater
Em
rigor,
a série não é um tema em si. Ela é a primeira instáncia de articulação doseventos clcnrentares
de
cardter espacial,a
partir
daqul
outrosniîeis
de æticulaçãose sucedcm, gcrando temática original e contextura própria.
Recurstt
às formas
clássicase polifônicas,
construção fundamentalmente contra-ponti'stica, predomirráncia dos intervalos de grande tensã'otonal
(evitando-se, noentan-to,
quaisquer referênciastonais)
e princþio
devariaSo
constante são os fenômenos que originalrnente estão na base da nova organização do universo musical.Obra lrpt'rs obra, os espécimes antes rudimentares
do método
dodecafônico vierama
propiciar
o
estabelecimento e aampliaSo
de seu codigo.A partir de
1925, encon-tram-se cxemplos de matruidade da técnica e do pensamento serial.por retornos ao
princþios
tonais.A
produção deAlban
Bergpor
sua vez podeser
dividida
em trés grandes fases: o perib.dodc
preparação, do opus 1 ao 6(1908-la);
a fase de realizaçoes(l
917-26),on-dejá
se crtcontramo
empregode
formas simétricase tratamentó
serialno
srntido
De
1924
-
data de suas três canções sobretextos
populares (opusl7),
nos quaisemprega
pcla primeira vez
a
récnica dodecafônica-
a
1943-'
quandoconcluiu
a4Lulu
f"r"
seu terceiro ato completado por F. Cehra e foi est¡eada assim integralmente em pa-ris, em 1979, sob a direção de P. Boulez.
sOs
argumentos de sua ôperas, llozzeck e Lulu,sî.oclaramente ca¡acterísticos dessa tendência.
6Na vcrrla<le, Josef l\,fatthias Hauer,
músico, teórico e compositor austríaco, airtecedeu Schoen-berg, dcscnvolvendo pesquisas sobre a
tbnica
dodecafônica ã descobrindo as 'leis dos doze sons' em suas próprias obras, em 1919.l-A
Segunda EscolaVienense
25Segurdn cøntata (opus
31)
-,
Webern trabalhou com obstinação. lançando-se à"con-quista" do
materialfornecido
pela natureza e considerando c¿da entidade sonora um fenômeno emsi,
dedicou-seà
busc¿ incessante damaior "coerência",manifesta
nas"leis"
que
inter-relacionam os eventos sonoros e que asseguramum contexto
de alto rigor estrutural,SATOR
AREPO
TENET
OPERA
ROTAS
Essa velh¿
fórmula latina
coma
qual Webern encerra sua palestra de 2 de março de1933, ilustra perfeitamente o ideal
formal
perseguido por ele.Nas obras
de
1927
a
1934,do
opus20 ao24,
verifica-se a abolição dafronteira
entre as dimensõesvertical
ehorizontal, maior
determinação naconcep$o
de"melo-dias de
timbres"
e momentos de grande coerência nonível
do pensamento e do discur-so musicais.Entretanto,
é do opus 26 ao 37(193543)
que se encont(a uma extraordi-náriaamplia$.o
do
universo conquistado, com explora@o das fun@es simétricasse-riais,
concepção de blocos sonoros, organizações temporais presidindo a estruturaçÍio da obra, entre outros procedimentos.Auséncia de pøthos
romántico,
importânciado
silêncio, integra@o dos planosho-rizontal
e vertical,
recursointenso
a
espelhamentos e formas polifônicas, brevidade,co€são, estes são alguns
dos
aspectos essenciais da linguagemde
Webern,os
quaisdefinem
o
quefoi
o moderno para sua época. Por isso é que Schoenberg e Berg, apesardo
valor
de suas contribuições, são mais vistos hoje como representantes doexpressio-nismo
-
portanto dofìnal
do peribdoromántico
-
e apenas Webern pode serconside-rado
o
verdadei¡o agente daruptura
com atradiSo
e o explorador de um novo univer-so.De
fato,
é eleo
inaugurador de uma nova era, à qual pertencem, a partir da metade deste século, os mais representativos compositores europeus e americanos, de Messiaen,Boulez, Cage e tantos outros ao
próprio
Stravinsky.Esse serialismo desenvolvido por Webern possibilitou a
cria$o
de importantes obrastambém
no Brasil,
inicialmente em
razãodo
trabalho pioneíro
de
Hans-JoachimKoellreutter e
dos
representantesdo
grupoMtisica
Viva,de forma
mais especilica,Cláudio Santoro, estendendo-se posteriormente a um uso mais generalizado.
O
pesoda
contribui$o
da Segunda Escola Vienense à modernidade musical podeser
melhor
compreendido pela radicalidade expressa neste comentáriodo início
da décadade
1950:".
.
.todo
musico que nãosentiu
-
não dizemos compreendeu massentiu
-
a necessidade da linguagem dodecafônica éinútil.
Pois toda sua obra situa-se aquém das necessidades de sua época"(BOULEZ
1952).LII¡TA BtsLIOGRI,FTCA