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SÍNDROME DE BURNOUT EM TRABALHADORES DE SAÚDE

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Academic year: 2021

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RESUMO: Burnout é definida como uma síndrome característica do meio laboral, que surge como resposta ao estresse

ocupacional crônico. Este estudo teve como objetivo identificar sinais e sintomas da síndrome de Burnout em trabalhadores de saúde de um hospital público de média complexidade de Londrina-PR, no período de julho de 2008 a março de 2009. Para a coleta de dados foi utilizado um instrumento autoaplicável, estruturado e constituído das principais variáveis dependentes da síndrome de Burnout, criado por Christine Maslach, Califórnia – EUA, e validado para uso no Brasil por Benevides-Pereira, em 1986. A amostra foi composta por 160 trabalhadores, sendo que 33,8% e 26,9% destes apresenta-ram, respectivamente, alto grau de exaustão emocional e despersonalização e 30% manifestaram baixa realização profissional. Os resultados obtidos revelam uma porcentagem significativa de trabalhadores que apresentaram sinais e sintomas da síndrome de Burnout, contribuindo para uma queda na qualidade de vida e saúde do trabalhador.

Palavras-Chave: Burnout; saúde do trabalhador; risco ocupacional; trabalhadores.

ABSTRACT: Burnout is defined as a typical workplace syndrome that appears in response to chronic occupational stress.

This study aimed to identify signs and symptoms of burnout in health personnel at a medium-complexity public hospital in Londrina, Paraná State, Brazil, from July 2008 to March 2009. Data were collected using a self-administered, structured instrument contemplating the main dependent variables of burnout syndrome, created by Christine Maslach, California, USA, and validated for use in Brazil by Benevides-Pereira in 1986. The sample consisted of 160 health workers, 33.8% and 26.9% of whom, respectively, displayed a high degree of emotional exhaustion and depersonalization, and 30%, low job satisfaction. These results show that a significant percentage of workers had signs and symptoms of burnout, contributing to a decline in their quality of life and health.

Keywords: Occupational Burnout; occupational health; occupational risks; workers.

RESUMEN: Burnout es definida como un síndrome característico del medio laboral, que surge como respuesta al estrés

ocupacional crónico. Se tuvo como objetivo identificar señales y síntomas del síndrome de Burnout en trabajadores de salud de un hospital público de media complejidad de Londrina, PR, Brasil, entre julio de 2008 y marzo de 2009. Para colecta de datos fue utilizado un instrumento autoaplicable, constituido de las principales variables dependientes del síndrome de Burnout, creado por Christine Maslach, Califórnia – EUA, y validado para uso en Brasil por Benevides-Pereira, en 1986. La muestra fue compuesta por 160 trabajadores, de los cuales 33,8% y 26,9% tenían, respectivamente, un alto grado de agotamiento emocional y despersonalización y 30% tenían baja satisfacción laboral. Los resultados obtenidos revelan un porcentual significativo de trabajadores que presentaron señales y síntomas del síndrome de Burnout, contribuyendo para una caída en la calidad de vida y salud del trabajador.

Palabras Clave: Bournout; salud del trabajador; riesgo laboral; trabajadores.

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OMPLEJIDAD

Gabriela Machado Ezaias I

Pollyana Bortholazzi Gouvea I I

Maria do Carmo Lourenço Haddad I I I

Marli Terezinha Oliveira Vannuchi IV

Denise da Silva Scaneiro SardinhaV

IEnfermeira. Mestranda em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Email: gabimez@usp.br.

IIEnfermeira. Mestranda em Enfermagem Fundamental pela Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo. Ribeirão Preto, São Paulo, Brasil. Email: pollyana_bortholazzi@yahoo.com.br.

IIIDoutora em Enfermagem. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina. Londrina, Paraná, Brasil. Email: haddad@sercomtel.com.br.

IVDoutora em Saúde Pública. Docente do Departamento de Enfermagem da Universidade Estadual de Londrina. Londrina, Paraná, Brasil. Email: vannuchi@sercomtel.com.br.

VEnfermeira. Especialista em Enfermagem. Coordenadora de Enfermagem do Hospital Dr. Anísio Figueiredo. Londrina, Paraná, Brasil. Email: denisesardinha@uol.com.br.

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profissional em relação à população por ele assistida, à organização e ao seu processo de trabalho; assim como também engloba atitudes e sentimentos que geram problemas de ordem prática e emocional ao trabalha-dor e à instituição. Já o estresse não envolve atitudes e condutas, pois se refere ao esgotamento pessoal, que interferem na vida do indivíduo, mas não necessaria-mente em sua relação com o trabalho3.

As definições mais aceitas sobre a Síndrome de Burnout baseiam-se na sua perspectiva socio-psico-lógica, que considera tal transtorno como uma rea-ção à tensão emocional crônica causada pelo contato excessivo com pessoas4.

É um conceito multidimensional que envolve três componentes relacionados, porém independen-tes: a exaustão emocional (carência de energia, senti-mento de esgotasenti-mento dos recursos para lidar com os estressores somado a frustração e tensão), a desper-sonalização (desenvolvimento de uma insensibilida-de emocional levando a um tratamento insensibilida-desumanizado dos clientes, colegas e organização) e baixa realização no trabalho (caracterizada pela insatisfação com o de-senvolvimento profissional levando a uma tendência de se autoavaliar de forma negativa)4.

No âmbito institucional, os efeitos da Síndrome de Burnout refletem-se na diminuição da produtividade, na qualidade do trabalho, no aumento do absenteísmo, na alta rotatividade, no incremento de acidentes ocupacionais, na visão negativa da instituição; tendo como resultado importantes prejuízos financeiros para as organizações2 e constituindo-se em um evento com

re-percussões no processo de trabalho em saúde.

M

ETODOLOGIA

T

rata-se de um

estudo descritivo de natureza

quan-titativa, realizado no período de julho de 2008 a março de 2009 e que teve como população os 281 trabalhado-res das diversas categorias profissionais que atuam em um hospital de média complexidade de Londrina-PR; uma instituição pública, localizada na região norte do mu-nicípio, que se constitui em referência para o atendi-mento de uma população de aproximadamente 106 mil pessoas e que conta com uma unidade de emergên-cia, centro cirúrgico e setores de internação clínica e cirúrgica, com capacidade de internação para 37 paci-entes adultos e 17 pacipaci-entes infantis.

Para a coleta de dados, em amostra de 160 profissi-onais, foi utilizado um instrumento autoaplicável com-posto por questões de caracterização sociodemográfica e pelo Maslach Burnout Inventor (MBI), um questionário estruturado constituído das principais variáveis depen-dentes da Síndrome de Burnout, criado por Christine Maslach, professora universitária de psicologia da Califórnia – EUA, e validado para uso no Brasil por Benevides-Pereira, em 1986. Este instrumento avalia o

I

NTRODUÇÃO

O

s avanços

tecnológicos introduzidos no

proces-so de produção possibilitaram às empresas o aumento da produtividade e dos lucros, assim como causaram impacto na saúde dos trabalhadores. Tal impacto advém, principalmente, da crescente instabilidade so-cial e econômica, precarização das relações de produ-ção, desemprego crescente, mudanças nos hábitos e estilos de vida dos trabalhadores; sendo assim o traba-lho passou a ser visto como um agente etiológico1.

O trabalho, como ação humana social, engloba a capacidade do indivíduo de produzir o meio em que vive, e nesse processo de interação com a natureza, o homem também acaba por ser modificado. Entre es-sas modificações encontram-se aquelas que têm im-pacto sobre o psíquico do trabalhador1.

Nesse contexto, uma das possíveis consequências é a ocorrência da Síndrome de Burnout, definida como uma síndrome característica do meio laboral, que se cons-titui em um processo de resposta ao estresse ocupacional crônico, e traz consigo consequências negativas em ní-vel individual, profissional, familiar e social2.

Diante deste contexto, como Enfermeiras Resi-dentes atuando em um hospital de média complexida-de e vivenciando e refletindo sobre tais aspectos do processo de trabalho, observamos que os trabalhado-res aptrabalhado-resentavam acentuados quadros de esttrabalhado-resse, desmotivação, insegurança e até mesmo sentimentos de angústia, ansiedade e medo relacionados ao fato de se lidar com a vida humana constantemente, mas tam-bém relacionados a problemas estruturais desta orga-nização. Por ser um hospital de média complexidade, ele não é destinado ao atendimento de pacientes gra-ves, porém em decorrência da situação de elevada de-manda e superlotação enfrentadas pelas instituições de alta complexidade do município, vem-se realizan-do atendimento a pacientes com maior grau de depen-dência e necessidades de saúde de maior complexida-de. Soma-se a isso o fato de a instituição encontrar-se em processo de reforma de sua estrutura física e, ainda, o aumento da demanda de pacientes devido ao fecha-mento, também para reforma, de uma das maiores Unidades Básica de Saúde da região onde a instituição está situada, impondo aos trabalhadores a necessidade de realização do trabalho em ambiente improvisado.

Portanto, este estudo teve como objetivo iden-tificar sinais e sintomas da Síndrome de Burnout em trabalhadores de saúde de um hospital público de média complexidade.

R

EFERENCIAL

T

EÓRICO

H

á a necessidade

de correta diferenciação entre a

Síndrome de Burnout e o estresse comum, uma vez que a síndrome envolve atitudes e condutas negativas do

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modo como o indivíduo vivencia seu processo de traba-lho, e possui consistência interna nas suas três dimensões e estabilidade em sua estrutura e natureza dos três fatores em amostra multifuncional, o que demonstra a efetividade na mensuração da Síndrome de Burnout. A adaptação brasileira do instrumento também demonstra consistên-cia interna e validade fatorial para que possa ser utilizada na avaliação da Síndrome de Burnout em profissionais que atuam no cuidado com pessoas5.

Os dados foram tabulados pelo sistema EpiInfo versão 3.3.2 de 2005, analisados através do programa Statistical Package for Social Science for Windows versão 13.0 (SPSS) e organizados em duas tabelas, destacan-do, na segunda, as três dimensões da Síndrome de Burnout: exaustão emocional, despersonalização e baixa realização no trabalho.

O projeto de pesquisa segue todas as orienta-ções da Resolução no 196/96, tendo sido obtido Con-sentimento Livre e Esclarecido por escrito dos parti-cipantes da pesquisa, assim como também a aprova-ção pelo Comitê de Ética em Pesquisa Envolvendo Seres Humanos da Universidade Estadual de Londri-na/Hospital Universitário Regional Norte do Paraná, registrado no parecer no 278/07.

R

ESULTADOSE

D

ISCUSSÃO

F

oram convidados

a participar do estudo os 281

profissionais que atuam na instituição, com uma taxa de resposta de 160(56,9%) profissionais. As perdas foram relacionadas à recusa e licenças médicas. Como limitação da pesquisa, encontrou-se entre as recusas, um conjunto de 55(19,6%) médicos da população total. Tal dificuldade não é inédita na literatura; em estudo realizado com médicos cancerologistas cadas-trados na Sociedade Brasileira de Cancerologia, ob-teve-se uma taxa de resposta de apenas 21,1%. Neste mesmo estudo encontrou-se uma taxa de 55,8% de níveis moderados ou altos para exaustão emocional e 96,1% para despersonalização6. Outro estudo

realiza-do com médicos pediatras, em Buenos Aires, tam-bém encontrou um índice de 34,1% para baixa reali-zação profissional, 47,1% para alta exaustão emocio-nal e 22,8% para alta despersoemocio-nalização7. Tais dados

levam à reflexão sobre a motivação para que profissi-onais, que comprovadamente apresentam maiores índices desta síndrome, se recusem a participar de pesquisas sobre sua incidência.

Os 160 profissionais da amostra foram subdivi-didos em seus setores de trabalho para análise dos da-dos. Somente na área da enfermagem foram divididos grupos de profissionais com nível superior (enfermei-ros) e nível técnico (auxiliares e técnicos de enferma-gem). Sendo assim, 8(5%) eram enfermeiros, 53(33,2%) auxiliares/técnicos de enfermagem, 3(1,9%) pertenci-am à Comissão de Controle de Infecção Hospitalar

(CCIH), 1(0,6%) ao setor de costura, 2(1,3%) ao setor de almoxarifado, 2(1,3%) faziam parte do serviço de apoio à diretoria, 10(6,3%) eram funcionários da cozi-nha, 1(0,6%) era funcionário do centro de processamento de dados (CPD), 2(1,3%) pertenciam ao departamento pessoal, 4(2,5%) trabalhavam na di-retoria, 4(2,5%) eram funcionários da farmácia, 2(1,3%) faziam parte do setor de faturamento, 16(10%) trabalhavam no laboratório, 3(1,9%) trabalhavam no setor de internação, 5(3,2%) na portaria, 6(3,8%) no setor de Raio X, 4(2,5%) no serviço de registro, 2(1,3%) eram secretários de enfermagem, 3(1,9%) pertenciam ao serviço social, 3(1,9%) eram telefonistas, 6(3,8%) eram vigilantes e 20(12,5%) trabalhavam nos serviços gerais.

A maioria dos entrevistados, 88(55%), encon-trava-se na faixa etária de 30 a 50 anos, 38(23,8%) tinham entre 51 e 65 anos e apenas 3(1,8%) estavam com mais de 65 anos, revelando um quadro de enve-lhecimento dos profissionais atuantes na instituição, com consequente diminuição da capacidade funcio-nal para o trabalho e produtividade. Houve prevalência de indivíduos do sexo feminino 108(67,7%), casados 104(65%) e com filhos -123(76,9%). Do total dos entrevistados, 84(52,5%) possuíam vínculo empregatício com o Consórcio Intermunicipal de Saúde do Médio Paranapanema (Cismepar), 74(46,3%) com o Estado do Paraná (estatutário) e 2(1,3%) possuíam outro tipo de vín-culo. A maioria, 81(50,7%), possui apenas o ensino médio e 132(76,3%) não possuíam outro emprego, conforme pode ser visto na Tabela 1.

Um estudo bibliográfico realizado em 2007 iden-tificou fatores individuais que estão associados à Síndrome de Burnout, como, por exemplo, o gênero, uma vez que as mulheres demonstraram maiores pon-tuações para exaustão emocional enquanto que os ho-mens para despersonalização. Levantou também a in-formação que indivíduos com grandes expectativas e idealismo, como profissionais jovens e recém-formados, também apresentam índices mais baixos de realização e altos de exaustão. O nível educacional elevado, ser sol-teiro, viúvo ou divorciado também aumentam o risco para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout8,9.

Entretanto a Síndrome de Burnout não é um pro-blema somente vinculado a fatores individuais, mas também ao ambiente social no qual o indivíduo atua. Muitas mudanças no mundo do trabalho vêm ocor-rendo, construindo novas formas de organização e de relações do indivíduo com o trabalho. Tem-se cargos com atribuições mais complexas, menos níveis hierár-quicos e, consequentemente, maior acúmulo de res-ponsabilidades para um mesmo indivíduo9-11.

A análise dos dados demonstrou que 54(33,8%) trabalhadores da amostra possuem um alto grau de exaustão emocional, 43(26,9%) possuem alto grau de despersonalização e 48(30%) demonstraram baixa

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reali-zação profissional, dado potencialmente significativo ao se aplicar o teste Qui-quadrado, com valores de p de 0,02 e 0,00 para despersonalização e realização profissional, respectivamente. Para a dimensão exaustão emocional, não foi encontrado um valor de p significativo, porém a vivência do processo de trabalho na instituição possibili-ta encontrar sinais e sintomas referentes à exaustão emo-cional condizentes com a literatura.

Também pode-se observar a relação dos funcio-nários, de acordo com o setor/ocupação em que traba-lham, e a tríade exaustão emocional, despersonalização e realização profissional, lembrando que se considera o indivíduo com Burnout aquele que apresentar alta exaustão emocional e despersonalização e baixa realiza-ção profissional12.

Dos trabalhadores que possuem um alto grau de exaustão emocional, 18(33,3%) são auxiliares/técnicos de enfermagem, 3(5,5%) são enfermeiros e 6(11,1%) tra-balham no laboratório da instituição. Um número signi-ficativo também foi encontrado nos serviços de apoio, como a equipe de serviços gerais com 5(9,2%) e cozinha com 4(7,4%), conforme pode ser visto na Tabela 2.

TABELA 1: Caracterização sociodemográfica dos sujeitos

entrevistados. Londrina-PR, 2009. (N=160) Variáveis f % Idade Entre 20 a 30 anos 31 19,4 Entre 31 a 50 anos 88 55 Entre 51 a 65 anos 38 23,8 Mais de 65 anos 3 1,8 Estado civil Casado 104 65 Solteiro 36 22,5 União estável 1 0,6 Divorciado 13 8,1 Viúvo 6 3,8 S e x o Masculino 52 32,5 Feminino 108 67,5 Filhos Sim 123 76,9 Não 37 23,1

Tipo de Vínculo Empregatício

Estatutário 74 46,3 Consórcio Intermunicipal de

Saúde do Médio Paranapenema 84 52,5 Outros 2 1,2 Titulação Ensino fundamental 39 24,4 Ensino médio 81 50,7 Graduação 21 13,1 Especialização 17 10,6 Mestrado 1 0,6 Doutorado 1 0,6 Outro emprego Sim 28 23,7 Não 132 76,3

O estresse encontra-se presente no dia a dia das pessoas e não raramente vem associado ao trabalho e às condições de vida, porém é no trabalho que se ressaltam os sinais de exaustão emocional5. A exaustão

psicológi-ca pode ser consequência do trabalho, e a percepção de desgaste pode ser definida como uma sensação de que o indivíduo está sendo exigido além dos seus limites de resistência13.

Os trabalhadores de enfermagem são os que per-manecem por maior tempo junto ao paciente e seus familiares, vivendo diversas situações de estresse junto aos mesmos, porém, nem sempre estão psicologica-mente capacitados para lidar com tais situações, o que pode transformar o trabalho em algo penoso e repercutir na vida pessoal12.

A Síndrome de Burnout não é apenas um pro-blema do indivíduo, mas também do ambiente social no qual ele trabalha9. Um levantamento

bibliográfi-co realizado em 2007 enbibliográfi-controu bibliográfi-como fatores organizacionais relacionados a elevados índices de Burnout: a burocracia dentro das instituições; a falta de autonomia e as mudanças organizacionais frequtes; a falta de consideração, confiança e respeito en-tre os membros da equipe; a comunicação ineficiente; a impossibilidade de ascender na carreira, de melho-rar sua remuneração e de reconhecimento de seu tra-balho; inadequação do ambiente físico e riscos ocupacionais no processo de trabalho8.

Outro estudo também encontrou como fatores organizacionais determinantes da Síndrome de Burnout a sobrecarga de trabalho, a insegurança no que se refere à realização das tarefas, a falta de condi-ções para a execução do trabalho, a instabilidade no emprego, a falta de suporte por parte da equipe e che-fia, o sentimento de desmoralização pessoal no ambi-ente de trabalho e o sentimento de injustiça14.

Tais fatores também são responsáveis pelas al-terações nas demais dimensões da Síndrome de Burnout, como a despersonalização, que ocorre devi-do à cronicidade desse processo que culmina na in-sensibilidade emocional frente ao paciente/cliente, equipe e organização.

Pode ser observado também que, quando avalia-do o grau de despersonalização da amostra, encontrou-se novamente os profissionais auxiliares/técnicos de enfermagem como maiores representantes de indiví-duos com alta despersonalização, sendo eles 17(39,5%), seguidos pela equipe de serviços gerais com 4 (9,3%) representantes do total. Dos que apresentaram alta despersonalização, 3 (7,0%) eram enfermeiros, e para as demais categorias houve uma distribuição homogê-nea, conforme pode ser visto na Tabela 2.

Não é raro que um indivíduo que tenha optado por uma profissão de ajuda e cuidado, quando se vê frente a restrições em seu trabalho, como falta de

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es-trutura, recursos materiais e até mesmo recursos pes-soais, passe a encontrar dificuldades relacionadas às suas possibilidades de atuação5, tendo como uma

re-ação específica o estresse ocupacional crônico, atitu-des e comportamentos negativos em relação aos cli-entes, ao trabalho e à organização11.

O trabalho constitui-se em atividade essencial para a sobrevivência do homem e é gerador de expectativas, frustrações e conquistas, assim como também desperta e define interesse e identidade pessoal. As alternâncias de situações ou emoções no ambiente de trabalho podem levar o indivíduo a um desgaste emocional, contribuindo para o estresse, comprometendo a qualidade de vida do trabalhador e a qualidade de seu trabalho12.

Na Síndrome de Burnout, a existência de um componente pode levar ao desenvolvimento dos ou-tros, assim como também tais componentes podem desenvolver-se ao mesmo tempo, já que se constitu-em constitu-em diversas reações a diferentes aspectos do am-biente de trabalho12.

Finalmente, ao se avaliar o nível de realização profissional, também encontramos os profissionais da enfermagem como os maiores representantes da-queles que apresentam a baixa realização como ca-racterística da Síndrome de Burnout, com 10(20,4%) da amostra; e novamente os trabalhadores do labora-tório representam parte significativa desse grupo, com 8(16,3%) indivíduos.

Constituem-se em fatores que contribuem para a baixa realização profissional as precárias condições de trabalho, tais como estrutura física inadequada e escassez de recursos materiais e humanos, condições

encontradas na instituição onde o estudo foi realiza-do. Tais fatores causam impacto significativo na saú-de do trabalhador10.

Existem também fatores laborais associados à ocor-rência do Burnout, entre eles pode-se citar o baixo ní-vel de controle das atividades ou até mesmo a baixa participação nas tomadas de decisão, que provocam pou-ca ou nenhuma satisfação no trabalhador. As expectati-vas profissionais, o sentimento de injustiça e iniquidade nas relações de trabalho, o suporte organizacional ineficiente e os conflitos organizacionais também cor-roboram para a baixa realização8. Relacionadas à

per-cepção de suporte organizacional estão as crenças e ex-pectativas de um indivíduo em relação ao reconheci-mento e retribuição por parte da organização em que trabalha13.

É de grande importância a realização do diag-nóstico e avaliação da síndrome de Burnout para se identificar quando, onde e em quem deve-se inter-vir, buscando minimizar as consequências para o in-divíduo, a equipe, os clientes e organização. O diag-nóstico adequado necessita de avaliação correta dos sintomas, sua intensidade e frequência7; e as

inter-venções para o Burnout e/ou sua prevenção devem focalizar tanto o trabalhador quanto o ambiente de trabalho, para que ocorram mudanças no processo de trabalho e consequente equilíbrio entre as expecta-tivas do individuo e as exigências da organização13.

Outro aspecto que pode proporcionar melhorias na qualidade dos serviços prestados pelos trabalhadores de saúde é a convergência em uma mesma direção de temáticas como qualidade de vida e saúde do

traba-TABELA 2: Distribuição dos trabalhadores de acordo com grau de exaustão emocional, despersonalização e realização profissional.

Londrina-PR, 2009.

Setor/Ocupação Exaustão EmocionalAlta DespersonalizaçaoAlta RealizaçãoBaixa

f % f % f % Enfermeiro 3 5,5 3 7 4 8,3 Auxiliar/técnico enfermagem 18 33,3 17 39,5 10 20,8 Comissão de controle de infecção hospitalar 2 3,7 1 2,3 3 6,2 Costura - - - -Diretoria 1 1,9 1 2,3 1 2,1 Farmácia 2 3,7 - - 1 2,1 Faturamento 1 1,9 - - - -Laboratório 6 11,1 2 4,7 8 16,7 Internação 2 3,7 2 4,7 3 6,2 Portaria 1 1,9 2 4,7 2 4,2 Raio X - - 1 2,3 1 2,1 Registro 2 3,7 2 4,7 2 4,2 Secretário enfermagem - - 2 4,7 1 2,1 Serviço social 1 1,9 - - - -Telefonia 1 1,9 1 2,3 - -Vigilância - - 2 4,7 3 6,2 Serviços gerais 5 9,2 4 9,3 4 8,3 TOTAL 5 4 100 4 3 100 4 8 100

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lhador; uma vez que o profissional da área de saúde muitas vezes atua em favor do bem-estar de seus cli-entes negligenciando o seu próprio estado de saúde15.

C

ONCLUSÃO

A

importância deste

estudo deu-se de forma a

mensurar as dimensões do Burnout, relacionando-o a questões da saúde do trabalhador. Diante deste contex-to, observou-se que, entre os trabalhadores envolvidos diretamente com a assistência ao paciente, foram os da enfermagem que demonstraram os maiores índices de exaustão emocional, despersonalização e baixo nível de realização profissional; lembrando que estes são maio-ria na instituição. Percebeu-se também que funcionári-os lotadfuncionári-os no laboratório, nfuncionári-os serviçfuncionári-os gerais e na cozi-nha apresentaram índices significativos no que se refe-re às três dimensões da síndrome de Burnout.

Ressalta-se que esta síndrome constitui-se num processo multicausal, com repercussões individuais, sociais e organizacionais. A detecção precoce permi-te a realização de inpermi-tervenções que visem tanto a pre-venção quanto a terapêutica; sendo a prepre-venção, ain-da, a melhor forma de preservar a saúde do trabalha-dor. Contudo, são necessários estudos mais aprofun-dados com o objetivo de ampliar os conhecimentos e esclarecer o processo específico de desenvolvimento desta síndrome.

R

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