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Análise comparativa de três cidades médias mineiras: Ponte Nova, Viçosa e Ubá no contexto da rede urbana da região geográfica intermediária de Juiz de Fora/MG.

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Academic year: 2021

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SAMARANE FONSECA DE SOUZA BARROS

ANÁLISE COMPARATIVA DE TRÊS CIDADES MÉDIAS MINEIRAS:

Ponte Nova, Viçosa e Ubá no contexto da rede urbana da Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora/MG.

JUIZ DE FORA/MG 2020

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SAMARANE FONSECA DE SOUZA BARROS

ANÁLISE COMPARATIVA DE TRÊS CIDADES MÉDIAS MINEIRAS:

Ponte Nova, Viçosa e Ubá no contexto da rede urbana da Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora/MG.

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal de Juiz de Fora, área de concentração “Dinâmicas Espaciais”, linha de pesquisa “Produção, processos e dinâmicas espaciais e ambientais”, como requisito parcial para obtenção de título de Mestre em Geografia.

Orientador: Professor Dr. Wagner Barbosa Batella

JUIZ DE FORA/MG 2020

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Barros, Samarane Fonseca de Souza.

Análise comparativa de três cidades médias mineiras : Ponte Nova, Viçosa e Ubá no contexto da rede urbana da Região

Geográfica Intermediária de Juiz de Fora/MG / Samarane Fonseca de Souza Barros. -- 2020.

194 f. : il.

Orientador: Wagner Barbosa Batella

Dissertação (mestrado acadêmico) - Universidade Federal de Juiz de Fora, Instituto de Ciências Humanas. Programa de Pós Graduação em Geografia, 2020.

1. Urbanização. 2. Cidades Médias. 3. Região. 4. Rede Urbana Regional. I. Batella, Wagner Barbosa, orient. II. Título.

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SAMARANE FONSECA DE SOUZA BARROS

ANÁLISE COMPARATIVA DE TRÊS CIDADES MÉDIAS MINEIRAS:

Ponte Nova, Viçosa e Ubá no contexto da rede urbana da Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora/MG.

BANCA EXAMINADORA:

Professor Dr. Wagner Barbosa Batella (Orientador) Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF

Professora Dra. Clarice Cassab Torres (Membro Interno) Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF

Professora Dra. Iara Soares de França (Membro Externo) Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES

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Por tanto amor, Aos meus pais.

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AGRADECIMENTOS

Se pudesse resumir este trabalho em uma palavra seria dedicação, tanto de minha parte quanto dos que somaram para a realização de mais essa etapa.

Começo, então, agradecendo a dedicação de meus pais, Guilherme e Bete, que desde sempre nunca mediram esforços para me amar e me educar. Sempre preocupados comigo, nunca deixaram faltar nada para que eu crescesse na vida em seus diversos âmbitos: acadêmico, profissional, pessoal, emocional... Esta dedicação é a mais importante de minha vida e, por ela e para ela, eu tento ser uma pessoa melhor a cada dia.

Agradeço também ao meu irmão Vicente Augusto, o qual sempre admirei tamanha dedicação! A ele agradeço as horas a mim dedicadas de risos e brincadeiras que só nós entendemos. Ainda no que diz respeito à família, agradeço a dedicação da minha avó Edy em rezar por mim e pelos meus sonhos. Ela é a matriarca de uma família grande que também se dedicou em acreditar em mim, às vezes muito mais que eu mesma. Aos meus tios e tias, primos e primas, muito obrigada por tanto carinho!

Ao meu orientador e amigo Wagner Batella que se dedica a me ensinar desde 2014 e que, com o fim desta dissertação, me ensinou muito mais que a Geografia das Cidades Médias: me ensinou – pacientemente – sobre as práticas da Academia e sobre o uso da crase, além de sempre me estimular a alçar voos mais altos. Obrigada por tanto!

A dedicação também vem por parte dos amigos, seja no esforço de entender o que estamos pesquisando (e não paramos de falar sobre), seja no esforço de entender as minhas ausências. Agradeço aos amigos velhos e aos que chegaram recentemente, por compartilharem angústias e copos de cerveja.

Agradeço a Olívia que tanto se dedicou por transformar nossa casa em um lar. Foram dois anos vivendo um casamento que rendeu duas dissertações e boas risadas. Se isso não for dedicação, o que mais é?! Em nome dela, estico meus agradecimentos a Dona Nelma que também se dedicou em ouvir nossas pesquisas e cuidar da gente tal qual uma boa avó.

Por fim, agradeço a dedicação de todos aqueles que lutam para manter o funcionamento da Universidade Pública. Agradeço a Universidade Federal de Juiz de Fora e, em especial, a CAPES pelo financiamento desta pesquisa, ampliando aqui os meus agradecimentos a toda população que, de maneira sofrida e dedicada, sustenta essas instituições.

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E, para terminar, vou dizer o seguinte: o objetivo do conhecimento não é descobrir o segredo do mundo numa equação mestra da ordem que seria equivalente à palavra mestra dos grandes mágicos. O objetivo é dialogar com o mistério do mundo. (MORIN, 2013, p. 232)

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RESUMO

Os esforços investigativos dessa pesquisa seguiram a direção de analisar, comparativamente, os papéis que Ponte Nova, Viçosa e Ubá desempenham nas regiões e redes geográficas onde estão alocadas. Para tanto, as três cidades foram aqui problematizadas dentro do escopo das cidades médias, isto é, daqueles núcleos urbanos que no sistema de cidades desenrolam relações de intermediação. A heterogeneidade que beira o conjunto de cidades médias coloca-as em patamares diferentes, sendo algumas delas mais integradas aos sistemas verticais da economia global enquanto outras, tais como as três cidades aqui analisadas, são mais restritas às suas respectivas regiões imediatas, sendo este grupo aqui chamado de cidades médias de papéis regionais. Independente da amplitude das relações espaciais de cada cidade média, o que não se pode perder de vista é a transescalaridade que paira sobre este debate, isto é, a escala da cidade deve ser associada a outras escalas espaciais, considerando que a urbanização contemporânea é marcada por atores e fenômenos multidimensionais. Isto posto, além da escala das cidades, outras duas escalas espaciais foram elencadas neste trabalho: a da região e a da rede urbana, em seus recortes regional e local. Metodologicamente, a pesquisa se apoiou em três pilares fundamentais e complementares: o levantamento bibliográfico, de dados secundários e o trabalho de campo. A partir disto, foi possível depreender que as três cidades são importantes nós na rede urbana regional capitaneada por Juiz de Fora e desenvolvem relações próximas com suas respectivas regiões imediatas. No entanto, nenhuma das três cidades atingiu com completude o processo de reestruturação, fazendo com que as suas funções dentro da divisão regional do trabalho não fossem alteradas e, ratificando, os seus papéis de cidades médias regionais que desenrolam mais relações horizontais do que verticais.

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ABSTRACT

The investigative efforts of this research followed the direction of analyzing, comparatively, the roles that Ponte Nova, Viçosa e Ubá play in the regions and geographic networks where they are located. For this purpose, the three cities were here problematized within the scope of medium-sized cities, i.e., from that urban centers that in the system of the cities unroll intermediary relations. The heterogeneity that integrates the complexity of medium-sized cities put them into different levels. Some of the cities are more integrated to the vertical systems of the global economy, while others such as the three cities here analyzed are more restricted to their respective immediate regions. This group is here assigned as medium-sized cities of regional roles. Regardless of the range of the spatial relations of each medium-sized city, which is essential is the transescalarity that is over this debate, i.e, the city scale must be associated with others spacial scales, considering that the contemporary urbanization is arranged by actors and multidimensional phenomena. For this purpose, besides the scale of the cities, other two spacial scales were listed in this work: the regional scale and the urban network scale, in their regional and local frameworks. Methodologically, this research was based on three fundamental and complementary pillars: the bibliographic research, the secondary data and the fieldwork. From this, it was possible to comprehend that the three cities are important knots of the regional urban network command of Juiz de Fora and they develop close links with their respective immediate regions. However, none of the three cities has reached, totally, the restructuring process, for this reason, these cities haven't changed their functions in the regional division of the work. Besides that, these cities have ratified their role of medium-sized regional cities that develop more horizontal relations than vertical ones.

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LISTA DE FIGURAS

FIGURA 01 – Posição Geográfica de Ponte Nova, Viçosa e Ubá. ... 03

FIGURA 02 – Posição Geográfica de Ponte Nova/MG. ... 39

FIGURA 03 – Região Geográfica Imediata de Ponte Nova/MG. ... 44

FIGURA 04 – Posição Geográfica de Viçosa/MG ... 46

FIGURA 05 – Região Geográfica Imediata de Viçosa/MG ... 49

FIGURA 06– Posição Geográfica de Ubá/MG. ... 51

FIGURA 07 – Região Geográfica Imediata de Ubá/MG. ... 54

FIGURA 08 – Posição Geográfica de Juiz de Fora/MG. ... 64

FIGURA 09 – Regiões Imediatas da Região Intermediária de Juiz de Fora. ... 76

FIGURA 10 – Regionalizações. ... 77

FIGURA 11 – Distribuição da População na Região Intermediária de Juiz de Fora ... 79

FIGURA 12 – Emancipações a partir de Ponte Nova/MG ... 83

FIGURA 13 – Fluxos de Ponte Nova/MG, 2011... 85

FIGURA 14– Emancipações a partir de Viçosa/MG ... 87

FIGURA 15 – Fluxos de Viçosa/MG (2011) ... 89

FIGURA 16– Emancipações a partir de Ubá/MG ... 91

FIGURA 17 – Fluxos de Ubá/MG ... 94

FIGURA 18 – Abrangência Territorial das SREs da Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora/MG. ... 111

FIGURAS 19 e 20 – Macrorregiões de saúde. ... 112

FIGURA 21 – 4ª Região Integrada de Segurança Pública – Juiz de Fora. ... 113

FIGURA 22 – Principais Centralidades da Região Intermediária de Juiz de Fora...116

FIGURA 23 - Loja do Ponto Frio em Ponte Nova/MG...146

FIGURAS 24 e 25 - Loja das Casas Bahia em Ubá/MG e Loja Magazine Luiza em Viçosa/MG...146

FIGURAS 26 e 27 - Supermercados BH em Ponte Nova e Mineirão ATACAREJO em Viçosa....149

FIGURAS 28 e 29 - Edifícios Comerciais e Galerias em Ponte Nova e Viçosa, respectivamente....152

FIGURA 30 - Galeria em Ubá / MG ...152

FIGURAS 31 e 32 – Novas e antigas formas urbanas em Ponte Nova e Ubá, respectivamente...153

FIGURA 33 - Novas e antigas formas urbanas em Viçosa...154

FIGURA 34 - Guarita do Condomínio Bosque Acamari em Viçosa...156

FIGURA 35 - Sinalização de condomínios em Viçosa...156

FIGURA 36 - Propaganda do Condomínio Portal das Mangueiras, Ubá/MG...157

FIGURA 37 - Guarita do Condomínio Portal das Mangueiras emUbá...157

FIGURA 38 - Área Central - Ponte Nova ...159

FIGURA 39 - Área Central - Viçosa ...159

FIGURA 40 - Área Central - Ubá...160

FIGURAS 41 e 42 - Elementos públicos e privados de saúde em Ponte Nova...169

FIGURA 43 - Entrada principal da UFV e construções em altura ao fundo...170

FIGURA 44 - Faculdade privada em Viçosa...171

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LISTA DE TABELAS

TABELA 01 – Evolução das cidades de porte médio ao longo dos Censos Demográficos. .. 22

TABELA 02 – Participação da produção cafeeira da Zona da Mata no estado de Minas Gerais. ... 61

TABELA 03 – Principais municípios articulados à região de Juiz de Fora: população, produção e área ocupada com produção de café (1920) ... 67

TABELA 04 – 10 maiores municípios industriais de Minas Gerais pelo valor de produção em 1907 ... 68

TABELA 05 – População Total e População Urbana de municípios da Zona da Mata (1920) ... 70

TABELA 06–Gestão do Território Região Imediata de Ponte Nova... 83

TABELA 07 - Gestão do Território Região Imediata de Viçosa...88

TABELA 08 – Gestão do Território Região Imediata de Ubá. ... 92

TABELA 09 – Trabalho e Educação para a Região Geográfica Imediata de Ponte Nova ... 124

TABELA 10 – Trabalho e Educação para a Região Geográfica Imediata de Viçosa. ... 126

TABELA 11 – Trabalho e Educação para a Região Geográfica Imediata de Ubá ... 127

LISTA DE GRÁFICOS

GRÁFICO 01 – Evolução da População de Ponte Nova/MG. ... 40

GRÁFICO 02 – Valor por setor adicionado ao PIB – Ponte Nova/MG. ... 42

GRÁFICO 03 – Evolução da População de Viçosa/MG ... 47

GRÁFICO 04 – Valor por setor adicionado ao PIB de Viçosa/MG ... 48

GRÁFICO 05 – Valor por setor adicionado ao PIB de Ubá/MG ... 52

GRÁFICO 06– Evolução da População de Ubá/MG. ... 53

GRÁFICO 07 –Distribuição do PIB por Mesorregião de Minas Gerais (2016) ... 72

GRÁFICO 08 – Municípios que mais concentram empresas na Região Intermediária de Juiz de Fora ... 108

LISTA DE QUADROS

QUADRO 01 – Distribuição de equipamentos urbanos na região imediata de Ponte Nova/MG. ... 44

QUADRO 02 – Distribuição de equipamentos urbanos na região imediata de Viçosa/MG. .. 50

QUADRO 03 – Distribuição de equipamentos urbanos na região imediata de Ubá/MG ... 55

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Sumário

Introdução e apresentação do tema ... 1

1 – Cidades Médias: tema e noção... 16

1.1– Evolução da rede urbana brasileira e o papel das cidades médias ... 16

1.2– O papel do Estado na produção do espaço urbano e expansão de cidades médias brasileiras... 24

1.3– Entre verticalidades e horizontalidades: cidades médias suprarregionais e cidades médias de papéis regionais ... 29

1.4– Ponte Nova, Viçosa e Ubá: estruturação de três cidades médias de papéis regionais ... 32

1.4.1– Notas sobre estruturação urbana e estruturação das cidades ... 35

1.4.2– Ponte Nova ... 38

1.4.3– Viçosa ... 45

1.4.4– Ubá ... 50

1.4.5– Considerações Gerais ... 56

2– O par cidade e região: os papéis de Ponte Nova, Viçosa e Ubá na Região Geográfica Intermediária de Juiz de fora ... 59

2.1 – Formação socioeconômica e geo-história da Zona da Mata mineira ... 59

2.2 – Da Zona da Mata à Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora ... 74

2.3 – Fluxos de Ponte Nova, Viçosa e Ubá e a participação das cidades no quadro regional . 80 2.3.1 – Ponte Nova ... 82

2.3.2 – Viçosa ... 87

2.3.3 – Ubá ... 91

2.3.4 – Síntese Geral ... 95

3– Redes Geográficas e Escalas: Ponte Nova, Viçosa e Ubá enquanto nós na rede urbana regional de Juiz de Fora ... 99

3.1– Rede Urbana Regional: percursos de conceptualização ... 99

3.2– Notas sobre centralidade e polarização ... 103

3.3– A rede urbana regional de Juiz de Fora e seus nós: articulação cidades médias e cidades pequenas ... 106

3.4– Ponte Nova, Viçosa e Ubá enquanto nós na rede urbana regional ... 116

3.5– As sub-redes comandadas por Ponte Nova, Viçosa e Ubá ... 122

4– Reestruturação urbana e das cidades: análise comparativa enquanto possibilidade metodológica ... 130

4.1– A comparação: construções epistemológicas e de método ... 130

4.2– A construção da análise comparativa no pensamento geográfico... 133

4.3– Possibilidades de comparação para a Geografia Urbana ... 137

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4.5– Entre permanências e rupturas: os vetores de reestruturação das cidades em Ponte Nova,

Viçosa e Ubá ... 144

4.6– A cidade, a região e a responsabilidade territorial: reforçando os papéis regionais das cidades médias ... 161

4.7– O geral, o particular e o singular: retomando a análise comparativa ... 165

Considerações Finais... 174

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Introdução e apresentação do tema

Os estudos sobre o Brasil não metropolitano ganharam mais relevância na segunda metade do século XX, considerando que o aumento no número e tamanho das cidades localizadas mais ao interior do país tomou maior dimensão face à crise do capitalismo pós década de 1970 que engendrou mudanças tecnológicas, organizacionais e territoriais, assim como ressignificou o par urbanização – cidades (SPOSITO, 2004). A perspectiva analítica tomada neste trabalho, então, vai ao encontro das dinâmicas e mudanças econômicas que engendraram a produção e consolidação de novos espaços urbanos, sendo que outros elementos como os históricos e/ou políticos não são subjugados e entram aqui como complementares à análise principal.

O aumento do número de cidades entre 50.000 e 500.000 habitantes nos últimos anos pode ser verificado quando se tomam as análises censitárias, conforme será abordado no primeiro capítulo, no entanto, o que não se pode perder de vista é que tais mudanças quantitativas evocam também transformações qualitativas. Estes núcleos urbanos se complexificaram ao passo que passaram a assumir novas funções inerentes ao processo de urbanização contemporânea, ocupando, no interior da rede urbana, posição intermediária em função de serem o elo preferencial entre as cidades maiores e menores, sobretudo, a partir de fluxos hierárquicos. Contudo, a contemporaneidade testemunha a ascensão de ordens reticulares e de fluxos de diversas naturezas, fazendo com que algumas cidades médias tenham seus papéis ressignificados frente ao capital global (SPOSITO, 2010).

Vale colocar que os parâmetros demográficos dizem respeito às cidades de porte médio que, de acordo com Sposito (2006a), são aquelas localizadas na faixa entre 50.000 e 500.000 habitantes, porém, são as características qualitativas que designarão o que são cidades médias, como os seus papéis regionais e a sua função de intermediação no interior da rede urbana. Nesta dissertação a dimensão abordada é a segunda, sendo que os parâmetros demográficos e quantitativos não foram negligenciados.

O conjunto taxonômico em que se inserem as cidades médias é diverso e heterogêneo, considerando que cada cidade é fruto de um quadro urbano e regional distinto, sendo, destarte, estas cidades produtos e produtoras de um contexto econômico, político e social que conformam um espaço “desigualmente fragmentado e articulado” (CORRÊA, 2007, p. 23). Ainda assim, porém, é válido categorizá-las dentro deste estrato ao passo que, indiferente de redes próximas

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ou distantes, as cidades médias ao assumirem as novas facetas da urbanização, no geral, são as áreas onde “há respostas para níveis de demanda de consumo mais elevadas (...)” (SANTOS, 1988, p. 90).

Nesta direção, em função da participação das cidades médias em redes de diversas dimensões, outro elemento que permeia este debate é a articulação de escalas, no sentido de não isolar os recortes espaciais, por exemplo a cidade da região, e sim considerá-los em um movimento integrado, visto que as novas formas urbanas possibilitam e impõem dinâmicas econômicas que estabelecem fluxos e práticas socioespaciais que envolvem diferentes escalas geográficas de produção e estruturação dos espaços urbanos (SPOSITO, 2004).

Portanto, uma variável importante para o estudo destes núcleos urbanos é a situação geográfica de cada um deles, sendo que esta variável contribui no plano metodológico para definição de cidades médias ao passo que pode ser determinante para definir os seus papéis na hierarquia urbana (SPOSITO, 2001). Sposito (2001, p. 627) sintetiza que “a condição de cidade média está diretamente associada a uma posição geográfica favorável (...)”.

Isto posto, é importante averiguar onde estão as cidades médias aqui analisadas. Ponte Nova, Viçosa e Ubá se localizam na Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora, conforme a última regionalização proposta pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (IBGE, 2017) (FIGURA 01).

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FIGURA 01 – Posição Geográfica de Ponte Nova, Viçosa e Ubá. FONTE – IBGE. Organização da autora.

É válido sublinhar que a opção por esta regionalização vai ao encontro de sua metodologia por levar em consideração a articulação entre as cidades indo ao encontro, portanto, dos objetivos deste trabalho. Tal região é composta por 146 municípios em que um pouco mais de 70% apresenta menos de 10.000 habitantes, sendo que há concentração econômica e de atividades nas cidades maiores, fazendo com que as cidades pequenas sejam estritamente dependentes destes núcleos mais complexos (BARROS, 2019). Ainda, cada uma dessas cidades polariza uma Região Geográfica Imediata em que, apesar de particularidades, apresentam como ponto em comum também o baixo dinamismo econômico, levando a Ponte Nova, Viçosa e Ubá a se destacarem em suas redes urbanas próximas1.

As cidades analisadas nesta pesquisa, pois, destacam-se enquanto cidades médias em função de seus papéis regionais, intermediando e atendendo, principalmente, às cidades pequenas contíguas a elas a partir de movimentos em deslocamentos territoriais, como será abordado na dissertação. Então, as cidades aproximam-se do que Sposito (2010) classificou

1 A região é tratada como um recorte em que serão analisados os fixos e fluxos presentes nele, assim como a configuração de redes geográficas, sendo portanto, as redes inerentes a este recorte.

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como cidades médias de papéis regionais em que há a predominância de fluxos hierárquicos sobre os fluxos do capital global.

Ao longo do trabalho serão apresentadas ferramentas analíticas que coadjuvam para o entendimento destas cidades enquanto cidades médias de papéis regionais, sendo que todos eles apontam para a importância que Ponte Nova, Viçosa e Ubá apresentam para suas respectivas regiões imediatas; não apenas em suas dimensões econômicas, mas também em seus vieses políticos.

O trabalho, então, buscou perscrutar a seguinte problemática: considerando a importância do debate regional e interescalar para a compreensão das cidades médias, quais os diferentes papéis que essas três cidades assumem para a Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora e para suas respectivas Regiões Geográficas Imediatas? A partir deste problema central outras questões foram surgindo e serão explanadas ao longo do texto.

Todo trabalho científico parte de escolhas e, talvez, a principal delas neste caso foi a escolha das cidades. A opção por investigar Ponte Nova, Viçosa e Ubá seguiu duas direções, a saber: a primeira concernente aos padrões de habitação, posto que de acordo com Soares (2009, p. 111) as regiões comandadas por estas cidades, ao lado da região de Juiz de Fora, foram as primeiras a serem ocupadas na área. Juiz de Fora, neste caso, não entrou na pesquisa por ser um centro mais complexo e polarizar todas estas cidades e suas respectivas regiões. Contudo, é válido salientar que Juiz de Fora aparecerá no trabalho, justamente, para elucidar a conformação socioespacial da área na qual as cidades em análise estão alocadas. Juiz de Fora entra, principalmente, por este trabalho adotar, como já citado, a regionalização proposta pelo IBGE no ano de 2017 em que as mesorregiões e as microrregiões foram alteradas – na regionalização oficial – pelas Regiões Geográficas Intermediárias e Regiões Geográficas Imediatas, respectivamente. Sendo assim, as três cidades em análise pertencem a Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora e entender a conformação da centralidade desta cidade polo corrobora a compreensão da estruturação e organização dos fixos e fluxos de toda a região.

Do mesmo modo, por Juiz de Fora ser a capital regional e organizar as relações econômicas, sociais e políticas de toda a área desde tempos remotos, entender a conformação de sua centralidade permeia o entendimento dos papéis das cidades a ela vinculadas no âmbito de uma rede urbana regional, como o próprio título dessa dissertação propõe.

A segunda direção da escolha das cidades parte da problematização e entendimento delas enquanto cidades médias. Ponte Nova, Viçosa e Ubá, ao lado de Cataguases, foram as

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cidades da região consideradas por Amorim Filho et al (2007), em todas as classificações realizadas pelo autor2 como cidades médias propriamente ditas, fato este que será melhor abordado adiante. Neste caso, Cataguases foi negligenciada da pesquisa em função da primeira hipótese que surgiu ainda na elaboração do anteprojeto de dissertação: Ponte Nova, Viçosa e Ubá e suas respectivas regiões poderiam se apresentar conforme um eixo de economia complementar (CAMAGNI, 2005). Entretanto, ainda na fase de levantamento bibliográfico e de dados, constatou-se que a área é pouco pujante economicamente e, tampouco, apresenta a sinergia necessária para a delimitação deste eixo.

Hipótese abandonada, por sua vez, as cidades foram mantidas com o intuito de, agora, realizar um estudo comparativo entre elas a partir das funções que desempenham na região e rede urbana nas quais estão situadas. Ponte Nova, Viçosa e Ubá apresentam, respectivamente, 57.390, 72.220 e 101.619 habitantes, segundo o último censo (IBGE, 2010) e por estarem em uma área caracterizada por estagnação econômica e foco de desigualdade, desempenham papéis centrais no que tangencia, sobremaneira, o provimento de bens e serviços para as cidades pequenas que lhes são tributárias.

Isto posto, o objetivo maior desta dissertação é traçar uma análise comparativa entre Ponte Nova, Viçosa e Ubá, localizadas na Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora, Minas Gerais, vislumbrando para além da problematização destas enquanto cidades médias, o papel delas frente ao quadro regional onde estão inseridas. Para alcançar tal objetivo, foram delimitados os objetivos específicos que seguem:

a) Analisar a formação da região intermediária de Juiz de Fora no contexto da formação socioespacial brasileira, privilegiando a estruturação das três cidades em questão; b) Analisar os espaços interurbanos das cidades estudadas, bem como a importância e o

alcance espacial de cada uma delas, privilegiando a dimensão cidade e região no entendimento de cidades médias;

c) Examinar a importância destas cidades frente a Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora, assim como o papel delas na rede urbana regional capitaneada por Juiz de Fora. d) Investigar e comparar o processo de reestruturação das cidades.

2 As classificações de Oswaldo Bueno Amorim Filho e demais colaboradores serão explanadas ao longo do texto do capítulo 01 (AMORIM FILHO, O. B; BUENO, M. E.T.; ABREU, J. F, 1982; AMORIM FILHO, O.B; ABREU, J. F.; 2001; AMORIM FILHO et al, 2007).

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Antes de adentrar nos parâmetros metodológicos do trabalho, é válido ainda, destacar a questão da variável temporal nesta pesquisa. Para, primeiramente, entender a estruturação das cidades e da região na qual elas estão, precisou-se resgatar informações de épocas mais remotas ao passo que, à posteriori, para compreensão das funções que elas desempenham, os dados trabalhados foram, sobremaneira, os levantados pelo IBGE na década de 2000-2010 em período intercensitário. Entretanto, sabendo o hiato temporal que existe entre os últimos dados censitários e a atualidade, recorreu-se a outras plataformas de informações secundárias – além de trabalho de campo – que disponibilizam informações mais recentes. Apesar da diacronia existente nas bases de dados, buscou-se o rigor científico preciso para trabalhar com cada uma delas, situando o trabalho, principalmente, nas dinâmicas urbanas e regionais recentes. As bases de dados serão detalhadas e melhor explicadas adiante quando se apresentar a matriz metodológica desta dissertação.

A opção por organizar o trabalho a partir de uma matriz metodológica (ELIAS, 2017) vem das proposições das pesquisas conduzidas pela professora Denise Elias (UECE) e pelo professor Renato Pequeno (UFC) em que sua principal função é operacionalizar os dados para cada eixo de análise, se estruturando da seguinte forma:

A matriz metodológica é uma forma de mapear e organizar os dados a serem levantados, porém, sem se comportar de maneira rígida, isto é, à medida que o trabalho vai sendo desenvolvido a matriz vai sendo construída, sendo utilizada, mormente, para organizar os principais processos das temáticas centrais a serem abordadas.

São elencados temas principais que se organizam a partir de processos. Os processos são as ideias principais do recorte a ser estudado que são averiguados a partir de uma série de dados. As variáveis, por sua vez, permitem a manipulação dos dados levantados a fim de caracterizar quanti-qualitativamente os objetivos e resultados alcançados que rebaterão em

Fonte de Consulta Indicador Variável Processo Tema

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indicadores utilizados para identificação final. Para isto, cada indicador é atrelado a uma fonte de consulta e comprovação que pode se oriunda de bases de dados já organizadas ou trabalhos de campo para levantamento informações primárias.

Vale salientar que toda a matriz é emparelhada a partir de uma concisa revisão bibliográfica que justifique a articulação dos temas principais aqui propostos. Ademais, a opção por assim organizar o trabalho também recai sobre a estrutura dele: cada tema elencado se transpôs em um capítulo desta dissertação em que a teoria e a empiria foram trabalhadas de modo articulado. Ainda sobre a revisão de literatura e estrutura do trabalho, os capítulos apresentarão notas teóricas sobre as principais temáticas por eles desenvolvidos.

Outrossim, adaptando a ideia principal da matriz metodológica, aqui atrelou cada tema a uma ou mais questões norteadoras que também ajudaram no desenrolar do levantamento e tratamento dos dados e, posteriormente, da escrita final.

Nesta direção, seguem os quadros organizados conforme a matriz metodológica para cada eixo principal de análise.

TEMA 01: Cidades Médias

Questões principais: Como Ponte Nova, Viçosa e Ubá se localizam nos debates acerca as cidades médias?

A partir das informações concernentes às cidades médias, como Ponte Nova, Viçosa e Ubá se estruturaram ao longo do tempo para a compreensão de suas respectivas importâncias regionais?

Processo: Evolução do papel das cidades médias na rede urbana brasileira

VARIÁVEL INDICADORES FONTE DE CONSULTA

Demografia Aumento no número de cidades

de porte médio entre 1950 e 2010

SIDRA IBGE

Disponível em

https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1290 Crescimento econômico das

cidades

PIB

RENDA MÉDIA

SIDRA/IBGE IPEA

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VARIÁVEL INDICADORES FONTE DE CONSULTA Planos de desenvolvimento Planos de âmbito federal

Planos de âmbito estadual

I, II e III PND

Fundação João Pinheiro Processo: Estruturação de Ponte Nova, Viçosa e Ubá enquanto cidades médias

VARIÁVEL INDICADORES FONTE DE CONSULTA

Formação socioeconômica das cidades

História das Cidades

Caracterização por setor econômico

Setor Terciário

Interações Interurbanas das Cidades

Literatura

SIDRA/IBGE; FJP; IPEA CNEFE/IBGE

REGIC’S / IBGE; Trabalho de Campo.

Tema 02: Cidade e Região

Questão principal: A partir do debate e articulação escalar, como a conformação regional onde Ponte Nova, Viçosa e Ubá estão inseridas coadjuvou para a consolidação de suas respectivas regiões imediatas e afirmação de cada uma das cidades como principal centralidade?

Processo: Estruturação da Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora

VARIÁVEL INDICADORES FONTE DE CONSULTA

História História econômica da região Literatura, documentos

institucionais e programas estatais. Processo: Participação e fluxos das cidades em análise no quadro regional

VARIÁVEL INDICADORES FONTE DE CONSULTA

Ponte Nova Gestão do Território

Fluxos para estudo e trabalho Saúde

Viagens Interurbanas

Redes e Fluxos do Território (IBGE, 2014);

DataSUS

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Trabalho de Campo

Viçosa Gestão do Território

Fluxos para estudo e trabalho Saúde

Viagens Interurbanas

Redes e Fluxos do Território (IBGE, 2014);

DataSUS

Secretaria de Saúde de Minas Gerais Trabalho de Campo

Ubá Gestão do Território

Fluxos para estudo e trabalho Saúde

Viagens Interurbanas

Redes e Fluxos do Território (IBGE, 2014);

DataSUS

Secretaria de Saúde de Minas Gerais Trabalho de Campo

Tema 03: Redes Urbanas e Redes Urbanas Regionais

Questão Principal: Dada a importância dos equipamentos fixos e sua articulação com o desenvolvimento de fluxos pertencentes a região, é possível falar em rede (s) urbana (s) regional (is)?

Processo: Formação de rede urbana regional na Região Intermediária de Juiz de Fora

VARIÁVEL INDICADORES FONTE DE CONSULTA

Localização de atividades públicas e superintendências regionais/ Educação Saúde Segurança MEC DataSUS Sites Oficiais Grandes Equipamentos de Consumo e gestão empresarial do território Unidades locais de empresas. Redes regionais de Supermercados

SIDRA/IBGE; CNEFE; Trabalho de Campo.

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Capital fixo Localização das principais articulações rodoviárias Localização de aeroportos Localização de portos secos e postos de escoamento de produção DNIT INFRAERO Trabalho de Campo

TEMA 04: Análise Comparativa

Questões principais: Considerando o que é geral ao processo de urbanização, particular às cidades médias de papéis regionais e singular de cada uma das três cidades analisadas, qual a importância das análises comparativas neste estudo?

As mudanças constatadas a partir dos dados encontrados até aqui podem ser sinais de reestruturação urbana e reestruturação das cidades?

Processo: Evolução das análises comparativas no pensamento geográfico

VARIÁVEL INDICADORES FONTE DE CONSULTA

Comparação enquanto teoria e método

Importância das análises comparativas para a ciência Importância das análises comparativas para a Geografia Urbana

Literatura

Processo: Reestruturação Urbana

VARIÁVEL INDICADORES FONTE DE CONSULTA

Transformações espaço-temporais Diferenciações socioespaciais e socioeconômicas ao longo do tempo Processos de ruptura e permanência SIDRA / IBGE;

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Processo: Reestruturação das Cidades

VARIÁVEL INDICADORES FONTE DE CONSULTA

Ponte Nova Diferenciações socioespaciais e socioeconômicas ao longo do tempo

Processos de ruptura e permanência

Análise de franquias e elementos do setor terciário Análise de condomínios fechados

SIDRA / IBGE; Trabalho de campo.

Viçosa Diferenciações socioespaciais

e socioeconômicas ao longo do tempo

Processos de ruptura e permanência

Análise de franquias e elementos do setor terciário Análise de condomínios fechados

SIDRA / IBGE; Trabalho de campo.

Ubá Diferenciações socioespaciais

e socioeconômicas ao longo do tempo

Processos de ruptura e permanência

Análise de franquias e elementos do setor terciário Análise de condomínios fechados

SIDRA / IBGE; Trabalho de campo.

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Os trabalhos de campo foram realizados nas três cidades nos meses de setembro e outubro de 2019 e se somaram ao conjunto das informações secundárias levantadas, considerando que esta etapa foi importante para verificação dos dados. Esta verificação é plausível considerando a defasagem temporal de algumas bases de dados aqui consultadas. Do mesmo modo, o trabalho de campo foi importante para a observação das formas urbanas e de novos vetores econômicos nas cidades que coadjuvaram para o entendimento das permanências e rupturas e, por consequência, dos processos de estruturação e/ou reestruturação em cada uma das três cidades.

Dada a matriz, os eixos a serem analisados se organizaram nos capítulos que seguem. Antes, porém, de se explanar como cada capítulo se organizou vale retomar que, além da teoria que sustenta a matriz metodológica, a dimensão que interliga os temas é a relação interescalar que permeia a matriz como um todo. A opção pela abordagem interescalar vai ao encontro dos fluxos diversos que habitam a atualidade envolvendo espaços cada vez mais distantes, obedecendo ora a natureza hierárquica, ora a transversalidade das relações. A dissertação, então, avançou neste debate por acreditar que os fenômenos atuais envolvem escalas geográficas variadas em suas múltiplas articulações.

Para além de tomar uma escala geográfica como ponto de partida, a proposta e o debate interescalar a tomam em relação às outras escalas que auxiliam na apreensão do objeto de estudo, selecionando àquelas que incidem direta ou indiretamente nas áreas investigadas. O esforço, por sua vez, é maior do que entender que o maior cabe no menor; ele segue a direção de investigar as relações econômicas e sociais que se estabelecem nas variadas porções do território, isto é, cabe a investigação da escala de atuação de cada agente e como isso reverbera nas cidades analisadas.

É válido, destarte, que a seleção dos recortes que se imbricarão assegure o entendimento das relações espaciais que ocorrem nos variados níveis escalares, uma vez que a inserção das cidades na rede urbana, atualmente, se dá de maneira cada vez mais complexa. Para esta pesquisa e considerando o caráter das cidades analisadas, duas escalas geográficas, principalmente, entraram em análise junto a escala das cidades: a escala da região e a escala da rede urbana regional. A tríade cidade, região e rede urbana regional atravessou toda a pesquisa como o eixo estruturador das ideias, visto que não é recomendado que os fenômenos urbanos atuais sejam entendidos apenas em uma escala. As outras duas, além da escala da cidade, foram selecionadas em função dos papéis de Ponte Nova, Viçosa e Ubá se restringirem, em grande medida, aos seus espaços interurbanos imediatos, sendo, portanto, cidades médias de papéis

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regionais. Porém, os fluxos que também foram percebidos acabam por fazer parte de uma rede urbana maior, sendo necessário que se evoque esta escala para apreensão das relações das cidades como um todo.

Portanto, apresentados os objetivos, a opção temporal, a matriz metodológica e o debate interescalar inerente a esta dissertação, o próximo passo é explanar ligeiramente os quatro capítulos que a conformam, além desta introdução das considerações finais.

O primeiro capítulo apresentou a temática das cidades médias e a sua ascensão dentro da rede urbana brasileira para, à posteriori, entender Ponte Nova, Viçosa e Ubá enquanto cidades médias de papéis regionais. Observou-se que, dentre o debate acadêmico sobre a temática, não há um consenso sobre a conceptualização de cidades médias, sendo tratadas neste trabalho mais enquanto uma noção do que como um conceito propriamente dito. A partir da literatura, ainda, se constatou que existem inúmeras diferenças que rondam este conjunto de cidades, fazendo que com que haja algumas delas que se articulam mais com escalas verticais, enquanto há outras – como as três cidades analisadas – que apresentam relações mais horizontais, limitando os seus respectivos alcances espaciais às suas regiões imediatas. Ainda, no primeiro capítulo abordou-se a estruturação de cada uma das cidades a fim de entendê-las como cidades médias e qual a importância frente as cidades pequenas que lhes são tributárias.

Evidenciou-se com o capítulo um a necessidade do entendimento da região onde as cidades estão alocadas para a compreensão destas enquanto cidades médias. Para tanto, no capítulo dois buscou-se compreender a conformação da Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora para entendimento da estruturação de cada uma das três regiões imediatas, bem como a consolidação das cidades como principal centralidade para cada uma delas. Ademais, buscou-se o entendimento também da importância de Ponte Nova, Viçosa e Ubá frente a região intermediária de Juiz de Fora como um todo para, à posteriori, se investigar os fluxos que habitam a região que originam uma rede urbana regional. Neste capítulo, em especial, a questão da regionalização foi problematizada para o entendimento da transposição de Zona da Mata para Região Geográfica Intermediária de Juiz de Fora, portanto, foram usados ao longo da redação estas duas classificações.

Considerando os fixos e fluxos traçados nos capítulos um e dois, o capítulo três apresenta o debate de redes urbanas regionais, bem como sua associação com temáticas acerca de centralidade e polarização. Para tanto, perscrutou sobre a rede urbana regional de Juiz de Fora a fim de levantar os principais nós desta rede. Considerando que Ponte Nova, Viçosa e

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Ubá enquadram-se nestes nós, à posteriori, buscou identificar os papéis e funções que estas cidades assumem para esta rede, assim como a conformação de sub-redes locais polarizadas por cada uma delas.

Confirmado o papel regional das três cidades, evocou-se a reestruturação enquanto elemento comparativo para ver como elas [as cidades] respondem às tendências da urbanização contemporânea, assim como para analisar que as permanências são maiores que as rupturas, ressaltando ainda mais as relações territoriais que tais cidades desenvolvem.

Para tanto, no capítulo quatro resgatou a análise comparativa enquanto possibilidade para os estudos em Geografia Urbana. Para isso retomou-se, a partir da literatura, as construções epistemológicas e de método acerca da comparação. Logo após, tomando como eixo comparativo a reestruturação das cidades, apresentou-se uma nota teórica acerca de reestruturação urbana e reestruturação das cidades, seguindo o molde dos capítulos precedentes. Por fim, apresentou alguns elementos de reestruturação presentes nas cidades de Ponte Nova, Viçosa e Ubá para demonstrar que eles não foram suficientes para redefinirem os papéis destas cidades na divisão territorial e regional do trabalho, consolidando-as como cidades médias de papéis regionais.

Para a análise comparativa tomou-se como cerne a tríade geral, particular e singular, no entanto, vale colocar que a tríade foi trabalhada no sentido de sintetizar o movimento que parte do geral e atinge o singular, não entrando nessa dissertação as reflexões sobre o método dialético inerente a essa tríade. Neste sentido, considerando os papéis regionais das cidades, foi possível traçar uma análise comparativa realizada no sentido de destacar, além dessa particularidade, as generalizações observadas no processo de urbanização contemporânea em contrapartida as singularidades analisadas em cada cidade. A análise comparativa levou em consideração, sobremaneira, o vetor de reestruturação das cidades a fim de demonstrar que elas mantêm as suas posições hierárquicas e, os seus papéis urbanos tampouco foram ressignificados frente as mudanças do capital global. A estratégia de resgatar a análise comparativa neste trabalho vai ao encontro da delimitação do problema e dos objetivos da pesquisa que consistem na análise de mais de um objeto empírico, isto é, a análise de três cidades médias de papéis regionais que, a despeito de suas similitudes, apresentam diferenças que merecem ser elencadas. Por fim, frisa-se que esta pesquisa se justificou, sobremaneira, ao somar ao conjunto de estudos sobre cidades médias de Minas Gerais, considerando a diversidade interna do estado e, ainda, apontar novos dados e possibilidades de entendimento para a rede urbana da Região

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Geográfica Intermediária de Juiz de Fora, visto que são poucos os estudos atuais que se debruçam sobre tal questão.

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1 – Cidades Médias: tema e noção

Este capítulo versará sobre a ascensão das cidades médias na rede urbana brasileira e quais os papéis possíveis que elas podem assumir. Para isto, problematizou-se o epíteto enquanto tema e noção e, ainda, enquanto pauta nas agendas de Governo Federal e Estadual.

Dentro deste escopo, buscou-se diferenciar as cidades médias que articulam escalas geográficas mais amplas daquelas cidades que restringem a sua intermediação a sua região imediata, sendo que o foco maior deste trabalho recai sobre este segundo grupo por se tratar das três cidades aqui analisadas: Ponte Nova, Viçosa e Ubá.

Por fim, apresentar-se-á a estruturação de cada uma das três cidades e seus níveis de centralidade, a partir da articulação escalar que envolve, sobremaneira, os espaços intra e interurbano.

1.1 – Evolução da rede urbana brasileira e o papel das cidades médias

A história das redes das mais variadas funções é intrínseca à história territorial, pois estas ressignificam e reestruturam determinadas áreas com a sua chegada. A densidade técnica de uma dada rede coadjuva para a complexificação do espaço, ao passo que conotam conteúdos diversos e servem de suporte para o devir de uma série de atividades. A aceleração das técnicas nas redes de transporte e comunicação a partir da década de 1970, sobremaneira, levou a ampliação do debate do papel das redes na organização territorial (DIAS, 2012, p. 143).

De acordo com Dias (2012, p. 147), ao longo do século XX uma série de complexidades, sobretudo relacionadas à difusão de informação, foram produzidas e redesenharam o espaço geográfico em suas mais diferentes escalas. A autora continua e demonstra que os processos de integração produtiva, de mercado e financeira propiciadas pelo avanço das redes de transporte, comunicação e informação remodelam o território ao mesmo passo que os processos de desintegração e fragmentação socioespacial, isto é, integração e desintegração configuram um par dialético importante para a compreensão da organização territorial.

As redes são os elementos cruciais que viabilizam as estratégias de comunicação e circulação, ou seja, a partir das infraestruturas engendradas por elas há a possibilidade dos fluxos de pessoas, matérias-primas, capitais e ideias. Em outras palavras, “os fluxos pressupõem a existência de redes” (DIAS, 2012, p. 148) que, por sua vez, apresentam, portanto, o princípio

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da conexidade. Esta propriedade designada às redes demanda que elas se materializem em lugares específicos de poder e referência (RAFFESTIN, 1980 apud DIAS, 2012).

Dado o avanço técnico vivenciado pelo Brasil na segunda metade do século XX, o debate sobre redes demandou a abordagem sistêmica, isto é, as redes devem ser analisadas em conjunto e, principalmente, em sua dimensão espacial. Isto posto, o debate sobre redes técnicas é indissociável ao debate sobre a urbanização e divisão territorial do trabalho, uma vez que a partir da inserção de novos elementos no sistema de cidades estas se diferenciam e passam a desempenhar papéis distintos nas regiões as quais estão alocadas.

Retomando o olhar para as redes urbanas, Corrêa (2006) as classificam enquanto um conjunto de centros articulados funcionalmente, tendo sua complexidade relacionada a combinação de características, como tamanho dos centros, densidade das relações no espaço regional, as funções que desempenham, o alcance regional, dentre outras. Segundo a concepção de George (1974, p. 368), rede urbana pode ser considerada como “um conjunto de cidades, distribuídas em uma região ou estado, e que possuem umas em relação às outras, ligações diversas (...)”. O que se evidencia com a colocação destes dois autores é a ideia de conexão intrínseca à delimitação de rede urbana, convergindo para a análise do espaço urbano seguindo um viés escalar cada vez mais articulado, visto que as diferentes instâncias do espaço coexistem. Tendo em vista a articulação dos núcleos urbanos de diferentes redes, o que se nota é a sobreposição das diferentes redes técnicas, tais como de transporte e comunicação (SPOSITO, 2007).

A rede urbana brasileira é uma síntese dos processos de mudanças territoriais no país, em que as dinâmicas econômicas e a localização das atividades têm uma relevante importância indutora (MOTTA; AJARA, 2001). A evolução desta rede ao longo do tempo é resposta dos diferentes padrões de acumulação e dos diversos processos socioeconômicos e socioespaciais envolvidos na estruturação das cidades brasileiras. A rede urbana, portanto,

Compreende o conjunto de centros urbanos que polarizam o território nacional e os fluxos de pessoas, bens e serviços que se estabelecem entre eles e com as respectivas áreas rurais. É formada por centros urbanos de dimensões variadas, que estabelecem relações dinâmicas entre si de diferentes magnitudes. São essas interações que respondem não apenas pela atual conformação espacial da rede, mas também por sua evolução futura (...) (MOTTA; AJARA, 2001, p. 10).

Até a década de 1970 a rede urbana brasileira apresentava estrutura primaz com grande concentração das atividades produtivas nas grandes metrópoles o que as levava a assumir papel

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de destaque no contexto urbano e econômico. Haviam as metrópoles e as grandes cidades, um grande número de cidades pequenas de baixa articulação entre si e poucos centros intermediários, intensificando o processo de macrocefalia urbana. Em síntese, o que se observava era a hegemonia dos poucos centros de alcance nacional (AMORIM FILHO; SERRA, 2001, p. 10). Ademais, a concentração das cidades mais pujantes estava na porção litorânea do país, respondendo pelo modelo econômico agroexportador e, ainda, em grande medida no centro-sul brasileiro.

A partir da segunda metade da década de 1970, a desconcentração produtiva ocasionada pelas deseconomias de aglomeração e pela crise mundial do padrão de acumulação fordista, levou atividades produtivas e demais serviços a se instalarem em centros não metropolitanos, engendrando a ascensão de novos nós na rede urbana. A partir da interiorização da produção e do avanço econômico, estes núcleos urbanos não metropolitanos passaram a também receber intenso fluxo migratório, ampliando as relações e a articulação entre as cidades e as tornando, em determinado grau, polos de desenvolvimento. Conforme a concepção de Perroux (1977), os polos de desenvolvimento são o resultado das mudanças sociais e econômicas que levam uma dada área a crescer de forma constante e durável. O espraiamento de tais cidades polos exercem influência sobre outras cidades menores próximas, estimulando a desconcentração econômica, populacional e o desenvolvimento territorial, equilibrando, nesta direção, a rede urbana.

A influência destas cidades sobre os espaços menos complexos que lhes são tributários conferiu a elas a função de intermediação entre os diferentes centros do sistema de cidades, ampliando os seus papéis regionais e denotando destaque, principalmente, no referente ao provimento de bens e serviços para a sua hinterlândia. Estas cidades passaram a ser reconhecidas por muitos autores enquanto cidades médias e se definem a partir de

seus papéis regionais e ao potencial de comunicação e articulação proporcionado por suas situações geográficas, tendo o consumo um papel mais importante que a produção na estruturação dos fluxos que definem o papel intermediário dessas cidades (SPOSITO, 2001a, p. 635).

O processo de desconcentração das atividades econômicas, então, transformou as cidades médias em áreas de grande potencial de absorção de empreendimentos, pois ao mesmo passo que apresentavam vantagens aglomerativas, não incorriam das desvantagens e saturações vivenciadas nas grandes metrópoles (PEREIRA; LEMOS, 2004, p. 1).

A partir da década de 1990, três fatores emergiram para aumentar os papéis destas cidades frente ao contexto urbano nacional, a saber: a reestruturação produtiva, a abertura do

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mercado e o reescalonamento no papel do Estado (AMORIM FILHO; SERRA, 2001, p. 22). Estes fenômenos resumem a organização territorial brasileira a partir desta década, ao justificar a tendência da reconcentração espacial em novos núcleos urbanos ao mesmo passo que deram o tom para a reversão da polarização iniciada ainda na década de 1970. Portanto, o par desconcentração e reconcentração é mais uma possibilidade dialética e analítica para entendimento da realidade urbana brasileira.

A reestruturação produtiva a partir de 1990 atrelou-se, principalmente, às mudanças de cunho tecnológico, influenciando a desconcentração urbana por baratear os custos de transferência dado o avanço das tecnologias de transporte e comunicação3. Contudo, o novo paradigma centrado na tecnologia da informação tende a priorizar as áreas com densidade técnica, isto é, locais onde há presença de universidade e centros de pesquisa, propiciando uma reconcentração urbana e econômica no território brasileiro, como apontado por Diniz (1993). Em estudo sobre a rede urbana divulgado pelo IPEA, IBGE, Nesur-IE-Unicamp (1999, p. 62) o que se constatou foi que ao mesmo passo que se observa a reconcentração espacial segundo os moldes exigidos pelo capital financeiro e internacional, relevando o destaque das metrópoles e aumentando as vantagens aglomerativas e externalidades positivas destas, observa-se também a ascensão de centros intermediários como novas áreas de desenvolvimento industrial e difusão do setor terciário.

A abertura comercial, por sua vez, dinamiza a comercialização dos produtos finais em mais áreas do território e as cidades médias, em muito, passam a se comportar como “um ponto de difusão da produção e dos valores do sistema sócio-econômico de que faz parte” (AMORIM FILHO, 1984, p. 12). As cidades localizadas mais ao interior do país, devido ao contato com o comércio exterior, assistem o incremento de sua economia, uma vez que podem vender os seus produtos para o mercado externo e, ainda, conseguem comprar os insumos mais baratos, dada a menor taxação das importações. Porém, com exceção das áreas de avanço da fronteira agrícola e das cidades exportadoras de commodities, o que se observa é a reconcentração e ampliação dos papéis das cidades médias na porção centro-sul brasileira, dando sequência ao processo de desconcentração concentrada (DINIZ, 1993; AMORIM FILHO; SERRA, 2001).

O avanço do receituário neoliberal e o reescalonamento do Estado atrelou-se à desconcentração urbana a medida que a privatização de setores estratégicos de investimentos em infraestrutura adentrou o interior do país, por exemplo, a construção de rodovias, energia

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elétrica, internet e telefonia. Entretanto, o investimento de infraestrutura também se dá de maneira seletiva, pois este setor tende a ir para locais onde há densidade econômica, como analisado por Diniz e Lemos (1997).

Os fenômenos acima relacionados propiciaram a ampliação do papel das cidades médias e, de certa maneira, a conformação de uma rede urbana mais equilibrada que a observada até a década de 1970. A interiorização da produção e do conhecimento científico levou a rede urbana brasileira a “perder aos poucos sua forma essencialmente concentrada no litoral” (IPEA, 2000, p.36), neste sentido, a urbanização brasileira passou a se interiorizar. Além disso, observou-se mudanças nos padrões migratórios que deixaram de seguir o fluxo campo-cidade e passaram a adotar o padrão cidade-cidade que é mais difuso e, até certo ponto, reduz a ida para os grandes centros já saturados.

Sposito (2001a) ao considerar a urbanização um processo histórico e cumulativo, impulsionado no Brasil, sobremaneira, pelo vetor da industrialização, demonstra que o papel das cidades vai se multiplicando e as suas funções se redefinindo ao passo da maior complexificação da divisão social e territorial do trabalho e do papel do consumo dos produtos industriais para a geração e multiplicação de núcleos urbanos. Para tal, a autora considera que a rede urbana brasileira começou a se estruturar apenas no século XX quando com a passagem do paradigma agrário-exportador para o urbano-industrial intensificou as mudanças na economia e a relação entre as cidades de diferentes portes.

Para fins didáticos, Sposito (2001a, p. 620) identifica três momentos da urbanização brasileira: o primeiro entre 1930 e 1955 em que houve a ampliação dos papéis urbanos e melhoria nas infraestruturas de circulação, além da preocupação em formação de um mercado consumidor nacional que conseguisse absorver os produtos das indústrias fomentadas pelo Governo; este momento testemunhou o aumento do número de cidades principalmente na porção centro-sul do país, porém, com pouca existência de cidades médias, visto que o padrão de industrialização demandava de grandes aglomerações. O segundo momento trazido pela autora data de 1955 a meados da década de 1980 quando há chegada de capitais externos na industrialização brasileira, ocasionando mudanças em toda a divisão internacional do trabalho, uma vez que as empresas internacionais buscavam mão-de-obra barata e ampliação do mercado consumidor. Em outras palavras, houve o aumento da produção industrial e necessidade da ampliação do consumo dos produtos finais, levando o incremento das cidades médias ao passo que estas respondiam por altas demandas de consumo. Entretanto, a industrialização intensificou o padrão migratório campo-cidade, aumentando em volume demográfico as

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aglomerações metropolitanas e, sendo assim, dando continuidade ao movimento iniciado anteriormente. Por fim, a partir da década de 1980, dada a ampliação do consumo e da constituição da classe média urbana brasileira, a rede urbana foi ampliada em maior número de cidades com múltiplas funções, sendo melhor equilibrada devido a maior articulação dos centros de diferentes portes.

Entretanto, a melhor estruturação da rede urbana brasileira não significa que ela atingiu o tipo rank-size, isto é, o devido equilíbrio e sinergia em seu interior. Amorim Filho e Serra (2001, p. 8) alertam sobre as discrepâncias existentes entre as porções do território brasileiro, mas compreendem que a evolução da rede de cidades do sudeste e sul do país propiciou a evolução para uma rede urbana nacional mais equilibrada, “com menor polarização entre as metrópoles e pequenas cidades, e maior presença de centros intermediários”. Na mesma direção, Tolosa (1972) argumenta que a evolução da rede urbana brasileira, apesar de ainda não ter atingido o padrão rank-size, tornou-se mais equilibrada devido ao desenvolvimento de centros intermediários4.

Com a melhor distribuição das pessoas e das atividades econômicas pelo território um dos papéis assumidos pelas cidades médias é o de equilibrar quanti-qualitativamente a rede urbana, ressignificando-a a medida que engendram fluxos para além das grandes cidades e das metrópoles.

A distribuição mais equilibrada das pessoas pelo território brasileiro e o consequente aumento do número de cidades de porte médio pode ser constatado quando os dados divulgados pelos últimos censos são analisados, conforme a tabela 015. Vale salientar que a presente pesquisa não se vale dos dados demográficos para caracterização de cidades médias, sendo necessária a distinção entre cidades médias e cidades de porte médio. Sposito (2010, p. 52) diferencia e define cidades médias enquanto aquelas que desempenham papéis de intermediação na rede urbana e cidades de porte médio como aquelas que se encaixam dentro de uma faixa demográfica estabelecida por um país ou por alguma instituição. Porém, o critério demográfico não deve ser negligenciável, pois serve como uma primeira aproximação para a caracterização das funções e processos, como explicitam Amorim Filho e Serra (2001, p. 3):

4 A forma rank si

ze de rede urbana é uma forma mais equilibrada do sistema encontrada, principalmente, nos países de economia mais desenvolvida e distribuição mais equânime da população pelo território.

5 De acordo com Sposito (2006a), embora não haja consenso sobre a faixa demográfica a ser utilizada para a caracterização de uma cidade de porte médio, no Brasil estas cidades podem ser classificadas como aquelas localizadas entre 50.000 e 500.000 habitantes.

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O critério da classificação baseado no tamanho demográfico tem sido o mais utilizado para identificar as cidades médias, pelo menos como uma primeira aproximação. Tal critério toma a população urbana como ‘proxy’ do tamanho do mercado local, assim como um indicador para o nível de infra-estrutura existente e grau de concentração das atividades. Desse ponto de vista, embora não haja um acordo absoluto quanto aos limiares demográficos máximo e mínimo que podem conter o conjunto das cidades médias, há em cada período histórico, coincidentes patamares definidores desse conjunto de cidades nas mais variadas regiões do mundo.

TABELA 01 – Evolução das cidades de porte médio ao longo dos Censos Demográficos

ANO DO CENSO Nº DE CIDADES ENTRE 50.000 E 100.000 HABITANTES Nº DE CIDADES COM MAIS DE 100.000 HABITANTES Nº DE CIDADES ENTRE 100.001 E 500.000 HABITANTES TOTAL 1950 128 38 35 201 1960 143 64 57 264 1970 157 94 83 334 1980 240 142 124 506 1991 284 187 162 633 /2000 301 224 193 718 2010 325 283 245 853

FONTE – IBGE. Disponível em <https://sidra.ibge.gov.br/tabela/1290> Organização da autora. A tabela 01 mostra o crescimento significativo do número de cidades entre 50.000 e 500.000 habitantes de acordo com os últimos censos. Este dado de ordem quantitativa é seguido pela análise qualitativa, ao passo que estas cidades passaram a exercer papéis diferenciados, assumindo dinâmicas mais complexas que passaram a figurar entre as agendas de pesquisa do país.

Estes núcleos, por estarem cada um deles inseridos em contextos urbano-regionais específicos, apresentam uma série de particularidades que tornam meandrosa a delimitação do conceito de cidade média. Apesar de consagrada pelos pesquisadores e interessados em Geografia Urbana, não há um consenso teórico-conceitual do que é cidade média, levando Sposito (2001a, p. 613) a aproximar o epíteto mais de uma noção do que de um conceito propriamente dito devido as bases empíricas que lhe dão sustentação.

Amorim Filho (1976, p. 9) avança em critérios teóricos para identificação e classificação de cidades médias, sendo eles:

1) Capacidade de manter interações, com um nível razoável de intensidade e de qualidade, tanto com cidades maiores quanto menores;

2) Ter condições necessárias para estabelecer relações de dinamização com o espaço rural que a envolve;

3) Apresentar certa autonomia na criação de pelo menos uma parcela de seus equipamentos de relações externas;

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4) A rede de cada cidade média deve apresentar uma intensidade e um grau de conectividade tais que facilitem as já referidas interações;

5) A sua estrutura morfológica interna, em consonância com sua posição no processo de evolução, deve apresentar:

a) Um centro funcional já estabelecido;

b) Um número variável de subcentros, espalhados pelas zonas pericentral e periférica, cujas formas, funções e espaços de relações variam de cidade para cidade, mas que atendem, apenas as necessidades de populações locais; c) Uma periferia que evolui muito mais através de saltos (descontinuidades

espaciais repentinas, resultando numa estrutura polinuclear), do que através de uma expansão lenta e homogênea de toda a coroa periférica do tecido urbano; 6) Por outro lado, não deve ser desprezado o fato de que aspectos tais como tamanho demográfico, estrutura interna e relações externas das cidades médias podem variar bastante de região para região, sendo naturalmente função do nível de desenvolvimento, da posição geográfica e das condições histórico-sociais da formação de cada uma dessas regiões;

7) Não deve ser confundida necessariamente com a noção de centro de polarização regional ou micro-regional. A coincidência não ocorre sempre. Além disso, as relações da cidade média com seu ambiente nem sempre são relações apenas de dominação, podendo haver, com este ambiente, também relações de complementaridade, estímulo, dinamização e, em certos casos, até dependência Sposito (2001a), considerando as mudanças recentes na rede urbana brasileira, afirma que as funções das cidades médias sempre se atrelaram aos seus papéis regionais e a sua capacidade de articulação com outros núcleos urbanos, contatos estes favorecidos ou não pelas respectivas situações geográficas. A circulação do capital através do consumo, nesta direção, suplantou a importância da produção para a estruturação dos fluxos entre as diferentes cidades, estando as relações das cidades médias associadas a dois níveis, a saber:

 Ao mercado regional, considerando-se a distância máxima a partir da qual os consumidores estavam dispostos a se deslocar para ter acesso a bens e serviços mais qualificados do que em centros urbanos menores e áreas rurais compreendidas nesse subespaço de relações; e

 A teia de relações com espaços urbanos de maior importância e/ou outros de mesma importância, potencializada pela situação geográfica de uma cidade média, segundo as facilidades para a drenagem da produção regional e para o abastecimento pela entrada de mercadorias, sobretudo industriais, produzidas em outros subespaços, na escala nacional ou internacional. (SPOSITO, 2001a, p. 636).

A importância assumida pelo consumo para as cidades médias é decorrente, principalmente, da maior complexificação da divisão social e territorial do trabalho advinda da transição do padrão de acumulação fordista para o sistema flexível em que para além das transformações nos papéis destas cidades, observa-se a intensificação das relações econômicas e ampliação das escalas em que elas atuam (BATELLA, 2013, p. 49). Vale colocar, todavia, que a ampliação das escalas não significa o rompimento com as relações territoriais mais imediatas, isto é, com a escala regional, uma vez que há cidades médias que só podem ser

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entendidas como tal a partir das relações horizontais que desenvolvem, confundindo-se com cidades de papéis regionais.

Além da importância dos agentes relacionados à economia, o Estado também assume protagonismo na produção do espaço urbano, sobretudo, ao estimular políticas que buscam o maior equilíbrio do sistema de cidades. Em suas instâncias federal e estadual, o Estado se comporta como um importante agente que através da legislação e de planos de desenvolvimento ajuda a delinear as formas urbanas brasileiras. Adiante serão apresentadas algumas estratégias territoriais que eclodiram ainda na década de 1970 e permitiram a ascensão de alguns centros não metropolitanos.

1.2 – O papel do Estado na produção do espaço urbano e expansão de cidades médias brasileiras

O Estado brasileiro foi primordial para o processo de industrialização no país e para a substituição do modelo agrário-exportador para o modelo urbano-industrial. Entretanto, no que diz respeito às políticas de urbanização até a década de 1970, estas eram ainda muito restritas à concentração das atividades nas metrópoles, visando de maneira diminuta a integração nacional (FERREIRA, 2010).

A década de 1970 foi emblemática em todo o mundo para o planejamento urbano-regional, significando a necessidade de desconcentração das grandes populações e de suas atividades tradicionalmente aglomeradas que acarretavam uma série de problemas (AMORIM FILHO; SERRA, 2001).

Na Europa do pós guerra, em especial na França, a preocupação com o equilíbrio na rede de cidades surge na forma do aménagement du territoire a fim de uma nova planificação que se alinhava, sobremaneira, a três pilares: o desequilíbrio urbano-regional amplamente descrito por Gravier (1958) em sua obra “Paris e o Deserto Francês”; o aumento dos problemas sociais e a diminuição da qualidade de vida nas grandes aglomerações e; a frágil organização hierárquica das cidades que comprometia o fluxo de informações (AMORIM FILHO; SERRA, 2001, p. 5).

O aménagement du territoire inspirou os planos urbanos de uma série de países, sobretudo, devido a sua reflexão sobre a necessidade de melhor distribuição da população e de suas atividades econômicas pelo território. A Organização das Nações Unidas (ONU) tendo em vista a necessidade de solucionar os problemas urbanos escalares, reforçou a necessidade de se

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