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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO FACULDADE DE AGRONOMIA, MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

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Academic year: 2021

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ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

CARACTERIZAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA DOS ÓRGÃOS DA

CAVIDADE CELOMÁTICA DO JABUTI-PIRANGA (Chelonoidis

carbonaria SPIX, 1824)

Yara Silva Meireles

CUIABÁ – MT 2014

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ZOOTECNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

CARACTERIZAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA DOS ÓRGÃOS DA

CAVIDADE CELOMÁTICA DO JABUTI-PIRANGA (Chelonoidis

carbonaria SPIX, 1824)

Autora: Yara Silva Meireles Orientador: Prof.Dr. Roberto Lopes de Souza Co-Orientador: Prof. Dr. Pedro Eduardo Brandini Néspoli

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em Ciências Veterinárias, área de concentração: Sanidade Animal, da Faculdade de Agronomia, Medicina Veterinária e Zootecnia da Universidade Federal de Mato Grosso para a obtenção do título de Mestre em Ciências Veterinárias.

CUIABÁ – MT 2014

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MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

PRÓ-REITORIA DE ENSINO DE PÓS-GRADUAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS

Avenida Fernando Corrêa da Costa, 2367 - Boa Esperança - Cep: 78060900 -CUIABÁ/MT

Tel : +55 65 3615-8627 - Email : cpgvet@ufmt.br

FOLHA DE APROVAÇÃO

TÍTULO : "Caracterização ultrassonográfica dos órgãos da cavidade celomática do jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria SPIX, 1824)"

AUTOR: Mestranda Yara Silva Meireles

Dissertação defendida e aprovada em 24/02/2014.

Composição da Banca Examinadora:

______________________________________________________________________________

___________

Presidente Banca / Orientador Doutor(a) Pedro Eduardo Brandini Néspoli

Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinador Interno Doutor(a) Sandra Helena Ramiro Corrêa

Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

Examinador Externo Doutor(a) Rosana Zanatta

Instituição : UNIVERSIDADE DE CUIABÁ

Examinador Suplente Doutor(a) Rosa Helena dos Santos Ferraz

Instituição : UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

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Agradeço a Deus por estar sempre ao meu lado.

Agradeço aos meus pais por tudo que me ensinaram, pelo complemento de qualidades que me proporcionou enxergar a vida como ela deve ser vista.

Ao meu noivo pelo companheirismo, com toda certeza a caminhada da vida fica muito melhor ao lado dele.

À minha família espalhada pelo país e a do lar, principalmente irmãos, pelo aprendizado de cada dia.

Aos meus orientadores por toda dedicação durante todos os anos da graduação, residência e mestrado.

Aos mestres desta instituição, Médicos Veterinários, aos Pós-Graduandos e aos funcionários do HOVET, pela ajuda e colaboração.

À banca, por ajudar na revisão deste trabalho.

Agradeço aos colegas de trabalho pelo aprendizado e alguns ainda por tornarem meu dia melhor.

Aos amigos pela convivência, pelos aprendizados e pela amizade.

Aos animais, em especial aos que estiveram comigo, meu esforço não é nada ante a imensa evolução que me proporcionam.

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“O que sabemos é uma gota. O que ignoramos é um oceano.” Isaac Newton

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CARACTERIZAÇÃO ULTRASSONOGRÁFICA DOS ÓRGÃOS DA CAVIDADE CELOMÁTICA DO JABUTI-PIRANGA (Chelonoidis carbonaria SPIX,

1824)

Nesse estudo foram descritas a morfologia ultrassonográfica e sintopia das vísceras da cavidade celomática do jabuti-piranga. Trinta e oito animais hígidos, 19 machos e 19 fêmeas, foram anestesiados com cetamina e midazolan e contidos em decúbito ventral para realização de varredura ultrassonográfica da cavidade celomática através dos acessos cervicais e pré-femorais com transdutor setorial multifrequencial. Foram aferidas várias medidas corpóreas e frequência cardíaca e foram avaliadas a morfologia, ecogenicidade e a sintopia do coração, tireóide, fígado, vesícula biliar, estômago, intestinos, ovários, oviduto, testículos, rins e bexiga. O coração mostrou dois átrios e um ventrículo com parede trabecular e espessa. Na base cardíaca pode-se visibilizar a tireóide ovalada e ecogênica, cujas medidas mostraram correlação positiva com o peso do animal. O fígado, a vesícula biliar e o aparelho digestório foram semelhantes ao visto em mamíferos e quelônios, porém, a imagem do fígado dos jabutis apresentou aparência mais hiperecóica em relação aos dos mamíferos. Os rins foram vistos como estruturas triangulares, hipoecóicas, homogêneas e vascularizadas e a bexiga foi observada na maioria das vezes com forma alongada com conteúdo anecóico e sua parede foi vista como uma fina linha hiperecóica quando havia líquido livre. Os testículos foram observados como estruturas alongadas, homogêneas e hiperecóicas em relação aos rins. Os folículos ovarianos foram vistos como esferas ecogênicas a hiperecogênicas de tamanho e quantidade variável, o oviduto como uma estrutura tubular sigmoide. Os eram estruturas com finas linhas hiperecóicas com sombreamento acústico posterior. Em alguns animais, havia quantidade variável de líquido livre ao redor do coração e na cavidade celomática.

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ULTRASOUND CHARACTERIZATION OF COELOMIC CAVITY ORGANS OF RED-FOOTED TORTOISE (Chelonoidis carbonaria, SPIX, 1824)

In this study we describe the sonographic morphology and sintopy of the coelomic cavity organs of red-footed tortoise. Thirty eight healthy animals, 19 males and 19 females, were anesthetized with ketamine and midazolam and contained in ventral decubitus position for scanning the coelomic cavity through the cervical and pre- femoral access with multifrequency sector transducer. Several body measurements and heart rate were measured and the morphology, echogenicity and sintopy of the heart, thyroid, liver, gallbladder, stomach, intestines, ovaries, oviduct, testis, kidney and bladder were evaluated. The heart showed two atria and one ventricle with trabecular thick wall. In cardiac basis was visualized the oval and echogenic thyroid, which showed a positive correlation with the weight of the animal. The liver, gallbladder and digestive system were similar to those seen in mammals and turtles. However, the tortoise liver was more hyperechoic relative to mammals. The kidneys were seen as triangular structures, hypoechoic, homogeneous and vascularized and the bladder was observed mostly as elongated with anechoic content and its wall was seen as a thin hyperechoic line when there was free fluid. The testes were observed as elongated, homogeneous and hyperechoic in relation to kidney structures. The ovarian follicles were seen as a hyperechoic echogenic balls of variable size and quantity, the oviduct as a sigmoid tubular structure and eggs as thin hyperechoic lines with posterior acoustic shadowing. In some animals, there was a variable amount of anechoic fluid around the heart and in the coelomic cavity.

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Figura 1 Anatomia geral de quelônios. A) Vista ventral, o plastrão foi removido. B)

Vista ventral, a bexiga foi removida para permitir a visibilização do trato gastrointestinal e o lobo direto do fígado foi erguido para expor a vesícula biliar. C) Vista ventral, o fígado e trato intestinal foram removidos. Neste macho, os testículos estão próximos ao aspecto ventral dos rins. D) Vista mediosagital da anatomia geral.. ... 13

Figura 2 Desenho esquemático da circulação geral de quelônios ... 15

Figura 3 Numerosos folículos ovarianos formando a parte visível dos ovários em

Chelonoidis carbonaria. Est, estômago; Fg, fígado; Ov, folículo ovariano; RE, rim esquerdo; RD, rim direito. ... 20

Figura 4 A) Adaptação para suspensão dos membros. B) Transdutor situado na

janela acústica cervical esquerda. C) Transdutor situado na janela acústica pré-femoral direita. ... 36

Figura 5 Imagem ultrassonográfica do coração, tireóide e fígado do jabuti vistos

através das janelas cervicais direita e esquerda. A) Átrios e ventrículos preenchidos por conteúdo hipoecóico. O ventrículo apresenta parede trabecular e as válvulas atrioventriculares estão fechadas (seta). B) Válvulas atrioventriculares abertas (seta). C) O átrio evidencia projeções da superfície interna. Sua espessura parece aumentada por estar em sístole. É possível visibilizar ainda líquido ao redor do coração. D)Tireóide ecogênica com formato ovalado e limites bem definidos. E) Fígado hiperecóico de textura granular e vesícula biliar arredondada com conteúdo anecóico e reforço acústico posterior. F) Líquido livre anecóico

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livre; Fg, Fígado; VB, Vesícula biliar. ... 39

Figura 6 Imagem ultrassonográfica do sistema gastrointestinal do jabuti, vistos

através da janela cervical esquerda (estômago) e janelas pré-femorais esquerda e direita (intestino delgado e cólon, respectivamente). A) Estômago com parede pregueada (seta) e hipoecóica sem estratificação com conteúdo gasoso. B) Intestino delgado evidencia estratificação parietal em quatro camadas. C) Aproximação e definição da estratificação parietal. D) Intestino grosso com conteúdo gasoso e parede hipoecóica delgada. Est, Estômago; Bx, Bexiga; ID, Intestino delgado; IG, Intestino grosso. ... 41

Figura 7 Imagem ultrassonográfica do sistema genitourinário do jabuti, vistos

através das janelas pré-femorais esquerda e direita. A) Rim com formato triangular no corte longitudinal, hipoecóico e vascularizado. B) Uretra com 0,51cm na região do hilo renal projentando-se em direção caudal. C) Bexiga com formato piriforme, parede delgada hiperecóica e conteúdo anecóico. Presença de conteúdo anecóico livre na cavidade, cranial à bexiga. D) Testículo hiperecóico com formato alongado. E) Localização cranial e hiperecogenicidade do testículo em relação ao rim. F) Oviduto com paredes hipoecóicas e aspecto sigmóide e ovário ecogênico com formato arredondado. RE, Rim esquerdo; LL, Líquido livre; Bx, Bexiga; Test, Testículo; TE, Testículo esquerdo; Ovd, Oviduto; Ov, Ovário. ... 42

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Tabela 1 Teste de correlação de Spearman entre as variáveis ... 44

Tabela 2 Valores médios das variáveis por sexo e valor-p obtido do teste de

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1 INTRODUÇÃO ... 9

2 REVISÃO DE LITERATURA ... 11

2.1 Jabutis ... 11

2.1.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS ... 11

2.1.2 ANATOMIA GERAL DOS ÓRGÃOS INTERNOS ... 12

2.1.2.1 Sistema Cardiorrespiratório ... 12

2.1.2.1 Sistema Digestivo ... 16

2.1.2.3 Fígado, Vesícula Biliar, Pâncreas e Baço ... 17

2.1.2.4 Sistema Genitourinário ... 18 2.1.2.5 Sistema Endócrino ... 21 2.2 Ultrassonografia ... 21 2.2.1 TÉCNICA ... 23 2.2.2 ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA ... 24 2.2.3 ENFERMIDADES ... 30 3 MATERIAL E MÉTODOS ... 34

3.1 Local e autorização do estudo ... 34

3.2 Animais ... 34

3.3 Exame clínico e físico geral ... 34

3.4 Pesagem, identificação, contenção e manutenção dos animais ... 35

3.5 Exames laboratoriais ... 35

3.6 Exame ultrassonográfico ... 35

3.7 Análise estatística ... 36

4 RESULTADOS ... 38

4.1 Descrição ultrassonográfica dos órgãos internos... 38

4.2 Análise estatística ... 43

5 DISCUSSÃO ... 46

6 CONCLUSÃO ... 50

REFERÊNCIAS ... 51

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1 INTRODUÇÃO

Os jabutis são quelônios de hábitos terrestres, pertencentes à família Testudinidae, a segunda maior família da ordem Testudines em número de espécies (ERNST e BARBOUR, 1989) e são encontrados em zonas tropicais da América do Sul como Guianas, Venezuela, Equador, Paraguai, Brasil e algumas ilhas do Caribe (LEVINE e SCHAFER, 1992). No Brasil, o jabuti-piranga (Chelonoidis carbonaria) é provavelmente o quelônio que mais tem sido mantido em cativeiro como animal de estimação, devido a fatores culturais e amplo comércio ilegal (PINHEIRO e MATIAS, 2004). Atualmente, esses animais representam uma grande proporção dos animais atendidos na clínica de animais selvagens.

Mesmo tendo ampla distribuição geográfica, ainda são escassas as pesquisas sobre esta espécie. Alguns estudos já foram realizados no jabuti-piranga nas áreas de anatomia, fisiologia, anestesia, radiografia, cirurgia, exames laboratoriais, reprodução e cognição (VANZOLINI, 1999; FARIA, 2000a; FARIA, 2000b; PIZZUTTO et al., 2000; CARVALHO, 2003; FARIA, 2003; CARVALHO, 2004a; CARVALHO, 2004b; LUTFULLAH et al., 2008; TEIXEIRA, 2009; BORTOLINI et al., 2012; CROSSLEY et al., 2013; WILKINSON et al., 2013).

No que se refere ao exame ultrassonográfico, há apenas trabalhos direcionados sobre a ultrassonografia do sistema reprodutor nesta espécie (TEIXEIRA, 2009) e em outras espécies de quelônios (KUCHLING, 1989; ROBECK et al., 1990; ROSTAL et al, 1990; CASARES et al., 1997), bem como descrições sobre ecoanatomia em tartarugas (PENNINCK et al., 1991; MARTORELL et al., 2004; VALENTE et al., 2007a). Tal exame amplia consideravelmente as chances de sucesso no diagnóstico clínico, a partir da associação do quadro clínico com os achados de imagem encontrados (PINTO, 2007). Todavia, a interpretação adequada das imagens devem combinar experiência e conhecimento de anatomia (SCHEBITZ e WILKENS, 2000; KEALY e MCALLISTER, 2005) com uma compreensão dos processos fisiológicos, patológicos e fisiopatológicos, considerando os resultados dos demais procedimentos diagnósticos (KEALY e MCALLISTER, 2005).

Os órgãos de répteis, inclusive de quelônios, que são melhores visibilizados na ultrassonografia incluem o coração, fígado, vesícula biliar, vesícula urinária, cólon e órgãos reprodutivos femininos. Em alguns animais pode ser útil para avaliação do

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estômago, intestino delgado, baço, pâncreas, rins e testículos (STETTER, 2006). Considerando a grande utilidade da ultrassonografia para avaliação de tecidos moles, seu uso nessa espécie poderia favorecer a realização de diagnósticos como de esteatose hepática, que mostram um aumento difuso na ecogenicidade (NYLAND et al., 2005b; DUTRA, 2007; REDROBE, 2010), deposição de ácido úrico em tecidos moles que cursa com depósitos hiperecóicos detectados nos rins e no coração (REDROBE, 2010), ou de enfermidades associadas ao sistema reprodutor de jabutis, ingestão de corpos estranhos e intoxicação química (FRYE, 1991; PENNINCK, 2005; FRYE, 2007).

Sendo assim, o objetivo desse estudo foi caracterizar a morfologia ultrassonográfica dos órgãos da cavidade celomática do jabuti-piranga (Chelonoidis

carbonaria) com o intuito de contribuir para o diagnóstico de enfermidades nessa

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2 REVISÃO DE LITERATURA

2.1 Jabutis

2.1.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS

O termo quelônio refere-se à ordem de répteis com casco (O’MALLEY, 2005). Existem aproximadamente 13 famílias, 75 gêneros e 290 espécies dentro dessa ordem (BOYER e BOYER, 2006; CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007). Na fauna brasileira destacam-se: as tartarugas marinhas, as tartarugas da Amazônia, os jabutis, os tracajás e as muçuãs, perfazendo ao todo 33 espécies (TEIXEIRA, 2009). Os jabutis são animais terrestres, ectotérmicos, de corpo compacto, membros locomotores cilíndricos e robustos, pescoço retrátil e com ausência de dentes. O casco é formado pela carapaça e plastrão, estruturas ósseas revestidas por placas córneas (BOYER e BOYER, 2006; CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007).

As três espécies de jabutis de ocorrência natural no Brasil são do gênero

Chelonoidis carbonaria e C. denticulata, que tem distribuição ampla, e C. chilensis,

que pode ocorrer no extremo sul do país (CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007). Os jabutis-piranga (Chelonoidis carbonaria) são encontrados ainda nas Guianas, Venezuela, Equador e Paraguai e em algumas ilhas do Caribe (LEVINE e SCHAFER, 1992). Esses animais são representados pela classe Reptilia, subclasse Anapsida, ordem Chelonia (ou Testudinata), subordem Cryptodira, superfamília Testudinoidea e família Testudinidae (CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007).

Os C. carbonaria possuem uma carapaça escura com manchas mais claras de amarelo nos centros dos escudos e do lado de fora das bordas da carapaça. Embora haja muita variação, as pernas e a cabeça são muitas vezes coloridas com manchas de vermelho, laranja ou amarelo (LEVINE e SCHAFER, 1992). Os machos medem em média 30,4 cm e as fêmeas 28,9 cm. Podem atingir 40-50 cm e peso de 6 a 12 kg. Eles se alimentam de frutas, mas podem consumir também folhas e cogumelos e até mesmo carcaça de outros animais. Os machos tem plastrão côncavo, cauda alongada e a cloaca tende a ser mais caudal e as fêmeas têm

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plastrão reto e cauda curta. A fertilização em quelônios é interna e ocorre através da copulação. Estima-se um período de vida em torno de 80 anos (FRANCISCO, 1997; BOYER e BOYER, 2006; CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007).

No que diz respeito à avaliação interna, seu casco pode prejudicar a palpação física, reduzir o detalhe radiográfico e interpretação e restringir o acesso acústico para ultrassonografia (DIVERS et al., 2010).

2.1.2 ANATOMIA GERAL DOS ÓRGÃOS INTERNOS

A maior parte dos órgãos internos dos quelônios encontra-se no interior da cavidade celomática, uma cavidade única limitada pelo plastrão na região ventral e carapaça na região dorsal, diferente de mamíferos que possuem duas cavidades para alojar vísceras, a abdominal e torácica, separadas pelo diafragma que é inexistente em quelônios. Alguns dos órgãos que situam-se nessa área são o coração, tireóide, porção final da traquéia, pulmão, fígado, vesícula, biliar, baço, esôfago, estômago, intestino delgado, intestino grosso, pâncreas, rins, bexiga, adrenais, testículos, ovários e oviduto (Figura 1) (BOYER e BOYER, 2006; CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007). Nesta seção, serão rapidamente abordados alguns aspectos da anatomia dos mesmos.

2.1.2.1 Sistema Cardiorrespiratório

O sistema cardiovascular é essencial para a regulação da temperatura corporal dos répteis. Eles são ectotérmicos e dependem da temperatura ambiental para regular sua temperatura corporal. Os batimentos cardíacos são mais baixos do que os observados em pacientes como aves e mamíferos de tamanho similar. Vários fatores contribuem para a variação da frequência cardíaca (FC), incluindo o tamanho do corpo, temperatura, saturação de oxigênio no sangue, ventilação respiratória, estresse postural ou gravitacional, equilíbrio hemodinâmico e estímulo sensorial corporal (KIK e MITCHELL, 2005; MITCHELL, 2009).

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Figura 1 – Anatomia geral de quelônios. A) Vista ventral, o plastrão foi removido. B) Vista ventral, a bexiga foi removida para permitir a visibilização do trato gastrointestinal e o lobo direto do fígado foi erguido para expor a vesícula biliar. C) Vista ventral, o fígado e trato intestinal foram removidos. Neste macho, os testículos estão próximos ao aspecto ventral dos rins. D) Vista mediosagital da anatomia geral.

Fonte: BOYER e BOYER (2006)

A

D B

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O coração situa-se na linha média, levemente caudal ao peitoral, dentro de um pericárdio (Figura 1 A e 1C) (O’MALEY, 2005). Diferente dos mamíferos, quelônios possuem três cavidades cardíacas, dois átrios e um ventrículo. Este último é composto de miocárdio compacto e esponjoso e os átrios são compostos por paredes finas separadas por um septo (KIK e MITCHELL, 2005; VITT e CALDWELL, 2009).

O ventrículo é dividido em três sub-câmaras: cavum pulmonale, a parte mais ventral que se estende cranialmente para a artéria pulmonar, cavum arteriosum e

cavum venosum que se situam dorsalmente e recebem sangue do átrio esquerdo e

direito, e são conectados por um canal interventricular (KIK e MITCHELL, 2005). O átrio direito recebe sangue desoxigenado voltando da circulação sistêmica através do seio venoso, uma câmara ampla localizada na face dorsal do átrio. Sua parede é muscular, mas não tão fina quanto a do átrio. O seio venoso, por sua vez, recebe sangue de quatro veias: veia pré-cava direita, esquerda, veia pós-cava e veia hepática esquerda. Na sístole atrial, o sangue flui para o ventrículo. A posição das válvulas atrioventriculares ocluem o canal interventricular e então o sangue sistêmico flui do átrio direito para as cavidades cavum venosum e cavum pulmonale. Simultaneamente, o sangue pulmonar flui do átrio esquerdo para a cavum

arteriosum. A sístole ventricular é iniciada então pela contração da cavum venosum.

A contração sequencial da cavum venosum e cavum pulmonale resulta na propulsão de sangue dessas duas áreas para o circuito pulmonar de baixa pressão. A artéria pulmonar surge da cavum pulmonale e carrega o sangue desoxigenado para os pulmões. Enquanto a sístole acontece, a cavum arteriosum inicia sua contração e força o sangue a fluir para a cavum venosum parcialmente contraída e para a circulação sistêmica através do arco aórtico direito e esquerdo, levando o sangue oxigenado para a circulação sistêmica. A contração ventricular tende fazer com que a crista muscular fique numa posição fechada com a parede ventricular ventral, criando assim uma barreira contra o fluxo sanguíneo da cavum arteriosum para a

cavum pulmonale (Figura 2) (KIK e MITCHELL, 2005; MURRAY, 2006).

Sendo assim, embora esse septo incompleto permita a passagem sanguínea e isso sugere uma grande mistura de sangue rico e pobre em oxigênio, essa quantidade é minimizada através da oclusão do canal pelas válvulas atrioventriculares, uma série de saliências musculares no ventrículo e o tempo das contrações ventriculares (MURRAY, 2006; MITCHELL, 2009).

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Figura 2 – Desenho esquemático da circulação geral de quelônios.

Em relação ao sistema respiratório, a diferença mais significativa entre a fisiologia dos répteis, mamíferos e aves é a taxa de consumo de oxigênio menor de répteis. Essa diferença reflete na baixa taxa metabólica de répteis (MOSLEY, 2005). A passagem do ar é semelhante ao que ocorre em mamíferos. A traqueia possui anéis cartilaginosos completos, é curta e se bifurca rapidamente para permitir a retração da cabeça. O par de pulmões são esponjosos e ocupam um grande volume na metade dorsal da cavidade, embora seu volume seja reduzido a 1/5 quando seus membros e cabeça estão retraídos. Eles não são circundados por uma cavidade pleural e são separados da cavidade ventral apenas pelas vísceras e por um fino septo pós-pulmonar não muscular (Figura 1 C e 1D) (O’MALEY, 2005).

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2.1.2.1 Sistema Digestivo

O trato gastrointestinal de répteis segue um padrão semelhante ao encontrado em vertebrados superiores, e inclui a boca, cavidade bucal, orofaringe, esôfago, estômago, intestino delgado e intestino grosso. O trato gastrointestinal terminal de répteis, a cloaca, é semelhante ao encontrado em aves (Figura 1 A-D) (MITCHELL e DIAZ-FIGUEROA, 2005).

O esôfago é um órgão tubular músculo-membranáceo, com mucosa constituída de pregas longitudinais, que liga a orofaringe ao estômago e está conectado à porção mais dilatada do estômago (Figura 1 C) (PIZZUTTO et al., 2001; MAGALHÃES, 2010). Sua principal função é transportar alimento ao estômago, porém pode ocorrer ainda digestão mecânica e enzimática neste órgão (DIAZ-FIGUEROA e MITCHELL, 2006).

Incorporado ao lobo esquerdo do fígado encontra-se o estômago, que possui amplas rugosidades e pregas longitudinais na sua mucosa, além de válvulas gastresofágicas e pilóricas (Figura 1 B e 1D) (O’MALEY, 2005; CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007). Sua principal função é armazenar e digerir alimentos através de processos enzimáticos e mecânicos (MITCHELL e DIAZ-FIGUEROA, 2005). Apresenta-se formado pelas regiões cárdica, fúndica e pilórica e em algumas espécies de quelônios mostrou formato de “J” ou “ferradura curvada”. Já na espécie alvo deste estudo mostra formato de “L” com constrição no cárdia e maior afilamento próximo ao duodeno (PIZZUTTO et al., 2001; PINTO, 2006; MAGALHÃES et al., 2010).

O intestino delgado é um tubo longo, fino, enovelado e curto quando comparado ao de mamíferos (OLIVEIRA et al., 1996; PINTO, 2006; CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007; MAGALHÃES, 2010). O final do estômago e início do duodeno está localizado na porção mediolateral direita do animal (Figura 1 B) (PIZZUTTO et al., 2001). Ele continua o processo de digestão dos alimentos e é também o principal local para a absorção de nutrientes. O comprimento do intestino de répteis varia com o tipo de dieta que os animais consomem. Em geral, o intestino de herbívoros é mais longo do que o de onívoros ou carnívoros (DIAZ-FIGUEROA e MITCHELL, 2006).

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em répteis herbívoros, no entanto, essa diferença pode não ser tão evidente em répteis carnívoros. Em quelônios, o cólon serve como um local para a fermentação pós-gástrica, já que o ceco não é muito desenvolvido (DIAZ-FIGUEROA e MITCHELL, 2006; CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007). Em algumas espécies de quelônios, inclusive nesta estudada, o intestino grosso inicia-se com o ceco, caracterizado por uma dilatação e em seguida uma região reta e tubular, constituindo o cólon/reto. Em jabuti-piranga todo o comprimento do cólon é bem dilatado com marcada diminuição no reto, que é curto e pequeno em diâmetro (Figura 1 B) (PIZZUTTO et al., 2001; MAGALHÃES, 2010).

A motilidade gastrointestinal pode ser afetada por uma série de diferentes fatores extrínsecos e intrínsecos. Em répteis em jejum, a motilidade gástrica é caracterizada por duas fases: simples contrações de curta duração, e as contrações mais dispersas ao longo de um período maior. Uma vez que o réptil tenha ingerido uma refeição, as contrações gástricas aumentam. Em quelônios, a comida pode passar através do trato gastrointestinal de 3 a 5 semanas (MITCHELL e DIAZ-FIGUEROA, 2005). Em um estudo de trânsito digestivo com sulfato de bário em C.

carbonaria, foi proposto que numa condição com média de temperatura a 17,7ºC o

contraste demorou 42 dias para passar por todo o aparelho gastrointestinal, permanecendo por aproximadamente 20 dias no ceco (PIZZUTTO et al., 2001).

2.1.2.3 Fígado, Vesícula Biliar, Pâncreas e Baço

O fígado e pâncreas são estruturas aderidas ao estômago e duodeno (VITT e CALDWELL, 2009). O sistema hepático dos répteis parece ser semelhante em estrutura e função ao fígado de outros vertebrados. Sua função consiste no metabolismo de gordura, proteína e glicogênio, e a produção de ácido úrico e fatores de coagulação. Presume-se ainda que ele desempenhe um papel importante na tolerância ao metabolismo anaeróbio, hipotermia e adaptação ao ambiente físico. (MOSLEY, 2005; HERNANDEZ-DIVERS e COOPER, 2006). Em quelônios, o fígado compreende menos de 3 a 4% do peso corporal, porém, é grande em tamanho e está localizado ventralmente aos pulmões, se estendendo de um lado a outro do corpo. É formado por dois lobos maiores que envolvem a vesícula biliar do lado

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direito e possui reentrâncias para o coração e estômago (Figura 1A, 1B e 1C). O fornecimento de sangue para o fígado se dá através da veia hepática portal e artéria hepática (O’MALEY, 2005; HERNANDEZ-DIVERS e COOPER, 2006; CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007; VITT e CALDWELL, 2009).

A vesícula biliar e pâncreas de répteis atuam na digestão e transformação de nutrientes. Em quelônios, os canais pancreáticos e biliares se introduzem no piloro em vez do duodeno. A bile é armazenada na vesícula biliar, e desempenha um papel importante na digestão, absorção e excreção de gordura (MITCHELL e DIAZ-FIGUEROA, 2005).

O pâncreas é uma glândula menor e difusa associado ao estômago e duodeno (Figura 1B e 1D). A função do pâncreas em répteis é semelhante ao de mamíferos, pois também é composto de tecido exócrino e endócrino e sua função consiste basicamente na secreção de fluidos digestivos e produção do hormônio da insulina (DIAZ-FIGUEROA e MITCHELL, 2006; VITT e CALDWELL, 2009).

O baço tem sido citado como um importante órgão no que diz respeito à função hematopoiética e linfática. Ele varia de forma e tamanho nos répteis e está associado ao estômago e pâncreas no mesentério dorsal. Geralmente é uma estrutura ovóide pequena de cor avermelhada a amarronzada (Figura 1D). (GARNER, 2006; HERNANDEZ-DIVERS, 2006). Na tartaruga Chrysemys scripta

elegans, a superfície exterior do baço possuem uma fina cápsula fibromuscular, a

partir do qual trabéculas estendem-se pelo parênquima (KROESE e VAN ROOIJEN, 1982).

2.1.2.4 Sistema Genitourinário

O trato urinário de quelônios consiste em um par de rins, cada um conectado a bexiga pelos ureteres que, por sua vez, é conectada a cloaca pela uretra. O sistema reprodutivo (ovários e testículos), também é conectado ao trato urinário através da cloaca (HOLZ, 2006).

Os rins de quelônios localizam-se na porção caudal da cavidade celomática, imediatamente ventral a carapaça. Em tartarugas marinhas, os rins estão localizados craniais à cintura pélvica. Geralmente são achatados, lobulados, simétricos, e

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encontram-se próximo as gônadas. Os ureteres deixam o rim e entram na bexiga. A uretra curta liga a bexiga à cloaca. Todos os quelônios possuem bexiga com parede fina, distensível, e em algumas espécies, lobulada (Figura 1A, 1C e 1D) (CANNY, 1998; REAVILL e SCHMIDT, 2010).

Variações na morfologia externa entre espécies de quelônios foram descritas (CANNY, 1998). Em Chelonoidis carbonaria, o sistema urinário já foi estudado. Os rins foram descritos como órgãos compactos, de forma piramidal, coloração vermelha escura, aspecto cerebroide (circunvolunções decorrente da disposição dos túbulos contornados proximais), recobertos por uma cápsula, localizados na cavidade celomática, cranialmente ao acetábulo. Os ureteres desembocam no colo da bexiga e não existe uma uretra propriamente dita. Os ductos deferentes abrem-se através de duas papilas no colo da bexiga, cranialmente às aberturas dos ureteres. A bexiga urinária mostrou-se delgada, alongada lateralmente, localizada entre os rins e ventralmente ao reto e com sua abertura na região cranial da cloaca. A histologia mostrou duas regiões, cortical e medular, com estruturas semelhantes às encontradas nos rins dos mamíferos (FARIA, 2003).

Os rins de répteis removem resíduos nitrogenados do sangue e mantem o equilíbrio da água, regulando a remoção ou retenção de água e sais (VITT e CALDWELL, 2009). Em répteis e mamíferos eles são metanéfricos, no entanto, estruturalmente diferem acentuadamente, assim como suas estratégias para a conservação da água, a homeostase de eletrólitos, e eliminação de nitrogênio (MILLER, 1998).

O par de gônadas está localizado anteriormente aos rins (BOYER e BOYER, 2006). Estruturalmente, as gônadas masculinas e femininas são bastante diferentes. Além de produzir gametas, as gônadas também produzem hormônios sexuais (VITT e CALDWELL, 2009).

O sistema reprodutor feminino em quelônios assemelha-se ao de aves. O ovário é um saco de paredes finas, com as células germinais entre as paredes interior e exterior do ovário. A variabilidade da aparência depende da fase da oogênese, variando de uma pequena estrutura de aspecto granulado em um ovário inativo, ou um grande saco lobular preenchido com folículos esféricos em um ovário ativo. Numerosos folículos em desenvolvimento formam a parte visível dos ovários nas fêmeas grávidas. Esses folículos possuem diferentes estágios de desenvolvimento no adulto (Figura 3) (DENARDO, 2006; CUBAS e BAPTISTOTTE,

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2007; VITT e CALDWELL, 2009).

Fêmeas de quelônios também possuem oviduto para formação do ovo. As porções do oviduto denominam-se infundíbulo, magno e istmo. A parte superior do oviduto secreta albumina para passagem do ovo e a parte inferior produz a casca (BOYER e BOYER, 2006; CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007). Ele é adjacente, mas não contínuo, com cada ovário. O óstio do oviduto fica ao lado da parte anterior do ovário, que aumenta durante a ovulação para apanhar os óvulos. O oviduto se abre no seio urogenital da cloaca (VITT e CALDWELL, 2009).

Os testículos são uma massa de túbulos seminíferos envoltos em um saco de paredes finas. Eles variam de ovóide a fusiformes e geralmente são adjacentes uns aos outros. O esperma produzido por estes túbulos passa através do ducto eferente para epidídimo na face medial do testículo. Os ductos vão para o epidídimo que se conecta a cloaca pelo ducto deferente (Figura 1C e 1D) (CUBAS e BAPTISTOTTE, 2007; VITT e CALDWELL, 2009).

Figura 3 – Numerosos folículos ovarianos formando a parte visível dos ovários em Chelonoidis

carbonaria. Est, estômago; Fg, fígado; Ov, folículo ovariano; RE, rim esquerdo; RD, rim direito.

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2.1.2.5 Sistema Endócrino

O sistema endócrino é composto por numerosas glândulas espalhadas em todo o corpo (VITT e CALDWELL, 2009). Porém, serão abordados apenas os órgãos que se encontram no interior da cavidade celomática. O pâncreas e as gônadas estão inclusos neste grupo e foram descritos anteriormente.

Em quelônios, a tireoide é um órgão único e quase esférico localizado próximo à base cardíaca (Figura 1A e 1B) (GARNER, 2006; RIVERA e LOCK, 2008; VITT e CALDWELL, 2009). É encontrada em todas as classes de vertebrados e há variação mínima na estrutura da glândula e hormônios produzidos. Entretanto, os hormônios tem uma grande variedade de funções (RIVERA e LOCK, 2008). Em répteis, a glândula tireoide desempenha um papel fundamental na ecdise, reprodução, regeneração da cauda, crescimento, desenvolvimento, função endócrina e taxa metabólica (RIVERA e LOCK, 2008; VITT e CALDWELL, 2009).

As adrenais são pares de glândulas bilaterais e alongadas que se encontram anterior aos rins em répteis (Figura 1C). Ela possui dois tecidos, cortical e medular, que têm funções distintas. A porção medular produz adrenalina e noradrenalina, que afetam o fluxo sanguíneo para o cérebro, fígado, rins, e músculos estriados, principalmente durante as reações de estresse. O tecido cortical produz uma variedade de hormônios esteroides (VITT e CALDWELL, 2009).

2.2 Ultrassonografia

A área de diagnóstico por imagem em répteis pode ser um desafio, porque a anatomia de muitas espécies de répteis é única e difere consideravelmente quando comparada com espécies de mamíferos ou aves. O conhecimento da anatomia normal e da fisiopatologia das doenças de répteis é essencial para a seleção e interpretação das técnicas de diagnóstico por imagem (SCHUMACHER e TOAL, 2001).

Variadas técnicas de exames de imagem tem sido descritas em répteis, tais como radiografia, ultrassonografia, endoscopia, tomografia computadorizada e

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ressonância magnética (JACKSON e FASAL, 1981; PENNINCK et al., 1991; RAITI e HARMANTI, 1997; RFIBEL et al., 1994; SCHILDGER et al., 1999; PIZZUTTO et al., 2001; SCHUMACHER e TOAL, 2001; STRAUB e JURINA, 2001; ABOU-MADI et al., 2004; MARTORELL et al., 2004; DI BELLO, et al., 2006; STETTER, 2006; VALENTE et al., 2007a,b; VALENTE et al., 2008; REDROBE, 2010; HALL et al., 2011; ZIEGLER et al., 2011; BORTOLINI et al., 2012; OLIVEIRA et al., 2012). Cada uma tem sua utilidade e particularidades próprias. Dentre elas, a ultrassonografia tem um grande potencial de uso na medicina de répteis, pois é uma técnica de diagnóstico primário para a detecção de anormalidades do tecido mole, além de ser um método prático e barato. Ela promove ainda um método não invasivo para avaliar um paciente e o tamanho, localização e arquitetura das estruturas internas (STETTER, 2006).

Este método apresenta uma variedade de usos em espécies exóticas, como por exemplo, determinação do sexo nas espécies monomórficas, verificação do

status reprodutivo, detecção e monitoração de prenhez, avaliação de estruturas e

órgãos anormais e execução de biópsia guiada por ultrassom em lesões e órgãos específicos (REDROBE, 2010). Técnicas ultrassonográficas avançadas, tais como a ecocardiografia têm sido utilizados com sucesso para descrever a morfologia e função cardíaca de répteis (RISHNIW e CARMEL, 1999; SNYDER et al., 1999; SCHUMACHER e TOAL, 2001; SKLANSKY et al., 2001; VALENTE et al., 2008; POSER et al., 2011).

A ultrassonografia já foi descrita em várias espécies de répteis para distinção de sexo, avaliação de órgãos reprodutivos e anatomia (SMITH et al., 1989; SAINSBURY e GLICK, 1991; ISAZA et al., 1993; SCHILDGER et al., 1994; MORRIS e ALBERTS, 1996; SNYDER et al., 1999; SCHILLIGER et al., 2005; SCHILLIGER et al., 2006; AGUISANDA et al., 2011; ENRIQUEZ et al., 2011; PRADES et al., 2013). Em relação aos quelônios há apenas alguns trabalhos realizados sobre ecoanatomia geral (PENNINCK et al., 1991; MARTORELL et al., 2004; VALENTE et al., 2007a, REDROBE, 2010), ultrassonografia guiada para cateterização vascular (DI BELLO et al., 2010), ecocardiografia (VALENTE et al., 2008; POSER et al., 2011) e ultrassonografia associada à reprodução (KUCHLING, 1989; ROBECK et al., 1990; ROSTAL et al, 1990; CASARES et al., 1997; HENEN e HOFMEYR, 2003; MANIRE et al., 2008; COSTA et al., 2009; TEIXEIRA, 2009; PEASE et al., 2010; BLANCO et al., 2012).

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2.2.1 TÉCNICA

O modo ultrassonográfico utilizado para avaliação dos órgãos internos geralmente é o modo-B (modo de brilho) em tempo real, que exibe uma imagem em movimento, em escala de cinza. Esta modalidade mostra os ecos de retorno como pontos brilhantes, cuja intensidade é proporcional à amplitude dos mesmos e cuja posição corresponde à profundidade na qual o eco originou-se. É o método mais utilizado na veterinária por permitir fácil discernimento quanto à anatomia de uma região. Pode ainda ser utilizado o modo-M (modo de movimento) para avaliações de ecocardiografia (NYLAND et al., 2005a).

Para seleção adequada do transdutor deve-se considerar a resolução e profundidade de imagem. Frequências mais baixas produzem menos resolução, porém uma imagem mais profunda do corpo e vice-versa. Por isso, o tamanho do paciente determina os transdutores que são necessários: animais pequenos (cobras, a maioria dos lagartos e pequenos quelônios) requerem a utilização de um transdutor de 7,5-15 MHz e um transdutor 5-8 MHz é utilizado para pacientes de tamanho médio a grande. Uma frequência de 3,5 MHz pode ser utilizada em grandes répteis como grandes crocodilos, tartarugas gigantes, grandes lagartos monitores ou tartarugas marinhas. Rotineiramente usam-se dois tipos de transdutores: microconvexo e linear. O linear é normalmente usado em cobras e lagartos e o convexo é geralmente usado em quelônios (SCHUMACHER e TOAL, 2001; STETTER, 2006; SCHILLIGER, 2011).

É importante a utilização de uma quantidade apropriada de gel sobre o transdutor ou animal para melhorar a resolução de uma imagem de ultrassom. Se for insuficiente pode causar interferências na imagem (MITCHELL, 2009).

O exame ultrassonográfico é um procedimento que não causa dor, então a contenção do animal é baseada no tamanho do paciente, temperamento e mobilidade para o uso de sedação. A maioria dos répteis pode ser trabalhada com contenção manual apenas. Para obter imagem de quelônios sem sedação dependerá da habilidade de se manter os membros estendidos. Para as espécies que retraem fortemente seus membros, a sedação pode ser necessária

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(SCHUMACHER e TOAL, 2001; STETTER, 2006).

O posicionamento em quelônios dependerá do seu tamanho e da área de interesse. Animais pequenos podem ser colocados na mesa com a área de interesse exposta para posicionar o transdutor. Já os médios e grandes podem ser colocados em decúbito dorsal ou esternal, com o plastrão sobre um balde ou mesa para elevar seus membros (STETTER, 2006).

Em quelônios, a carapaça e as placas ósseas subjacentes restringem o posicionamento do transdutor à “janela acústica” das regiões inguinal, pré-femoral, axilar e cervical, onde ele pode ser colocado em contato com o tecido mole. É preferível o uso do transdutor microconvexo devido ao estreito espaço dessas janelas nestes répteis, pois o transdutor linear geralmente é grande para caber na área cervical, axilar ou pré-femoral (SILVERMAN, 2006; REDROBE, 2010).

Para acessar a janela cervical, a cabeça e o membro anterior devem estar completamente estendidos e puxados para os lados. A janela pré-femoral é o local preferido para exame da parte caudal da cavidade celomática. Estica-se o membro posterior para permitir o posicionamento da probe no tecido mole, cranialmente ao membro. Pela janela cervicobraquial obtem-se imagens do coração. A probe deve ser colocada entre o pescoço e membros anteriores e dirigida caudomedialmente. A janela pré-femoral é melhor para obterem-se imagens do fígado, trato grastrointestinal e genitourinário. Examina-se a bexiga angulando-se o transdutor em direção à linha média e o fígado é visto cranialmente à bexiga, abrangendo a linha média (MITCHELL, 2009; REDROBE, 2010).

2.2.2 ANATOMIA ULTRASSONOGRÁFICA

Os órgãos e tecidos dos diferentes sistemas podem ser avaliados, geralmente, de acordo com seu tamanho, bordos e parênquima (ecotextura) (AUGUSTO, 2007).

A ultrassonografia é mais útil que a radiologia para avaliar doenças cardiovasculares em répteis (SILVERMAN, 2006). Em quelônios, a ecocardiografia tem se mostrado útil, pois permite a avaliação do movimento e função cardíaca, função de válvula cardíaca, cardiomegalia, derrame pericárdico e massas

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cardíacas. A ecocardiografia com doppler colorido também pode ser utilizada para avaliar o fluxo sanguíneo do coração. Esta informação é especialmente útil na avaliação de anomalias associadas ao enchimento da câmara, defeitos valvulares e grandes vasos (MITCHELL, 2009).

Estudos em modo-M e Doppler são fáceis de executar em cobras, mas difícil em tartarugas e muitas espécies de lagartos, devido à localização cranial do coração entre os membros dianteiros (SCHUMACHER e TOAL, 2001). Em comparação aos mamíferos, a contratilidade cardíaca e a anatomia interna são bastante diferentes. A contratilidade ventricular em répteis tem mais movimento peristáltico quando comparado com a contração concêntrica em mamíferos. A velocidade do fluxo sanguíneo intracardíaco também é menor em répteis e o padrão de turbilhonamento atrial é normal (SILVERMAN, 2006).

As paredes dos ventrículos e átrios, as válvulas atrioventriculares e os vasos coronarianos principais podem ser examinados (REDROBE, 2010). O miocárdio ventricular é relativamente espesso e irregular na face interna, e é difícil de diagnosticar hipertrofia ou doença cardíaca (SCHUMACHER e TOAL, 2001; SILVERMAN, 2006). O achado de pequena quantidade de fluido pericárdico em um paciente normal não é incomum (STETTER, 2006).

A aparência ultrassonográfica cardíaca já foi descrita em tartarugas do ouvido vermelho (Trachemys scripta elegans) e tartarugas marinhas (Caretta caretta). Em geral, o ventrículo mostra paredes espessas, homogênea e aparência trabeculada (MARTORELL et al., 2004; VALENTE et al., 2007a; VALENTE et al., 2008; POSER et al., 2011). Os átrios podem ser identificados como ovais e anecóicos com uma parede ecogênica delgada (VALENTE et al., 2007a). Folhetos da válvula aparecem como linhas móveis hiperecóicas no anel atrioventricular ou nos grandes vasos. O pericárdio é visível como uma interface hiperecóica enquanto uma pequena quantidade de efusão pericárdica pode ser detectada (POSER et al., 2011). As artérias pulmonares, arcos aórticos e vasos do sinus venoso foram identificados (VALENTE et al., 2007a; VALENTE et al., 2008).

O fígado apresenta ecotextura uniformemente homogênea, ecogênica, com textura grosseira e granular, similar à dos mamíferos (MATORELL et al., 2004; VALENTE et al., 2007a; REDROBE, 2010). Em répteis, o fígado é proporcionalmente maior que em outros animais e é bilobado em quelônios (STETTER, 2006; AUGUSTO, 2007). Pode ser localizado ventralmente no meio da

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cavidade celomática (MATORELL et al., 2004) e imediatamente adjacente ao coração (STETTER, 2006). Vasos sanguíneos podem ser examinadas em modo B e o fluxo sangüíneo por Doppler colorido ou pulsado. Os vasos hepáticos são estruturas tubulares anecóicas e alguns dos vasos hepáticos podem ter uma parede hiperecóica, como a veia portal de mamíferos (MATORELL et al., 2004; VALENTE et al., 2007a). Na maioria das espécies, a vesícula biliar é facilmente reconhecida como uma estrutura arredondada, oval ou elíptica e anecóica com reforço acústico distal. Em quelônios, ela está embutida no fígado no lado direito da linha média (MATORELL et al., 2004; STETTER, 2006; VALENTE et al., 2007a; REDROBE, 2010).

Mesmo com avanço na área de ultrassonografia, o exame do trato gastrointestinal (TGI) vai depender da experiência do ultrassonografista, pois a presença de gás ou conteúdo provoca a formação de artefatos que prejudicam a avaliação (AUGUSTO, 2007). Se o estômago estiver vazio, preenchido com digesta ou fluido, pode ser visualizado adjacente ao fígado, porém, caso esteja preenchido com gás, é dificilmente visibilizado (STETTER, 2006).

O TGI é comparável ao dos mamíferos. O estômago pode ser localizado caudal ao lobo esquerdo do fígado, com paredes ecogênicas e pregas visíveis (MATORELL et al., 2004; VALENTE et al., 2007a). A imagem ultrassonográfica do intestino possui estratificação em cinco camadas, os quais foram associados a outras espécies, como, de superficial a profunda, serosa, muscular, submucosa, mucosa, e lúmen intestinal. A parede do intestino delgado é mais espessa do que a do intestino grosso. As camadas serosa e submucosa são identificadas como linhas ecogênicas; entre elas, a camada muscular tem uma aparência hipoecóica a anecóica. A mucosa é hipoecóica e a mais espessa. Já a parede do intestino grosso não têm camadas claramente distinguíveis (VALENTE et al., 2007a; PEASE et al., 2010 ).

A peristalse intestinal é mais lenta em répteis (SILVERMAN, 2006). Como relatado anteriormente, em um estudo de trânsito digestivo com sulfato de bário em

C. carbonaria, sugeriu-se que numa condição com média de temperatura a 17,7ºC o

contraste demorou 42 dias para passar por todo o aparelho gastrointestinal, 16 horas para esvaziamento gástrico e aproximadamente 20 dias de permanência no ceco (PIZZUTTO et al., 2001).

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essencial na medicina de animais selvagens (AUGUSTO, 2007). Em fêmeas de quelônios tem sido usada para detectar, contar e mensurar os folículos ovarianos e ovos oviductais. Esses números podem ser comparados com o número final de ovos postos pelas fêmeas na avaliação de distocia e investigação de períodos gestacionais. Porém, nas espécies que desenvolvem grande número de folículos não é possível fazer uma estimativa exata (REDROBE, 2010).

Em fêmeas de quelônios reprodutivamente ativas o ovário é um dos maiores órgãos da cavidade celomática, e os folículos ovarianos ocupam uma parte substancial do mesmo (MATORELL et al., 2004). Os ovários são órgãos pareados, alongados, presos ao peritônio de cada lado da linha média dorsal, anteriores com relação a cintura pélvica (REDROBE, 2010). Ovários inativos são difíceis de localizar e identificar, eles são anecogênicos e pequenos em cobras e lagartos, enquanto são hiperecogênicos em testudíneos (SCHUMACHER e TOAL, 2001; SCHILLIGER, 2011). Em alguns estudos realizados, os folículos foram descritos como arredondados a ovais, de tamanho variável e ecogênicos (MATORELL et al., 2004; MANIRE et al., 2008; COSTA et al., 2009). Quando ocorre a ovulação, a gema hiperecóica é visualizada no centro, cercada pela albumina escura, hipoecóica, que é possível ser vista dependendo do grau de calcificação da casca do ovo (MATORELL et al., 2004; REDROBE, 2010). O oviduto fica entre os folículos ovarianos, e aparece como uma estrutura sigmóide, hipoecóica, em forma de acordeão (MATORELL et al., 2004).

Vários trabalhos foram realizados utilizando a ultrassonografia relacionada ao sistema reprodutivo feminino em quelônios com objetivos diversos. Um estudo sobre o acompanhamento da vitelogênese em quelônios de três espécies diferentes, determinou que através da janela acústica cranial foi mais fácil visualizar os folículos enquanto que pela janela inguinal esquerda foi melhor a observação dos ovos e foi sugerido que a eficácia do exame está correlacionada com o tamanho corporal, formato do plastrão, estruturas e ciclos reprodutivos (HENEN e HOFMEYR, 2003). Em outro estudo sobre o acompanhamento de estruturas foliculares e ovos em Lepidochelys kempi mantidas em cativeiro, observaram-se folículos vitelogênicos de 10 a 30 mm de diâmetro e ovos com casca de 38,8 + 1,5 mm (ROSTAL et al., 1990). Casares et al. (1997) acompanharam o ciclo ovariano de Geochelone nigra (tartaruga de Galápagos) e foi possível observar a presença de folículos em desenvolvimento, pré-ovulatório e em atresia. Os folículos

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tornavam-se pré-ovulatórios com 40-42 mm e os ovos eram liberados com 34-84 dias após a detecção de deposição de fina casca no ovo ainda no oviduto (CASARES et al., 1997). Já num estudo realizado com Chelonoidis carbonaria e C. denticulata, o recrutamento folicular foi estimado pelo número de estruturas que podiam ser visualizadas com tamanhos semelhantes. Vitelos com diâmetros entre 3 e 4 cm eram ovulados pelas C. carbonaria e folículos em desenvolvimento foram considerados como menores que 1,99 cm enquanto folículos desenvolvidos maiores que 2 cm. Já na C. denticulata os vitelos ovulados eram um pouco maiores, entre 4 e 5 cm de diâmetros e folículos em desenvolvimento foram considerados como menores que 2,99 cm enquanto folículos desenvolvidos maiores que 3 cm. Vitelos ovulados podiam ser verificados nos ovos com casca fina, já que se visualizava a gema e a chalaza (TEIXEIRA, 2009).

Em quelônios machos, os testículos localizam-se cranial e ventralmente aos rins, mostram-se uniformemente ecogênicos e ligeiramente mais hipoecóicos, se comparados aos rins adjacentes (REDROBE, 2010). Já em tartaruga marinha foi descrito com poucas diferenças, como hiperecóicos quando comparado ao parênquima renal e moderadamente grande. Caudalmente ao testículo foi identificado ainda o epidídimo como inúmeras estruturas tubulares anecóicas (PEASE et al., 2010).

A avaliação do trato urinário em quelônios geralmente se dá pelas janelas caudais. Os rins de quelônios estão em uma posição retrocelomática. Eles estão localizados perto da carapaça, caudal às gônadas e à bexiga. Apresentam ecotextura homogênea, o centro do rim é frequentemente hipoecóico e o restante de ecogenicidade moderada.Não há nenhuma distinção entre a pelve renal, medula e córtex como é o caso de mamíferos (SCHILLIGER, 2011). Possuem formas variáveis dependendo da espécie. Em tartarugas marinhas (Caretta caretta) foi descrito como uma estrutura em forma de vírgula, com vascularização intensa, uma área uniformemente ecogênica, sem uma pelve e cápsula renal distinta. A veia renal era visível cranial à o rim (VALENTE et al., 2007a). Em outro trabalho com a mesma espécie, encontra-se algumas diferenças e adições na descrição, como a forma que foi vista como uma estrutura oval e a hiperecogenicidade com os tecidos moles circundantes e gordura, com contornos bem delimitados, além de conter focos pequenos hiperecóicos que não projetavam sombras acústicas (PEASE et al., 2010). Já em tartarugas do ouvido vermelho (Trachemys scripta elegans) tinha uma

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forma lobular, e é isoecogênico com os tecidos circundantes. Distingui-se a cápsula renal que é levemente hiperecogênica. Os ureteres não podem ser visibilizados (MATORELL et al., 2004).

A bexiga quando cheia de urina é vista como uma estrutura oval ou arredondada anecóica e pode ser vista anterior aos rins. Uratos podem ser detectados como partículas hiperecóicas flutuantes (MATORELL et al., 2004; VALENTE et al., 2007a; PEASE et al., 2010; REDROBE, 2010; SCHILLIGER, 2011).Essas partículas podem ser relacionadas não só com a presença de cristais de urato, mas também a parasitas ou material fecal, que poderia ter entrado como resultado da sua ligação fechada com a cloaca (VALENTE et al., 2007a). Também já foi detectado o artefato de lóbulo lateral, semelhante ao que ocorre em mamíferos (PEASE et al., 2010). A presença de fluido livre na cavidade celomática pode contribuir para distinguir a parede da bexiga como uma linha hiperecóica (MATORELL et al., 2004).

A presença da bexiga ou cólon devem ser distinguidos em animais que possuem uma quantidade significativa de transudato celomático (ascite). Na presença de ascite, uma quantidade significante de fluido pode ser vista entre os órgãos viscerais, e em casos severos, fígado, gordura, intestino e demais órgãos podem ser vistos flutuando. Lagartos e quelônios normalmente tem uma pequena quantidade de fluido celomático livre sem qualquer evidência de doença (STETTER, 2006).

O pulmão é identificado como uma estrutura linear hiperecóica produtora de reverberação ao colocar o transdutor na face lateral da região inguinal, medial a borda da carapaça com orientação numa direção ligeiramente medial (PEASE et al., 2010).

O baço, pâncreas, tireoide e adrenais não foram descritos ultrassonograficamente em quelônios até o momento desta revisão. O baço em grandes cobras pode ser identificado graças à sua forma circular e à sua ecogenicidade mais acentuada do que o fígado. Ele encontra-se atrás do fígado, perto da vesícula biliar e do pâncreas, em posição cranial relativamente às gônadas. Em lagartos, no entanto, é bastante difícil de localizar por causa de seu pequeno tamanho. O pâncreas é sempre menos ecogênico do que o fígado e particularmente difícil de visualizar. Em lagartos, por outro lado, é bastante visível (REDROBE, 2010; SCHILLIGER, 2011).

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2.2.3 ENFERMIDADES

Variados tipos de doenças podem ocorrer nos órgãos internos de répteis. Em quelônios, a avaliação destes pode ser prejudicada pela dificuldade de palpação destes órgãos, ocasionada pela presença do casco (DIVERS et al., 2010). Neste caso, os exames de imagem são de valioso auxílio. Ainda assim, deve-se fazer cuidadoso exame clínico e físico para melhor auxílio diagnóstico. A imagem ultrassonográfica da maioria dessas enfermidades pode ser comparada ao que acontece em mamíferos (REDROBE, 2010). Neste item, serão descritas as principais alterações que ocorrem em répteis/quelônios e podem ser ou já foram identificados através da ultrassonografia.

Doenças cardíacas podem se manifestar de variadas formas, dependendo de sua etiopatogenia. Cardiomegalia generalizada, endocardite, fluido pericárdico e tumores cardíacos tem sido identificados com ultrassom. Sinais extracardíacos de insuficiência, como congestão hepática venosa, efusão pericárdica e ascite, podem também ser identificados. A ultrassonografia é mais útil que a radiologia para avaliar doenças cardiovasculares em répteis (SILVERMAN, 2006).

Doenças nutricionais, como deficiência de vitamina E e B1 podem levar a anormalidades do músculo cardíaco, como alterações morfológicas compatíveis com cardiomiopatia ou cardiomegalia, principalmente dilatação atrial. Doenças infecciosas e parasitárias também podem levar a alterações cardíacas (MOSLEY, 2006; REDROBE; 2010). Uma cobra foi diagnosticada com endocardite séptica, na qual uma massa foi vista através de ultrassonografia no átrio direito (JACOBSON et al., 1991). Insuficiência valvular com congestão cardíaca também já foi descrito em cobras (RISHNIW e CARMEL, 1999). Trombo endocardial foi encontrado em uma tartaruga de couro (Dermochelys coriacea) em exame de necropsia, porém sua etiologia não foi determinada (OBENDORF et al., 1987). Efusão pericárdica e dilatação atrial foram identificadas ultrassonograficamente em uma tartaruga grega (Testudo graeca) (REDROBE e SCUDAMORE, 2000).

O critério diagnóstico para doença hepática difusa ou focal é similar àquele descrito em mamíferos. Cicatrizes e abcessos hepáticos são detectados como uma

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mudança na homogeneidade da imagem. Abcessos hepáticos são comumente reportados em necropsias de quelônios idosos. Tais lesões são facilmente detectadas por ultrassom quando se apresentam como lesões discretas da arquitetura do fígado. Entretanto, a diferenciação entre abcesso e neoplasia exige um exame histopatológico. Áreas irregulares de ecogenicidade são mais típicas de doenças inflamatórias (SILVERMAN, 2006; REDROBE, 2010). O aumento da ecogenicidade normalmente é o resultado de lipidose hepática, lesão relativamente comum em répteis cativos (FRYE, 1991; DIVERS e COOPER, 2000; NYLAND et al., 2005b; DUTRA, 2007; REDROBE, 2010). Cirrose hepática foi descrita macroscopicamente em um jabuti-piranga (C. carbonaria) como diminuição de tamanho e presença de nódulos firmes esbranquiçados que variavam de 0,3 a 1 cm de diâmetro, sem presença de tecido hepático normal (GUEDES e LAVALLE, 2004). Em animais domésticos, podem-se observar achados ultrassonográficos semelhantes aos descritos nesta necropsia, como diminuição de tamanho, margens irregulares, nódulos regenerativos e ascite (NYLAND et al., 2005b). Traumatismos hepáticos e esplênicos foram descritos em necropsia de tartarugas como multifocalmente dilacerados (HOMER et al., 1998). Caso haja ocorrência de hematomas, eles podem ser vistos de diferentes formas e de acordo com o tempo de evolução; a hemorragia aguda é ecogênica e depois torna-se anecóica ou hipoecóica até que ocorra a formação de coágulo hiperecóico (NYLAND et al., 2005b).

A ultrassonografia também é usada para obter aspirados para citologia e microbiologia hepática. A agulha é introduzida e direcionada para a área apropriada guiada pela ultrassonografia. Uma agulha de 27 gauges é usada para o aspirado. Isso permite que o clínico obtenha uma maior quantidade de amostra enquanto evita estruturas vasculares maiores. Colecistocentese pode ser realizada para estudos microbiológicos. A vesícula biliar é visível em estudos ultrassonográficos e acessível para aspiração. O vazamento da bile deve ser considerado (SILVERMAN, 2006).

Sinais clínicos como anorexia, polifagia, prolapso, regurgitação, êmese, diarréia, constipação, letargia e perda de peso podem sugerir problemas no trato digestivo. Modalidades de diagnóstico por imagem normalmente empregadas em espécies domésticas podem ser usada em répteis. Diagnósticos diferenciais incluem doenças degenerativas, metabólicas, neoplásicas, nutricionais, inflamatórias, infecciosas, traumáticas ou intoxicação (BENSON, 1999).

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A ultrassonografia inclui a avaliação da motilidade gastrointestinal, espessura e arquitetura da parede, massas intramurais e processos obstrutivos (BENSON, 1999). Embora a peristalse intestinal seja mais lenta em répteis, a pressão do intestino atônico dilatado por fluido em um paciente que não tenha comido recentemente deve ser considerado suspeito. A obstrução por massas pode ser identificada adjacente ao segmento dilatado (SILVERMAN, 2006). É importante notar que um réptil obstruído pode ou não ter o acúmulo de gás que se vê em pacientes mamíferos (BENSON, 1999). A ingestão de corpos estranhos já foi relatada em três jabutispiranga (C. carbonaria), porém, foi empregado apenas o método radiográfico para diagnóstico (CONCEIÇÃO et al., 2011). Apesar de ser difícil a avaliação de corpos estranhos pela ultrassonografia, ela é valiosa para avaliar a integridade dos órgãos comprometidos e o extravasamento de conteúdo para a cavidade (LANG, 2010). Corpos estranhos intraluminais hiperecóicos exibem sombra acústica distal (SILVERMAN, 2006). Foram identificados seis casos de amebíase em tartarugas (Acinixys planicauda). A necropsia revelou extensa ulceração com pseudomembrana esverdeada ao longo do comprimento da parede mais espessa do cólon e disseminados focos verdes no fígado (OZAKI et al., 2000). Grande diversidade de tumores gastrointestinais tem sido relatada em répteis. Adenocarcinoma gástrico foi diagnosticado em tartarugas e era tipicamente invasivo, observando-se também espessamento da parede gástrica (GARNER et al., 2004). Em animais domésticos, o sinal ultrassonográfico de úlcera é geralmente um espessamento localizado da parede com ou sem cratera. Gatos com adenocarcinoma do cólon apresentaram espessamento e perda de camadas (PENNINCK, 2005).

Uma variedade de doenças renais tem sido descritas em répteis, incluindo cistos renais, nefrite intersticial, glomerulonefrite, pielonefrite, glomeruloesclerose, nefroesclerose, glomerulonefrose, tubulonefrose, edema renal, amiloidose, gota, adenocarcinoma e adenoma tubular (HERNANDEZ-DIVERS e INNIS, 2006; REAVILL e SCHMIDT, 2010). Ultrassonograficamente, os rins devem ser avaliados quanto a alterações morfológicas, incluindo formato e tamanho. Os cistos renais, neoplasias, abscessos e cristais de gota podem ser localizados e biópsias guiadas por ultrassom podem ser obtidas (SCHUMACHER e TOAL, 2001; HERNANDEZ-DIVERS e INNIS, 2006). A gota visceral pode demonstrar áreas hiperecóicas de deposição de ácido úrico em tecidos moles como consequência da desidratação;

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esses depósitos podem ser vistos nos rins e coração (REDROBE, 2010). Adenocarcinoma renal tem sido comumente relatado em cobras, mas pouco frequentemente em quelônios e são geralmente grandes, unilaterais e solitários e substituíram grande parte do parênquima renal normal (GARNER et al., 2004). É importante estar familiarizado com a anatomia normal e localização dos rins nas espécies examinadas (SCHUMACHER e TOAL, 2001). Lesões inflamatórias, escleróticas, ou necróticas geralmente cursam com aumento da ecogenicidade do parênquima renal em cães e gatos (NYLAND et al., 2005c).

Cálculos urinários são hiperecóicos e produzem sombreamento acústico distal (SILVERMAN, 2006). Urólitos são exibidos na imagem como estruturas hiperecóicas dentro da bexiga. Normalmente, a parede vesical só é detectada em caso de espessamento, como o provocado pela irritação crônica (REDROBE, 2010). Num estudo com tartarugas do deserto foram encontrados urólitos em 3 animais. Em um animal foi encontrado ainda cristais de urato intratubular e intersticial renal e nas articulações coxofemorais e escapuloumerais (HOMER et al., 1998). Pseudocálculos também são vistos em tartarugas. Apesar de ser incomum, o ovo completamente desenvolvido pode sofrer retropropulsão para a bexiga e pode se desenvolver progressivamente para um cálculo (MADER, 2006). O ovo geralmente produz menos sombreamento acústico do que o cálculo urinário (SILVERMAN, 2006).

Das enfermidades que acometem o sistema genital de répteis, a retenção de ovos tem grande prevalência em quelônios. Foram estudados 14 fêmeas de jabutipiranga (C. carbonaria) quanto à retenção de ovos e foram encontrados ovos com alterações de formato e de tamanho aumentado e hipercalcificação das cascas, presença de corpo estranho ou fezes ressecadas no trato gastrintestinal, doença osteometabólica, bem como a associação da retenção de ovos com prolapso de oviduto. A utilização de técnicas radiográficas no diagnóstico definitivo da retenção de ovos mostrou-se indispensável (MATIAS et al., 2006). Entretanto, a ultrassonografia pode ser útil na avaliação de outras causas de retenção, como neoplasias ou lesões granulomatosas no aparelho reprodutor, sendo geralmente são amorfas (SILVERMAN, 2006). Ademais, o ultrassom pode penetrar a fina casca de ovos de algumas espécies, para detectar o conteúdo espesso de ovos retidos. Este exame tem se mostrado uma boa orientação para determinação da idade do ovo e, portanto, para o diagnóstico de distocia (REDROBE, 2010).

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3 MATERIAL E MÉTODOS

3.1 Local e autorização do estudo

O experimento foi realizado com jabutis-piranga, Chelonoidis carbonaria, no Parque Zoológico da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), campus Cuiabá, no Hospital Veterinário (HOVET) da UFMT, devidamente autorizado pelo Comitê de Ética em Pesquisa Animal (CEPA) sob protocolo 23108.010553/13-2 e Sistema de Autorização e Informação em Biodiversidade (SISBIO) sob protocolo 38420-1.

3.2 Animais

Foram selecionados 38 animais para a pesquisa, 19 machos e 19 fêmeas, pesando de 4 a 10 kg e com aproximadamente 30 a 50 cm de comprimento. Os animais foram posicionados em decúbito dorsal para sexagem, que foi realizada através da visibilização do plastrão, que é côncavo em machos e reto ou convexo em fêmeas, e da abertura da cloaca, que é mais caudal nos machos e mais cranial nas fêmeas (CUBAS E BAPTISTOTTE, 2007). Para biometria corporal, o comprimento da carapaça foi mensurado através de uma trena.

3.3 Exame clínico e físico geral

Os exames clínico e físico foram realizados a campo através da inspeção, palpação/manipulação do casco, olhos, bico, escamas timpânicas, tegumento, aberturas nasais, cloaca e membros. A aferição cardíaca e avaliação da cavidade oral foram realizadas apenas no momento do exame ultrassonográfico, devido à dificuldade em realizar esse exame a campo. Foram excluídos da pesquisa aqueles

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que apresentaram quaisquer alterações.

3.4 Pesagem, identificação, contenção e manutenção dos animais

Os animais foram mantidos em baias adaptadas no HOVET UFMT para realização de jejum alimentar.

Foram pesados em balança fixa e para identificação, foram marcados com caneta nos escudos córneos da carapaça. Além disso, foram microchipados na região axilar subcutânea, após anestesia.

Foram contidos através da imobilização manual e, após a contenção física, foi aplicado o anestésico cetamina+midazolan (40mg/kg e 2mg/kg) via intramuscular (SCHUMACHER e YELEN, 2006) com intuito de que os animais mantivessem seus membros em extensão, para fora da proteção da carapaça, o que possibilitou a realização do exame. Ao término dos exames, os animais foram reavaliados, alimentados e devolvidos ao recinto de origem.

3.5 Exames laboratoriais

Em 12 animais, foi realizado ainda exame bioquímico (ALT) obtido pela contagem através do Aparelho Semi-automático de Bioquímica SB 190 Celm. Os exames foram realizados no mesmo dia da colheita e os parâmetros normais da leitura foram obtidos através de dados para esta espécie e similares (DIETHELM e STEIN, 2006).

3.6 Exame ultrassonográfico

Os animais foram mantidos em decúbito ventral, com uma adaptação para suspensão dos mesmos (Figura 4A), de forma que seus membros ficassem livres de

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