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Cuidando do Cuidador: Grupo de Movimento com Profissionais de Saúde Pública

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146 REVISTA LATINO-AMERICANA DE PSICOLOGIA CORPORAL No. 9, p. 146-159, Julho/2020 – ISSN 2357-9692

Edição eletrônica em http://psicorporal.emnuvens.com.br/rbpc

Cuidando do Cuidador: Grupo de

Movimento com Profissionais

de Saúde Pública

Resumo: Profissionais de saúde pública são expostos a diversos estressores,

o que pode evoluir para o adoecimento. Ações promotoras de cuidado integral a esses trabalhadores mostram-se de fundamental importância. Realizou-se um estudo exploratório de abordagem quantitativa, buscando investigar como as intervenções da Análise Bioenergética, no formato de Grupo de Movimento, podem contribuir na melhoria da saúde integral e qualidade de vida dos profissionais de saúde de Salvador. Os instrumentos BAI e BDI (Escalas Beck - Inventário de Ansiedade e Inventário de Depressão) e o Questionário de Qualidade de Vida (SF-36) foram aplicados antes e depois da realização da intervenção. Os resultados quantitativos indicaram que, pelo menos, 50% desses profissionais obtiveram aumentos nos escores dos diversos aspectos de sua qualidade de vida e demonstraram diminuição na gravidade no seu quadro de Depressão e Ansiedade. Suas narrativas sugerem uma nova atitude diante das suas relações pessoais e profissionais. O Grupo de Movimento configurou-se como importante ferramenta no cuidado integral em saúde.

Palavras-chave: Bioenergética, Grupo de Movimento, Qualidade de Vida,

Saúde Mental.

Caring for the Caregiver:

Movement Group with Professionals

Public Health

Abstract: Public health professionals are exposed to various stressors, which

can lead to illness. Actions promoting comprehensive care for these workers are of fundamental importance. An exploratory study with a quantitative approach was carried out, seeking to investigate how Bioenergetic Analysis interventions, in the form of a Movement Group, can contribute to improving the integral health and quality of life of health professionals in Salvador. The BAI and BDI instruments (Beck Anxiety and Depression Inventory and the Quality of Life Questionnaire (SF-36) were applied before and after the intervention. The quantitative results indicated that, at least, 50% of these professionals obtained increases in the scores of the various aspects of their quality of life and demonstrated a decrease in the severity of their Depression and Anxiety. Their narratives suggest a new attitude towards their personal and professional relationships. The Movement Group has become an important tool in comprehensive health care.

Keywords: Bioenergetics, Movement Group, Quality of Life, Mental Health. _____________________________________________________________________

Celeste Sá Oliveira1 Larissa Rosa Oliveira

Santos2 Taís Oliveira da Silva3

1 Psicóloga, Especialista em

Saúde Mental na Atenção Básica, Analista Bioenergética CBT-IIBA, Libertas-BA, E-mail: celestesa@uol.com.br, Salvador – Bahia; 2 Enfermeira, Analista Bioenergética CBT-IIBA, Libertas-BA. E-mail: larissa_rosa@hotmail.com Salvador-Bahia, Brasil;

3 Psicóloga, Mestra em Estudos

Interdisciplinares sobre a Universidade, Analista Bioenergética CBT-IIBA, Libertas-BA. E-mail: tosilva83@gmail.com. Salvador - Bahia, Brasil.

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Introdução

No ano de 1986, foi realizada a VIII Conferência Nacional de Saúde, considerada um marco importante na história da saúde pública no Brasil, demarcando o movimento da Reforma Sanitária. Nessa conferência, foi elaborado um conceito ampliado de saúde, que reconhece o ser humano como ser integral e a saúde como qualidade de vida. Tal perspectiva defende a saúde como resultado de múltiplos determinantes e condicionantes, tais como, as condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra, bem como do acesso aos serviços de saúde.

Dessa forma, esse conceito ampliado também inclui a saúde do trabalhador com todas as suas especificidades ligadas ao tipo, carga e processos de trabalho. Com relação aos profissionais de saúde, as especificidades das atividades realizadas por eles, tais como, o lidar com sofrimento, dor física, trauma e morte de pacientes, os expõem a distintas cargas de trabalho – biológicas, químicas, mecânicas, fisiológicas e psíquicas. Como exemplo, respectivamente, os fluídos corpóreos, a utilização de medicamentos, acidentes com agulhas e materiais perfurocortantes, o trabalho em pé e postura inadequada e as ligadas às condições inadequadas de trabalho (CARVALHO ET AL, 2017).

De acordo com Carvalho e Malagris (2007), profissionais de saúde que trabalhem em serviços públicos, além dos estressores elencados acima, convivem com inúmeros problemas estruturais, tais como falta de infraestrutura, material básico para o trabalho e a forte demanda imposta pelos órgãos competentes. Destacam-se a pressão por aumento de produção, a eleição de prioridades pautadas unicamente em dados epidemiológicos, o grande número de famílias acompanhadas por equipe, a divisão do trabalho e as relações de poder estabelecidas entre os profissionais, dentre outros.

Dessa forma, a exposição contínua a tais cargas de trabalho juntamente à vivência diária de sentimentos de sobrecarga e de sofrimento geram desgaste no trabalhador e isto pode evoluir para o adoecimento. Em uma revisão integrativa de 50 artigos, pesquisados em diversos países, sobre a influência das cargas de trabalho na saúde do trabalhador de enfermagem, os autores acima concluíram que as reações fisiológicas do estresse mais presentes nestes trabalhadores foram as dores lombares,

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fadiga e sensação de exaustão, rigidez no pescoço e acidez estomacal. No que tange ao desgaste emocional associado à ocorrência de acidentes e problemas de saúde foram encontrados a preocupação, perda de sono, ansiedade, medo, descontrole emocional, problemas no relacionamento com a família, desgaste físico e emocional, falha de memória, dificuldade de concentração, medo de cometer erros e perturbações do sono (CARVALHO ET AL, 2017).

Sendo assim, a proposição de ações que busquem promover a saúde integral dos profissionais de saúde pública mostra-se de fundamental importância para o cuidado desses trabalhadores, assim como, para a qualidade do serviço prestado aos pacientes e usuários dos sistemas de saúde. Buscando contribuir com a melhora da qualidade de vida e saúde mental dos trabalhadores de saúde do Distrito Sanitário de Pau da Lima (DSPL), Secretaria Municipal de Saúde de Salvador - Bahia, propôs-se a criação de um grupo de suporte emocional embasado na teoria e técnicas da Análise Bioenergética (AB), em sua modalidade de Grupo de Movimento (GM).

A AB é uma abordagem psicoterapêutica criada por Alexander Lowen e John Pierrakos, nos EUA, em 1956 e tem suas bases nos fundamentos teóricos de Wilhelm Reich. De acordo com Alencar (2008), a Bioenergética define como objeto terapêutico a interação entre o ego e o corpo e para atingir este objetivo faz o uso tanto do recurso verbal quanto do trabalho corporal.

Nessa técnica existem três aspectos fundamentais, quais sejam, a respiração, grounding e energia. A respiração relaciona-se à excitação do corpo e envolve por completo o mesmo, por meio de uma respiração profunda e consciente. O grounding, também denominado de enraizamento, significa fazer com que a pessoa entre em contato com o chão, de maneira tal que um fluxo energético percorra o corpo integralmente (PIAUHY, 2014). Para Lowen (1990), a energia está envolvida em todos os processos da vida, nos movimentos, sentimentos e pensamentos. Quanto mais energia, mais vitalidade.

O GM tem como objetivo proporcionar uma interação social, o trabalho consigo e com os outros, valorizando o corpo, não enfatizando o mental, através dos exercícios da Bioenergética na construção da carga e descarga e ampliando seus recursos com diversas outras técnicas (músicas, jogos lúdicos, dinâmica de grupo, técnicas orientais e etc.) - todas com foco na flexibilização do processo energético.

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“O foco de trabalho com os grupos de movimento, é promover um maior grau de flexibilidade nas blindagens musculares, para que a pessoa possa experimentar outras formas de ser e estar no mundo. Quando as tensões são aliviadas, os músculos relaxam, a energia pode fluir, liberta-se, podendo ser usada em direção ao autoconhecimento. Percebe-se através do aumento do estado vibratório do corpo, grounding nas pernas e corpo, aprofundamento da respiração, maior capacidade de expressão” (MIGNAC E FREITAS, 2017).

Uma importante conquista, na integração das práticas corporais à assistência à saúde pública no Brasil, foi a inclusão da Bioenergética no rol de práticas da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares (PNPIC) do Sistema Único de Saúde (SUS), com a publicação da Portaria no. 702 de 21 de março de 2018 - Ministério da Saúde.

Metodologia

Esta pesquisa buscou realizar um estudo exploratório de abordagem quantitativa tendo como problema a ser investigado como as intervenções da AB, no formato de GM, podem contribuir na melhoria da saúde integral e QV dos profissionais de saúde do DSPL, tomando como ferramentas de apoio as Escalas Beck – Inventário de Ansiedade e de Depressão - BAI e BDI, respectivamente, e o questionário de qualidade de vida SF-36. Também foi utilizada uma entrevista semiestruturada de admissão ao grupo para avaliação de limitações na saúde física e mental desses profissionais.

Conceitos Relevantes

De acordo com o relatório global da Organização Mundial de Saúde (WHO/OMS), Depression and Other Common Mental Disorders: Global Health Estimates (2017), transtornos depressivos são caracterizados por sentimentos, tais como tristeza, perda de interesse ou prazer, sentimentos de culpa ou baixa autoestima, alterações no sono, sensação de cansaço e diculdade de concentração, entre outros. A Depressão é um transtorno mental que vem prejudicando cada vez mais a capacidade do indivíduo para lidar com sua rotina diária, seja no trabalho ou na escola. Episódios de Depressão podem ser categorizados como leve, moderado ou severo. O Transtorno de

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Depressão Leve, quando crônico e persistente, pode ser denominado de Distimia e os sintomas são semelhantes aos da Depressão e tendem a ser menos intensos e mais duradouros. Nos casos mais graves, pode levar ao suicídio. Ainda de acordo com o referido relatório, estima-se que há mais de 300 milhões de pessoas vivendo com esse transtorno mental no mundo, sendo a prevalência maior entre as mulheres. Vale ressaltar que a Depressão é diferente das alterações normais de humor e das respostas emocionais aos desafios da vida cotidiana e, quando moderada ou grave, traz grande sofrimento e disfunção laboral.

Já os Transtornos de Ansiedade são caracterizados por sentimentos de ansiedade que, essencialmente, são relativos a situações de medo ou de ameaça referentes ao futuro. Entre os transtornos dentro do espectro da ansiedade, temos os Transtornos de Ansiedade Generalizada (TAG), Transtorno de Ansiedade Social (TAS), Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC), Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), Transtorno de Pânico e as Fobias. Também nos Transtornos de Ansiedade, os sintomas podem variar de leve a grave e, geralmente, apresentam-se não de forma episódica, mas tornam-se crônicos. Ainda segundo o relatório global da OMS, estima-se que há mais de 250 milhões de pessoas vivendo com esse transtorno mental, no mundo, sendo a prevalência igualmente maior entre as mulheres.

No que tange ao conceito de QV, para o Grupo de Qualidade de Vida da OMS (WHOQOL), ela é definida como “a percepção do indivíduo sobre sua posição na vida, no contexto da cultura e dos sistemas de valores em que vive e em relação aos seus objetivos, expectativas, padrões e preocupações. É um conceito abrangente, afetado de maneira complexa pela saúde física da pessoa, estado psicológico, crenças pessoais, relações sociais e seu relacionamento com características importantes de seu ambiente”. Em suma, é um conceito que envolve o bem-estar biopsicossocial, incluindo aí os relacionamentos sociais, como família e amigos.

Instrumentos

O BAI é um inventário de autorrelato que mede a intensidade dos sintomas de ansiedade. É constituído por 21 itens, que devem ser respondidos pelo próprio participante com referência aos seus sentimentos em relação às afirmações dos sintomas

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de ansiedade. Os itens descrevem situações tais como incapaz de relaxar, sensação de sufocamento, tremores nas mãos ou nas pernas, dificuldade de respirar, medo de morrer, entre outros. Os escores do BAI, quando empregada a versão em português, apresentam também 4 níveis em relação a pontuação total: mínimo (0-10), leve (11-19), moderado (20-30) e grave (31-63).

O BDI foi desenvolvido originariamente por Beck, Ward, Mendelson, Mock e Erbaugh (1961) e revisado por Beck, Rush, Shaw e Emery (1979/1982), no Center for Cognitive Therapy da Universidade de Pennsylvania, Philadelphia, USA. Trata-se de um inventário de autorrelato, para levantamento de sintomas e atitudes considerados depressivos, composta por 21 itens, tais como sentimento de tristeza, pessimismo, fracasso, insatisfação, culpa, punição, autoaversão, autoacusações, ideias suicidas, choro, irritabilidade, retraimento social, indecisão, mudança na autoimagem, dificuldade de trabalhar, insônia, fatigabilidade, perda de apetite, perda de peso, preocupações somáticas, perda de libido. O escore total nos dá uma classificação de níveis de intensidade da Depressão. São indicadas para sujeitos entre 17 e 80 anos. A versão para o português foi elaborada por Jurema Alcides Cunha. Os escores do BDI, na versão brasileira, apresentam 4 níveis em relação a pontuação total: mínimo (0-11), leve (12-19), moderado (20-35) e grave (36 a 63).

O instrumento SF-36 se propõe a avaliar a Qualidade de Vida do indivíduo, a partir de perguntas sobre sua percepção de saúde física e emocional nas últimas quatro semanas prévias à entrevista. Oito aspectos distintos são avaliados, sendo eles capacidade funcional, limitação por aspectos físicos, dor, estado geral de saúde, vitalidade, aspectos sociais, limitação por aspectos emocionais e saúde mental. Na análise dos resultados, quanto mais próximo de 100 estiver o escore, melhor a QV do participante.

Critérios de Inclusão e Exclusão

Foram incluídos na pesquisa os profissionais do Distrito Sanitário de Pau da Lima, Prefeitura Municipal de Salvador-Bahia, cuja idade estivesse dentro da faixa etária entre 30 e 60 anos, de ambos os sexos e histórico de sofrimento psíquico.

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Como critérios de exclusão, foram levados em consideração profissionais que apresentassem escores de Depressão e Ansiedade considerados graves e/ou com problemas de coluna e/ou cardíacos graves.

Estratégia de Coleta de Dados

Os dados foram obtidos a partir da entrevista e instrumentos respondidos no início e fim da pesquisa.

Formação e Desenvolvimento do Grupo

O GM Cuidando do Cuidador foi realizado no primeiro semestre de 2018 com início em 22 de fevereiro de 2018 e término em 21 de junho do mesmo ano. Este grupo estabeleceu-se como grupo fechado, com 15 participantes, que trabalhavam nas unidades de saúde da área de abrangência do DSPL. Ocorreram 16 encontros, todos realizados às quintas-feiras, semanalmente, no período vespertino, das 14:00h às 16:00h. no auditório das Irmãs Calazanianas, localizado no bairro de Vale dos Lagos. Esta atividade foi coordenada pelas trainees de AB, Celeste Sá Oliveira, Larissa Rosa Oliveira Santos e Taís Oliveira da Silva como trabalho parcial para conclusão do curso de Formação Internacional em Análise Bioenergética, sob orientação de Cristina Piauhy, coordenadora da Libertas-Bahia.

A divulgação do GM foi realizada pela Chefia de Ações Básicas e de Saúde Mental do DSPL. Foram oferecidas 16 vagas, distribuídas igualmente (em média 03 vagas) para os Agentes Comunitários de Saúde (ACS), os Profissionais de Saúde das Unidades Básicas de Saúde (UBS), Unidades de Saúde da Família (USF), Centro de Atenção Psicossocial (CAPS) e Distrito Sanitário. O DSPL se comprometeu a garantir a presença de todos os funcionários inscritos durante todos os encontros do GM.

Os 16 participantes inscritos, foram convidados a comparecer, previamente, ao Auditório das Irmãs Calazanianas, para realização de entrevista semiestruturada de admissão ao grupo e aplicação da versão brasileira do questionário de QV- SF-36 e das Escalas Beck – BAI e BDI. Diante dessa avaliação, apenas um profissional não atendeu aos critérios de inclusão no grupo, sendo encaminhado para cuidados especializados.

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O GM foi iniciado, então, com 15 profissionais de saúde, no entanto, no terceiro encontro, 3 pessoas já não compareceram, informando a desistência de participação no grupo. Dos 12 integrantes restantes, duas delas necessitaram interromper sua participação por volta da metade dos encontros, em função da não liberação do DSPL, devido às necessidades da campanha de vacinação, finalizando o grupo com 10 participantes.

Semanalmente, foram realizadas reuniões com duração de 1 hora e 30 minutos para as facilitadoras do grupo planejarem as atividades a serem executadas. No 1° encontro do grupo, realizou-se a apresentação dos facilitadores e integrantes e construído um contrato de convivência, em que foram abordados tópicos como: assiduidade, frequência, compromisso ético e sigilo entre os participantes. Ademais, foi solicitado aos integrantes que lessem e assinassem o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). No 2° encontro, foram apresentados a concepção Reichiana da unidade funcional mente-corpo e os conceitos básicos da AB – respiração, grounding e energia. Em seguida, os participantes foram convidados a realizar uma classe de exercícios e compartilhar o que experienciaram.

No 3° encontro, o grupo foi iniciado com um exercício de respiração, entrando em contato consigo mesmo, inspirando o ar profundamente, enchendo o abdômen, expirando o ar pela boca. Em seguida, atentar-se para as partes do corpo – pés, pernas, pélvis, diafragma, tórax, pescoço e cabeça. Após esta etapa, dividiu-se o grupo em duplas para realizarem o decalque do corpo no papel metro e identificar o que gosta e não gosta no corpo, dores e prazeres. Posteriormente, houve o compartilhamento do que foi produzido em dupla. No 4° encontro, foi solicitado aos participantes que dançassem sozinhos seguindo o ritmo da música. Depois, estabeleceram um ritmo na dupla Em seguida, com outra dupla, formando um quarteto, constituindo um novo ritmo. Por fim, cada pessoa voltava a dançar sozinha e abriu-se uma grande roda. O coordenador propôs uma série de exercícios que trabalham nos anéis musculares. No final dos exercícios, pediu-se aos integrantes que expressassem graficamente através de desenho livre a percepção de si mesmo após os exercícios e apresentassem o que produziram.

Os encontros restantes foram organizados posteriormente de acordo com a dinâmica grupal, tendo como foco a construção de autoconfiança, vínculo, autocuidado, imposição de limites, além do aprendizado da respiração e práticas de grounding. No

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penúltimo encontro foram reaplicadas as mesmas escalas do início para verificarmos se houve alterações em relação aos resultados iniciais. O último encontro foi marcado por uma devolutiva individual do processo de cada integrante e a entrega de uma lista de exercícios de bioenergética, seguindo os Anéis Reichianos dos pés à cabeça, conforme preconizados pelo GM, com vistas a incentivar cada integrante do grupo a continuar fazendo os exercícios em casa e/ou realizar GMs nas unidades de saúde, em que são lotados.

Recursos

Diversos recursos foram utilizados para mobilizar o grupo sobre os temas, promover troca de conhecimentos ou a elaboração de processos emocionais, tais como: desenho, escrita, debate em duplas e em grupo, vivências preparatórias, dramatização, meditação, visualização criativa. A estrutura dos encontros constituiu-se de momentos de apresentação, reflexão e troca de experiências sobre o tema abordado, utilizando técnicas de exposição, dinâmicas de grupos, atividades de relaxamento, além de discussão e práticas corporais da Bioenergética. Os materiais utilizados foram: cadeiras, mesa, tatame emborrachado, livro ata, papel metro, tesoura, cola, lápis de cor, hidrocor, canetas, cartolina e pincéis, tinta guache, revistas, material reciclável (garrafas pet, papelão), dentre outros.

Avaliação do Processo Grupal

A avaliação das atividades foi processual, através de listas de presenças e reflexão ao final de cada encontro, por meio de narrativas dos integrantes e posteriores registros de seu desempenho na ficha de planejamento. Ao final do GM, as escalas citadas anteriormente foram reaplicadas e os seus resultados comparados com os obtidos no início do grupo.

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Aspectos Éticos

Foram respeitados os princípios éticos estabelecidos na Resolução 466/12, do Conselho Nacional de Saúde (CNS) do Ministério da Saúde (MS). Os participantes assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), no qual constavam todas as explicações relativas aos objetivos e procedimentos da pesquisa. Todas atividades do GM foram realizadas em ambiente que preservasse a privacidade dos participantes e o anonimato garantido.

Resultados e Discussão

A reaplicação dos testes ao final do GM mostrou resultados bastante promissores no que diz respeito à melhora da QV e saúde mental dos profissionais de saúde participantes. Considerou-se melhora na dimensão da QV, qualquer elevação do escore nessas dimensões ao final da intervenção do GM.

Os resultados quantitativos indicaram que pelo menos 50% desses profissionais obtiveram aumentos nos escores dos diversos aspectos de sua QV. No que tange à Capacidade Funcional, 50% desses profissionais aumentaram a sua capacidade de realizar atividades cotidianas; 50% deles diminuíram suas limitações decorrentes de adoecimento/limitações físicas, assim como suas limitações por aspectos emocionais. Com relação às dores no corpo, 70% deles apresentaram diminuição deste escore, resultado considerado bastante relevante. Da mesma forma, todos os participantes do GM demonstraram aumento na percepção do seu estado geral de saúde, com 50% deles também apresentando aumento da vitalidade. Tanto na Saúde Mental quanto na vida social, 60% dos participantes apresentaram melhora, conforme gráfico abaixo:

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CF - Capacidade Funcional: 50%; LAF - Limitação por Aspectos Físicos: 50%; LAE - Limitação por Aspectos Emocionais: 50%;

VIT - Vitalidade: 50%; SM - Saúde Mental: 60%; AS - Aspectos Sociais: 60%; Dor: 70%; EGS - Estado Geral de Saúde: 100%.

Os resultados da escala BAI demonstraram que 50% dos participantes tiveram diminuição na gravidade no seu quadro de Ansiedade, ao passo que 40% deles não tiveram alteração. Vale salientar que esses últimos não apresentavam Ansiedade relevante. Em um dos profissionais, houve aumento do quadro ansioso de leve para moderado por conta de problemas relacionados ao trabalho. Da mesma forma, 50% deles demonstraram diminuição na gravidade no seu quadro de Depressão. Apenas um profissional apresentou aumento nos escores de Depressão, o que pode ser explicado por questões de ordem pessoal na sua dinâmica familiar – Vide Tabela 01.

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Tabela 01 - Escalas Beck de Ansiedade e Depressão

BAI BDI

P I F I F

1 LEVE LEVE MINIMO LEVE 2 GRAVE LEVE LEVE LEVE 3 LEVE MODERADO MODERADO LEVE

4 LEVE MINIMO MODERADO MINIMO

5 MINIMO MINIMO LEVE MINIMO

6 GRAVE MODERADO MODERADO MINIMO

7 MINIMO MINIMO MINIMO MINIMO 8 MODERADO MINIMO MINIMO MINIMO 9 MODERADO LEVE MODERADO MINIMO

10 MINIMO MINIMO MINIMO MINIMO

Os profissionais de saúde, no início do GM, relataram vários sintomas de adoecimento físico ou sofrimento psíquico, tais como dor de cabeça, enxaqueca, dores osteoarticulares, gastrite, fibromialgia, depressão, desânimo, ansiedade, stress, cansaço ou falta de energia, entre outras queixas. Suas narrativas, ao final do trabalho, corroboraram os resultados quantitativos obtidos, pois, de forma geral, foram referidos melhora em diversos indicadores de saúde, tais como, relatos de menor intensidade de dores no corpo; ausência de enxaqueca; aprendendo a respirar; aprendendo a dar limites; aprendendo a lidar com stress; sensação de pânico minimizada; contato com os sentimentos; mudança de atitude - lidando melhor com a emoção; mais segurança, mais tranquilidade e alegria de estar em grupo.

Consideramos a hipótese de que os resultados encontrados poderiam ainda ser melhores, caso não tivesse havido interferências na frequência de participação dos profissionais, tais como, férias durante o período do GM, necessidade de ausentar-se do

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grupo por conta de demandas do ambiente de trabalho e a interrupção dos dois profissionais.

Considerações Finais

Ao final do processo grupal, pôde-se evidenciar boa adesão dos participantes, com resultados muito promissores nas suas QV e Saúde Mental, além de feedbacks bastante positivos, tais como: “hoje vejo a vida com outros olhos”, “aprendendo a fazer escolhas” ou “aprendendo a dar e receber limites”. Assim, pode-se concluir que tais narrativas sugerem um novo olhar ou uma nova atitude, por parte dos participantes, diante da vida e das suas relações pessoais e profissionais.

O interesse e aprovação dos participantes pelo trabalho de grupo podem ser corroborados pelo desejo de continuidade do GM, bem como, pelo registro do pesar que a finalização deste processo traria para os/as participantes.

Portanto, conjectura-se que o processo grupal, embasado pela teoria e técnica da AB, contribuiu para a melhora da QV e Saúde Mental dos profissionais de saúde do DSPL, legitimando o importante papel desta PICS no cuidado integral em saúde.

Limitação do estudo

Considerando que tivemos uma redução de 30% do público selecionado para a pesquisa, por motivos diversos, os dados apontados neste estudo podem ser considerados uma amostra pequena e, portanto, insuficiente para generalização. Entretanto consideramos os mesmos relevantes uma vez que foram corroborados pelas narrativas dos participantes. Certamente outros estudos que tragam mais dados sobre o GM enriquecerão este campo de pesquisa.

Referências

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Referências

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