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Estado de Mato Grosso do Sul Poder Judiciário Campo Grande 2ª Vara Cível

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Autos 0812701-93.2013.8.12.0001 Autor(es): Maura Vieira de Lima

Réu(s): Fulano de Tal e Leandro Macedo da Silva SENTENÇA

I. RELATÓRIO:

Vistos, etc.

Trata-se de Ação declaratória de inexistência de relação jurídica que Maura Vieira de Lima move em desfavor de Leandro Macedo

da Silva, partes qualificadas nos autos, e Fulano de Tal, cuja qualificação é

ignorada.

Relata a autora que em 2012 colocou o seu veículo a venda. No dia 11/07/2012 recebeu o contato de um homem que se identificou apenas pelo apelido "Preto". Este informou que estava interessado em adquirir o automóvel. Feitas as tratativas, foi estabelecido entre as partes como preço para o bem a quantia de R$ 9.000,00. Aduz que ainda em sua casa, "Preto" realizou uma suposta ligação para o seu pai e pediu que este fizesse a transferência do montante para a conta corrente da autora.

Narra que a autora se dirigiu até a agência bancária e constatou que a quantia já constava em sua conta. No entanto, não conseguiu realizar o saque em razão de o valor estar bloqueado. A respeito disso, "Preto" lhe assegurou que em até 24 horas o valor já estaria liberado.

Alega que por desconhecimento e confiança no adquirente não só deu a quantia como paga, mas também efetuou a transferência da titularidade e a tradição do veículo no mesmo dia. A transferência do veículo foi realizada para Leandro Macedo da Silva suposto cunhado do comprador do automóvel.

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Dois dias após a realização do negócio, a autora tentou novamente realizar o saque da quantia. No entanto, foi informada que o valor depositado não foi liberado, em razão do cheque ter sido sustado, por ser proveniente de roubo, furto ou extravio.

Afirma a autora que realizou o Boletim de Ocorrência na delegacia especializada e entregou as autoridades policiais a lâmina de cheque usada para o depósito da quantia, sendo informada em agosto de 2012 que seu veículo foi encontrado abandonado em um posto no município de Ivinhema, neste Estado.

Diz, por fim, que o carro lhe foi entregue pelas autoridades e se encontra em sua posse, no entanto, está impedida de fazer uso do automóvel em razão de constar no DETRAN/MS como titular o requerido Leandro Macedo Silva, o que a impede de realizar a regularização de seus documentos.

Portanto, requer a tutela jurisdicional para que se declare a inexistência da relação jurídica entre as partes, com o consequente cancelamento do documento em que consta o nome do requerido como titular do veículo.

Nessa testilha, pleiteou a antecipação dos efeitos da tutela para que se oficiasse o DETRAN/MS a proceder o cancelamento ou, subsidiariamente, a suspensão do registro em nome do requerente.

O pedido liminar foi indeferido às f. 41-42.

Em razão de não ter sido localizado em diferentes endereços, o requerido foi citado por edital, tendo sido nomeada como curadora a Defensoria Pública Estadual. A contestação foi apresentada às f. 120-121.

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Realizada audiência de instrução, foi tomado o depoimento pessoal da autora e ouvida uma testemunha (f. 151).

Alegações finais às f. 154-156 e f. 157-161.

Os autos, então, vieram-me conclusos para sentença.

É o relatório. Decido.

II. FUNDAMENTAÇÃO:

Trata-se de ação declaratória de relação jurídica promovida por Maura Vieira de Lima em face de Leandro Macedo da Silva e outro, onde a autora alega que foi vítima de estelionato, tendo sido enganada no momento da celebração do contrato de compra e venda de veículo, efetuando a transferência de titularidade do bem ao segundo réu, acreditando que o preço de R$ 9.000,00 havia sido depositado em sua conta, quando não o foi, pois o cheque fora sustado.

Após a ciência de que o pagamento advinha de cheque roubado ou furtado, a parte autora procurou a polícia e obteve seu carro de volta, porém ajuizou a presente demanda para que seja declarada nula a relação jurídica, a fim de que possa realizar o licenciamento do veículo em seu nome, visto que consta nos registros do DETRAN/MS como pertencente ao requerido.

Insta salientar que não é possível a declaração de inexistência de relação jurídica entre as partes, posto que existiu, mas sim reconhecer como nulo ou anulável o negócio jurídico.

Isso porque de acordo com Pontes de Miranda, o negócio jurídico se desenvolve em três planos, quais sejam o de existência, validade e eficácia.

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Para que exista o negócio jurídico é necessário que exista o agente, a vontade de se realizar o ato, o objeto e a forma. Identificando-se tais características, imputa-se como existente o negócio. In casu discuti-se a validade do negócio jurídico.

Nessa senda, o negócio jurídico será nulo quando se observar presentes as hipóteses previstas no art. 166 do Código Civil, quais sejam a incapacidade das partes; for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto; o motivo determinante, comum a ambas as partes, for ilícito; não revestir a forma prescrita em lei; for preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade; tiver por objetivo fraudar lei imperativa; a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção.

Anulável, por sua vez, será aquele negócio jurídico em que, de acordo com o art. 171 do Código civil, as partes forem incapazes relativamente ou quando houver vício resultante de erro, dolo, coação, estado de perigo, lesão ou fraude contra credores.

No caso em tela, como se verá adiante, houve vício de consentimento, em razão de a autora ter sido induzida em erro, sendo, portanto, anulável o negócio jurídico.

Acerca do tema, eis o entendimento jurisprudencial:

"APELAÇÃO CÍVEL. COMPRA E VENDA DE VEÍCULO. PRÁTICA DE ESTELIONATO. PAGAMENTO COM CHEQUE FURTADO OU ROUBADO. Negócio jurídico celebrado com dolo e com finalidade criminosa. Reconhecido o dolo, a consequência é a anulação do negócio jurídico, como previsto no art. 145 do Código Civil, e o

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retorno das partes ao status quo ante (artigo 182 da legislação civil). Impossibilidade, no caso concreto, de determinar a devolução do veículo ao autor, pois o bem foi vendido a terceiros de boa-fé. NEGARAM PROVIMENTO AO APELO. UNÂNIME." (TJ-RS - Apelação Cível Nº 70073695512, Décima Primeira Câmara Cível, Tribunal de Justiça do RS, Relator: Alexandre Kreutz, Julgado em 21/03/2018).

Outrossim, é importante salientar que de acordo com o art. 177, também do CC, em sendo o negócio jurídico anulável, este será reconhecido mediante sentença.

No caso em concreto, como adiantado, a autora recaiu em erro pois, acreditando que o depósito do preço do carro havia se concretizado, a autora deu cabo ao negócio, efetuando a transferência de titularidade para o nome do requerido.

Veja, assim, que ela foi induzida em erro, acreditando que o dinheiro estava na sua conta, quando na verdade, "Preto" efetuou um depósito com um cheque de origem ilícita, vindo a operação a ser bloqueada pela instituição financeira.

Ainda que a autora em depoimento pessoal tenha alegado que na realidade o negócio foi celebrado diretamente com o primeiro requerido e não com "Preto", diferente do que relatado na inicial, o pagamento com cheque proveniente de roubo/furto, somado ao induzimento a erro realizado pelo adquirente do veículo, já são suficientes para o reconhecimento da anulabilidade do negócio.

Ademais, a parte traz aos autos cópia do cheque usado para a realização do depósito (f. 21), cedido pelo banco. No título consta o nome de Josivaldo Sousa da Silva, terceiro estranho ao processo.

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E assim, reconhecida a anulabilidade do negócio jurídico, procede o pedido de cancelamento do documento n.º 010035796054 (f. 23), que hoje encontra-se em nome do réu.

Colho, por oportuno, o seguinte julgado:

"REEXAME NECESSÁRIO E APELAÇÃO CÍVEL -

NEGÓCIO JURÍDICO NULO - SIMULAÇÃO -

AQUISIÇÃO DE VEÍCULOS MEDIANTE

APRESENTAÇÃO DE DOCUMENTO FALSO PELO ADQUIRENTE - NULIDADE RECONHECIDA - BAIXA DOS REGISTROS NO ÓRGÃO DE TRÂNSITO - RETORNO DA SITUAÇÃO JURÍDICA AO STATUS QUO ANTE. 1- É nulo o negócio jurídico que padece do vício de simulação, porquanto envolto em defeito na declaração de vontade emitida pelos contratantes; 2- comprovada a simulação do negócio jurídico referente à aquisição de veículos, mediante a apresentação de documento falso pelo adquirente, impõe-se o reconhecimento da nulidade, não havendo como subsistir os registros de propriedade dos bens; 3- Reconhecida a nulidade do negócio jurídico, a situação do bem envolvido retorna ao status quo ante, devendo o alienante, caso sinta-se prejudicado, buscar o devido ressarcimento pelas

vias adequadas." (TJMG - Apelação Cível

1.0223.11.024345-6/002, Relator(a): Des.(a) Renato Dresch, 4ª CÂMARA CÍVEL, julgamento em 08/11/2018, publicação da súmula em 13/11/2018).

Ressalto, no entanto, que eventuais custas relativas a taxas administrativas do órgão administrador competente, estas serão de inteira responsabilidade da parte autora.

Assim, por todo o exposto, a procedência dos pedidos formulados é medida que se impõe.

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III. DISPOSITIVO:

Diante o exposto, julgo parcialmente procedentes os pedidos formulados na presente ação por Maura Vieira de Lima, para declarar a anulabilidade do negócio jurídico firmado entre as partes.

Oficie-se ao DETRAN/MS, para que se promova o cancelamento do documento n.º 010035796054, em nome do requerido, oportunizando a autora o registro do veículo em seu nome.

Em razão da sucumbência mínima, condeno os requeridos, solidariamente, ao pagamento das custas processuais e dos honorários advocatícios, os quais fixo em 15% do valor atualizado da causa, conforme art. 85, §2º, do CPC.

Prolato sentença com resolução de mérito, nos termos do art. 487, I, do CPC.

Publique-se. Registre-se. Intime-se. Cumpra-se. Oportunamente, arquive-se.

Campo Grande/MS, 01 de Fevereiro de 2018.

(Assinado digitalmente)

Paulo Afonso de Oliveira Juiz de Direito

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