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nos Prêmios Estudantis

do Intercom 2015

objetos, interfaces e análises

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São Paulo INTERCOM 2016

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Copyright © 2016 dos autores dos textos, cedidos para esta edição à Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação - Intercom Diagramação e Capa Genio Nascimento Revisão Maiara Sobral Ficha Catalográfica

Pesquisa em Comunicação nos Prêmios Estudantis do Intercom 2015: objetos, interfaces e análises

[recurso eletrônico] / Organizadores: Maiara Sobral, Genio Nascimento e Adriana Omena. São Paulo: INTERCOM, 2016, 227 p.:il.

Inclui bibliografias. E-book.

ISBN 978-85-8208-096-2

1. Pesquisa em Comunicação. 2. Prêmios Estudantis. 3. Análises. 4. Objetos I. Sobral, Maiara (org.). II. Nascimento, Genio (org.). III. Omena, Adriana (org.).

CDD: 1ª ED. 302.2

Todos os direitos desta edição reservados à:

Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação- Intercom Rua Rua Joaquim Antunes, 705 - Pinheiros

CEP 05415-012 - São Paulo - SP Tel.: (11) 2574-8477 / 3596-4777

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Presidente do Conselho Editorial Muniz Sodré (UFRJ)

Conselho Editorial – Intercom Alex Primo (UFRGS)

Alexandre Barbalho (UFCE) Ana Sílvia Davi Lopes Médola (UNESP)

Christa Berger (UNISINOS) Cicília M. Krohling Peruzzo (UMESP)

Erick Felinto (UERJ) Etienne Samain (UNICAMP)

Giovandro Ferreira (UFBA) José Manuel Rebelo (ISCTE, Portugal)

Jeronimo C. S. Braga (PUC-RS) José Marques de Melo (UMESP) Juremir Machado da Silva (PUCRS) Luciano Arcella (Universidade d’Aquila, Itália)

Luiz C. Martino (UnB) Marcio Guerra (UFJF)

Margarida M. Krohling Kunsch (USP)

Maria Teresa Quiroz (Universidade de Lima/Felafacs) Marialva Barbosa (UFF)

Mohammed Elhajii (UFRJ) Muniz Sodré (UFRJ) Nélia R. Del Bianco (UnB)

Norval Baitelo (PUC-SP)

Olgária Chain Féres Matos (UNIFESP) Osvando J. de Morais (UNESP) Paulo B. C. Schettino (UFRN/ASL)

Pedro Russi Duarte (UnB) Sandra Reimão (USP)

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Introdução

A pesquisa de comunicação e os prêmios estudantis ...7

Maiara Sobral, Genio Nascimento e Adriana Omena

Prêmio Vera Giangrande

Quem foi Vera Giangrande? ...15

Maiara Sobral

Comunicação - trama e interação complexa de sujeitos em relações públicas ...16

Natália Biazus e Maria L. Cardinali Baptista (orientadora)

Jornalismo humanitário: cobertura em campo de refugiados de Uganda por uma estudante de jornalismo ...40

Talissa Azevedo Monteiro e Douglas Baltazar Gonçalves (orientador)

Ruptura ou continuidade: a domesticação dos suportes de leitura e a presença marcante do impresso no digital ...61

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Maiara Sobral

Representações sobre minorias em notícias do Portal G1 no Censo 2010 e sua contribuição para o fortalecimento do sentido de comunidade ...78

Adriana Gonçalves Saraiva e Raquel Paiva (orientador)

Serviços de rádio social, novos intermediários da indústria da música ...103

Luiza Borges Campos e Marcelo Kischinhevsky (orientador)

A dicotomia fotográfica: imagens para lembrar; imagens para esquecer ...127

Michel de Oliveira Silva e Paulo César Boni (orientador)

Prêmio Freitas Nobre

Quem foi Francisco Morel? ...152

Maiara Sobral

Contribuições da teoria das localidades centrais para o estudo da mídia no espaço ...153

Jacqueline da Silva Deolindo e Sonia Virgínia Moreira (orientadora)

Intelectuais do livro: espaços de formação e autorreflexão do espaço editorial no Brasil e na Argentina ...176

José de Souza Muniz Jr. e Sergio Miceli Pessôa de Barros (orientador)

Rádio Rebelde Zapatista: endereçamento para articulações e autonomia ...203

Ismar Capistrano Costa Filho e Angela Cristina Salgueiro Marques (orientador)

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Maiara Sobral

1

Genio Nascimento

2

Adriana Omena

3

A Intercom - Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, por meio da Diretoria Cultural, apresenta no ano de 2016 o primeiro e-book com os artigos finalistas dos prêmios estudantis realizados anualmente pela instituição. Os artigos deste primeiro livro foram apresentados no Congresso Nacional da Intercom realizado em 2014, na cidade de Foz do Iguaçu (PR) e participaram como finalistas da edição do Prêmio no ano de 2015.

1. Mestre em Educação pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). Atua como jornalista no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnolo-gia do Tocantins (IFTO).

2. Mestrando em Comunicação Audiovisual pela Universidade Anhembi Morumbi.

3. Doutora em Comunicação pela Universidade de São Paulo, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Tecnologias, Comunicação e Educação (PPGCE), docente no curso de Comunicação Social e Tutora PETConexões de Saberes Educomunicação todos na Universidade Federal de Uberlândia – UFU.

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No que diz respeito às categorias destinadas aos estudantes, são três prêmios: o Vera Giangrande, destinado às pesquisas desenvolvidas por graduados e recém-graduados; o Francisco Morel que premia pesquisas desenvolvidas por estudantes dos cursos de mestrado; e o Freitas Nobre dedicado às pesquisas desenvolvidas em programas de doutorado.

Finalistas Prêmio Vera Giangrande

Os finalistas do Prêmio Vera Giangrande 2015 foram as autoras Natalia Biazus, Talissa Monteiro e Thayz Guimarães. Com a orientação de Maria Luiza Cardinale Baptista, da Universidade de Caxias do Sul, Natalia Biazus apresentou o trabalho “Comunicação-trama e interação complexa de sujeitos em Relações Públicas”. Talissa Monteiro, sob a orientação de Douglas Baltazar Gonçalves, do Centro Universitário de Volta Redonda, apresentou o trabalho “Jornalismo Humanitário: cobertura em campo de refugiados de Uganda por uma estudante de jornalismo”. Já Thayz Guimarães, orientada por Márcio Gonçalves da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, apresentou o trabalho “Ruptura ou continuidade: a domesticação dos suportes de leitura e a presença marcante do impresso no digital”.

Em “Comunicação-trama e interação complexa de sujeitos em Relações Públicas”, Natalia Biazus traz a noção de comunicação-trama como um conceito contemporâneo, que liga Comunicação e Psicologia, e contempla o entendimento da subjetividade, afetividade e amorosidade no processo comunicacional. Utilizando conceitos teóricos de Deleuze, Guattari, Capra, Morin,

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Rolnik, Maffesoli e Balman, Natalia traça um novo caminho para os sujeitos da comunicação, nesse caso, centrado no profissional de Relações Públicas. Basicamente, há a necessidade de uma mudança epistemológica para se compreender o conceito proposto. A comunicação tem sido estudada durantes anos como um mecanismo que segue um processo comum a todos para seu funcionamento: um emissor, um código e um receptor. Já a perspectiva proposta nesse trabalho entende a comunicação em sua associação com a noção de trama. Nas palavras de Maria Luiza Cardinale Baptista, citada pela autora, “comunicação é a interação de sujeitos, a partir do fluxo constante a multidirecional de informação entre eles, uma espécie de trama-teia, composta tanto de elementos visíveis quanto invisíveis”. Nessa perspectiva, o receptor não é apenas o alvo da mensagem do emissor, independente dele entender a mensagem ou não. Há uma busca de interação entre esses dois papeis, buscando compreender as necessidades de cada papel para uma melhor compreensão da mensagem. Ou seja, uma nova postura do profissional para atender as mudanças dos tempos atuais.

Já Talissa Monteiro, em “Jornalismo Humanitário: cobertura em campo de refugiados de Uganda por uma estudante de jornalismo”, traz os conceitos de jornalismo humanitário, sua excasses na produção brasileira, em comparação a imprensa internacional, e ainda um relato de experiência da autora. Como prêmio por vencer um concurso promovido pelo jornal O Estado de S. Paulo, a autora embarcou em uma viagem de uma semana para conhecer o trabalho de Médicos sem Fronteiras em Uganda e cobrir os refugiados do Sudão do Sul que estão nesse país.

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Com “Ruptura ou continuidade: a domesticação dos suportes de leitura e a presença marcante do impresso no digital”, Thayz Guimarães fecha os trabalhos finalistas do Prêmio Vera Giangrande. A autora faz um apanhado da história do livro, desde as tabuinhas e pergaminhos, ao códice (a forma mais comum do livro) e ao livro digital. Ao analisar essas mudanças, a autora questiona se houve uma ruptura entre os suportes ou se um é a continuidade do outro, apontando aspectos do códice no suporte digital.

Finalistas do Prêmio Francisco Morel

Os finalistas do Prêmio Francisco Morel 2015 são os autores Adriana Gonçalves Saraiva, Luiza Borges Campos e Michel de Oliveira Silva. O trabalho “Representações sobre minorias em notícias do Portal G1 no Censo 2010 e sua contribuição para o fortalecimento do sentido de comunidade”, orientado por Raquel Paiva, da Universidade Federal do Rio de Janeiro, foi apresentado por Adriana Gonçalves Saraiva. Sob orientação de Marcelo Kischnhevsky, Luiza Borges Campos apresentou o trabalho “Serviços de rádio social, novos intermediários da indústria da música”. E Michel de Oliveira Silva apresentou “A dicotomia fotográfica: imagens para lembrar; imagens para esquecer”, que foi orientado por Paulo César Boni, da Universidade Estadual de Londrina.

Em “Representações sobre Minorias em Notícias do Portal G1 no Censo 2010 e sua Contribuição para o Fortalecimento do Sentido de Comunidade”, Adriana Saraiva traz os primeiros resultados de sua pesquisa de mestrado. Com base no Censo 2010, a pesquisa

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buscou analisar em releases e notícias do Portal G1 com os resultados do Censo a presença das noves minorias definidas pelo IBGE: mulheres, idosos, crianças, negros, índios, homossexuais, imigrantes, deficientes e praticantes do Candomblé/Umbanda. Mesmo sendo uma pesquisa inicial, a autora traz diversos dados que demonstram a vulnerabilidade social, desigualdade econômica e subordinação cultural dessas minorias.

Luiza Campos, em “Serviços de rádio social, novos intermediários da indústria da música”, traz uma análise de alguns dados sobre as chamadas rádios sociais, que são serviços online de músicas baseados em licenciamento dessas obras com as gravadoras. Esses serviços tem múltiplas configurações, que vão desde a divulgação de conteúdos radiofônicos tradicionais até a possibilidade de interação dos usuários via redes proprietárias. No Brasil, os serviços de rádio social onde predominam as interações em torno de conteúdos músicas, foco desse trabalho, são Last.fm, Spotify, Deezer, Rdio, SoundCloud e Grooveshark. Um dado significativo, dentre os vários apresentados no trabalho, é que em 2013 esses serviços atingiram 1 bilhão de receita, com um crescimento de 51,3%, e significando 27% do faturamento da indústria fonográfica.

Já em “A dicotomia fotográfica: imagens para lembrar; imagens para esquecer”, Michel de Oliveira apresenta o caráter paradoxal de uma fotografia, que pode ao mesmo tempo ser usada como um suporte da lembrança, ou seja, uma forma de não esquecer aquele momento aprisionado na imagem, e ao mesmo tempo pode ser destruída ou ocultada para promover o esquecimento.

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Finalistas do Prêmio Freitas Nobre

Os finalistas do Prêmio Freitas Nobre são os autores Jacqueline Deolindo, José Muniz e Ismar Capistrano. Com orientação de Sonia Virgínia Moreira, Jacqueline Dourado apresenta o trabalho “Contribuições da teoria das localidades centrais para o estudo da mídia no espaço”. José de Souza Muniz Jr., sob orientação de Sergio Miceli Pessôa de Barros, traz o artigo “Intelectuais do livro: espaços de formação e autorreflexão do espaço editorial no Brasil e na Argentina”. E Ismar Capistrano Costa Filho, orientado por Angela Cristina Salgueiro Marques, nos apresenta o “Rádio Rebelde Zapatista: endereçamento para articulações e autonomia”.

Em “Contribuições da teoria das localidades centrais para o estudo da mídia no espaço”, Jacqueline Deolindo apresenta a Teoria das Localidades Centrais, criada pelo geógrafo Walter Christaller, que basicamente significa a importância relativa de um lugar comparado ao seu entorno. A essa importância damos o nome de ‘centralidade’. No artigo, a autora observa a consideração dos serviços de mídia como um dos critérios para definir a centralidade de uma cidade na rede urbana e a importância do desempenho desse papel pelos meios de comunicação na sociedade contemporânea.

José de Souza Muniz Jr., em “Intelectuais do livro: espaços de formação e autorreflexão do espaço editorial no Brasil e na Argentina”, apresenta os percusos que os dois países vizinhos trilharam para que os espaços editoriais brasileiro e argentino adquirissem uma discursidade específica, como a criação de cursos para a formação acadêmica de editores, a publicações de livros sobre livros e a realização de eventos que discutam esses temas.

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“Rádio Rebelde Zapatista: endereçamentos de articulações e autonomia”, de Ismar Capistrano Costa Filho, traz um recorte da pesquisa de doutoramento do autor, que trata do Uso Social das Rádios Zapatistas na construção da autonomia política. Em 2005, o EZLN, criou três Rádios Insurgentes, que foram apresentadas como “a voz dos sem voz”. O recorte desse artigo é por uma dessas rádios, denominada Rádio Rebelde, que entre outras especificidade tem uma predominância de apresentações feitas por mulheres. A justificativa seria uma preocupação interna do movimento de combater o patriarcalismo e valorizar a dignidade das mulheres.

Apresentar os nove artigos disponibilizados nesse e-book é promover a difusão do conhecimento e da pesquisa realizada na área de Comunicação, além de incentivar os estudantes de diferentes níveis a dialogarem com a academia e a sociedade civil.

Dessa forma, esperamos que o “Pesquisa em Comunicação nos Prêmios Estudantis do Intercom 2015: objetos, interfaces e análises” seja utilizado como referência de futuros de estudos e seja um incentivo aos estudantes que participam dos congressos realizados pela Intercom, um incentivo à socialização das suas pesquisas, para que a cada dia, a Comunicação como objeto de estudo se fortaleça.

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Maiara Sobral

Para narrar a história das Relações Públicas no Brasil, é preciso citar os feitos de Vera Giangrande. Paulista, nascida em 1931, iniciou aos 16 anos, o curso de Biblioteconomia na Escola de Filosofia Sede Sapientiae. Em 1967, com o advento da Lei Federal nº 5.377, Vera se registrou como relações públicas. A partir daí, transitou por várias funções e cargos, o que a tornaria uma das referências da área.

Ela foi a primeira mulher a obter cargo de gerência em relações públicas numa empresa multinacional, outro acontecimento que aponta o pioneirismo e ousadia de Vera aconteceu em maio de 1993, quando ela assumiu o posto de ombudsman no grupo Pão de Açúcar.

Para Vera, o segredo da profissão era saber ouvir, era preciso contrariar um pouco a latinidade e passar a ouvir. Com essa escuta atenta, ela se tornou uma profissional multifacetada, pois transitou pela comunicação mercadológica e pela docência, ressaltando as diferenças entre o bom e o mau profissional de relações públicas. Ela faleceu no dia 22 de agosto de 2000, aos 69 anos.

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Natália Biazus

2

Maria Luiza Cardinali Baptista (orientadora)

3

Desde os primeiros registros oficiais das atividades de Relações Públicas e no decorrer de seu desenvolvimento, pode-se afirmar que a profissão sempre esteve a disposição das demandas de cada tempo, sendo então o “resultado de seu tempo”4. O que se percebe

1. Trabalho inicialmente apresentado na Divisão Temática de Relações Pú-blicas e Comunicação Organizacional, da Intercom Júnior – X Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do XXXVII Con-gresso Brasileiro de Ciências da Comunicação.

2. Estudante de Graduação 10º semestre do Curso de Comunicação Social Habilitação em Ralações Públicas da UCS e integrante do AMORCOMTUR! Grupo de Estudos em Comunicação, Turismo, Amorosidade e Autopoiese. 3. Professora Orientadora. Jornalista, pela UFRGS, mestre e doutora em Ciências da Comunicação, pela ECA/USP. Professora e pesquisadora do Curso de Comunicação Social e do Programa de Mestrado em Turismo da UCS (RS). Coordenadora do AMORCOMTUR! Grupo de Estudos em Comu-nicação, Turismo, Amorosidade e Autopoiese (UCS) e integrante do Filocom (ECA/USP). Diretora da empresa Pazza Comunicazione, de Porto Alegre. 4. Discussão realizada no encontro de orientação de pesquisa no dia 14 de agosto de 2013. Anotações do Diário de Campo.

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é que ao longo do século XX, as Relações Públicas acompanharam o rumo dos acontecimentos das relações entre as organizações e também foram se modificando, atendendo às necessidades, não só do mercado, mas da necessidade de sobrevivência dos laços e dos vínculos (MOURA, 2013).

Nesse início do século XXI, o cenário atual proporciona às Relações Públicas um campo de potência infinito de possibilidades de atuação. Observando a história, a legislação e as demandas contemporâneas, percebe-se que as Relações Públicas são o que se pode chamar de ‘campo de potência líquida’5. A legislação

brasileira define como atividades legais de Relações Públicas:

Art. 4º Consideram-se atividades específicas de Relações Públicas as que dizem respeito:

a) à orientação de dirigentes de instituições públicas ou privadas na formulação de políticas de Relações Públicas;

b) à promoção de maior integração da instituição na comunidade;

c) à informação e a orientação da opinião sôbre objetivos elevados de uma instituição;

d) ao assessoramento na solução de problemas institucionais que influam na posição da entidade perante a opinião pública;

e) ao planejamento e execução de campanhas de opinião pública;

f) à consultoria externa de Relações Públicas

5. Expressão usada por Maria Luiza Cardinale Baptista, em reunião de orientação, quando se discutia a atuação da área e suas possibilidades. Se-gundo ela, a noção de potência decorre dos estudos a partir da Esquizoa-nálise, de Félix Guattari e Gilles Deleuze, e a liquidez vincula-se ao texto de Bauman, que está sendo referido neste trabalho. A aproximação com os conceitos de Guattari e Deleuze é feita através dos textos de Baptista, estu-dados para esta pesquisa.

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junto a dirigentes de instituições;

g) ao ensino de disciplinas específicas ou de técnicas de Relações Públicas, oficialmente estabelecido. (BRASIL, 1968)

É com base na legislação da profissão que essa pesquisa toma como entendimento geral das Relações Públicas. Essa escolha parte do entendimento de que mesmo a definição tenha sido feita em um contexto diferente do atual, ela permanece sendo o alicerce da atividade. No decorrer de décadas houveram discussões e revisões da legislação, sendo que, em 2002, após tentativas de mudanças no projeto de lei, o Conselho Federal de Profissionais de Relações Públicas (CONFERP) estabeleceu a Resolução Normativa Nº 43, que trouxe atualizações significativas para as Relações Públicas e define funções e atividades da área (MOURA, 2013). A Norma traz esclarecimentos primários, como, por exemplo, como são compreendidos os diferentes segmentos da comunicação:

“X – Comunicação:

a) Institucional, aquela criada exclusivamente para formar imagem positiva em torno de uma organização, empresa, pessoa, ou, ainda, em torno de algo ou alguma coisa. A comunicação institucional, com este escopo, está ligada ao nível de abordagem do assunto tratado e ao tipo de linguagem adotada para transmitir informações de uma determinada organização. O nível de abordagem deve ter a amplitude necessária à representação do conjunto de conceitos de uma organização, como filosofia, valores, missão, visão, políticas, pensamentos, condutas, posturas e atitudes, tanto do ponto de vista ético-moral quanto administrativo, em todos os níveis da organização. A linguagem

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institucional é aquela que trata esses assuntos com isenção comercial ou mercadológica, atendose, apenas, a identificar, demonstrar e apresentar os conceitos ligados aos temas próprios da organização, com a intenção de informar e satisfazer os interesses de um ou mais públicos ligados à empresa e os dela próprios;

b) Corporativa, aquela com as mesmas características e objetivos da comunicação institucional, com a particularidade de estar ligada exclusivamente à alta administração das organizações;

c) Organizacional, a ação estratégica de uma organização, elaborada com base no diagnóstico global e em uma visão geral da organização, levando-se em consideração o processo de relacionamento entre a organização e os seus públicos, individual ou simultaneamente; d) Pública ou Cívica, a que promove o fluxo da informação entre as necessidades da sociedade e aquelas que estão disponíveis nas instituições públicas que são, por natureza, as portadoras do interesse coletivo. (CONFERP, 2002)

Além disso, detalha as funções privativas da atividade profissional das Relações Públicas. Ao definir o termo organização como “grupamento organizacional seja ele classificado como micro, de pequeno, médio ou de grande porte e de qualquer ramo de atividade, público, privado ou misto, com ou sem fins lucrativos;” permite que a atividade possa estar presente em infinitos campos de atuação, não se limitando a empresas, mas sim a qualquer lugar em que haja agrupamento de pessoas e que haja necessidade de trabalhar seus relacionamentos por meio da comunicação.

Foi esse “dar-se conta” da possibilidade infinita de atuação das Relações Públicas, a partir do princípio

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que a comunicação é compreendida a partir de diferentes frentes de atuação que desencadeou um produto audiovisual de discussão teórica e prática das Relações Públicas, desenvolvido na disciplina de Técnicas de Televisão6, em grupo pela autora, com a supervisão da

Professora Orientadora. O vídeo em questão é Relações

Públicas H2O, (BIAZUS; NASCIMENTO; STEINER,

2011). Nele, parte-se da leitura pós-moderna do cenário contemporâneo a partir dos estudos de Bauman (2000), com a obra Modernidade Liquida. Nela, o autor traça o paradoxo da solidez da sociedade moderna – fixa, sólida, e rígida – para uma fluidez da condição pós-moderna – leve e de fácil adaptação. A crítica do autor consiste na volatilidade e na superficialidade das relações nos tempos atuais.

Apesar desta crítica, foi a “extrema mobilidade dos fluidos” que encaminhou para a discussão principal da produção do vídeo. O dispositivo que iniciou a ideia de criação do vídeo foi trilha teórica. A obra de Zigmund Bauman (2000) “Modernidade Líquida” traz a metáfora do líquido para compreender os tempos em que vivemos

Os fluidos se movem facilmente. Eles “fluem”, “escorrem”, “esvaem-se”, “respingam”, “transbordam”, “vazam”, “inundam”, “borrifam”, “pingam”; são “filtrados”, “destilados”; diferentemente dos sólidos, não são facilmente contidos – contornam certos obstáculos, dissolvem outros e invadem ou inundam seu caminho. Do encontro com sólidos emergem intactos, enquanto os sólidos que encontraram, se permanecem sólidos, são alterados – ficam molhados ou encharcados. A

6. Disciplina ministrada por Maria Luiza Cardinale Baptista, no primeiro semestre de 2011, no curso de Comunicação Social Habilitação em Relações Púbicas da Universidade de Caxias do Sul, Rio Grande do Sul, Brasil.

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extraordinária mobilidade dos fluidos é o que os associa à ideia de “leveza”. [...] Associamos “leveza” ou “ausência de peso” à mobilidade e à inconstância: sabemos pela prática que quanto mais leves viajamos, com maior facilidade e rapidez nos movemos. Essas são as razões para considerar “fluidez” ou “liquidez” como metáforas adequadas quando queremos captar a natureza da presente fase, nova de muitas maneiras, na história da modernidade (BAUMAN, 2000, p. 8-9).

A “extraordinária mobilidade dos fluidos” em paralelo com a capacidade de mobilidade das Relações Públicas foi o mote que permeou as rodas de conversa entre o grupo e a Professora Orientadora. Dos estudos realizados para a produção do vídeo, ficou a clareza de que a fluidez das relações entre os sujeitos e as diversas organizações da sociedade, públicas e privadas, passa por um trabalho de ativação desse fluxo, de busca de intensidade e constância, bem como do reconhecimento do caráter essencial das relações entre os diversos públicos. A realização do trabalho audiovisual permitiu com que se abrissem novos caminhos de investigação. A temática da “extraordinária mobilidade dos fluidos” abriu as portas para o encontro com a teoria da complexidade: do campo de atuação das Relações Públicas, da interação das pessoas, do funcionamento das organizações, da condição complexa contemporânea. Temática que permeia o desenvolvimento desta pesquisa.

Comunicação-trama e Subjetividade

A comunicação-trama é uma perspectiva teórica da comunicação ligada a conceitos contemporâneos de ciência e de teorias da comunicação que aproximam os estudos de

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psicologia e comunicação (Psicomunicação). Trabalhada e desenvolvida por Maria Luiza Cardinale Baptista ao longo de sua carreira como professora e pesquisadora em comunicação, a abordagem contempla o entendimento da subjetividade, afetividade e amorosidade no processo comunicacional.

O conceito é decorrente de uma perspectiva transdisciplinar, a partir da compreensão de diferentes estudos. Para chegar ao conceito, a autora aprofundou suas pesquisas em trilhas teóricas não apenas comunicacionais. Na comunicação-trama estão compreendidos os estudos do físico Fritjof Capra, dos filósofos Gilles Deleuze e Felix Guattari, e da brasileira Suely Rolnik. Bem como Edgar Morin, Michel Maffesoli e Cremilda Medina. Seus estudos estão ligados ao FiloCom – Núcleo de Estudos Filosóficos da Comunicação da Escola de Comunicação de Artes – ECA da Universidade de São Paulo – USP. Além disso, também é desenvolvido em parceria com a Rede Nacional de Estudos da Nova Teoria da Comunicação coordenada pelo teórico da comunicação Ciro Marcondes Filho7.

Para que se possa abordar a interface entre as Relações Públicas e a perspectiva teórica da Psicocomunicação é preciso ter claro o deslocamento da matriz epistemológica científica, e consequentemente da matriz das Relações Públicas. Ou seja, de uma ciência mecânico-reducionista-cartesiano, para uma ciência com novos pressupostos teóricos de visão sistêmica, 7. Pesquisador de conceito 1A do CNPq, é o criador do Princípio da Razão Durante, a base da Nova Teoria da Comunicação, que propõe um saber espe-cífico e original para a área de Comunicação, assim como um procedimento de pesquisa próprio, o metáporo. Formado em C. Sociais e Jornalismo (USP/ SP), doutor pela Univ. Frankfurt, pós-doutor pela Univ. Grenoble (França), titular da Cátedra UNESCO “José Reis” de Divulgação Científica, é profes-sor titular da ECA-USP desde 1987.

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complexa e caótica da realidade (Baptista, 2013a). A matriz reducionista que se fala é compreendida a partir do entendimento de Ciência Moderna

A Ciência na Modernidade, a partir dos pressupostos da Revolução Científica, foi construída na Modernidade, a partir dos pressupostos da Revolução Científica, foi construída através da fragmentação dos fenômenos em suas unidades básicas, para tentar compreender-lhes o funcionamento mecânico, considerando suas manifestações concretas. (BAPTISTA, 2011a)

A matriz mecânico-reducionista da ciência influenciou, e ainda influencia, as mais diferentes áreas do conhecimento, inclusive os estudos em Comunicação Social, em que a comunicação é tida como um processo de funcionamento dentro de um mecanismo.

No início do século XX, a busca para entender o processo comunicacional estava diretamente ligada à maneira como a sociedade funcionava: fortalecimento das linhas de produção, e pessoas compreendidas como indivíduos dentro de grandes massas. Por consequência, nesse mesmo período, a atividade de Relações Públicas esteve diretamente ligada a este modelo de prática em que “a comunicação era entendida, portanto, como uma ferramenta que viabilizava o cumprimento dos objetivos e metas organizacionais.” (SCROFERNEKER, 2008, p.18). A metade do século XX foi marcada por diferentes estudos acerca dos efeitos gerados no receptor/indivíduo. A Teoria da Dependência apontou como um novo modelo de compreensão da Comunicação Social, com uma visão crítica e de resistência, buscando 7 Pesquisador de conceito 1A do CNPq, é o criador do Princípio da Razão

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Durante, a base da Nova Teoria da Comunicação, que propõe um saber específico e original para a área de Comunicação, assim como um procedimento de pesquisa próprio, o metáporo. Formado em C. Sociais e Jornalismo (USP/SP), doutor pela Univ. Frankfurt, pós-doutor pela Univ. Grenoble (França), titular da Cátedra UNESCO “José Reis” de Divulgação Científica, é professor titular da ECA-USP desde 1987 compreender o processo de interpretação e satisfação nos receptores, vistos também como agentes em uma sociedade (ARAUJO in MARTINO; FRANÇA; HOHLFELDT, 2002).

Já o final do século XX foi marcado pela teoria crítica da Escola de Frankfurt, que estudava a sociedade como um todo, sendo a Comunicação Social e os estudos dos meios de comunicação um dos vieses abordados. Estudiosos como Adorno, Benjamin, Habermas e Marcuse foram as principais referências dessa Escola, que ainda hoje reverbera em nossa sociedade. Nela a crítica ao sistema estabelecido é elevada, e traz grandes contribuições para se refletir o papel dos meios de comunicação. (MATTELART; MATTELART, 1999).

Importante observar que tanto nos estudos de recepção quanto na Escola de Frankfurt a Comunicação Social foi estudada a partir de uma mesma lógica de funcionamento dentro de uma sociedade de massa. Essa lógica compreende a comunicação como um mecanismo que possui funções rígidas para cada etapa: um emissor, que se utilizava de um código para enviar uma mensagem por um canal para um receptor, que poderia entender ou não.

Esse breve apanhado histórico retoma diferentes estudos realizados na perspectiva das Ciências da Comunicação. Nota-se que cada teoria corresponde à

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realidade social em que está inserida. Nesse sentido, o trabalho proposto por esta pesquisa busca uma aproximação com a realidade social em que estamos inseridos, o real contemporâneo, a partir de estudos ligados a discussão da pós-modernidade.

A perspectiva de comunicação-trama, escolhida como temático para esse trabalho, “parte do conceito de comunicação associada à noção de trama: Comunicação é a interação de sujeitos, a partir do fluxo constante a multidirecional de informação entre eles, uma espécie de trama-teia, composta tanto de elementos visíveis quanto invisíveis.” (BAPTISTA, 2013a). É nesse ponto que fica claro o deslocamento da matriz epistemológica, onde não temos mais definições concretas de papeis (emissor/ receptor), em que a compreensão da comunicação sai da fórmula: emissor que emite uma mensagem, utilizando um determinado canal, a partir de determinado código, para um receptor que recebe ou, no máximo, pode responder, reagir, produzindo feed-back. (Baptista, 2013b).

Nessa perspectiva, a comunicação é vista como um encontro de interação de pessoas, de desejos, de gestos.“Não há mais a concepção de emissor, de um lado, e receptor, de outro. O que importa é a relação.” (BAPTISTA, 2013a). Se não há mais a rigidez de uma fórmula comunicacional, a perspectiva ‘trama’ na comunicação passa a ser como um convite ao profissional de Relações Públicas para enxergar-se parte e construtor do processo comunicacional.

Importante trazer para conhecimento que o encontro comunicacional não é necessariamente um encontro de igualdades, mas sim um encontro de realidades. E esse encontro pode ser harmonioso e suave,

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ou então acontecer como um choque. Para as Relações Públicas, que tem como uma de suas frentes de atuação o gerenciamento de crises, a perspectiva da comunicação-trama agrega no sentido do entendimento que o conflito também faz parte da condição caótica e complexa em que vivemos.

A ideia de deslocamento na matriz epistemológica, no ponto de partida das Relações Públicas, da qual esse trabalho aborda, não tem como objetivo ignorar toda a trajetória e construção da profissão. Pelo contrário, se propõe que as ideias apresentas aqui sejam agregadores a todo trabalho já desenvolvido. Além disso, se reconhece que é justamente o entendimento do processo histórico e das práticas das Relações Públicas que trilha o caminho até a compreensão do cenário atual em que a atividade está inserida.

Após entender um pouco sobre o deslocamento da matriz epistemológica, se faz importante o entendimento da subjetividade compreendida nessa interação complexa de sujeitos. Se a comunicação é a interação de sujeitos em uma trama comunicacional, e o que importa é a relação, quem são esses sujeitos?

[…] cada sujeito é uma ‘mistura’ singular de informações, vivências, características em geral, sensações, ainda que, no caso de sujeitos do mesmo grupo, por exemplo, haja a coincidência destas influências. E é esse sujeito, mutante, em constante autoprodução que se considera como tendo qualidades ou praticado ações, que se relaciona a partir dos fluxos comunicacionais (BAPTISTA, 2013a).

A compreensão de subjetividade apresentada por Baptista tem suas bases nos estudos da subjetividade

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contemporânea compreendidos no conceito da equizoanálize, desenvolvido por Félix Guattari e Gilles Deleuze. Para nós, comunicadores e Relações Públicas, o sujeito passa a ser compreendido também como o receptor, e não apenas receptor. Lembrando que, na perspectiva da trama comunicacional, não há papeis fixos e rígidos, ou seja, o mesmo sujeito que recebe, também emite.

“O receptor, nesta perspectiva, não é alvo, em que se dispara. O receptor é o ‘ser amado’ a quem nos dirigimos, visando sua afecção e consenso, na conduta de ações de compartilhar. O receptor é nosso sustento existencial, no sentido de que o comunicados vive, em essência, para tentar construir esses encontros amorosocomunicacionais.” (BAPTISTA, 2013b)

Quando é mencionado que o receptor “não é alvo”, pensa-se em uma perspectiva de interação, para as Relações Públicas um ‘público-de-interação’ em que se tenha a sensibilidade de compreender a singularidade de cada processo/acontecimento comunicacional. Aqui se faz o gancho com o conceito de amorosidade a partir da abordagem de Humberto Maturana “O amor é a emoção que constitui o domínio de condutas em que se dá a operacionalidade da aceitação do outro como legítimo outro na convivência, [...]” (MATURANA, 1998, p. 23).

Trata-se, então, de uma postura amorosa em que se tem o cuidado de compreender o ‘todo’ do processo comunicacional como um sistema, e não mais como fragmentos “Isso significa, imediatamente, que nada é detalhe. Tudo é fundamental.” (BAPTISTA, 2013b).

O deslocamento de matriz de que se fala nesta pesquisa, está relacionado não unicamente à teoria,

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mas também um deslocamento no comportamento do profissional. “O real contemporâneo pede um cientista para compreendê-lo. Um cientista mais sensível” (BAPTISTA, 2013). E esse mesmo real contemporâneo exige também pessoas, sujeitos, cidadãos, e também profissionais de Relações Públicas mais sensíveis.

Ou seja, não se propõe aqui uma nova concepção de Relações Públicas. A definição da atividade, que tem sua origem em 1967, recentemente atualizada em 2002, segue valendo: “Todas as ações de uma organização de qualquer natureza no sentido de estabelecer e manter, pela comunicação, a compreensão mútua com seus públicos são consideradas de Relações Públicas e, portanto, não se subordinam a nenhuma outra área ou segmento.” (CONFERP, 2002). O que se propõe é uma nova postura de um profissional atendo aos sistemas e às mutações do real contemporâneo.

Complexidade

A teoria da complexidade desenvolvida por Edgar Moran encontra diferentes desdobramentos no campo comunicacional. Na obra de Baptista (2011a), a contribuição da teoria se constitui, principalmente, em enxergar o processo comunicacional como trama. Para a autora, Morin “[...]é uma referência importante, quanto à flexibilização do processo de busca do conhecimento, considerando a incerteza como algo inerente” (2011a).

Para as Relações Públicas, neste início de século XXI, a teoria da complexidade tem contribuído com os estudos de comunicação organizacional relacionados à complexidade das organizações contemporâneas, em que “[...] pode-se dizer que as 8 organizações são produto e

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produtoras da sociedade, ou seja, ao mesmo tempo, são resultado da ação sociocultural e suas construtoras.” (BALDISSERA in KUNSCH, 2009, p. 136).

No trabalho desenvolvido pelos autores de referência (SCROFERNEKER, 2008; BALDISSERA, 2009), a teoria da complexidade de Morin encontra sua aplicabilidade na comunicação organizacional, compreendendo a organização dentro desse processo complexo, enquanto trama que tece e é tecida.

A perspectiva da complexidade para a comunicação organizacional parte de um entendimento de condição de mundo complexo para se chegar ao entendimento de organização complexa. A realidade complexa em que estamos inseridos é entendida por “[...] aquela que atualiza, entre outros aspectos, como emaranhado de interações, retroações, inter-relações, tensões, conflitos, resistências, cooperações, desorganização e desordem.” (BALDISSERA in KUSCK, 2008, p. 140). Com base nesse entendimento chega-se a uma organização que está inserida nesse cenário complexo e, portanto, também vive esse emaranhado de interações.

Uma das principais contribuições da complexidade para a comunicação organizacional é o fato de não se acreditar na existência de um formato único para explicar e fazer a comunicação. (BALDISSERA in KUNCK, 2009).

Coletivo Labs Coworking

O caso estudado é a empresa Coletivo Labs

Coworking. Em funcionamento na cidade de Caxias do

Sul, Rio Grande do Sul, desde 2011, o Coletivo Labs trabalha em um modelo de gestão livre, não engessado, em que as transformações, tanto no plano físico quanto

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na tomada de decisões acontecem a partir da interação das pessoas que estão conectadas na rede de relacionamento do Coletivo. Atualmente o Labs trabalha em quatro frentes de atuação, são elas: escritório coletivo, incubadora de empresas criativas, projetos coletivos, e cursos, oficinas e eventos. O coworking (co-trabalhar) é um conceito que nasce

da união de pessoas que trabalham independentes umas das outras dividindo o mesmo espaço físico de trabalho, mas compartilham valores e buscam sinergia.

A prática do compartilhamento de espaços de trabalho, com a denominação de cowork é recente. Não há estudos acadêmicos aprofundados sobre esse modelo, o que se encontram são artigos e matérias em revistas que abordam o assunto associando-o à movimentação econômica. No que se refere à criação e ao surgimento do coworking, não há registro de um fato único que seja o marco inicial; porém há relatos de que o início tenha sido nos Estados Unidos, na década de 1990. Os dados aqui apresentados são resultado de um levantamento de informações em sites e periódicos, com o objetivo de conceituar e apresentar aspectos históricos do tema. Destaque nesse sentido para as publicações “E se todo mundo trabalhasse em casa?”8 e “Escritório Coletivo”9 da

Revista Superinteressante.

Em uma localização central, o Coletivo Labs está em uma ampla e aconchegante casa, o que torna o ambiente amigável não apenas aos visitantes mais principalmente aos coworkers10. Com funcionamento das 09h às 21h, sem

8. Disponível em: http://super.abril.com.br/cotidiano/se-todo-mundo-traba-lhasse-casa-667585.shtml Acesso em 24 de outubro de 2013

9. Disponível em: http://super.abril.com.br/cotidiano/escritorio-coletivo-620 320.shtml Acesso em 24 de outubro de 2013.

10. Termo utilizado para definir as pessoas que trabalham em um espaço de coworking.

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fechar ao meio dia, o Coletivo Labs conta com recepção, salas para coworkers fixos, sala compartilhada, cozinha, sala de reuniões, terraço, sótão, auditório, estúdio de fotografia, escola de inglês e internet de qualidade em qualquer lugar da casa. É coordenado pelos sócios-proprietários Samir Madi Cabral e Geraldine Moojem.

Samir é estudante de Sistemas Informação e tem experiência de mercado em Tecnilogia da Informação. Geraldine tem formação em Publicidade e Propaganda e especialização em Marketing, trabalhou em agências de Propaganda e empresas no setor de marketing e morou em Londres por cerca de cinco anos. No início do negócio havia um terceiro sócio, o Lucas, que também tem formação em Publicidade e Propaganda.

Desde 2011, ano de sua inauguração, já passaram pela casa mais de cem coworkers e quarenta empresas. Nesse mesmo período foram realizados mais de cem eventos e mais de dez projetos culturais foram apoiados pelo Labs. O site já teve mais de 15.000 visitas, a página do facebook já teve mais de 30 mil acessos e possui 3.442 curtidas (em 16 de novembro de 2013). Atualmente funcionam 21 empresas, 40 pessoas trabalhando em uma crescente rede de contatos11.

A escolha do Coletivo Labs para estudo de caso deve-se ao fato de a empresa apredeve-sentar um modelo de negócio em que as discussões teóricas propostas nesse trabalho encontram um campo fértil para desenvolvimento.

[...] processo comunicacional no contexto nas organizações que passa a contar com atores sociais que atuam em palcos e cenários mutantes, dinâmicos, interagindo mediante lógicas 11. Dados de novembro de 2013.

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nem sempre previsíveis, mais que demanda previsibilidade. Os espaços organizacionais deixam de ser lineares, colocando em xeque o modelo informacional simplificador, tecnicista e instrumental. (SCROFERNEKER, 2008, p.26)

A complexidade, a aceitação da condição caótica e a interação complexa de sujeitos dentro da rede acaba sendo o campo fértil de produção do Coletivo Labs, expressos na fala de Geraldine Moojen, sócia-proprietária do Labs, “A única regra é que não tem que ter regra. Que

não tem que engessar. Tem que esperar a pessoa vir para poder modelar. Sem diálogo isso aqui não anda.”

A aproximação com o Coletivo Labs enquanto objeto de pesquisa iniciou em setembro de 2013 por meio reuniões e atividades abertas ao público, sendo que a formalização da pesquisa acontecendo em outubro. Por meio de pesquisa qualitativa de caráter exploratório (YIN, 2005), a coleta de dados foi feita com a utilização de diferentes ferramentas metodológicas: diário de campo; observação participante em reuniões e atividades, incluindo “Labs Apresenta”, entrevista aberta com Geraldine Moojen.

O “Labs Apresenta” foi um encontro de coworkers que aconteceu nos dias 30 e 31 de outubro e 1º de novembro com objetivo de estimular a interação entre as pessoas e empresas que trabalham no Labs. Das vinte e uma pessoas ou empresas que hoje trabalham no Labs, quinze participaram. A observação participante12

aconteceu nos dois primeiros dias do evento, pois o 12. A observação participante é compreendida a partir do conceito “da inserção do pesquisador no ambiente natural de ocorrência do fenômeno e de sua interação com a situação investigada” (PERUZZO in DUARTE; BARROS, 2005, p. 125)

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último dia foi reservado para um encontro festivo. Além do acompanhamento presencial, toda a atividade foi registrada em áudio totalizando 4h52min de gravação e resultando em um relatório com decupagem de principais falas.

A entrevista aberta13 aconteceu com a

sócia-proprietária Geraldine Moojen no dia 14 de novembro. A entrevista também foi registrada em áudio, totalizando 1h24min de gravação e transcrição de todo conteúdo. Por essa metodologia ter como característica a flexibilidade e exploração, a conversa partiu de um roteiro base, definido previamente junto a Professora Orientadora deste trabalho, com tópicos a serem abordados durante a conversa.

Após a coleta de dados, fez-se uma primeira exploração no conteúdo, que resultou na decupagem do material coletado. Com isso, chegou-se ao agrupamento de categorias buscando a conexão do que foi coletado com os objetivos de pesquisa. A construção do recorte de falas foi feita a partir do que se coletou no processo de pesquisa de campo por meio da participação em reuniões, encontros, reunião aberta e registro no diário de campo.

Nesse sentido, definiu-se duas categorias distintas: caos e complexidade, e comunicação complexa e interação de sujeitos. Em cada categoria serão apresentadas falas acompanhadas de citações teóricas desse trabalho e comentários.

13. A entrevista aberta parte do princípio do recurso metodológico da entrevista em profundidade em que “busca, com base em teorias e pressupostos definidos pelo investigador, recolher respostas a partir da experiência subjetiva de uma fonte.” (DUARTE in DUARTE; BARROS, 2005, p. 62), sendo a entrevista aberta “essencialmente exploratório e flexível, não havendo sequência predeterminada de questões ou parâmetros de respostas” (DUARTE in DUARTE; BARROS, 2005, p. 65)

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Caos e complexidade

“Esse profissional não está mais se encaixando em um modelo de trabalho. E se essas empresas grandes não se adaptarem, eu vou roubar todo mundo. E não é porque eu quero roubar todo mundo e ficar rica. É por que eles não tão vendo o que a gente já tá vendo. Porque a gente tá gritando e ninguém tá atendendo. Então não é um modelo de trabalho que vai revolucionar o mundo. (…) A gente chegou no caos, da profissão, da moradia, da política, da saúde, a gente tá no caos. Vai mudar tudo, cara. Tá mudando. E se a galera não se mexer, vai perder.” (Geraldine Moojen – Entrevista aberta)

A fala aponta, primeiramente, para uma ruptura como modelo tradicional de produção, de ruptura com o sistema preestabelecido de modo de funcionamento instaurado com bases em estruturas rígidas. Pode-se identificar que parte também de pressupostos teóricos de quebra com um sistema moderno de funcionamento mecanico-reducionista.

Assim como feito nas discussões teóricas desse trabalho, a prática do Coletivo Labs também busca estar atento ao real contemporâneo. As falas de Geraldine evidenciam a aceitação da condição caótica e da complexidade como condição favorável para produção no Coletivo Labs. O que tem ligação com a fala de Baptista (2011a) “Caos que deve ser entendido não como algo nocivo, mas como garantia de flexibilidade neuronal que dá suporte aos processos de aprendizagem”.

Comunicação complexa e interação de sujeitos

“Para nós, o coworking é um estilo de vida que a gente considera (...) é filosofia de ter pessoas legais ao

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redor da gente.” (Samir Madi Cabral – Diário de Campo, Labs Apresenta) “A gente não vê o espaço com o só para locar, a gente pensa nas pessoas. Então, nossa maior preocupação são as pessoas, e a qualidade das pessoas pra tá fazendo uma rede legal, um networking bacana.”

(Geraldine Moojen – Diário de Campo, Labs Apresenta)

“Eu encaro a consultoria como um projeto que reúne vários talentos com especialidades diferentes e complementares dentro de uma proposta de consultoria colaborativa. Muito parecido do que a própria casa aqui faz” (Marcia Garbin, Nido Consultoria em Marketing –

Diário de Campo, Labs Apresenta)

“A primeira etapa é o ante projeto. Aí no ante projeto o cliente vai apresentar o briefing. Na verdade a gente faz uma lista de desejos, que eu chamo, aí eu traduzo essa lista de desejos do cliente pro terreno onde ele quer fazer essa construção.” (Laís Porto, proprietária

da empresa Lui Porto Arquitetura – Diário de Campo, Labs Apresenta)

“Os principais conceitos são os conceitos que eu tenho, são ideologias pessoais. De forma de vida, da casualidade, de tentar viver de uma forma mais próxima da natureza e fazendo tudo isso fugindo dos clichês que todo mundo segue” (Guilherme Wentz, designer na marca

que leva seu nome – Diáro de Campo, Labs Apresenta) As falas aqui expressas convergem tanto no conceito da interação complexa de sujeitos, quanto na relação amorosa. Evidenciam um modelo fluído de funcionamento, que se produz a partir do diálogo, do encontro e da demanda do outro. Práticas essas relacionadas ao conceito de amorosidade, em que o amor é “[...] aceitação do outro como legítimo outro na convivência, [...]” (MATURANA, 1998, p. 23).

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A interação complexo de sujeitos, da qual Baptista (2013a) aborda em seus estudos, encontra-se principalmente na rede de contatos do Coletivo.. Ao afirmar que “Sem diálogo isso aqui não anda.” Geraldine traz a comunicação entre os sujeitos como fator primordial para o funcionamento, sendo essa comunicação na perspectiva onde “Não há mais a concepção de emissor, de uma lado, e receptor, de outro. O que importa é a relação.” (Baptista, 2013a).

Vale destacar que no Coletivo Labs há uma grande diversidade entre as empresas que atuam (arquitetura, consultoria, engenharia civil, design, curadoria de conteúdo, etc.). Percebe-se que as rupturas aqui abordadas, quando se fala da comunicação ou do modo de produção, está disseminada em diferentes setores. Setores esses que demandam profissionais de comunicação ligados a essa realidade de ruptura em que estão inserido.

Considerações finais

Como resultado da pesquisa podemos observar que a transversalidade do conceito comunicação-trama conectados com a subjetividade, amorosidade e complexidade, permite compreender a comunicação para além do sistema emissor/receptor. Para as Relações Públicas, a relação do conceito contribui para a formação de um profissional mais sensível, que possa ampliar visão dos públicos de trabalho e enxergar também os sujeitos que estão compreendidos neles, ou seja, relativizar quem o é receptor. Nas palavras de Baptista (2013b), “O receptor, então, não deve apenas ser excitado com a emissão. Ele precisa ser envolvido, de tal forma, a

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acolhê-la como parte dele mesmo, acreditando, confiando nas sensações acionadas, como uma verdade amorosa, plena.”.

O Estudo de Caso permitiu, por meio de pesquisa qualitativa de caráter exploratório, a aproximação das discussões teóricas com a prática vivida no Coletivo Labs, apresentada por meio do recorte de falas, feito a partir da coleta de dados. Além disso, comprova a existência de um cenário propício para organizações que possuem o seu fazer e a sua produção pautada pela aceitação de uma realidade complexa e caótica. E é nesse cenário que se encaixam as discussões de aproximação das teorias contemporâneas com a atividade de Relações Públicas como um campo potência líquida.

Ao compreender as Relações Públicas a partir da noção de comunicação-trama como um processo complexo de interação de sujeitos, conclui-se que se trata uma atividade conectada com as demandas contemporâneas, tanto justificadas através das discussões teóricas, por meio da pesquisa bibliográfica, quanto no fazer real apresentado por meio do estudo de caso com o Coletivo Labs.

Esse estudo não tem por objetivo estabelecer a ‘formatação’ de condutas ao profissional de Relações Públicas e defender que ‘o caminho da verdade’ agora é a comunicação-trama. O que se busca é compor a grande trama de saberes das Relações Públicas e contribuir com o profissional que sempre se utiliza das estratégias para efetivação de seu trabalho, possa agregar em sua trajetória. Espera-se que, a partir das discussões propostas novos debates, discussões e produções sejam impulsionados.

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Referências

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dezembro de 1967. Disponível em: http://legis.senado.gov. br/legislacao/ListaNormas.action?numero=63283&tipo_ norma=DEC&data=19680926&link=s. Acesso em: 5 de agosto de 2013.

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YIN, Robert K. Estudo de caso: planejamento e métodos. 3.ed. Porto Alegre: Bookman, 2005.

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uma Estudante de Jornalismo

1

Talissa Monteiro

2

Douglas Baltazar Gonçalves (orientador)

3

No Brasil, tanto o termo quanto a prática do jornalismo humanitário são pouco usuais, e estão restritos a veículos de maior porte e a alguns profissionais

freelancers. Porém, é muito comum na imprensa

internacional, principalmente britânica e americana. O jornalista dessa área atua em situações de crises humanitárias como guerras e outros conflitos armados, epidemias, desastres naturais e pobreza extrema. Além de lidar com diversas outras pautas relacionadas a direitos humanos e questões internacionais.

1. Trabalho inicialmente apresentado na Divisão Temática de Comunicação, Espaço e Cida1dania (DT7 – GP Comunicação para a Cidadania), da Intercom Júnior – X Jornada de Iniciação Científica em Comunicação, evento componente do XXXVII Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação. 2. Estudante de graduação do 5º semestre do Curso de Jornalismo da Unifoa. 3. Professor e coordenador do Curso de Jornalismo da Unifoa.

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Abordaremos a atividade humanitária como um todo, sua atuação, princípios, valores e como é utilizada nas maiores organizações do mundo. Relacionaremos esses parâmetros com a atividade do jornalista em situações de crise. Também iremos expor códigos de ética jornalística para essas situações, que muitas vezes são os mesmo a serem seguidos por qualquer trabalhador de organização humanitária. Assim, também iremos relacionar esses princípios com valores básicos do jornalismo tradicional, como a objetividade. Ambas as vertentes serão trabalhadas com bases em organizações renomadas internacionais e pesquisadores da área de comunicação e ciências sociais.

Como o presente trabalho surgiu através de uma cobertura humanitária com refugiados em Uganda, iremos relatar também a experiência profissional e pessoal durante a viagem. Além disso, falaremos da organização Médicos sem Fronteiras que possibilitou a ida através de uma oficina de jornalismo humanitário para estudantes, que resultou no prêmio para conhecer um dos seus projetos no mundo. E por fim, apresentaremos o material publicado até agora no site do jornal O Estado de São Paulo.

Jornalismo humanitário como especialização jornalística

O jornalismo humanitário também é uma especialização jornalística, assim como o jornalismo esportivo, político e cultural. Segundo a jornalista especializada no meio, Adriana Carranca (em artigo publicado no seu blog “Do Front”, para o jornal O Estado de São Paulo), os profissionais dessa área cobrem crises

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humanitárias como conflitos armados, epidemias e desastres naturais. Além disso, segundo ela, o jornalista precisa entender de alguns assuntos importantes:

O jornalista humanitário – um termo incomum no Brasil, mas tão usual na imprensa americana ou britânica, quanto outras áreas do jornalismo – deve conhecer as leis humanitárias internacionais, como as Convenções de Genebra, seus tratados posteriores e protocolos adicionais, as Convenções de Haia, que estão entre os primeiros tratados de leis e crimes de guerra, entre outros documentos importantes do direito internacional. Ele acompanha o financiamento da ajuda humanitária, o trabalho da ONU e das organizações que atuam em campo, as decisões dos governos e organismos internacionais sobre o tema (CARRANCA, 2014).

Porém, o termo humanitário também deve ser entendido em seu contexto geral, na medida em que o profissional de jornalismo da área irá lidar com suas atividades em diferentes formas. Na concepção clássica, o humanitarismo seria a “(i) separação entre ajuda de emergência e desenvolvimento, (ii) reconhecimento e aceitação das limitações às operações impostas por soberanias nacionais, (iii) concepção da ajuda humanitária como neutra, imparcial e independente de objetivos políticos e militares” (PUGNALONI, 2011, p. 60).

Para Pureza (2005), citado por Pugnaloni (2011, p.60) o trabalho humanitário não deve ser avaliado apenas pelo que faz, mas sim como faz. Ao levar ajuda e aliviar o sofrimento, a assistência deve ser imparcial, independente e não discriminatória. “Aliviar e prevenir o sofrimento humano sem qualquer tipo de distinções”.

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Algumas organizações, inclusive, têm esses valores como norteadores de suas atividades para garantir a independência e livre-escolha em campo (locais de atuação), como Médicos sem Fronteiras:

Médicos Sem Fronteiras presta cuidados de saúde àqueles que mais precisam, sem discriminação de raça, religião, nacionalidade ou convicção política. A organização define o público que será priorizado com base, exclusivamente, na avaliação das necessidades de saúde identificadas. A possibilidade de aliviar o sofrimento de indivíduos por meio da ação médica é o que determina e norteia as atividades de Médicos Sem Fronteiras. (MÉDICOS SEM FRONTEIRAS, 2014).

Outra organização de atuação humanitária mundial que adota os mesmos princípios é a Cruz vermelha, que “atua com base nos princípios fundamentais da Cruz Vermelha, que são: humanidade, imparcialidade, neutralidade, independência, voluntariado, unidade e universalidade” (CRUZ VERMELHA, 2014).

Princípios estes que se relacionam com a própria atividade jornalística, a qual tem como um de seus parâmetros fundamentais: a objetividade. Assim é, pois o jornalismo humanitário se constitui também como uma ação humanitária, na medida em que a liberdade de expressão é um direito humano internacional “o exercício da liberdade de opinião, expressão e informação, reconhecido como uma parte integrante dos direitos humanos e das liberdades fundamentais, é um fator vital no fortalecimento da paz e da compreensão internacional” (UNESCO, 1983). Sendo assim, o jornalista, quando em campo, também precisa seguir valores da ética profissional que, muitas vezes, são os mesmos seguidos por trabalhadores humanitários de qualquer natureza.

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Um desses valores é a objetividade jornalística. Um relato objetivo seria aquele sem nenhum juízo do valor, no qual vários ângulos da notícia são mostrados para que o leitor ou espectador faça sua própria interpretação, sem interferência da opinião do autor (o jornalista). O modelo ideal pretende ser o mais objetivo possível, isentando-se de qualquer pré-noção e pré-conceitos por parte daquele que o produz. Porém, ela vai além do papel do jornalista e se encontra em todo o processo da construção do relato:

Trata-se de uma noção presente a cada fase do processo jornalístico, desde a pauta de assuntos a serem cobertos até o tamanho, a apresentação gráfica e a natureza do espaço que o texto vai ocupar no jornal. Uma questão de honra, um ideal a ser atingido ou uma paixão do jornalismo do século XX, embora, desde a sua incorporação, tenha sido confrontada com o seu contrário, a subjetividade (AMARAL, 1996, p. 17).

No entanto, o dia a dia da profissão mostra que nem sempre a objetividade é alcançada, sendo frequentemente questionada no meio de profissionais e estudiosos do jornalismo. Porém, segundo a autora Sylvia Moretzsohn (2002, p.56) esse referencial, apesar das críticas, ainda é adotado pela imprensa ocidental, e mais que isso, ainda “é em torno deles que se procura formular uma teoria do jornalismo”. Por isso, alguns autores a consideram um conceito fundamental para estudar e explicar a prática jornalística:

Do ponto de vista acadêmico, é quase consensual a crítica à objetividade que, apesar disso, ainda hoje é um dos pilares sobre os quais a instituição jornalística se sustenta. Essa situação é marcada, portanto, por um descompasso entre a prática profissional e as pesquisas teóricas que se fazem sobre o jornalismo (GUERRA, 1998, p.7).

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Em seu estudo, Bahia (1990), por exemplo, coloca a objetividade como responsabilidade jornalística, assim como a independência, a imparcialidade, a honestidade, a exatidão e a credibilidade. Porém, alguns pesquisadores como Rosen (1993, p. 53), já contestam esse parâmetro e seu futuro “os jornalistas irão talvez ter dificuldades no caminho da sua própria filosofia, uma que possa substituir a objetividade por algo mais forte e, se posso formulá-lo assim, mais estimulante”.

Segundo Goodwin (1993) o conceito de objetividade no jornalismo se inspira nos métodos científicos de ciências exatas e naturais. O modelo predominante nos Estados Unidos e no Brasil é inspirado no pensamento positivista que afirma que “o cientista social deve estudar a sociedade como mesmo espírito objetivo, neutro, livre de juízos de valor, livre de quaisquer ideologias ou visões de mundo, exatamente da mesma maneira que o físico, o químico, o astrônomo, etc..” (LÖWY, 1991, p.36).

O jornalismo, entretanto, é uma atividade social e diferencia-se do método científico no que tange à produção da notícia. Como explica Sousa (2002, p. 22), a ciência não deixa perder-se “nem a ideia de infragmentabilidade do real nem os métodos científicos que permitem reduzir as distorções induzidas no processo de construção de conhecimentos sobre a realidade”. Porém, segundo ele, nenhum dos dois é alcançado no jornalismo.

Esses questionamentos sobre teoria e prática no jornalismo, sobre o que é acordado nos códigos de ética e o que acontece no dia a dia, são ainda mais frequentes no jornalismo humanitário. Situações extremas, como guerras, trouxeram à tona diversas pesquisas sobre a postura do jornalista em campo. Devido a isso, em

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conjunto com jornalistas do mundo todo, a Unesco elaborou um código de ética jornalística, visando uma atividade mais humanizada e que colabore para a paz e liberdade internacional. Alguns dos princípios servem para jornalistas de todos os setores, editorias e veículos. Outros, porém, focam ainda mais na postura do profissional que cobre crises humanitárias.

O terceiro princípio, por exemplo, fala sobre a responsabilidade social do jornalista, a qual a informação deve ser encarada com um bem comum e direito do público, e não como uma mercadoria.

O que implica que o jornalista compartilhe a responsabilidade pela informação transmitida e, por conseguinte, responda não só perante os que controlam os meios de informação, mas também perante o público em geral e seus diversos interesses sociais. A responsabilidade social do jornalista exige que este atue, em quaisquer circunstâncias, em conformidade com a sua consciência individual (UNESCO, 1983).

Isso se aplica aos assuntos humanitários, que geralmente atraem o interesse público, mas interessam pouco aos donos dos diversos veículos. Esse princípio é uma das bases de qualquer código de ética jornalística, seja ele voltado para área humanitária, ou não. Porém, é um dos mais negligenciados e frequentemente debatidos pelos pesquisadores da área. Schudson (2008, p. 26), por exemplo, o coloca como uma das funções básicas do jornalismo. Assim, o jornalista deve prezar “a empatia social (...) a transmissão de histórias de interesse humano provindas de pontos de vista e modos de vida que compõem o mundo – concedendo aqui espaço às vozes menos favorecidas pelas restantes instâncias sociais”.

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Todas essas práticas jornalísticas, desde a concessão de espaços a alguns grupos, até a forma como as histórias serão transmitidas, segundo Maia (2006, p.21), fazem do jornalismo um subsistema. “Sob tal ótica, a comunicação deixa de ser entendida como meio, e passa a ser entendida como ambiente de ação”. Ambiente de ação este que possui práticas e sujeitos sociais. Por ser assim, o jornalismo se constitui como atividade social. Dessa forma, podemos analisar a questão da objetividade como é estudada nas ciências sociais e, a partir dessa base teórica, focar no seu uso particular nas atividades jornalísticas.

Em seu estudo, Löwy (1991) faz uma análise sobre as ideologias, onde se encontra a questão da objetividade nas ciências sociais. Sobre isso, o autor apresenta as ideias defendidas por autores como Emile Durkheim e Max Weber. Para Durkheim, o cientista social (e, portanto, o jornalista) “deve por de lado, sistematicamente, todas as prenoções antes de começar a estudar (reportar) a realidade social. Estas prenoções seriam viseiras que impediriam de ver o que realmente estaria se passando” (LÖWY, 1991, p.42). De fato, se assim não fosse, o jornalismo poderia se tornar motivação para propaganda. Para Bahia (1990, p.13), por exemplo, ser objetivo é ser criterioso, honesto e impessoal. Ainda segundo ele, a objetividade permite que o jornalista construa uma informação fiel e precisa ao que relata. “Em sentido mais amplo, objetividade significa apurar corretamente, ser fidedigno, registrar as várias vertentes de um acontecimento”.

No entanto, o outro autor apresentado por Löwy, Max Weber, questiona a eliminação de todas essas prenoções que Durkheim propõe. Para ele, não é possível

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