PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA PRIMEIRA REGIÃO APELAÇÃO CÍVEL 2007.39.02.0008877/PA Processo na Origem: 8870620074013902 RELATOR(A) : DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE APELANTE : ESTADO DO PARA PROCURADOR : ARY LIMA CAVALCANTI E OUTROS(AS)
APELANTE : INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVAVEIS IBAMA
PROCURADOR : ADRIANA MAIA VENTURINI
APELANTE : INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACAO E REFORMA AGRARIA INCRA PROCURADOR : ADRIANA MAIA VENTURINI APELANTE : MINISTERIO PUBLICO FEDERAL PROCURADOR : NAYANA FADUL DA SILVA APELADO : OS MESMOS RELATÓRIO
O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE
(RELATOR):
Cuidase de recursos de apelação interpostos contra sentença
proferida pelo Juízo da Vara Federal da Subseção Judiciária de Santarém/PA, nos autos de ação civil pública ajuizada pelo Ministério Público Federal contra o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, o Estado do Pará e o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA, em que se busca a concessão de provimento judicial, no sentido de que sejam declaradas inválidas as Portarias de criação de Projetos de Assentamento (PA), Projetos de Assentamento Coletivo (PAC) e Projetos de Desenvolvimento
Sustentável (PDS), editadas pela Superintendência Regional do INCRA, em
Santarém, nos anos de 2005 e 2006, bem assim, a invalidação de quaisquer
autorizações, licenças ou permissões de atividade de exploração florestal
manejadas nos mencionados projetos, já emitidas pela Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente do Estado do Pará – SECTAM e a abstenção
de que outras sejam emitidas, relativamente a projetos dessa natureza, na área descrita nos autos.
A pretensão deduzida nestes autos tem por suporte a alegação de que os aludidos projetos de assentamento rural afigurarseiam irregulares, eis que estariam localizados em áreas de Unidades de Conservação ou suas zonas de amortecimento, havendo casos de sobreposição ao Parque Nacional da Amazônia – unidade de conservação integral, onde é vedada qualquer ocupação humana –, na região oeste do Estado do Pará, tendo sido implantados sem o regular licenciamento ambiental, expedido pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.
Após rejeitar as preliminares suscitadas pelo Estado do Pará, o juízo monocrático julgou procedente a demanda, para:
1) Declarar inválidas todas as Portarias de criação dos Projetos de
Assentamento (PA), Projetos de Assentamento Coletivo (PAC),
Projetos de Desenvolvimento sustentável (PDS), publicadas nos anos de 2005 e 2006, inclusive, pela Superintendência Regional do INCRA em Santarém.
2) Invalidar quaisquer autorizações, licenças ou permissões de
atividades de exploração florestal manejada naqueles Projetos de
Assentamento (PA), Projetos de Assentamento Coletivo (PAC),
Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS), pelo INCRA entre 2005 e 2006, inclusive, já emitidas pela SECTAM (atual SEMA).
3) Indeferir os pedidos de desinterdição de Projetos de
Assentamento.
Foram interpostos recursos de apelação pelo Ministério Público
Federal, pelo Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA, pelo Estado do Pará e pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA.
Em suas razões recursais, sustenta o Ministério Público Federal, em resumo, que, a despeito do integral acolhimento do seu pleito ventilado na inicial,
na hipótese dos autos, em face da superveniente alteração da situação
fáticojurídica que envolve a matéria, os assentamentos que obtiveram
licenciamento ambiental, concedido pelo órgão estadual, após o ajuizamento da demanda, deveriam ser excluídos do decreto sentencial, pugnando, assim, pela reforma parcial da sentença recorrida (fls. 3383/3388vº).
Por sua vez, insiste o Estado do Pará nas preliminares deduzidas perante o juízo monocrático, sustentando, no mérito, que, na espécie, a Secretaria Estadual do Meio Ambiente – SEMA disporia de competência para o licenciamento
ambiental dos aludidos assentamentos, destacando que a matéria alusiva à
alegada sobreposição de tais assentamentos a Unidades de Conservação de
Proteção Integral reclamaria dilação probatória (fls. 3074/3098).
De sua banda, suscita o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA a preliminar de nulidade do processo, sob o fundamento de que, a despeito de ter sido admitida a emenda à inicial, para a sua inclusão no pólo passivo da demanda e de ter sido ordenada a sua citação, tal ato processual não chegou a ser concretizado, violando, assim, as disposições legais de regência. No mais, sustenta a competência do órgão ambiental estadual, para fins de concessão do licenciamento ambiental dos assentamentos descritos nos autos, por força das alterações legislativas introduzidas ao Código Florestal vigente, na época, pela Lei nº 11.284/2006 (fls. 3106/3119).
Por fim, suscita o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA a preliminar de nulidade do processo, à míngua de regular citação do IBAMA, na condição de litisconsorte passivo necessário. No mérito, sustenta a regularidade dos assentamentos rurais em referência (fls. 3126/3174).
Com as contrarrazões, subiram os autos a este egrégio Tribunal, por força, também, da remessa oficial interposta, tida por interposta, pugnando a douta Procuradoria Regional da República pelo provimento parcial dos recursos, para reformarse, em parte, a sentença recorrida, tãosomente, para excluir do julgado o rol dos assentamentos já licenciados e aprovados pelo órgão ambiental estadual (fls. 3938/3943).
APELAÇÃO CÍVEL 2007.39.02.0008877/PA Processo na Origem: 8870620074013902 RELATOR(A) : DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE APELANTE : ESTADO DO PARA PROCURADOR : ARY LIMA CAVALCANTI E OUTROS(AS)
APELANTE : INSTITUTO BRASILEIRO DO MEIO AMBIENTE E DOS RECURSOS NATURAIS RENOVAVEIS IBAMA
PROCURADOR : ADRIANA MAIA VENTURINI
APELANTE : INSTITUTO NACIONAL DE COLONIZACAO E REFORMA AGRARIA INCRA PROCURADOR : ADRIANA MAIA VENTURINI APELANTE : MINISTERIO PUBLICO FEDERAL PROCURADOR : NAYANA FADUL DA SILVA APELADO : OS MESMOS VOTO
O EXMO. SR. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE
(RELATOR):
Examino, inicialmente, a preliminar de nulidade da sentença, suscitada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, sob o fundamento de ausência de sua regular citação.
Compulsando os elementos carreados para os presentes autos,
verificase que esta ação foi proposta, inicialmente, contra o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária – INCRA e o Estado do Pará, sobrevindo emenda à petição inicial, em que o douto Ministério Público Federal pugnou pela inclusão do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis –
IBAMA no pólo passivo da demanda, postulandose, em relação à referida
autarquia, que seja reconhecida a sua competência para o licenciamento ambiental
dos assentamentos descritos nos autos, bem assim, a sua condenação em
obrigação de fazer tais licenciamentos, à luz da legislação de regência (fls. 755764).
Embora o juízo monocrático tenha deferido tal pleito e ordenado, em duas ocasiões distintas, a citação da aludida autarquia, em nenhum momento, tal ato se concretizou, tendo em vista que, após a prolação da decisão de fls. 2893/2894, onde fora determinada, pela segunda vez, a citação do IBAMA,
sobrevieram a veiculação de reiteradas petições formuladas pelo INCRA, culminando na prolação da sentença monocrática, sem que tal ato processual tenha sido praticado.
Dispõe o art. 214 do CPC, “ para a validade do processo é indispensável a citação inicial do réu ”, sendo que o seu comparecimento espontâneo supre eventual falta de citação (§ 1º), hipóteses não ocorridas, na espécie.
Sobre o tema, confiramse, dentre muitos outros, os seguintes julgados:
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO POR TÍTULO JUDICIAL. ARGÜIÇÃO DE NULIDADE DA CITAÇÃO NA FASE COGNITIVA, PELA AUTORAEXEQÜENTE. POSSIBILIDADE. NULIDADE PLENO IURE. INTERESSE. RECURSO PROVIDO.
I A nulidade pleno iure deve ser apreciada pelo órgão julgador mesmo de ofício, não se sujeitando à coisa julgada, como é o caso do defeito de citação, salvo eventual suprimento, comunicandose aos atos subseqüentes.
II A citação, como ato essencial ao devido processo legal, à garantia e segurança do processo como instrumento de jurisdição, deve observar os requisitos legais, pena de nulidade quando não suprido o vício , o qual deve ser apreciado mesmo no curso da execução da sentença.
(REsp 100.998/SP, Rel. MIN. SALVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA, QUARTA TURMA, julgado em 27/04/1999, DJ 21/06/1999, p. 158) – grifei.
PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO DE COBRANÇA. EXTINÇÃO LIMINAR DO PROCESSO. AUSÊNCIA DE CITAÇÃO. EXAME DO MÉRITO EM SEDE RECURSAL (CPC, ART. 515, § 3º). CERCEAMENTO DE DEFESA. NULIDADE DO JULGADO.
I Nos termos do art. 214, caput, do CPC, 'para a validade do processo, é indispensável a citação inicial do réu", hipótese não ocorrida, no caso concreto, do que resulta a nulidade do julgado que examinou, em sede de apelação, o mérito da pretensão deduzida nos autos.
II Anulação parcial do Acórdão, com determinação de retorno dos autos ao juízo de origem, para fins de regular instrução.
(AC 003727607.2008.4.01.3400/DF, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, QUINTA TURMA, eDJF1 p.110 de 01/08/2013)
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. CONTRATO DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL. RESOLUÇÃO. LEGITMIDADE PASSIVA AD CAUSAM. TERCEIROS ADQUIRENTES. LITISCONSÓRCIO PASSIVO NECESSÁRIO. CITAÇÃO DEFEITUOSA. NULIDADE.
(...)
II A citação regular do promovido é ato indispensável à validade do processo (CPC, art. 214). A ausência, não justificada, da nota de ciente do promovido, no respectivo mandado citatório conduz à nulidade do ato, mormente quando daí decorra prejuízo para a parte, como no caso, em que lhe fora decretada a revelia.
III Apelação provida, em parte. Processo anulado, a partir da citação inicial.
(AC 000130923.2003.4.01.3901 / PA, Rel. DESEMBARGADOR FEDERAL SOUZA PRUDENTE, SEXTA TURMA, DJ p.103 de 05/12/2005)
Assim posta a questão, não regularmente angularizada a relação processual, como no caso, à míngua de citação válida Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA, impõese a anulação da sentença, a fim de que seja retomada a instrução do feito, suprindose a omissão em referência, sem prejuízo dos demais atos processuais que lhe antecederam, inclusive, no que pertine à concessão da antecipação da tutela inicialmente deferida pelo juízo monocrático, eis que presentes os pressupostos legais necessários para a sua concessão, conforme bem acentuado na decisão de fls. 442/448.
***
Com estas considerações, acolho a preliminar veiculada pelo
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis IBAMA, para declarar a nulidade da sentença e determinar o retorno dos autos ao juízo de origem, que deverá retomar a instrução processual, sem prejuízo dos atos processuais antes praticados, inclusive, da decisão de fls. 442/448, em que restou deferido o pedido de antecipação da tutela formulado na inicial, com
observância da forma legal de regência, restando prejudicado o exame das demais questões ventiladas nos recursos de apelação interpostos.
Oficiese, com urgência, via FAX, aos Srs. Presidentes da Fundação Nacional do Índio – FUNAI e do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis – IBAMA, bem assim, ao Sr. Secretário de Meio Ambiente do Estado do Pará – SEMA/PA, para fins de cumprimento deste julgado, sob pena da multa coercitiva, no montante de R$ 10.000,00 (dez mil reais), por dia de atraso, no cumprimento deste julgado mandamental, a contar de sua ciência, sem prejuízo das demais sanções cabíveis, na espécie, nos termos do artigo 14, inciso V e respectivo parágrafo único do CPC vigente.
Este é meu voto.