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MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL PROCURADORIA-GERAL DA REPÚBLICA

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186598/2021/MPF/AJCRIM-STF/VCPGR/HJ

PETIÇÃON. 8.975/DF

REQUERENTES: Sob Sigilo

RELATOR: Ministro Alexandre de Moraes

Excelentíssimo Senhor Ministro Relator, EGRÉGIO PLENÁRIO

O MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, pelo Vice-Procurador-Geral da

República, vem à presença de Vossa Excelência interpor Agravo Regimental da decisão pela qual indeferido o pedido de redistribuição da representação da autoridade policial, pelos motivos que passa a expor:

I

-1. O Ministério Público Federal tomou ciência da decisão agravada em 26/5/2021 (data da ciência nos autos). Assim, o prazo recursal iniciará no dia 27/5/2021, quinta-feira, fndando-se, portanto, no dia 31/5/2021, segunda-feira.

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-2. A presente Petição fora autuada a partir de notícia-crime proposta pelo Senador Randolph Rodrigues, e outros, em desfavor do Ministro de Estado do Meio Ambiente, Ricardo de Aquino Salles, com foro no Supremo Tribunal Federal.

3. A notícia-crime se centrou no conteúdo de uma reunião ministerial ocorrida no dia 22/4/2020 e publicizada a partir dos autos do INQ 4.831, com registro audiovisual, na qual o Ministro do Meio Ambiente fez as seguintes afirmações:

“A oportunidade que nós temos, que a imprensa está nos dando um pouco de alívio nos outros temas, é passar as reformas infralegais de desregulamentação, simplificação, todas as reformas que o mundo inteiro nessas viagens que se referiu o Onyx certamente cobrou dele, cobrou do Paulo cobrou da Teresa, cobrou do Tarcísio. cobrou de todo mundo.” (LAUDO Nn 1242/2020 - INC/DITEC/PF, p. 19/20).

“A segurança jurídica, da previsibilidade, da simplificação, essa grande parte dessa matéria ela se dá em portarias e norma dos ministérios que aqui estão, inclusive o de Meio Ambiente. E que são muito difíceis, e nesse aspecto eu acho que o Meio Ambiente é o mais difícil de passar qualquer mudança infralegal em termos de infraestrutura. É instrução normativa e portaria. Porque tudo que a gente faz é pau no judiciário, no dia seguinte.

Então pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa. porque só fala de COVID e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De IPHAN, de ministério da Agricultura, de ministério de Meio Ambiente de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação, é de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos." (LAUDO Nn 1242/2020 – INC/DITEC/PF, p. 20).

4. Os representantes identificaram atos concretos, no campo da política ambiental, que corresponderiam a efeitos práticos da fala do Ministro. Apontaram a publicação do Decreto 10.341, de 6 de maio de 2020, por meio do qual foram retiradas competências do Ibama e do ICMBio, repassadas ao Ministério da Defesa. Também apontaram o Despacho MMA 4.410/2020, em que reconhecidas como consolidadas áreas de preservação permanente desmatadas e ocupadas até julho de 2018.

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5. A Procuradoria-Geral da República manifestou-se pela extinção da Petição. Isso porque os mesmos fatos já haviam sido objeto de representação ao Ministério Público Federal, do que se originou a Notícia de Fato 1.00.000.010304/2020, que fora arquivada.

6. O Ministro Relator, com fundamento nos arts. 21, XV e 231, § 4º, do RISTF, determinou o arquivamento dos autos em 05/10/2020.

7. Posteriormente, a Polícia Federal, participando diretamente ao Supremo Tribunal Federal o seu IPL 2021.0003967 – SR/PF/DF, instaurado para apurar as infrações de extração ilegal de madeira na Amazônia, deu causa a um desarquivamento decidido pelo Relator sem a oitiva do titular da ação penal. 8. Conforme consta do comprovante de protocolo de fl. 65, a representação foi protocolizada pela autoridade policial às 14h25 de 14/05/2021, sexta-feira, de forma dirigida “por dependência à PET 8975”, sem que houvesse prévio controle do juízo natural. Assim, o referido IPL foi distribuído a estes autos (fls. 65/156).

9. Na ocasião, a autoridade policial requereu a adoção de uma série de diligências investigativas em desfavor do Ministro de Estado do Meio Ambiente e de demais investigados, quais sejam:

a) autorização para realização de perícia nas amostras de madeira apreendidas pelas autoridades norte-americanas;

b) buscas e apreensões em endereços ligados aos envolvidos; c) afastamento de sigilos bancário e fiscal;

d) suspensão cautelar do exercício da função pública dos investigados que são servidores públicos; e

e) suspensão dos efeitos do Despacho 7036900, de 25.2.2020.

10. O Ministro Alexandre de Moraes, antes mesmo da oitiva do órgão ministerial, desarquivou a Petição em 13/05/2021, quinta-feira – em aparente divergência com o protocolo da representação policial –, e, ato contínuo, também

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sem colher o pronunciamento ministerial, deferiu as medidas cautelares e investigativas buscadas pela autoridade policial.

11. Os fatos agora investigados cingem-se fundamentalmente à atuação coordenada de servidores ocupantes de cargos em comissão do Ministério do Meio Ambiente, indicados pelo Ministro Ricardo Salles, os quais atuariam para garantir interesses ilegítimos de empresas madeireiras.

12. Nesse sentido, indicaram-se diversos episódios de atuação desses servidores em descompasso com as recomendações técnicas, com o objetivo de promover a regularização de cargas exportadas irregularmente e apreendidas pelas autoridades norte-americanas.

13. É citada, nesse contexto, a edição do Despacho 7036900/2020-GABIN pela Presidência do IBAMA, que derrogou a Instrução Normativa 15/2011 do órgão, passando-se a aceitar a licença de transporte de madeira também como licença de exportação.

14. Entre as pessoas jurídicas citadas estão a CONFLORESTA – ASSOC. BRAS. DAS EMP. CONCESSIONÁRIAS FLORESTAIS, a AIMEX – ASSOC. DAS IND. EXPOR. DE MADEIRA DO PARÁ, a EBATA PRODUTOS FLORESTAIS LTDA, a TRADELINK MADEIRAS LTDA. e a WIZI INDÚSTRIA E COMÉRCIO E EXPORTAÇÃO DE MADEIRAS LTDA.

15. Em 19/05/2021, após 7 (sete) dias, ainda sem o conhecimento do órgão ministerial, titular da ação penal e responsável pelo controle externo da atividade policial – inclusive mediante regular acompanhamento das diligências –, foram cumpridas as buscas e apreensões decretadas pelo Ministro Relator. 16. O Ministério Público Federal entendeu que o protocolo da representação da autoridade policial diretamente nos autos em epígrafe, “por dependência à PET 8975”, importou violação à prevenção da Ministra Cármen Lúcia para apreciar os requerimentos formulados na representação. Ocorre que a Ministra Cármen Lúcia tornara-se relatora por distribuição das PETs 9.594 e 9.595 nas quais a Policia Federal trouxera a investigação de delitos ligados à cadeia

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extrativa de madeira na amazônia, com envolvimento de autoridades federais e com foro no Supremo Tribunal Federal.

17. Quando do ingresso das PETs 9.594 e 9.595, nem o sistema de distribuição da Suprema Corte nem o Ministério Público Federal, prontamente cientificado, identificaram identidade ou conexão entre esses feitos e aqueloutro que já fora arquivado na jurisdição do Ministro Alexandre de Moraes. Tendo sido inteirado das demais investigações policiais – também sobre exploração criminosa de madeira amazônica com suspeita de envolvimento de autoridades --- que aportaram à Corte na Relatoria do Ministro Alexandre de Morais, o Ministério Público Federal, que já adotara providências nos feitos da Ministra Cármen Lúcia, para preservação da higidez dos feitos investigatórios requereu:

a) a redistribuição dos presentes autos à Ministra Cármen Lúcia, dada a distribuição das PETs 9.594 e 9.595 anteriormente ao protocolo da representação pela autoridade policial, ou;

b) na eventualidade de haver dúvidas quanto ao destino dos autos, a sua remessa à Presidência do STF, para que decida sobre a prevenção da Ministra Cármen Lúcia para conhecer da representação da autoridade policial processada nestes autos, ou se é devida sua livre distribuição.

18. Em 26/5/2021, o Ministro Relator indeferiu os pedidos do MPF, aos fundamentos de que “os fatos tratados na presente PET 8.975 (processo nº

0097590-87.2020.1.00.0000) são absolutamente diversos daqueles tratados nas PET 9.595 e 9.594, ambas de relatoria da Ministra Cármen Lúcia”, bem como

porque “a distribuição da PET 8.975 (processo nº 0097590-87.2020.1.00.0000) é

mais antiga dos que as demais e refere-se, exatamente, aos mesmos fatos da representação feita pela autoridade policial e que deu ensejo ao desarquivamento dos autos”.

19. Em face dessa decisão é que se interpõe o presente agravo regimental. III

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-20. Inicialmente, destaca o órgão ministerial ser atribuição da Presidência do STF resolver controvérsia acerca da distribuição de processos no âmbito do Tribunal, por se tratar de questão submetida à Secretaria Judiciária, à qual dirigidas as normas regimentais acerca dos critérios objetivos de distribuição. 21. A decisão da Presidência sobre a distribuição é, ademais, irrecorrível, nos termos da jurisprudência da Suprema Corte:

[…] É manifestamente inadmissível agravo regimental contra decisão da Presidência pela qual definida a competência de um dos Ministros, pois se trata de matéria administrativa referente à organização interna deste Supremo Tribunal. Assim, por exemplo: “fixação da competência de um, dentre todos os ministros igualmente competentes desta Corte para relatar causas e recursos, é assunto atinente à organização interna deste Tribunal e, portanto, indisponível ao interesse das partes. Trata-se de ato privativo da Presidência como órgão supervisor da distribuição, e, como tal, é de mero expediente, insuscetível de causar gravame às partes ou a terceiros e contra o qual não cabe recurso. Nesse sentido, destaco os seguintes precedentes: Pet 5614 AgR, AI 748.144-AgR, HC 89.965-AgR, MS 28.847-AgR, Rcl 9.460-AgR e RE 627.276-9.460-AgR” (HC n. 134.442-9.460-AgR, Relator o Ministro Ricardo Lewandowski, Presidente, DJe 6.6.2016). Confiram-se também o HC n. 137.752-AgR e o HC n. 137.070-AgR, de minha relatoria na Presidência, publicados no DJe de 1º.2.2017.

22. Apontada nos autos a prevenção de um certo Relator na primeira oportunidade que se lhe apresente a uma das partes e ao Ministério Público, nos termos do art. 67, § 6º, do Regimento Interno do STF. A incerteza quanto à prevenção dos feitos e de relatores é ordinariamente resolvida com a remessa do caso à Presidência da Corte para que resolva, em decisão irrecorrível, a questão. 23. No presente caso, o zelo do órgão ministerial – que já atuava na temática perante a Ministra Carmém Lúcia – travou no peticionamento de sua preocupação ao relator com o encontro da incerteza do Ministério Público com uma certeza do relator prevento em tal grau que mesmo a consulta a presidência foi negada.

24. O bom exercício da jurisdição reclama julgadores com convicções e membros do Ministério Público zelosos pela regularidade dos feitos para que

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nenhum revés processual repercuta no sucesso do exame de mérito. In casu, esses atores com esses predicados se fazem presentes, mas paira a dúvida metódica de que possa, sim, haver um único relator para todos os feitos aqui referidos, distintos relatores para cada um deles, ou mesmo um binário de relatores.

25. Firmadas tais premissas, o objeto primeiro deste agravo regimental é a estabilidade quanto à definição pacífica, inconteste e preclusiva sobre a relatoria para esse conjunto de ilícitos penais trazidos diretamente ao Supremo Tribunal Federal por autoridades policiais. Conflitos em conflitos, qual os de competência ou jurisdição, reclamam solução pronta e definitiva. Isso é o que aqui se busca. 26. Frise-se que o Ministério Público Federal vem cuidando de investigação de crimes relativos a madeira amazônica com participação de autoridades federais talvez em um relator indevido, então. A boa-fé processual impõe-lhe trazer a luz a problemática para solução pelo conjunto se não pela Presidência da Corte, por seu plenário então.

27. Quanto à questão de fundo, foi demonstrado, na manifestação ministerial cujos pedidos foram indeferidos pelo Ministro Relator, que a autoridade policial, ao peticionar diretamente a essa Corte Suprema, justificou a distribuição da representação inaugural por dependência à petição em epígrafe nos seguintes termos (fls. 141/142):

[…] uma simples consulta à Petição 8975, nos permite encontrar diversos itens ali relacionados que guardam íntima relação com os fatos ora em apuração.

Com efeito, o trecho do diálogo mantido entre o ministro Ricardo Salles e os demais participantes, na famosa reunião ministerial ocorrida em 22 de abril de 2020, já apresentado anteriormente na fig. 27, consta expressamente no item 15 da Petição 8975 e, cremos não haver dúvida que o método "parecer, caneta", por ele mencionado, guarda íntima relação com os fatos ora em apuração.

Para além disso, nos itens 99 e 100 da referida Petição 8975, é também mencionada especificamente a reunião realizada pelo Ministro Ricardo Salles no dia 06/02/2020, para tratar da IN 15/201, bem como a emissão do "despacho interpretativo" no âmbito do processo n.° 02001.003227/2020-84

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e a posterior exoneração da testemunha André Sócrates de Almeida Teixeira, em 03/04/2020.

[…]

Da mesma forma, no item 128, também é mencionada a emissão, pelo SUPES/PA, WALTER MENDES MAGALHÃES, das 05 certidões em benefício das empresas EBATA e TRADELINK:

[…]

Outros itens da referida petição também acabam, direta ou indiretamente tendo relação com o fatos em apuração neste IPL, como por exemplo os itens 125 a 127 (exoneração dos analistas ambientais René Luiz de Oliveira e Hugo Ferreira Neto, e posterior nomeação das pessoas de Walter Mendes Magalhães e Leslie Tavares) e 136 a 138 (embaraços à aplicação de recursos destinados à proteção ambiental).

28. Todavia, ao tempo da juntada da representação policial aos autos da PET 8.975, no dia 14/05/2021, como se observa do protocolo de fl. 65, já tramitavam no âmbito dessa Corte Superior dois feitos relativos a suposta atuação indevida do Ministro de Estado do Meio Ambiente em benefício de empresas madeireiras, a PET 9.595 e a PET 9.594, ambas de relatoria da e. Ministra Cármen Lúcia. 29. A PET 9.595 foi instaurada em razão de representação do Delegado de Polícia Federal Alexandre Saraiva, na qual noticia a suposta prática dos crimes previstos no art. 69 da Lei 9.605/1998 (“Obstar ou dificultar a ação fiscalizadora do Poder Público no trato de questões ambientais”), no art. 321 do Código Penal (“advocacia administrativa”) e no art. 2º, § 1º, da Lei 12.850/2013 (“criar embaraços à investigação de infração penal que envolva organização criminosa”) pelo Ministro Ricardo Salles e pelo Senador Telmário Mota.

30. Segundo narrado na notícia-crime, no âmbito da “Operação Handroanthus-GLO”, foi apreendida quantidade superior a 220 m³ de madeira em diversas localidades da Região Norte, sem o documento de origem florestal, o que caracterizaria a prática do tipo previsto no art. 46, parágrafo único, da Lei 9605/1998 (extração ilegal de madeira).

31. Após a apreensão, o Ministro Ricardo Salles teria envidado esforços junto ao Senador Telmário Mota para impor obstáculos à investigação e para

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patrocinar interesses privados junto à Administração Pública, ao participar de reunião com os madeireiros e defendê-los publicamente, em detrimento do trabalho da Polícia Federal e do poder de polícia ambiental de que goza o Ministério do Meio Ambiente.

32. Já a PET 9.594, subscrita pelo Partido Democrático Trabalhista, cuida dos mesmos fatos da 9.595. Ambas foram distribuídas à Ministra Cármen Lúcia em 16/04/2021, anteriormente ao protocolo da representação da autoridade policial nos presentes autos.

33. Contrariamente ao quanto entendeu o Relator, tais fatos guardam conexão com aqueles investigados no IPL 2021.0003967 – SR/PF/DF, por serem ambos relativos à suposta atuação do Ministro do Meio Ambiente e outros servidores públicos no atendimento de interesses de empresas do setor de extração madeireira. Não se pode desconsiderar que ambas as investigações assumem como hipótese criminal central a atuação coordenada de servidores da área ambiental, liderados pelo Ministro do Meio Ambiente, para atender a interesses escusos em detrimento de suas funções institucionais.

34. Assim, a prova produzida em um dos expedientes poderá influir na compreensão dos fatos apurados nos demais em sua inteireza, sendo a reunião dos processos, segundo as regras de conexão previstas no Código de Processo Penal, medida apta a racionalizar a prestação jurisdicional e evitar a prolação de decisões contraditórias.

35. Nesse cenário, carece de maior reflexão a distribuição por dependência da representação da autoridade policial aos autos da PET 8.975, já arquivados, quando em tramitação outros procedimentos cujo objeto é, se não idêntico, suficientemente relacionado a ponto de justificar a reunião dos processos por conexão intersubjetiva, lógica e probatória. Entre o reconhecimento da prevenção com uma investigação símile em andamento e o desarquivamento de uma representação fracassada (ato processual complexo) há de se aclarar o percurso correto e eventualmente reunir tudo em um mesmo relator.

36. Há de se salientar que, nos autos da PET 8.975, foi processada mera notícia-crime, a qual não chegou a originar um procedimento investigativo

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formal, de que decorre ser inadequado o desarquivamento com fundamento no art. 18 do Código de Processo Penal.

37. As provas colhidas pela autoridade policial no âmbito do IPL 2021.0003967 – SR/PF/DF e aquelas obtidas após a deflagração da “Operação Akuanduba” deverão de ser utilizadas no caso em andamento sob a relatoria da Ministra Cármen Lúcia. É essa a medida razoável, tendo em vista o estágio da tramitação processual dos feitos de que ora se cuida, evitando-se o inadequado recurso a uma “litigância estratégica policial”.

38. Diante desse quadro, vê-se que a ausência de abertura de vista à Procuradoria-Geral da República – previamente ao deferimento das medidas cautelares requeridas pela autoridade policial – contribuiu para o adensamento do conflito quanto à relatoria preventa, na medida em que a tramitação das PETs 9.594 e 9.595 poderia ter sido apontada pelo órgão ministerial, caso regularmente ouvido a tempo.

39. O zelo com o juízo natural impõe-se, em especial, depois de observado o retorno de casos relevantes, após anos de tramitação, ao seu princípio, com o reconhecimento da nulidade de atos processuais por consequência. Blindar esses pontos vulneráveis em processos de responsabilização tornou-se, desde então, preocupação de ainda maior zelo na atuação ministerial em todos os feitos criminais em todas as instâncias.

40. O método da dúvida quanto a competência, portanto, ainda que possa ser mal compreendido, não é mais que atuação responsável, preventiva e saneadora, em toda a jurisdição penal pelo Ministério Público Federal.

41. Assim, o Ministério Público Federal recorre para que a dissonância entre titular da ação penal e relator – ou relatores – seja resolvida com precoce preclusão para o curso do feito, com redução de riscos processuais. 42. Um cenário a nosso ver afim ao do presente feito foi objeto de considerações do e. Ministro Gilmar Mendes em recente voto proferido no

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AgR na PET 8.492/DF, ainda sujeito ao Plenário Virtual, com circunstâncias comuns.

43. Na ocasião, registrou ser “absolutamente censurável a deflagração dos procedimentos de investigação contra autoridades detentoras de foro em evidente usurpação da competência da PGR e desta Corte”.

44. Rememorou, ademais, o precedente firmado na Pet 3825-QO (Tribunal Pleno, Red. p/ o acórdão Min. Gilmar Mendes, j. 10/10/2007), em que assentado que “a investigação de autoridade com foro por autoridade policial sem atribuição deveria levar inclusive à anulação do indiciamento promovido de forma indevida”.

45. Ao final, o Ministro Gilmar Mendes fez relevante destaque, levantando preocupação institucional de caráter sistêmico (grifos aditados):

Os episódios deflagrados nesse processo acendem ainda uma preocupação institucional da mais absoluta gravidade. Chama a atenção o fato de delegados de polícia poderem endereçar representações diretas aos Ministros do STF. Isso porque, tal sistemática contrasta diretamente

com aquela que vige no âmbito do Ministério Público Federal, em que o exercício das atribuições ministeriais perante esta Suprema Corte fica a cargo de uma unidade especializada, que é a Procuradoria Geral da República.

46. Assim, com o objetivo de se evitarem eventuais nulidades processuais decorrentes de dissonância na unidade, quiçá aparente, é que o Ministério Público Federal busca uma solução segura e definitiva à relatoria desses feitos. 47. Com todo respeito à ordinária não coincidência de pontos de vista entre os atores processuais; e registrando que inexiste discórdia entre o Ministério Público e a Corte Suprema, mas tão somente uma divergência que gera insegurança às investigações e à jurisdição penal maior que urge ser pacificada, o Ministério Público Federal requer:

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a) o exercício do juízo de reconsideração da decisão recorrida, determinando-se a remessa dos autos à Presidência do Supremo Tribunal Federal para que, no exercício de sua atribuição exclusiva, resolva a controvérsia relativa à distribuição da representação da autoridade policial processada nestes autos, ou; b) caso assim não entenda Vossa Excelência, que submeta o presente agravo a julgamento pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, para que pelo efeito devolutivo seja revista toda a decisão recorrida, pelos fundamentos aqui deduzidos, de forma a afirmar-se, com segurança e acima de qualquer dúvida, a ocorrência de prevenção, ou não, entre as PETs mencionadas.

Brasília, 26 de maio de 2021. HUMBERTO JACQUES DE MEDEIROS

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