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Os anjos nada tinham a ensinar a Jesus

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Academic year: 2021

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É doutrina bem conhecida que todo homem tem um anjo da guarda. Não seria estranho, pois, que surgisse a seguinte indagação: o próprio Nosso Senhor Jesus Cristo, sendo ao mesmo tempo Deus e homem – é este o mistério da Encarnação – teve também um anjo da guarda?

Os anjos nada tinham a ensinar a Jesus

Os anjos são, em relação a nós, como irmãos maiores encarregados pelo Pai comum de conduzir-nos rumo à Pátria Celeste. Têm a missão de guiar-nos e de remover, em misteriosa medida, os obstáculos do

caminho. Sua “custódia” não consiste

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numa atividade de assistência e

de defesa exercida pelo subalterno, mas numa espécie de tutela protetora que se adapta à nossa liberdade humana e que será tanto mais eficaz quanto mais nela nos apoiarmos com confiança e boa

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vontade.

Nessas condições, vê-se que Nosso Senhor não podia ter um anjo da guarda propriamente dito.

A principal ocupação do anjo da guarda, diz-nos São Tomás, é iluminar nossa inteligência: “A guarda dos anjos tem como efeito último e

principal a iluminação doutrinal” (Suma Teológica I, q. 113, a. 5, ad 2). Ora, Nosso Senhor, mesmo em Sua ciência humana, não tinha como ser iluminado pelos anjos.

Os teólogos reconhecem três espécies de ciência na santa alma de Jesus Cristo, em Sua vida mortal: a ciência da visão beatífica, a ciência infusa e a ciência adquirida.

Pelas duas primeiras, Ele ultrapassava em profundidade e extensão de saber qualquer criatura, sem exceção: “Deus fez seu Cristo tanto mais superior aos anjos” (Hb 1, 4). Sob esse duplo aspecto, os anjos nada tinham a ensinar-Lhe.

Quanto à ciência adquirida ou experimental, que progrediu em Nosso Senhor com a idade, Cristo não tinha necessidade do socorro dos anjos para instruí-Lo sobre os diversos objetos que se ofereciam aos seus sentidos no grande livro do universo.

Entretanto, o serviço dos anjos Lhe convinha

Mas, embora Nosso Senhor tivesse pleno poder sobre as criaturas e, por conseguinte, pudesse obter diretamente tudo quanto fosse necessário à Sua vida corporal, o serviço dos anjos Lhe convinha a duplo título.

Por um lado, essa assistência material – do mesmo modo que os

cuidados com alimentação e vestuário prestados ao Menino-Deus por José e Maria, e depois ao pregador do Evangelho pelas santas

mulheres – essa assistência dos anjos era conforme ao exterior de fraqueza e debilidade com que o Verbo feito carne tinha querido Se cobrir.

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Por outro lado, não era conveniente que, antes mesmo de Cristo entrar na glória, os anjos já Lhe testemunhassem – por suas piedosas

homenagens internas, e mesmo por discretas manifestações exteriores – que O reconheciam como seu Mestre e seu Rei?

A solução de São Tomás de Aquino

São Tomás não admite que Nosso Senhor teve um anjo da guarda no sentido estrito da palavra, porque o papel do “anjo da guarda”, que é propriamente o de dirigir e proteger, não podia ter por objeto a santa humanidade do Salvador.

Mas o grande Doutor se exime de rasgar o Evangelho e de negar o serviço dos anjos a Nosso Senhor. Os autores sagrados não explicam o modo habitual de funcionamento desse serviço, mas assinalam

diversos atos significativos (Lc 2, 13; Mt 4, 11; 26, 53) os quais parecem indicar que Nosso Senhor teve, não um só anjo, mas uma falange de espíritos bem-aventurados ligados ao serviço e à

assistência da Sua santa humanidade.

A posição dos anjos em relação à santa humanidade de Nosso Senhor está muito bem expressa por estas palavras do Doutor Angélico: “Não

era de um anjo da guarda, enquanto superior, que Ele necessitava; mas de um anjo que O servisse como inferior. Daí o que se diz no

Evangelho de Mateus (4, 11): ‘Aproximaram- se anjos que O serviam'” (Suma Teológica I, q. 113, a. 4 ad 1).

Era o papel de ministros, não o de guardiões, que os anjos tinham a exercer junto do Verbo encarnado: não eram custódios, mas

servidores.

O episódio do Getsêmani<

confortá-Lo” – diz o texto sagrado (Lc 22, 43). Como pôde o anjo

reconfortar Nosso Senhor, isto é, reanimar Sua coragem, trazer-Lhe um socorro moral?

São Tomás coloca muito bem a objeção: deste fato – nota o santo Doutor – não se deduz que Cristo foi instruído pelos anjos, visto que

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esta dificuldade ele mesmo responde: “o conforto recebido do anjo não

se deu a modo de instrução, mas para manifestar a veracidade de Sua natureza humana” (Suma Teológica III, q.12, a. 4, ad 1).

Essa explicação, temos de confessar, não satisfaz completamente o espírito. Pois nela aparece o porquê da intervenção angélica nessa hora tão penosa do Getsêmani, mas o como escapa. E, a menos que se considere como um simples gesto simbólico o reconforto trazido pelo anjo a Nosso Senhor, a dificuldade parece subsistir.

Por isso os autores se aplicam a levar adiante a explicação.

O anjo pôs em obra motivos de reconforto

Pode-se dizer que o anjo proporcionou algo como um reconforto moral à alma de Nosso Senhor, delicada entre todas, e tão sensível às manifestações de afeição quanto aos abandonos, às traições e aos ultrajes.

Assim, o papel do anjo não foi (o que seria inadmissível) de propiciar à alma de Nosso Senhor alguma “iluminação” verdadeira, de revelar-Lhe alguma coisa de novo para reanimar Sua coragem. Mas, seja por meio de uma palavra exterior, seja por uma ação interior sobre a

imaginação e a memória do Messias, o anjo pôs em obra motivos de reconforto que o Deus Salvador conhecia bem, mas que Ele tinha afastado de uma maneira mais ou menos direta da aplicação de seu espírito; pois, a fim de beber até o fim o cálice de amargura, o augusto Redentor, no momento supremo da Paixão, se aplicava a considerar toda a extensão e toda a profundidade dessa Paixão expiatória. De toda parte caíam sobre Ele horríveis visões e pensamentos

acabrunhantes, provocando no Seu coração e na Sua carne angústias inexprimíveis: “Cercaram-me dores de morte, e torrentes de iniqüidade

me conturbaram” (Sl 17, 5). Veio então o anjo evocar ao olhar de Jesus

as mais doces representações.

“Ah ! Sem dúvida – diz um piedoso autor -, esse celeste mensageiro chama a atenção do Salvador sobre as virtudes magníficas que iriam germinar de seu sangue divino; ele evoca o quadro profético desses

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admiráveis cortejos de virgens, de mártires, de confessores, de amigos fiéis e de verdadeiros arrependidos de ambos os sexos, de toda

categoria e de todas as idades, que, apesar de muitas fraquezas, terão por Jesus um amor sincero e ardoroso e se esforçarão ao máximo para oferecer a seu bom Mestre reparação por tantos sofrimentos e

feridas.” (Traduzido, resumido e adaptado de L’Ami du Clergé, nº 50, 1911, p. 1111-1113.) – (Revista Arautos do Evangelho, Dez/2007, n. 72, p. 34-35)

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