O QUE É MUSEU?
Desde o início, o ICOM tinha como um dos seus objetivos definir “museu”. No primeiro número do ICOM News, em 1948, o museu é definido como voltado apenas para a coleção, compreendendo
[...] todas as coleções abertas ao público de objetos artísticos,
técnicos, científicos, históricos ou arqueológicos e [...] os zoológicos, jardins botânicos, mas se exclui as bibliotecas, a não ser que estas possuam salas de exposição permanentes.
Em 1951, encontra-se nos estatutos do ICOM uma definição que se assemelha com a atual:
[...] a palavra museu designa aqui todo estabelecimento permanente, administrado com interesse geral de conservar, estudar, colocar em valor pelos meios diversos e essencialmente expor para o deleite e educação do público um conjunto de elementos de valor cultural:
coleções de objetos artísticos, históricos, científicos e técnicos, jardins botânicos e zoológicos, aquários [...]
Em 1961, o conceito é ampliado, e o ICOM passa a
reconhecer como museu “toda instituição que apresente os conjuntos de bens culturais com o fim de conservação,
estudo, educação e deleite”.
No período entre 1960 e 1970, novas experiências são
iniciadas com o objetivo de uma nova relação entre o museu e a população. O museu a serviço de “todos” torna-se
efetivo, quando este passa a abranger “[...] proletários, velhos e novos colonizados, excluídos do sistema [...]” ,
integrando-se “[...] no coração da instituição antes vista como desorganizada e elitista” .
Na Conferência Geral do ICOM, em 1968, discute-se o tema “Museus e Pesquisa”, tendo os conferencistas concluído que o museu é uma instituição intrinsecamente científica,
devendo promover, encorajar e desenvolver pesquisas científicas de acordo com sua coleção e programa.
Em 1969, durante a Assembleia Geral do ICOM, a definição de museu torna-se mais condensada: “O ICOM reconhecerá como museu qualquer instituição permanente que conserva e expõe, para objetivos de estudo, educação e deleite,
Segundo Boylan, foi na 9ª Conferência Geral do ICOM,
realizada em Grenoble e Paris, em 1971, que se utilizou pela primeira vez o termo “ecomuseu”. Na busca de um maior
desempenho dos museus quanto ao seu papel social, a
UNESCO organizou um seminário em Santiago do Chile, em 1972, sobre as funções do museu na América Latina
contemporânea.
Deste seminário originou-se a Declaração de Santiago,
considerada hoje como o ponto de partida para o surgimento do MINOM – Movimento Internacional da Nova Museologia.
Na Conferência Geral em Copenhague, em 1974, o ICOM revisou suas políticas tradicionais e instituiu Estatutos e Regulamentos novos, tornando-se uma organização
completamente aberta a pessoas e museus: passaram a ser aceitos sem restrição museus e profissionais de museu
reconhecidos . Surge nesta mesma conferência uma nova definição de museu:
O museu é uma instituição permanente, sem fins lucrativos, a serviço da
sociedade e de seu desenvolvimento, aberta ao público, e que realiza pesquisas sobre os testemunhos materiais do homem e de seu meio ambiente, os adquire, conserva, comunica e essencialmente os expõe com fins de estudo, educação e deleite.
A atual definição de museu do ICOM foi aprovada na Assembleia Geral de Viena, em 2007:
“museu é uma instituição permanente sem fins lucrativos, a serviço da sociedade e de seu desenvolvimento e aberto ao público, que adquire, conserva, estuda, expõe e transmite o patrimônio material e imaterial da humanidade e do seu meio, com fins de estudo, educação e deleite” (ICOM, 2007).
Questões sobre a definição de Museu do ICOM
1. O museu seria uma instituição ou estaria limitado somente a esta forma? 2. O museu é concebido a serviço (benefício) da sociedade?
3. Estaria o museu focado nas evidências tangíveis e intangíveis que constituem o patrimônio da humanidade?
O museu seria uma instituição ou estaria limitado somente a esta forma?
Para Stránský o Museu pode ser considerado um fenômeno que acompanha a trajetória humana (2008, p. 104).
Parafraseando Gonçalves, que trabalha com a ideia de
patrimônio enquanto categoria de pensamento, poderíamos afirmar que a maioria dos teóricos assim fazem ao pensar Museu - por meio da perspectiva fenomenológica de
Stránský, identificam Museu em outros tempos e lugares,
justificados pela definição deste fenômeno como uma relação específica.
O Museu assume sua forma plena: pode existir em todos os lugares e em todos os tempos (museu como categoria de pensamento), “[...] onde o Homem estiver e na medida em que assim for nominado – espaço intelectual de
manifestação da memória do Homem, da sua capacidade de criação.” (SCHEINER, 1999, p. 137-138).
O modelo tradicional de Museu não é anulado frente a esta constatação scheineriana. Muito pelo contrário. Scheiner
apresenta uma dualidade existente no Museu a partir de dois mitos: Apolo e Dionísio.
A dimensão racional do Museu é representada pelo Apolo – classificatório, institucional, cujo fruto é salvaguardar o
produto e não o processo - dimensão esta característica da Modernidade.
Consequentemente, a dimensão “emocional” do Museu é representada por Dionísio – paixão, êxtase, pulsante,
mutável e constituído na relação – dimensão esta presente nos discursos pós-modernos. Estes habitam “em Delfos”, constituindo-se as duas faces do Museu (SCHEINER, 1999, p. 139-140).
Para Soares, então, cada museu além de assumir a forma de cada sociedade (SCHEINER, 1998), também será diferente para cada indivíduo que o experimenta (SOARES, 2012). Um exemplo é o Ecomuseu:
“O museu se manifesta na própria comunidade, que passa a ser ela mesma o Museu manifestado através das relações que esta estabelece com o real, preservando a memória, os valores e as experiências de forma integral e democrática” (SOARES, 2012).
- Linha filosófica - fenomenológica de pensamento sobre
museu. O ponto principal é a relação entre o Humano e dada Realidade.
Deloche também identifica que o ICOM reforça a definição de instituição por ser um interesse deste conselho – afinal de contas, trata-se de uma organização de profissionais que buscam legitimar seu espaço de trabalho. A ideia de
O museu é concebido a serviço (benefício) da sociedade?
Deloche identifica que se trata de uma definição muito abrangente para abarcar a completude da finalidade do
museu e poderia ser aplicado a diferentes campos – sistema legal, sistema de saúde, escolas etc., e não especificamente para museus. Ainda, destaca que a palavra “benefício” em si é complexa e estaria relacionada aos conceitos morais de bom e felicidade.
Afirma que é mais significante entender que museus fazem parte do processo de documentação e aquisição da
humanidade.
Não se trata, portanto, sobre incluir “bom” e “a serviço”, mas entender este processo acima mencionado como parte da sobrevivência da humanidade como ela é.
Estaria o museu focado nas evidências tangíveis e
intangíveis que constituem o patrimônio da humanidade?
Para Deloche, a expressão é “perfeitamente ideológica” e reflete a
influência do Ocidente. Assim, o autor sugere o uso de um termo “livre de ideologia”: cultura. Deloche entende cultura como a soma total de
aquisições da humanidade, que abrange também o natural, de modo que é “o objeto do conhecimento transformado pelo homem” (p. 118).
No entanto, vale ressaltar que o termo “cultura” também é imbuído de ideologia – afinal de contas, esse foi criado também para explicar questões colocadas pelo próprio Ocidente.
É essencial incluir a expressão “sem fins lucrativos”?
Para o autor, esta expressão também pertence à ideologia ocidental, assim como “patrimônio da humanidade”, pois, como afirma: “o sonho de uma cultura com mãos limpas é uma ilusão confortante” (p. 118-119). Faz-se necessário, Faz-segundo Deloche, aceitar que muFaz-seus estão inFaz-seridos em uma realidade econômica, que inclui operar em uma realidade de
profunda competição. Há profissionais de museus que sugerem a revisão dessa expressão.
Mas gostaria de perguntar ao Deloche: não seria esta uma visão também pertencente a um modo de ver hegemônico econômico - e ideológico - chamado Ocidente?
Conceito de musealização
Processo que permite aos objetos permanecerem no contexto do museu. Segundo Mairesse et al, o processo de musealização está além da mera transferência de objetos para o museu: “como processo científico,
compreende necessariamente o conjunto das atividades do museu: um trabalho de preservação (seleção, aquisição, gestão, conservação), de pesquisa (e, portanto, de catalogação) e de comunicação (por meio da exposição, das publicações, etc.)” (MAIRESSE ET AL, 2010).
Segundo Soares (2012), os “objetos sagrados” (que por sua vez
conectam dois mundos – um presente e um ausente), ao adentrarem no contexto particular dos museus, recebem também a nomenclatura de objetos musealizados.
A partir de uma investigação da própria natureza da musealização, pode-se
perceber que a ‘elevação’ de um objeto da cultura à categoria de patrimônio se dá como uma espécie de atribuição mágica a um objeto determinado, ou a um
espaço a que se atribui valor, fragmento do mundo que, imediatamente, ganha o sentido de excepcionalidade sobre a totalidade – ele representa-a e contém todo o resto em si, [...] (SOARES, 2012, p. 69).
Para Maroevic, Musealização é o processo que permite aos objetos estarem dentro de um espaço de museu, e trata-se de uma ação de produção coletiva de sentidos (SOARES, 2012, p. 71).
Conceito de museal
Conforme dito por Desvalléés et al, há duas acepções para o termo museal:
1. O adjetivo “museal” serve para qualificar tudo aquilo que é relativo ao museu, fazendo a distinção entre outros domínios (por exemplo: “o mundo museal” para designar o mundo dos museus);
2. Como substantivo, “o museal” designa o campo de referência no qual se desenvolvem não apenas a criação, a realização e o funcionamento da instituição “museu”, mas também a reflexão sobre seus fundamentos e questões.
Para os autores, o “campo de exercício do museu”
compreenderia “uma relação específica do homem com a realidade” designado de campo museal.
A Museologia poderia ser então definida como “o conjunto de tentativas de teorização ou reflexão crítica sobre o campo museal” (DESVALLÉES et al, 2007).
Conceito de musealidade
Musealidade é o atributo característico de um objeto quando torna-se “o objeto”, ou seja, o processo de saída do “meio ambiente real” para o “meio ambiente museu”,
transformando-se em documento da sua realidade primeira, ou melhor, museália ( MAROEVIC,1986, p. 183). Maroevic aprofunda sua definição de Musealidade ao defini-la como
“a maior parte das qualidades imateriais dos objetos ou conjuntos do patrimônio cultural, ou bem dos objetos de museu em sentido restrito” (1997, p. 113).
1. MUSEU TRADICIONAL
1.1 MUSEU TRADICIONAL ORTODOXO
(ACADÊMICO)
• Estética do ambiente é fundamental
• Núcleos de exposição integrados
• Espaços bem delimitados para cada núcleo
• A exposição segue um ROTEIRO DEFINIDO (circuito)
• Há uma ênfase no OBJETO COMO PRODUTO CULTURAL (o museu
tradicional valoriza o objeto)
• Objeto em si (técnica conceitual)
• Conjuntos de objetos (técnicas de ambientação e de
1.2 MUSEU TRADICIONAL DO TIPO
INTERATIVO (EXPLORATÓRIO)
•
Estética geral do ambiente não é fundamental
•
Exposição em núcleos definidos
•
Espaços não rigidamente delimitados
•
Há uma ênfase na PERCEPÇÃO e no TEMPO do
visitante
•
Trabalha um novo conceito de OBJETO
•
Dá ênfase aos conjuntos
•
Não há roteiros definidos, mas conjuntos
interativos
•
A compreensão só é possível com a participação
1.3 MUSEU TRADICIONAL COM
COLEÇÕES VIVAS
• Exposição em núcleos definidos
• Núcleos definidos por classificação científica ou
ocorrência segundo critérios ecológicos (ex.: plantas das Floresta Amazônica; peixes do pacífico)
• Ênfase no ACERVO, que é constituído por
ESPÉCIMES VIVOS
• Característica: o acervo se reproduz em exposição
• Pode ou não ter um roteiro definido
• Há pouca interação entre visitantes e acervo
• Provoca intensa reação no visitante – mas para que
haja real compreensão, é necessário o complemento educativo ou gráfico (ex.: textos)
2. MUSEUS DE TERRITÓRIO
2.1 MUSEUS COMUNITÁRIOS E
ECOMUSEUS
• Baseados na musealização de um território
• Ênfase dada ás relações culturais e sociais
Homem/território
• Características: valoriza PROCESSOS NATURAIS E
CULTURAIS e não os objetos enquanto produtos da cultura
• Baseada no TEMPO SOCIAL
• Pode conter exposições tradicionais, baseadas em
2.2 PARQUES NACIONAIS E OUTROS
SÍTIOS NATURAIS MUSEALIZADOS
• Baseados na musealização de um território
• Ênfase dadas às relações entre os diversos componentes
de um ecossistema (nos quais se inclui a presença humana)
• Característica: valoriza PROCESSO NATURAIS E
CULTURAIS e suas conseqüências e produtos
• Baseada no tempo natural (biológico)
• Pode conter exposições tradicionais, com espécimes e
• Baseados na musealização de um território
• A exposição é TODO O CONJUNTO
• Ênfase dadas às relações entre os diversos
componentes do ecossistema, com priorização para a presença humana
• Característica: valoriza os resultados da presença
humana sobre o território
• Baseada no TEMPO SOCIAL (cidades-monumento) e
no TEMPO GEO-HUMANO (Sítios arqueológicos)
• Pode conter exposições tradicionais, com espécimes
e objetos
• Cidades-monumentos podem conter todos os tipos de
• Característica: não existe em materialidade, a não ser
através de um possível registro em código informacional
• Exposição: existente apenas na tela do computador
• Pode apresentar todas as características de um dos
demais tipos de exposição
• Não tem público, na acepção tradicional do termo – mas
visitantes individuais