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Projeto experimental: pare, olhe, escute: trilhando um novo olhar sobre a fotografia

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Academic year: 2021

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Gabriela Silva dos Santos2 Lara Nasi3

RESUMO:

Este artigo aborda a relação da fotografia com a temática ferroviária em Ijuí, trazendo um comparativo de imagens antigas com os cenários atuais a partir da exposição fotográfica denominada Pare, olhe, escute: trilhando um novo olhar sobre a fotografia. Além disso, investiga os motivos pelo qual o trem vem perdendo o seu valor, deixando de ser uma atração, para ser um verdadeiro incômodo urbano, uma questão social, que provoca a busca por entendimento. Mediante esta conjunção, a fotografia é a ferramenta perfeita para resgatar a importância histórica do trem, trazendo como embasamento registros fotográficos do acervo do Museu Antropológico Diretor Pestana-MADP, por imagens de Alfredo Beck, Eduardo Jaunsem, Elimar Martins e Gerson Atkinson. A partir da releitura dessas fotos na contemporaneidade e exposição fotográfica, o texto busca esclarecer de que maneira a estrada de ferro está hoje, além de analisar a opinião dos moradores da localidade sobre o assunto, visando, deste modo, trazer aspectos do desenvolvimento do cenário. A aplicação acontece por meio de uma mostra fotográfica sensorial. Portanto, este artigo conclui que o trem é visto com saudosismo, pois predomina sua representação histórica dando continuidade a novas memorias.

Palavras Chaves: Fotografia, Trem, Exposição.

Considerações iniciais

A proposta deste artigo consiste em compreender a história ferroviária em Ijuí, além de investigar qual é o entendimento das pessoas em relação à história, tendo em vista que a fotografia representa a base para atrair e envolver as pessoas, recordando o passado ou conhecendo-o.

A escrita traz uma reflexão teórica, a partir da prática, sendo ela uma mostra fotográfica de cinco fotografias históricas de Ijuí, tendo como base os trilhos que cortam a cidade. As fotos foram refeitas, para enaltecer a análise do antes e depois. Por meio disso foi realizada uma exposição sensorial, para que as pessoas tivessem uma experiência de nostalgia, referente à temática ferroviária.

1 Trabalho de Conclusão de Curso desenvolvido como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em

Comunicação Social, habilitação Publicidade e Propaganda, na Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUÍ).

2 Acadêmica do Curso de Comunicação Social, habilitação em Publicidade e Propaganda na Unijuí. E-mail:

gabysilvadossantos@hotmail.com

3 Professora do Departamento de Ciências Administrativas, Contábeis, Econômicas e da Comunicação,

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A mostra foi a maneira de mensurar os resultados, pois buscou-se, nos depoimentos das pessoas que participaram da exposição, saber sobre a interferência do trem na cidade e quais eram as sensações a partir desta experiência. Ademais, descreveu-se toda a trajetória da construção do produto, evidenciando cada etapa para que a aplicação fosse possível.

O artigo visa trazer a importância da fotografia e a sua interferência na vida das pessoas, esclarecendo os aspectos da memória para a formação de uma comunidade, usando como fator principal o trem, que atualmente vem passando por uma fase de esquecimento e abandono.

Desenvolvimento da Pesquisa

Desde muito tempo a fotografia faz parte da vida das pessoas, sendo uma ferramenta básica na formação cultural de uma sociedade. O registro fotográfico continua sendo a melhor forma de congelar um determinado momento para relembrar e analisar, seja pessoas, espaços ou características culturais. Segundo Boris Kossoy: “Toda a fotografia é um resíduo do passado. Um artefato que contém em si um fragmento determinado da realidade registrado fotograficamente.” (KOSSOY, 2014, p. 49).

Dessa forma, é possível afirmar que a fotografia foi extremamente importante para contar a história de Ijuí; desde o ano de 1906 já havia registros por fotógrafos locais, que capturavam imagens da colonização, da geografia, da indústria, dos imigrantes, dos trabalhadores, da arquitetura, do comércio, além de viabilizar a cobertura dos principais eventos da cidade. Grande parte destas fotos foram produzidas por Alfredo Beck, que juntamente com sua família, é autor do que o Museu Antropológico Diretor Pestana (MADP) denominou como “Coleção Beck”, eternizando um legado para a história visual de Ijuí. Canabarro afirma que: “A coleção da família Beck é composta por imagens que retratam praticamente todo o processo de colonização do contexto analisado, pois esta família chegou à colônia seis anos após o início da ocupação”. (CANABARRO, 2011, p.144).

Essa bagagem de fotos mostra cenários que hoje são pontos principais de Ijuí, como é o caso da Rua do Comércio, presente em vários registros distintos. Em meio ao ambiente urbano, passa a linha férrea, um aspecto tradicional na aparência da cidade, mas que divide opiniões entre como era a imagem desse espaço e como é visto hoje. Em relação à fotografia, o autor Boris Kossoy ressalta que: “A vida, no entanto, continua e a fotografia segue preservando aquele fragmento congelado na realidade. Os personagens retratados envelhecem

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e morrem, os cenários se modificam, se transfiguram e também desaparecem.” (KOSSOY, 2014, p.172).

A inauguração da estrada de ferro, no ano de 1911, foi enaltecida em Ijuí, pois as pessoas esperavam fervorosas, em razão dos benefícios que esta iria trazer para o crescimento da localidade, tendo em vista que a linha já operava em Cruz Alta, desde 1910, como afirma Lazzarotto:

Acontecimento de importância para toda a região se dava a 19 de outubro de 1911, quando se inaugurava a estrada de ferro em Ijuí. Havia sido começada a partir de Cruz Alta, em 1907 e inaugurado o primeiro trecho de 30 Km, até a estação Faxinal, no dia 29 de maio de 1910. Essa estrada de ferro foi construída pelo terceiro batalhão de engenheiros do Exército Nacional sob o comando do tenente coronel Fernando Setembrino de Carvalho. No dia da inauguração, em Ijuí comandava o terceiro batalhão o tenente coronel José Pantoja Rodrigues, tendo como fiscal das obras o engenheiro-major Jonathas Rego Monteiro. O relatório de 1912 agradecia aos dois militares por ter mudado o traçado da estrada que devia passar a três quilômetros da vila. Graças a eles a estação foi construída na área urbana. (LAZZAROTTO, 2002, p.82)

Para Ijuí, a chegada do transporte ferroviário era sinônimo de oportunidade de trabalho, bem como de desenvolvimento social, atribuído à tecnologia e a modernidade. Logo, com as linhas ativas eram possíveis a locomoção e a circulação de diversas pessoas – e mercadorias, produção - para além município, um grande acontecimento, o qual é descrito pelos autores Marques e Brum:

Ijuí inteira rejubila-se e expande a sua alegria. E tem razão de estar contente. A estação ferroviária representa maiores facilidades de locomoção, de transporte, de comunicação, facilidade de escoamento de gêneros e de todas as riquezas que a próspera Colônia produz; facilidade e abreviamento do tempo para o recebimento de mercadorias, de notícias, por jornais, cartas, etc.; viagens mais cômodas e rápidas, dispensando o trote ou a marcha do cavalo em demanda das cidades vizinhas. (MARQUES; BRUM, 2004, p.212).

A chamada “Chocolateira”, pequena locomotiva chegou em meio aos festejos; algumas pessoas mais ousadas subiram no trem, na curiosidade de ver como funcionava aquela “máquina barulhenta” como relatam os autores Marques e Brum:

Ijuí de 1911, pacata e laboriosa, vibrou entusiasmada no dia da inauguração de sua estação da estrada de ferro. Interrompeu o ritmo do trabalho criador e construtivo, para assistir aos festejos da inauguração e participar da alegria contagiante que a todos animava. (MARQUES; BRUM, 2004, p.211).

Diante dos fatos descritos, é difícil aceitar que o olhar sobre o trem hoje já não tenha o mesmo entusiasmo. Por meio disso se deu a curiosidade de entender essa situação e analisar a opinião das pessoas sobre o assunto, buscando compreender os motivos da decadência do trem e investigar a linha que cruza Ijuí, por meio da sua imagem. A proposta inicial foi

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mostrar de que forma a locomotiva e a sua estrutura vem interferindo no visual de Ijuí, ressaltando suas mudanças e o desenvolvimento que o trem vem presenciando desde a sua chegada.

Processo de criação

A partir dessa percepção é que surgiu a proposta de um projeto experimental intitulado “PARE, OLHE, ESCUTE: Trilhando um novo olhar sobre a fotografia”. Como cita Martins (2005), a escolha do nome é um aspecto importante quando se trata de um produto ou serviço, e como a proposta é que o projeto tenha continuidade, é preciso que as pessoas fixem o nome para associar em futuras aplicações. O autor ressalta: “O seu nome é o bem mais precioso e valioso que você tem. Tudo pode mudar, mas, pelo seu nome, as pessoas saberão quem você é e onde pode ser encontrado.” (MARTINS, 2005, p.37).

A escolha do título busca relação com a placa de sinalização que está nos cruzamentos da linha férrea. A palavra “trilhando”, como se estivesse refazendo o mesmo caminho dos autores das fotografias escolhidas, enfatiza também o trem, destacando o ambiente urbano, desleixado ou pouco habitado.

Ao realizar a construção da marca, buscou-se criar algo simples, mas que tivesse atitude, força e presença, uma linguagem de fácil entendimento e percepção. O mote foi uma ilustração da Locomotiva Maria Fumaça, com cores de posição direta e de proximidade com todas as idades e gêneros, como é o caso do preto e branco. Acompanha a logo o nome do projeto, com uma tipografia bold para trazer a lembrança de placa de trânsito. Como slogan pensou-se em algo mais leve para equilibrar a marca.

Figura 1: Marca do projeto

Fonte: Elaboração própria

Para dar corpo ao projeto decidiu-se buscar o trem na fotografia em visita ao Museu Antropológico (MADP), pois como citam os autores Marques e Brum, sobre o MADP:

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Sua tarefa é colecionar e guardar documentos oficiais e particulares bem como objetos de qualquer espécie, que tenham relação com a história da zona e com a cultura e os costumes de seus habitantes. O Museu conservará esses documentos e objetos em arquivos e coleções para as gerações atuais e futuras, reavivando, destarte, e mantendo vivo o passado. (MARQUES; BRUM, 2004, p. 215 a 216).

Ao analisar os registros da época, percebeu-se a grandiosidade do acervo fotográfico da cidade, por isso, levou-se em consideração, no momento da escolha, imagens com a presença do trem e os mais significantes pontos da linha férrea em Ijuí. As fotografias escolhidas foram cinco, contendo em duas a passagem do trem. É com essas fotografias que analisou-se os cenários e buscou-se entender como a cidade vem se desenvolvendo ao redor dos trilhos. Já diziam os autores Marques e Brum: “Vamos procurar conhecer melhor o que é nosso, para melhor sentir o pulsar da alma ijuiense. Vamos conhecer nossas coisas e nossa gente.” (MARQUES; BRUM, 2004, p. 223).

Por mais que pareça evidente, observa-se a diferença de cada cenário, visto que a mudança temporal aconteceu de várias maneiras, seja no desenvolvimento urbano e vegetal de cada espaço, o que fica evidente comparando as fotos do acervo com as fotografias refeitas no projeto.

Figura 2: Vista parcial da estação ferroviária

Fonte: BECK, Alfredo, 1911 Fonte: SANTOS, Gabriela; SANTOS, Sandro-2018

Figura 3: Vista parcial da Rua do Comércio, no sentido leste

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A figura 3 retrata a passagem da Maria Fumaça cortando a avenida principal da cidade, momento histórico para a Rua do Comércio, referindo-se à trajetória das locomotivas a vapor. O cenário apresenta desenvolvimento e analisando este contexto é evidente o crescimento da cidade, pois como citam Marques e Brum, sobre o impacto da vinda do trem:

Ver-se-á como surgiram as primeiras casas de negócio na sede e nas picadas, como aumentavam junto com o crescimento da população, como se desenvolviam, de pequenos estabelecimentos comerciais a grandes casas importadoras e exportadora. (MARQUES; BRUM, 2004, p. 220).

A fotografia 4, desta vez sem o trem, apresenta o mesmo desenvolvimento na Rua do Comércio, mas com um olhar surpreendente, arborizada nos dois lados, com carros antigos da época.

Figura 4 –Vista parcial da Rua do Comércio

Fonte: JAUNSEM, Eduardo-1930 Fonte: SANTOS, Gabriela. SANTOS, Sandro-2018

Logo, o próximo registro (Figura 5) é dedicado ao antigo frigorífico Serrano, símbolo da indústria na cidade, mas que infelizmente, à época da foto encontrada no museu (1988), já se encontrava desativado.

Figura 5: Frigorífico Serrano

Fonte: MARTINS, Elimar-1988 Fonte: SANTOS, Gabriela. SANTOS, Sandro-2018

Mais recente, traz-se agora um registro (Figura 6) em um ponto estratégico da cidade, no qual se evidenciam os prédios e o movimento urbano.

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Figura 6: Vista do viaduto sobre a 14 de julho

Fonte: ATKINSON, Gerson-1999 Fonte: SANTOS, Gabriela. SANTOS, Sandro-2018

Após a escolha das fotos, iniciou-se um cronograma para os registros fotográficos, no qual saiu-se em campo para ver se existia a possibilidade de refazê-las. Para esta fase, decidiu-se que seria melhor dividir as atividades. A autora montou um grupo juntamente com Sandro Santos, e dedicou quatro dias, para registrar o máximo de imagens possíveis; dessa forma foi possível obter diferentes medidas de tempo, ensolarado, nublado, sol entre nuvens e o pôr do sol.

A primeira tentativa objetivou verificar esses espaços retratados e buscar, com o olhar da autora, refazer as mesmas fotografias, buscando o enquadramento mais próximo ao utilizado pelos autores das fotos originais. Para isso, a fotografia do antigo frigorífico Serrano foi uma aventura, pois esse cenário foi tomado pela vegetação e se encontra inteiramente arborizado ao redor da linha. Já o frigorífico permanece em ruínas, desativado desde 1983 e se degenerando com o tempo. Logo, na fotografia original que tinha a presença da indústria, esta mal pode ser vista devido à quantidade de árvores que cerca o cenário.

Muitas casas se encontram perto da linha férrea, com isso o grupo deparou com esgotos a céu aberto, que chegavam a invadir os trilhos, bem como uma grande quantidade de lixo depositado no acostamento da passagem do trem. A percepção foi como se aquela parte da cidade fosse um lado sombrio em que o trem e a sua simbologia histórica ficassem

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afastados do restante. Ao final, foi possível produzir diversas imagens desse espaço, que provavelmente é desconhecido por muitas pessoas.

Em um segundo momento, o grupo se reuniu e juntamente com nossa orientadora partiu para a produção da fotografia na 14 de julho. Ao analisar a imagem feita por Gerson Atkinson, constatou-se que o enquadramento deveria ser na vertical, para então chegar mais próximos do que ele havia feito. O auxílio da orientadora foi de grande relevância, pois forneceu dicas nos ajustes de câmera como foco, balanço de branco e a segurança, ao fotografar no meio da rua. Logo, as imagens estavam semelhantes, o dia era ensolarado com cores vibrantes e interferência da movimentação, deixando a imagem mais rica em detalhes.

Neste mesmo dia, aproveitou-se o tempo bonito que fazia para fotografar na Rua do Comércio. O horário era perfeito, pois o objetivo era fotos que mostrassem como Ijuí é hoje, ou seja, muitos carros, ônibus, motos, pessoas circulando, os trilhos e o comércio; essa movimentação tinha que aparecer, pois eram 13h e a Rua do Comércio estava fervorosa.

Percebeu-se que nossa maior dificuldade estaria nas fotografias com a presença do trem. Setembro é um mês de pouco fluxo de passagem, logo suas raras aparições aconteciam no período da noite ou mesmo durante a madrugada. Levou-se aproximadamente 15h divididas em dois dias de espera na estação ferroviária de Ijuí, para então, no dia 14 de setembro, às 12h33m conseguir registrar sua chegada à estação. O inesperado foi saber que naquele momento o trem realizou uma parada, devido a outro trem estar manobrando à frente. Para o grupo foi o momento de fotografar todos os ângulos desejados, uma ótima oportunidade depois de tanta espera. Logo mais, quando o trem deu partida buscou-se refazer a fotografia da sua passagem pela Rua do Comércio. Era o cenário ideal, uma sexta-feira com sol entre nuvens em um horário de agitação no trânsito de Ijuí.

Para os registros fotográficos descritos a cima, usou-se uma câmera Nikon D7100, lentes 18-105mm e 50mm e um tripé. O próximo passo foi a escolha das imagens mais semelhantes, para então, compará-las às originais selecionadas e por fim dar continuidade ao seu tratamento. A equipe contou com a ajuda de um profissional, que com o uso do Photoshop equilibrou as cores e a iluminação das imagens, finalizando essa etapa.

Esses registros refeitos, com o passar dos anos, terão um novo olhar, pois os cenários se modificam, seja pelo tempo ou por intervenção humana e disso só nos restam as memórias, como afirma a autora Barros:

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Se é verdade que fotografia é sempre memória porque sua condição de existência exige que ela se apresente depois de aquilo que ela representa ter acabado, também é verdade que a experiência do fotográfico só pode acontecer no presente do ser – e então memória nunca está no passado porque sempre está em processo. O passado e a memória não se conservam; constroem-se. É, assim, surpreendente que ainda se coloque sobre a fotografia a responsabilidade da preservação da memória. É de se notar que a ubiquidade temporal da fotografia não se restringe ao passado presentificado (ou a um presente reconhecido na ancestralidade), estende-se também ao futuro. Embora a fotografia possa ter um importante papel na conservação de certas informações que acabarão por integrar a memória, essa mesma memória é, talvez, tão devedora da imaginação produtora, aquela que cria mundos, quanto da imaginação reprodutora, aquela que reapresenta os dados da percepção. (BARROS, 2017 p.154 a 155).

A reflexão feita pela autora instiga o pensamento, pois esses registros só têm valor por serem memórias, permitindo assim recordar a qualquer momento detalhes que muitas vezes nunca foram notados. Graças à fotografia, foi possível contar a história ferroviária com provas, um momento histórico, de alegria e desenvolvimento, mas também construir memórias a partir do tempo presente. A construção da memória do passado é possibilitada pela leitura das imagens originais dos autores, e as fotos produzidas, refeitas para comparar o que mudou, abrem novas possibilidades de construção de memórias futuras.

Túnel da Memória

Após o processo de desenvolvimento do produto, havia em mente que era necessário expor essas fotografias. Comparadas às originais, demonstram a mudança de cenário e todo o crescimento urbano ao redor, por isso, o grupo sabia que as pessoas iriam se surpreender quando se deparassem com essas imagens.

Para que a exposição fosse possível, era preciso buscar apoio e através dessa proposta, a equipe decidiu contatar empresas e organizações relacionadas à cultura, informando via e-mail qual era a nossa intenção. O retorno aconteceu pela União das Etnias de Ijuí (UETI) 4e a da Coordenadora de Marketing da Unijuí.

O papel da UETI foi fundamental para a aplicação deste projeto, pois a mesma tem o objetivo de promover a cultura com o movimento da união étnica de Ijuí, realizando o intercâmbio e a integração das doze entidades representantes. Em conversa com os dirigentes, foi oferecido um espaço amplo para expor a mostra na EXPOIJUÍ FENADI 5 2018, nos dias 17, 18 e 19 de outubro. Além disso, pela parceria, foi concedida a liberdade de circulação

4 Entidade Civil que promove a cultura da União Étnica de Ijuí, por meio de eventos, projetos e atividades

destinadas ao interesse comum.

5 Feira Industrial e Comercial de Ijuí realizada anualmente no mês de outubro no Parque de Exposições

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dentro da feira e apoio na divulgação. Chico Rollof, diretor da Ueti, indicou a um encontro com os secretários da 36ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE), o qual acrescentou ao cronograma dos alunos das escolas públicas estaduais a visita à exposição.

Diante do progresso na busca por apoio, agora era o momento de se pensar em como fazer essa exposição ser diferente. Depois de muita pesquisa, decidiu-se que a melhor forma de trazer a lembrança do trem não era apenas com a fotografia, a partir da visão, mas acionando também outros sentidos. Foi neste contexto, que surgiu o “Túnel da Memória”, buscando propor uma experiência sensorial, com um ambiente escuro e fechado, em que o único ponto de luz seriam lanternas de cabeça, com a presença de sons de trem e a fumaça que isolava o espaço, causando sensações de nostalgia e realismo.

Com a ideia no papel, thavia o primeiro protótipo da estrutura do túnel que precisava ser grande o suficiente para que em seu interior coubessem cinco cavaletes com placas fotográficas e acolhesse os visitantes. Para a criação da estrutura, houve a ajuda de duas pessoas da família, na concretagem do PVC e costura do tecido, dando vida aos rabiscos.

Figura 7: Esboço do túnel da memória

Fonte: Rosana Berwanger (Desenho)

Em seguida aconteceu uma reunião com o Coordenador do Marketing da Unijuí, Giancarlo Dari Bottega, o qual demonstrou entusiasmo com a proposta do projeto, enfatizou a importância de recordar a memória ferroviária de Ijuí. Desta forma, alcançou-se o apoio da Universidade de várias formas, como a revelação das fotografias, a placa com a ficha técnica das imagens, o empréstimo da máquina de fumaça pelo grupo de teatro e os cavaletes de madeira oferecidos pelo Museu Antropológico Diretor Pestana.

Para divulgar a exposição, contou-se com vários veículos de comunicação, como foi o caso da matéria publicada no site da Usina de Ideias6 e também no Portal de Notícias do

6 Matéria de divulgação, publicada pela Usina de Ideias da UNIJUÍ, acompanhe o link para a visualização:

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Ajuricaba.com7. Após a Exposição, foi divulgada uma matéria no Jornal da Manhã intitulada “Um novo olhar sobre a fotografia”. Rádios fizeram a divulgação durante os dias de exposição. Além disso, criou-se uma página no Facebook 8 para inserir publicações destinadas à divulgação da exposição; a mesma conta com mais de 180 seguidores em toda a região, sendo dessa forma, um canal que conecta as pessoas com as futuras ações do projeto.

Exposição na EXPOIJUI FENADI 2018

A mostra fotográfica iniciou no dia 17 de outubro às 14h no Parque de Exposições Wanderley Burmann. O grupo estava ansioso em receber as pessoas e ouvir os relatos diante da experiência sensorial ali proposta. Neste primeiro momento, recebeu alunos de escolas locais, como IMEAB – Instituto Municipal de Ensino Assis Brasil, Escola 15 de Novembro e a Escola Municipal Fundamental Thomé de Souza. Também esteve presente um grupo de pessoas da terceira idade, os quais estavam em passeio junto à Unimed, dentre outras, assim como demais que foram convidados pelo grupo no parque.

Ao final do dia, avaliou-se a tarde como gratificante; o projeto gerou boas conversas, principalmente com os idosos, que descreviam com o maior entusiasmo sua memória afetiva com o trem. Percebeu-se que o carinho dos mais velhos permanece e a saudade foi grande quando se deparavam com as imagens dentro do túnel. Muitos ressaltavam suas lembranças ao andar no antigo Minuano, época boa de viagens marcantes que mudavam a rotina da cidade. Desta forma, em meio à exposição foi significativo compreender que aquela experiência foi acolhedora, pois a temática ferroviária marcou a vida das pessoas, que hoje recordam com saudosismo.

O discurso dos alunos já era com um olhar diferente, não foram todos que se manifestavam com entusiasmo, mas a maioria citava a importância do transporte ferroviário para o Brasil, acrescentavam o aspecto do descaso, de maneira preocupada em relação a como está esse espaço hoje, diante do que já foi. Na opinião dos idosos, a evolução da cidade foi algo gigantesco, mas demonstravam indignação ao perceber que o trem não participou desse desenvolvimento.

7 Matéria de divulgação, publicada através do Ajuricaba.com Portal de Notícias, acompanhe o link para a

visualização: https://ajuricaba.com/2018/10/08/alunos-de-comunicacao-social

8 Desenvolvimento da página no Facebook nomeada: PARE, OLHE, ESCUTE segue o link para a visualização:

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Registrou-se, em vídeo, depoimentos dos visitantes da mostra. Para esse registro, a equipe teve o auxílio de Juliana Andretta, acadêmica do curso de Jornalismo da Unijuí, atuando nas entrevistas e recepção dos visitantes.

O segundo dia da exposição (18 de outubro) teve uma movimentação razoável no Parque. Os visitantes da mostra fotográfica foram pessoas de várias idades e gêneros; foi o momento de coletar diferentes opiniões e conhecer um pouco mais da experiência de cada um com o tema. Estiveram presentes, muitas pessoas das etnias de Ijuí, como foi o caso do presidente da etnia Sueca, Luiz Edvino Hedlund, que demonstrou alegria e satisfação ao ver as fotografias históricas de Ijuí refeitas. Lamentou pelo desleixo nas linhas férreas e se admirou com o cenário urbano da cidade, além disso, descreveu o trem com sentimento de saudade.

A observação das pessoas diante dos autores das fotos originais também foi algo que se destacou, pois algumas enfatizaram ter conhecido a sua família e suas vivências. Por meio disso, percebe-se que cada um dos autores tinha uma representação na cidade, bem como um jeito próprio de fotografar, tornando-se popular devido a sua dedicação à fotografia. Marques e Grzybowski, neste sentido, afirmam que: “A intenção do fotógrafo e de quem foi fotografado nos interessam na medida em que foram captadas pela câmera. Cada fotógrafo tem sua maneira de ver o mundo, seu estilo e sua capacidade de uso de câmera.” (MARQUES; GRZYBOWSKI, 1990, p. 18).

Definitivamente foi no terceiro dia (19 de outubro) em que percebemos um aumento na movimentação das pessoas pelo parque, devido ao feriado de 128 anos do município. Recebemos a visita de pessoas de toda a região que não tinham a compreensão de que o trem permanece fazendo sua passagem na cidade. Foi um fato que as surpreendeu, ao ver as fotografias e o seu cenário atual. O antes e depois foi ainda mais significativo para quem nunca tinha visto Ijuí por esse olhar ou que simplesmente desconhecia esses cenários históricos da cidade, pois como Mario Osorio Marques e Lourdes Carvalho Grzybowski afirmam:

Opera ao contrário da memória que articula o passado ao presente vivido e à qual não restituiu o que nela foi abolido, certificando apenas que o que vemos existiu na sua singularidade e imediatez, na sua identidade única. Possui ela uma força conotativa que mostra não o objeto, mas a existência dele no passado. Nada nela se pode recusar ou transformar. (MARQUES; GRZYBOWSKI, 1990, p. 13)

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Sendo assim, a fotografia mostra com clareza a memória do passado, o objeto pode permanecer, mas as paisagens se modificam. Cada lembrança é única e a fotografia é a oportunidade de recordar.

Considerações Finais

Diante da produção fotográfica, as opiniões foram diversas, mas o aspecto comparativo foi algo que se sobressaiu. Comparar o desenvolvimento da cidade, seja geográfico ou por intervenção humana, é valido, mas dessa forma, o trem é o protagonista desse contexto. Resta entender porque não houve o desenvolvimento dele como na visão de cenário.

A locomotiva tem sua representação histórica, mas mesmo sendo uma lembrança, é algo que ainda corta a cidade de Ijuí, pelos trilhos, pelo trem. Além disso, é um patrimônio histórico que teve interferência na vida dos moradores e que deve ser conservado em melhores condições, enaltecido por seu significado e potencial econômico.

Por meio dessa situação, é possível refletir sobre a maneira que o transporte ferroviário é visto hoje, pois algo que um dia foi tão comemorado, se tornou um incômodo sonoro, ultrapassado e rotineiro. Esse foi apenas um dos aspectos mencionado por inúmeras pessoas que passaram pela exposição, que comparavam, em seus argumentos, o investimento e a qualidade do transporte ferroviário fora do país, se perguntando como seria bom se tivéssemos a mesma oportunidade. A defesa do trem foi ressaltada em nossas entrevistas e o mais interessante é que por mais que as pessoas não considerem agradável a buzina alarmante, elas enfatizam que é importante a permanência do mesmo na cidade, para preservar um costume que habita desde 1911.

No último dia de exposição, houve a oportunidade de se conversar com uma senhora da Etnia Italiana chamada Noeli Batista Baldissera que contou, de maneira afetiva, sobre seus passeios de trem a Cruz Alta. Muito emocionada, ela destacava sensações do balanço dos vagões, o cantar dos trilhos, as paisagens tranquilas e a velocidade demorada, que permitia observar tudo. O seu discurso era de saudade, e, após a experiência sensorial, foi como se todas as sensações descritas voltassem em questão de segundos. Desta forma, a memória de Noeli está ligada à relação de um determinado momento do passado, o qual se encontra à frente do perpassar do tempo.

Dados os resultados, é possível dizer que as fotografias foram provocativas, em meio à exposição, pois aqueles que tiveram contato com o túnel da memória sentiram-se próximos

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do passado e tocados pelo presente. Além das imagens, possuíamos a fumaça, os sons e o escuro, que instigava a curiosidade de descobrir o que estava no seu interior.

É provável que muitas das pessoas que passaram pela exposição, saíram com um novo conceito, entenderam que o papel do trem na cidade é significativo e está marcado na história. É um antigo visitante, que permanece cumprindo o seu trabalho, resistindo à má conservação dos trilhos, ao descaso dos vagões parados, ao lixo que invade seu entorno e ao esgoto que chega aos dormentes de madeira. Algo que não muda é o desejo de acreditar que as futuras fotografias sejam em melhores condições e que o trem continue trilhando por Ijuí.

REFERÊNCIAS

BARROS, Ana Taís Martins Portanova, Imagens do passado e do futuro: O papel da fotografia entre memória e projeção. Revista Matrizes: Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação da USP, São Paulo, v. 11, n. 1, p. 149 – 164, 2017.

CANABARRO, Ivo dos Santos. Dimensões da cultura fotográfica no sul do Brasil. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2011.

KOSSOY, Boris. Fotografia & história. São Paulo: Ateliê Editorial, 2014.

LAZZAROTTO, Danilo. História de Ijuí. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2002.

MARQUES, Mario Osorio; BRUM, Argemiro J. Nossas coisas e nossa gente. Rio Grande do Sul: Unijuí, 2004.

MARQUES, Mario Osorio; GRZYBOWSKI, Lourdes Carvalho. História visual da formação de Ijuí. Rio Grande do Sul: Unijuí, 1990.

MARTINS, José Roberto. Grandes marcas, grandes negócios. São Paulo: Global Brand, 2005.

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AGRADECIMENTOS

Primeiramente, aos meus pais, pelo incentivo na vida acadêmica e por dedicarem sua vida a mim.

Agradeço, ao meu colega e amigo Sandro Santos, que deu sequência a este projeto junto comigo. Sempre tive a curiosidade em descobrir mais sobre a temática ferroviária em Ijuí, e ele não mediu esforços para investigar junto comigo. Agradeço também a sua família, por dar vida a estrutura do Túnel da Memória, pelo trabalho árduo da costura e do envolvimento com o mesmo.

Agradeço ao meu namorado, Rhavel Sandri, por estar presente comigo em todos os momentos da produção fotográfica, pelo incentivo e apoio nos dias de desespero, pois me fez acreditar que era possível. Obrigada aos meus sogros, Valdir Sandri e Beatriz Sandri, que me acolheram por semanas em sua casa.

Agradeço também a nossa colega e amiga, Juliana Andretta, que se fez presente, de maneira voluntária, na exposição fotográfica, coletando bons depoimentos e nos auxiliando no que fosse preciso.

Obrigada a nossa orientadora Lara Nasi, pelo envolvimento neste projeto, pelas sugestões e apoio em todas as etapas. Sua orientação só veio a engrandecer esta ideia que começou pequena e que hoje apresenta projetos futuros.

Meus sinceros agradecimentos à UETI pela oportunidade de expor na EXPOIJUÍ FENADI 2018 e a UNIJUÍ, pelo apoio financeiro e também por incentivar as próximas aplicações deste projeto. Agradeço a todas as pessoas, que estiveram presentes na exposição fotográfica, nos dias 17, 18 e 19 de outubro, pois com seus relatos deixaram este projeto ainda mais rico.

Enfim, a todos que direta ou indiretamente, estiveram envolvidos com a nossa proposta, o meu muito obrigada!

Referências

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