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OBrasil, a exemplo de outros países em desenvolvimento, PERFIL DA CLIENTELA ATENDIDA EM INSTITUIÇÃO DE LONGA PERMANÊNCIA

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Resumo: o artigo tem como objetivo traçar o perfil dos idosos atendidos pela Terapia Ocupacional em instituição de longa permanência. Foi realizada uma análise das ava-liações de 26 prontuários sobre dados pessoais, doenças referidas, desempenhos nas AVD’s e AIVD’s, aspectos sensoriomotores e cognitivos. Os resultados indicam, con-firmando a literatura, que o idoso atendido é dependente, apresenta polipatologias, déficits motores e cognitivos. Tais resultados justificam a necessidade do terapeuta ocupacional e de uma equipe interdisciplinar.

Palavras-chave: idoso, instituição, terapia ocupacional, avaliação

FABÍOLA CAMARGOS JABUR, DIONE SIQUEIRA, VIRGÍNIA VIDAL MACIEL DOS REIS

PERFIL DA CLIENTELA

ATENDIDA EM INSTITUIÇÃO

O

Brasil, a exemplo de outros países em desenvolvi-mento, está atravessando um processo de envelhe-cimento populacional. A capacitação profissional e a adequação de políticas públicas específicas para essa po-pulação são grandes desafios propostos aos governantes.

A urbanização, a incorporação das mulheres no merca-do de trabalho, a diminuição da mortalidade infantil e a redu-ção das taxas de natalidade foram fatores determinantes para a transição demográfica. Em 1940, a população com 60 anos

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ou mais representava 4% da população total. Essa proporção su-biu para 9% em 2000, com previsão de que esse segmento da população alcançasse 15% da população total em 2020. Atualmen-te, a população brasileira idosa corresponde a 15 milhões de ha-bitantes (CAMARANO, 2002).

Tais mudanças demográficas têm impacto no perfil epidemiológico. Diminui a incidência de doenças infecto-conta-giosas e aumenta a prevalência das crônico-degenerativas. Tais doenças não podem ser evitadas com medidas preventivas de alta eficácia, como as vacinas. São necessárias ações educativas que envolvem a mudança nos hábitos de vida. No que se refere ao tra-tamento, as medidas de ação são ainda mais difíceis, porquanto essas doenças não são passíveis de cura. O objetivo das interven-ções geriátricas e gerontológicas passa a ser o controle da sua progressão, evitando-se complicações e agravamentos decorren-tes (RAMOS, 2002).

Estudos indicam que 85% dos idosos apresentam uma doença crônica e que cerca de 10% apresentam pelo menos 5 espécies dessa doenças. Entre as doenças mais comuns estão a hipertensão arte-rial sistêmica, a insuficiência cardíaca congestiva, as cardiopatias, a depressão, o diabetes, as demências, as doenças reumáticas, a disli-pidemia, as neoplasias, a doença bronco-pulmonar obstrutiva crô-nica, a osteoporose. Entre os indivíduos com mais de 65 anos, cerca de 40% necessitam de algum tipo de auxílio para realizar pelo menos uma atividade instrumental da vida diária (AIVD’s) e 10% requerem ajuda nas AVD’s – atividades básicas de vida diária (SILVESTRE; COSTA NETO, 2003).

A presença de uma enfermidade não é, necessariamente, cau-sa de uma incapacidade funcional e dependência. Busca-se hoje, então, a manutenção da independência do idoso, mesmo e princi-palmente na presença de algum tipo de enfermidade. A saúde, em gerontologia, está vinculada à capacidade funcional.

Procura-se criar condições para um envelhecimento saudá-vel ou para a manutenção da saudá-velhice bem-sucedida, que se refe-re à

realização do potencial para o alcance do bem-estar físico, social e psicológico [...], ao funcionamento parecido com a mé-dia da população mais jovem e à manutenção da competência

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em domínios selecionados de funcionamento, por meio de me-canismos de compensação e otimização (NERI, 2000, p. 37). O envelhecimento pode ser considerado com base na interação de dimensões biológicas, psicológicas e sociais. Não existem cri-térios claramente definidos que indiquem os limites entre a idade adulta e a velhice. Nos países em desenvolvimento, como o Bra-sil, são consideradas idosas as pessoas acima de 60 anos.

Envelhecer num país com tantos problemas sociais, econô-micos e estruturais a serem resolvidos constitui um grande desa-fio para os indivíduos, para o conjunto da sociedade e para o governo, no sentido de oferecer condições qualificadas para o prolongamento da vida (RODRIGUES; RAUTH, 2002).

Fatores como condições precárias de saúde, idade avançada, debilidades físicas, dificuldades financeiras e falta de uma rede de suporte familiar constituem causas para o encaminhamento dos idosos para instituições.

Historicamente, a assistência à velhice começa com uma prá-tica filantrópica, ligada ao sentimento de caridade cristã. Posteri-ormente, a assistência é determinada sob influência da Medicina Social, que contribuiu para a criação de instituições que acolhes-sem os inválidos (ALCÂNTARA, 2004).

Pesquisa realizada no município de Belo Horizonte indica que 85% das instituições desta cidade são de origem filantrópica. As instituições religiosas são as principais responsáveis pela manu-tenção de asilos, sendo 65% vinculadas à Sociedade São Vicente de Paula (CHAIMOWICZ; GRECO, 1999).

O presente estudo pretende apresentar o perfil dos idosos atendidos pelos acadêmicos do 7º período de Terapia Ocupacional em uma instituição filantrópica de longa permanência, na cidade de Goiânia, e compará-lo com os idosos residentes na comunida-de e/ou em outras instituições e icomunida-dentificar suas particularidacomunida-des.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo é descritivo, transversal e retrospectivo, realiza-do através da revisão realiza-dos prontuários realiza-do setor de Terapia Ocupacional de uma instituição filantrópica de longa permanên-cia na cidade de Goiânia (GO).

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Foi analisado um total de 26 prontuários, considerando-se as informações colhidas entre agosto e outubro de 2005, através do protocolo de avaliação terapêutica ocupacional. Esse protocolo, desenvolvido pelo núcleo de gerontologia do curso de Terapia Ocupacional da Universidade Católica de Goiás (UCG), inclui testes padronizados e questões semi-estruturadas. Todas as ques-tões semi-estruturadas são norteadas por um roteiro.

A avaliação compreende anamnese, histórico ocupacional, exame das áreas e componentes de desempenho. Em relação às áreas de desempenho, aplica-se a Escala de Atividades Básicas de Vida Diária (FREITAS et al., 2002) e a avaliação de atividades instrumentais de vida diária (AIVD’s), através de questões semi-estruturadas.

Entre os componentes de desempenho avaliados por questões semi-estruturadas estão o sensório-motor e o psicossocial. O com-ponente cognitivo é avaliado através do Miniexame do Estado Mental, MEEM (FOLSTEIN, FOSTEIN; MCHUGH apud FREITAS et al., 2002).

Os resultados dos componentes psicossociais foram descar-tados uma vez que os critérios utilizados na coleta de dados utili-zados foram subjetivos, dificultando uma mensuração objetiva.

Para o estudo, foram considerados os preceitos éticos e asse-gurada a preservação do sigilo dos participantes.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Dados Pessoais

Nesse critério incluíram-se as variáveis sexo, idade, estado civil, tempo de institucionalização e grau de escolaridade.

Dos 26 idosos atendidos, 38% eram do sexo masculino e 62% do sexo feminino. A idade variou de 44 a 97 anos, com média de 70 anos. Quanto ao estado civil, 19,2% dos idosos eram casados, 34,7% solteiros, 27% viúvos e 11,3% separados. Como estado civil desconhecido encontraram-se 7,7% (Tabela 1).

A média do tempo de institucionalização dos idosos foi de 7,4 anos, o tempo mínimo foi de 1 mês e o tempo máximo, de 35 anos. Em relação à escolaridade dos idosos atendidos, 38.5% eram analfabetos (nesta categoria estão as pessoas que nunca

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taram escola), 38.5% com baixa escolaridade e 11.5% com alta escolaridade (nesta categoria estão as pessoas que cursaram ensi-no médio ou superior). Houve 11.5% de idosos que não souberam informar (Tabela 1).

Tabela 1: Dados Pessoais dos Idosos Atendidos pela Terapia Ocupacional

Variáveis Amostra (n26) %

Sexo

Feminino 16 61,53

Masculino 10 8,5

Idade (em anos)

Até 60 2 7,7 60-70 6 23 70-80 7 26,9 Acima de 80 11 42,4 Estado civil Solteiro 9 34,6 Casado 5 19,2 Viúvo 7 27 Separado 3 11,5 Desconhecido 2 7,7 Tempo de institucionalização 0-6 meses 5 19,2 7- 12 meses 2 7,7 1 a 2 anos 2 7,7 3 a 5 anos 6 23 Acima de 5 anos 11 42,4 Escolaridade Analfabeto 10 38,5 Baixa 10 38,5 Média/alta 3 11,5 Desconhecido 3 11,5

A literatura é unânime no que se refere à prevalência do sexo feminino na população idosa. Um estudo realizado no município de São Paulo, com 1602 idosos residentes na comunidade, apon-tou que 60% deles eram do sexo feminino. Outra pesquisa

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zada na Espanha em serviços de saúde demonstrou que 53,3% dos idosos eram mulheres, e na população acima de 80 anos essa pro-porção subia para 65,7%. Em Belo Horizonte, mostrou-se que as mulheres representavam 81% da população institucionalizada (RAMOS et al., 1993; GARCIA et al. 2000; CHAIMOWICZ; GRECO, 1999).

É necessário que as políticas públicas sejam planejadas para atender essa população feminina que tende a apresentar mais pro-blemas de saúde, são mais longevas e apresentam maiores índices de viuvez e solidão. É preciso dar suporte social e sanitário que atenda às suas necessidades específicas (TELAROLLI JR et al., 1996).

A predominância feminina na instituição estudada pode ser explicada pela maior longevidade das mulheres, pela viuvez, pe-las dificuldades em se casar novamente, pela menor renda, pela ausência de cuidadores e pela diminuição das famílias.

Um estudo realizado na Espanha constatou nos idosos uma média de idade de 74,1 anos. No município de São Carlos, verifi-cou-se que 61,4% dos idosos tinham entre 60 e 69 anos. Outro autor, em pesquisa realizada no Nordeste do Brasil, encontrou, entre idosos submetidos a inquérito domiciliar, uma idade média de 70 anos. Em Belo Horizonte, a maioria dos idosos institucionalizados tinha idade superior a 70 anos (GARCIA et al., 2000; FELICIANO MORAIS, FREITAS, 2004; COELHO FILHO, RAMOS, 1999; CHAIMOWICZ, GRECO, 1999).

No presente estudo, encontravam-se abrigados indivíduos que não podem ser considerados idosos. Tal situação pode ser o refle-xo do modelo assistencial a que a instituição está vinculada, visto que se trata de uma instituição filantrópica, apoiada em alicerces caritativos.

Entre os idosos residentes no Nordeste do Brasil, 48% deles eram casados e 51,9% separados, solteiros ou viúvos. A maior parte dos idosos do sexo feminino (97,2%) vivia sem o cônjuge, ao passo que 77,5% dos idosos do sexo masculino estavam casados (COE-LHO FI(COE-LHO; RAMOS, 1999).

Pôde-se perceber nesse estudo uma maior prevalência dos sol-teiros ou viúvos. A falta de suporte familiar pode ser um dos fato-res de risco para a institucionalização, uma vez que os cuidadofato-res primários são as esposas, filhas e as noras.

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No município do Rio de Janeiro, foi realizada uma pesquisa com 775 idosos internados em instituições, encontrando-se um tempo de internação médio de 30,9 meses, em uma instituição, e de 25,6 meses, em outra. Em Belo Horizonte, 41,6% da popula-ção atendida havida sido admitida a menos de três anos (DUARTE, 1993; CHAIMOWICZ, GRECO, 1999).

Os resultados desta pesquisa, entretanto, não correspondem aos dados encontrados na literatura. Prevalece um grande tempo de internação, uma vez que a maioria dos idosos reside há mais de 11 anos. Possivelmente muitos deles foram institucionalizados antes mesmo de se tornarem idosos.

A instituição torna-se refúgio dos desamparados, com desta-que para seu caráter assistencialista e filantrópico, responsável por responder a certas demandas sociais. Fica evidente que pouca ou nenhuma condição de recuperação da saúde e reintegração social é oferecida (DUARTE, 1993).

Em relação à escolaridade, os dados encontrados estão em conformidade com aqueles encontrados na literatura. Pesquisa realizada no município de São Paulo encontrou 35% de analfabe-tos, 21% com primário incompleto, 26% com o primário comple-to e 18% com o pós-elementar (RAMOS et al., 1993).

Doenças Referidas

Encontrou-se a presença de doenças em 88,5% da população estudada, com tendência para a pluripatologia. A média é de 2,1% de doenças para cada idoso.

As doenças mais comuns encontradas (41,8%) são aquelas relacionadas ao sistema cardiocirculatório. Elas estão divididas entre a hipertensão arterial (HAS), doenças cérebro-vasculares (DCV) e cardiopatias; 14,5% dos idosos apresentaram diabetes e 12,5% doenças do sistema respiratório. A deficiência visual completa ou parcial (DV) foi encontrada em 10,4% dos casos, e a demência em 6,3%. Outras doenças como hipotiroidismo, epilepsia, fratura, de-ficiência mental e transtornos psiquiátricos são ainda referidas (Fi-gura 1).

Na população residente na comunidade, no município de São Paulo, verificou-se que 86% da população referia-se à presença de doenças crônicas. Uma pesquisa realizada na Espanha

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trou, entre os diagnósticos mais comuns, as doenças relacionadas ao sistema cardio-circulatório (32,4%), respiratório (14,4%) e digestivo (13,8%). Quanto à mortalidade, um estudo feito na re-gião de Araraquara verificou que a maior parte dos óbitos em ido-sos está relacionada a neoplasias, doenças do aparelho circulatório e respiratório (RAMOS et al., 1993; GARCIA et al., 2000; TELAROLLI JR. et al., 1996).

Os dados encontrados na pesquisa são compatíveis com os mostrados na literatura. Os idosos residentes na instituição são, em sua maioria, atendidos pela rede pública, e, por isso, algumas doenças, como osteoporose e neoplasias, não foram diagnosti-cadas, uma vez que sua detecção depende de exames de média/ alta complexidade.

É necessário ressaltar que as DCV são importantes indicado-res de perda da independência e que a HAS pode evoluir para esse tipo de complicação. A ocorrência de acidente vascular cerebral aumenta em seis vezes a ocorrência de dependência, assim como a visão ruim/péssima eleva em quatro vezes esse índice (ROSA et al., 2003).

Figura 1: Principais Doenças Referidas has dcv d. resp. dv demência cardiopatias outras diabetes 10 8 6 4 2 0

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Atividades de Vida Diária (AVD’s)

Entre os idosos avaliados pela escala de atividades básicas da vida diária, obteve-se como resultado, na maioria dos casos (34,6%), dependência parcial, seguida por independência com 30,8%. Dependência importante foi encontrada em 23%, e 11,6% apresentaram dependência completa (Figura 2).

Entre as dificuldades constatadas, encontrou-se a prevalência de 24,5% de limitações no vestir-se, vinte por cento na higiene pessoal, 18,5% no banho, 15,7% na transferência, 14,3% na con-tinência e 7% na alimentação.

No município de São Carlos constatou-se 23,6% de indepen-dência nas AVD’s. Desse percentual, 46,7% necessitavam de aju-da para uma a três ativiaju-dades. Em São Paulo, 53% aju-da população referia independência completa, 29% necessitavam de auxílio em Figura 2: Resultados da Escala de Atividades Básicas de Vida Diária Nota: resultados da escala de atividades básicas de vida diária. A independência

equivale a um escore de 5 a 6 pontos, a dependência parcial, a 3 e 4 pontos, a dependência importante, a 1 e 2 pontos e a dependência completa a 0 ponto. d. importante d. parcial independência d. completa 10 8 6 4 2 0

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até 3 atividades, e 10% precisavam de ajuda para a realização de pelo menos sete atividades (FELICIANO et al., 2004; RAMOS, 1993).

Segundo uma pesquisa realizada no município de Goiânia, 50% dos sujeitos estudados apresentaram dependência no banho, 40% nas transferências, 63,3% para utilizar banheiro/vaso sanitá-rio e 26,6% para alimentação (ARAÚJO et al., 2002).

Estado de saúde, viuvez, relações sociais e cognição são fa-tores que estão relacionados à independência nas AVD’s. Adicio-nalmente, características institucionais interferem na capacidade funcional dos idosos residentes. A ausência de cuidadores, em proporções adequadas, faz com o que os idosos se tornem depen-dentes, à medida que a rotina precisa ser cumprida em menor período de tempo e por pessoas com sobrecarga de trabalho. Ade-mais, a visão social que relaciona velhice à dependência é perpe-tuada na interior das instituições que rotulam e tratam como incapaz grande parte dos idosos.

Promover a independência é uma tarefa que exige dedicação daqueles que cuidam, uma vez que o tempo requerido pelo idoso para a execução das atividades pode ser maior, e muitas vezes torna-se necessária a criação de novas estratégias para a realização des-sas atividades.

Atividades Instrumentais de Vida Diária (AIVD’s)

Todos os idosos pesquisados eram dependentes nas AIVD’s. Esse fato pode ser explicado pelo próprio processo de institucio-nalização cujas regras e rotina institucional dificultam a partici-pação nesse tipo de atividade. Além disso, problemas físicos, cognitivos e/ou sociais levam a um maior índice de dependência nas AIVD’s.

Aspectos Sensório-Motores

A maioria dos idosos atendidos, 69,2%, apresentou algum tipo de comprometimento motor e/ou sensorial significativo. Entre os mais prevalentes destacam-se a incapacidade para marcha (em 27,3%), a hemiplegia em 18,2%, a diminuição da força muscular (FM) em 13.6% e a amplitude de movimento (ADM) em 13,6%.

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Foi detectado um edema em 9,1%. Foram encontrados também deficiências de sensibilidade, tremor, deformidades e dificulda-des na marcha (Figura 3).

O estudo sobre mobilidade física realizado no município de Goiânia com idosos institucionalizados verificou um índice de 100% de ocorrência de deficiências. Os fatores de maior prevalência foram o enfraquecimento do músculo esquelético (em mais de 60% dos idosos) e a diminuição da capacidade de movi-mentos (em 80% dos casos) (ARAÚJO et al., 2002).

Para o presente estudo foram consideradas apenas as dimi-nuições significativas. As pequenas alterações são consideradas fisiológicas em razão do processo de envelhecimento. Deficiên-cias motoras e sensoriais estão relacionadas a um aumento da dependência das AVD’s, à redução da segurança na sua realiza-ção, a uma maior propensão à imobilidade e ao aumento de risco de quedas.

Figura 3: Principais Comprometimentos Sensório-Motores Encontrados 10 8 6 4 2 0 12 Diminuição de FM Diminuiçãode ADM Edema Hemiplegia Incapacidade na marcha Outros

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96 estudos , Goiânia, v . 34, n. 1/2, p. 85-99, jan./fev . 2007. Cognição

A média de pontos alcançados pelos idosos no teste MEEM foi de 12,4. A pontuação mínima foi de 0 ponto e a máxima, de 29 pontos. O teste foi aplicado em 23 idosos. Os demais não foram indicados porque apresentavam evidências de afasia ou deficiên-cia visual completa (Figura 4).

Figura 4: Desempenho cognitivo.

Nota: Função cognitiva normal equivale a um escore de 26-30 pontos no MEEM. O registro de 20 a 25 pontos indica prejuízo cognitivo leve, o de 11-19 pontos sinaliza prejuízo cognitivo moderado e o abaixo de 10 pontos é considerado como prejuízo cognitivo severo.

O resultado do estudo realizado no município de São Carlos indica que mais da metade dos idosos apresentou uma contagem menor que 24 pontos no MEEM; 53% da amostra de pesquisa realizada em instituição em Goiânia apresentou “dano perceptual ou cognitivo” (FELICIANO et al., 2004; ARAÚJO et al., 2002). Os resultados indicam que a maioria dos idosos apresenta comprometimentos cognitivos severos ou moderados. Porém, para uma melhor análise, deve-se considerar que fatores como

Prejuízo cognitivo leve Prejuízo cognitivo moderado Prejuízo cognitivo severo Função cognitiva normal 10 8 6 4 2 0

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escolaridade, capacidade de atenção e ansiedade podem influ-enciar no desempenho do teste. Ademais, o meio ambiente in-fluencia negativamente o desempenho cognitivo dos idosos: existem poucas atividades que estruturam a rotina, não há calen-dários à disposição, o acesso à televisão e outras formas de in-formação são restritos a alguns. Portanto esses dados devem ser vistos com cautela. Eles, considerados isoladamente, não sina-lizam demência.

Deve-se destacar também que o declínio da capacidade cognitiva pode estar associado a estados mórbidos como depres-são, lesões micro vasculares resultantes de hipertendepres-são, seqüela de DCV ou, mesmo, a proximidade da morte (FELICIANO et al., 2004).

CONCLUSÃO

Como pôde ser observado, os idosos atendidos pela Terapia Ocupacional estão em situação de maior fragilidade que os ido-sos residentes na comunidade. Tal situação pode ser, ao mesmo tempo, causa e conseqüência de institucionalização.

Os resultados encontrados são importantes para contextualizar o campo de ação da Terapia Ocupacional na disciplina Estágio Supervisionado em Terapia Ocupacional, auxiliando a direcionar as ações dos acadêmicos, pois elas devem ser adequadas à clien-tela atendida.

O estudo confirma a necessidade do terapeuta ocupacional nessa instituição. Ele, trabalhando de forma holística, buscará estimular suas capacidades, auxiliar no desenvolvimento de no-vas habilidades e no resgate das perdidas. Para que isso ocorra, é necessário que a atuação seja realizada em parceria com os de-mais profissionais da instituição, com os idosos e, sempre que possível, com a família.

Todavia, considerando que a demanda dessa clientela é multifacetada e plural, a fim de garantir uma assistência mais integral e eficaz, é necessária a presença de outros profissionais de saúde, compondo uma equipe interdisciplinar. Para isso é fun-damental que as políticas públicas voltadas para os idosos sejam implementadas, garantindo a eles o direito de melhores condi-ções de vida e saúde.

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98 estudos , Goiânia, v . 34, n. 1/2, p. 85-99, jan./fev . 2007. Referências

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Abstract: the article´s goal is to trace the profile of elders taken care by Occupational Therapy in nursing home. Analysis of 26 handbooks’ evaluations was carried through, about their personal data, related illnesses, performances in ADL’s and IADL’s, senso-rial-movement and cognitive aspects. The results indicate, confirming the literature, that the elders taken care of are dependent, present movement and cognitive handicap and several pathologies. Such results justify the necessity of the occupational therapist and interdisciplinary team.

Key words: elderly people, occupational therapy, homes for the aged, evaluation

FABÍOLA CAMARGOS JABUR

Especialista em Envelhecimento e Saúde do Idoso. Docente no curso de Terapia Ocupacional da Universidade Católica de Goiás (UCG). Membro da Sociedade Brasileira de Geriatria e Gerontologia (SBGG-GO). Terapeuta Ocupacional.

E-mail: fabjabur@terra.com.br

DIONE SIQUEIRA

Discente do 7º. Período de Terapia Ocupacional da UCG. VIRGÍNIA VIDAL MACIEL DOS REIS

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