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COMUNICAÇÃO ARTE E EDUCAÇÃO EM MOVIMENTO: Formação docente em arte

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Academic year: 2021

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COMUNICAÇÃO

ARTE E EDUCAÇÃO EM MOVIMENTO: Formação docente em arte

STEFFANELLO, Deise Catarine Schuck1

LOPONTE, Luciana Gruppelli2

VINHAS, Neusa Loreni3

Palavras-chave: Docência, Arte, Escrita.

Resumo: Com atividades desde o ano de 2000, consolidamos um espaço de formação docente em arte para a Educação Básica na região de Santa Cruz do Sul, envolvendo ações de pesquisa, ensino e extensão, a partir de atividades realizadas com um grupo de professoras de arte. Em encontros mensais, professoras realizam leituras e estudos sobre ensino de arte; dialogam sobre planejamento e práticas diárias; compartilham descobertas de livros, revistas, sites e exposições de arte. As atividades deste grupo foram analisadas pelo projeto de pesquisa “Escritas de si (e para os outros) na docência em arte”. Como forma de registrar os movimentos do grupo adotamos diários individuais, um diário coletivo e um blog, nos quais escrevemos sobre o processo de planejamento e realização de aulas, e sobre idéias que surgem a partir das conversas com o grupo. Alguns questionamentos acompanharam a pesquisa, tais como: qual é o papel da escrita na formação docente? A quem interessaria a escrita de professoras? Por que e para que escrever sobre a própria docência? Percebemos que as práticas de escrita geram segurança, confiança e um olhar crítico sobre o trabalho realizado, criando a possibilidade de análise e problematização da docência. Com a socialização das produções escritas individuais as demais escritas são impulsionadas e incentivadas, observando que as palavras de cada uma possuem ressonância e cumplicidade. Esta pesquisa é marcada principalmente pelas teorizações de Michel Foucault, e outros autores que problematizam escritas, experiência, memórias, autobiografias e sua relação com a educação, como Jorge Larrosa (2006) e Elizeu Souza (2006). O projeto de pesquisa foi concluído em agosto de 2007, mas o grupo de professoras de arte continua reunindo-se, pela importância e necessidade de práticas diferenciadas em aulas de arte, o que de alguma forma, já evidencia a importância do trabalho realizado.

EXPERIÊNCIAS DOCENTE

Desde o ano 2000, realizamos encontros mensais com professoras de arte da região de Santa Cruz do Sul. Nestes encontros na Universidade de Santa Cruz do Sul acontecem relatos de experiência, nos quais as professoras comentam sobre os trabalhos que estão realizando nas escolas em que atuam, em geral com trabalhos

1

Acadêmica do Curso de Pedagogia-Educação Infantil da Universidade de Santa Cruz do SUL (UNISC), Bolsista de Iniciação Científica da FAPERGS (2006-2007).

2

Doutora em Educação, Professora Adjunta do Departamento de Ensino e Currículo da Faculdade de Educação da UFRGS.

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Graduada em Artes Práticas, pós-graduada em Metodologia de Ensino e Professora de Artes no ensino fundamental e médio na rede pública e particular.

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de alunos e fotografias para serem compartilhadas. Nestes encontros muitas coisas acontecem: idéias surgem, experiências são relatadas, textos são lidos, discutidos e estudados; dúvidas persistem e outras tantas são sanadas.

O ensino de arte é sempre o tema central; planejamentos e idéias de aulas são debatidos (mesmo que os resultados não sejam positivos, pois as aulas de arte também podem não dar certo), descobertas de livros, revistas, sites e exposições de arte são compartilhadas, respiramos e nos alimentamos de arte. E, além disso tudo, ainda registramos tudo que é discutido em forma de um diário coletivo e diários individuais.

Portanto, neste grupo de estudos, não existe uma única verdade ou uma única arte e sim várias pessoas preocupadas e interessadas no ensino de arte.

Este grupo foi tema de estudos do projeto de pesquisa “Escritas de si (e para os outros) na docência em arte”, coordenado pela professora Luciana Gruppelli Loponte, que foi finalizado em agosto de 2007. Os inumeráveis começos, a origem deste grupo e suas travessias durante este tempo foram analisados e descritos em outro trabalho (Loponte, 2005). A força deste grupo vai muito além de um projeto de pesquisa, que talvez seja uma simples tentativa de captar um pouco os movimentos e experiências vivenciadas por todas nós que ali estamos.

ESCRITA DOCENTE

A forma de escrita que foi adotada pelo grupo durante o ano de 2006 e 2007, são os “Diários”. Diários como forma de descrever o que foi vivenciado e sentido e a partir deles pensar o que esta sendo realizado. Os diários são uma maneira de reflexão do cotidiano.

Larrosa falando de literatura e linguagem traz questões pertinentes referentes a tempo e escrita:

“Separar a escrita de seu autor, de seu tempo, de seu espaço, de qualquer determinação que possa explicá-la. Para, simplesmente, ler. Mesmo que ler, nunca possa dar-se por assegurado. Em segundo lugar aprofundar no problema do tempo e da relação entre a escrita e o tempo. Aprofundar nos problemas da linguagem e da redação entre a escrita e a linguagem. Aprender que a escrita é conhecimento, mas também penetrar no desconhecido, um conhecimento que se dá na forma do não conhecimento. Na escrita, sempre pode mais o desconhecido que o conhecimento, o não saber que o saber. Por isso a ignorância está ao princípio e ao final da aventura. Saber, por último, que a escrita, ao trabalhar com o tempo e com a linguagem, esses mistérios nos quais nos perdemos sem

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recuperação possível, o que constrói ou reconstrói é um espelho quebrado, um rosto ignorado.” (LARROSA. 2006, p. 200).

Quando Larrosa fala de rosto ignorado, está referindo-se a não saber quem é o autor da escrita e podemos relacionar com Hess (2006) quando cita a falta de distanciamento da escrita que, por ser uma prática íntima, de memórias e momentos vividos, de algum modo demanda sentimentos diversos.

Para Larrosa a escolha de palavras é muito significativa, pois é através delas que “nomeamos o que somos, o que fazemos, o que pensamos, o que percebemos ou o que sentimos” (Larrosa, 2002, p.21), portanto a escolha de palavras durante o processo de escrita é o que fundamenta e dá sentido ao texto.

Algumas educadoras sentem insegurança em proporcionar experiências que aconteçam em seus alunos. Foucault afirma que “escrever é ‘se mostrar’, se expor, fazer aparecer seu próprio rosto perto do outro”, referindo-se as correspondências, mas a escrita de diários neste grupo também tem destinatários, cúmplices e ouvintes que dela compartilham.

Professoras não têm o hábito de escrever, pois estão acostumadas com as escritas burocráticas exigidas pelas escolas e por isso encontram dificuldade em mostrar-se através da escrita, pois escrever sobre a própria docência implica em expor idéias e sentimentos, além de escolhas, fracassos e acertos, portanto esta escrita não é fácil, mas depois de iniciada torna-se prazerosa.

Portanto a grande maioria do grupo concorda que escrever é expor suas idéias ao grupo e com certeza por isso esta escrita acontece com alguma dificuldade.

Percebemos pela escrita destas educadoras que o grupo de estudos é uma experiência que toca, que passa, que acontece4 em cada uma delas. Ainda com Larrosa, podemos afirmar que informação não é experiência e por isso este grupo é singular, pois traz a informação através da experiência muitas vezes vivenciada por outras integrantes do grupo e compartilhada com as demais.

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“A experiência é o que nos passa ou o que nos acontece, ou o que nos toca. Não o que passa ou o que acontece, ou o que toca, mas o que nos passa, o que nos acontece ou nos toca.” (Larrosa, 2004, p.154).

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A escrita que buscamos é uma escrita assinada, comprometida, que organize e ao mesmo tempo reorganize as idéias de quem está escrevendo como se refere Foucault aos hypomnêmata5

“O movimento que eles procuram realizar é o inverso daquele: trata-se não de buscar o indizível, não de revelar o oculto, não de dizer o não-dito, mas de captar, pelo contrário, o já dito; reunir o que se pôde ouvir ou ler, e isso com uma finalidade que nada mais é que a constituição de si.” (FOUCAULT, 2004, p.149).

A partir da escrita, é possível pensar de maneira diferente da que era pensada anteriormente. Estabelecer através dela uma relação consigo mesmo e com o outro, através de discursos que cotidianamente repetimos e reforçamos como verdadeiros.

Uma outra possibilidade de escrita que começamos a explorar este ano foi a escrita coletiva de um blog na Internet. Apesar de certa resistência e estranhamento docente diante das tecnologias virtuais, penso que este pode ser um meio importante para divulgar as ações e idéias deste grupo de professoras de arte. O

blog6 também pode ser percebido como um “diário de bordo” ampliado, com um alcance bem maior do que podemos imaginar. Não há sentido para uma escrita de si, que não seja também uma escrita para os outros.

Quais os efeitos do grupo nas práticas pedagógicas de cada uma, e na própria escrita de si mesmo como docente? Podemos perceber algumas questões importantes em alguns trechos dos diários. A própria escrita vai adquirindo novos contornos, novos modos de inscrever-se. Seria aqui uma escrita “assinada”? Nas escritas transparece também o medo de expor-se, de mostrar-se, de acreditar que as práticas docentes de cada uma tem mais valor do que imaginam. O grupo potencializa, estimula, fortalece, amplia as possibilidades individuais.

Qual o sentido desta escrita, quais seus modos? Nesta análise inicial em alguns fragmentos, não há intenção de analisar o discurso, de identificar a essência de uma escrita ou de um grupo, mas de perceber quais os movimentos que esta escrita produz, quais seus efeitos na formação docente de algumas professoras, quais as possibilidades de potencializar novas práticas delas e daqueles que as

5

Oshypomnêmata são os livros de apontamentos, registros públicos, cadernos pessoais que serviam de agenda, ou mesmo, como suportes de lembranças. (Foucault, 2004a, p. 147).

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lêem. A leitura é um aspecto importante que deve ser bastante considerado, é a forma com que a escrita toca mais fundo, tanto em quem lê o que escreveu, ou quem lê as escritas dos outros.

O que buscamos na escrita do grupo ou na escrita individual? Difícil conter esta resposta em algumas palavras. Nossos diários nos fazem pensar. Acostumadas com a escrita que a escola nos proporciona que são planos, projetos e listas sem ressonância, nossas escritas nos diários geram medos, mas nos sustentam, nos fortalecem e nos dão segurança quando socializamos e quando somos ouvidas no grupo.

Nestes movimentos que são articulados a partir da escrita nos diários, estão presentes a escuta atenta dos processos de construção, criação e fruição com nossos alunos e nossas mediações como profissionais.A nossa observação torna-se extramente sensível, nosso olhar fica aguçado, e contemplativo, todas as condutas positivas ou negativas de nossos alunos passam a ser muito relevantes. Desenvolvemos uma escuta sensível. O processo de escrita nos diários é precedida e acompanhada desta "leitura" de cotidiano na escola e, portanto , não

serve para descobrir coisas, mas ela organiza , desorganiza e

problematiza.Quando lemos o que escrevemos, quando pensamos para quem estamos escrevendo as palavras "gritam" conosco. Muitas vezes a experiência vivida não cabe na escrita.

O diário é uma necessidade minha ou do grupo? Escrevo para quem?

Estamos vivenciando paixões, ousadias, ressonâncias, estudo e muita discussão... Somos um grupo.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

FOUCAULT, Michel. A hermenêutica do sujeito. São Paulo: Martins Fontes, 2004. ______. A escrita de si. In: Ditos e escritos V: Ética, sexualidade, política. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2004a.

HESS, Remi. Momento do diário e diário dos momentos. In: SOUZA, Elizeu Clementino de, ABRAHÃO, Maria Helena Menna Barreto (orgs.) Tempos,

narrativas e ficções: a invenção de si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. p. 89

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LARROSA, Jorge. Ensaio, diário e poema como variantes da autobiografia: a propósito de um “poema de formação” de Andrés Sánchez Robayna’. In: SOUZA, Elizeu Clementino de, ABRAHÃO, Maria Helena Menna Barreto (orgs.) Tempos,

narrativas e ficções: a invenção de si. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2006. p.183 –

202.

_______. Notas sobre a experiência e o saber da experiência. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n.19, p.20-28, jan.abr. 2002.

MARTINS, Mirian Celeste (org). Mediação: provocações estéticas. Universidade Estadual Paulista – Instituto de Artes. Pós-Graduação. São Paulo, v.1, n.1, outubro 2005.

SOUZA, Elizeu Clementino de (org.). Autobiografias, histórias de vida e

Referências

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