O Brasil no prato dos
brasileiros
Olhar da antropologia - qualitativo e quantitativo
Hábitos alimentares - existência de um padrão repetitivo de práticas e representações que se reproduziam no interior da sociedade.
Hoje se questiona esse conceito. Pois:
Para alguns, essa “homogeneidade” e “permanência” não combinam nem com a heterogeneidade, nem com a fragmentação e nem com a perda da legitimidade de algumas instituições sociais da
contemporaneidade ao definir gostos, estilos de vida e hierarquias de valores
ou
Para outros, essa pressuposta fragmentação dos hábitos alimentares corresponderia à desestruturação da alimentação orquestrada pelos interesses agroindustriais que almejam uma “alimentação contínua”, ou seja, várias ingestas alimentares ao longo do dia que necessariamente anulariam a prática das refeições
o que o texto vai fazer é questionar esse questionamento.
Como? Por meio da pesquisa de hábitos alimentares. Vai olhar para a comida, entendida como processo de transformação do alimento no que se come.
Portanto, importa como se come, quando, com quem, onde. Não apenas o que se come.
O Brasileiro coincide bastante na sua visão sobre a comida. Sobre a quantidade e a importância das refeições.
Algumas coisas que chamam a atenção:
● mistura de vários estilos culinários numa mesma refeição. (japonesa, italiana, regional, churrasco etc etc)
● Em casa a base é arroz e feijão (antigamente era feijão e farinha.) ● Mas existe sempre uma mistura de coisas que demonstra o pouco
conhecimento de como aquele alimento é consumido no país de origem. Lógica do “junto mas separados”.
A nossa cozinha regional é caracterizada em si pela mistura: feijão tropeiro, baião de dois, cozido, mexido (arroz, ovo, farinha, restos de feijoada) etc.
Terceira caraterística: uso de diferentes técnicas de cocção (refogado, cozido, frito, assado, cru, tostado)
Quarta característica: forma como se come é pouco investido. Come-se na frente da TV, de pé, sem prestar atenção à apresentação do prato. (diferença com
Alguns valores se invertem ao longo do tempo:
Antonimias - conflitos entre princípios, leis
praticidade e improviso X planejamento/preferências individuais
restrição e liberdade (que se subdivide em saudabilidade/beleza versus prazer/sabor e economia versusextravagância)
rotina/tradição versus variedade/novidade.
Podemos ver que os dois opostos se localizam sempre ao longo da semana x finais de semana.
Importância do Jantar como momento da família e comensalidade. (Almoço, nas cidades grandes, perde a relevância)
Então: teses de individualização, da gastro-anomia e da pasteurização dos gostos e hábitos na sociedade contemporânea, são rebatidas pelos estudo.
a presença clara de hábitos alimentares compartilhados e socialmente sancionados pela população brasileira urbana, tanto no que concerne ao conteúdo das refeições como nas atitudes em relação a elas, que transcendem tanto a renda, como os gêneros, as regiões e as faixas etárias. São indicativos disso as altas porcentagens de ingestão de um mesmo cardápio, a presença reduzidíssima de itens considerados “regionais” e de ideologias alimentares contemporâneas nas refeições cotidianas, o atendimento regulado das preferências individuais e a mãe/esposa como a responsável pela escolha da comida em 70% dos casos (cujo processo de seleção, baseado nas antinomias, leva em consideração as questões econômicas, estéticas e de saúde do grupo doméstico como um todo e não apenas o que os membros individualmente gostariam de comer).
Da mesma forma que não se registra uma individualização crescente do conteúdo da ingesta, também não se registra a individualização da tomada das refeições, embora as refeições formais em comum com a família em torno de uma mesa estejam efetivamente diminuindo, principalmente no café da manhã e no lanche da tarde.
Homogeinização e padronização não parece ser a
realidade
mais de 90% dos respondentes da amostra compram a matéria-prima de suas refeições para
confeccioná-las em casa. Isso significa carne in natura, arroz e feijão em grãos, legumes e verduras frescos, entre outros.
a alimentação industrializada – uma categoria bastante diversa para o consumidor, variando de pizzas a produtos congelados, passando por molhos e temperos prontos – apesar do seu crescimento, possui ainda um consumo muito baixo, concentrado nos grupos de maior renda, ao contrário do que ocorre nos países do “Norte”, e em alguns poucos produtos. Uma das principais críticas dos consumidores em relação à alimentação industrializada é, justamente, a monotonia do sabor. “Tem tudo o mesmo gosto”
Mas proporcionalmente se gasta mais com
alimentação, quanto mais pobre for.
o grupo alimentação tenha proporcionalmente um peso maior nas classes de menor rendimento, tendo alcançado 22,6% quando os rendimentos foram até R$ 1 908,00 e, 7,6% na classe superior com renda acima de R$ 23 850,00.
Como mostra a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF) divulgada nesta sexta-feira (4) pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as famílias têm comido mais fora de casa e a comprado mais alimentos prontos, ao invés de preparar os alimentos para consumo dentro de casa.
Em 2003, a compra de cereais, leguminosas e oleaginosas representava 10,4% do total de despesas com a alimentação. Em 2018, esse percentual caiu em mais da metade, chegando a apenas 5%. Também caíram de 3,4% para 1,7% os gastos com a compra de óleos e gorduras; de 5,7% para 3,6% com a compra de farinhas, féculas e massas; de 11,9% para 10,6% com a
compra de leite e derivados; e de 10,9% para 10,3% com o consumo de pães.
Em contrapartida, aumentaram no mesmo período, de 2,3% para 3,4%, os gastos com alimentos já preparados e de 8,3% para 13,7% as despesas com outros tipos de alimentos.
Mas cuidado, gasto não reflete consumo. Fatores como aumento ou queda de preço devem ser considerados.