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ESPORTE E MULHER EM GOIÁS (1930/1945)

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ESPORTE E MULHER EM GOIÁS (1930/1945)

Pollyana Nascimento de Paula1

Resumo: Tal artigo consiste no projeto de pesquisa, que esta em andamento para a construção da dissertação de mestrado em Direitos Humanos, da Universidade Federal de Goiás. Situa-se no campo da História Social, da História das Mulheres e na promoção dos Direitos Humanos, desenvolvida através da análise documental em fontes primárias e secundárias. A questão da pesquisa foi suscitada por resultados de uma pesquisa anterior, referente a História do Esporte em Goiás, que apontou para período de 1930 a 1945, como uma época de grandes transformações em Goiás, com implicações em todos os setores, inclusive nas práticas esportivas. Tem-se como questão principal: Como se deu a inserção, presença e participação da mulher, no esporte em Goiás, em tal período? Pretemde-se, portanto, observar a História do Esporte em Goiás, investigando a participação e os modos de inserção da mulher nas práticas esportivas em tal período, visando colaborar com a história regional e com o conhecimento e reconhecimento das mulheres como sujeitos históricos. Nos referenciamos principalmente em Dias (2012) sobre a História do Esporte em Goiás; Chaul (1999) sobre a construção e mudança da capital de Goiás; Burke (1992) e Perrot (1988) em relação a escrita da História e os Excluídos da História; e Scott (1992), em relação ao categoria de gênero para análise histórica e a História das Mulheres.

Palavras-chave: Esporte feminino; Estado de Goiás; História das Mulheres; Questões de Gênero.

Introdução

Este estudo articula-se com a pesquisa sobre a História do Esporte em Goiás, desenvolvida com apoio do CNPq e do Ministério do Esporte, coordenadas pelo Prof. Dr. Cleber Dias. Essas pesquisas têm já apontado para o período entre 1930 e 1945 como uma época de grandes transformações em Goiás, com implicações em todos os setores, inclusive, nas práticas esportivas.

No mesmo sentido, observa-se que o ano de 1930 foi um momento de expansão capitalista em locais que ainda não tinham se inserido no mercado nacional. Pedro Ludovico Teixeira, interventor federal de Goiás à época, nomeado por Getúlio Vargas, busca uma ascensão política criando estratégias para inserir Goiás no mercado nacional, ampliando o processo de acumulação capitalista na região. Investiu-se, nesse sentido, na ideia da mudança do local da capital goiana, algo que vinha sendo ventilado desde o Império, mas que naquele momento, ia ao encontro dos interesses de Vargas, interessado em implementar economias de mercado no interior do Brasil. Assim, Goiás foi cada vez mais incorporado nessa nova estrutura em formação. Nesse contexto, o

1 Mestranda no Programa de Pós Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos, UFG, Goiânia/Goiás. Licenciada em

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Estado investiu também na educação e na higiene. Percebe-se, então, que as concepções higiênicas aconteceram também aqui no Estado de Goiás e as práticas esportivas foram artifícios facilitadores para a promoção desse ideário de higiene e educação do corpo. (CHAUL, 1999).

Todavia, as práticas esportivas sempre tiveram forte conotação masculina, associadas a noções de força, agilidade e rigidez, características que muitas vezes contrariam os papéis hegemonicamente designados para o gênero feminino, as mulheres tenderam, em todas as partes, a ter certa dificuldade em participar de diversas modalidades. Tais papéis de gênero são até hoje impostos pela sociedade, dificultando, em certa medida, a autonomia e emancipação feminina, em geral, o que é particularmente agudo nos campos de esportes. Não por acaso, diversas lutas femininas, em diversos âmbitos da sociedade, tem ocorrido, a fim de garantir mais direitos à participação feminina (SOARES, 2004, p.45).

Considerando a importância dos estudos históricos, estaremos atentos ao passado, pois é aí que “grandes doutrinas e seus principais conceitos acerca dos direitos humanos encontram sua origem e explicação” (DALLARI, 2004, p.22). Analisar a história da mulher no esporte em Goiás equivale a analisar também o cotidiano desse grupo social, suas estratégias de luta, bem como os mecanismos de poder e disciplinamento. Desse modo, “ampliar e aprofundar temas concernentes do mundo esportivo faz se mister em razão de uma esfera cultural e social reveladora de um campo em que ocorrem profundas transformações nas formas de pensar, agir e de se representar na humanidade” (PIRES, JÚNIOR E HONORATO, 2008, p.10,11).

Somam-se a isso as limitações da historiografia goiana, que sofre ainda dificuldades de preservar a própria memória. Não por acaso, encontra-se facilmente diversas referências sobre a história do esporte nas regiões Sul e Sudeste do Brasil. Enquanto isso, quase nada se tem referente à Goiás. Regiões política e economicamente mais dinâmicas acabam sendo consideradas de maior importância, capazes de representar todo o país. A história de regiões periféricas, por outro lado, acabam sendo relativizadas e em certa medida até menosprezadas.

Metodologia

Este estudo realiza-se atualmente como projeto de pesquisa da dissertação de mestrado no âmbito do Programa de Pós – Graduação Interdisciplinar em Direitos Humanos, situado na linha de pesquisa Práticas e representações sociais de promoção e defesa dos Direitos Humanos, da Universidade Federal de Goiás. Seu prazo de realização é um período de 24 meses, entre agosto 2012 e agosto de 2014.

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As expectativas desse trabalho é a de recuperar a história da participação feminina no esporte em Goiás, durante o período de 1930 à 1945, observando como mudanças sociais, culturais e políticas ocorridas no Estado, implicaram transformações em diversos âmbitos, incluindo aí as práticas esportivas. Assim, esperamos colaborar com a história regional de Goiás e com o reconhecimento das mulheres como sujeitas sociais e históricas, uma vez que estas, em muitas vezes não aparecem como tal.

Trata-se então, de um estudo no campo da História Social e da História das Mulheres, na promoção dos Direitos Humanos, realizado através de uma pesquisa documental e bibliográfica. A pesquisa história, é divide em três etapas, de acordo com Rüsen (2010), sendo elas: heurística, crítica e interpretação.

A heurística se dá na localização, reunião, examinação e classificação dos dados coletados pelo pesquisador. Aqui, mais especificamente, os dados foram coletados2 em alguns jornais da época, tais como o Correio Official, Voz do Povo, Folha de Goiás, O Lar e O Popular, que nos servirão como principais fontes primárias. Boa parte desse material pode ser encontrado no Arquivo Histórico Estadual de Goiás, no Centro de documentação da Organização Jaime Câmara, no Museu da Imagem e do Som, na Hemeroteca Digital Brasileira e também nos arquivos históricos existentes nas cidades do interior de Goiás, nomeadamente Goiás Velho, Catalão e Ipameri. Além disso, também serão buscadas referências bibliográficas de diversos autores que nos trazem contribuições sobre o tema. O propósito dessa etapa da pesquisa é identificar informações históricas relacionadas a práticas esportivas femininas no Estado de Goiás, bem como seu respectivo contexto.

A crítica, se consiste na verificação da veracidade ou contradições encontradas nos fatos dos dados coletados. E a interpretação, se constitui na construção de uma “teia” de informações, divididas em categorias escolhidas de acordo com os temas relevantes que foram aparecendo durante a leitura dos fatos e informações dos dados coletados. Onde sintetizamos, “as informações garantidas pela crítica das fontes sobre o passado humano. Ela organiza as informações das fontes em histórias. Elas a insere no contexto narrativo em que os fatos do passado aparecem e podem ser compreendidos como história” (RÜSEN, 2010, p. 127).

O propósito desta etapa é melhor compreender os acontecimentos históricos, observando qual era o lugar da mulher e do esporte na sociedade goiana e qual lugar de Goiás, no cenário nacional. Para tanto, foram coletados dados dos anos anteriores ao recorte temporal proposto. A análsise dos dados será feita através da Análise do Discurso. A fim de identificar através de uma

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análise critica do discurso dos registros históricos em que se têm notícias da presença feminina nos esportes visa ampliar o entendimento a respeito desse processo, a fim de entendermos como se deu, de fato, a presença, inserção e participação das mulheres nessas práticas.

Nesse sentido, a construção da dissertação será divida, a priori, em dois períodos, onde um capítulo, terá o recorte temporal até 1936, antes da efetiva mudança da capital da Cidade de Goiás, para Goiânia (1936). E outro capítulo, trás o recorte temporal entre 1937 a 1945, se constituindo entre o primeiro ano da cidade de Goiânia como a nova Capital do estado de Goiás e o ano do golpe de Estado, anunciado por Getúlio, instaurando uma “nova ordem” no Brasil (1937) até 1945, que o último ano do governo da Era Vargas. E ainda outros capítulos referentes a Revisão de Literatura, Referencial Teórico Metodológico.

No atual momento, estamos construindo o Referencial Teórico Metodológico.

Resultados e Resultados esperados

Espera-se compreender como se deu a presença, inserção e participação goiana na História do Esporte em Goiás. Para tanto, faremos uma análise da conjuntura geral para entendermos qual era o lugar da mulher e do homem brasileiros no recorte temporal a ser estudado e ao mesmo tempo, observar também, qual era o lugar da mulher e do homem goianos, nesse mesmo período. Juntamente com todo o desenrolar social, uma vez que entendemos aqui, que a história da mulher não se faz separa da história dos homens ou história regional.

Um olhar acerca do lugar das Mulheres Brasileiras – Meados da década de 30.

Em meados do século XIX, não se tem registros de lutas femininas, pelo fim das desigualdades entre os sexos, tanto na vida social, quanto esportiva. Já início do século XX, as identidades e os direitos ainda eram mais rígidos, porém, com o passar do tempo, “essa predestinação passou a ser questionada e desmontada, em razão de diversas mobilidades sociais, e de mudanças históricas que se refletiam por toda sociedade ocidental” (KNIJNIK, 2010, p.26). Nesse momento,

Tradições sendo refutadas, novas ideologias surgindo, a negação das religiões tradicionais; as revoluções sociais e de costumes foram aos poucos transformando-o mais flexível e aberto, em contraste com o dos séculos e mesmo com o de décadas passadas. (KNIJNIK, 2010, p.26)

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Essas grandes transformações sociais, sobre o direito das mulheres, foram conquistadas principalmente através das lutas dos movimentos feministas. O século XX anuncia um tempo novo, de modernidades, onde “a mulher brasileira da elite inicia sua emancipação na sociedade, cada vez mais, inserindo-se no espaço público, buscando o conhecimento e reconhecimento dos seus direitos” (MOURÃO, 2000, p7). Esses movimentos se deram através de ações contra a opressão e discriminação feminina, encontrando uma maior visibilidade e expressividade no movimento que tinha como objetivo o voto das mulheres, que ficou conhecido como a primeira onda do movimento feminista. (LOURO, 1997), que o terá,

[...] no desdobramento a assim denominada "segunda onda" — aquela que se inicia no final da década de 1960 — que o feminismo, além das preocupações sociais e políticas, irá se voltar para as construções propriamente teóricas. No âmbito do debate que a partir de então se trava, entre estudiosas e militantes, de um lado, e seus críticos ou suas críticas, de outro, será engendrado e problematizado o conceito de gênero. (LOURO, 1997, p.15).

O objetivo maior desses movimentos foi então, dar visibilidade à presença da mulher na história, tornando-a presente nos diversos âmbitos sociais, rompendo com a imagem e representação da mulher, como “dona do lar”. Para Louro, 1997, essa invisibilidade como sujeito, fez com que as mulheres fossem segregadas das instâncias sociais e políticas por muito tempo, como se elas ficasse restritas a esfera privada, enquanto na verdade,

Sem dúvida, desde há muito tempo, as mulheres das classes trabalhadoras e camponesas exerciam atividades fora do lar, nas fábricas, nas oficinas e nas lavouras. Gradativamente, essas e outras mulheres passaram a ocupar também escritórios, lojas, escolas e hospitais. Suas atividades, no entanto, eram quase sempre (como são ainda hoje, em boa parte) rigidamente controladas e dirigidas por homens e geralmente representadas como secundárias, "de apoio", de assessoria ou auxílio, muitas vezes ligado à assistência, ao cuidado ou à educação. As características dessas ocupações, bem como a ocultação do rotineiro trabalho doméstico, passavam agora a ser observadas. Mais ainda, as estudiosas feministas iriam também demonstrar e denunciar a ausência feminina nas ciências, nas letras, nas artes. (LOURO, 1997, p.17)

Nesse contexto, muitas mulheres vão fundar revistas, jornais, promover festas e eventos, encontros de estudos, etc., mas ainda eram excluídas do mundo acadêmico e os movimentos tentavam integrar o mundo feminino na esfera social, através do caráter político. Por muito tempo, lutaram pelas várias “formas de trabalho, corpo, prazer, afetos, escolarização, oportunidades de expressão e de manifestação artística, profissional e política, modos de inserção na economia e no campo jurídico” (LOURO, 1997, p.20). Assim, “a maior parte da história das mulheres tem buscado de alguma forma incluir as mulheres como objetos de estudo, sujeitos da história” (SCOTT, 1992, p.77).

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A Era Vargas3, foi marcada por um período de fortes preocupações com a regulamentação da vida da população. A década de 30 foi marcada por um forte processo de industrialização e modernização em todo Brasil. O Estado agora, gerenciava as relações sociais, que demandavam grandes medidas de controle da saúde pública, nacionalidade, força e virilidade da nação brasileira. As mulheres4 nesse sentido, adquirem grande importância social, para constituição de um novo Brasil, onde agora ela “sai das portas das fábricas, da militância, ou seja, do espaço público, persuadida pelo discurso ideológico do Estado que se firmava na idéia do mens sana in corpore

sano, etc.” (NAHES, 2007, p.18).

Durante o governo de Vargas, a Constituição de 34 foi promulgada e pela primeira vez, as questões sociais5 foram incorporadas. Nesse mesmo ano, foi eleita a Dra. Carlota Pereira de Queiroz, como a primeira Deputada Federal brasileira e além do voto feminino, através do novo código eleitoral, muitas políticas públicas específicas para mulheres e crianças foram criadas e através de,

diversas medidas higiênicas, de assistência médica e social (previdência e pensões), de segurança alimentar, de promoção da educação física, do incremento da natalidade, eram situadas, nos discursos da época, umas em relação às outras, configurando um projeto de totalidade que visava coordenar as ações do Estado na formação da população. (OSTOS, 2009 , p.45)

A autora diz ainda que, que nesse período, as mulheres eram consideradas o “signo da vida” e através delas, a política de governo visava um novo brasileiro, um povo saudável; através delas, seria mais fácil implementar novas medidas pois,

para a formação de um povo saudável, era preciso, não apenas higienizar os espaços e combater as epidemias, mas, também, educar as mulheres dentro desses modernos princípios de conservação e majoração da vida, já que caberia a elas assegurar, no plano doméstico, a aplicação de certos preceitos da medicina preventiva, da puericultura, da nutrição e da psicologia. (OSTOS, 2009 , p.50)

3 “O período de 1930 a 1945, também conhecido no Brasil como Era Vargas, foi uma época marcada pela força das

ideias nacionalistas, que permearam as mais diversas instâncias da sociedade, constituindo o pano de fundo de muitas discussões e propostas políticas. A partir do marco da nacionalidade se desenvolveram inúmeros debates, dentre os quais aquele relativo à necessidade de preservação da natureza do país, através do uso racional dos seus recursos, e aquele voltado para a discussão sobre o papel das mulheres na sociedade brasileira. A natureza do país foi alvo de várias regulamentações que procuraram gerir sua exploração e preservação. Esse período também se destacou por uma forte valorização da família tradicional, de modo que a figura da mulher/mãe foi apontada como suporte da organização social, dando ensejo ao surgimento de diversas propostas em torno dos direitos e deveres das mulheres.” (OSTOS, 2009, p. 9)

4 A realidade das mulheres operárias era muito diferente da realidade das mulheres da elite.

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Nesse período também, nota-se a exigência de um novo e moderno modelo de escolarização, o que fortalecia a presença da mulher, nos grupos escolares, cursos normalistas, complementares e na prática do magistério, para atuação no ensino primário.

A imprensa feminina6, constitui um grande veículo de comunicação para as mulheres na regulamentação e controle de seus corpos, tendo uma função ideológica e disfarçada, e em muitas vezes nem eram escritas e/ou publicadas por mulheres (NAHES, 2007). E associadas a “fotografia com texto imagético [...] as fotos de moda, beleza, decoração, temas relacionados à fantasia, ou ainda, aos mitos hollywoodianos, passam a ser a corporificação de um ideal a ser imitado.” (NAHES, 2007, p.82). Diversas revistas e jornais eram consideradas leituras culturais para o público feminino burguês. Sendo que,

a partir da Era Vargas, e mais acentuadamente no período do Estado Novo, passa a fazer, em suas matérias, uma campanha massiva de reforço do papel de mãe, de boa esposa, de dona de casa, enfim, o anjo do lar que não tem sexualidade e, portanto, devia repudiar sua condição de ser sexual, já que este era um papel destinado às mulheres excessivamente independentes ou às prostitutas que percorriam as cidades nos anos 20, vistas como o “perigo venéreo” e alvo predileto da sociedade higienista dessa década. (NAHES, 2007, p.111).

Nesse período, portanto, vários seguimentos sociais, afirmam a representação e a imagem da mulher “apontando para a necessidade de se impor um dever ser” feminino, não apenas por uma questão de moral social e familiar, mas, também, como modo de garantir o progresso da nação através da formação de uma população numerosa, forte e “civilizada.” (OSTOS, 2009, p.70).

Um olhar acerca do lugar da Mulher na História do Esporte em Goiás – Primeiras décadas do século XX

Em Goiás, as práticas esportivas já vinham acontecendo mesmo antes do crescente discurso de modernidade. De acordo com Dias (2012, p.8)7, no final da primeira e ínicio da segunda década do século XX, várias organizações de times esportivos se formavam por várias localidades do estado de Goiás (Norte de Goiás, Anápolis, Pirenópolis, Pires do Rio, Ipameri e Catalão), que recebiam grandes influências dos uberabenses. Mas ainda para esse autor, o “dinamismo econômico

6 “A imprensa em geral visaria, ao conjunto do público e não a um sexo determinado, e se conceituaria como o

verdadeiro jornalismo, lugar onde se lida com o fato político no lugar do entretenimento, da futilidade ou, ainda, da alienação, pois, para muitos, ainda hoje, imprensa feminina resume-se a revistas de moda, culinária, poesia, moldes e figurinos, horóscopo, consultório sentimental, contos, crônicas, reportagens, fofocas, jardinagem, educação infantil, saúde, maquilagem, dentre tantos outros assuntos que abordam o rotulado “universo feminino.” (NAHES, 2007, p.74).

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DIAS, C. Primórdios do futebol em Goias -1907/ 1936. Revista de História Regional, Maringá, v.18, n.1, no prelo, 2012.

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e crescimento demográfico [...] parecem ter sido algumas das circunstâncias históricas necessárias ao desenvolvimento do futebol [...]”.

O que para esse autor, elas foram, também, de grande importância para a disseminação dessas novas práticas. Práticas estas que viriam a ser, para além da política ambígua de Vargas, um ambiente de afirmação dessas mulheres, como sujeitas ativas e participativas da sociedade; ainda que esta sociedade e suas representações as empurrassem para os “bastidores” e para a pacividade dos acontecimentos, atribuindo grande parte dos méritos, aos homens, uma vez que a masculinidade é, também, afirmada através de atividades ativas.

Nesse sentido, espera-se entender qual é o real lugar da goiana nos primórdios do esporte goiano. Esse lugar condiz com o que é representado como seu, ao longo da história? Como se deu a presença e inserção das goianas nessas práticas? Para tanto, até o momento8 estamos entendendo como foram as relações sociais, simbolos e representações, antes da mudança da capital, onde essa mudança traz inúmeras simbologias e significados, tanto para as goianas e goianos, quanto para todos brasileiros e brasileiras.

Conclusão

Até o momento, pode-se concluir que a mulher goiana estava presente e participativa nas práticas esportivas goianas, desde seus primórdios, o que vem a contradizer com o imaginário social de que a mulher não participava de espaços e eventos públicos, sendo estas, unica e exclusivamente pertencente ao lar.

É de se saltar aos olhos, uma vez que a sociedade goiana, ao que se parece vivenciava relações sociais bastante forte, ao que se diz respeito a religiosidade. Nesse sentido, entende-se que é importante entender os motivos que a mulher foi (é?) excluída, silenciada e invisibilizadas da história, principalmente em âmbitos socialmente construídos e representados como essencialmente masculinos. Mas o silêncio não significa ausência. Nesse sentido, construir a história das mulheres, através de suas próprias narrativas, sendo sujeitAs ativas e protagonistas da sua própria história, é também um Direito Humano. Direito de serem cidadãs sociais da sua própria história, de se afirmarem como sujeitAs legítimas de direito e história. E ainda, pode-se contribuir para uma nova visão de mulher no mundo contemporâneo, para tanto, o esporte não é um campo trivial.

8 Até o momento da construção deste artigo as análise de dados referente a tal período histórico, que ao final se

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Entendendo ainda que se tais questões forem tratadas interdisciplinarmente, a partir de uma outra história das mulheres, tais paradigmas e representações sociais de “naturalidade” da exclusão e invisibilidade da mulher poderão ser superadas. Para tanto, entender a mulher enquanto sujeito social, ativa e participativa é uma questão que necessita ser tratada e historicizada em todos os âmbitos sociais e acadêmicos, para além do senso comum e dos “papéis” socialmente criados. Referências

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Sport and woman in Goiás (1930/1945)

Abstract: This article consists of the research project, which is ongoing for the construction of the dissertation on Human Rights, Federal University of Goiás is located in the field of Social History, Women's History and promotion of Human Rights, developed through documentary analysis in primary and secondary sources. The research question was raised by the results of previous research concerning the History of Sport in Goiás, which pointed to the period 1930 to 1945 as a time of great change in Goiás, with implications for all sectors, including sports practices . It has as main question: How did the insertion, the presence and participation of women in sport in Goiás, in this period? Pretemde, therefore, observe the History of Sport in Goiás, investigating the modes of participation and inclusion of women in sports practices in this period, in order to collaborate with regional history and the knowledge and recognition of women as historical subjects. We mention mainly in Days (2012) on the History of Sport in Goiás; Chaul (1999) on the construction and relocation of the capital of Goiás; Burke (1992) and Perrot (1988) compared the writing of history and Deleted History , and Scott (1992), in relation to gender category for historical analysis and the History of Women.

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