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O CONCEITO DE GESTÃO SOCIAL EM FERNANDO GUILHERME TENÓRIO: UM ENSAIO TEÓRICO

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O CONCEITO DE GESTÃO SOCIAL EM FERNANDO GUILHERME

TENÓRIO: UM ENSAIO TEÓRICO

Hévilla Karine Ribeiro dos Santos1

André Aristóteles da Rocha Muniz2

Resumo

O conceito de gestão social tem sido objeto de muita discussão nos últimos tempos, no que diz respeito ao conceito e sua utilização na sociedade. Este artigo tem como objetivo trazer a discussão iniciada por Fernando Guilherme Tenório em 1998 e sua (Re)visita em 2005, que diz respeito a utilização do conceito de gestão social voltado realmente para o social onde este além de ser principal beneficiado, também atua no meio em que se está inserido através das várias políticas existentes na comunidade, é não assumindo assim através deste conceito uma forma de se atingir objetivos que se distanciam da atuação em meio ao social, o que é conceituado pelo autor gestão estratégica.

Este trabalho traz, ainda, o conceito que diz respeito a cidadania deliberativa, tecnocracia, teoria crítica e teoria tradicional, esfera pública e esfera privada, entre outros conceitos que são abordados neste artigo com a intenção de evidenciar a demarcação conceitual feita por Tenório em torno do tema gestão social.

Palavras-Chaves

: Gestão Social, Gestão Estratégica, Cidadania, Participação,

Fernando Guilherme Tenório

1. Introdução

A gestão social tem se destacado entre os temas que tem dominado a discussão na ciência administrativa. A temática e suas áreas correlatas – Desenvolvimento Territorial, Cooperativismo, Economia Solidária, Políticas Públicas, Cidadania, Redes Sociais, Interinstitucionalidades, Responsabilidade Sócio-ambiental, dentre outros - tem sido objeto de um grande número de pesquisas, haja vista a profusão de artigos produzidos.

Fernando Guilherme Tenório tem sido há pelo menos 20 anos um dos principais teóricos sobre gestão social. Em sua primeira3 visita ao conceito de gestão social,

Tenório (1998) traz ao debate a importância de uma gestão voltada para o social, onde a

1

Acadêmica do curso de Administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de Minas Gerais (IFNMG) – Campus Januária e bolsista de iniciação científica da FAPEMIG.

2 Professor da área de administração do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Norte de

Minas Gerais (IFNMG) – Campus Januária, Mestrando em Administração pela Universidade Federal de Lavras (UFLA).

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Embora o próprio autor informe que sua primeira visita ao conceito de gestão social tenha acontecido em 1990, foi no artigo Gestão Social: uma perspectiva conceitual (vide referências) que ele expressou suas primeiras reflexões acerca do conceito.

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cidadania é vista como principal agente de mudanças, buscando sempre a interação de toda a sociedade para atingir o bem estar coletivo.

As reflexões de Tenório (1998) com vistas a demarcar conceitualmente a gestão social assenta-se especialmente no “confronto” entre a gestão estratégica e o que ele entende por gestão social como iremos ver nas duas sessões que apresentamos a seguir: uma sobre a “primeira” visita, em 1998, e outra sobre a “segunda” visita, em 2005.

2. Gestão Social: a “primeira” visita de Fernando Guilherme

Tenório

Dissertar sobre gestão social requer levar em consideração se tratar de um conceito/campo aberto, multidisciplinar e em construção cujo “...entrelaçamento das

dimensões praxiológicas e epistemológicas já acumuladas, apontam uma ‘proposta préparadigmática’...” (Fischer, 2002 apud Maia, 2005, p. 10).

A gestão social tem se destacado entre os temas que tem dominado a discussão na ciência administrativa. A temática e suas áreas correlatas – Desenvolvimento Territorial, Cooperativismo, Economia Solidária, Políticas Públicas, Cidadania, Redes Sociais, Interinstitucionalidades, Responsabilidade Sócio-ambiental, dentre outros - tem sido objeto de um grande número de pesquisas, haja vista a profusão de artigos produzidos. (Viana et al, 2009)

Fernando Guilherme Tenório tem sido há pelo menos 20 anos um dos principais teóricos sobre gestão social. Em sua primeira4 visita ao conceito de gestão social,

Tenório (1998) traz ao debate teórico a importância de uma gestão voltada para o social, onde a cidadania é vista como principal agente de mudanças, buscando sempre a interação de toda a sociedade para atingir o bem estar coletivo.

Para Tenório (1998), a gestão social tem sido tratada muito mais como uma gestão focada nas questões sociais ligadas ao sistema-governo e sistema-empresa do que uma gestão pautada na democracia e solidariedade. Essa linha de raciocínio leva o autor a sugerir uma inversão na seqüência linear Estado-Sociedade e Capital-Trabalho para Sociedade-Estado e Trabalho-Capital, justamente pelo fato de que é a sociedade e o trabalhador – segundo o ponto de vista do autor - que precisam ser fortalecidos como agente/destinatário de/as mudanças.

As reflexões de Tenório (1998) com vistas a demarcar conceitualmente a gestão social assenta-se especialmente no “confronto” entre a gestão estratégica e o que ele entende por gestão social.

Tenório (1998) entende a gestão social enquanto um processo gerencial que se dá de maneira dialógica, em que a autoridade para a tomada de decisões é partilhada por todos(as) aqueles(as) que participam da ação, aonde quer que esta ocorra, seja em organizações públicas, privadas ou organizações não-governamentais. O autor tece detalhes de sua concepção epistemológica acerca do campo, sobretudo embasado na Teoria da Ação Comunicativa de Harbermas:

O fundamento epistemológico da gestão social deve ser oposto àquele da teoria tradicional, enfoque teórico que fundamenta a gestão

4 Embora o próprio autor informe que sua primeira visita ao conceito de gestão social tenha acontecido

em 1990, foi no artigo Gestão Social: uma perspectiva conceitual (vide referências) que ele expressou suas primeiras reflexões acerca do conceito.

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monológica, como os sistemas-empresa estão para o mercado. Ao contrário, a base epistemológica da gestão social deve ser a intersubjetividade-dialogicidade, como a política, como o bem comum, contemplando o envolvimento da cidadania no espaço público e do trabalhador no espaço privado. Assim, gestão social é o processo intersubjetivo que preside a ação da cidadania tanto na esfera privada quanto na esfera pública. (1998, p. 22)

Observamos que o conceito de gestão social recebe qualificações que o estruturam em oposição ao conceito de gestão estratégica. Essa polaridade é o ponto de partida que Tenório utiliza – segundo o nosso ponto de vista - para demarcar conceitualmente ambas. Para o autor, o fundamento epistemológico que dá um significado particular à Gestão Social está no confronto entre a teoria crítica e a teoria

tradicional (nos termos da escola de Frankfurt).

O ponto central pelo qual o autor foi beber na escola de Frankfurt está na concepção emancipatória de cidadania presente na teoria crítica, especialmente nos termos de Jürgen Habermas, teórico da segunda geração frankfurtiana5. Tenório (1998)

recorre a Raymond Geuss (1988, p. 8) para apresentar três teses centrais que distinguem uma teoria tradicional de uma teoria crítica as quais resumimos abaixo:

* Uma teoria crítica serve de guia para a ação humana, sobretudo pelo seu caráter inerentemente emancipatório;

* Uma teoria crítica possui conteúdo cognitivo;

* Diferencia-se epistemologicamente da teoria tradicional por ser reflexiva e não “objetificante” como o é as ciências naturais.

Com base nessas diferenças, Tenório (1998, p. 11) faz as seguintes observações pelos quais rejeita a teoria tradicional como fundamento epistemológico do significado de gestão social:

§ “a teoria tradicional é inadequada para analisar ou entender a vida social;

§ (...) analisa somente o que vê e aceita a ordem social presente, obstruindo qualquer possibilidade de mudança, o que conduz ao quietismo político;

§ (...) está intimamente relacionada à dominação tecnológica na sociedade tecnocrática que vivemos, e é fator de sua sustentação.” (grifo do autor)

Fica evidente, portanto, que o conceito de gestão social em Tenório alinha-se a uma perspectiva teórico-crítica. É onde ele faz a opção pela Teoria da Ação Comunicativa de Habermas6 que trabalha o conceito de ação social e desenvolve uma tipologia

inscrevendo nela a ação estratégica e a ação comunicativa; sendo esta última (Tenório, 1998) a ação social mais importante na perspectiva do autor, com o qual Tenório vem a concordar. Tenório, então, faz uma associação vinculando conceitualmente ação

estratégica à gestão estratégica e ação comunicativa à gestão social.

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Os teóricos da primeira geração frankfurtiana, entre eles Max Weber e Karl Mannheiem, criticam a razão instrumental por inibir a emancipação do homem e reduzi-lo à dimensão técnica. No entanto, não acreditavam numa saída para o homem sob a égide da razão técnica. Habermas concorda com a crítica feita por esses teóricos mas advoga uma saída que passa pela Teoria da Ação Comunicativa. Por essa teoria, Habermas postula uma ação social em que duas ou mais pessoas procuram chegar a um consenso sobre determinado tema/objetivo, diferentemente da ação estratégica – vinculada à teoria tradicional – onde o homem é visto pelo outro como meio para atingir seus objetivos. (TENÓRIO, 1998)

6

Para conhecer mais sobre a Teoria da Ação Comunicativa ver: Habermas, Jürgen. Teoria de La Acción Comunicativa. Madrid, Taurus, 1987. v. 1 e 2.

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É a partir dessa base teórica que acabamos de discutir, ainda que de maneira limitada e sintética, que Tenório propõe os conceitos de gestão estratégica e gestão social.

Tenório define gestão estratégica como “...um tipo de ação social utilitarista,

fundada no cálculo de meios e fins e implementada através da interação de duas ou mais pessoas na qual uma delas tem autoridade formal sobre a(s) outra(s). Tenório atribui ao

Estado e ao sistema-empresa esse tipo de ação, daí a sequência linear Estado-Sociedade e Capital-Trabalho como discutimos no início deste artigo. Nessa sequência, prevalece uma relação onde o primeiro exerce um comportamento tecnocrático sobre o segundo. Essa seria, segundo Tenório (1998, p. 15) resultado “...da projeção da racionalidade

instrumental sobre a gestão do Estado e/ou organização (privada) sob a epistemologia da teoria tradicional.”

Para o autor, o comportamento tecnocrático/tecnoburocrático se manifesta na gestão estatal quando não valoriza o exercício da cidadania nos processos das políticas públicas. Na gestão empresarial, esse comportamento pode ser constatado quando não existe qualquer estímulo à participação do trabalhador e da trabalhadora no processo decisório. (Tenório, 1998)

Em oposição ao conceito de gestão estratégica, Tenório (1998, p. 16) define a gestão social como aquela que “...tenta substituir a gestão tecnoburocrática, monológica,

por um gerenciamento participativo, dialógico, no qual o processo decisório é exercido por meio de diferentes sujeitos sociais.” Aqui a sequência entre os atores é invertida, ficando

Sociedade-Estado e Trabalho-Capital, ou seja, valorizando a participação do cidadão e trabalhador nos processos de gestão.

O processo de gestão social, para Tenório (1998, p. 17)

“...acorde com o agir comdunicativo, dialógico, a verdade só existe se todos os participantes da ação social admitem sua validade (..)Enquanto no processo de gestão estratégica, harmônico com o agir estratégico, monológico, uma pessoa atua sobre outra(s) para continuação intencional de uma interação...”

Um último aspecto que merece destaque na proposição teórico-conceitual de Tenório é o conceito de cidadania que o autor, mais uma vez, recorre a Habermas para cunhar o termo cidadania deliberativa. O termo tem como base a concepção republicana de democracia onde o cidadão não é reduzido à dimensão privada da vida, mas tem na participação uma prática comum (dimensão pública – vida comunitária).

A concepção republicana tem uma relação mais abrangente que a cidadania liberal, pois esta trata do processo de formação da sociedade como um todo. Ela é um meio pelo qual os membros da comunidade com o mesmo objetivo se encontram para defender seus objetivos comuns, que é feito muitas vezes em forma de associações em busca de direitos comuns. Segundo essa concepção, o cidadão participa da construção de uma sociedade melhor onde estes são responsáveis por uma comunidade de pessoas livres e com direitos iguais.

Diante do exposto e possível observar que a cidadania deliberativa aproxima-se da gestão social na medida em que o trabalhador, consumidor ou o eleitor participa das várias instâncias de um processo democrático, pautada não na lógica de mercado e sim democracia social.

Toda essa discussão em torno da demarcação do conceito de gestão social (oposto ao conceito de gestão estratégica) pode ser visualizada no esquema a seguir:

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Fonte: Elaborado pelos autores.

O Conceito de Gestão social -1998

X

Gestão Social Gestão Estratégica

Questões Sociais Políticas Públicas Sociedade-Estado Solidariedade Estado-Sociedade Capital-Trabalho Trabalho-Capital Lógica de Mercado Esfera Privada Esfera Pública Teoria Crítica Teoria 1º Geração 2ºGeração

Ação Ação Estratégica

X

X

X

X

X

X

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3. Fernando Guilherme Tenório: (Re)visitando o conceito de

Gestão Social

(Re) visitar algo significa visitar novamente algo que já se conhece, este é o caso da gestão social, que se deu devido à necessidade de um fortalecimento dos conceitos visto e 1998 e também devido ao surgimento de novos conceitos que serão abordados nessa segunda visita feita por Tenório.

Esse visitar de novo de acordo com Tenório (2005, p. 102) ocorre em boa hora, pois o tema gestão social tem sido objetivo de estudo e prática muito mais associado a gestão das políticas, de organização do terceiro setor, do combate à pobreza e até ambiental’’do que políticas voltadas para uma gestão democrática, participativa, onde a população pode definir quais as ações são mais convenientes de acordo coma necessidade da mesma.

Traz também a preocupação com o conceito de gestão social que está sendo muito mais relacionada com a gestão estratégica, onde a primeira está relacionada ao (Tenório, 2005) processo gerencial dialógico no qual a autoridade decisória é compartilhada entre os participantes da ação, enquanto o segundo diz respeito a ações sociais praticadas pelo mercado, portanto, é um processo que está relacionado competição, onde o principal objetivo é o lucro e o concorrente deve ser excluído.

A respeito dos pares de palavras Estado-Sociedade e Capital-Trabalho, Tenório (2005) traz novamente a inversão desses pares de palavras para Sociedade-Estado e Trabalho- Capital alegando que essa inversão não é para restar a importância ao Estado ou Capital, mas sim enfatizar o papel da sociedade civil e do trabalho nesta relação.

Nesta “segunda” visita, Tenório traz um novo par de palavras - Sociedade-Mercado fazendo referência ao chamado “terceiro setor”, demarcando a interação da sociedade civil com o segundo setor (mercado) e o primeiro setor (Estado), onde o grande protagonista dessa relação tem sido a sociedade civil.

Esse conceito não busca diminuir a importância da empresa privadas que investem em projetos sociais, mas sim evidenciar que seu principal objetivo está relacionado ao lucro, para depois ser qualificado como social.

Espera pública e sociedade civil foram outros conceitos que Tenório (2005) nos

apresenta nesta nova visita à gestão social (também baseado em Habermas), estas são descritas como uma rede adequada para se comunicação de conteúdos, tomada de posição e opiniões; nela os fluxos de comunicações são filtrados e sintetizados a ponto de se condensarem em opiniões públicas comuns.

O conceito de esfera pública também nos é apresentado como uma estrutura essencialmente comunicativa, onde a comunicação e o fator de estrema importância para as práticas sociais. A esfera pública é responsável por identificar, compreender, problematizar e propor soluções para os dilemas da sociedade.

Em relação ao conceito de Sociedade Civil caracteriza-se pelo fato de não se caracterizar nem como um instituição não-econômica e não-estatal. A sociedade civil capta os problemas sociais que ressoam na esfera pública e as transmitem para a Esfera pública política.

Por fim, Tenório vai buscar em Pedro Demo e Juan E. Diaz Bordenave arcabouço teórico sobre participação que juntamente com o conceito de cidadania deliberativa apresentado na primeira visita, torna-se um dos pilares do conceito de gestão social.

Para ilustrar os conceitos chaves que Tenório utiliza em sua “segunda” visita ao conceito de gestão social convidamos o leitor a observar o esquema a seguir.

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Fonte: Elaborado pelos autores Gestão Estratégica Para o mercado Para a solidariedade X Gestão Social Sociedade-Mercado Terceiro-setor Esfera Pública(Habermas Perspectiva

Republicana X Perspectiva Liberal

Participação (Bordenave e Pedro Demo)

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4. Considerações Finais

Diante das discussões apresentadas, verificamos que Tenório exercita desde a “primeira” visita ao conceito de gestão social uma aproximação teórica com os postulados de Habermas no sentido de construir um marco teórico-conceitual sobre um tipo de gestão que ele deseja ser oposta à gestão estratégica.

Tanto no primeiro como no segundo artigo com os quais trabalhos neste artigo, Tenório advoga em favor de um tipo de gestão social pautada em valores como democracia, cidadania, solidariedade, liberdade que em suma resume-se em uma única expressão: emancipação.

A título de sugestão, acreditamos que uma releitura dos textos de Tenório contribuirão para um entendimento ainda maior acerca do pensamento que o autor desenvolve – e continua a desenvolver – sobre uma temática que tem ganhado um destaque crescente na produção científica brasileira.

5. Referências Bibliográficas

MAIA, M. Gestão Social – reconhecendo e construindo referenciais. Revista Virtual

Textos & Contextos, n. 4, dez. 2005, pp. 1-18

TENÓRIO, F. G. Gestão Social: uma perspectiva conceitual. In: Revista de

Administração Pública, Rio de Janeiro: EBAPE/FGV, v. 32, n. 5, set./out., 1998, pp. 7-23 ______________. (Re)visitando o Conceito de Gestão Social. Desenvolvimento em Questão, jan./jun., vol. 3, n. 005, Unijuí, 2005, pp. 101-124.

Referências

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