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A TERRITORIALIDADE E AS EXPRESSÕES DA VIOLÊNCIA EM ITUIUTABA/MG: UMA ANÁLISE SOBRE OS CRIMES COMETIDOS CONTRA A PESSOA

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A TERRITORIALIDADE E AS EXPRESSÕES DA VIOLÊNCIA EM ITUIUTABA/MG: UMA ANÁLISE SOBRE OS CRIMES COMETIDOS

CONTRA A PESSOA

Naiana Dias Pereira Silva1

RESUMO

Uma das expressões da questão social e do conflito capita X trabalho que vêm aumentando gradativamente com o passar dos anos é a criminalidade, gerando violência e assumindo contornos assustadores, levando o Brasil a chegar no ranking de 3ª posição de países com maiores números de encarcerados, perdendo apenas para os Estados Unidos e a China. E um dos crimes que causa grande danos a toda população é o homicídio que está englobado naqueles que são cometidos contra a pessoa, e também teve um aumento exagerado em apenas duas décadas chegando a aumentar quase 400% em algumas capitais com maior índices de violência e criminalidade. Esta realidade também precisa ser levada a efeito sobretudo no que diz respeito a cidade de Ituiutaba-MG, pois nos últimos anos ela vêm sendo considerada como estratégica para a atuação de quadrilhas internacionais do tráfico de drogas, sendo assim umas das principais rotas do tráfico de drogas do Triangulo Mineiro, fazendo com que a violência nesta cidade também aumente gradativamente, inclusive com a inserção de crimes que antes pouco era notificado na cidade, como o homicídio.

Palavras-chave: Território, violência, criminalidade, homicídio.

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INTRODUÇÃO, MATERIAL E MÉTODOS

A pesquisa do Programa Institucional de Bolsistas de Iniciação Científica – PIBIC, intitulada: A territorialidade e as Expressões da Violência em Ituiutaba-MG: Uma análise dos crimes cometidos contra a pessoa, com início em março de 2013, foi realizada com o intuito de conhecer os tipos de crime que mais são recorrentes na cidade de Ituiutaba, sobretudo, no que se refere ao crime contra a pessoa, e em quais são os bairros que estes acontecem com maior freqüência, levando em consideração a crescente onda de violência e criminalidade que vem tomando contornos assustadores nas ultimas décadas.

Diante as várias expressões que a criminalidade vêem assumindo na sociedade atual refletimos sobre uma nova ordem que se cria na sociedade que é movida pelos efeitos mais nefastos que a globalização pode causar, juntamente com o neoliberalismo e todas as transformações do mundo trabalho.Estes processos são resultados da crise estrutural do capital, onde os efeitos mais nefastos foram sentidos pelos trabalhadores, que muitas vezes ficaram sem seus direitos legais e ainda foram submetidos a uma crise de precarização do trabalho e também a um desemprego estrutural. (MIRANDA, 2008) A globalização é um dos fortes elementos que constituem o capitalismo contemporâneo se transformando em consenso entre os críticos desse processo como evolui e se desenvolve desigualmente. Para a grande parte da humanidade, a globalização se impõe como uma fábrica de perversidades e redesenha um novo tipo de pobreza: a pobreza

estrutural globalizada mediante os índices alarmantes de desemprego e os efeitos dele

decorrentes (SANTOS 2004). Retratando assim uma generalização da pobreza, onde ela se concretiza de forma permanente e globalizada, sendo considerada como forma de reprodução do próprio sistema capitalista, no qual a propria historia nos mostra como algo natural.

O capitalismo diante o processo de globalização, coloca formas de níveis de produção que acarreta em formação de classes sociais, o que ocasiona a regressão social de um lado e do outro comprime o progresso social.

Com o isso vem o neoliberalismo, que para suprir esses direitos e garantias de trabalho, flexibiliza e consolida políticas onde o Estado minimamente contribui para a precarização e privatização das políticas publicas:

Uma concepção de homem (considerado atomisticamente como possessivo, competitivo e calculista), uma concepção de sociedade (tomada como agregado fortuito, meio de o indivíduo realizar seus propósitos privados)

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fundada numa idéia da natural e necessária desigualdade entre os homens e uma noção rasteira de liberdade (vista como função da liberdade de mercado) (NETTO e BRAZ apud MIRANDA, 2008, p. 27).

O capitalismo assim, acirra as desigualdades sociais, contribuindo para aumentar as taxas de desemprego e para o desmantelamento dos sistemas de proteção social como alternativa para o aumento dos postos de trabalho. O desemprego estrutural é, portanto, proveniente de determinações constitutivas da ordem econômica contemporânea. O desemprego tornou-se um ideal buscado pelas organizações públicas e privadas como um símbolo de sucesso, como estratégias bem sucedidas de ajustamento às condições de mercado.

Como resultados das medidas de corte neoliberal salientam-se o desemprego e a precarização do trabalho, a qual se manifesta de múltiplas formas. Essas duas faces da moeda – desemprego e precarização - contribuem para a degradação das condições de trabalho, reestruturando o mercado e alargando a heterogeneidade social com trabalhos parciais, terceirizados, temporários.(MIRANDA 2008).

De acordo ainda com Miranda 2008, presenciamos, atualmente, de acordo com Antunes (2006), um processo de liofilização organizacional, em que o trabalho vivo é substituído pelo trabalho morto, caracterizando o enxugamento das empresas. A

empresa enxuta constrange, restringe, coíbe o trabalho vivo, ampliando o maquinário

tecnocientífico, denominado por Marx de trabalho morto, reduzindo a força de trabalho e ampliando a sua produtividade (ibidem, p.44). Nesse sentido, com a introdução de novas tecnologias, o quantum de trabalho vivo necessário à valorização do capital diminui, reestruturando e modificando a produção, incrementando a flexibilidade, ocasionando a destruição do emprego e aumentando o desemprego estrutural.

Ocorrem, então, a redução de direitos e de salários e a intensificação da exploração do trabalho. Para os trabalhadores considerados excedentes da força de trabalho, restam ocupações na informalidade, caracterizadas pela precariedade na qualidade da atividade, nas condições de trabalho e salário e na organização por categoria (LIRA, 2006).

Marx (1982) por exemplo, quando descreve a situação da classe trabalhadora do século XIX, observa o surgimento de uma grande massa de trabalhadores excluídos do processo produtivo,os quais fazem do exército de reserva da força de trabalho. Estes números que resulta da superpopulação relativa que vive no pauperismo é denominado por ele de lumpen-proletariado, o qual agrega a parcela degradada do proletariado: os

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“criminosos”, os “vagabundos” e as “prostitutas”. A esse respeito, Dorneles (1992) afirma:

As contradições do sistema capitalista explicam o processo criminalizador com base na lógica de funcionamento da relação capital-trabalho. A força de trabalho diretamente integrada à produção vive a desigualdade da relação entre o seu esforço e o benefício recebido, entre a energia gasta e a recompensa pela cessão de seu tempo de trabalho ao capital. A força de trabalho excedente, desempregada, se vê obrigada a garantir a sua existência através de artifícios e de estratégias de sobrevivência que vão do biscate ao crime. É a utilização de meios ilegítimos para compensar a falta dos meios legítimos de sobrevivência (DORNELES apud MIRANDA, 2008, p. 29).

Essa realidade é ainda intensificada quando diz respeito aos jovens, já que de acordo com dados coletados junto ao DEPEN – Departamento Penitenciário Nacional, a população carcerária do Brasil, em sua maioria, é composta de jovens em idade ativa (54,53% tem menos de trinta anos), com baixa escolaridade (97% são analfabetos ou semi-analfabetos), com grande inserção na prática de crimes de furtos e roubos (47%) e com um alto índice de reincidência criminal (85%). Zaluar (1994) aponta que um aspecto motivador da inserção do jovem na criminalidade refere-se à formação de uma visão negativa do trabalho, constituída a partir de suas próprias experiências e da observação da vida de seus pais. Onde os jovens vêm-se inseridos em famílias de pais que trabalham muito e têm muito pouco.Dessa forma, muitos jovens veem seus pais como “pessoas que trabalham ‘sem descanso’, ‘se arrebentam’, trabalham de ‘segunda a segunda’, e que, portanto, não têm mais lazer, cujas vidas não comportam mais o prazer” (ZALUAR, 1985, p.93). O jovem, então, vê diante de si duas alternativas: “o trabalho duro, desinteressante e muito mal pago ou a vida perigosa, aventurosa e curta de um bandido” (ibidem, p. 10); em outras palavras, entre o trabalho incessante, que o consome lentamente, ou o crime, que o destrói logo (idem,1987, p.159). Diante disso, muitos jovens acabam optando pela vida do crime. Uma das alternativas escolhidas pelo jovem na vida do crime é o tráfico de drogas, já que o comércio de narcóticos oferece a possibilidade de ganhar dinheiro fácil, tanto mais quanto maior for a hierarquia no tráfico.

Este quadro se torna ainda mais dramático, quando analisamos dados do Mapa

da Violência de 2013, organizado por Julio Jacobo Waiselfisz. O Mapa aponta um forte

crescimento dos homicídios entre jovens. O gráfico abaixo revela a participação em porcentagem das causas de mortalidade da população jovem (15 a 24 anos de idade) e

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não jovem (aqueles que ainda não chegaram à sua juventude – menos de 15 anos de idade) no Brasil em 2011.

FONTE: Mapa da violência (WAISELFISZ, 2013, p. 27).

De acordo com o gráfico acima a grade maioria dos jovens morrem por causas externas e/ou também por causas violentas. Não podemos deixar de considerar o índice relevante de jovens que morrem por homicídios. Além disso, a violência homicida foi um indicador que piorou muito a partir dos anos 1980, no Brasil o número de homicídios passou de 13.910 em 1980 para 49.932 em 2010, o que significa um aumento de 259%, o que equivale a um crescimento equivalente a 4,4% ao ano.

Este contexto nos levou a refletir sobre as expressões da violência, sobretudo, em Ituiutaba/MG, já que é conhecida como uma importante rota do tráfico no Triângulo Mineiro, sendo tida como estratégica para a atuação de quadrilhas internacionais de tráfico de drogas. Frente a esta realidade, o presente estudo objetivou conhecer a territorialidade e as expressões da violência em Ituiutaba/MG, no que se refere aos crimes cometidos contra a pessoa. Constituíram-se como objetivos específicos desta pesquisa: conhecer os tipos de crime mais recorrentes na cidade de Ituiutaba; sistematizar os dados referentes aos índices de crimes cometidos contra a pessoa na cidade; identificar os bairros em que os crimes contra a pessoa são mais recorrentes; estabelecer as conexões entre os crimes cometidos contra a pessoa, com os territórios em que estes são mais recorrentes.

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Para tanto, foi realizada uma pesquisa bibliográfica e documental. Neste sentido, o estudo foi realizado em quatro etapas Primeiramente foram coletados dados junto à polícia militar e civil,e também era para ter sido coletados no sistema prisional e nas demais instâncias envolvidas na segurança pública de Ituiutaba, mas devido as dificuldades destas instâncias em nos fornecerem dados a pesquisa só foi realizada na policia civil e militar, onde foi detectado que os tipos de crime que mais ocorrem na cidade de Ituiutaba é o furto Art. 155, que está englobado nos crimes contra o patrimônio.

No segundo momento da pesquisa foi direcionado aos crimes cometidos contra a pessoa na cidade de Ituiutaba. Considerando que, com base no Formulário Categoria e Indicadores do Departamento Penitenciário Nacional – DEPEN, mais precisamente do Sistema Integrado de Informações Penitenciárias – InfoPen, que os crimes cometidos contra a pessoa estão inseridos no Grupo Código Penal e podem ser divididos em: Homicídio Simples (Art. 121, caput), Homicídio Qualificado (Art. 121, Parágrafo 2º), Seqüestro e Cárcere Privado (Art. 148). Assim, nesta segunda etapa foram sistematizados e analisados os dados coletados junto à polícia militar e civil que os crimes mais recorrentes na cidade de Ituiutaba contra a pessoa são: o homicídio( o tentado e o consumado), seqüestro, estupro, ameaça e a lesão corporal.

Na terceira etapa da pesquisa foram detectados os bairros em que os crimes contra a pessoa são mais recorrentes, ainda através da pesquisa feita com as polícias civil e militar, foi também analisado os territórios em que estes são mais recorrentes. Sendo assim foi concluído que, o crime de ameaça e lesão corporal se dá mais na parte central da cidade, mas também ocorre nos bairros mais periféricos e o crime de homicídio aconteceu na sua totalidade nos bairros periféricos da cidade de Ituiutaba, como vai mostrar o quadro mais abaixo.

Já na quarta etapa foi realizado o cruzamento entre os dados sistematizados com relação ao crime cometido contra a pessoa e os territórios em que estes mais ocorrem, e foi feito então, o mapeamento deste tipo de crime na cidade de Ituiutaba/MG.

RESULTADOS, DISCUSSÃO

Sendo a territorialidade o enfoque desse estudo em conjunto com a violência, sobretudo no que se refere ao crime cometido contra a pessoa, vamos primeiramente nos reiterar de alguns conceitos básicos sobre território, sobretudo, na concepção de Milton Santos. Segundo o dicionário Aurélio, territorialidade são as condições que integram o território de uma nação. Milton Santos distingue com clareza o território como materialidade e a configuração territorial como o uso social e historicamente definido

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desse âmbito espacial em seu papel como recurso e condições base para a vida humana (MORAES, 2013, p. 14). Visando que, a base territorial de nosso país foi construída separando as classes,onde os mais bem sucedidos e possuidores de bens ocupavam os melhores lugares dos territórios, ou seja os grandes centros, quando não, os melhores bairros que estavam sempre ligados ao centro, e aqueles que não possuíam nada ou quase nada tinham que se espremer em barracos aglomerados uns aos outros nas periferias da cidade que era afastado de tudo e não tinham sequer um mínimo de base para uma vida humana digna. A territorialidade e as expressões da criminalidade estiveram desde sempre ligadas uma a outra.

Os territórios referem-se a Estados e a espaços nacionais, onde pode-se interpretar que, no seu entendimento na obra analisada eles correspondem as materialidades terrestres disponibilizadas para sociedades territoriais que nelas estabelecem estruturas socioeconômicas nacionais, afirmando que na atualidade quando a mundialização ultrapassou lugares e fronteiras, a própria noção de soberania nacional muda de conteúdo porque os Estados, mesmos os mais pobres se vêem obrigados a um comando mais estrito da totalidade de seu território. O território em sua concepção é visto como um dado, um fator, mas também é vista como um resultado, acrescentando que o território de um país é objeto de modificações sucessivas em função do uso que dele se faz e por intermédio da sobreposição de sistemas de engenharia que datam de épocas diversas e dotados de suas sobreposições que compreendem destruições, substituições e adições (MORAES, 2013, p.46)

Conclui-se assim, que o espaço ocupado por essa ou aquela população se define como o resultado do uso do território pela sociedade e por suas classes, bastando que esta mude para que o espaço também mude,podendo de uma hora para outra um determinado território ser considerado ou não como bem de investimento pela grande burguesia, mesmo que a configuração territorial permaneça intacta.(MORAES, 2013,pag.91)

O Brasil é um país continental, com mais de 8.500.000 km2 divididos em 26 estados e um Distrito Federal, nos quais seus 185 milhões de habitantes estão distribuídos, com enormes desníveis regionais e sociais. Ao mesmo tempo em que algumas regiões atingiram um elevado índice de desenvolvimento humano, outras estão estagnadas, onde novas fronteiras são desbravadas sem que o Estado se faça presente, até mesmo para atender às necessidades elementares ou acompanhar as transformações que ali operam.

Nestas últimas décadas, ocorreu uma forte migração do campo para as cidades, as quais não estavam preparadas para receber uma massa humana com tantas demandas e poucos recursos financeiros. Surgiram aí, áreas, verdadeiros bolsões de

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pobreza,desprovidas dos equipamentos básicos de saúde, educação, serviços sociais e principalmente de segurança. Em algumas cidades que ofereciam atrativos especiais, esse quadro se reproduziu em favelas e hoje a população de quatorze cidades já ultrapassa a casa de um milhão de pessoas, entre as quais o Rio de Janeiro,com mais de seis milhões de habitantes, e São Paulo, com mais de dez milhões, de acordo com Paulo Sette Câmara, Presidente do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, em um de seus discursos no IX Simpósio Brasil-Alemanha de Segurança Pública e Sociedade Democrática no Brasil e na Alemanha", realizado em Berlim, Alemanha, nos dias 24 e 25 de abril de 2008.

Com essa elevada população nas cidades fizeram com que se intensificassem as expressões da questão social gradativamente, principalmente nos grandes centros. Uma das principais expressões da questão social que se firmou e agravou bastante neste contexto foi a criminalidade, onde na falta de recursos, pois já não se atendia tamanha demanda da população, muitos optavam pela onda de violência e criminalidade, vendo nesta, uma forma de sobreviver aonde recursos não chegavam a toda população, principalmente as mais periféricas.

Não há como equacionar a questão da criminalidade em regiões e territórios sem que sejam superados os grandes problemas socioeconômicos particularmente relacionados à desigualdade de renda e ao adensamento populacional, uma vez que a violência e a criminalidade urbana está estreitamente relacionada ao descompasso entre os indicadores de crescimento econômico estadual e os índices de desenvolvimento humano, visto que as taxas de criminalidade parecem incompatíveis com a expressividade alcançada pela economia estadual e ao mesmo tempo o desenvolvimento econômico parece pouco afeito a realização de políticas publicas robustas e inclusivas, capazes de funcionar como freios a um cenário perverso. Esse processo decorre de uma característica estrutural da economia capitalista que não é só nacional mas também internacional, e que parece haver uma certa despreocupação com o devido equacionamento de problemas decorrentes do processo de transfiguração do mundo do trabalho, da flexibilização da economia, dos direitos trabalhistas, dos efeitos da globalização econômica e do processo ainda acelerado de urbanização, fatores estes que têm resultado na ampliação das desigualdades sociais e na precarização das condições sociais de existência de uma parcela significativa da população.

Os níveis que a criminalidade tem assumido na sociedade contemporânea nos levam a refletir sobre esta nova ordem societal que vem se formando, causados

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principalmente pelos efeitos da globalização e se fortalecendo nas várias precariedades que encontramos na sociedade moderna. Podendo ser percebida de diferentes formas em cada território. Sugerindo que a acumulação de riquezas favorecidas pelo desenvolvimento das forças produtivas, ao lado do aprofundamento da desigualdade social e econômica tem um papel importante na determinação dos crimes. Observando que, como dado nacional, os segmentos populacionais que estão em situação de maior risco social são provenientes de estratos populacionais com baixa inclusão estrutural, econômica e social, e são as principais vítimas de crimes letais.

A criminalidade e a violência têm assumido contornos assustadores nos últimos anos. Segundo pesquisas realizadas pelo Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN), em 1992, a população habitacional do país indicava 153.824.424 habitantes, destes, 114.377 estavam reclusos. A cada 100.000 habitantes, 74 estavam presos, o que representa 0,07% da população total do país neste ano. Já em 2004, segundo dados obtidos junto aos Estados e Distrito Federal, dos 181.986.030 habitantes, 328.776 estavam presos ou internados, sendo 134.266 no regime fechado, 32.508 no regime semi-aberto, 78.523 na condição de presos provisórios e 3.827 cumprindo medida de segurança. Em setembro de 2002, a população encarcerada, no país, era de 248. 685, produzindo uma taxa de 146,5 presos para cada grupo de 100 mil habitantes. Já em 2011 o número da população carcerária do país era de 514582, ou seja, para cada 100 mil habitantes 269,79 estavam presos, no final de 2013 esse numero já ultrapassava a casa dos 550.000 presos no país. O que parece ainda mais revelador é que a taxa de crescimento total da população brasileira neste mesmo período, segundo dados do IBGE, circulou entre a taxa de apenas 12,3%, que aponta um crescimento muito mais elevado da população encarcerada em face à população total do país.

Segundo dados divulgados pelo CNJ (Conselho Nacional de Justiça) o Brasil aparece nas pesquisas como a terceira maior população carcerária do mundo, com tamanhos números, o país está atrás apenas dos Estados Unidos que tem 2.297.400 presos e da China com 1.620.000 encarcerados.

Segundos dados do DEPEN (Departamento Penitenciário Nacional), revela que o homicídio no Brasil tem crescido bastante . O número de homicídios por 100 mil habitantes entre 1980 e 2000 revela um crescimento assustador:Em Salvador, o índice de violência cresceu 366,7%; São Paulo, 270,9%; Porto Alegre, 246,3%; Recife, 220,9%; Curitiba, 174,7%; Rio de Janeiro, 128,5%; Belo Horizonte, 44,0%; e Fortaleza 13,0%.

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Entre os 84 países do mundo,o Brasil apresenta uma taxa total de 27 homicídios em 100.000 habitantes, ocupando a 4ª posição no ranking mundial, só melhor que a Colômbia e com taxas semelhantes a Rússia e à Venezuela. De acordo com o Departamento Penitenciário Nacional, o Brasil tinha no ano de 1988, 88.041 presos, sendo que essa população representava uma taxa de encarceramento de 65,2 presos por 100 mil habitantes.

O perfil dos presos brasileiros segundo o Departamento Penitenciário Nacional em dezembro de 2011 é composto por jovens entre 25 e 29 anos; com baixa escolaridade, ou seja, com ensino fundamental incompleto; provenientes da área urbana, mais especificamente de municípios de regiões metropolitanas; com uma inserção em práticas de crimes contra o patrimônio.

Esta realidade também é evidenciada no estado de Minas Gerais, onde a população carcerária deste Estado é caracterizada por: 81,92% de alfabetizados, com média de três anos de estudo; 16,48% de analfabetos; 41,5% de detentos que trabalhavam em atividades informais sem qualificação antes da prisão; 31,52% de desocupados; e um índice de reincidência criminal baseado em 85%. Tem sua origem em famílias de baixa renda, trabalhadoras do mercado informal, com baixo nível de capacitação profissional. De um total de 19.595.309 habitantes, 48.107 estão reclusos. A maioria destes sentenciados não concluiu o ensino fundamental, praticou crimes contra o patrimônio e é caracterizada por jovens entre 18 e 24 anos.

Esta realidade precisa ser levada a efeito, sobretudo, no que se refere à cidade de Ituiutaba/MG. Ituiutaba é considerada uma cidade estratégica para a atuação de quadrilhas internacionais de tráfico de drogas, sendo, portanto, uma das principais rotas do tráfico no Triângulo Mineiro. Os crimes mais recorrentes na cidade de Ituiutaba são: furto, lesão corporal, ameaça e danos, sendo que desses quatro, três são cometidos contra a pessoa. De acordo com dados obtidos através das policias civil e militar, os crimes mais evidentes cometidos contra a pessoa são lesão corporal, ameaça e homicídios tentado e consumado, estupros e sequestro. Ainda de acordo com estes dados o crime de ameaça é um dos crimes que possui maior índice de registros, sendo 504 eventos assinalados, acompanhado do crime de lesão corporal com 481 registros. O crime de homicídio foram registrados 26 eventos,sendo 15 homicídios tentados e 11 homicídios consumados, apesar dos números de registros serem baixos em comparação aos dois primeiros delitos, o crime de homicídio merece atenção especial por se tratar de

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ceifamento de vida, o bem mais precioso tutelado pelo ser humano, 22 estupros e 01 sequestro.

Abaixo segue o quadro com descritivo dos bairros com maiores índices dos crimes em comento no período de 01/10/2012 à 31/10/2013, segundo dados obtidos junto as polícias civil e militar:

CRIME BAIRRO INCIDÊNCIA

Homicídio Jerônimo Mendonça 2 Novo Tempo 2 2 Residencial Canãa 1 2 Ameaça Centro 77 Alcides Junqueira 31 Natal 31 Lesão Corporal Centro 61 Setor Norte 34 Natal 32

Estupro Não identificado 22

Seqüestro Não identificado 01

Analisando a tabela acima podemos identificar que o crime que mais ocorre na cidade de Ituiutaba cometido contra a pessoa é ameaça, que segundo o Código Penal no seu Art. 147, ameaçar alguém por palavra, escrito ou gesto, ou qualquer outro meio simbólico de causar-lhe mal injusto e grave, e a lesão corporal, que nos dados por mim colhidos não foram especificados, mas podem ser, como prevista no Código Penal no seu Art.129, leve,a grave(sendo aquela que resulta incapacidade para as ocupações habituais, por mais de trinta dias; perigo de vida; debilidade permanente de membro, sentido ou função; aceleração de parto) e a gravíssima( aquela que resulta a incapacidade permanente para o trabalho; enfermidade incurável; perda ou inutilização do membro, sentido ou função; deformidade permanente; aborto) ocorrendo com mais

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freqüência no Bairro Centro, enquanto que o crime de homicídio que está previsto também no Código Penal em seu Art. 121, podendo ele ser tentado e consumado, ocorre em sua maioria nos bairros periféricos da cidade. Tendo também os crimes de estupro que está previsto no Art. 213, do Código Penal, que se delimita por constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, a ter conjunção carnal ou a praticar ou permitir que com ele se pratique outro ato libidinoso e o seqüestro que está previsto em seu Art. 148 , delimitando-se por privar alguém de sua liberdade, mediante seqüestro ou cárcere privado.

Segue abaixo um mapa da cidade,com dados computados e sistematizados dos crimes contra a pessoa com os bairros em que estes são mais recorrentes:

Ainda de acordo com os dados fornecidos pelas polícias civil e militar, também foram detectados que, 77,41% dos indivíduos que cometem o crime contra a pessoa em Ituiutaba são do sexo masculino, onde 15,16% possuem idade entre 11 a 20 anos, 33,99% possuem idade entre 21 a 30 anos, 28,45% possuem idade entre 31 a 40 anos, 15,27% possuem idade entre 41 a 50 anos e 7,22% possuem idade acima de 51 anos. 15,38% são alfabetizados, 1,05% são analfabetos, 47,17% tem o ensino fundamental, 23,53% tem o ensino médio completo (2º Grau), 2,40% possuem curso superior completo, 1,15% possui curso superior incompleto e 8,99% não tiveram sua escolaridade informada.

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CONCLUSÃO

Durante a pesquisa foi esperado que se conhecesse a territorialidade e as expressões da violência em Ituiutaba-MG, no que diz respeito aos crimes cometidos contra a pessoa. Para isso foi identificado os bairros onde os crimes contra a pessoa são mais recorrentes, e através de pesquisas bibliográficas, principalmente junto as polícias civil e militar ficou constatado que os bairros onde estes crimes mais ocorrem são: Centro, Setor Norte, Natal, Alcides Junqueira, Jerônimo Mendonça, Novo Tempo 2 e Residencial Canãa 1. O bairro Centro é o que mais tem ocorrências de crimes contra a pessoa na cidade, mas em contra a ponto a isso, o crime que mais se concretiza nesse bairro é o crime de ameaça e o de lesão corporal, que se comparado aos outros são menos graves que homicídio, estupro e seqüestro, estes são mais concentrados nos bairros mais periféricos da cidade como Setor Norte, Natal, Alcides Junqueira, Jerônimo Mendonça, Novo Tempo 2 e Residencial Canãa 1.

De acordo com todo o referencial teórico estudado para que fosse possível realizar este trabalho, o território implica muito no que diz respeito as refrações da desigualdade socialmente distribuidas, visto que a maior parte dos crimes contra a pessoa que se englobam no patamar dos mais perversos são cometidos nos bairros periféricos da cidade,onde a desigualdade social é notória e onde também, a começar pela segurança pública, tudo é mais precário do que nos bairros do Centro da cidade.

Foram encontradas muitas dificuldades para que este trabalho fosse realizado, principalmente no que diz respeito as informações sobre tais crimes com as instâncias de segurança pública da cidade, muitas não tinham os dados consolidados, outras não se mostraram interessadas em compartilhar deles. Mas a persistência se fez presente, e não foram todas as instâncias que gostaríamos desde o começo que colaborou e compartilhou de dados para a nossa pesquisa, mas as que nos forneceram já foi suficiente para que a pesquisa fosse realizada e concluída com sucesso, pois foi possível identificar, sistematizar e mostrar em gráficos os índices de crimes contra a pessoa e quais os bairros eles mais se intensificam.

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REFERÊNCIAS

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Referências

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