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Mariele de Oliveira Silva Universidade Federal do Mato Grosso do Sul-UFMS

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1 LIMITES E PERSPECTIVAS DO PROGRAMA DE AQUISIÇÃO DE ALIMENTOS (PAA) E DO PROGRAMA NACIONAL DE ALIMENTAÇÃO

ESCOLAR (PNAE): O CASO DO ASSENTAMENTO CORIXINHA EM CÁCERES/MT1

Mariele de Oliveira Silva Universidade Federal do Mato Grosso do Sul-UFMS mosgeolice@gmail.com

Rosemeire Aparecida de Almeida Universidade Federal do Mato Grosso do Sul-UFMS rosimeire-aparecida@uol.com.br

Resumo

Uma das dificuldades enfrentadas pelo campesinato é a comercialização da produção dentro da lógica competitiva do mercado capitalista, desestimulando os camponeses, por exemplo, a produzir maiores excedentes das culturas básicas para a alimentação. O grupo de mulheres “Amigas da Fronteira”, do P.A. Corixinha, no Município de Cáceres/MT, está inserido nos programas: PAA e o PNAE, atuando na coleta/processamento do pequi. Este trabalho objetiva-se analisar os limites e perspectivas que ambos os programas trouxeram para as famílias, alicerçado na revisão bibliográfica de autores que discutem a questão agrária (Reforma Agrária), e a aplicação de entrevistas aleatórias junto ao grupo de Mulheres. Conforme dados coletados, o grupo teve uma produção/ano de 2.700 Kg de pequi, atendendo em média 420 alunos, tendo em vista uma renda excedente de aproximadamente R$ 13.500,00.

Palavras- chave: Grupo de Mulheres “amigas da fronteira”. Programa de Aquisição alimentar – PAA. Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE. Projeto de Assentamento Corixinha/Caceres-MT.

Introdução

Uma das dificuldades enfrentadas pelo campesinato é a comercialização da produção dentro da lógica competitiva do mercado capitalista, onde a circulação cada vez mais manda na produção. Este é um dos fatores que tem desestimulado os camponeses, por exemplo, a produzir maiores excedentes das culturas que são básicas para a alimentação do povo brasileiro.

É indiscutível que na atual fase do sistema de produção capitalista, pela inserção do capital agroindustrial no campo, na procura do “progresso” e “desenvolvimento” cria novas barreiras para a classe camponesa familiar, justificada tanto pela utilização de modernas tecnologias no uso e ocupação da terra, como também pela subordinação da produção camponesa ao mercado.

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2 Todas estas barreiras fazem surgir nova organização na unidade de produção familiar. Kaustsky (1998), em sua Obra “Questão Agrária”, afirma que o processo de desenvolvimento, só é considerado progresso quando evolui e conserva o que existe, nas diversas fases anteriores e atuais do desenvolvimento. Sendo assim as lutas travadas pelos movimentos sociais de luta pela terra, quilombolas, ribeirinhos, indígenas, e os camponeses, visam evitar o seu desaparecimento, resistindo e permanecendo na terra, para ali garantir a subsistência do grupo familiar, e viver de acordo com o seu modo de vida.

O desenvolvimento só é progresso quando não se limita a negar ou suprimir, mas quando também conserva; é progresso quando, ao lado do que existe e merece desaparecer, também encontra o que existe e merece ser conservado. Neste sentido o progresso consiste num acumulo de conquistas das fases anteriores do desenvolvimento [...] As lutas de classe que determinam a evolução da sociedade humana não visam somente a destruição e a criação, como também a conquista, e dessa forma igualmente visam a conservação do que existe. (KAUSTSKY, 1998, p. 28)

È irrefutável, que o avanço de atividades monocultoras na atualidade muda o caráter do uso e ocupação da terra, e torna cada vez mais penoso aos Movimentos Sociais dos Sem Terra na Luta pela Reforma Agrária, pois torna terras antes tidas improdutivas, em produtivas, seja através do plantio da cana-de-açucar, eucalipto, soja. Este avanço é resultado da aliança existente entre os proprietários de terra e os empresários do Agronegócio, mediado pelo Estado, seja criando incentivos fiscais e leis específicas para o setor, seja realizando as infraestruturas necessárias para facilitar a escoação da produção.

Com o intuito de amenizar estes dilemas vivenciados pelos camponeses, vários programas foram criados pelos setores que apóiam a Reforma Agrária, porém a maioria destes não conseguiu diminuir as dificuldades que os camponeses enfrentam na hora de comercializar a sua produção. Conforme Marques (2008), os camponeses não ficam esperando tão somente pelas ações do governo, eles criam

“[...] diferentes formas de lutas pela terra (para resistir, recuperar e/ou entrar na terra), bem como novas formas de organização da unidade de produção (com mudanças na base técnica, diversificação de atividades, aumento na escala de produção etc.) [...]” (MARQUES, 2008, p. 60).

Com o objetivo de mitigar os empecilhos colocados pela lógica do sistema Capitalista de mercado á classe camponesa familiar, recentemente o governo criou o Programa de

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3 Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar – PNAE, para facilitar a comercialização dos produtos da agricultura familiar camponesa diretamente ao consumidor. Estes programas também contribuem para valorizar a produção camponesa voltado essencialmente para os produtos de consumo interno da população brasileira e a denunciar a produção capitalista guiada pela ditadura do mercado.

[...] a necessidade (de) resgatar na atualidade o principio da terra dos pobres, principalmente quando se trata de Reforma Agrária, de modo que ela seja sinônima de terra de trabalho e da vida a denunciar a terra de negócio, aquela que precisa concentrar para especular e explorar o trabalho de outrem [...] de modo que a sociedade entenda que não existe apenas um estilo de vida, onde as pessoas compram comida e os bens que necessitam guiadas pela ditadura do mercado, é preciso [...] a terra de trabalho, e a economia familiar que a sustenta [...]. (ALMEIDA, 2009, p. 13)

O Programa de Aquisição de Alimentos (PAA)2 foi instituído pela Lei de nº 10.696/2003, e vem sendo desenvolvido com recursos do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a fome – MDS e pelo Ministério de Desenvolvimento Agrário - MDA. Suas diretrizes são definidas por um Grupo Gestor, coordenadas pelo MDS e composto por mais cinco Ministérios, tendo como parceiros a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), os governos estaduais e municipais. Conforme dados divulgados pelo Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome, este Programa é uma das ações do Programa Fome Zero, que possibilita a distribuição de alimentos produzidos pela agricultura familiar às famílias que vivem em situação de insegurança alimentar na cidade e que são atendidas nas creches, escolas, lares de idosos, casas de sopa, e outros.

Por outro lado o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE)3 é um Programa de competência do FNDE (Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação) e instituído pela lei de nº11.947, de 2009, e dispõe no art.14 sobre a compra de produtos da Agricultura Familiar:

Do total dos recursos financeiros repassados pelo FNDE, no âmbito do PNAE, no mínimo 30% deverão ser utilizados na aquisição de gêneros alimentícios diretamente da agricultura familiar e do empreendedor familiar rural ou de suas organizações, priorizando-se os assentamentos da reforma agrária, as comunidades tradicionais indígenas e comunidades quilombolas (BRASILIA, 2009)

Sendo assim, as Secretarias de Estado da Educação, Prefeituras via Secretaria de Educação ou Caixa Escolar, serão obrigadas a usar 30% dos recursos repassados pelo

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4 FNDE na compra de produtos usados na merenda escolar provindos da agricultura familiar, seja dos assentamentos da Reforma Agrária, comunidades tradicionais indígenas ou quilombolas. A tabela 1 mostra a porcentagem dos municípios por região que compraram produtos da agricultura familiar, para a Merenda Escolar. A maior porcentagem de municípios que cumpriram com as exigências do PNAE estão na Região Sul, com 77%. Por outro lado, apenas 36% dos municípios da Região Centro Oeste aderiram aos projetos da merenda escolar.

Tabela 1: Porcentagem de Municípios por região que compraram da Agricultura familiar, para a Merenda Escolar

Região % Sul 77 Norte 42 Sudeste 41 Nordeste 38 Centro-Oeste 36

Fonte: Prestação de contas ao FNDE Org. SILVA, 20124

Figura 1: Valor em % das regiões que compraram da Agricultura familiar, para a Merenda Escolar 42% 41% 38% 36% 77% Sul Norte Sudeste Nordeste Centro-Oeste

Fonte: Prestação de contas ao FNDE Org. SILVA, 2012

Neste sentido é extremamente importante analisar como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) estão sendo utilizados pelos grupos organizados em áreas de assentamentos do Estado de Mato Grosso. Ou seja, para se verificar o alcance desta política pública no aumento da

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5 qualidade de vida das famílias assentadas e ainda como elemento que contribui na resistência camponesa na terra.

Este trabalho objetivou analisar como estas políticas públicas são implementadas no Assentamento, buscando compreender o surgimento do grupo, a sua organização até as principais atividades desenvolvidas. Outro ponto de analise foi evidenciar as vantagens que os programas PAA e PNAE trouxeram para as famílias, a partir da associação, e de contraponto corroborar também os limites que as famílias consideram como barreiras para a melhoria de suas atividades dentro da associação, e do grupo de mulheres. Por fim, analisamos quais as melhorias conquistadas - na concepção das famílias participantes destes programas.

A pesquisa teve como alicerce a revisão bibliográfica de autores que discutem a questão agrária, em especial da Reforma Agrária. Como fontes secundárias da pesquisa, temos o levantamento de dados do PAA (CONAB), e a aplicação de entrevistas junto aos assentados do projeto Corixinha. As entrevistas foram aleatórias e teve como objetivo apreender a avaliação dos Programas feita a partir dos sujeitos que vivenciam a experiência no assentamento Corixinha, e averiguar como os desdobramentos desta Política Pública têm influenciado na efetivação, ou não, da Reforma Agrária no Mato Grosso.

O papel das políticas públicas: o caso do assentamento Corixinha em Cáceres/MT

O projeto de assentamento Corixinha, foi criado no ano de 2001, beneficiando 72 famílias do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) em uma área de 3.413,1808 hectares. Está situado a aproximadamente 80 km da sede Municipal de Cáceres/MT, e a cerca de 20 quilômetros de San Matia/Bolívia. É um assentamento localizado na linha de fronteira, entre o Estado de Mato Grosso e Bolivia.

O assentamento é resultado da luta do povo pela terra, quando dezenas de famílias ficaram acampadas na beira da estrada durante dois anos, sem que acontecesse a desapropriação de nenhuma fazenda para realizar o assentamento das mesmas. Terra que para a classe camponesa não significa apenas, um lugar de morada, simples vitória de suas lutas, mas sim de conquista, liberdade, poder como enfatiza Balduíno (2004)

[...] é mais do que terra. Esse símbolo, que se liga visceralmente á vida, é propriamente o lugar histórico das lutas mais primitivas dos índios, dos negros e dos camponeses que, na sofrida busca do próprio chão, foram

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descobrindo as outras dimensões do seu combate. A terra é festa do povo novo que, por meio da mudança, conquistou a liberdade, a fraternidade e a alegria de viver! (BALDUÍNO, 2004, p. 24-25)

Enfadados pela demora, as famílias ocuparam a fazenda e ali permaneceram durante quatro anos esperando a divisão dos lotes pelo INCRA, em situações muito precárias. Sem água, sem energia, e sem casa, dependendo umas das outras, tanto para a montagem dos “barracos de lona” no meio do mato, quanto para a alimentação. Andam quase seis quilômetros para chegar à estrada, para poder tomar o ônibus e se deslocar até a cidade de Cáceres, ou San Matias. Sujeitam-se a todos estes sacrifícios, movidos pelo desejo de serem donos de uma parcela de terra, que poderá garantir sua sobrevivência, como afirma uma das integrantes do Grupo de Mulheres “Amigas da Fronteira”:

Da terra que a nós sobrevive, até quem mora na cidade é da terra daqui, da terra que vai o pão, que [produz] o pão, na mesa, de quem for até do presidente é da terra né, então a terra para mim, é o nosso pai e a nossa mãe, que Deus deu pra nós, é da terra que nós sobrevive da terra (Assentada do Grupo de Mulheres “Amigas da Fronteira”)

Porém, a crescente abertura para a entrada do capital agroindustrial no campo e a ameaça de expropriação dos camponeses pela intensa concorrência de mercado, faz com que o homem do campo forçosamente entregue seus produtos agrícolas para as empresas que pagam valor baixo, para depois industrializa-los, agregando valor e encarecendo-os.

Perante estes obstáculos impostos pela distancia que os projetos de assentamento possuem em relação aos centros urbanos, ao qual são pertencentes, faz surgir os “atravessadores”, indivíduos que atuam na comercialização dos produtos da agricultura camponesa, dominando o mercado, e provocando com isto a exploração da produção camponesa, conforme afirma Kaustsky (1998).

Quanto mais distantes e extensos se tornavam os mercados para os quais produzia o homem do campo, mais difícil se tornava, para ele, a venda direta ao consumidor e tanto mais necessário se tornava o intermediário. O negociante (atravessador) se coloca, então, entre consumidor e o produtor; ele tem uma visão melhor do mercado, melhor que a deste ultimo e domina o mercado até certo ponto; ele se apoiava dessa situação para explorar o camponês. (KAUSTSKY, 1998, p. 28)

Um dos sérios desafios enfrentados pelos camponeses na venda direta dos seus produtos, são as dificuldades de deslocamento campo-cidade. Este fato os deixa vulneráveis no sentido de se verem forçados a vender de seus produtos às empresas (intermediários) por um valor abaixo do mercado. Problemas evidenciados na fala de

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7 umas das integrantes do Grupo de Mulheres “Amigas da Fronteira”, ao relatar as dificuldades enfrentadas pelo grupo na hora de comercializar seus produtos antes da inserção do grupo na associação da ARPEP:

Nós não tem o transporte [para] transportar os nosso produtos que nós fazemos sabe, e fica difícil pra nós ... vamos supor se nós fazer uma farinha, um pão uma coisa ou outro pra nós vendermos pra cidade, nós não tem como trazer, até a gente tem vontade de fazer mas a gente não tem como trazer pra cidade, porque nós não tem um carro, ali você viu lá nós temos é uma motinha, pra andar ali, quem vai vir para a cidade para trazer um balaio [risos] de pão, de bolacha, de ? como fala, de doce, licor, farinha, essa coisa né, não tem como a gente transporta aquilo ali [...] (Assentada do Grupo de Mulheres “Amigas da Fronteira)

Com a finalidade de atender as necessidades dos grupos de produtoras extrativistas, em 23 de novembro de 2009, com sede em Cáceres-MT, é fundada a ARPEP – Associação das Produtoras Extrativistas do Pantanal. Entidade civil sem fins lucrativos formada por agroextrativistas ecologistas e em transição agroecológica, que tem como objetivo principal estimular seus associados à produção diversificada para o autoconsumo e para a comercialização dos excedentes em feiras livres dos municípios da Região.

A Associação é responsável por criar os mecanismos necessários para a inserção dos grupos de mulheres extrativistas do Pantanal nos projetos que forneçam alimentos para o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), atendendo principalmente creches, escolas, igrejas, etc.

Outro mecanismo está voltado para a organização dos projetos, e a produção dos produtos. Os assentados têm recebido cursos de capacitação e assessoria técnica, realizada principalmente pela Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional – FASE, e pela ARPEP – Associação das Produtoras Extrativistas do Pantanal focadas na formação dessas mulheres em relação, a elaboração de projetos que deverão ser enviados aos setores públicos responsáveis pela seleção das DAPs (Declaração de Aptidão ao Pronaf). Há também os cursos que orientam a produção dos derivados de frutos do Cerrado, como bolo, pão, doces, bolachas, barrinhas de cereais etc.

Esta associação possui 108 associados/as, distribuídos em 08 assentamentos e comunidades rurais, os quais são: Assentamento Margarida Alves, Corixinha, Facão- São José, Sadia, Bom Jardim, Katira, e comunidade Nossa Senhora da Guia e Guanandi. A ARPEP possui 04 unidades de beneficiamento de frutos do cerrado, uma

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8 especializada em cumbaru, outras duas em babaçu e uma em pequi e outros, como pode ser verificado na tabela 2.

Tabela 2: Quadro dos Frutos, unidades de processamento, Produção, alunos atendidos, Valor da produção, relacionados á ARPEP

Frutos Unidades de Processamento Município/ MT Produção Kg/ ano Alunos atendidos Valor (R$) Babaçu Margarida Alves Mirassol D’Oeste/ Cáceres 7.830 1.115 40.068,00

Pequi Corixinha Cáceres 2.700 420 13.500,00

Cumbaru São José Cáceres 2.700 540 13.500,00

Babaçu Nossa Srª da Guia

Cáceres 3.240 450 16.362,00

Total 16.470 2.525 83.430,00

Fonte: Associação Regional das Produtoras Extrativistas do Pantanal (ARPEP), Planejamento de produção 2011

Org. SILVA, 2012.

Atualmente a associação realiza reuniões semestrais com a coordenação dos grupos para o planejamento de suas atividades, capacitações e monitoramento dos planos produtivos dos grupos, e no manejo dos produtos do cerrado. A associação ainda conta com um quadro de agroextrativistas técnicos que contribuem para o planejamento e execução das atividades produtivas individuais e coletivas.

A Tabela 3 demonstra que a produção de Babaçu de 2011 á 2012 teve um aumento de 65,79% e o de Cumbaru, teve o maior índice de produção representando 133%. Em contrapartida, a produção de Pequi e outros, tendo o menor aumento no índice de produção, com apenas 8%, entre os anos de 2011 e 2012.

Tabela 3: Quadro de Produção ano fiscal 2011/ 2012 da ARPEP

Produtos 2011 2012 %

Babaçu 7.938 13.161 65,79 %

Cumbaru 2.700 6.300 133 %

Pequi e outros 5.832 6.299 8 %

Fonte: Associação Regional das Produtoras Extrativistas do Pantanal (ARPEP), Planejamento de produção 2011

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9 Figura 2: Produção 2011 e 2012

2012*: estimativa para a produção

Fonte: Associação Regional das Produtoras Extrativistas do Pantanal (ARPEP), Planejamento de produção 2011.

Org. SILVA, 2012

O Projeto de assentamento Corixinha, no Município de Cáceres, que é objeto deste nosso estudo, faz parte da Associação Regional das Produtoras Extrativistas do Pantanal (ARPEP), através do Grupo de Mulheres, intitulado “Amigas da Fronteira” composto por oito mulheres, atuando na coleta e no processamento de frutos do Cerrado, principalmente do pequi, e tem um elevado numero de produção voltada principalmente para a produção do pão e da bolacha enriquecido pelo pequi (tabela 4), e que são vendidos para a merenda escolar, inserida dentro do programa do PNAE.

Tabela 4: Quadro de Consumidores e Produção, do Grupo de Mulheres “Amigas da Fronteira”

Consumidor Pão Enriquecido (kg) Bolacha Enriquecida (kg)

Escola Clarinópolis 20 kg/sem 15 kg

Escola Marechal Rondon 30 kg/sem 15 kg/sem

Escola Municipal Santa Catarina 30 kg/sem 21,22 kg/sem

Total semana Pessoa 10 Kg/pessoa/Semana 6,40 Kg/pessoa/Semana

Total Semana grupo 80 Kg/Semana 51,22 Kg/Semana

Fonte: Associação Regional das Produtoras Extrativistas do Pantanal (ARPEP), Planejamento de produção 2011

Org. SILVA, 2012

Conforme dados coletados junto à Associação Regional das Produtoras Extrativistas do Pantanal (ARPEP), o Assentamento Corixinha teve no ano 2011 uma produção/ano de 2.700 Kg de pequi, atendendo em média 420 alunos, tendo em vista uma renda excedente de aproximadamente R$ 13.500,00, atendendo apenas três escolas: Sapiquá,

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10 Corixa e Corixinha. No ano de 2012, o número dobra para seis escolas, onde entra: Clarinópolis, Limão, Águas Boas, chegando a um total de aproximadamente 600 alunos. Diante desse novo projeto aprovado, a produção semanal do Pão e da Bolacha enriquecida com Pequi, produzidos principalmente pelo Grupo de Mulheres “Amigas da Fronteira”, aumentou de 75 Kg semanais, para 128 Kg semanais.

Tabela 5: Volume da produção de Pão e Bolacha enriquecido com Pequi/ 2011-2012

Ano Pão Enriquecido (kg) Bolacha Enriquecida (kg) Total por semana (kg)

2011 40 kg 35 Kg 75 Kg

2012 80 Kg 48 Kg 128 Kg

Fonte: Saída de campo no Assentamento Corixinha/MT Org. SILVA, 20125

Conforme o dado da Tabela 5 acima, fica evidente que este programa tem assegurado uma forma alternativa de comercialização da produção excedente da agricultura camponesa e criou novos canais de comercialização dos produtos dentro do principio de soberania alimentar, evidenciado no depoimento de uma das mulheres pertencentes á ARPEP:

É uma quantia a mais né, essa é a vantagem porque se a gente faz só pra feiras, ai se tem duas feiras no ano é muito, e para o PNAE não, toda semana é aquela quantia, então é uma quantia a mais, o seu rendimento é mais né, o valor que a gente recebe é outro, a feira é mesmo para a divulgação do produto. (Assentada do Grupo de Mulheres “Amigas da Fronteira”).6

Entendendo que a Reforma Agrária não se resume na conquista da terra, mas também na incansável luta para nela permanecer, consideramos de extrema importância a necessidade de se formular políticas públicas direcionadas principalmente para a agricultura camponesa no intuito de eliminar os entraves criados pelo sistema de produção capitalista à reprodução camponesa no Brasil.

Portanto estas ações proporcionaram aos camponeses uma maior renda monetária necessária para melhorar a organização da produção e garantir a recriação do grupo familiar, garantindo a produção para o autoconsumo familiar, e a outra parte voltada para a comercialização. E se faz necessário esclarecer que o excedente da produção familiar camponesa comercializado serviu para atender os alunos de escolas públicas municipais, através da merenda escolar, cumprindo a função social da terra.

São camponeses que quando tem a posse da terra (re)constroem sua identidade, seu modo de vida, livrando-se das imposições e dos preconceitos do sistema vigente e acirrando as contradições na medida em que se negam a ser meros produtores de mercadorias. Desejam ser sujeitos do seu presente e

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protagonistas do seu futuro. Cultivam a terra a partir dos seus conhecimentos e tecnologias apropriadas às suas condições financeiras, e adequadas às características da região, produzindo um alimento saudável para a sua família, para a comunidade e para o país. (KUDLAVICZ, 2010, p. 104)

Notas

1

Este trabalho é parte do projeto vinculado a Rede Pro Centro Oeste, intitulado: Questão Agrária e Transformações Socioterritoriais nas microrregiões do Alto Pantanal e Tangará da Serra/MT na última década censitária, pertencente á ASA - Rede de estudos sociais, ambientais e de tecnologias para o sistema produtivo na região sudoeste de Mato Grosso. Com o apoio do MCT/CNPq e do FNDCT.

2

De acordo com o site do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate a fome – MDS

3

De acordo com o site do Portal de Transparência do Governo brasileiro

4

As tabelas foram organizadas seguindo as normas de apresentação tabular, elaboradas pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística/IBGE, 1993.

5

Dados coletados com as mulheres pertencentes ao Grupo de Mulheres “Amigas da Fronteira”, realizado no dia 30/04/2012

6

Entrevista coletada por meio de saída de campo realizada no dia 01/05/2012 no projeto de assentamento Corixinha, localizado no Município de Cáceres/MT.

Referencias

ALMEIDA, Rosemeire A. A questão agrária na contemporaneidade e os desafios do movimento camponês no Brasil. Montevidéu: Egal, 2009. (Mimeografado).

BALDUÌNO, Dom Tomás. Território de Vida, de luta e de construção da Justiça Social. In: OLIVEIRA, Ariovaldo U.(org.). O Campo no Século XXI. São Paulo: Editora Casa Amarela e Editora Paz e Terra, 2004.

BRASIL. Lei nº11. 947, art.14, de 16 de junho de 2009. Altera as Leis nos 10.880, de 9 de junho de 2004, 11.273, de 6 de fevereiro de 2006, 11.507, de 20 de julho de 2007; revoga dispositivos da Medida Provisória no 2.178-36, de 24 de agosto de 2001, e a Lei no 8.913, de 12 de julho de 1994; e dá outras providências.

Programa de Aquisição Alimentar. Disponível em:

http://www.mds.gov.br/segurancaalimentar/alimentoseabastecimento/paa. Acessado em: 25/04/212.

Programa Nacional de Alimentação Escolar. Disponível em http://www.portaltransparencia.gov.br/aprendaMais/documentos/curso_PNAE.pdf. Acessado em: 25/04/212.

IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de informações. Normas de apresentação Tabular/ fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, centro de Documentação e Disseminação de informações. Rio de Janeiro: IBGE, 1993, p. 62

KAUSTSKY, Karl. A Questão Agrária. Tradução de Otto de Erich Walter Maas. Brasília: Linha gráfica: 1998. Coleção Pensamento Social-Democrata, 588 p.

KUDLAVICZ, Mieceslau. DINÂMICA AGRÁRIA E A TERRITORIALIZAÇÃO DO COMPLEXO CELULOSE/PAPEL NA MICRORREGIÃO DE TRÊS LAGOAS. 2010. 177 f. Dissertação (Mestre em Geografia). Programa de Pós Graduação- Mestrado em Geografia da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul. Três Lagoas. 2010

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12 MARQUES, Marta Inez Medeiros. Agricultura e campesinato no mundo e no Brasil: Um renovado desafio à reflexão teórica. In: PAULINO, Eliane Tomiasi., FABRINI, João Edmilson. (Orgs.) Campesinato e Território em disputa. São Paulo: Expressão Popular, 2008.

IBGE, Centro de Documentação e Disseminação de informações. Normas de apresentação Tabular/ fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatistica, centro de Documentação e Disseminação de informações. Rio de Janeiro: IBGE, 1993, p. 62

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