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Departamento Municipal Jurídico e de Contencioso Divisão Municipal de Estudos e Assessoria Jurídica

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Departamento Municipal Jurídico e de Contencioso

Divisão Municipal de Estudos e Assessoria Jurídica

Despacho: Despacho:

Despacho:

Concordo. Envie-se a presente informação à Senhora Chefe da Divisão Municipal de Apoio aos Órgãos Autárquicos, Dra. Rita Ramalho.

Anabela Moutinho Monteiro

Chefe da Divisão de Estudos e Assessoria Jurídica 24.03.2012

N/Ref.ª: I/(...)/12/CMP V/Ref.ª: (...)/12/CMP Porto, 18-04-2012 Autor: Isabel Ferreira

Assunto: LEGADO PIO – Prémio “A(…)/A(…)”

Enquadramento Factual

Com data de 16/02/2012, vem a Venerável Irmandade de N(…), informar esta Câmara Municipal que, de acordo com o artigo 13.º do Decreto-Lei n.º 39449 de 24 Novembro de 1953, tem esta Irmandade vindo a distribuir, anualmente, dois prémios de (…)$00 (atualmente € (…),00) cada, a alunos da Escola daquela Instituição, em cumprimentos das disposições testamentárias de A(…). Mais refere o referido ofício que em Junho de 2010, por contingências várias e essencialmente, pelo muito reduzido número de alunos inscritos, a Escola teve de encerrar.

Concluem que em face do exposto e porque se tornou e inexequível o cumprimento do aludido legado, vêm solicitar a sua extinção ou outra solução adequada à situação relatada.

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Por informação da Sra. Chefe de Divisão Municipal de Apoio aos Órgãos Autárquicos, foi solicitado ao DMJC a apreciação da pretensão da requerente.

Análise jurídica

O testamento cerrado de A(…), celebrado em (…)-(…)-1950, instituiu vários legados, a várias entidades de beneficência e assistência na cidade do Porto, entre as quais institui um legado a favor da Venerável Irmandade de N(…), deixando a quantia de (…) escudos com as seguintes obrigações:

Primeiro: de constituir esta instituição dois prémios anuais de duzentos escudos cada um, que serão designados “Prémio A(…) e Prémio A(…)” os quais são dados a dois dos alunos da escola da legatária que se distingam pela sua aptidão, aplicação ao estudo e bom comportamento, sendo o primeiro entregue a um dos alunos em (…) de (…) e o segundo ao outro em (…) de (…);

Segundo: de mandarem rezar anualmente naquelas datas de (…) de (…) e na data do seu falecimento ((…)de (…)), uma missa por sua alma, e na data de (…) de (…) e (…) de (…) deverá também ser rezada uma missa por alma de sua saudosa esposa A(…) – citação do testamento.

A legatária tem prestado contas conforme consta do processo de acordo com a legislação aplicável.

Vem agora a legatária solicitar a extinção deste legado ou então outra solução adequada ao fim do legado, dado que a Escola por falta de alunos encerrou.

A matéria dos legados pios ainda está estatuída no DL 39449, de 24/11/1953, com as alterações introduzidas pelo Decreto-Lei 43209, de 10/10/1960, legislação especial remetida pelo disposto no art.º 2280 do Código Civil.

O conceito de legado pio tem de se buscar no art.º 1. desse decreto-lei, que estabelece serem legados pios, “todas as deixas destinadas a fins religiosos ou à criação, manutenção ou desenvolvimento de obras de assistência, previdência e educação ou a fins análogos, bem como os encargos de natureza idêntica, instituídos em qualquer instrumento público”.

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É pacífico que a matéria dos legados pios, naquilo que não for previsto pelo citado diploma, seja visto à luz da lei civil.

Refere o Prof. Antunes Varela, em “Das obrigações em Geral” V.I, p. 37, 4ª Ed., que “ a disciplina geral das obrigações, que se estende desde o art,º 397 até ao art.º 873, abrange os aspetos que são comuns a todas as relações obrigacionais ou a um largo sector delas, seja qual for a fonte donde procedem…

As regras aí contidas sobre as várias modalidades das obrigações aplicam-se às obrigações sucessórias (obrigações do herdeiro de cumprir certos legados) ”.

Como refere a p. 187 “Não há entre as obrigações e as relações jurídicas correspondentes, integradas no fenómeno sucessório, nenhuma diferença de estrutura ou de caracter intrínseco. Nascem na sucessão mortis causa relações obrigacionais (legados ou encargos que oneram o herdeiro ou o legatário …) cujo regime terá de ser procurado, à falta de disposição especial, no livro das obrigações”

Ora, no caso sub judice, seremos tentados a levantar a hipótese de o requerente, a aqui Venerável Irmandade de N(…), não ter objetivamente como cumprir a obrigação que lhe foi instituída – os dois prémios anuais de (…)$00 cada, a dois alunos da escola da requerente que se distinguissem pela aptidão, aplicação ao estudo e bom comportamento, uma vez que, deixou desde 2010 de ter Escola e alunos.

Esta situação podia levar-nos a entender existir aqui uma impossibilidade absoluta do seu cumprimento, nos termos do n.º 1 do art.º 790.º do Código Civil: “A obrigação extingue-se quando a prestação se torna impossível por causa não imputável ao devedor.”

No nosso direito civil, cfr art.º 437.º do CC, só a impossibilidade absoluta libera o devedor da obrigação (obrigação de prestação de uma coisa que entretanto pereceu sem culpa do devedor).

Mas, salvo melhor e esclarecida opinião, não deverá ser este o caminho adotar.

E nesse caminho e para resolução da questão que aqui nos é colocada, faz todo o sentido atentarmos no disposto no art.º 2187.º do Código Civil, que especifica no seu n.º 1:

“Na interpretação das disposições testamentárias observar-se-á o que parecer mais ajustado com a vontade do testador, conforme o contexto do testamento.

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E o n.º 2 que: É admitida prova complementar, mas não surtirá qualquer efeito a vontade do testador que não tenha no contexto, um mínimo de correspondência, ainda que imperfeitamente expressa.”

Ou seja, as disposições testamentárias são de interpretar segundo a vontade do testador, essa intenção, contudo, não pode valer contra o texto do testamento ou para além dele (RLJ, 108.º 44).

O momento em que se tem que reportar a interpretação de testamento é a data da feitura da disposição testamentária (Ac. STJ de 22/04/2008).

Ora, no Ac. TRL processo 0012159 de 12/10/1977, lê-se: …

IV – A nossa tradição jurídica tem sido no sentido de se poder “comutar” de “substitui” as “obras pias” por outras “obras pias” quando não se possibilite o seu cumprimento tal como foi instituído pelo testador (Relatório do Decreto-Lei 39449, de 24/11/53).

Já aqui ficou claro que a legatária não pode continuar o legado tal como ele lhe foi fixado, por extinção da Escola e inexistência de alunos.

No entanto, sabemos que esta instituição tem muitas outras valências no apoio à população carenciada, quer pela chamada “sopa dos pobres” que fornece uma refeição por dia a carenciados não residentes, quer o apoio a carenciados ali residentes, nas suas necessidades mais básicas.

Também tomamos consciência pela leitura do testamento do Sr. A(…), que uma das suas preocupações fundamentais na disposição do seu património, foi canalizado para o apoio aos pobres, carenciados, incumbindo várias outras instituições também legatárias de distribuírem ou esmolas ou pagamentos por pessoas pobres, de colocarem ao seu serviço pessoas pobres, por exemplo a quem seria pago o serviço de limpeza de vários Jazigos de que o mesmo era proprietário.

Como impõe aos Asilos e demais Instituições de Beneficência que no testamento são comtempladas com legados, a distribuição nos dias dos aniversários dele e da esposa, “vinte esmolas de (…) escudos cada uma por igual número de pobres”.

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A título de exemplo que espelha bem o sentimento do testador, a vontade do mesmo e a preocupação que o mesmo detinha com estes pobres desfavorecidos, lê-se no seu testamento a fls. (…) deste processo:

“… Deixo mais à referida S(…) a quantia de (…) escudos. Imponho porém à referida legatária – S(…) – as seguintes obrigações- Primeiro instalar no seu Hospital (…) ou fora dele, uma enfermaria para tratamento de pobres, que terá o nome de “Enfermaria dos Pobres” – secção A(…)…”

Parece-nos claro que imana do contexto do testamento uma vontade clara de apoiar monetariamente os pobres.

Ora, a instituição, Venerável Irmandade de N(…), tem como já o referimos a valência de apoio aos carenciados residentes e carenciados não residentes através da denominada “Sopa dos Pobres”.

Entendemos que, faz todo o sentido que o montante aqui em causa e que foi legado para um prémio escolar, possa ser canalizado pela mesma instituição para este apoio aos pobres, nomeadamente nas refeições diárias que distribui gratuitamente.

Conclusão

Desta feita, é nosso entendimento, salvo melhor opinião e no seguimento do citado Ac. da Relação de Lisboa, poder substitui “uma obra pia” por “outras obras pia” uma vez que a mesma resulta claramente do contexto do testamento e que encontra suporte objetivo e subjetivo em outro legados instituídos pelo mesmo testador.

Assim, é nosso entendimento, que a verba monetária afeta ao prémio escolar anual de € (…),00 seja canalizada para a valência de apoio a pessoas pobres, nomeadamente através da “Sopa dos Pobres”.

À Consideração Superior A Jurista

Referências

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