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Violência e Espaço Escolar: um Estudo Acerca das Manifestações de Bullyng na Cidade de Manaus

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Academic year: 2020

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VIOLÊNCIA E ESPAÇO ESCOLAR:

UM ESTUDO ACERCA DAS

MANIFESTAÇÕES DE BULLYNG

NA CIDADE DE MANAUS*

ADELSON DA COSTA FERNANDO**

A

sociedade a cada dia enfrenta as mais diversas manifestações de violência. Estas estão ligadas a inúmeros fatores, dentre os quais podemos citar o medo, que faz parte do cotidiano dos cidadãos, que vivem aterrorizados, desconfiando de qualquer atitude, que, associadas ao medo inerente na sociedade, transforma todas as atitudes, em suspeitas. Morais (1985, p. 12) afirma que “onde há medo, há ameaças, e onde estão as ameaças está a violência”. Há violências diversas que envolvem sujeitos diversos e acontecem de formas diferentes como a física, psicológica, emocional e simbólica que nesse caso exigem respostas diferentes, mas que se relacionam entre si de maneiras peculiares.

Resumo: a violência é um dos grandes sintomas da crise na sociedade; ela se democratiza

no cotidiano das relações humanas, alcançando os mais variados espaços sociais. O nosso interesse, nesta comunicação científica, é entender as manifestações de violência na escola, verticalizando as expressões do bullying nas relações entre os discentes de educação física, nas escolas estaduais na cidade de Manaus. Também objetivou-se dar inteligibilidade ao tipo de abordagem e a postura que os professores de educação física dão diante das ocorrências de tais violências. Privilegiando-se uma abordagem qualitativa, esta pesquisa propõe uma incursão na literatura acerca do referido tema; realizou-se observação participante e entrevista. As escolas de Manaus têm sido palco das mais diversas expressões de bullying, especialmente nas aulas de educação física; apesar de serem submersos, suas ocorrências têm visibilizado certos efeitos. Por outro lado, os professores pesquisados conseguem identificar a dimensão do problema, mas ainda não conseguem dar uma resposta satisfatória e plausível que contribua para a cultura de paz..

Palavras-chave: Bullying. Violência Escolar. Educação Física.

* Recebido em: 02.03.2016. Aprovado em: 24.03.2016.

** Doutorando em Ciências da Religião na PUC Goiás. Bolsista da FAPEAM. Professor na Universidade Federal do Amazonas. Sociólogo. E-mail: sociologoadelson@hotmail.com

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Na sociedade contemporânea, observa-se que inúmeras condições têm provocado e complexificado manifestações de violências, e este fenômeno social já tem alcançado as estrutu-ras das escolas. Escolas estas com alunos de todos os níveis sociais, que se deparam com situações de violência no cotidiano, envolvendo, sobretudo, professores e alunos. A violência é um dos grandes problemas que afetam a sociedade, ela se faz presente em nosso cotidiano, atingindo os mais variados espaços sociais. O nosso interesse é entender as manifestações de violência na escola, e especificamente analisar as expressões do bullying nas aulas de educação física.

MANIFESTAÇÕES DE BULLYING NO ESPAÇO ESCOLAR

A ocorrência do bullying possui dimensões consideráveis nas escolas estaduais in-vestigadas em Manaus. De acordo com os alunos entrevistados, a violência faz parte do co-tidiano escolar; muitos deles presenciaram brigas na escola: “nunca briguei na escola, mas já vi outros alunos brigando” (Aluna, 16 anos, 7º ano, Escola B, entrevista concedida no dia 10/05/2015); “eu já briguei na escola, porque meus colegas ficam mexendo comigo” (Aluna, 14 anos, 8º ano, Escola B, entrevista concedida no dia 09/05/2015).

Fante (2005) acredita que é comum entre alunos de uma classe ou escola a ocor-rência de diversos tipos de conflitos e tensões, ressaltando que existem inúmeras interações agressivas, às vezes como diversão ou como tentativa de autoafirmação dentro da escola e para se comprovarem as relações de força que os alunos estabelecem entre si. A frequência com que o fenômeno acontece é alarmante nas escolas de Manaus: 20 (vinte) alunos confirmaram serem vítimas de bullying, admitindo que sofrem ataques todos os dias, ou três vezes por se-mana, dentre estes alunos, apenas 6 (seis) contaram o ocorrido para os pais ou responsáveis, “é comum que a vítima não conte para os professores e para os pais o que lhe acontece na escola” (FANTE, 2005, p. 49).

Uma incursão no trabalho de Colovini (2007) descobriu que os autores de bullying são aqueles indivíduos que só praticam a violência; normalmnte eles vêm de famílias desestru-turadas, que há pouco ou nenhum relacionamento afetivo, são indivíduos que têm tendência a não sentir o que sentiria outra pessoa, caso estivesse experimentado a mesma situação que ela; estes indivíduos têm grandes possibilidades de se tornarem adultos com atitudes antis-sociais e/ou violentos. Abrapia (2003) afirma que o grande número de jovens, que na escola são populares, de grande influência e autores de bullying, em casa, junto à família, são vítimas de assédio e chacotas.

Ainda a respeito dos protagonistas do fenômeno na escola, para Silva (2010) eles são: as vítimas, os agressores e os espectadores. Para a autora, as vítimas estão divididas em três tipos: a vítima típica, que “são os alunos que apresentam pouca habilidade de socializa-ção” (p. 37); na maioria das vezes, são tímidas e reservadas e não conseguem reagir quando atacados pelos agressores; a vítima provocadora, que “são aquelas capazes de insuflar em seus colegas reações agressivas contra si mesmas” (p. 40), porém, não conseguem responder aos ataques sofridos de maneira satisfatória, comumente, brigam e discutem quando são ataca-das; a vítima agressora, que “reproduz os maus-tratos sofridos como forma de compensação” (p. 42), procurando outra vítima, mais frágil e vulnerável que ela, fazendo com que ela sofra todas as agressões e maus-tratos que sofreu. A autora diz que os agressores podem ser de ambos os sexos, possuem peculiaridades como maldade e desrespeito, e na maioria das vezes, essas características estão ligadas a um poder de liderança, que para a autora é visto como

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algo perigoso, pois em geral, é obtido através do uso da força física. Os espectadores são os alunos que presenciam e assistem as ações de agressão contra as vítimas; todavia, não tomam qualquer atitude em relação a isso, não apoiam os agressores e nem os agredidos. Ela divide os espectadores em três grupos distintos: os espectadores passivos, os ativos e os neutros. Os passivos têm medo de se tornarem vítimas, recebem ameaças do tipo: “fique na sua, caso contrário a gente vai atrás de você” (p.45), ficando evidente o medo que se instala quando presenciam atos de violência, “sinto um pouco de pena, mas não ajudo porque tenho medo” (Aluna, 15 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 10/05/2015). Os ativos, são aqueles que mesmo não participando de forma ativa dos ataques, demonstram apoio aos agressores, com risadas e palavras de incentivo, “não faço nada, fico apenas assistindo, rindo” (Aluno, 14 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 09/05/2015); “não se envolvem diretamente, mas isso não significa, em absoluto, que deixam de se divertir com o que veem” (SILVA, 2010, p. 46). Os neutros, não demonstram sensibilidade diante das manifestações de violência que presenciam; a autora argumenta que estes são advindos de famílias desestruturadas ou de co-munidades que a violência faz parte do cotidiano (p. 46), “sinto que talvez essa pessoa tenha feito alguma coisa pra ser maltratado” (Aluna, 14 anos, Escola A, entrevista concedida no dia 09/05/2015).

Marriel (2006, apud LOPES; ARAMIS; SAAVEDRA, 2003) caracteriza bullying como atos repetitivos de opressão, agressão e domínio de pessoas ou grupos sobre outras pessoas ou grupos, reprimidos pela força dos primeiros; ressalta ainda que o bullying trata de indivíduos valentes e brigões que colocam apelidos depreciativos, aterrorizam, ignoram e rejeitam colegas da escola, “ameaçam, agridem, furtam, ofendem, humilham, discriminam, intimidam ou quebram pertences dos colegas, entre outras ações destrutivas” (p. 37), desta-cando que os adolescentes, vítimas do bullying, geralmente são pessoas com dificuldades para reagir diante das situações agressivas, isolando-se, colaborando assim, para a evasão escolar, uma vez que, muitas vezes, não conseguem suportar a pressão na qual são subjugados. No entanto, Francisco e Libório (2008) afirmam que as vítimas de bullying, geralmente, são indi-víduos descritos como pouco sociáveis, inseguros, possuindo baixa autoestima, quietos e que não reagem efetivamente aos atos de agressividade sofridos.

BULLYING E OS DISCENTES DE EDUCAÇÃO FÍSICA

Nas aulas de Educação Física, o fenômeno bullying não está distante, aqui ele apa-rece de forma perceptível, diante do que foi observado e relatado pelos alunos; nestas aulas a necessidade de expor suas habilidades e o “querer ser melhor” muitas vezes ultrapassam as barreiras do aceitável. Estas aulas são vistas como o momento da prática, que prioriza o movimento corporal; desta forma, o contato entre os alunos é frequente, e, muitas vezes, é nesse contato que ocorrem as mais variadas formas de violência. Um “empurrar” aqui, um “encostar” ali, formam um cenário propício para manifestações de agressividade; é ali num jogo ou numa atividade, direcionada pelo professor, que os alunos exteriorizam suas emoções. Muitas vezes os professores não se dão conta, mas utilizam uma maneira de violên-cia simbólica que é a elitização, quando aplica um cuidado maior aos alunos que praticam melhor as atividades que estão ensinando (GUIMARÃES 1994 apud LIPPELT, 2004). Os alunos passam a se diferenciar dos outros: “sou a primeira aluna que ele escolhe e eu consigo desenvolver” (Aluna, 16 anos, 7º ano, Escola B). Os que não são beneficiados, os alunos

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“me-nos habilidosos”, (“não consigo porque eles deixam a gente muito com dor de cabeça, e eu não consigo” - Aluna, 12 anos, 6º ano, Escola B) sofrem a violência simbólica, revelada pela exclusão. Eles ficam desmotivados a praticarem as atividades e são capazes de exercer atos de rebeldia e agressividades com seus professores e colegas (JESUS, 2011).

Devido às diferenças de habilidades entre estes indivíduos, é comum vermos então surgirem conflitos de grupos, pois é inconscientemente que eles incorporam as identidades e passam a se identificarem, social e historicamente, como fortes ou frágeis, corajosos ou me-drosos (OLIVEIRA; VOTRE, 2006).

As escolas estudadas tem tentado responder a esse fenômeno, que se expressa no seu cotidiano, através de procedimentos bem pontuais (palestras que tratam sobre valores como respeito, proferidas normalmente por especialistas da área), tendo em vista que é um assunto ainda tratado de maneira superficial. Apesar do bullying se manifestar de forma intensa nessas escolas, “este assunto ainda não faz parte do cotidiano dos alunos” (Professora 5, 30 anos, Escola C, entrevista concedida no dia 20/05/2015). Nessas escolas, os conteúdos transversais (respeito mútuo, justiça, diálogo e solidariedade) têm sido trabalhados basicamente através das seguintes práticas:

Através de incentivo a solidariedade, a generosidade e o respeito as diferenças por meio de conversas, trabalhos didáticos, como atividades de cooperação e interpretação de diferentes papeis de um con-flito (Professor 2, 31 anos, Escola A, entrevista concedida no dia 23/06/2015).

Através das aulas práticas. Utilizando o diálogo entre os mesmos (Professor 3, 49 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 23/06/2015).

A aula de Educação Física, é um espaço ao mesmo tempo fácil e complicado de trabalhar tais conteúdos. É muito interessante certas posturas e atitudes dos alunos, uma vez que na escola onde trabalho, o respeito a escola, os funcionários, e colegas fazem parte da avaliação bimestral (Professora 5, 24 anos, Escola C, entrevista concedida no dia 23/06/2015).

Jesus (2011, apud MARRIEL et al., 2006) chama a atenção do professor de Educa-ção Física para estar atento de como as atividades esportivas estão sendo passadas aos alunos nas aulas, no sentido de evitar que os alunos que apresentem maiores dificuldades não sejam excluídos e discriminados (p. 22); essas disputas esportivas estimulam a violência entre os alunos, como enfatiza Furtado (2007) em seu trabalho; este autor recomenda que o professor mude o seu método de trabalho e atenda os seus alunos promovendo valores como a coope-ração, união, amizade, respeito, tolerância e solidariedade.

O bullying se potencializa dentro de condições muito peculiares, quando o pro-fessor em suas aulas permite manifestações de marginalização e exclusão de alunos que não alcançam a mesma interação com os demais, seja por peculiaridades individuais ou sociais. Habilidade, força, idade e gênero compõem um emaranhado de exclusões nas aulas de Edu-cação Física (SOUZA; ALTMAN, 1999 apud JESUS 2011, p. 89), que tem criado situações que fertilizam um cenário de violência.

Os professores têm valorizado um aspecto importante de seus alunos que é a auto-estima, um dos primeiros componentes que é afetado pelas vítimas do bullying nas escolas es-taduais pesquisadas. A autoestima é uma condição sine qua non para a aprendizagem e para a busca de autonomia (Professor 1, 53 anos, Escola A, entrevista concedida no dia 07/07/2015); é por meio dela que se criam as condições para o respeito mútuo entre as pessoas (Professor

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2, 35 anos, Escola A, entrevista concedida no dia 09/07/2015), para o reconhecimento “de nossas qualidades, nossas virtudes, nossos defeitos. Cada ser humano tem sua importância no contexto social” (Professor 4, 45 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 15/07/2015).

Jesus (2011) argumenta que o bullying na Educação Física ocorre geralmente com aqueles alunos que saem do “padrão”, são os que apresentam maior dificuldade nas práticas e serão alvo de inferiorização, ou seja, o bullying é praticado contra aqueles “menos habili-dosos”, ou contra aqueles que praticam atividades que fogem aos estereótipos, como as me-ninas que jogam futebol, e são vistas como “machonas”, e os meninos que preferem alguma atividade que não o futebol, ou atividades que envolvam expressão, e que são vistos como “afeminados” (COSTA, 2007, p. 21).

O BULLYING E A VISÃO DOS PROFESSORES DE EDUCAÇÃO FÍSICA

As representações que os professores entrevistados fazem acerca do bullying, consiste numa ação de agressão intencional, onde o “outro” é submetido a uma violência física, verbal, emocional e social; esse “outro” é visto, nessas representações, como “deficiente”, considerado inferior numa relação desigual e hierárquica com um suposto “eu” superior. Os professores entrevistados defendem o pressuposto de que bullying “são agressões intencionais, verbais ou físicas, feitas de maneiras repetitivas, por um ou mais alunos contra um ou mais colegas” (Professor 2, 27 anos, Escola A, entrevista concedida no dia 20/07/2015). Também pode ser considerado “um ato caracterizado pela violência física ou psicológica, de forma intencional e continuada, de um indivíduo, ou grupo com outros grupos, sem motivos claros” (Profes-sor 3, 45 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 30/07/2015). Assim, pelas inferências,

bullying aparece aqui como uma relação social, onde as diferenças entre os envolvidos são um

ingrediente significativo na configuração desse fenômeno. Isto significa dizer que a relação que caracteriza o bullying sempre é etnocêntrica.

O fenômeno do bullying tem ocorrido nas escolas estaduais de Manaus com inten-sidade, nas quais alguns professores o percebem com certa visibilidade, enquanto outros não o identifica, devido as suas manifestações sutis (“mas sempre existem os empurrões, os insultos, algumas mentiras” – Professor 3, 49 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 10/08/2015). Nem todos os professores têm habilidades de entender, reconhecer e atuar diante da realidade do bullying, mesmo em tempo em que a sociedade também amplia a discussão sobre tal fenô-meno. Há discursos bem elaborados que explicam a ocorrência do bullying, considerando o lugar e a condição social do aluno e suas relações hierárquicas.

A escola onde exerço minha profissão encontra-se em uma área denominada pela sociedade “peri-feria”. É comum os alunos que possuem uma condição financeira melhor, se considerar algo mais valioso que o colega que é mais humilde (Professora 5, 24 anos, Escola C, entrevista concedida no dia16/08/2015).

Cenas de violência e hostilidade permeiam o ambiente escolar, mas, na maioria das vezes, essa violência é vista como brincadeira (GONTIJO E SABOIA, 2008). Essa violência, que não está restrita a nenhum tipo de instituição escolar, estimula a delinquência e induz a outras formas de violência, formando cidadãos com baixa autoestima, dificuldade de auto aceitação e interfere no processo de aprendizagem. Sendo assim, o bullying pode ser caracte-rizado como um problema social e que afeta a comunidade escolar de forma ampla, e onde

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é preciso que os professores e a direção da escola busquem alternativas para a organização do trabalho pedagógico que minimizem essa prática. No entanto, Santos (2007) argumenta que o professor, sem se dar conta, pode gerar casos de bullying nas suas aulas pela maneira em que se remete ao aluno. Quando o professor se refere ao aluno tratando-o como símbolo de incompetência escolar ou quando sacode uma prova, com baixa nota, pelas pontas dos dedos, perguntando pelo seu autor, este está submetendo esse aluno a ser mais uma vítima do

bullying. Professores que costumam fazer zombarias a respeito da capacidade intelectual do

aluno é um exemplo de bullying; e outras crianças, ao verem esta atitude no professor, poderão pensar que humilhar é uma atitude normal de relacionamento.

Muitas vezes, essa prática passa despercebida por se tratar de uma violência simbólica que acontece de forma sutil: o bullying submerso. As pessoas recorrem a essa violência utilizando-se de palavras que machucam, excluem e destroem psicologicamente o outro (GONTIJO; GABOIA, 2008). Os professores pesquisados em Manaus têm se deparado com situações de apelidos depreciativos entre seus alunos, e tomado certas providências a partir do diálogo: “sempre converso com eles para evi-tarem esse tipo de brincadeiras, ao mesmo tempo informando o que pode causar” (Professor 3, 49 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 10/07/2015). Levá-lo a uma autorreflexão sobre a sua condição de agressor, no sentido de colocá-lo no lugar da vítima, atendendo o princípio “então não faça aquilo que você não gostaria que fizesse com você” (Professora 1, 53 anos, Escola A, entrevista concedida no dia 03/07/2015). Outros professores também têm apostado no mecanismo do diálogo e percebido sua eficácia.

Acredito que o diálogo é a melhor forma para lidar com as situações de bullying. Muitas vezes puni-ções severas são dadas aos alunos, mas ainda acredito no diálogo como uma importante ferramenta (Professora 5, 24 anos, Escola C, entrevista concedida no dia 16/07/2015).

Minha primeira atitude foi parar a aula e conversar com as alunas sobre a situação. Escutei o que tinham pra falar e pedi que repensassem sobre o comportamento que tiveram. As alunas, agressora e vítima, continuaram a aula fazendo parte do mesmo grupo. Até o final da aula não tivemos proble-mas. Porém, encaminhei as alunas à pedagoga da escola, comunicando o fato (Professora 5, 24 anos, Escola C, entrevista concedida no dia 16/07/2015).

Fazendo uma relação entre apelidos depreciativos e suas influências no desempenho escolar, os professores de Educação Física acreditam que há prejuízos de aprendizagem dos alunos, inclusive em termos “psicológicos” (Professor 2, 29 anos, Escola A, entrevista conce-dida no dia 07/07/2015); esses prejuízos se revelam nas “dificuldades de relacionamentos” e de enfrentamento da “realidade de perto” por parte dos alunos (Professor 1, 53 anos, Escola A, entrevista concedida no dia 03/07/2015), “principalmente quando o agressor deprecia a imagem física do colega, pois a vítima interioriza essa violência, o que causa comportamento antissocial” (Professora 5, 24 anos, Escola C, entrevista concedida no dia 16/07/2015).

O bullying tem causado também prejuízos emocionais e sofrimento por parte dos alunos vitimados, pois esses alunos são submetidos ao isolamento social, consequentemente apresentando “doenças psicossomáticas” e “que podem até chegar a suicídio” (Professor 2, 29 anos, escola A, entrevista concedida no dia 07/07/2015). O discurso dos professores entrevistados apresenta as características de um indivíduo que sofreu essa violência: “sofrem em silêncio; sente-se humilhado; seu aprendizado é prejudicado; sente-se triste; tem medo de ir à escola” (Professor 3, 49 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 09/07/2015); “aban-dono dos estudos, depressão, ou outras razões que a pessoa não suportaria” (Professor 4, 45 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 10/07/2015); afastamento do convívio social,

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rendimento escolar muitas vezes afetado, “o próprio comportamento muda o aluno, costuma ficar na defensiva na maioria das vezes” (Professora 5, 24 anos, Escola C, entrevista concedida no dia 16/07/2015).

O desconhecimento com relação ao fenômeno faz com que muitos educadores adotem a postura de autores de bullying, dentro da sala de aula, pois tal postura reforça o comportamento negativo, dando origem a problemas como agressão verbal, imposição de autoridade, intimidação, que acabam prejudicando ainda mais o bom desenvolvimento social e a escola; por se tratar de um local que recebe indivíduos de várias idades, culturas e valores, acaba contribuindo para o surgimento de conflitos, anseios, busca de autoafirmação.

Os professores conseguem identificar os alunos que são vítimas de bullying e o bully, mas muitos deles não se sentem capacitados para intervir nessas situações de violência. Os professores analisam o comportamento agressivo de seus alunos a partir de alguns critérios: as diferenças sociais provocam relações desiguais, competição entre as pessoas, como por exem-plo, as “brigas por namorados” (Professora 1, 53 anos, Escola A, entrevista concedida no dia 03/07/2015); quando o conhecimento do professor está baseado nas referências que os alunos fazem de seus colegas, levando-o a fazer o seu diagnóstico: “O professor quando convive com os alunos, certamente tem referência de cada um, com isso fica mais fácil saber quem são os alunos agressivos e outros” (Professor 3, 49 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 09/07/2015); observando características da personalidade do seu aluno, e aquilo que é mais preponderante em seu comportamento no cotidiano escolar. Segundo a Professora 5, o aluno tímido e extroverti-do, possui características potenciais para se envolverem em situações de agressão:

É muito comum que os alunos “sofredores” de bullying, geralmente sejam aqueles que têm uma característica peculiar em sua personalidade, como exemplo dessa característica destaca-se a timidez. Já o aluno mais “extrovertido”, na maioria das vezes, carrega consigo pontos chaves, que o tornaria um possível agressor (Professora 5, 24 anos, Escola C, entrevista concedida no dia 16/07/2015).

O profissional de Educação Física precisa estar vigilante às resistências dos alunos que não praticam as atividades em aula, amedrontados ou com receios sobre o que vai ser pro-posto e reclamações de problemas de sono. Em momentos mais complicados aparecem dores de cabeça e estômago, sempre nos dias de aula (SOUZA et al., 2010 apud JESUS, 2011, p. 112). Gontijo e Saboia (2008) argumentam que esses aspectos se defrontam com os objetivos que permeiam o trabalho escolar: formar integralmente o ser humano, trabalhando a critici-dade, de forma que possam atuar de maneira efetiva na sociedade na qual está inserido. Cabe a escola promover aos alunos uma vivência social aberta às experiências e ao aprimoramento das relações entre eles.

O professor que critica constantemente o seu aluno, o comparando com outros, o ignorando, está expondo esse aluno a se tornar mais uma possível vítima do bullying e, de certa forma, está agindo com desrespeito ao espaço pedagógico. Souza (2007) revela ainda que não se pode responsabilizar o professor por toda ocorrência de bullying em sala de aula; no entanto, atitudes desrespeitosas do professor para com o aluno podem gerar chances para que estes cometam bullying.

As tentativas de se trabalhar com as diferenças é outro encaminhamento proposto na fala dos entrevistados, onde é necessário que o professor respeite seus alunos e possa criar “sempre um momento agradável” (Professor 4, 45 anos, Escola B, entrevista concedida no dia 10/07/2015). Outras atitudes intuitivas aparecem na postura do professor, a qual reflete a sua

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dificuldade em dialogar com as situações de bullying: “Não sei como contornar tal situação, mas sempre levei as coisas na esportiva. Meus alunos sempre me respeitaram sem mostrar tan-ta autoridade e sim companheirismo” (Professor 4, 45 anos, Escola B, entrevistan-ta concedida no dia 10/07/2015).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

No debate acerca das posturas que devem ser tomadas diante de situações de vio-lência, particularmente nas ocorrências de bullying, o professor que pretende desencadear um processo de conscientização e de diminuição deste tipo de violência, precisa encontrar outros métodos relativos à sua atuação profissional e pessoal para alcançar uma melhor base social, buscando novas reflexões.

Algumas atitudes dos professores podem colaborar para a implantação de um pro-grama de combate ao bullying, como, por exemplo, não criticando publicamente os alunos que costumam tirar as notas mais baixas ou que são psicologicamente mais frágeis, pois es-sas atitudes tendem a gerar manifestações de zombarias. Ao sentir que pode contar com o apoio dos educadores e demais envolvidos no processo educativo, as vítimas e testemunhas de bullying são beneficiadas.

Tratar de assuntos como ética nas aulas de Educação Física, pode acarretar fatores positivos na prevenção do bullying, pois levantando pontos importantes onde se preza a edu-cação, o respeito mútuo, convívio escolar, a justiça e solidariedade, valores que podem ser praticados dentro do contexto, ressaltando autonomia para os próprios participantes. Além desses valores éticos, adotados como referência de conduta e relacionamento, é preciso tornar esses processos reais e trabalhá-los e aperfeiçoá-los nas práticas da cultura corporal.

VIOLENCE AND AREA SCHOOL: A STUDY ABOUT THE BULLYING OF DEMONSTRATIONS IN MANAUS CITY

Abstract: violence is one of the major symptoms of the crisis in society; it democratizes the daily lives of human relations, reaching the most varied social spaces. Our interest in this scientific com-munication is to understand the manifestations of violence at school, verticalization expressions of bullying in relations between the students of physical education in state schools in the city of Manaus. It also aimed to give intelligibility to the kind of approach and attitude that physical education teachers give before the occurrence of such violence. Privileging a qualitative approach, this research proposes a foray into literature on that subject; conducted a participant observation and interview. Schools of Manaus have been the scene of several expressions of bullying, especially in physical education classes; despite being submerged, their occurrences have visualized certain effects. On the other hand, the surveyed teachers can identify the size of the problem but can not provide a satisfactory and plausible response that contributes to the culture of peace.

Keywords: Bullying. School Violence. Physical education. Referências

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