DISCURSO DO ALMIRANTE
CHEFE DO ESTADO-MAIOR DA ARMADA
POR OCASIÃO DA
CERIMÓNIA DE BATISMO
DO NRP SETÚBAL
1 Senhor Ministro da Defesa Nacional, Excelência,
Aceitou Vossa Excelência presidir a esta cerimónia, o que muito honra a Marinha, constituindo um forte estímulo para todos nós.
O batismo de um novo navio constitui uma cerimónia de justificado
orgulho, pois significa que a Marinha está a modernizar-se e a regenerar capacidades para melhor cumprir as suas missões.
Interpreto, pois, a presença de Vossa Excelência como um sinal de empenhamento na renovação das capacidades da componente naval do Sistema de Forças, e, simultaneamente, de reconhecimento pelo esforço e abnegação que são apanágio daqueles que, na Marinha, diariamente contribuem para que Portugal use o seu Mar.
Bem-haja, Senhor Ministro da Defesa Nacional!
Senhora Doutora Jessica Hallet,
Em nome da Marinha, agradeço-lhe penhoradamente ter aceitado o convite que lhe dirigi para ser a Madrinha do navio de patrulha oceânico Setúbal. Sabemos que a tradição de assinalar o nascimento de um
navio e colocá-lo sob a proteção de uma divindade ou personalidade é milenar, existindo evidências deste costume, desde que a navegação começou a ser praticada na bacia do Mediterrâneo.
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De facto, desde os alvores da navegação que os homens que se aventuravam no mar procuraram formas de ultrapassar os perigos e riscos do desconhecido. Por esta razão, a vida no mar é, amiúde, plena de superstições e tradições, nascidas do desejo de levar boa sorte às guarnições, protegendo-as dos perigos do mar e da adversidade dos elementos.
Na idade moderna, a cerimónia de batismo inclui a bênção do navio por um sacerdote, os votos de boa sorte às suas guarnições pela sua
Madrinha e a quebra de uma garrafa de vinho no costado.
Assim, a escolha de uma Madrinha constitui uma tradição que se
perpetua em cada novo navio, porquanto, desde o momento do batismo, evento carregado de sentido patriótico e orgulho coletivo que iremos testemunhar, a Madrinha acompanha o navio e mantém uma relação especial com as suas guarnições.
Creia, pois, Senhora Doutora Jessica Hallet, que este seu gesto, que muito nos honrou, perdurará como uma marca distintiva na alma deste navio que arvorará, orgulhosamente, a bandeira de Portugal.
3 Senhor Ministro da Defesa Nacional,
Senhora Ministra do Mar,
Senhor Presidente da Câmara Municipal de Viana do Castelo,
Senhor General Chefe da Casa Militar do Presidente da República, Senhores Embaixadores,
Senhora Presidente da Câmara Municipal de Setúbal,
Senhor Presidente da Martifer e Senhor Presidente do Conselho de Administração da Edisoft,
Senhores Oficiais Generais, Distintos Convidados,
Guarnição do NRP Setúbal,
Minhas Senhoras e meus Senhores,
Agradeço, de igual modo, a todos que se disponibilizaram para presenciar a cerimónia de batismo do NRP Setúbal, o mais recente NPO construído em Viana do Castelo.
Nesta ocasião, cumpre-me felicitar o Consórcio de West Sea e Edisoft, pela forma como foi executado o contrato, assinado em 15 de dezembro de 2015, para a construção dos NPO 3 e 4 - processo que acompanhei desde a sua génese, enquanto Superintendente do Material -,
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observando, de forma escrupulosa, o cumprimento dos prazos de entrega e no respeito pelos compromissos orçamentais, fatores que indicam estarem reunidas as condições para prosseguir o esforço de construção de NPO em Portugal.
Gostaria, ainda, de enviar uma saudação muito especial aos
trabalhadores da West Sea, da Edisoft e de todas as empresas que participaram na construção deste navio, os quais, pela sua
competência, contribuem decisivamente para que a construção naval nacional possa ser um justificado motivo de orgulho para o nosso País.
Minhas senhoras e meus senhores,
O programa dos navios de patrulha oceânicos da classe Viana do
Castelo, constitui-se como uma importante iniciativa de participação da indústria naval nacional no setor da Defesa, contribuindo,
significativamente, para o desenvolvimento económico e tecnológico de Portugal e promovendo a criação de emprego qualificado no setor da construção naval.
Estes navios têm como principais tarefas a patrulha e a vigilância do mar português, a resposta a acidentes marítimos - onde se incluem os incidentes de poluição no mar, bem como o esforço de busca e
salvamento marítimo nacional - e o apoio em situações de emergência ou catástrofe, contribuindo decisivamente para a afirmação da
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autoridade do Estado no mar e o apoio à Autoridade Marítima Nacional, nas áreas sob soberania, jurisdição ou responsabilidade nacional.
Paralelamente, vêm também reforçar o papel de Portugal como nação
exportadora de segurança e de paz, através do empenhamento em
missões de combate a ilícitos no domínio marítimo, em cooperação com entidades nacionais e europeias - como a Polícia Judiciária ou a
agência FRONTEX -, e em missões do controlo da exploração sustentável dos recursos haliêuticos, no âmbito de organizações internacionais de controlo de pescas no Atlântico Norte.
No âmbito da ação externa da Defesa Nacional, relevo a bem-sucedida participação desta classe de navios em missões de segurança
cooperativa e de capacitação operacional marítima de países amigos, no quadro da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), da Iniciativa 5+5 e dos acordos de cooperação e fiscalização marítima
conjunta com São Tomé e Príncipe e com Cabo Verde, em que estes
navios têm evidenciado as suas múltiplas capacidades e o seu alargado espectro de emprego.
Senhor Ministro da Defesa Nacional,
Concluído, com sucesso, o presente ciclo de construção dos NPOs 3 e 4, considero oportuno, neste momento, reiterar a necessidade de dar continuidade ao programa de construção dos seis navios de patrulha
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oceânicos em falta no sistema de forças, tendo em consideração a
necessidade urgente de substituir as corvetas, cujas unidades restantes ultrapassaram já os 45 anos de serviço.
Este programa, inscrito na proposta de Lei de Programação Militar em apreciação na Assembleia da República, possibilitará o reforço do dispositivo naval padrão, em particular nas Regiões Autónomas dos Açores e da Madeira, e o consequente incremento da presença e controlo efetivos dos espaços marítimos sob soberania, jurisdição e responsabilidade nacional, numa vasta área que resultará ainda maior com a aprovação da proposta portuguesa de extensão da plataforma continental.
Deste programa, em conjunto com as restantes novas construções incluídas no projeto de LPM, resulta, ainda, uma oportunidade
conjuntural única para consolidar o cluster de construção militar naval no nosso país, com efeitos multiplicadores no tecido industrial, social e económico nacional, bem como na investigação e desenvolvimento, constituindo uma fonte de emprego especializado capaz de absorver competências e conhecimento das nossas universidades e de constituir uma janela de oportunidade para a internacionalização da nossa
economia, neste domínio em que a Marinha pode ser parceira, enquanto montra de divulgação dos meios que Portugal venha a produzir, como já vem acontecendo.
7 Minhas senhoras e meus senhores,
Através da escolha dos nomes que são atribuídos às novas unidades navais, a Marinha procura reforçar os laços com o País e com os cidadãos.
Desta forma, o NRP Setúbal homenageia uma das mais antigas cidades portuárias do nosso país, nascida do rio e do mar. Os registos da ocupação humana em Setúbal remontam à pré-história. Foi visitada por fenícios, gregos e cartagineses, em busca de sal e estanho, e foi, igualmente, um importante povoado romano, que prosperou com a indústria de salga de peixe e produção de cerâmica.
Hoje, o Porto de Setúbal assume um crescente papel na conexão internacional e logística da região de Lisboa e Vale do Tejo e da zona central de Portugal, sendo líder nacional no transporte de viaturas ligeiras novas - com cerca de 90% do total nacional -, dispondo de ligações regulares com o norte da Europa, Mediterrâneo, América do Norte e Extremo Oriente.
Senhora Presidente da Câmara Municipal de Setúbal,
No Dia da Marinha de 2011, celebrado em Setúbal, a Marinha assumiu o compromisso de batizar um dos futuros navios de patrulha oceânicos com o nome de Setúbal.
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Hoje honramos esse compromisso, numa homenagem às gentes dessa bela e hospitaleira cidade, que a Marinha recorda por incontáveis visitas dos nossos navios, marcadas pela afabilidade da sua população e pela beleza da sua baía de águas serenas, dominada pelo estuário do Sado, pela serra da Arrábida e pela península de Tróia!
Guarnição do NRP Setúbal,
A Marinha confia-vos o seu mais recente navio, na certeza que a navegação que agora se inicia, alicerçada no rigor, na segurança e na exigência do treino, contribuirá, de forma determinante, para o cumprimento da nossa missão para afirmar Portugal no Mar.
À primeira guarnição do NRP Setúbal deixo uma exortação para que façam deste navio um justo motivo do orgulho nacional, um símbolo da nossa capacidade de concretizar um programa de navios que constituem as sentinelas do vasto mar português, honrando a divisa “A Pátria honrai que a Pátria vos contempla”!
9 Senhor Ministro da Defesa Nacional,
Distintos convidados,
Minhas senhoras e meus senhores,
Com a entrada ao serviço deste navio, a Marinha passa a dispor de mais um meio que resulta do esforço de múltiplas entidades e da capacidade tecnológica do nosso País!
Foi concebido e projetado com base no nosso conhecimento e experiência de séculos de exploração do nosso mar, construído com a nossa competência, e será operado pela Marinha na proteção dos nossos espaços marítimos e de quem os utiliza.
Termino desejando ao NRP Setúbal e às suas guarnições, mar chão, ventos de feição e que a estrela da sorte proteja este navio e todos os que aqui venham a desempenhar funções ao serviço da Marinha, ajudando a cumprir a sua missão e a construir o futuro de Portugal no mar.
Disse.
António Maria Mendes Calado Almirante