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INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NA ADAPTAÇÃO DO ESTUDANTE À UNIVERSIDADE 1

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Academic year: 2021

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INFLUÊNCIA DA RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO NA ADAPTAÇÃO DO

ESTUDANTE À UNIVERSIDADE

1

OLIVEIRA, Clarissa Tochetto de

2

; WILES, Jamille Mateus

3

; FIORIN, Pascale

Chechi

4

; DIAS, Ana Cristina Garcia

5

.

Financiamento do Fundo de Incentivo à Pesquisa (FIPE Sênior) - UFSM.

1

Trabalho de Pesquisa _ UFSM

2

Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil. Bolsista CAPES.

3

Especialização em Atendimento Clínico com Ênfase em Psicanálise da Universidade Federal do Rio

Grande do Sul (UFRGS), Porto Alegre, RS, Brasil.

4

Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil.

5

Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), Santa Maria, RS, Brasil.

E-mail: clarissa.tochetto@gmail.com

RESUMO

Buscou-se descrever a percepção de universitários sobre sua relação com os professores e a influência desta na sua adaptação acadêmica. Foram entrevistados 29 estudantes dos cursos de Psicologia e Economia de uma universidade do interior do Rio Grande do Sul. As informações foram submetidas à análise fenomenológica. Identificaram-se cinco aspectos da interação professor-aluno que podem tanto facilitar quanto dificultar a transição desses jovens para ao ensino superior: (1) diferenciação do ensino médio, (2) formação e didática, (3) receptividade e incentivo, (4) relação acadêmica/pessoal e (5) importância atribuida ao professor na formação. Percebe-se a importância de os docentes atuarem tanto no nível teórico quanto no nível pessoal. Conclui-se que, de fato, o papel do professor não se restringe ao ensino teórico e técnico da profissão. Contudo, questiona-se se os docentes percebem a importância creditada a eles pelos estudantes, se buscam dar conta dessas expectativas e as dificuldades encontradas.

Palavras-chave: Adaptação à universidade; Relação professor-aluno; Ensino superior.

1. INTRODUÇÃO

O ingresso na universidade é uma fase complexa na vida do estudante, uma vez que demanda a integração do indivíduo a um ambiente que lhe apresenta novas exigências. Nessa transição, o estudante passa a conviver com novos colegas e novos professores, os quais podem exercer um importante papel na sua adaptação acadêmica (COSTA e LEAL, 2008, ALMEIDA e SOARES, 2003, FERRAZ e PEREIRA, 2002).

Sabe-se que o impacto e a influencia do professor sobre o aluno vai além dos conhecimentos e habilidades que o mesmo ensina (BRAIT et al., 2010). A relação professor-aluno mostra-se fundamental para a avaliação da qualidade da trajetória universitária

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(SOARES et al., 2006). Esta interação depende, fundamentalmente, do ambiente estabelecido pelo docente, da relação empática com seus alunos, de sua capacidade de ouvir, refletir e discutir o nível de compreensão dos alunos e da criação das pontes entre o seu conhecimento e o deles (BRAIT et al., 2010). Além disso, a disponibilidade dos professores está relacionada à maior aderência ao curso e à profissão, o que pode contribuir para a satisfação com a escolha profissional (TEIXEIRA, CASTRO e PICCOLO, 2007). Entretanto, muitos jovens percebem dificuldades no seu relacionamento com os professores no ensino superior. Os alunos identificam uma diminuição do monitoramento dos professores, que pode ser expressa por uma menor cobrança de desempenho, por exemplo, o que torna necessário um envolvimento mais ativo do estudante com sua formação, aumentando, assim, a sua responsabilidade (DINIZ e ALMEIDA, 2006, SOARES et al., 2006, PARRA, 2008).

Verifica-se que a qualidade das relações estabelecidas pelos alunos com seus professores na transição para o ensino superior tem sido pouco estudada, havendo uma carência de estudos sobre a prática docente universitária (PARRA, 2008). Assim, percebe-se a necessidade de investigar esta relação, apontando quais aspectos dessa interação são mais relevantes para o desenvolvimento de um sentimento de adaptação (TEIXEIRA, CASTRO e PICCOLO, 2007). A partir disso, buscou-se descrever a percepção de universitários sobre sua relação com os professores, bem como a influência desta na sua adaptação à universidade.

2. MÉTODO

Participaram 29 estudantes universitários de ambos os sexos, com idades entre 17 e 23 anos. Os alunos estavam cursando o primeiro ou o último ano dos cursos de Psicologia e Economia da Universidade Federal de Santa Maria.

Foi utilizada uma entrevista com roteiro tópico flexível, especialmente elaborada para este estudo. Tal tipo de entrevista busca circunscrever o tema de interesse, ao mesmo tempo em que dá liberdade para que o entrevistado construa uma narrativa associando temas que são relevantes em sua experiência pessoal. Assim, busca-se o conhecimento do que o entrevistado considera como os aspectos mais importantes em relação a determinada situação de estudo (RICHARDSON, 1999).

As entrevistas foram transcritas e analisadas a partir do método fenomenológico. Nesse método, o pesquisador organiza-se na sequência de três reflexões: descrição, redução e interpretação, as quais estão presentes em todos os momentos da pesquisa (GOMES, 1998). Na descrição fenomenológica, realiza-se uma síntese geral e não crítica dos temas indicados, baseado nas informações coletadas na entrevista. Na redução

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fenomenológica, há um retorno à descrição para questioná-la, especificando suas partes temáticas, e diferenciando suas força constitutiva para escolher em que parte aprofundar. Ao ser selecionada uma determinada parte, volta-se às entrevistas para localizar novos elementos que confirmem ou não a relevância da parte escolhida. A exposição da redução compõe-se de fragmentos das entrevistas que servirão como evidência da análise realizada. No último passo, a interpretação fenomenológica, faz-se um balanço crítico entre o que foi descrito e o que foi reduzido. Nesta etapa final há o confrontamento das percepções, da literatura e dos sentidos oferecidos pelos entrevistados no intuito de fornecer uma síntese compreensiva da experiência (GOMES, 1998).

3. RESULTADOS

As percepções dos universitários foram organizadas em cinco grandes temas. Cada um refere-se às formas como os professores podem influenciar a adaptação à universidade dos estudantes. Esses temas são descritos a seguir:

3.1 Diferenciação do ensino médio

Os estudantes perceberam diferenças entre os professores do ensino médio para os docentes da universidade. De acordo com os entrevistados, há maior cobrança por parte dos professores da escola para participação em aula, desempenho nas tarefas e responsabilidade. Além disso, os alunos recebiam tudo “mastigado” pelos professores e mantinham uma relação mais próxima com os mesmos. Já na universidade, os discentes depararam-se com alguns professores que não realizavam cobranças e identificaram a necessidade de “se virar”.

Tu entra com aquela ideia de professor de Ensino Médio e ali é completamente diferente né. Tipo, aqui na universidade [...] é mais assim no “te vira” sabe (Alessandra, estudante de Economia).

Foi bem difícil no início assim, pra me adaptar, porque eu tava acostumada a os professores darem tudo assim né, tudo que tinha que estudar, tudo que, tudo que ia cair em prova assim, detalhes, tudo certinho. Daí tu entra na universidade e, não, não é assim. Tu que tem que correr atrás das coisas. Foi bem difícil, porque eu não tava acostumada com isso ainda né, não era meu mundo ainda isso (Pâmela, estudante de Psicologia).

É diferente na escola, o professor te exige o livro, e aqui não te exige né, na verdade é meio, tu te puxa, a gente sabe que a gente tem que, tem que

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fazer o que ele tá pedindo porque é o, é o que vai nos fazer bons profissionais. Na escola é meio assim, ah eu estudo no final pra uma prova e vou passar, e tal e tal e tal, aqui não. [...] Eu mesmo tenho que me cobrar mais, porque eu acho que professor de faculdade não exige tanto quanto professor de colégio, sabe (Jordana, estudante de Psicologia).

3.2 Formação e didática

Os participantes deste estudo indicaram alguns aspectos referentes à didática dos professores como prejudicial para a sua adaptação à universidade, tais como a cobrança em provas de conteúdos que não foram explicados em aula e a utilização excessiva de seminários como a atividades da disciplina. Ademais, alguns alunos criticaram professores que utilizam o tempo da aula para falar sobre assuntos que não são referentes à disciplina ou ao curso.

Não tem uma metodologia sabe, então é bem complicado isso, porque as aulas deles, muitas vezes, são péssimas e as provas são algo bem elaboradas sabe (Alessandra, estudante de Economia).

Agora tu tê que procurá porque o professor não te dá em sala de aula, acontece bastante também no curso e eu acho um pouquinho chato (Débora, estudante de Economia).

Essas coisas que não tem nada a ver com o curso mesmo e não tem nada a ver com a matéria sabe, então eu acho que isso não, não me ajudou muito [...] gastam muito tempo da aula falando de outros assuntos que não têm a ver com a aula sabe (Pâmela, estudante de Psicologia).

Tem professores que deixam muito a desejar, dai tu chega na aula e que quem faz a aula é tu. Bom, o que que a gente vai discuti hoje? Eu, particularmente, acho interessante o professor pergunta as dúvidas que o aluno tem, mas não deixá que o aluno dê aula sempre (Letícia, estudante de Psicologia).

Os estudantes também mencionaram elementos da formação e didática dos professores considerados como facilitadores para sua adaptação acadêmica. Os alunos citaram uma boa formação, a transmissão de conhecimentos e experiências, a motivação de discussões e gostar daquilo que faz como fundamentais para ser um bom professor.

Isso é uma coisa que influencia. [...] Um professor bom. Saber daquilo que ele ta falando [...] motivar a discussão e fazer com que ela seja produtiva.

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Isso conta muito pra o professor ser bom, porque ele vai conseguir fazer aparecer vários pontos de vista, vai dar pra enxergar muito melhor tudo o que ele tá explicando [...] O fato do professor ser bom, gostar daquilo que faz, é uma coisa que meio que segura bastante na universidade (Hélio, estudante de Psicologia).

A maneira com que dá aula, isso transparece assim, [...] a gente acaba [...] se espelhando eu acho, sabe. E isso soma assim, pra, pra minha capacidade crítica, e reflexiva, além dos textos dados em aula, da maneira de ministrar as aulas, eu acho que tem isso assim, a ética [...], o comportamento (Nicole, estudante de Psicologia).

A gente tem muitas disciplinas com professores em que o professor traz pra sala de aula aquele conhecimento mas em que a experiência dele, a forma que ele coloca é muito importante. E ajuda muito a gente assim [...] conhecimento assim, de conteúdo pra trazer pra aula, isso é uma coisa que faz um professor ser melhor (Laís, estudante de Psicologia).

3.3 Receptividade e incentivo

Foi possível perceber o quanto a receptividade e o incentivo dos professores são importantes para a adaptação acadêmica dos estudantes. Muitos alunos consideraram a inacessibilidade e a postura superior de alguns docentes como fatores que causam dificuldades na sua adaptação. Os universitários explicaram que muitos professores agem de forma autoritária e rígida, amedrontando-os. Devido a esse distanciamento, muitos jovens não se sentem à vontade para se aproximar e tirar dúvidas junto aos professores.

A gente não tem, não se sente a vontade pra perguntar, pra tá discutindo, pra tá sentando junto, não tem liberdade assim, a gente sente um distanciamento (Laís, estudante de Psicologia).

O que assim dá pra senti que não é legal quando um professor vem e quer impôr autoridade na sala, isso [...] Ah, que ele quer assim mostrar que os alunos tão mais pra baixo e ele tá mais pra cima e assim se impõe né (Camila, estudante de Psicologia).

Que influenciaram negativamente seria acho aqueles professores assim, daria pra dizer carrasco assim, sabe, tipo o jeito de agir sabe, meio que autoritário às vezes, então isso me fez eu me sentir meio que, acanhado assim, desajeitado [...] Pelo modo de lidar com os alunos assim sabe, ham,

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o tratamento que eles têm às vezes com os alunos é tão profissional assim, tão acadêmico que, parece que é muito rígido sabe, totalitário (Lúcio, estudante de Psicologia).

Em contrapartida, os estudantes que participaram deste estudo identificaram características dos professores que facilitam sua adaptação acadêmica. Os exemplos mais citados foram boa educação, simpatia, oferecer abertura e incentivo aos alunos.

Tem professores que a gente sente que tem liberdade pra questionar, pra perguntar, se sente a vontade [...] e eu acho que isso é o que propicia com que a gente busque, se questiona, discuta, consiga também produzir conhecimento (Laís, estudante de Psicologia).

3.4 Relação acadêmica/pessoal

Verificou-se que o distanciamento dos professores pode impossibilitar uma relação mais próxima e pessoal entre aluno e docente. Os universitários relataram que alguns professores demarcaram uma diferenciação entre professor/aluno, estabelecendo uma relação estritamente acadêmica entre ambos. Além disso, perceberam que não havia preocupação de alguns professores em relação à adaptação acadêmica dos estudantes.

Com os professores isso tinha uma distância bem clara. Cada vez eu me sentia mais aluna e os professores mais professores, assim. Essa questão de hierarquia mesmo [...] essa relação que eu considero que é mais ampla, pra mim faz falta (Nicole, estudante de Psicologia).

Eles não te perguntam “bá, como é que vocês tão aqui” sabe? “Tão se adaptando?” nunca vi essa pergunta numa aula assim (Lúcio, estudante de Psicologia).

Já os laços de amizade e respeito entre professores e alunos podem facilitar a adaptação à universidade. Quando há uma relação mais próxima entre ambos, há a possibilidade de maior interação, troca de experiências e conhecimentos. Ademais, verificou-se que os alunos gostariam que os professores se preocupem com sua adaptação e formação.

Acho que às vezes teria que dá um pouco de, de pessoal assim [...] tentar se identificar com o aluno, perguntar como é que tão, alguma coisa assim sabe, dá bom dia (Lúcio, estudante de Psicologia).

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Eu acharia legal ter, se tivesse, gostaria de conversar mais com os professores. [...] eu acho que, que o professor é, é, é uma pessoa que, pode tá sempre te ajudando, então eu acho que devia ser mais pessoal, eu queria, acho legal assim ter uma amizade com professor, não ser aquela coisa só, o professor ensina, o aluno aprende, sabe, acho que tem que ter uma coisa além disso (Pâmela, estudante de Psicologia).

3.5 Importância atribuida ao professor na formação

Apesar das diversas dificuldades na relação com os professores, os estudantes percebem que os docentes são importantes para seu aprendizado e formação. De acordo com os participantes deste estudo, o professor não deve apenas transmitir conhecimento, mas também ser amigo e facilitador da adaptação à universidade.

O professor é muito importante na adaptação do aluno, eu acho assim no sentido de, de facilitar, eu acho que atuar como facilitador né, além de, de tá numa posição de ensino, de passar conhecimento, eu acho que até por já ter passado por essa experiência né, até pensando assim numa pessoa que já passou pela experiência da universidade, facilitar um pouco mais pro aluno entender o quê que tá se passando (Franciele, estudante de Psicologia).

O papel do educador é fazer a ponte entre esse conhecimento elaborado e aquilo que diz da realidade do aluno. [...] É construir conhecimento, tá propiciando que se construa o conhecimento, a aprendizagem [...] acho que os nossos professores tem que batalhar por isso, em todos os sentidos assim, tentar se preocupar, ter mais preocupação com a nossa formação e da gente tá podendo crescer, e isso implica também não só em tá transferindo um conhecimento pra gente (Laís, estudante de Psicologia).

Os alunos também acreditam que os docentes podem influenciar no interesse ou não do estudante por uma disciplina, dependendo da forma como ministra a aula. Além disso, podem auxiliá-los no direcionamento de sua formação e carreira. Assim, os professores são considerados pelos estudantes como modelo e exemplo a ser seguido.

Ah, eu acho muito importante, como por exemplo, eu tenho uma cadeira que a, essa matéria, eu acho importante, a professora, ela não torna ela interessante, então tu acaba desinteressando do que tu gostava por causa da professora. Já matérias que não são tão legais pra ti, tu acaba gostando por causa do professor (Fabiano, estudante de Economia).

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A importância que os professores têm? Eu acho que fora ensinar né, dá a matéria assim, explicar né, eles têm a importância muitas vezes de tu definir o que que tu, qual o ramo que tu quer seguir da faculdade né assim. Alguns inspiram os alunos né a seguir tal área, acho que essa é a principal acho (Daniela, estudante de Economia).

4. DISCUSSÃO

Os relatos dos entrevistados evidenciam a grande importância creditada pelos universitários aos professores e ao relacionamento estabelecido com os mesmos. A relação entre docente e aluno pode tanto facilitar quanto dificultar a adaptação do discente ao ensino superior, através da abertura dos professores, seus comportamentos e conduta.

No processo de transição para a universidade, muitos alunos possuem altas expectativas em relação ao curso e às relações que serão estabelecidas na universidade (POLYDORO, 2000). As dificuldades no relacionamento com alguns professores e a falta de didática destes, que envolve tanto o seu desempenho em sala de aula como a sua competência e sua capacidade de ensinar, podem desfazer essas expectativas (PACHANE, 2003, TEIXEIRA et al., 2008). Nesse sentido, é possível que os estudantes vivenciem sentimentos de decepção, de forma que a impressão do discente sobre a universidade deixe de ser tão positiva (POLYDORO, 2000).

As relações estabelecidas na universidade, especialmente entre professores e alunos, assumem um papel primordial na compreensão da qualidade da experiência universitária (SOARES et al., 2006). Nesse sentido, é fundamental que o professor apresente condições favoráveis de ensino e relacionamento com os alunos, além de compartilhar com os mesmos seus conhecimentos profissionais e sociais (PARRA, 2008). A percepção dos estudantes sobre a disponibilidade dos professores a partir da interação com os mesmos parece promover uma maior aderência aos valores associados ao curso e à profissão, contribuindo para a satisfação com a escolha profissional (TEIXEIRA, CASTRO e PICCOLO, 2007).

Percebe-se que pode haver um distanciamento entre professores e alunos devido à falta de abertura de alguns docentes e a dificuldade de um relacionamento mais próximo com os estudantes. Muitos docentes estão capacitados teoricamente para ensinar, mas não conseguem estabelecer uma relação amistosa com o aluno, demonstrando interesse e preocupação. No entanto, para uma efetiva construção de conhecimento, é necessário didática e relações interpessoais satisfatórias (PARRA, 2008). De fato, o interesse de professores no aprendizado dos discentes parece funcionar como estímulo para a adesão

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ao curso, enquanto o desinteresse estimula o desengajamento dos jovens (TEIXEIRA et al., 2008).

5. CONCLUSÃO

Este estudo teve como objetivo descrever a percepção de universitários sobre sua relação com os professores e a influência desta na sua adaptação à universidade. Os relatos dos estudantes permitiram identificar cinco aspectos dessa interação que podem tanto facilitar quanto dificultar a transição desses jovens para ao ensino superior, a saber, diferenciação do ensino médio, formação e didática, receptividade e incentivo, relação acadêmica/pessoal e importância do professor na formação. A partir disso, percebe-se a importância de os docentes atuarem tanto no nível teórico, através da transmissão do conhecimento e de experiências, da motivação de discussões, quanto no nível pessoal, mostrando-se abertos ao diálogo, preocupados com a adaptação acadêmica e formação dos discentes e, ainda, auxiliando-os na orientação da carreira. Contata-se, assim, que o papel do professor não se restringe ao ensino teórico e técnico da profissão.

Contudo, questiona-se se os docentes percebem a importância creditada a eles pelos estudantes, se buscam dar conta dessas expectativas, de que forma isso ocorre e as possíveis dificuldades encontradas. Dessa forma, sugere-se que mais estudos sejam realizados abordando a percepção dos próprios professores sobre sua atuação. Estes dados podem favorecer a criação de programas de orientação e instrumentalização desses profissionais para o desempenho da sua função.

REFERÊNCIAS

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BRAIT, L. F. R.; MACEDO, K. M. F.; SILVA, F. B.; SILVA, M. R., SOUZA, A. L. R. A relação professor/aluno no processo de ensino e aprendizagem. Itinerarius Reflectionis, v. 8, n. 1, p. 1-15, 2010.

COSTA, E. S.; LEAL, I. Um olhar sobre a saúde psicológica dos estudantes do ensino superior – Avaliar para intervir. In: 7º CONGRESSO NACIONAL DE PSICOLOGIA DA SAÚDE, 2008, Porto. Actas do 7º Congresso Nacional de Psicologia da Saude. Porto: Universidade do Porto, 2008.

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DINIZ, A. M.; ALMEIDA, L. S. Adaptação à Universidade em estudantes do primeiro ano: Estudo diacrónico da interacção entre o relacionamento com pares, o bem-estar pessoal e o equilíbrio emocional. Análise Psicológica, v. 1, n. 24, p. 29-38, 2006.

FERRAZ, M. F.; PEREIRA, A. S. A dinâmica da personalidade e o homesickness (saudades de casa) dos jovens estudantes universitários. Psicologia, Saúde & Doenças, v. 3, n. 2, p. 149-164, 2002.

GOMES, W. B. A entrevista fenomenológica e o estudo da experiência consciente. In: _______. Fenomenologia e pesquisa em psicologia. Porto Alegre: Editora da Universidade/UFRGS, 1998.

PACHANE, G. G. A experiência universitária e sua contribuição ao desenvolvimento pessoal do aluno. In: MERCURI, E.; POLYDORO, S. A. J. (Eds.). Estudante universitário: características e experiências de formação. Taubaté: Cabral, 2003.

PARRA, C. R. Contribuições da Psicologia para a compreensão da relação professor X aluno no Ensino Superior. Dissertação (Mestrado em educação). Presidente Prudente: Universidade do Oeste Paulista, 2008.

POLYDORO, S. A. J. O trancamento de matrícula na trajetória acadêmica do universitário: condições de saída e de retorno à instituição. Tese (Doutorado em educação). Campinas: Universidade Estadual de Campinas, 2000.

RICHARDSON, R. J. Pesquisa social: métodos e técnica. São Paulo: Atlas, 1999.

SOARES, A. P.; ALMEIDA, L. S.; DINIZ A. M.; GUISANDE M. A. Modelo multidimensional de ajustamento de jovens ao contexto universitário (MMAU): Estudo com estudantes de ciências e tecnologias versus ciências sociais e humanas. Análise Psicológica, v. 1, n. 24, p. 15-27, 2006.

TEIXEIRA, M. A. P.; CASTRO, G. D.; PICCOLO, L. R. Adaptação à universidade em estudantes universitários: um estudo correlacional. Interação em Psicologia, v. 11, n. 2, p. 211-220, 2007.

TEIXEIRA, M. A. P.; DIAS, A. C. G.; WOTTRICH, S. H.; OLIVEIRA, A. M. Adaptação à universidade em jovens calouros. Revista Semestral da Associação Brasileira de Psicologia Escolar e Educacional, v. 12, n. 1, p. 185-202, 2008.

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