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SALA DE AULA REVOLUTI E A PRODUÇÃO CULTURAL DO CURRÍCULO: DESAFIOS E ARTICULAÇÕES NO ESPAÇO-TEMPO DA ESCOLA

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SALA DE AULA REVOLUTI E A PRODUÇÃO CULTURAL DO CURRÍCULO: DESAFIOS E ARTICULAÇÕES NO ESPAÇO-TEMPO DA ESCOLA

Roberta Sales Lacê Rosário Orientadora: Rita de Cássia Prazeres Frangella Faculdade de Educação da Baixada Fluminense - FEBF/UERJ Programa de Pós-Graduação Educação, Cultura e Comunicação Eixo: Pesquisa e práticas educacionais

Categoria: Comunicação Oral

O presente trabalho propõe discutir as outras/novas reconfigurações do espaço-tempo da escola, assim como as reconfigurações do processo de ensino-aprendizagem incitadas pela entrada da tecnologia no espaço da sala de aula. Para tanto, as reflexões que desenvolvo neste texto, partem da pesquisa concluída durante o curso de Mestrado, onde a proposta de investigação teve como objetivo analisar e discutir as produções curriculares modificadas pela linguagem da tecnologia, enquanto linguagem que modifica e relaciona os sujeitos com o mundo e com o outro.

A trajetória da pesquisa que apresento se desenvolveu no período de setembro de 2011 a janeiro de 2013, com turmas dos anos iniciais do Ensino Fundamental. Durante essa caminhada, as análises e perspectivas de desdobramento da pesquisa tiveram como objeto o Projeto de Pesquisa da Sala de Aula e/ou Sistema Revoluti e seu desenvolvimento no Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira – CAp-UERJ, com o objetivo de investigar o processo de produção curricular que se constitui a partir dos usos com/na Sala de Aula Revoluti, no prédio do Departamento de Ensino Fundamental – DEF.

O design e os softwares da Sala de Aula Revoluti são resultado de parcerias de duas unidades da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ): a Faculdade de Educação da Baixada Fluminense (FEBF), pelo Programa de Pós-Graduação em Educação, Comunicação e Cultura, e a Escola Superior de Desenho Industrial (ESDI), com a empresa Habto Design (empresa incubada).

O Projeto Revoluti –

“Infraestrutura de Pesquisa sobre Modelos de Educação e de Comunicação

para as Salas de Aula do Futuro” – propõe a instalação das Salas Revoluti nas

unidades envolvidas no projeto de pesquisa, servindo de plataforma de estudos

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(PROJETO SALA DE AULA REVOLUTI, 2009). O que configura a sala é o

sistema de mesas duplamente articuladas, caracterizado por um “equipamento

modelo fechado”, o que significa que

cada Revoluti só faz sentido se implantada como um todo (servidor, thin-clients – versão i 810 desenvolvida pela Ory –, programas de suporte, piso elevado, mesas articuladas, monitores etc.), em projeto de arquitetura, elétrico e de lógica que faz parte do produto como um todo, integrado para que se evitem os conflitos (PROJETO SALA DE AULA REVOLUTI, 2009, p. 22). O Projeto Revoluti propõe, com a mobilidade dos equipamentos em suas diferentes possibilidades de organização no espaço de sala de aula, o desenvolvimento de processos de produção do conhecimento de forma descentralizada e interativa com o virtual e o real. Com essa perspectiva, o projeto teve início no CAp-UERJ, no ano de 2009, com as turmas do 3º ano do ensino fundamental, com a proposta de continuar nos anos seguintes, no 4º e no 5º anos de escolaridade.

A investigação da produção curricular que propus se inseriu no âmbito da trajetória de desenvolvimento do trabalho pedagógico com as turmas já cursando o 4º ano, dando continuidade ao acompanhamento das turmas até o 5º ano de escolaridade. Nessa dinâmica, insiro-me como pesquisadora do Grupo de Pesquisa Currículo, Formação e Educação em Direitos Humanos – GCEDH e do Grupo de Pesquisa Formação em Diálogo: Narrativas de Professoras, Currículo e Culturas – GPFORMADI, no qual proponho reflexões a partir das produções culturais dos sujeitos que, através da tecnologia, não apenas como mobiliário e ou aparato tecnológico, produzem outros/novos sentidos para a produção do currículo. Assim, trago para a problematização a constituição do currículo não como algo dado, posto, mas que se constitui nas relações intersubjetivas cotidianas, na negociação com a diferença e com o outro.

Assim, os questionamentos feitos no caminhar da pesquisa, e também a atuação como pesquisadora na instituição, demandaram a busca de compreensão da complexidade dos processos de produção de uma prática de pesquisa que também se constituiu na fissura, no equilíbrio e desequilíbrio, ao repensar minha própria ação e investigação. Sendo assim, ao privilegiar o registro e a problematização do movimento fluido que configura as relações e práticas cotidianas na Sala Revoluti no CAp-UERJ na condição de “movimentos articulatórios e contingenciais” (MACEDO, 2006; BARREIROS; FRANGELLA, 2010; LOPES; MACEDO, 2011) de uma produção curricular da instituição, saliento a importância de compreender o currículo não como

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um espaço físico de conteúdos, mas um “espaço-tempo de fronteira, permeado por relações interculturais e por um poder oblíquo e contingente de práticas” (MACEDO, 2008, p.106) constituído de diferentes percepções, posicionamentos, valores e sentidos que negociam com uma pluralidade de questões culturais e relações de poder ambivalente entre os sujeitos.

Dessa forma, as argumentações que se constituíram a partir da caminhada de pesquisa, e que foram fundamentais para consubstanciar o diálogo acerca dos pontos – currículo – cultura – tecnologia – prática/política, considerados eixos de articulação na produção da pesquisa, são desenvolvidos neste trabalho nas seguintes seções: produção curricular: prática política como enunciação cultural e sala de

aula Revoluti: quais reconfigurações possíveis? Nestas duas seções será possível

trazer as articulações que foram pensadas e ou possíveis durante a trajetória das análises.

Produção curricular: prática política de enunciação cultural

Na tentativa de compreender como os movimentos de alunos/as e de suas professoras1, ao experienciar a Sala de Aula Revoluti, foram se constituindo como movimentos de produção do currículo, entendo que

o currículo é, como muitas outras coisas, uma prática de atribuir significados, um discurso que constrói sentidos. Ele é, portanto, uma prática cultural (LOPES; MACEDO, 2011, p. 203).

Os movimentos de produção cultural dos sujeitos possibilitaram a discussão acerca das produções que conferem sentido a uma produção política dos sujeitos, consequentemente, uma produção curricular da instituição. Entendo que a política curricular não se constitui apenas por documentos curriculares oficiais ou até mesmo se apresenta na organização e na produção textual dos projetos de pesquisa, como o Projeto da Sala de Aula Revoluti, uma política curricular se constitui pelas ações políticas que negociam e disputam sentidos pelos sujeitos da prática.

Pensar que a produção do currículo se constitui pelos diferentes sujeitos – estudantes, professores e/ou funcionários envolvidos no processo do ensino-aprendizagem – e, por conta disso, assumir que as práticas desenvolvidas por eles são práticas curriculares, proporciona-me defender uma produção curricular que não

1O uso do gênero feminino se dá pela especificidade do quadro atual das professoras do Departamento

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se estabelece em função de dicotomias, como por exemplo, o sujeito praticante e o sujeito político, prática e política, ação e discurso, mas a entendo como política-prática, observando e problematizando as questões que esse posicionamento na pesquisa possa implicar.

Para tanto, o movimento de pesquisa exigiu um olhar para além dos movimentos verticalizados, marcados pela constituição de poder central, um poder que emana de esferas públicas, mas, em contrapartida, ter o próprio contexto da prática como campo de produção da política curricular – e não a implementação de algo estabelecido a priori (BARREIROS, FRANGELLA, 2010).

Há política porque há subversão e deslocamento do social. Isso significa que todo sujeito é, por definição, político. [...] Assim, explorar o campo da emergência do sujeito nas sociedades contemporâneas é examinar as marcas que a contingência inscreveu nas estruturas aparentemente objetivas das sociedades em que vivemos. (BARREIROS, FRANGELLA, 2010, p. 234).

Com esse entendimento, analisamos a política curricular que se constitui na prática do CAp-UERJ, observando que a instituição se articula com outras esferas, porém no seu contexto, em escala micro, é possível analisar a produção da política não como uma política que emana dessa esfera e outras instâncias superiores e mesmo externas, mas a produção política constituída no contexto micro da instituição. Dessa forma, a produção dos sujeitos que atuam no contexto da instituição, em meio às relações de poder ambivalentes, constitui sentidos para uma produção política cultural do currículo da instituição. Consideramos ainda uma polifonia na produção política em que as muitas vozes disputam sentidos numa provisoriedade dentro da cadeia discursiva, produzindo política cultural da instituição. Assim, argumentamos que discurso é política e política é discurso (FRANGELLA, 2009).

As contribuições de Lopes (2011), ao discutir a concepção de discurso proposta por Ernesto Laclau, não distinguem as práticas discursivas; além disso, reafirma que não existe nada fora do discurso, em que o discurso não é entendido como linguagem, mas sim como prática de um processo de significação. Nesse caminho, a autora leva ao entendimento de que os discursos, além dos processos de significações, envolvem constrangimentos e dão possíveis interpretações, limitações que, apesar dos escapes, sugerem possibilidade de fechamentos, ainda que provisórios, de sentidos.

Dessa forma, destacamos a produção de sentidos que entendemos como enunciação cultural dos sujeitos que negociam com o outro e com os diferentes

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espaços e tempos dentro/fora da escola, de forma a se modificar nessa relação dialógica por meio da linguagem. Uma linguagem que não apenas se apresenta mediante a fala, mas que está principalmente presente na relação do sujeito ao atribuir significados para a sua prática cotidiana. Como nos propõe Bakhtin:

o centro organizador de toda enunciação, de toda expressão, não é interior, mas exterior: está situado no meio social que envolve o indivíduo. [...] A enunciação humana mais primitiva, ainda que realizada por um organismo individual, é, do ponto de vista do seu conteúdo, de sua significação, organizada fora do indivíduo pelas condições extraorgânicas do meio social. A enunciação enquanto tal é um puro produto da interação social, quer se trate de um ato de fala determinado pela situação imediata ou pelo contexto mais amplo que constitui o conjunto das condições de vida de uma determinada comunidade linguística (BAKHTIN, 1998, p. 107).

A partir dessa afirmação, podemos observar que os sujeitos, na prática cotidiana, ao produzir outros sentidos para as suas ações na relação direta com a tecnologia, estão se apropriando da tecnologia como outra linguagem – e não somente como disponibilidade de aparato midiático. Mais do que isso, a tecnologia como linguagem pode ser compreendida como a possibilidade de mudança na forma como os sujeitos captam o mundo e as coisas, como se relacionam com o mundo dentro/fora dos espaços, na fronteira, na qual é possível observar que, produções outras, ao serem enunciadas, se modificam e modificam o outro.

Nessa direção, o desenvolvimento do trabalho se dá na tensão da articulação da produção cultural e política do currículo, sem que esta esteja descolada ou mesmo distinta da prática cotidiana. Para tanto, as discussões que se estabelecem são interfaceadas com os autores que discutem, numa perspectiva estrutural e pós-colonial, uma prática política e cultural ambivalente e contraditória, que não se articula sem conflitos e embates, mas que se constitui no diálogo, no enfrentamento da diferença (BHABHA, 2010; LOPES; MACEDO, 2011; BARREIROS; FRANGELLA, 2009).

Dessa forma, o currículo foi compreendido e problematizado a partir das contribuições de Bhabha (2010), quando aponta a produção cultural e política inerente a todos os sujeitos, constituída na fissura, no “entre-lugar”, na relação intersubjetiva. Partimos do entendimento de produção contínua em que os sujeitos se constituem e se apresentam sempre como sujeitos da falta, que se constituem na relação com o outro, com os espaços que circulam; nesse transitar pelos diferentes espaços, os sujeitos não só se modificam como também modificam o outro, em um processo de

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reciprocidade. Visto que tal processo é sempre conflituoso e ambíguo, os sujeitos emergem no movimento que não adota posições fixas, mas sim movimentos que articulam o “aqui” e o “lá” concomitantemente, para então enunciar algo que pode ser próprio, pode ser outro, como produção cultural.

Sala de aula Revoluti: quais reconfigurações possíveis?

O Projeto da Sala de Aula Revoluti, a “sala de aula do futuro”, visa desenvolver uma infraestrutura que insere o computador em sala, mas com o principal objetivo de romper a fixidez da sua estrutura convencional e já naturalizada: cadeiras enfileiradas e o professor em um local que se configura como o centro do processo de desenvolvimento do ensino-aprendizagem. Para tanto, a arquitetura da sala de aula Revoluti propõe a criação de um espaço em que a introdução dos computadores não seja uma contradição às perspectivas de inovação das quais a Educação e a informática fazem parte, mas que seja uma proposta que alie inovação e reconfiguração dos processos educacionais e, consequentemente, dos processos de ensino-aprendizagem (PROJETO SALA DE AULA REVOLUTI, 2009, p. 3).

Nesse sentido, o Projeto Sala de Aula Revoluti anuncia que “há uma transformação no tecido social contemporâneo que coloca em xeque os rumos da escola” (Idem, p. 5). Assim, a aposta deste projeto está na proposição de um debate a respeito dos movimentos e produções cotidianas influenciadas pela relação direta com outros espaços dentro/fora da sala de aula, principalmente as proporcionadas pelo acesso livre à internet, que subjazem às práticas dos sujeitos deste espaço. Assim, a investigação de tais práticas se baseia na consideração de que elas são produções culturais que formam o currículo e, portanto, são pontos móveis de articulação e negociação na produção que se constituem no processo que envolve a produção da política do currículo da instituição.

A pesquisa se insere em uma perspectiva de análise qualitativa, desenvolvida a partir dos registros das observações do diário de campo, das práticas que se constituem como práticas curriculares, no diálogo da Sala de Aula Revoluti com a sala de aula convencional. Assim, analisamos os movimentos hibridizados que constituíram a reconfiguração dos processos de produção curricular, no trânsito entre a sala de aula convencional e a sala de aula Revoluti.

Diante disso, fizemos o uso de mídias portáteis, como câmeras de áudio e vídeo e gravadores de voz, para registrar e assim ter como acabamento o outro olhar que tal lente tecnológica pode produzir. O diálogo estabelecido entre as lentes da

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câmera e o olhar da pesquisadora contribuiu para o resgate dos movimentos que possam escapar aos nossos olhos, mas que também produziram diferentes e outros sentidos aos registros.

Nas análises, foi possível problematizar movimentos que permitem coexistir diferentes produções, sem dicotomizar e ou distinguir o que é “antigo” e o que é “novo”, o que está “dentro” e o que está “fora” da Sala de Aula Revoluti. Assim, foi possível dar a conhecer um “outro” que não é apenas a mistura de um com o outro, a ilusão de que a junção é algo simples e possível, sem que sejam conflituosas, ambíguas, mas que, por outro lado, são possíveis e incitadas por outras articulações.

Argumentamos que a possibilidade de trânsito entre o mundo “real” e o “virtual” cria outros sentidos e significados para as práticas em sala de aula. A produção do conhecimento não está localizada no espaço físico da sala de aula, muito menos em um tempo específico. Ele está sendo produzido em outros espaços e tempos não reguláveis, está no fluxo contínuo. Nesse sentido, o ponto importante de discussão são os usos que se faz da tecnologia, assim como suas possibilidades de estímulo a autoria e a autonomia na produção do conhecimento.

Na trajetória da pesquisa foi possível observar, no uso das salas de aula e no uso da linguagem da tecnologia, outras formas de buscar, pesquisar e estimular os saberes, despertar o interesse dos alunos. Assim, vídeos, blogs, sites, são outras fontes, recursos e linguagens que vão se entrelaçando às outras fontes de produção de saberes já existentes nas práticas pedagógicas anteriores, como por exemplo, o livro didático.

No planejamento das aulas, os vídeos aparecem como outras fontes e divulgação de saberes, a internet como interconector de múltiplas redes de comunicação e interação, mas que não substitui os livros didáticos, os cadernos, o professor, principalmente. São analisadas as produções com a articulação de diferentes práticas, descartando o binômio velho e novo, com isso, foi possível observar práticas que se hibridizam em sua produção e organização. Não são substituições o que se vê nas práticas que vão se constituindo na relação com a tecnologia na sala de aula, mas são outras maneiras de se apropriar e estimular criações, autorias, reconfigurando, assim, as relações, os espaços.

Os espaços são entendidos aqui não como espaços estruturados e de organização fixa, mas, além dos espaços físicos, do pátio, dos corredores, das salas de aula, são também considerados os espaços virtuais, dos computadores e das mídias portáteis, assim como os imaginários, possibilitados pelas infinitas leituras dos

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contos, das histórias em quadrinhos; enfim, espaços reconfigurados por outras produções e modificados por outras maneiras de dar sentidos.

Reflexões no caminho...

Caminhamos na perspectiva de refletir sobre os novos processos culturais que se enunciam e, ao mesmo tempo, se desmancham nos fluxos dinâmicos das práticas cotidianas. O desafio que está posto é compreender como a linguagem da tecnologia atravessa e transcende os espaços, principalmente o espaço da escola e da sala de aula, e assim, ao pretender ressignificar as práticas curriculares, propiciará a produção cultural de um currículo que irá transcender e ou mesmo transgredir a “ordem” das imposições e predições. Um currículo que irá “residir no além” e, assim, se torna um espaço onde será possível a reescritura de práticas culturais.

Para tanto, foi de fundamental importância analisar a produção cultural dos sujeitos, no trânsito entre o “real” e o “virtual”, como uma produção outra, uma produção que incita à (re)construção e transformação dos nossos “olhares”, sentidos, que já não mais revelam um tempo presente, mas que anunciam um presente-futuro exatamente por habitar na fronteira, no limite entre o “aqui e o lá”, apresentando movimentos de transição circulatórios de intervenção e negociação.

Compreendemos que, na produção da pesquisa do/com o Projeto da sala de aula Revoluti, se fazem necessários questionamentos que provoquem nossas reflexões acerca dos “novos” ou outros rumos que a escola e, consequentemente, a educação como um todo, nos levará e nos colocará enquanto desafio. Outras perspectivas, outras pedagogias, outras propostas de formação, outros anseios, outras produções, outras avaliações, outras percepções, outras linguagens... a reinvenção da escola?

Nas análises sobre a entrada das tecnologias na escola e, consequentemente, nas salas de aula, é um tanto ingênuo pensar que esse fato é a solução de alguns problemas e/ou que tal fato trará mudanças aos processos pedagógicos. O que foi possível problematizar durante as observações de campo, são tensões que envolvem o trabalho docente frente ao desafio de dialogar com essa nova linguagem e então, se faz necessário repensar as práticas do cotidiano da sala de aula. Nesse sentido, lidamos com anseios, medos e perspectivas que ora veem na tecnologia a possibilidade de ultrapassar barreiras que limitam o trabalho, ora veem a tecnologia

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como “um inimigo a ser neutralizado”. Os usos da tecnologia nas salas de aula ainda possuem duas faces em constante conflito, ao mesmo tempo em que a entrada dessa outra linguagem está atrelada a perspectivas de processos de produção mais autônomos e colaborativos, ela possibilita a sensação de “perda de controle”, como não saber quais tipos de relações estão sendo estabelecidos em outros espaços e tempos pelas crianças, considerando a acessibilidade ilimitada à rede da internet.

Como apontado no início, a Sala de Aula Revoluti é uma pesquisa em fase de experimentação, que pretende se inserir no campo educacional, visando um projeto de “sala de aula do futuro”. Porém, não quer dizer que não apareçam, nos momentos de experimentação desse espaço, conflitos e incongruências, o que nos chama a atenção, uma vez que a Sala Revoluti se apresenta como projeto de desenvolvimento de infraestrutura de sala de aula e não um ambiente de recreação – o que não impede que sejam percebidas e registradas práticas que deslocam os sentidos construídos a priori no momento das produções culturais desse projeto de sala de aula. É justamente nessa fenda, nesses processos de ruptura e conjunções que a pesquisa se desenvolveu, em que foi possível discutir os conflitos e desafios que fazem parte do processo de disputa dos sentidos que se pretende fixar, ainda que contingencialmente, para esse espaço de sala de aula.

Referências

BHABHA, Homi. O Local da Cultura. 5ª reimpressão. Belo Horizonte: UFMG, 2010. BAKTHIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. BARREIROS, Débora Raquel Alves e FRANGELLA, Rita de Cássia Prazeres. Um novo olhar sobre o sentido de política nos estudos curriculares. Roteiro, Joaçaba, v.35, n.2, p.231-250, jul/dez. 2010.

LOPES, Alice e MACEDO, Elizabeth. Teorias de Currículo. São Paulo: Cortez, 2011. __________. Contribuições de Stephen Ball para o estudo de políticas de currículo. In: In: Políticas Educacionais: questões e dilemas. Stephen Ball e Jefferson Mainardes (Orgs.). São Paulo: Cortez, 2011.

MACEDO, Elizabeth. Currículo: política, cultura e poder. Currículo sem Fronteiras, v.6, n.2, pp. 98-113, jul/dez 2006.

PRETTO, Nelson de Lucca e PINTO, Cláudio da Costa. Tecnologias e novas educações. Revista Brasileira de Educação, v. 11, n. 31, jan/abr. 2006.

PROJETO DA SALA DE AULA REVOLUTI. Infra-estrutura de pesquisa sobre Modelos de Educação e de Comunicação para as Salas de Aula do Futuro. Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Centro de Educação e Humanidades, Instituto de Aplicação,

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Faculdade de Comunicação Social, Faculdade de Educação da Baixada Fluminense, Programa de Pós-Graduação (Mestrado Acadêmico) em Comunicação, Programa de Pós-Graduação (Mestrado Acadêmico) em Educação, Cultura e Comunicação, 2009.

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