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ESTUDO DE UM CASO DE CICLOGÊNESE NA AMÉRICA DO SUL A PARTIR DA TEORIA DE DESENVOLVIMENTO DE SUTCLIFFE

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Academic year: 2021

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ESTUDO DE UM CASO DE CICLOGÊNESE NA AMÉRICA DO SUL A PARTIR DA TEORIA DE DESENVOLVIMENTO DE SUTCLIFFE

Andréa de Oliveira Cardoso

Bolsista de Pós-Graduação FAPESP – Departamento de Ciências Atmosféricas – Instituto Astronômico e Geofísico - Universidade de São Paulo

Rua do Matão, 1226 – CEP 05508-900 – São Paulo - SP E-mail: andreca@model.iag.usp.br

Maria Assunção Faus da Silva Dias* e Pedro Leite da Silva Dias**

Departamento de Ciências Atmosféricas – Instituto Astronômico e Geofísico – Universidade de São Paulo *E-mail: mafdsdia@model.iag.usp.br **E-mail: pldsdias@model.iag.usp.br

RESUMO

No presente trabalho, o fenômeno ciclogênese é descrito pela equação de Sutcliffe, que serviu como base para o estudo de caso ocorrido na costa do Uruguai e Argentina, no período de 9 à 11 de Junho de 1999. Neste estudo foi feito uma análise detalhada desta equação, destacando a função e importância de cada um de seus termos. Como suporte e complemento teórico foi realizado uma análise sinótica para altos e baixos níveis, que

ABSTRACT

In present work, the cyclogenesis phenomena is described by equation of Sutcliffe, which served why base for the study of case occurred in cost of Uruguay and Argentina in period of 9-11 June of 1999. In this study was made a detailed analysis of this equation, detaching the function and importance of each one of your terms. As support and complement theoretical was realized an analysis synoptic for low and upper levels which helped in verification of evolution of system.

Palavras-chave: Ciclogênese, Equação de Sutcliffe, campos sinóticos.

1. Introdução

O processo de abaixamento da pressão atmosférica de superfície e conseqüente formação ciclônica é denominado ciclogênese (gênese de ciclone). Dependendo das condições atmosféricas este fenômeno pode contribuir para a ocorrência de chuvas intensas e friagem em algumas regiões.

Dentre os primeiros relatos para o Hemisfério Sul (HS) estão o trabalho de Meinardus (1929), que mostraram a Formação e Trajetórias de Ciclones na Argentina e as Áreas Ciclogenéticas e Trajetórias de Ciclones no HS, respectivamente. Mais tarde, Boffi (1949), estudou a importância do efeito dinâmico dos Andes nas Para a região da América do Sul (AS) dentre os poucos trabalhos esta o de Necco (1982), que considerando os ocorrências de ciclones sobre o sul da AS, encontrou que 70% se formam na região 10ºS-55ºS e 0º-90ºW sendo o restante referente a sistemas migratórios com origem fora desta área; dos 70%, apenas 20% se formam na região do Pacífico Sul e 50% sobre o continente e Atlântico Sul. Necco encontrou que a maior freqüência de ciclones Silva Dias et al (1986) estudaram um caso de ciclogênese ocorrido no Rio Grande do Sul em 19 de setembro de 1984. Do ponto de vista da Teoria de Desenvolvimento de Sutcliffe, existiam toda as condições dinâmicas clássicas para ocorrência de ciclogênese, sendo que o principal mecanismo para o desenvolvimento do sistema foi o aquecimento produzido pela liberação de calor latente.

Estudos sobre a ciclogenêse na AS publicado por Ferreira (1989), mostraram que 90% dos casos tem influência no alinhamento de frentes frias (outono-inverno) ou em interação com sistemas convectivos (primavera-verão); no inverno o principal processo de desenvolvimento de ciclones é a conversão de energia do estado básico para a perturbação (instabilidade baroclínica), enquanto que no verão, estes sistemas depende da instabilidade hidrodinâmica. Também foi destacado que a ligação entre ciclogênese e precipitação consiste em suprimento de umidade oriunda da região amazônica, o que também possui grande importância na dinâmica da ciclogênese.

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de um cavado de onda longa e de uma faixa de maior baroclinicidade em 35ºS de latitude. Já Sinclair, como continuação de seu primeiro trabalho, mostrou que há um número muito baixo de ciclones e ciclogêneses em baixas latitudes, sendo que no período de verão, a formação ocorre no cinturão de 40ºS e 60ºS, que pode estar relacionado ao forte gradiente de temperatura da superfície do mar. Sinclair notou também que a formação de ciclone pode estar relacionada com a posição climatológica do jato de altos níveis.

Para completar a revisão dos importantes trabalhos sobre Ciclogênese na AS, não poderia faltar o trabalho considerado Clássico de Gan (1991). Gan estudou a climatologia de ciclogêneses e ciclones entre 5º50º S e 90º -30º W. Observando um grande número de ciclogêneses, verificou um número bastante expressivo no período do outono e inverno, sendo que o maior número de casos em todas estações do ano ocorreu em 1983. Segundo Gan, este fato esta relacionado com evento El Niño que ocorreu com bastante intensidade no referido ano, principalmente da baroclinia associada ao jato subtropical. Ao representar graficamente a distribuição anual de ciclogênese sobre a região de estudo, Gan observou a existência de dois máximos: um sobre o Golfo de São Matias 42.5ºS - 6.5º W e outro sobre o Uruguai 32.5ºS - 55º W e notou que no inverno o máximo do Uruguai é mais intenso, verificando o inverso no verão. Acredita-se que o contraste de temperatura entre continente e oceano, juntamente com o gradiente de TSM provocado pelo encontro da corrente das Malvinas com a do Brasil, no litoral do Rio Grande do Sul e Uruguai, conduzem a situações favoráveis para a intensificação dos fluxos de calor sensível, um dos importantes controle para o desenvolvimento de ciclones extratropicais.

A teoria de desenvolvimento de Sutcliffe (1947) foi estabelecida no final da década de 40, a partir das primeiras simplificações das equações da dinâmica atmosférica devido ao desenvolvimento do sistema quasi-geostrófico. A chamada equação de Sutcliffe descreve o desenvolvimento de ciclones e anticiclones partindo do princípio que a divergência, uma medida taxa de remoção/adição de massa numa coluna atmosférica, pode ser relacionada com a variação da pressão na superfície e o campo da vorticidade em diversos níveis na vertical. O conceito de desenvolvimento de sistemas esta relacionado com a taxa de variação de pressão na superfície, que, quando positiva, significa formação ou intensificação de um anticiclone e quando negativa, esta relacionada com a Visto que a ciclogênese é descrita pela equação de Sutcliffe, esta servirá como base para o estudo do episódio ocorrido na costa do Rio Grande do Sul, Uruguai e Argentina, no período de 9 à 11 de Junho de 1999. Este segundo relatos da Climanálise (1999), causou chuvas em toda a região Sul do Brasil e no sul do Mato Grosso do Sul, trazendo condições de geadas em quase todo estado do Rio Grande do Sul e em algumas localidades de Santa Catarina e Paraná. Para este estudo será feito uma análise detalhada da equação de Sutcliffe, destacando a função e importância de cada um de seus termos. Como suporte e complemento teórico será realizada uma análise sinótica para altos e baixos níveis, através da qual terá condições de se observar a evolução do sistema.

2. Dados e Metodologia

Foram utilizados imagens do satélite GOES-8 do canal infravermelho com intervalo de 3 horas, desde 00 Z do dia 9 até às 18 Z do dia 12 de Junho de 1999 e dados de análise do CPTEC (Centro de Previsão do Tempo e Estudos Climáticos), no mesmo período com intervalo de 6 horas., iniciando às 00Z do dia 9 de Junho.

A metodologia foi baseada primeiramente na representação do fenômeno a partir da teoria de desenvolvimento de Sutcliffe, ou seja, calculando-se cada termo da equação de Sutcliffe e posteriormente representado o mesmo a partir de campos de meteorológicos.

A equação fundamental de desenvolvimento relaciona a variação temporal da vorticidade absoluta no nível de 1000 mb com: (a) a advecção de vorticidade em 500 mb (nível não divergente (NND)); (b) advecção de temperatura na camada entre 1000 mb e 500 mb; (c) variação de temperatura por movimento vertical; (d) mudança de temperatura por aquecimento da coluna atmosférica. A forma final da equação é:

)

(

2 0

H

S

A

R

g

f

R

A

t

Q

T Q

+

+

=

, onde

t

Z

f

g

t

Q

=

0 2 0 , Z0 = altura do nível de 1000mb Q0 = vorticidade absoluta em 1000 mb

f

y

u

x

v

+

=

0 0 AQ =

(

v

.

Q

)

p

r

advecção de vorticidade em 500hPa

(3)

S =

ln(

0

).

(

Γ

Γ

)

a

w

p

p

, com

dt

dp

w

=

(velocidade vertical em coordenada de pressão p),

p

T

g

=

Γ

ρ

1

é a taxa vertical da variação da temperatura e Γa é a taxa associada a uma atmosfera com estrutura vertical dada pela

adiabática seca (temperatura potencial constante na vertical). O símbolo ( ) significa o valor médio na camada. Este termo é conhecido como Termo da Estabilidade ou da variação da temperatura por movimento vertical. H = taxa de aquecimento médio na camada de 1000mb - 500 mb

A taxa de aquecimento médio na camada (H) pode ocorrer devido mecanismos físicos tais como, processos radiativos, transporte de calor sensível e liberação de calor latente. Como a manutenção do sistema de baixa pressão depende do abastecimento de água, ou seja, da convergência de umidade em baixos níveis e da evaporação. É conveniente notar que apenas os níveis mais baixos terão um efeito significativo porque a quantidade de vapor que uma parcela pode manter é função de sua temperatura, quanto mais quente maior é a quantidade de vapor disponível (equação de Clausius-Clapeyron). Logo é plausível associar regiões com alto teor de umidade e convergência de umidade com regiões ciclogenéticas. Dessa forma consideramos H α

.

qv

, onde q é a razão de

mistura (g/kg) e v a velocidade do vento na superfície (1000 mb).

A tabela abaixo apresenta o resumo da contribuição de cada termo para o processo de ciclogênese.

Termo

Contribuição se o termo for < 0

Contribuição se o termo for > 0

Q0

f

y

u

x

v

+

=

0 0

Formação ou intensificação ciclônica

Desintensificação ciclônica ou formação

AQ =

(

v

.

Q

)

p

r

Formação ou intensificação ciclônica Desintensificação ciclônica ou formação

AT =

V

.

(

Φ

Φ

0

)

Formação ou intensificação ciclônica Desintensificação ciclônica ou formação

S =

ln(

0

).

(

Γ

Γ

)

a

w

p

p

Desintensificação ciclônica ou formação Formação ou intensificação ciclônica

H =

.

qv

Formação ou intensificação ciclônica Desintensificação ciclônica

Cada termo da equação de Sutcliffe foi calculado através de um scripts para o software GRADS utilizando os dados da análise do CPTEC, e os resultados foram visualizados graficamente. Com a finalidade de complementar a teoria utilizamos os mesmo dados para gerar campos sinóticos de pressão no nível do mar (PNM), temperatura e vento em 1000 mb, linha de corrente em 1000 mb, 500 mb e 200 mb.

3. Resultados e Discussão

A figura 1 apresenta as imagens de satélite no infravermelho desde a formação do ciclone no dia 9 de Junho de 1999 até seu deslocamento para o oceano no dia 11 de Junho. A dissipação deste ciclone se deu no final do dia 12 de Junho.

Através da figura 1 podemos observar uma alta nebulosidade sobre o nordeste da Argentina, Uruguai, Rio Grande do Sul e sobre o litoral dessa região por todo o dia 9 (fig. 1a). Destacando o fato que no horário das 15 Z do dia 9 (não mostrado), esta nebulosidade se intensifica tomando forma de um de uma virgula, ou seja, o processo de ciclogênese já teve início, esta forma esta bastante clara na imagem das 18 Z do dia 9 mostrado na figura 1b. Para este mesmo horário vale destacar a presença de uma nebulosidade sobre o sudeste do Oceano Pacífico Sul (OPS) e a costa sudoeste do Chile.

Nos primeiros horários do dia 10, das 00 Z às 09 Z observa-se um deslocamento da nebulosidade em forma de virgula para o Oceano Atlântico Sul (OAS) tomando uma forma de gancho. Também é observado uma banda de nebulosidade característica de uma frente fria sobre a região do Paraná, Santa Catarina, e Mato Grosso do Sul.

Nos horários a partir das 12 Z do dia 10 é observado o inicio do estágio maduro do ciclone, com nuvem espiralada em torno de um centro definido. Esta configuração pode ser claramente observada na imagem das 18 Z do dia 10 (fig. 1d), destacando que nessa situação o ciclone esta mais deslocado para o oceano, sendo interessante notar a influência do ciclone no alinhamento da frente fria, que neste horário alcança o sul de São Paulo, Mato

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Figura 1 – Imagens do canal infravermelho do satélite GOES-8 para o período de 09 à 11 de Junho de 1999.

Para o horário das 00 Z do dia 11 o ciclone esta mais deslocado para sudeste do OAS juntamente com frente fria (fig. 1e). Neste mesmo horário aquela nebulosidade oriunda do sudeste do OPS deslocou-se consideravelmente para leste cobrindo todo o sul do Chile e da Argentina. No decorrer deste dia o ciclone desloca-se ainda mais rapidamente para sudeste do OAS juntamente com a frente fria que passa pelo norte de São Paulo e sul de Minas Gerais às 12 Z indo para o OAS (fig. 1f). Neste horário é também observado que aquela nebulosidade sobre o sul do Chile e da Argentina, deslocou-se para norte e tomou uma forma de “7”.

Nas imagens do dia 12 observou-se a desintensificação do sistema mais a sudeste do OAS e também é certa dissipação da nebulosidade sobre o sul da Argentina.

Foram gerados para cada termo da equação de desenvolvimento Sutcliffe campos diagnósticos para fins de avaliação qualitativa desses resultados, procurando desta forma estabelecer uma conexão entre esses campos e as situações representadas pelas imagens de Satélite figura 1. Com objetivo a facilitar a exposição vamos nos referir da seguinte forma aos termos de Sutcliffe:

Termo 1 – Variação temporal da Vorticidade Absoluta em 1000 mb / Termo da tendência de Q0;

Termo 2 – Advecção de Vorticidade em 500 mb;

Termo 3 – Advecção de Espessura (ou Temperatura) entre 1000 e 500 mb;

Termo 4 – Variação da Temperatura por Movimento Vertical / Termo da Estabilidade (ou Adiabático); Termo 5 – Termo de Aquecimento médio na camada / Termo Diabático.

Todos os termos foram calculados de tal forma que os valores negativos indicam tendência a favorecer a ciclogênese. As figuras 2a a 2u mostram os horários que apresentaram variações significativas no sentido de mudanças nos resultados obtidos para cada um desses termos.

Verificaremos primeiramente os resultados fornecidos pelo Termo2. Podemos observado através da figura 2 (a) que na região de alta nebulosidade mostrada pela imagem de satélite do dia 9 nos horários das 06 Z e 18 Z o Termo 2 possui valores negativos, que significa a ocorrência de advecção de vorticidade negativa no nível de 500 mb nessa região, este fato contribui para o abaixamento da pressão na superfície visto que esteja ocorrendo mais divergência do que convergência na coluna atmosférica (a leste do cavado padrão).

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notado o deslocamento dos valores negativos acompanhando o deslocamento do sistema ciclônico mostrado pelas imagens de satélite e também a queda dos valores do termo no horário das 18 Z (fig. 2d), concordando com a desintensificação do sistema mostrado pelas imagens de satélite.

Podemos dizer que o Termo 2 representou bem a ciclogênese, ou seja, a advecção de vorticidade negativa em 500 mb forneceu uma contribuição para a ciclogênese na superfície.

Através dos resultados mostrados na figura 2 (e-h), verifica-se que uma cont

Termo 3 para a tendência a ciclogênese na superfície é observada a partir do horário das 18 Z do dia 9, onde apresenta valores negativos próximo a costa do Uruguai e norte da Argentina, ou seja, indicação de aumento da temperatura na coluna atmosférica, que por vez está associado a queda de pressão na superfície. Pelo dia 10, é observado o deslocamento desses valores negativos para o sudeste do OAS e também observa-se valores altos nos horários das 06 Z e 12 Z do dia 10 (fig. 2f ), diminuindo às 18 Z (fig. 2g), o deslocamento para o sudeste do OAS permanece de acordo com o deslocamento verificado nas imagens de satélite. No dia 11 os valores negativos tornam-se mais baixos, isto é, diminui a advecção quente na coluna atmosférica e como conseqüência a Algo interessante a se destacar é que os valores negativos do Termo 3 estão um pouco adiantados em localização espacial comparando com os do Termo 2, isto pode estar associado ao fato que o Termo 3 é importante principalmente para o deslocamento do sistema que por vez deve se movimentar em direção a tendência de pressão mínima e também das maiores temperaturas, isto é, para a região onde ocorre advecção quente. Como no caso do termo anterior, o Termo 3 representa bem o desenvolvimento e deslocamento da ciclogênese na superfície.

Partindo para a verificação da contribuição do termo 4, o conhecido termo freio, notou-se que este apresenta poucos valores negativos significativos, isto é, pouco movimento subsidente por compressão adiabática no período de ocorrência do fenômeno, podendo ser destacado os horários das 06 Z e 12 Z dos dia 10, onde são alcançados os maiores valores negativos (figuras 2j e 2k) durante todo o evento.

vo, este fato pode estar associado ao fenômeno ocorrer sobre o oceano, ou seja, não existe neste caso a forçante topográfica. Isto implica a predominância dos demais termos da equação de Sutcliffe, pois o efeito de realimentação negativa na intensificação de sistemas de pressão é pequeno.

Para o caso do Termo 5 (figuras 2m a 2p), verificamos no decorrer do dia 9 um aumento gradativo dos valores negativos, tanto espacialmente quanto quantitativamente, isto pode ser observado pelas figuras dos horários das 06 Z do dia 9 e 06 Z do dia 10. Este fato sugere que esta ocorrendo um aquecimento diabático na coluna atmosférica, que por vez contribui para a queda da pressão na superfície, isto é, para tendência a ciclogênese.

No dia 10, valores negativos ainda maiores do Termo 5 são observados para todos os horários, sendo que nas figuras 2n e 2o estão apenas os horários da 06 Z e 12 Z que representam bem este fato. É importante destacar que os deslocamentos destes valores concordam com o observado pelas imagens de satélite. Entretanto, para o dia 11 que os valores negativos diminuíram entre os horários das 00 Z e 18 Z (fig. 2p), o que reflete a desintensificação do sistema, também apresentado pelas imagens de satélite.

Apesar do Termo 5 possuir uma magnitude de 10-18 que é proporcional a divergência de umidade e os termos restantes possuírem magnitude de 10-9, notou-se que este termo descreve muito bem a ciclogênese na superfície o que esta de acordo com o que foi observado no trabalho de Silva Dias et al (1986), no qual destaca a importância deste termo para a ciclogênese, visto que indica muito bem a região de intensificação.

Finalmente partiremos para a interpretação dos resultados do Termo 1, que deve ser proporcional a soma da contribuição de todos os termos já discutidos, pois este fornece a tendência ao abaixamento da pressão na superfície. Observando a figura 2 (q-u), pode ser notado claramente o deslocamento do sistema de baixa pressão na superfície no decorrer dos intervalos de tempo. Sendo que os maiores valores do termo são alcançados no dia 10, principalmente entre às 12 Z e 18 Z (figuras 2s), estando de acordo com o estagio maduro do ciclone (explosão da

Em todos os horários do dia 11 é apresentado pelo Termo 1 um abaixamento da pressão atm

superfície e também o deslocamento da baixa pressão para sudeste do OAS distanciando-se do continente (figuras 2t e 2u), concordando com o observado nas imagens de satélite. Portanto, podemos dizer que o Termo 1 representa muito bem o verificado pelas imagens de satélite e portanto a ciclogênese na superfície.

Em suma, notamos que a equação de Sutcliffe se mostra um bom indicador de ciclogênese, sugerindo que considerar as variações verticais da atmosfera é um ponto indispensável para o estudo de fenômenos que ocorrem

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Figura 2: Resultados obtidos para os termos da Equação de Sutcliffe: (a)-(d) Termo 2 (Advecção de Vorticidade em 500 mb); (e) – (h) Termo 3 (Advecção de Temperatura entre 1000 mb e 500 mb); (i) – (l) Termo 4 (Variação da temperatura por movimento vertical/Termo da Estabilidade); (m) – (p) Termo 5 (Termo de aquecimento médio na camada/Termo Diabático); (q) – (u) Termo 1

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Figura 2: Continuação

Com objetivo de analisar os altos e baixos níveis e procurar comparar as situações mostradas pelos campos de variáveis meteorológicas com os resultados obtidos através dos termos de Sutcliffe, geramos campos sinóticos a partir dos mesmos dados utilizados no cálculo dos termos da equação de Sutcliffe. Portanto, foram gerados campos de pressão no nível do mar, temperatura e vento em 1000 mb, linha de corrente em 1000mb, 500mb e 200 mb.

Através dos campos de pressão no nível do mar, pode ser verificado no dia 9 às 6 Z (fig. 3d) uma alta pressão sobre o Oceano Pacífico Sul (OPS) e também uma alta pressão sobre o Oceano Atlântico Sul (OAS). No campo de linha de corrente em 500 mb observa-se um cavado sobre os Andes (fig. 3g) e no nível de 200 mb é verificado um cavado na mesma posição do mencionado anteriormente, o que sugere uma característica barotrópica. Às 18 Z do dia 9, nota-se através do campo de temperatura e vento em 1000 mb a formação de uma baixa pressão na retaguarda de uma frente fria (fig. 3b). No campo de pressão (fig. 3e) observa-se que a baixa pressão posiciona-se a leste do cavado em 500 mb, que neste instante está mais intenso e deslocado um pouco para leste (fig. 3h).

Como o abaixamento da pressão aumenta a convergência em baixos níveis e conseguinte o movimento ascendente, gera a nebulosidade que observada pelas imagens de satélite do dia 9 às 18 Z (fig.1b). Vale destacar que o abaixamento da pressão a leste do cavado em 500 mb concorda com os resultados obtidos pelo termo de Advecção de Vorticidade em 500 mb da equação de Sutcliffe (figs. 2a e 2b), onde a leste do cavado de 500 mb foi observado uma advecção de vorticidade negativa, proporcionando o abaixamento da pressão na superfície.

(8)

Figura 3: Temperatura em 1000 mb [ºC] e Vento em 1000 mb: (a) 6Z do dia 09/06/99; (b) 18Z do dia 09/06/99; (c) 6Z do dia 10/09/99. : (d) como (a); (e) com (b); (f) como (c). Linha de corrente em 500 mb: (g) como (a); (h) com (b); (i) como (c). Temperatura em 1000 mb [ºC] e Vento em 1000 mb: (j) 18Z do dia 10/06/99; (k) 06Z do dia 11/06/99; (l) 18Z do dia 11/09/99. Linha de corrente em 500 mb: (m) 18Z do dia 10/06/99. Pressão no nível do mar [mb]: (n) 6Z do dia 11/06/99; (o) 18Z do dia 11/06/99.

(9)

Figura 3: Continuação

Para o dia 10 às 6 Z, quando inicia o desenvolvimento da ciclogênese, é observado clar

campos de temperatura e vento (fig. 3c) a circulação ciclônica próxima a costa do Uruguai e Argentina. Nesta figura pode ser visto a frente fria entre Santa Catarina e Paraná e centro do Mato Grosso do Sul, e observado o gradiente de temperatura associado à advecção fria que intensifica o cavado e a advecção quente que intensifica a crista. Notou-se nos escoamentos de 500 mb (fig. 3i) e 200 mb que o cavado e a crista estão mais intensos.

O que se espera com a intensificação do cavado é que a pressão a leste do mesmo diminua ainda mais, e é exatamente isso que observa-se no horário das 18 Z do dia 10 (fig. 3j). Neste instante o cavado em 500 mb está deslocado mais para leste do OAS (fig. 3m) levando consigo o sistema de baixa pressão. Desta forma a frente deslocou-se para nordeste passando pelo sul de São Paulo, norte do Mato Grosso do Sul e sul do Mato Grosso, podendo ser observado que o vento frio na retaguarda da frente esta empurrando o vento quente da vanguarda da frente (fig. 3j), gerando queda na temperatura nessas regiões. Esta situação também concorda com os resultados do termo da Advecção de espessura (temperatura) entre 500 mb e 1000 mb, através do qual foi destacado que o centro do ciclone deve se movimentar em direção a região onde ocorre advecção quente na camada.

No dia 11 às 6 Z, o sistema de baixa pressão está mais deslocado para sudeste do OAS (fig. 3n) igualmente ao cavado de 500m, nesta situação a pressão esta bastante baixa, chegando a 900 mb. Através dos campos de temperatura e vento em 1000 mb pode ser verificado que a frente já está sobre o sul de Minas Gerais, Goiás e Mato Grosso do Sul, causando queda na temperatura dessas regiões (fig. 3k).

ÀS 18 Z do dia 11, o ciclone está mais deslocado para o oceano (imagem de s

baixa pressão está mais para sudeste (fig. 3o) e a convergência de ventos frios e quentes na frente fria está quase que totalmente sobre o oceano (fig. 3l). Nesta situação é observado que o cavado em 500 mb desintensificou e deslocou-se para leste e no escoamento de 200 mb também é observado a desintensificação do cavado sobre o oceano e um escoamento mais zonal.

No dia 12, o sistema de baixa pressão está mais distante do continente, deslocando-se cada vez mais para sudeste do OAS (não mostrado). Neste dia o sistema de alta pressão volta a atuar sobre a região sul do Brasil, visto que o ciclone já não exerce influencia sobre o mesmo.

4. Conclusões

O tema Ciclogênese foi explorado inicialmente a partir de casos apresentados na literatura e posteriormente do ponto de vista da Teoria de Sutcliffe. Esta teoria mostrou muito bem a formação e desenvolvimento da ciclogênese ocorrida no período de 9 a 11 de Junho de 1999. Todos os termos da equação de Sutcliffe descreveram de forma satisfatória este episódio, destacando-se o Termo Diabático, o qual desde o início do episódio caracterizou A utilização da equação de Sutcliffe forneceu condições para a visualização dos processos físicos envolvidos no sistema. Também mostrou que na realização de estudos dos fenômenos que ocorrem na superfície é muito importante ser levado em conta o perfil vertical da atmosfera, para a obtenção de resultados que descrevam melhor a realidade.

Através dos campos sinóticos analisados, ficou evidenciado a relação entre os cavados de altos níveis e a ciclogênese na superfície que surgiu da formação de uma baixa intensa a leste do cavado, este fato mostra a influência dos altos níveis sobre a superfície. Os resultados das análises sinóticas concordaram com os resultados obtidos pela equação de Sutcliffe, confirmando assim a boa representação do sistema obtido através desta equação.

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literatura, isto é, está entre os 90 % dos casos de ciclogênese que tem influência no alinhamento de frente frias na estação outono-inverno, de acordo com Ferreira (1989). Além de ocorrer no inverno, quando normalmente ocorre o maior número de ciclogêneses na América do Sul, segundo Gan (1991), esta ciclogênese iniciou-se na região do Uruguai, que de acordo com Gan é a região de máximo intenso de ocorrência de ciclogêneses no inverno.

Relatos apresentados pela Climanálise, mostraram que esta frente alinhada pela ciclogênese foi a terceira frente fria que atuou no Brasil no mês de Junho, entrando no Rio Grande do Sul (RS) no dia 9. Este sistema deslocou-se tanto pelo interior, como pelo litoral das Regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. A frente fria causou chuvas em toda a Região Sul e no sul do Mato Grosso do Sul. No interior e litoral da Região Sudeste as chuvas foram fracas e moderadas. Esta frente fria enfraqueceu no dia 13, no litoral de Vitória-ES. A Climanálise de Junho também destacou, que entre os dias 10 e 12 uma massa de ar frio passou pelo sul do país, mas com deslocamento zonal, provocando declínio de temperaturas nos Estados do Sul. Essa massa trouxe condições de geadas, principalmente nos dias 11, 12 e 13 de Junho. No dia 11 geou em quase todo o Estado do RS, geou forte em Uruguaiana, Bom Jesus (0,8ºC). Em Santa Catarina geou em Lagoa Vermelha (0,5ºC). No sul do Paraná geou forte em São Joaquim e Lages, onde foram registradas temperaturas negativas de -0,5ºC em Irati.

Desta forma podemos concluir que evento de ciclogênese foi bastante intenso, cujos impactos foram sentidos por todo sul do Brasil, e que este sistema foi muito bem representado pela teoria de Sutcliffe e caracterizado pelos campos sinóticos.

Agradecimentos. Ao Laboratório MASTER (IAG – USP) e seus integrantes pelo cessão dos dados e imagens de

satélite. Ao Instituto Astronômico e Geofísico (IAG - USP) pelo suporte técnico.

5. Referências Bibliográficas

Boffi, J. Alberto, 1949: Effect of the Andes Mountains on the General Circulation Over the Southern Part of South

America. Bulletin of American Meteorological Society, 242-247.

CLIMANÁLISE; 1999: Boletim de Monitoramento e Análise Climática, vl 14 - n.06 – Junho de 1999.

Dias, P.L.S., 1986: Interpretação da Teoria do Desenvolvimento de Sutcliffe – Curso de Extensão Universitária –

Introdução ao uso de modelos diagnósticos para previsão do tempo – DCA/IAG/USP.

Ferreira, C.C., 1989: Ciclogêneses e ciclones extratropicais na Região Sul - Sudeste do Brasil e suas influências

no tempo. INPE-4812-TDL/359.

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Referências

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