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Variáveis contingenciais aos métodos de valoração dos produtos: estudo empírico em PME'S industriais

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Academic year: 2021

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(1)RBGN – REVISTA BRASILEIRA DE GESTÃO DE NEGÓCIOS. ISSN 1806-4892. © FECAP. ÁREA TEMÁTICA: CONTABILIDADE E CONTROLADORIA. Variáveis Contingenciais aos Métodos de Valoração dos Produtos: estudo empírico em PME’S industriais portuguesas Contingent Variables to the Valuation Product Methods: empirical study of industrial portuguese SMEs Variables Contingenciales a los Métodos de Valoración de los Productos: estudio empírico en PME’S industriales portuguesas Maria João Cardoso Vieira Machado1 Recebido em 06 de janeiro de 2011 / Aprovado em 16 de dezembro de 2011 Editor Responsável: Ivam Ricardo Peleias, Dr. Processo de Avaliação: Double Blind Review. RESUMO. relação entre a forma como as empresas valoram. A teoria da contingência é baseada na premissa de. os produtos e o fato de produzirem para “stock” ou. que não há um sistema de contabilidade ideal que. por encomenda, no entanto o reduzido número. se aplique da mesma forma a todas as organizações,. de  observações  não  permitiu  validar  estatistica-. tudo  depende  de  diversos  fatores  contingenciais.. mente  esta  evidência.  Relativamente  à  detenção. Os estudos já realizados permitem identificar diver-. do capital, a informação recolhida mostra que não. sas variáveis contigenciais aos métodos de contabili-. existe nenhuma relação entre o tipo de sociedade. dade de gestão, no entanto nenhum desses estudos. e o método de valoração dos produtos.. se dirigiu a Pequenas e Médias Empresas (PME’s), o que justifica investigação que permita concluir. Palavras-chave:  Teoria  contingência.  Detenção. se  estas  variáveis  contigenciais,  já  estabilizadas. capital. Dimensão.. na teoria, também o são se analisarmos empresas de pequena dimensão. Os objetivos deste estudo estão relacionados com a identificação de relações. ABSTRACT. entre o método de valoração dos produtos utili-. The contingency theory is based on the premise. zados pelas PME’s e três variáveis contingenciais:. that  there  is  an  ideal  accounting  system  that. a dimensão das empresas; o tipo de produção; a. applies equally to all organizations; it all depends. detenção do capital. Foram encontradas relações. on  several  contingent  factors.  Studies  have. estatisticamente significativas entre a dimensão das. identified several variables contingency methods. empresas e os métodos de valoração dos produtos.. of  management  accounting,  however,  none  of. Os  dados  recolhidos  sugerem  ainda  existir  uma. these  studies  addressed  the  Small  and  Medium. 1. Doutora em Contabilidade e Professora do Instituto Universitário de Lisboa, Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa – ISCTE, Portugal. [maria.joao.machado@iscte.pt] Endereço da autora: Av. das Forças Armadas, 1649-026 Lisboa – Portugal. 396. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 396-414, out./dez. 2011.

(2) Variáveis Contingenciais aos Métodos de Valoração dos Produtos: estudo empírico em PME’S industriais portuguesas Enterprises  (SMEs),  which  justifies  research  to. relación entre la forma cómo las empresas valoran. conclude  whether  these  variables  contingency,. los productos y el hecho de que produzcan sea para. now established in theory, are the same if we look. “stock”,  o  por  encargo,  sin  embargo  el  pequeño. at  small  businesses. The  objectives  of  this  study. número  de  observaciones  no  permitió  validar. are  related  to  the  identification  of  relationships. estadísticamente  estas  pruebas.  En  cuanto  a  la. between the method of valuation of products used. detención del capital, la información recolectada. by SMEs and three contingent variables: firm size,. muestra  que  no  existe  ninguna  relación  entre. type  of  production;  the  keeping  of  the  capital.. el  tipo  de  sociedad  y  el  método  de  valoración. We have found statistically significant relationships. de los productos.. between firm size and methods of goods valuation. The  collected  data  also  suggests  a  relationship. Palabras  clave:  Teoría  contingencia.  Detención. between how the company values their products. capital. Dimensión.. as well as the fact that they produce for stock or under  orders,  however  the  small  number  of observations did not allow validate this evidence. 1. INTRODUÇÃO. statistically.  Regarding  to  the  shareholding,  the information  collected  shows  that  there  is  no. Continua  a  ser  uma  preocupação  dos. relationship between the type of society and the. investigadores estudar se as empresas utilizam os. method of goods valuation.. métodos de valoração dos produtos considerados pela  teoria  como  mais  adequados  e,  caso  não  os. Key words: Contingency theory. Holding capital.. utilizem, encontrar variáveis que expliquem a sua. Dimension.. não  utilização  (AGNDAL;  NILSSON,  2007; BANKER; BARDHAN; ,CHEN 2008; BLAKE; WRAITH; AMAT, 2000; COHEN; VENIERIS;. RESUMEN. KAIMENAKI,  2005;  COTTON;  JACKMAN,. La teoría de la contingencia se basa en la premisa. 2002;  DRAKE;  HAKA,  2008;  ENGLUND;. de que no existe un sistema de contabilidad ideal. GERDIN,  2008;  HALDMA;  LÄÄTS,  2002;. que pueda aplicarse de la misma forma en todas. HOOZÉE;  BRUGGEMAN,  2010;  HOPPER;. las organizaciones, todo depende de varios factores. MAJOR, . contingenciales. Los estudios ya realizados permiten. SINCLAIR, 2000; JOSHI, 2001; KALLUNKI;. identificar diversas variables contingenciales a los. SILVOLA,  2008;  KAPLAN,  2006;  MAIGA;. métodos de contabilidad de gestión, sin embargo. JACOBS, . ninguno de estos estudios fue dirigido a Pequeñas. SANGSTER, 2011; PIKE; TAYLES; MANSON,. y Medianas Empresas (PYME´s); esto justifica una. 2 0 1 1 ;   R I V E RO ;   E M B L E M S VA G ,   2 0 0 7 ;. investigación que permita concluir si estas variables. SCHOUTE,  2011;  STOUT;  PROPRI,  2011).. contingenciales  ya  consolidadas  en  la  teoría,. As práticas de contabilidade de gestão das. también  se  encuentran  al  analizar  empresas  de. organizações são muito pouco divulgadas em Por-. pequeñas  dimensiones.  Los  objetivos  de  este. tugal, devido ao caráter facultativo desse tipo de. estudio se relacionan con la identificación de las. contabilidade, o que justifica a realização de estu-. relaciones  entre  el  método  de  valoración  de  los. dos  empíricos  no  referido  país  como  contributo. productos utilizado por las PYME’s y tres variables. para a teoria da contingência, na medida em que. contingenciales:  la  dimensión  de  las  empresas;. esta reconhece que as diferenças culturais entre os. el tipo de producción y la detención del capital.. diversos países são um fator de diferenciação dos. Se  han  encontrado  relaciones  estadísticamente. métodos  de  contabilidade  de  gestão  utilizados. significativas entre la dimensión de las empresas. (MACARTHUR, 2006; YANG, H.; YANG, G.;. y los métodos de valoración de los productos. Los. WEI, 2006). Os atuais problemas de financiamen-. datos  recabados  también  indican  que  existe  una. to dos países da Europa Mediterrânica exigem uma. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 396-414, out./dez. 2011. 2007; . 2008; . INNES; . M I TC H E L L ;. NASSAR; . HUSAM;. 397.

(3) Maria João Cardoso Vieira Machado maior capacidade de gestão nas empresas, o que. 2. REVISÃO DE LITERATURA. também confere relevância ao estudo das práticas de  contabilidade  de  gestão  das  empresas  Portu-. 2.1. Teoria da contingência. guesas. Restringiu-se o universo a estudar às PME’s,. 398. devido  ao  seu  elevado  peso  no  tecido  empresa-. Diversos  autores,  nomeadamente  Chua. rial  nacional.  Um  estudo  realizado  em  Portugal. (1986), defendem que o processo de investigação. (IAPMEI, 2008), refere que 99,6% das empresas. é condicionado por três fatores sequenciais. O pri-. nacionais  são  pequenas  e  médias,  o  que  confere. meiro  refere-se  aos  pressupostos  assumidos  pelo. relevância ao estudo desse tipo de empresas para. investigador  acerca  da  natureza  da  realidade  do. caracterizar a situação do país. No entanto, o ele-. fenômeno,  os  quais  caracterizam  a  sua  posição. vado  número  de  PME’s  em  Portugal,  297.000. ontológica. O segundo é a forma como o investi-. empresas  em  2005  (IAPMEI,  2008)  exige  uma. gador considera que pode adquirir conhecimen-. maior restrição do universo a estudar. Desta for-. to sobre o fenômeno a estudar, a qual caracteriza. ma, delimitou se este estudo às empresas classifica-. a sua posição epistemológica. O terceiro é a meto-. das como excelência-indústria, pelo fato de consti-. dologia que o investigador considera mais adequa-. tuir  uma  selecção  de  empresas  já  realizada  com. da para recolher evidência válida sobre o fenôme-. objetivos  convergentes  a  este  trabalho,  uma  vez. no.  Com  base  nestes  três  fatores,  vários  autores. que a referida classificação avalia os desempenhos. classificam  a  investigação  em  contabilidade  por. econômico-financeiros  e  de  gestão  das  empresas. meio  da  identificação  de  grandes  paradigmas. candidatas (IAPMEI, 2002). O universo em aná-. (BHIMANI, 2002).. lise é constituído pelas 163 empresas classificadas. Uma das classificações mais utilizadas para. de forma consistente, no atual século, como PME’s. caracterizar os paradigmas de investigação em con-. excelência – indústria. Foram realizadas entrevis-. tabilidade é a de Burrell e Morgan (BELKAOUI,. tas com responsáveis pela contabilidade de gestão. 2000) que se baseia em dois critérios. O primeiro. de  58  empresas,  localizadas  em  11  Distritos  de. define a posição do investigador sobre a natureza. Portugal,  o  que  gerou  uma  taxa  de  resposta  de. das ciências sociais, que se deve colocar entre dois. 36%. Foi realizado o tratamento da não resposta,. extremos:  a  objectividade  e  a  subjectividade.  O. o qual permitiu concluir não existirem diferenças. segundo critério traduz a perspectiva que o inves-. estatisticamente  significativas  entre  as  empresas. tigador tem sobre a sociedade, que pode ir desde. respondentes e as não respondentes.. a mudança radical até à regulação. O cruzamento. Com  base  na  revisão  de  literatura  foram. desses dois critérios dá origem a quatro paradigmas. formuladas  as  seguintes  questões  de  estudo:  a. de  investigação  (BELKAOUI,  2000):  o  funcio-. detenção do capital é uma variável contingencial. nalismo, também conhecido por positivismo, que. aos  métodos  de  valoração  dos  produtos?  O  tipo. se caracteriza por uma visão objetiva da realidade. de produção é uma variável contingencial aos méto-. e  pela  procura  constante  da  estabilidade  social. dos  de  valoração  dos  produtos?  A  dimensão  das. no sentido de manter a ordem; o interpretativis-. empresas é uma variável contingencial aos méto-. mo, que se baseia no mesmo equilíbrio social mas. dos de valoração dos produtos?. apresenta uma visão mais subjectiva da realidade;. O presente trabalho tem por objectivo con-. o  humanismo  radical,  que  se  caracteriza  por. tribuir para o conhecimento sobre os métodos de. uma  visão  subjetiva  da  realidade,  pressupondo,. valoração dos produtos utilizados pelas pequenas. no  entanto,  a  existência  de  transformações. e médias empresas (PME’s) industriais portugue-. sociais; o estruturalismo radical que se baseia na. sas.  Como  objetivos  mais  específicos  é  possível. mesma visão da sociedade que o humanismo, ape-. identificar  os  seguintes:  caracterizar  os  métodos. nas  se  distingue  pela  perspectiva  mais  objectiva. utilizados;  Identificar  fatores  contingenciais  que. da realidade. O humanismo radical e o estrutura-. expliquem a utilização de diferentes métodos em. lismo  radical  são  normalmente  agregados  numa. diferentes empresas.. única categoria, a investigação crítica (BAXTER;. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 396-414, out./dez. 2011.

(4) Variáveis Contingenciais aos Métodos de Valoração dos Produtos: estudo empírico em PME’S industriais portuguesas CHUA, 2003; BHIMANI, 2002; COVALESKI;. MOERS, 1999, 2003). No entanto, este tipo de. DIRSMITH, 1996).. críticas  é  efetuado  sobre  estudos  que  procuram. Segundo Barrachina, Ripoll e Gago (2004),. relações  contingenciais  a  partir  do  tratamento. as teorias mais utilizadas na investigação positivista. estatístico de grandes bases de dados e não sobre. em contabilidade de gestão são a teoria da agên-. estudos de campo.. cia e a teoria da contingência. A teoria da agência. Covaleski e Dirsmith (1996) apresentam. baseia-se numa relação entre dois ou mais indiví-. uma  crítica  aplicável  a  qualquer  estudo  baseado. duos, em que são delegadas responsabilidades por. na teoria da contingência. Os autores consideram. meio de um contrato em que se definem os direi-. que esta constitui uma visão determinística e his-. tos e os deveres de cada uma das partes. A teoria. tórica das organizações. Todavia, mesmo a aplica-. da  contingência  é  baseada  na  premissa  de  que. ção dessa critica depende dos objetivos do estudo.. não há um sistema de contabilidade ideal que se. Essa  perspectiva  de  investigação  pode  ser  válida. aplique da mesma forma a todas as organizações,. para conhecer uma realidade, mesmo que seja está-. tudo  depende  de  diversos  fatores  contingenciais. tica, sobre a qual existe muito pouca informação,. (OTLEY, 1980).. como  é  o  caso  das  práticas  de  contabilidade  de. Os objetivos do presente trabalho estão rela-. gestão  utilizadas  pelas  PME’s  industriais  portu-. cionados  com  a  identificação  de  relações  entre. guesas.  Outros  estudos  mais  dinâmicos  poderão. o  método  de  valoração  dos  produtos  e  aspectos. ser  posteriormente  desenvolvidos  em  Portugal,. específicos  de  cada  empresa  em  particular,  pelo. depois de se conhecer essa realidade.. que a teoria da contingência foi considerada a mais adequada para atingir estes objetivos.. Apesar das críticas, a revisão de artigos mostra que essa teoria continua a ser utilizada na inves-. A utilização desta teoria na investigação em. tigação  empírica  em  contabilidade  de  gestão.. contabilidade de gestão deveu-se, segundo Otley. Foram  encontrados  vários  artigos  recentes  com-. (1980), à influência simultânea de três fatores. O. patíveis à teoria da contingência. Importa, assim,. primeiro foi o fato de nas décadas de 1960/1970. analisar quais as principais variáveis contingenciais. a investigação nesta área estar a apresentar resul-. que emergem desses artigos. Para isso, analisam-se,. tados contraditórios para o mesmo problema em. em primeiro lugar, cinco artigos de diferentes perío-. diferentes organizações. O segundo foi o próprio. dos temporais (CHAPMAN, 1997; CHENHALL,. desenvolvimento da perspectiva da contingência. 2003, GERDIN; GREVE, 2004; LANGFIELD-. na teoria das organizações, na qual se estabeleceu. SMITH, 1997, OTLEY, 1980), que fazem uma. como  a  abordagem  dominante  na  década  de. revisão  e  classificação  dos  fatores  contingenciais. setenta.  O  último  fator  foi  o  fato  dos  próprios. abordados em estudos empíricos realizados até essa. investigadores começarem a tomar consciência da. data. A seguir analisam-se as variáveis apresenta-. importância do contexto organizacional no estu-. das nos estudos empíricos mais recentes.. do  dos  sistemas  contabilísticos.  Todos  estes. Otley (1980) identificou três factores con-. factores em simultâneo levaram a que ocorresse a. tingenciais perfeitamente estabelecidos na inves-. passagem de uma abordagem universal para uma. tigação em contabilidade de gestão, o tipo de pro-. abordagem contingencial na investigação em con-. dução,  a  estrutura  organizacional  e  o  ambiente. tabilidade de gestão.. externo. Relativamente à variável tipo de produ-. No entanto, a sua utilização não é pacífica.. ção, o autor considerou que o fato de a produção. Encontram-se diversos artigos com uma perspec-. ser  contínua  ou  descontinua  influencia  o  mon-. tiva  crítica,  quer  relativamente  aos  pressupostos. tante de custos indiretos, para os quais se terá de. teóricos  necessários  à  formulação  das  hipóteses. encontrar  um  critério  adequado  de  repartição,. (DUNK, 2003), quer relativamente à metodolo-. influenciando  assim  o  sistema  de  valoração  dos. gia estatística utilizada para o teste dessas mesmas. produtos. Na produção descontínua um elevado. tecnologias, a qual pode alterar de forma significa-. montante  de  custos  totais  pode  ser  diretamente. tiva os resultados da investigação (HARTMANN;. associado  a  um  produto  particular,  enquanto  a. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 396-414, out./dez. 2011. 399.

(5) Maria João Cardoso Vieira Machado produção em massa exige uma grande repartição. tão, nos quais encontra as mesmas variáveis contin-. de  custos,  pois  uma  parte  significativa  do  custo. genciais  referidas  por  Otley  (1980)  e  Chapman. total é comum a diversos produtos. Relativamente. (1997) e ainda dois novos fatores, a dimensão das. à estrutura organizacional, considerou que os arti-. empresas e a cultura dos países. Relativamente ao. gos já publicados mostraram que essa afeta, pelo. primeiro,  Chenhall  (2003)  concluiu  que  a  uma. menos, um aspecto dos sistemas de contabilidade,. maior  dimensão  está  associada  uma  maior  for-. a forma como a informação orçamental é tratada.. malização dos procedimentos, uma maior ênfase. Relativamente  ao  ambiente  externo,  considerou. no orçamento e mecanismos mais sofisticados de. que  os  trabalhos  realizados  mostram  que  deter-. controlo.  Esse  autor  apresentou  diversas  alter-. minados  aspectos  ambientais  como  o  nível  de. nativas  para  medir  a  dimensão  das  empresas,  o. competição a que a empresa está sujeita influen-. número de trabalhadores, o volume de vendas e o. ciam os sistemas de controlo de gestão utilizados.. valor do capital social. Relativamente ao fator con-. Mais tarde, Chapman (1997) reviu um con-. tingencial estratégia, reportou já alguns resultados. junto  de  artigos  que  considerou  os  de  maior. ao  referir  que  os  estudos  realizados  relacionam. sucesso na análise de variáveis contingências que. certas características dos sistemas de controlo de. influenciam os sistemas de contabilidade de ges-. gestão com determinadas estratégias em particu-. tão.  Desta  revisão,  o  autor  encontrou  dois  dos. lar. Relativamente ao último fator contingencial. fatores contingenciais referidos por Otley (1980),. revisto,  Chenhall  (2003)  concluiu  que  a  cultura. nomeadamente os ambientais e o tipo de produ-. própria de cada país influencia a forma como fun-. ção.  No  entanto,  o  estudo  de  Chapman  (1997). cionam os sistemas de controlo de gestão.. reportou  a  utilização  de  um  novo  fator  contin-. A literatura revista permite concluir que a. gencial, a estratégia, para o qual considerou que. teoria da contingência é utilizada há mais de qua-. os resultados obtidos não eram ainda satisfatórios.. tro  décadas  na  investigação  em  contabilidade. No mesmo ano, Langfield-Smith (1997). de  gestão,  sendo  o  seu  contributo  confirmado  e. reviu nove estudos que analisavam a relação entre. expandido por meio da realização de estudos siste-. os sistemas de controlo de gestão e a variável con-. máticos que confirmem a existência de variáveis. tingencial estratégia. A evidência recolhida é com-. que influenciam os métodos de contabilidade de. patível à de Chapman (1997). A autora concluiu. gestão utilizados pelas empresas.. que a investigação realizada nesta área se encontrava  muito  fragmentada  devido  à  existência  de uma grande diversidade de metodologias, nomea-. 2.2. Variáveis contingenciais. damente na medição da variável estratégia.. 400. Posteriormente,  Gerdin  e  Greve  (2004). A abordagem contingencial continua a ser. acrescentaram uma nova crítica ao reportado por. utilizada nos estudos empíricos mais recentes. O. Langfield-Smith  (1997)  ao  defenderem  que  é. quadro 1 sintetiza os fatores contingenciais encon-. necessário  analisar  um  novo  problema  metodo-. trados  e  as  variáveis  com  que  são  analisados  em. lógico,  a  forma  como  os  diversos  estudos  anali-. cada um dos artigos.. sam a relação contingencial entre a estratégia e o. Libby  e  Waterhouse  (1996)  realizaram. sistema de contabilidade de gestão. Por meio da. entrevistas telefônicas a gestores de vinte e quatro. revisão  de  dez  artigos  sobre  tal  problemática,  os. médias empresas industriais do Canadá, para ana-. autores  concluíram  que  a  relação  entre  as  duas. lisar  a  relação  entre  a  capacidade  organizacional. variáveis foi analisada recorrendo a modelos esta-. para  aprender  e  o  seu  impacto  na  mudança  dos. tísticos diversificados, o que faz com que os resul-. sistemas de contabilidade de gestão. Os resultados. tados  obtidos  nos  diversos  estudos  não  possam. obtidos  concluem  que  existe  uma  forte  relação. ser muitas vezes comparados.. positiva entre as duas variáveis. Os autores anali-. Chenhall (2003) analisou 20 anos de estu-. sam, ainda, em que medida três fatores contingen-. dos empíricos sobre os sistemas de controlo de ges-. ciais, o ambiente, a descentralização e a dimensão,. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 396-414, out./dez. 2011.

(6) Variáveis Contingenciais aos Métodos de Valoração dos Produtos: estudo empírico em PME’S industriais portuguesas são  relevantes  para  o  processo  de  mudança  nos. estratégicas  de  negócio  de  empresas-indústriais. sistemas de contabilidade de gestão. Para o efeito. canadianas.  As  conclusões  mostram  que  existe. utilizaram  as  variáveis  nível  de  competitividade. uma associação positiva entre os dois fatores con-. do ambiente, nível de descentralização e número. tingenciais  e  a  utilização  de  métodos  de  gestão. de trabalhadores.. baseados nas atividades.. Chong (1996) realizou inquéritos a qua-. Chenhall e Langfield-Smith (1998b) rea-. renta e dois gestores de empresas-indústriais austra-. lizaram um inquérito postal a setenta e oito gran-. lianas por meio dos quais analisou a relação entre. des empresas industriais australianas e analisaram. a variável incerteza das tarefas e o nível de utilização. o  impacto  da  estratégia  nas  técnicas  de  contabi-. dos sistemas de contabilidade de gestão, reportan-. lidade  de  gestão  utilizadas.  Os  autores  provam. do também  a  existência  de  uma  relação  positiva. que as estratégias de baixo preço estão associadas. entre as duas variáveis.. fundamentalmente  a  técnicas  de  contabilidade. Gosselin (1997) analisou os efeitos da postura  estratégica  e  da  estrutura  organizacional  na. de  gestão  tradicionais  como  os  orçamentos  e  o controlo de desvios.. forma como as empresas adoptam a gestão basea-. Chong (1998) realizou inquéritos a sessen-. da nas atividades. O estudo foi realizado por meio. ta e três gestores de empresas-indústriais australia-. de inquéritos em cento e sessenta e uma unidades. nas, analisando a relação entre uma nova variável. (VWXGRVHPStULFRV Libby e Waterhouse (1996). $PELHQWH Nível de competitividade. (VWUXWXUD RUJDQL]DFLRQDO - Nível de descentralização - Capacidade para aprender. Chong (1996). Haldma e Lääts (2002). (VWUDWpJLD. Nº de trabalhadores. Nível de descentralização. Chenhall e LangfieldSmith (1998b) Chong (1998). Luther e Longden (2001). 'LPHQVmR. Incerteza das tarefas. Gosselin (1997). Anderson e Lanen (1999). 7LSRGH SURGXomR. Tipo de estratégia Tipo de estratégia. Tolerância à ambiguidade Nível de competitividade - Nível de competitividade Incerteza, - Cultura nacional - Falta de profissionais qualificados - Normas de contabilidade financeira - Falta de profissionais qualificados - Detentores do capital. Chang, R.-D., Chang, Y. e Paper (2003) Jermias e Gani (2004) Gerdin (2005). Tipo de estratégia. Contínua ou descontínua. Nível de descentralização Nível de descentralização Interdependência organizacional. Volume de vendas. Incerteza das tarefas Tipo de estratégia. Quadro 1 – Factores contingenciais aos sistemas de contabilidade de gestão . Fonte: dos autores. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 396-414, out./dez. 2011. 401.

(7) Maria João Cardoso Vieira Machado relacionada com um aspecto particular da perso-. empresas  industriais  da  Estónia  e  analisaram  se. nalidade, o nível de tolerância à ambiguidade, e o. três fatores contingenciais, o ambiente, a dimen-. nível de utilização dos sistemas de contabilidade de. são das empresas e o tipo de produção, afetam a. gestão. Os resultados obtidos concluem que quan-. práticas  de  contabilidade  de  gestão.  Para  além. do  o  nível  de  tolerância  dos  gestores  à  ambigui-. desses, introduziram, ainda, um novo fator contin-. dade é elevado estes utilizam menos os sistemas de. gencial,  os  detentores  do  capital  das  empresas.. contabilidade de gestão para tomar decisões. Quan-. Relativamente ao fator ambiente, os autores ana-. do o nível de tolerância é baixo os gestores utili-. lisam o impacto de duas variáveis nas práticas de. zam mais os sistemas de contabilidade de gestão.. valoração  dos  produtos. Tratam-se  da  influência. Anderson  e  Lanen  (1999)  analisaram  o. das normas da contabilidade externa e da falta de. impacto da liberalização da economia indiana, em. profissionais qualificados na área da contabilida-. 1991, sobre os sistemas de contabilidade de ges-. de  de  gestão.  Concluem  existir  uma  associação. tão  utilizados  pelas  empresas.  Os  autores  consi-. positiva entre estas duas variáveis e o método de. deram que essa liberalização gerou um aumento. valoração dos produtos, e que as normas da con-. de  competitividade  no  ambiente  externo  e  uma. tabilidade  externa  estão  a  condicionar  o  desen-. alteração na estratégia das empresas. Por meio da. volvimento dos métodos de contabilidade de ges-. realização  de  inquéritos  a  catorze  empresas  e  de. tão. Estes autores referem, ainda, que as empresas. entrevistas em sete delas, concluíram que os siste-. não  dispõem  de  profissionais  qualificados  nesta. mas  de  contabilidade  de  gestão  se  alteraram,. área, o que condiciona os próprios métodos utili-. nomeadamente ao nível do processo de orçamen-. zados. Relativamente à variável tipo de produção,. tação  e  controle  que  se  tornou  muito  mais  des-. concluíram que a fabricação de produtos especí-. centralizado, e do aumento da preocupação com. ficos de acordo com as necessidades dos clientes. a redução de custos.. exige sistemas de valoração diferentes dos da pro-. Luther  e  Longden  (2001)  analisaram  o. dução em massa na qual existem muito mais cus-. impacto  de  três  variáveis  relacionadas  com  o. tos  indiretos.  Para  observar  o  fator  dimensão,. ambiente  sobre  as  práticas  de  contabilidade  de. Haldma e Lääts (2002) utilizaram o volume de ven-. gestão.  As  variáveis  são  o  nível  de  competitivi-. das e concluíram que as maiores empresas utilizam. dade, de incerteza e a cultura nacional. O estudo. métodos de contabilidade de gestão mais sofisti-. compara  essas  variáveis  contingenciais  em  duas. cados. Referem, ainda, que a uma maior dimen-. amostras, uma da África do Sul, outra do Reino. são  está  associada  a  uma  maior  disponibilidade. Unido.  Trata-se  de  países  com  diferentes  níveis. de  recursos  financeiros  para  o  desenvolvimento. de  competitividade  e  de  incerteza  no  ambiente. de  sistemas  mais  sofisticados.  Relativamente aos. externo  das  empresas  e  com  diferentes  culturas. detentores do capital das empresas, o objetivo dos. nacionais.  A  informação  foi  recolhida  por  meio. autores  era  identificar  se  existia  pressão  sobre  os. de  inquéritos  realizados  a  cento  e  trinta  e  nove. métodos de contabilidade de gestão quando esse. contabilistas da África do Sul e setenta e sete con-. é detido por estrangeiros, porém não foi encon-. tabilistas do Reino Unido. Os autores concluem. trada evidência sobre a influência desta variável.. que  as  práticas  de  contabilidade  de  gestão  estão. Chang,  R.-D.,  Chang,  Y.-W.,  Paper,  D.. relacionadas  com  as  variáveis  ambientais  incer-. (2003) realizaram inquéritos a cento e vinte e seis. teza, competitividade e cultura nacional, e ainda. gestores de topo de empresas do Taiwan, por meio. com  uma  nova  variável  que  se  tornou  clara  no. dos quais comprovaram o impacto de duas variá-. decorrer do estudo, a disponibilidade de profissio-. veis nos sistemas de informação contabilística: a. nais com competências na área da contabilidade. incerteza das tarefas e o nível de descentralização.. de gestão, a qual constitui um fator crítico para as. Jermias e Gani (2004) realizaram inquéri-. empresas da África do Sul.. 402. tos a cento e seis gestores de unidades de negócio. Haldma e Lääts (2002) realizaram inqué-. de vinte e seis empresas de Jakarta e confirmaram. ritos  a  responsáveis  de  sessenta  e  duas  grandes. o impacto de duas variáveis sobre os sistemas de. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 396-414, out./dez. 2011.

(8) Variáveis Contingenciais aos Métodos de Valoração dos Produtos: estudo empírico em PME’S industriais portuguesas contabilidade  de  gestão:  o  tipo  de  estratégia  e  o. QUESTÃO  A  –  A  detenção  do  capital  é. nível de descentralização.. uma  variável  contingencial  aos  métodos. Gerdin  (2005)  analisou  a  relação  entre  a. de valoração dos produtos?. variável interdependência organizacional e o sistema de contabilidade de gestão. O estudo foi rea-. QUESTÃO B – O tipo de produção é uma. lizado  por  meio  de  inquéritos  a  cento  e  trinta  e. variável contingencial aos métodos de valo-. dois gestores de produção de empresas industriais. ração dos produtos?. suecas.  Os  resultados  confirmaram  que  a  interdependência organizacional, ou seja, em que me-. QUESTÃO C – A dimensão das empresas. dida cada departamento depende de recursos dos. é uma variável contingencial aos métodos. outros para realizar as suas tarefas, gera uma pres-. de valoração dos produtos?. são sobre os sistemas de contabilidade de gestão no sentido de utilizarem mecanismos de planeamento e controlo mais rigorosos.. A detenção do capital é uma variável estudada por Ghosh e Chan (1997), Clarke et al. (1999). Os  estudos  empíricos  revistos  permitem. e Haldma e Lääts (2002). Os dois primeiros arti-. concluir  que  estão  estabilizados  na  teoria  cinco. gos concluem que existem métodos de contabili-. fatores contingenciais: ambiente; estrutura orga-. dade de gestão mais sofisticados nas filiais de multi-. nizacional; tipo de produção; dimensão; estraté-. nacionais,  face  às  empresas  da  região,  sugerindo. gia. Apesar de os diversos estudos utilizarem dife-. como explicação a imposição desses métodos pela. rentes variáveis para medir cada um dos cinco fato-. casa-mãe. O terceiro artigo estuda a mesma rela-. res descritos, as suas conclusões são convergentes,. ção  em  empresas  da  Estónia,  não  encontrando,. no sentido de existir uma associação entre a variá-. no  entanto,  qualquer  associação  entre  as  duas. vel  analisada  e  os  métodos  de  contabilidade  de. variáveis.  Esses  resultados  contraditórios  justifi-. gestão  utilizados.  A  única  variável  não  testada. cam nova investigação sobre esta eventual relação.. empiricamente é uma das propostas por Haldma. O tipo de produção é analisado nos arti-. e Lääts (2002) que não conseguiram provar a exis-. gos  de  Otley  (1980)  e  Haldma  e  Lääts  (2002).. tência de uma relação estatisticamente significa-. Ambos os estudos concluíram que o fato de a pro-. tiva  entre  o  fato  de  os  detentores  do  capital  das. dução  ser  contínua  ou  descontínua  influencia  o. empresas  serem  estrangeiros  e  a  utilização  de. montante de custos indiretos, para os quais se terá. diferentes  métodos  de  contabilidade  de  gestão.. de encontrar um critério adequado de repartição, condicionando assim o método de valoração dos produtos. Na produção descontínua um elevado. 3. METODOLOGIA DA PESQUISA. montante  de  custos  totais  pode  ser  diretamente associado  a  um  produto  particular,  enquanto  a. Os estudos já realizados permitem identi-. produção em massa exige uma grande repartição. ficar diversas variáveis contingências aos métodos. de  custos,  pois  uma  parte  significativa  do  custo. de contabilidade de gestão. Contudo, nenhum dos. total é comum a diversos produtos.. estudos se dirigiu a Pequenas e Médias Empresas,. A dimensão das empresas  é  uma  variável. o que justifica investigação que permita concluir. estudada nos artigos de Chenhall (2003), Haldma. se  essas  variáveis  contingenciais,  já  estabilizadas. e Lääts (2002), Joshi (2001), Innes, Mitchell, Sinclair.. na teoria, também o são se analisarmos empresas. (2000), Clarke et al. (1999), Chenhall e Langfield-. de pequena dimensão. Os objetivos deste estudo. Smith (1998a), Libby e Waterhouse (1996) e Innes. estão relacionados com a identificação de relações. e Mitchell (1995). Esses artigos concluem que as. entre o método de valoração dos produtos utili-. empresas  de  maior  dimensão  utilizam  métodos. zados  pelas  Pequenas  e  Médias  Empresas  e  três. de contabilidade de gestão mais sofisticados. São. variáveis contingenciais: a detenção do capital; o. apresentadas duas justificações para esse fenôme-. tipo de produção; a dimensão das empresas:. no: o fato de as maiores empresas exigirem proce-. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 396-414, out./dez. 2011. 403.

(9) Maria João Cardoso Vieira Machado. 404. dimentos mais formalizados para assegurar a coor-. de  existir  enviesamento  provocado  pelas  empre-. denação de todas as operações; e a disponibilidade. sas não respondentes, por meio da análise de dois. de recursos financeiros a elas associada.. fatores. O primeiro foi a cobertura geográfica do. Relativamente  à  recolha  de  dados  neces-. território português, estando representadas empre-. sários para responder às questões de investigação. sas de 79% dos distritos do universo, sendo que. definidas, optou-se pela realização de entrevistas. os três não cobertos tinham apenas uma empresa. que permitissem recolher evidência, a mais varia-. cada, o que sugere que o fator representatividade. da  possível,  sobre  as  questões  levantadas.  Desta. geográfica  não  é  indicador  de  provocar  enviesa-. forma, pretendeu-se recolher evidência mais fide-. mento de resultados. O segundo foi a dimensão. digna à medida que os conceitos básicos associa-. das empresas, a qual segundo Young, Wim e Chen. dos à contabilidade de gestão podem não ser uti-. (2005) poder ser medida por meio do número de. lizados  da  mesma  forma  por  todas  as  empresas. trabalhadores.  Foi  realizada  a  comparação  dos. portuguesas.  Optou-se  pela  realização  de  entre-. respondentes  com  os  não  respondentes  em  ter-. vistas semiestruturadas nas quais não se utiliza um. mos de dimensão, medida por meio da média do. questionário de base à entrevista, mas sim um con-. número de trabalhadores. O teste  t-student obti-. junto de tópicos sobre os quais essa tem de incidir. do apresenta um valor de 1.165, para 161 graus. (BELL, 2005). As entrevistas foram dirigidas ape-. de  liberdade,  com  um  valor -p  de  0.246,  o  que. nas  ao  responsável  pela  contabilidade  de  gestão,. revela  não  existirem  diferenças  significativas  na. entre Julho de 2005 e Julho de 2006, por se con-. dimensão  média  dos  dois  grupos.  Esta  análise. siderar  que  este  tem  o  domínio  da  informação. permite-nos concluir que os resultados deste tra-. sobre a qual se pretendia recolher evidência e, dada. balho,  embora  não  sendo  válidos  para  todas  as. a  dimensão  das  empresas,  uma  visão  global  das. PME’s industriais portuguesas, podem caracteri-. referidas entrevistas.. zar a realidade de um subconjunto dessas empre-. O  presente  estudo  pretende  analisar  o. sas, as classificadas como excelência de forma con-. universo  das  163  PME’s  industriais  classificadas. sistente no atual século. Abernethy et al. (1999). como  excelência  no  atual  século.  Após  três  fases. concluem que independentemente do método de. de contato, conseguiu-se a marcação de entrevis-. investigação utilizado, a generalização a partir de. tas com o responsável pela contabilidade de ges-. um único trabalho é necessariamente limitada. Os. tão  de  58  empresas.  Foram  analisadas  empresas. referidos autores consideram que a generalização. de onze dos catorze distritos do universo inicial,. em contabilidade de gestão tem de ser conseguida. pelo que se considera ter obtido uma boa cober-. por  meio  de  uma  aplicação  sucessiva  em  novas. tura  geográfica.  As  58  empresas  que  aceitaram. populações, locais e períodos temporais.. participar deste trabalho correspondem a uma taxa. Para o tratamento estatístico da informação. de  resposta  de  36%,  o  que  é  comparável  à  de. recolhida  nas  entrevistas  foi  criada  uma  base  de. outros trabalhos analisados na revisão de literatu-. dados no software informático Statistical Package. ra, nomeadamente Haldma and Lääts (2002) que. for the Social Sciences (SPSS). Um dos objectivos. apresentam uma taxa de resposta de 34%, Innes. é analisar a eventual relação entre o comportamen-. e Mitchell (1995), Innes, Mitchell e Sinclair (2000),. to de duas variáveis nominais, com mais de duas. Joshi  (2001),  com  taxas  de  resposta  de  apenas. categorias de respostas, para um máximo de cin-. 25%, 23% e 24%, respectivamente.. quenta e oito observações. Atendendo às caracte-. Sendo assim, a existência de não responden-. rísticas das variáveis, o teste de associação aplicá-. tes pode provocar um enviesamento dos resulta-. vel é o teste de independência do Qui-Quadrado. dos, nomeadamente se as empresas que não acei-. ou  teste  do  Qui-Quadrado  de  Pearson  (Siegel  e. taram participar tiverem características homogê-. Castellan, 1988). Este teste baseia-se numa tabela. neas,  definindo  assim  uma  categoria  com  carac-. de cruzamento das diversas categorias de resposta. terísticas  próprias  (YOUNG;  WIM;  CHEN ,. de cada variável, em que são calculadas as frequên-. 2005). Neste estudo não se encontraram indícios. cias absolutas esperadas para cada célula, com base. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 396-414, out./dez. 2011.

(10) Variáveis Contingenciais aos Métodos de Valoração dos Produtos: estudo empírico em PME’S industriais portuguesas na  teoria  das  probabilidades  e  na  hipótese  nula a  seguir  definida.  As  hipóteses  desse  teste  são  as. 4. APRESENTAÇÃO  E  DISCUSSÃO  DOS RESULTADOS. seguintes (MOOD; GRAYBILL; BOES, 1974): hipótese  nula  –  as  variáveis  são  independentes;. Para  a  análise  das  questões  de  estudo  foi. hipótese  alternativa  –  as  variáveis  não  são  inde-. construída a variável “valoração dos produtos”, que. pendentes. Para que os resultados do teste sejam. reflete o método utilizado pela empresa e que apre-. válidos é necessário que não se viole nenhum dos. senta três categorias de resposta: em 24% das empre-. seus pressupostos (SIEGEL; CASTELLAN, 1988):. sas a valoração dos produtos é feita sem se repar-. nenhuma das frequências absolutas esperadas pode. tirem  os  custos  indiretos;  a  maior  frequência  de. ser inferior a um; não pode haver mais de 20% de. resposta situa-se na utilização de uma única base. células com frequência esperada inferior a cinco.. de  repartição  desses  custos  (48%);  em  28%  das. Comprovada a existência de uma relação entre o. empresas utilizam-se múltiplas bases de repartição.. comportamento  de  duas  variáveis,  por  meio  da. Relativamente à primeira questão de estu-. rejeição  da  hipótese  nula  do  teste  do  Qui-Qua-. do, a detenção do capital é analisada por Ghosh e. drado de Pearson, torna-se desejável medir a inten-. Chan  (1997),  Clarke  et  al .  (1999)  e  Haldma  e. sidade dessa relação (MURTEIRA, 1990). Dada a. Lääts (2002) por meio da natureza dos detento-. natureza nominal das variáveis em análise, optou-. res  do  capital  das  empresas,  classificando-as  em. se pela utilização do coeficiente de Cramer, dado. filiais de multinacionais ou empresas 100% nacio-. que esse não é influenciado pelo número de cate-. nais.  Como  no  universo  das  PME’s  portuguesas. gorias de resposta de cada variável. O seu valor é. não se esperavam encontrar muitas filiais de multi-. calculado com base no valor do Qui-Quadrado e. nacionais,  optou-se  por  utilizar,  também,  uma. varia entre zero e um. O valor zero obtém-se quan-. outra variável relacionada com a detenção do capi-. do não existe associação entre as variáveis, todavia. tal, a forma jurídica das sociedades. Assim, anali-. o  valor  um,  em  tabelas  quadradas,  não  significa. sam-se  neste  ponto  duas  variáveis  associadas. que exista associação perfeita entre elas (SIEGEL;. à  detenção  do  capital:  o  tipo  de  sociedade;  e  a. CASTELLAN, 1988). As hipóteses desse teste são. natureza dos detentores do capital.. as seguintes (SIEGEL; CASTELLAN, 1988): hipó-. A primeira relação analisada é entre a cate-. tese nula – as variáveis são independentes; hipóte-. goria jurídica das sociedades e o método de valo-. se alternativa – as variáveis não são independentes.. ração dos produtos. Para o efeito, criou-se uma nova. Não  foram  encontradas  referências  conclusivas. variável denominada “tipo de sociedade”. Apenas. sobre como classificar o resultado obtido pelo coe-. foram encontrados dois tipos de sociedades, por. ficiente  de  Cramer  quando  se  rejeita  a  hipótese. quotas e anônimas, sendo a última a forma jurí-. nula. Murteira et al. (2002) referem que valores. dica adoptada pela maioria das empresas (57%).. para este coeficiente de 0,117 e de 0,400 tradu-. A associação entre esta variável e a “valoração dos. zem  uma  associação  fraca  e  relativamente  forte. produtos” é apresentada no quadro 2, a qual evi-. entre as variáveis, respectivamente.. dencia alguma homogeneidade nas três categorias. 7LSRVRFLHGDGH 4XRWDV Valoração. Sem custos indirectos. dos produtos. Base única Bases múltiplas. Total. 7RWDO. $QyQLPD. . 7. 7. 14. 12. 16. 28. 6. 10. 16. 25. 33. 58. Quadro 2 – “Valoração dos produtos” e “tipo de sociedade” Fonte: dos autores. R. bras. Gest. Neg., São Paulo, v. 13, n. 41, p. 396-414, out./dez. 2011. 405.

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