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Graduado em História pela Universidade Federal de Roraima UFRR.

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RCMOS – Revista Científica Multidisciplinar O Saber. ISSN: 2675-9128. DOI 10.51473. São Paulo, v. 03, p. 01-18, mar. 2021.

PRIMÓRDIOS DA IGREJA EVANGÉLICA ASSEMBLEIA DE DEUS EM RORAIMA: FUNDAÇÃO E CONSOLIDAÇÃO (1915 – 1925)

PRIMORDS OF THE EVANGELICAL CHURCH ASSEMBLY OF GOD IN RORAIMA: FOUNDATION AND CONSOLIDATION (1915 - 1925)

Erasmo Magno da Silva Melo1 Eduardo Gomes da Silva Filho2 Resumo

O artigo busca fazer uma discussão sobre os primórdios da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Roraima, a partir da sua fundação e consolidação, entre 1915 e 1925. A princípio, buscamos realizar uma análise sobre a expansão da mensagem pentecostal em todo o Brasil e a sua chegada ao Estado de Roraima, enfatizando o pioneirismo da obra e analisando ainda a migração do seu precursor Cordulino Teixeira Bastos de Itapajé – Ceará – às terras roraimenses. Em seguida, detalharemos como ocorreu a fundação da Igreja Assembleia de Deus em Roraima e apontaremos as primeiras conversões ao pentecostalismo. Neste ponto, falaremos também sobre como aconteceu o processo de conversão para um indivíduo se tornar membro desta Igreja. Por fim, mostraremos a consolidação, o crescimento da obra pentecostal e os frutos deixados por cada líder.

Palavras-chave: Igreja Assembleia de Deus. Pentecostalismo. Roraima. Cordulino Teixeira Bastos. Conversão.

Abstract

The article seeks to discuss the beginnings of the Evangelical Church Assembly of God in Roraima, from its foundation and consolidation, between 1915 and 1925. At first, we sought to carry out an analysis on the expansion of the pentecostal message throughout Brazil and the its arrival in the State of Roraima, emphasizing the pioneering nature of the work and also analyzing the migration of its precursores Cordulino Teixeira Bastos de Itapajé - Ceará - to the lands of Roraima. Then, we will detail how the Assembly of God Church was founded in Roraima and point out the first conversions to Pentecostalism. At this point, we will also talk about how the conversion process took place for an individual to become a member of this Church. Finally, we will show the consolidation, the growth of the pentecostal work and the fruits left by each leader.

Keywords: Assembly of God Church. Pentecostalism. Roraima. Cordulino Teixeira Bastos. Conversion.

1 Graduado em História pela Universidade Federal de Roraima – UFRR. E-mail: ministrorr@gmail.com 2 Professor da Universidade Federal de Roraima – UFRR. E-mail: Eduardo.filho@ufrr.br

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RCMOS – Revista Científica Multidisciplinar O Saber. ISSN: 2675-9128. DOI 10.51473. São Paulo, v. 03, p. 01-18, mar. 2021.

1 Introdução

O ano de 1915 é a data que a Igreja Evangélica Assembleia de Deus considera o ano da sua fundação em Roraima, por intermédio de Cordulino Teixeira Bastos. Fizemos algumas leituras durante anos sobre a sua história, a partir daí, começaram a surgir indagações como: quais foram os motivos que efetivamente levaram Cordulino a migrar da cidade de Itapagé (CE) para as terras roraimenses? A afirmação de que ele se deslocou por razões econômicas ou perseguição religiosa se sustenta?

Portanto, ao ler a história dessa instituição, contada e produzida somente pela própria igreja, verificou-se que há algumas lacunas que precisavam ser preenchidas. Nesse sentido, a relevância da pesquisa reside na produção de uma análise histórica para além da produção de uma memória institucional, e, por contribuir, para a compreensão das relações sociais empreendidas através de uma instituição presente em todo o Estado.

Sendo assim, o recorte espacial compreende todo o estado de Roraima, devido à grande expansão da Igreja evangélica Assembleia de Deus, que se iniciou na fazenda Altamira, propriedade do Sr. Antônio Pinheiro Galvão, na Ilha de Maracá (atual município de Amajari), e se estendeu por todo o estado de Roraima, alojando-se em cada município, vila e comunidade indígena.

Cordulino Teixeira Bastos, converteu-se ao movimento pentecostal em 1914, e no ano seguinte, resolveu deixar a sua cidade natal, passando por Belém, capital do Estado do Pará, chegando em Boa Vista do Rio Branco (atual cidade de Boa Vista, capital de Roraima) e, posteriormente, dirigiu-se à Ilha de Maracá (atual município de Amajari), onde promoveu a conversão dos primeiros adeptos ao movimento pentecostal a partir da sua pregação em 1915. Dez anos depois, Cordulino faleceu (em 1925), pontos que analisaremos com mais detalhes no decorrer deste trabalho.

De acordo com a revista dominical, produzida pelo pastor Gildevaldo da Luz Rocha, em alusão ao centenário da IEAD-RR no ano de 2015, indica que Cordulino chegou “a sofrer constrangimentos por causa da sua fé” [...], tomado de vergonha e pressão de familiares decidiu sair do lugar com a esposa e filhos” (ROCHA, 2015, p. 57).

Por outro lado, outros trabalhos apresentam a saga de Cordulino, um exemplo disso, pode ser observado na monografia defendida por Antônio Weliton Simão de Melo do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Roraima em 2005. Nessa pesquisa foi apontado que:

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Depois de partir do Estado do Ceará para o Norte brasileiro, Cordulino Teixeira Bastos, acompanhado de sua família - no total de onze pessoas -, conviveu por um período com o missionário Gunnar Vingren no Pará, tempo em que aceitou o evangelho da salvação e decidiu vir para a Região do Rio Branco (MELO, 2005 p. 23).

Verificou-se nas palavras de Rocha (2015), que Cordulino foi para o Pará buscar mais conhecimento sobre a nova doutrina, porque estava sendo constrangido por causa da sua fé e sofrendo pressões dos familiares. E que ele teria aderido à fé quando ainda estava no Ceará, mas quando lemos o texto de Melo (2005), percebeu-se que Cordulino aderiu à fé no Estado do Pará, depois que saiu do Ceará. Pontos divergentes que nos fizeram levantar questionamentos do motivo da saída dele do Ceará.

Isso nos levou a buscar responder as seguintes indagações: quais foram os motivos que efetivamente levaram esse sujeito a migrar? Em que medida, a afirmação de que ele se deslocou por razões econômicas se sustenta?

2 Caminhos teórico-metodológicos da pesquisa

A pesquisa foi realizada com levantamentos bibliográficos, além de fontes da Revista Bíblica Dominical comemorativa ao centenário da instituição, elaborada pelo pastor Gildevaldo Rocha em 2015, que trata desde a saída de Cordulino Teixeira Bastos do Ceará, até a sua morte, e a monografia defendida por Antônio Weliton Simão de Melo do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal de Roraima em 2005.

Também fizemos uso do documento Anuário Almanka Laemmert, disponibilizado na Biblioteca Nacional Digital Brasil (BNDB), que data o período inicial do recorte temporal desta pesquisa, o ano de 1915, o qual retrata a situação econômica daquela época, uma fonte que nos ajudou a identificar um dos possíveis motivos da saída de Bastos do Ceará.

Usamos também a ideia de autores que tratam sobre a fundação das Igrejas Assembleias de Deus no Brasil, assim como a inserção do pentecostalismo e o seu processo de expansão, como nos casos de Emílio Conde (1960), Israel de Araújo Moraes (2016), Ivar Vingren (2000), Freston (1994), Mariano (2004), Matos (2011), Picolotto (2016), dentre outros.

Buscamos investigar a contribuição que esta instituição deu para o desenvolvimento social. Portanto, a história de Cordulino se entrelaça com a história de Boa Vista do Rio Branco.

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Além disso, buscamos analisar como se deu a recepção e interação dos habitantes locais com Cordulino e suas ideias.

3 A expansão da mensagem pentecostal e sua chegada ao Estado de Roraima

A História da Assembleia de Deus (AD) está ligada diretamente com o surgimento do movimento pentecostal, que chegou ao seu ápice no início do século XX nos EUA. Pentecostalismo é um movimento que surge de dentro do cristianismo que dá ênfase especial numa experiência direta e pessoal com Deus através do batismo no Espírito Santo, evidenciada pela glossolalia.3

Ainda sobre o Pentecostalismo, Alencar e Fajardo (2016, p. 96) descreveram: “Mulheres e homens, pobres e ricos, negros e brancos em igualdade. Isso, em tese, é o ideal do pentecostalismo”.

O termo é derivado de Pentecoste.4 Para muitas igrejas pentecostais, neste evento se comemora a descida do Espírito Santo (por isso o termo batismo no Espírito Santo) sobre os seguidores de Jesus, conforme descrito no texto bíblico:

E, cumprindo-se o dia de Pentecostes, estavam todos concordemente no mesmo lugar; E de repente veio do céu um som, como de um vento veemente e impetuoso, e encheu toda a casa em que estavam assentados. E foram vistas por eles línguas repartidas, como que de fogo, as quais pousaram sobre cada um deles. E todos foram cheios do Espírito Santo, e começaram a falar noutras línguas, conforme o Espírito Santo lhes concedia que falassem. (BÍBLIA, 2009, Atos 2, 1-4).

Os pentecostais acreditam que esta experiência não foi um evento isolado somente para a igreja do primeiro século, mas que se estende a todos os que creem e tendem a ver que o seu movimento reflete o mesmo tipo de poder espiritual, estilo de adoração e ensinamentos.

A respeito do surgimento do movimento pentecostal nos EUA, Leonildo Silveira Campos - professor de Sociologia da Religião no Programa de Pós-graduação em Ciências da Religião da Universidade Metodista de São Paulo, e autor de “Teatro, Templo e Mercado:

3 Fenômeno extático no qual um indivíduo emite uma série de sons ou palavras cujo sentido seus ouvintes não

podem apreender, senão com o concurso de outra pessoa detentora do dom da interpretação; dom das línguas.

GLOSSOLALIA. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em:

https://dicionario.priberam.org/glossolalia. Acesso em: 28/ fev. 2021.

4 Festividade que celebra a vinda do Espírito Santo no sétimo domingo depois da Páscoa. PENTECOSTES.

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/pentecostes. Acesso em: 28/fev. 2021.

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Organização e Marketing de um Empreendimento Neopentecostal” (2005) - destaca dois

personagens, duas datas e dois lugares que usualmente são apresentados como marcos inaugurais ou referências históricas do moderno movimento pentecostal: Charles Fox Parham na cidade de Topeka (Kansas) e William Joseph Seymour em Los Angeles (Califórnia).

A partir do marco inaugural de Seymour, pessoas de várias cidades da América do Norte iam até Los Angeles para constatar a veracidade do novo movimento, e quando voltavam para as suas respectivas cidades, se tornavam agentes multiplicadores do movimento.

Emílio Conde – historiador, escritor e jornalista (redator do principal jornal das Assembleias de Deus, o Mensageiro da Paz), autor de alguns livros, dentre eles o livro “História das Assembleias de Deus no Brasil” – explica que:

Em pouco tempo as grandes cidades Norte Americanas foram alcançadas pelo movimento. Uma das cidades que mais se destacou foi Chicago, onde o pentecoste alcançou praticamente todas as igrejas evangélicas, pois o avivamento destacava-se pelo desejo missionário e pelo interesse que despertava por outros povos, isto é, cada um que se convertia, transformava-se em missionário (CONDE, 1960, p. 13).

Aproximadamente cem quilômetros da cidade de Chicago, diz Conde (1960), localizava-se a cidade de South Bend, onde morava um jovem pastor batista chamado Adolph Gunnar Vingren, que logo foi atraído pelos acontecimentos de Chicago e resolveu ir até lá onde acabou aderindo o pentecostalismo.

Pouco tempo depois, ainda em Chicago, Conde (1960) escreve que Gunnar Vingren participou de uma convenção de igrejas batistas que aceitaram o Movimento Pentecostal, onde acabou conhecendo outro jovem chamado Daniel Gustav Hogberg, que também já tinham aderido ao pentecostalismo.

Figura 1 - Missionários Gunnar Vingren e Daniel Berg

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Estes dois jovens tiveram uma ligação direta com a inserção do pentecostalismo no Brasil, com a fundação da Igreja Assembleia de Deus no Estado do Pará. Após se conhecerem em Chicago, Vingren voltou para a cidade de South Bend e, logo em seguida, Berg foi visitá-lo. Nesta visita, os dois jovens participaram de uma reunião de oração:

Deus, através de uma mensagem profética, falou ao coração de Daniel Berg e Gunnar Vingren, que partissem a pregar o evangelho, e as bênçãos do Avivamento Pentecostal. O local mencionado na profecia era o Pará. Nenhum dos presentes conhecia tal lugar. Após a oração, os dois jovens foram a uma livraria a fim de consultar um mapa que lhes mostrasse onde estava localizado o Pará. Descobriram, então, que se tratava de um Estado do Norte do Brasil. (CONDE, 1960, p. 14).

Após ouvirem a profecia, Berg e Vingren resolveram sair dos EUA e foram para Belém do Pará, no Brasil, segundo Wesley de Paula (2013, p. 32) “os missionários chegam ao Brasil, sem nenhuma garantia ou apoio para iniciar o projeto pretendido por eles”.

Após desembarcarem em terras brasileiras, tiveram que enfrentar uma nova cultura, a dificuldade da língua, além de não conhecerem ninguém. Algum tempo depois, começaram a participar da Igreja Batista, apesar das controvérsias entre Batistas e Pentecostais acerca da glossolalia como evidência do Batismo no Espírito Santo, Berg e Vingren falavam abertamente sobre o pentecostalismo como mostra Ivar Vingren (2000) em seu livro “Diário do Pioneiro”, redigido a partir do diário deixado por seu pai Gunnar Vingren:

Os batistas esperavam que quando eu aprendesse o português, me tornasse o pastor deles. Porém, em nenhuma ocasião em que nos foi permitido falar à igreja, nós escondemos a chama pentecostal que Deus havia acendido em nossos corações (VINGREN, 2000, p. 39).

Para compreendermos sobre a migração de Cordulino no eixo Nordeste/Norte, será necessário inserirmos dentro do contexto o que ocorreu no início do século XX. Nesse período, houve um grande contingente migratório do Nordeste para o Norte do país. Isto se deu por vários motivos, o mais forte indício era a busca por melhoria financeira.

Muitos Nordestinos saíram de suas cidades em direção ao estado do Amazonas (AM), principalmente, devido ao grande aumento do consumo da borracha. O historiador Manoel Aires da Silva Neto aponta que:

A partir do incremento da mão-de-obra nordestina e do aumento da demanda do produto, a exportação se eleva em 1887 para mais de 17.000 toneladas. Em franco crescimento, estimulado pelo crescente aumento do consumo mundial e ascensão dos preços, no decênio 1901-1910 a exportação da borracha atingirá a média anual 34.500

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toneladas, chegando a representar 28% da exportação total do Brasil. Em 1912, a exportação da borracha brasileira atinge seu ponto máximo com um total de 42.000 toneladas. (NETO, 2011, p. 26 apud PRADO JÚNIOR, 2008, p. 236-237).

De acordo com Vieira (2003), o processo de migração oriunda do Nordeste aconteceu possivelmente devido às secas ocorridas naquela região e chegaram à Amazônia na tentativa de reconstituírem suas vidas.

Essas possíveis secas se confirmam quando analisamos o “JORNAL DO COMMERCIO”, a folha de maior circulação do Estado do Amazonas no ano de 1915. Nele, encontramos em destaque na matéria principal, uma reportagem do dia 22 de julho de 1915 (quinta-feira), com o seguinte título: “A fome no Ceará. A miséria, a mais negra, lavra da terra da luz. O que nos contou uma pessoa recém-chegada de Fortaleza”, destacamos um trecho, vejamos a seguir:

Fazendeiros houve que ficaram na miséria. [...]. Além disso, a queda do preço da borracha, isto é, a crise do Amazonas ainda mais agravou a situação econômica, pois todos sabem a influência dos negócios do Norte sobre o Ceará. E foi nesta momentosa ocasião de falta de recursos, neste instante em que todos procuravam remover os últimos prejuízos, que entrou na seca. [...]. Felizes d’aqueles que ainda conseguem emigrar, embora venham atirados como bestas a uma proa infecta, como sucedeu a estes duzentos e setenta que ficaram em Belém e a outros tantos que anteontem chegados do Pará. [...]. Tudo seco. Tudo miséria. [...]. Morrem os últimos bois que os homens faziam a fortuna destes fazendeiros que hoje nada possuem... Mulheres, crianças e velhos, esqueléticos [...], suplicam uma esmola pelo amor de Deus; “Dizer que já se morre atualmente de fome no Ceará, conta-nos o nosso informante, não é um exagero”. (JORNAL DO COMMERCIO, 1915, p. 1).

Com os dados até aqui analisados, as suspeitas de que Cordulino migrou para o Norte do país devido às secas e fome que assolavam o Ceará só aumentavam, pois como já mencionamos antes, segundo Castro (2015), Cordulino migrou em 01 de julho de 1915 e a matéria do Jornal Commercio, sobre às secas, fome e migrações, foi veiculada em 22 de julho de 1915.

Possivelmente Cordulino chegou às terras amazonenses com a intenção de trabalhar com extração da borracha. Como já apontamos, Cordulino possuía fazenda em Itapajé e, provavelmente, optou pelo trabalho que já tinha experiência. Havia nesse período da migração de Cordulino, a necessidade de mão de obra nas fazendas, pois com a exploração da borracha, possibilitou o crescimento e o surgimento de muitas fazendas. Vejamos o que diz Vieira sobre o aumento no número de fazendas:

Em 1892, [Boa Vista do Rio Branco] já se encontrava relacionada entre os municípios do estado da Amazônia, recebendo, assim, a autonomia administrativa desejada pelos

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pecuaristas locais, que enxergavam nessa autonomia a possibilidade de ocupar legalmente as terras. [...] A partir da autonomia administrativa, o número de fazendas foi aumentando ao longo dos anos num processo ininterrupto, como também foram sendo legalizadas, pois foram criados diversos dispositivos legais que favoreceram a consolidação da ocupação fundiária. (VIEIRA, 2003, p. 41-42).

Percebeu-se que o aumento do quantitativo das fazendas, de acordo com Vieira (2003), deu-se a partir do ganho da autonomia administrativa do município Boa Vista do Rio Branco. Com base nessas análises, acreditamos que Cordulino Teixeira Bastos chegou as atuais terras roraimenses com a expectativa de trabalhar, tendo em vista o crescimento econômico por meio da pecuária na região.

4 A fundação da Igreja e as primeiras lideranças

De acordo com Melo (2005) e Rocha (2015), Cordulino fixou residência na fazenda de Altamira na Ilha de Maracá (hoje Amajari), de propriedade do Sr. Antônio Pinheiro Galvão, falou do que aprendeu no Ceará e que algumas pessoas da mesma família se converteram ao pentecostalismo, dentre elas: a bisavó do atual presidente da Assembleia de Deus em Roraima.

É neste período de 1915, com a pregação e conversão das primeiras pessoas, que a Igreja considera como o ano da fundação da instituição. A seguir analisaremos com mais detalhes o processo da pregação do evangelho que resultou nas primeiras conversões e fundação da IEAD - RR.

4. 1 As primeiras conversões

Na fazenda Altamira, Cordulino deu início à pregação do evangelho e obteve êxito com as primeiras conversões. Antes de tudo, será importante compreendermos como funciona o processo de conversão ao evangelho, para que possamos nos ambientar com o termo e, desta forma, seguiremos mais adiante com bastante clareza.

O significado de conversão é, segundo o Dicionário Priberam, a entrada numa religião que se julga ser a verdadeira. E de acordo com o ensaio bibliográfico de Cleonardo Mauricio Junior (2014, p. 199) “os convertidos ao cristianismo representam o processo de tornar-se cristão com uma mudança radical”.

Além de entrar numa religião, é necessário que haja uma “mudança radical”, ou seja, mudanças externas visíveis aos outros. Essas mudanças externas são representadas

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principalmente, pelo prisma do comportamento, práticas mundanas são deixadas de lado, e das vestimentas, exemplo da Igreja Assembleia de Deus, que em tempos passados, os membros eram reconhecidos pela forma como se vestiam.5

Mas segundo André Dioney Fonseca (2019, p. 27) em “História e Pentecostalismo” fala que “o pentecostal [sobretudo o assembleiano] não pode mais ser facilmente identificado a partir de estereótipos que foram definidores dessa comunidade de fé por muitas décadas do século passado”. Essa impossibilidade de identificação, segundo o mesmo autor, se justifica pelo fato de que:

O pentecostalismo espraiou-se, superando a imagem tradicional do “crente” como indivíduo exclusivamente inserido nas baixas camadas sociais, com pouca instrução escolar, que vivia sob um rígido esquema disciplinar e em um esforço diário para se afastar das coisas do “mundo”. A nova cara do pentecostalismo revela um tipo de fiel que, em geral, quer integrar-se a sociedade, quer influenciar a esfera pública, que se preocupa muito mais com o bem-estar na vida “terrena” do que com as garantias de salvação no além. (FONSECA, 2019, p. 27).

Apesar do dinamismo e mudança na forma como se concebe o comportamento, a conversão do indivíduo nos dias de hoje ainda passa pelos prismas do comportamento e das vestimentas, embora esta última esteja um pouco mais flexível.

Com isso, levantaremos a seguinte questão para análise: o que leva um indivíduo a se converter à religião (sobretudo à Assembleia de Deus, que é o nosso foco central), tendo em vista a necessidade de mudar radicalmente o comportamento e as vestimentas?

Para começarmos a responder este questionamento, faz-se necessário olharmos a obra “Declaração de Fé”, publicada em novembro de 2016 pela Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil – CGADB. A Declaração de fé é baseada e interpretada diretamente dos textos das Escrituras Sagradas, sendo assim, são aceitas e reconhecidas por uma igreja ou denominação, portanto:

[...] a obra Declaração de Fé é um documento eclesiástico que organiza, de forma escrita e sistemática, as crenças e práticas das Assembleias de Deus no Brasil que já são ensinadas nas igrejas desde a chegada ao país dos missionários fundadores, Daniel Berg (1884–1963) e Gunnar Vingren (1879 – 1933). Trata-se ainda de um material didático para ajudar as igrejas no preparo dos candidatos ao batismo e também na formação espiritual dos novos convertidos, bem como mostrar para a sociedade aquilo em que nós cremos e aquilo que praticamos. O documento identifica nossa marca pentecostal como denominação. (DECLARAÇÃO DE FÉ, 2016, p. 12).

5 Própria do mundo, em especial ao mundo material; que não é próprio da religião; que ou quem gosta dos bens e

prazeres do mundo. MUNDANO. Dicionário Priberam da Língua Portuguesa. Disponível em: https://dicionario.priberam.org/mundano. Acesso em: 04 jan. 2021.

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É por meio dessa obra que todos os indivíduos novos convertidos são regidos e aceitos como membros da instituição Assembleia de Deus. Ao lermos, verifica-se que a igreja crê e ensina “que a morte e a ressurreição corporal de Cristo são a viga mestra e o pilar da fé cristã” (DECLARAÇÃO DE FÉ, 2016, p. 34).

Portanto, conclui-se que para ser identificado como cristão, sobretudo assembleiano pentecostal, é necessário acreditar na morte e ressurreição corporal de Cristo. Compreendido o processo de conversão, vamos seguir mostrando o caminho pós-conversão que o indivíduo deve passar, até se tornar um membro da Igreja Assembleia de Deus. Estes detalhes são importantes para compreendermos com mais clareza os primórdios desta instituição.

Para se tornar membro da IEAD-RR, parafraseando Melo (2005), o indivíduo precisa passar por dois processos na conversão: o primeiro é o denominado: aceitação do evangelho, ou conversão, em público que pode ser feita num culto religioso na própria Igreja ou em qualquer outro lugar na presença de testemunhas e assim, após ouvir a mensagem bíblica que trata sobre a salvação da alma, o ouvinte decide aceitar o evangelho ou aceitar a Jesus, sendo chamado de novo convertido.

A partir de então, esse indivíduo convertido passa a ficar sobre os cuidados de uma liderança. O segundo, é o batismo nas águas por imersão, mas somente podem ser batizados indivíduos com idade igual ou superior a doze anos, sendo que os menores de dezoito anos devem possuir autorização dos pais ou responsáveis.

Estes processos de conversão são o caminho para se tornar um membro reconhecido pela IEAD – RR, são realizados desde o nascimento desta Igreja, pois desde os primórdios da Igreja Assembleia de Deus em Roraima, há este processo de conversão, desde a liderança de Cordulino Bastos, até os dias atuais.

. Segundo Rocha (2015), após o dia inteiro com os trabalhos na fazenda, Cordulino fazia reunião com um pequeno grupo de trabalhadores e com os proprietários da fazenda para pregar a mensagem pentecostal e a salvação da alma.

As primeiras conversões se deram após Bastos fazer o convite, para aceitarem a Jesus, aos presentes na reunião e, de acordo com Rocha (2015), a senhora Rita Maria de Jesus Galvão e sua filha, Rosa Pinheiro Galvão de apenas cinco anos de idade se converteram, e pouco tempo mais tarde, outros membros da sua família também fizeram o mesmo. Sendo este núcleo familiar, os pioneiros da Igreja Assembleia de Deus em Roraima.

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5 A consolidação e o avanço do pentecostalismo em Roraima

A pregação da mensagem pentecostal em Roraima foi de grandes desafios para o seu precursor, Cordulino Teixeira Bastos. Como percebemos anteriormente, a região do Rio Branco ainda estava em pleno desenvolvimento, trazendo naturalmente, dificuldades na logística e consolidação do evangelho pentecostal. Vale ressaltar, que a pregação da mensagem pentecostal no Estado se deu sem nenhum planejamento prévio, o que acreditamos ter contribuído para o aumento dos desafios.

Mesmo após a morte de Cordulino, os convertidos não deixaram de continuar celebrando seus cultos. Não havia, por parte da igreja sediada em Belém, um plano organizado para expandir a mensagem pentecostal e nem de estruturação.

Por esta razão, os cultos eram realizados nas casas dos indivíduos que iam se convertendo e isso aconteceu após os primeiros cultos realizados na fazenda onde Cordulino trabalhava. Portanto, o líder dos cultos, inicialmente, era Cordulino e a primeira “Igreja” (local do culto) foi na fazenda de Altamira e, posteriormente, os cultos iam sendo realizados nas casas dos novos indivíduos convertidos.

6 O crescimento da obra pentecostal

Após a morte de Cordulino em 1925, as pessoas convertidas ficaram vinte e um anos sem um líder. Porém, segundo Rocha (2015), esses convertidos nunca abandonaram o que aprenderam e iam se reunindo nas casas uns dos outros para fazerem momentos de comunhão. Porém, para manter uma estrutura organizada e consolidada, fez-se necessário uma hierarquia e um plano organizacional. Levando em consideração que a Igreja Assembleia de Deus em Roraima tem grande influência na sociedade roraimense no quesito social e político, urge, de antemão, fazermos uma breve análise sobre a organização religiosa que influencia diretamente a sociedade com as suas estruturas organizacionais.

As instituições religiosas se apresentam diante da sociedade proporcionando-lhes mudanças com o seu papel social. De acordo com Silva (2018), às variadas organizações religiosas apresentam muita influência nas sociedades e têm estruturas organizacionais diversificadas.

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Pode-se dizer que cada instituição religiosa trabalha para alcançar uma determinada camada da sociedade, no caso da IEAD, teve o seu início alcançando um público menos favorecido financeiramente.

Desta forma, o convertido se engaja nos trabalhos religiosos organizacionais por conta própria, carregado de um sentimento de fé na certeza que está contribuindo para o sustento espiritual da igreja e tudo isso sem receber nenhum salário (SILVA, 2018).

É extremamente importante que líderes religiosos pensem ou criem estratégias para que haja eficácia na busca por fiéis. Tendo em vista que o campo evangelístico não é só um lugar de pregar o evangelho tranquilamente, mas um lugar de concorrência religiosa, ou seja, muitas denominações religiosas estão em busca de fiéis e todas elas querem ter êxito.

Por isso, cada instituição religiosa, no âmbito das suas tradições, precisa ter um líder (especialista religioso), que se torne um exemplo a ser seguido, que organize e incentive os indivíduos a permanecerem e trabalharem, de maneira voluntária, a serviço de Deus. Portanto, estes indivíduos seguirão o líder possibilitando ou não o seu crescimento institucional.

7 Consolidação e frutos

Após a instalação do primeiro pastor enviado pela igreja em Belém às terras roraimenses, a Igreja Assembleia de Deus começou a se estruturar, se consolidar e a manifestar seus frutos. Em 1950 a igreja recebeu Benjamim Matias Fernandes, o segundo pastor que substituiu o pastor Quirino.

Este pastor deu continuidade ao trabalho iniciado pelo pastor anterior e que, segundo Rocha, “empreendeu esforços junto com o povo para construir uma igreja (templo) de tijolo no local [onde o pastor Quirino havia recebido a doação do terreno]” (2015, p. 62).

Rocha (2015) e Melo (2005), destacaram também que na época da construção do templo, sempre após os cultos, os irmãos ajudavam a carregar os materiais da construção e que além disso, um dos frutos deixados pelo pastor Benjamim foi o início da interiorização do evangelho, começando pela colônia Fernando Costa, atual sede do município de Mucajaí. Benjamim ficou pastoreando até o ano de 1952, quando foi enviando para outro lugar e foi substituído pelo terceiro pastor, chamado Joviniano Rodrigues Lobato.

O pastor Lobato continuou a construção do templo, iniciada pelo pastor que o antecedeu e concluiu no ano de 1954, realizando uma grande festa de inauguração, segundo Rocha (2015)

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e Melo (2005). No mesmo ano da inauguração do templo, Lobato foi substituído pelo pastor Samuel Bezerra Cavalcante.

Em 1954, assumiu a liderança da igreja o quarto pastor, Samuel Bezerra Cavalcante, e Rocha (2015) e Melo (2005), relatam que os frutos deixados por ele foi a organização da bancada da congregação com bancos doados pela Guarda Territorial (GT) e destacam também que este pastor deixou os irmãos empolgados, quando fez uma viagem evangelística de bicicleta até a atual sede do município de Caracaraí.

O pastor Samuel, foi substituído em 1957 e assumiu a liderança da igreja o pastor Otoniel Alves de Alencar. Este quinto pastor, teve a missão de realizar o primeiro culto oficial da Igreja Assembleia de Deus em Caracaraí, no ano de 1958 e no ano de 1962, foi substituído pelo pastor Elizeu Feitosa de Alencar (ROCHA, 2015).

Os frutos do trabalho do pastor Elizeu, segundo Melo (2005), podem ser observados a partir do seu trabalho evangelístico até a região da Serra do Sol, atual município de Uiramutã, ele reformou a fachada do templo e instalou a escola “Lídia Nelson” que atendia as crianças dos membros e não membros da igreja. Melo ainda aponta que a substituição do pastor Elizeu, em 1965, possivelmente ocorreu devido ao convite político, vejamos o que ele diz:

Pastor Íris Ramalho me informou um episódio de convite por parte da elite política no então Território Federal do Rio Branco ao pastor Elizeu, para que ele se candidatasse ao pleito de Deputado Federal na eleição de 1965 aproximadamente, o que pode ser tomado como uma justificativa para o pedido de substituição solicitado a fim de preservar a doutrina e os costumes da igreja predominante naquela ocasião. (MELO, 2005, p. 26).

Desta forma, verificou-se que a possível saída do pastor Elizeu à frente da igreja, pode ter sido motivada por questões políticas, pois até aquele momento, a Igreja Evangélica Assembleia de Deus não permitia a dupla função de pastor e político. Sendo assim, o pastor José Guedes dos Santos assumiu a presidência da igreja em 1965.

Os principais frutos deixados por José, segundo Rocha (2015), foram a consagração de diáconos, além de enviar um irmão para cuidar dos recentes trabalhos na Vila do Taiano, também começou os trabalhos na Vila do Bonfim e na Vila do Uailan, consolidando os trabalhos em Caracaraí. Sua saída ocorreu no ano de 1967, por motivo de saúde, vindo a falecer em 1969 de acordo com (MELO, 2005).

Em 1967, assumiu a presidência da igreja, por quase dezesseis anos, o pastor Manoel Antônio Batista. De acordo com Melo (2005), os frutos deixados por Manoel, foram os novos

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trabalhos abertos e os novos obreiros consagrados, para atuarem nas localidades onde a igreja passou a se fazer presente, ele também foi quem deu início ao pioneirismo missionário na Venezuela.6

O pastor Manoel, também organizou a Convenção das Assembleias de Deus em Roraima (CEDADER), concedendo autonomia administrativa e eclesiástica a IEAD de Roraima, até então, subordinada à Convenção denominacional do Estado do Amazonas.

Melo (2005) e Rocha (2015), apontam que nesta época foram iniciados outros trabalhos no interior, como na Serra do Tepequém, Vila do Alto Alegre, Normandia, São Luiz do Anauá, São João da Baliza, Vila de Iracema, dentre outros.

A saída do pastor Manoel Batista, ocorreu no ano de 1983, quando ele foi transferido para outra localidade e em seu lugar, assumiu o pastor Fernando Granjeiro de Menezes.

O pastor Granjeiro ficou à frente da igreja por quatorze anos, quando veio a falecer. De acordo com Melo (2005), os frutos deixados por Granjeiro foram muitos. Destaca-se a retomada do trabalho missionário fora do país, que esteve parado por motivo de falta de condições financeiras, alcançou todos os municípios do Estado, assim como aldeias indígenas, levando o evangelho pentecostal a todos estes povos.

Em 1997, o pastor Granjeiro deixou a liderança da igreja após falecer por causas naturais, houve então a convocação de uma Assembleia Geral Extraordinária (AGE), para eleger um novo líder. Segundo Melo (2005), o escolhido foi o pastor Geraldo Francisco dos Santos, que ao tomar posse, continuou oferecendo apoio ao trabalho missionário iniciado pelos líderes anteriores. Porém, o pastoreado de Geraldo à frente da igreja durou muito pouco, pois:

[...] foi acusado de praticar atos ilícitos ao seu cargo eclesiástico e, com tais atitudes, infringir a ética doutrinária cristã. Fez-se necessário então, sua renúncia ao cargo de presidente da IEAD e da CEDADER, para o bem da imagem social e moral da igreja, conforme regulamentado no Art. 19 e inciso II do estatuto da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Roraima. Assim, submeteu-se a um período de cinco anos de afastamento da comunhão da igreja e das atividades eclesiásticas, como medida disciplinar estabelecida pelo regimento estatutário institucional. (MELO, 2005, p. 28).

Não conseguimos encontrar qual tipo de ato ilícito foi praticado pelo pastor Geraldo que o levou a renunciar ao cargo como presidente da igreja. Após a renúncia do pastor Geraldo, assumiu imediatamente outra liderança, o então vice-presidente, pastor Isamar Pessoa Ramalho,

6 A esse respeito, sugerimos conferir o texto de Souza (2002), que trata de questões missionárias na América

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que convocou novas eleições e foi eleito pela maioria dos votos em 1999, permanecendo na presidência da igreja até o momento atual desta pesquisa, como nos apontou Melo (2005).

Vale destacar, que no início da liderança do falecido pastor Granjeiro, a igreja possuía apenas três congregações na capital, dois pontos de reunião e oito obreiros no interior, a Igreja Assembleia de Deus em Roraima, sob a liderança do pastor Isamar, possuía 560 templos em todo o Estado.

Apesar dos grandes progressos durante os 22 anos à frente da Igreja Assembleia de Deus em Roraima, Melo apontara que o pastor Isamar já sofreu “processos judiciais, intervenção jurídica na administração da instituição, crescente número de membro que tem procurado abrigo em outras denominações” (MELO, 2005, p. 28).

Porém, os frutos até então deixado pelo pastor Isamar, foram a construção de um grande templo, com capacidade para 2.500 pessoas sentadas, alguns projetos na área social, educacional, político e espiritual, como a entrega de casas e cestas básicas.

Como vimos, desde 1946 quando foi enviado o primeiro pastor às terras roraimenses, houveram mudanças de pastores na presidência desta instituição. Algumas por questões políticas, outras por doença, por morte ou ainda por questões disciplinares.

8 Considerações Finais

Buscamos no texto não esgotar o assunto e tão pouco reescrever sobre as mesmas perspectivas de outros trabalhos já realizados, mas tentamos fazer uma análise desse período da História de Roraima, com foco no pentecostalismo, advindo da Fundação da Igreja Evangélica Assembleia de Deus em Roraima.

Por isso, evidenciamos de maneira resumida sobre o pioneirismo da obra pentecostal no Estado, buscando compreender à expansão da mensagem pentecostal por todo o Brasil e, em particular, à sua chegada às terras roraimenses. Mostramos ainda a trajetória do precursor considerado o fundador do movimento pentecostal em Roraima, Cordulino Teixeira Bastos.

Focamos à priori, como se deu o processo de: conversão do presbiterianismo ao pentecostalismo; além de abordarmos, mesmo que de forma preliminar, o início da migração para o Estado. Tentamos responder às hipóteses que o levaram a sair de sua terra natal em Itapajé (CE). Hipóteses estas que nos levou a acreditar que a sua migração se deu por motivos econômicos ou religiosos; além das dificuldades encontradas por ele aderir ao movimento pentecostal e o seu papel evangelístico.

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Analisamos o ponto central desta pesquisa, que fala sobre a fundação da IEAD – RR, compreendendo melhor o processo de conversão desta igreja, que permite ao indivíduo se tornar membro efetivo. Processo este, que perpassa pelo “aceitar a Jesus” e o “Batismo nas Águas”.

Apontamos também os primeiros membros que foram convertidos após a pregação de Bastos na fazenda onde trabalhava. Mostramos ainda a consolidação dos trabalhos iniciados em 1915 e verificamos os frutos deixados por cada pastor que esteve à frente desta instituição até os dias atuais.

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