• Nenhum resultado encontrado

Educação de jovens e adultos e o ensino de ciências: ações da extensão universitária

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Educação de jovens e adultos e o ensino de ciências: ações da extensão universitária"

Copied!
11
0
0

Texto

(1)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

281

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS E O ENSINO DE

CIÊNCIAS: AÇÕES DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

YOUTH AND ADULT EDUCATION AND SCIENCE

TEACHING: UNIVERSITY EXTENSION ACTIONS

EDUCACIÓN Y ENSEÑANZA DE CIENCIAS PARA JÓVENES

Y ADULTOS: ACCIONES DE EXTENSIÓN UNIVERSITARIA

Andreia Amaral Andrade1

Jeane Cristina Gomes Rotta2

Resumo: A Educação de Jovens e Adultos é uma modalidade de ensino que oferece oportunidade àqueles que não tiveram acesso ou não concluíram os estudos da educação básica na idade própria. O objetivo dessa pesquisa foi identificar as contribuições de um projeto de extensão universitária para estudantes da EJA. A abordagem foi qualitativa e os instrumentos de pesquisa foram um questionário e uma carta. Os resultados foram categorizados e indicaram que além de contribuir com a realização dos sonhos de concluírem a educação básica, o projeto tem possibilitado a aprendizagem dos conteúdos de Ciências para além da sala de aula.

Palavras-chave: Educação de jovens e adultos. Extensão Universitária. Ensino de Ciências.

Abstract: Youth and Adult Education is a teaching modality that offers opportunities to those who have not had

access to or have not completed basic education studies at their own age. The objective of this research was to identify the contributions of a university extension project for students of EJA. The approach was qualitative and the research instruments were a questionnaire and a letter. The results were categorized and indicated that in addition to contributing to the realization of dreams of completing basic education, the project has enabled the learning of Science content beyond the classroom.

Keywords: Youth and adult education. University Extension. Science teaching.

Resumen: La Educación de Jóvenes y Adultos es una modalidad de enseñanza que ofrece oportunidades a quienes

no han tenido acceso o no han completado estudios de educación básica a su edad.El objetivo de esta investigación fue identificar los aportes de un proyecto de extensión universitaria para estudiantes de EJA. El abordaje fue cualitativo y los instrumentos de investigación fueron un cuestionario y una carta. Los resultados fueron categorizados e indicaron que además de contribuir al cumplimiento de los sueños de completar la educación básica, el proyecto ha permitido el aprendizaje de contenidos de Ciencias más allá del aula.

Palabras-clave: Educación de jóvenes y adultos.Extensión Universitaria. Enseñanza de la ciencia.

Submetido 12/07/2020 Revisão 12/07/2020 Aceite 25/09/2020

1 Licencianda em Ciências Naturais da Universidade de Brasília, Faculdade UnB de Planaltina. E-mail:

andreiaamaral.andrade@gmail.com. Orcid: https://orcid.org/0000-0001-6880-4273.

2 Professora Associada da Universidade de Brasília da Faculdade UnB de Planaltina. E-mail:

(2)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

282

Introdução

Muitos alunos, frequentemente, evadem do sistema escolar por motivos econômicos, sociais e culturais. Estes fatores interferem no desenvolvimento, continuidade e conclusão da educação básica de muitos estudantes (Montenegro, 2016).

Perante este cenário, a Educação de Jovens e Adultos (EJA) é uma necessidade no ensino brasileiro. Esta modalidade de ensino oferece oportunidade de estudos para aqueles indivíduos que não concluíram ou não tiveram acesso ao ensino fundamental ou médio na idade própria (Montenegro, 2016). Mesmo pautada pelas Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Brasil, 1996) e se tornando responsabilidade do Estado, o direito pela educação dos jovens e adultos tem sua história marcada por desafios da inclusão e alfabetização destes indivíduos.

A relação entre a EJA e o Ensino de Ciências, ainda é pouco investigada e existe pouco material que possa orientar o professor de Ciências Naturais sobre como atuar nesta modalidade de ensino (Schumacher; Heckler, 2017). Além disso, Vilanova e Martins (2008) discutem que houve um distanciamento, nos anos de 1950, dos objetivos do Ensino de Ciências e da EJA que se perpetuam até hoje. Pois, naquele momento, os pressupostos para a educação de jovens e adultos estavam voltados para reverter o analfabetismo e proporcionar mão-de-obra mais qualificada para o mercado de trabalho. Enquanto, o Ensino de Ciências era propedêutico e visava formar a elite brasileira.

Nesse contexto, projetos de extensão universitária que proporcionam contribuições para a solução de problemas sociais, podem desenvolver ações em conjunto com a comunidade, favorecendo a construção de caminhos para o encontro dos conhecimentos acadêmicos e com os adquiridos do cotidiano (Vilela et al., 2016).

Em um curso de licenciatura, a extensão tem um papel importante, pois pode contribuir para um ensino mais contextualizado, proporcionando aos licenciandos o contato com a comunidade. Bem como, a possibilidade de criar situações de ensino-aprendizagem adequadas às suas necessidades educacionais das instituições de ensino nas quais está atuando (Farias, 2020).

Na Faculdade UnB de Planaltina (FUP), o projeto de extensão “Educação de jovens e adultos na Universidade” teve seu início em 2017 e em parceria com Regional de Ensino de

(3)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

283

Planaltina oferece aulas para estudantes da EJA. Portanto, a presente pesquisa é resultado de

um Trabalho de Conclusão de Curso de graduação, que teve como objetivo analisar as contribuições de um projeto de extensão para na formação dos estudantes da EJA.

A Educação de Jovens e Adultos no Brasil

Conhecer o histórico da EJA é importante para fomentar o debate em busca de superação de equívocos ideológicos do passado e propor aprendizagens que sejam capazes de promover a transformação da realidade social destes estudantes, que em sua maioria são também trabalhadores. Ao longo da história esta foi sendo estruturada e adaptada a realidade da sociedade, em busca de tentar suprir a escolarização não ocorrida na idade regulamentar. No Brasil, a educação de jovens e adultos remonta aos primórdios do Brasil colonial, com a chegada dos jesuítas. Neste período a educação para jovens e adultos tinha um perfil doutrinador e privilegiava o ensino da Língua Portuguesa, da doutrina católica e dos costumes europeus (Montenegro, 2016).

Em 1876, o Império assumiu a educação brasileira que estava em crise desde a saída dos jesuítas. Apesar da Constituição de 1824 considerar que todo o cidadão deveria ter acesso à educação primária, isto não se efetivou. O ensino era apenas para formar as elites dirigentes e garantir a sua sustentação no poder. A discriminação com as classes menos favorecidas ficou ainda mais proeminente em 1882, com a Lei Saraiva que proibiu o voto dos analfabetos, ou seja, da maioria da população daquele período (Montenegro, 2016).

Com o início da República houve uma preocupação com a grande quantidade de analfabetos. No entanto, esta foi motivada principalmente por questões políticas que visavam propiciar a liberação do voto desta parcela da população. Neste sentido, houve uma crescente preocupação com relação a educação de jovens e adultos, voltada principalmente para a aprendizagem da leitura e escrita (Montenegro, 2016).

Com a criação do Plano Nacional de Educação em 1934, previsto na Constituição Federal de 1934, a educação passou a ser gratuita e obrigatória e pela primeira vez na história da educação brasileira a EJA foi considerada. Neste contexto, o Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) criou em 1942 o Fundo Nacional do Ensino Primário que tinha como função inserir e ampliar o Ensino Supletivo para jovens e adultos (Strelhow, 2010).

(4)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

284

jovens e adultos pelos organismos internacionais. A UNESCO participou ativamente neste

contexto e no Brasil uma série de campanhas foram criadas por vários governos que, no entanto, não lograram êxito.

Entre essas campanhas, podemos destacar: Campanha Nacional de Erradicação do Analfabetismo (1958, Governo Juscelino Kubitschek); Movimento de Educação de Base (1961, Confederação Nacional de Bispos do Brasil – CNBB); Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL – Governos Militares); Fundação Nacional de Educação de Jovens e Adultos – Educar (1985, Governo José Sarney) ; Programa Nacional de Alfabetização e Cidadania – PNAC (1990, Governo Fernando Collor de Mello); Declaração Mundial de Educação para Todos (1993, assinada pelo Brasil em Jomtien, Tailândia); Plano Decenal de Educação para Todos (1993, Governo Itamar Franco); Programa Alfabetização Solidária (1997, Governo Fernando Henrique Cardoso) (COSTA, 2009, p. 67).

De acordo com Costa (2009), o Programa Nacional de Alfabetização, inspirado no método Paulo Freire no ano de 1964, durante o Governo de João Goulart merece destaque. Isto devido a sua perspectiva de prática embasada na dialética educador-educando, buscando uma educação libertadora, em contraponto a educação “bancaria”.

A partir da LDB de 1996 a educação de jovens e adultos deixa de ser um Ensino Supletivo e se configura como uma modalidade de Ensino. A partir deste contexto, também foram estabelecidas as Diretrizes Curriculares Nacionais para a EJA (Montenegro, 2016). Atualmente, o Plano Nacional de Educação (Brasil, 2015) apresenta 20 metas e a nona aborda sobre a necessidade de aumentar a taxa de alfabetização e reduzir o número de analfabetos funcionais. Entretanto, apesar de todos os programas desenvolvidos ao longo destes anos, de acordo com o IBGE, o Brasil possui aproximadamente 11,3 milhões de analfabetos (IBGE, 2019).

A extensão universitária e a formação de jovens e adultos

As discussões sobre o papel social da universidade têm sido frequentemente debatidas. Segundo Vilela et al. (2016), esta tem uma importante responsabilidade social e precisa promover ações que possibilite o ensino colaborativo entre diferentes comunidades, posto que a educação é um componente fundamental na formação de um País.

A EJA vivencia problemas como: discriminação, falta de oportunidade, desemprego, entre outros. Essas questões estão relacionadas com a ausência ou a baixa, escolaridade dos

(5)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

285

estudantes e isto contribui para um distanciamento desses indivíduos da sociedade. Nesse

contexto, a universidade pode proporcionar, através da formação docente, projetos que permitam essa integração de saberes junto à comunidade, no intuito de valorizar e aproximar aqueles que, de alguma forma, não estão inseridos no universo acadêmico (Fonseca et al., 2000; Vilela et al., 2016).

Portanto, a extensão universitária pode ser um espaço para o desenvolvimento de propostas que minimizem estas dificuldades. Projetos que articulam as atividades investigativas em ensino de ciências, tem contribuído para a formação de licenciandos de Ciências Naturais, professores e alunos da educação básica (Farias, 2020).

Neste contexto, o projeto de extensão universitária “Educação de Jovens e Adultos na Universidade” coordenado pelo professor Dijby Mané e pela mestra Tállyta Abrantes, ambos do curso de licenciatura em Educação do Campo (LEDOC) da FUP, busca desenvolver uma aproximação da universidade com a comunidade, promovendo uma articulação entre a universidade e a escola. Professores de diferentes áreas do conhecimento e estudantes de diferentes cursos de graduação da FUP compõem a equipe deste projeto que oferecem aulas para estudantes da EJA.

O projeto proporciona atividades para a formação de jovens e adultos, bem como, dos funcionários terceirizados da FUP. Buscando, oferecer a estes indivíduos uma oportunidade para voltarem a estudar e inserindo-os em práticas que promovem o aprendizado em seu próprio local de trabalho.

Metodologia.

A pesquisa em questão teve uma abordagem qualitativa que proporciona ao pesquisador um olhar para o significado que os participantes da pesquisa atribuem às coisas e à vida. Assim como, a análise de dados deve seguir um processo indutivo, não se preocupando com hipóteses definidas antes do início da pesquisa, permitindo que as concepções se formem a partir da análise dos dados do processo (Lüdke; André, 2011).

As participantes desta pesquisa foram seis estudantes que cursavam as atividades desenvolvidas pelo projeto de extensão a mais de seis meses. O Projeto ocorre no campus da Faculdade UnB de Planaltina (FUP) que está situada em uma região administrativa do Distrito Federal e foi inaugurada no dia 16 de maio de 2006, resultante do Plano Básico de Expansão

(6)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

286

da Universidade de Brasília (UnB).

Os dados foram obtidos a partir de um questionário com 4 questões e uma carta escrita pelas participantes. Ambos os instrumentos de pesquisas visaram abordar a importância desse projeto para a formação em ciências das participantes. As aulas de ciências foram ministradas por licenciandos do curso de Ciências Naturais da (FUP) que foram professores voluntários do projeto.

As respostas foram categorizadas e de acordo com Lüdke e André (2011), onde inicialmente é realizada uma leitura para relacionar as partes e identificar tendências e padrões relevantes. Posteriormente, é preciso reavaliar os padrões e tendências estabelecidos, buscando elevar o nível de abstração das relações.

Resultados e discussões

A primeira questão buscou identificar qual a importância do projeto “Educação de Jovens e Adultos na Universidade” para as participantes e observamos duas categorias de resposta. A primeira foi categorizada como realização de sonhos e esteve presente nas respostas de todas as participantes, pois para elas o projeto tem auxiliado na realização do sonho de concluir os estudos. A segunda, relatada por três participantes, foi a ampliação de seus conhecidos sobre Ciências. Nos seus relatos, as participantes expressaram a surpresa em descobrirem que tudo está relacionado com a Ciência e de uma maneira tão simples, mas que, antes, não era percebida.

“O projeto EJA tem sido uma grande oportunidade, porque agora eu vou concluir os meus estudos e isso é muito importante para mim.” (Participante 03)

“Nossa, esse projeto abriu uma porta na minha vida, é a realização de um sonho concluir os meus estudos.” (Participante 05)

“Agora eu sei que a ciência está ligada com tudo. Antes eu achava muito chato, mas agora até quando eu vou lavar a louça que eu tiro o óleo das coisas com o sabão, eu fico pensando: isso é ciência.”(Participante 06)

A partir dessas respostas, observamos que as estudantes perceberam a importância do projeto para realização de seus sonhos. De acordo com Vilela et al., (2016), a universidade, a partir de ações desenvolvidas no âmbito da extensão, pode contribuir para democratizar o acesso aos conhecimentos. Possibilitando também a reflexão coletiva de problemas que são

(7)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

287

pertinentes das próprias condições sociais de vida.

Neste sentido, projeto em questão contempla um ensino de Ciências que não é conteudista e enfatiza uma visão interdisciplinar que considera as aproximações do conteúdo científico com o mundo real. Os contextos vivenciados pelos estudantes são respeitados e considerados como objeto de ensino, buscando proporcionar uma aprendizagem mais adequada para os educandos, possibilitando que a aprendizagem possa ir além da sala de aula.

Portanto, a ampliação do entendimento das ciências presentes em nosso cotidiano, está em consonância com a discussão de propiciar um ensino de ciências mais integrado e menos voltado para elites, como ainda é presente em muitas práticas educativas brasileiras (Vilanova; Martins, 2008).

Quando questionadas sobre as dificuldades que enfrentavam para participarem do projeto, duas estudantes relataram não ter dificuldade nenhuma e para quatro delas a dificuldade está relacionada à distância para chegarem a FUP.

“Não tenho nenhuma dificuldade para vir. Às vezes saio cansada do trabalho, mas quando chego aqui eu me distraio e o tempo passa rápido.” (Participante 02)

São várias as dificuldades encontradas pelos estudantes da EJA para frequentarem as aulas. Fonseca et al., (2000) destacam, entre elas, a desmotivação frente a metodologia utilizada pelos professores para desenvolverem os conteúdos nas aulas. Pois, estes não possuem, muitas vezes, relação com a vida destes sujeitos que acabam não vendo suas expectativas atendidas pela escola.

Entretanto, as participantes desta pesquisa demonstraram dificuldades diferentes destas. Foi possível perceber, a partir de suas respostas que o projeto tem contribuído com o desenvolvimento de suas aprendizagens e que suas expectativas em relação aos conteúdos ciências estavam sendo atendidas.

Ao serem questionados quanto às melhorias necessárias para o projeto, todas as participantes salientaram a necessidade de um espaço físico permanente para a realização das aulas, visto que as aulas acontecem em salas provisórias. Outro fator que ressaltaram, foi a necessidade do projeto ser mais divulgado para a comunidade ao redor da FUP, pois inúmeras vezes, estes indivíduos tem a visão da universidade ser inacessível para eles.

(8)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

288

“Eu via a UnB como uma faculdade só para ricos, depois eu fui vendo que é uma grande e boa oportunidade, pois os cursos e projetos que ela oferece ajudam a comunidade e quem quer estudar.” (Participante 04)

Neste sentido, percebemos que extensão universitária consegue estabelecer esta troca de conhecimentos com a comunidade, além de valorizar e aproximar aqueles que, de alguma forma, não se veem inseridos no universo acadêmico (Vilela et al., 2016).

O último questionamento, buscou conhecer se as participantes consideravam os conteúdos das aulas de Ciências contextualizados. Neste sentido, foi possível notar que todas as estudantes que participam do projeto, consideraram que os conteúdos são ensinados com uma abordagem interdisciplinar, pois as professoras sempre buscam exemplos de coisas que elas já conhecem. Além disso, relataram que as licenciandas que atuam como professoras no projeto, conseguem proporcionar um ambiente prazeroso durante as aulas, o que tem proporcionado uma maior facilidade para a aprendizagem de ciências.

“As professoras fazem coisas simples para ensinar ciências que nem quando elas ensinaram a fazer sabão eu aprendi muito e também me ajudaram até a entender coisas sobre o meu corpo e cuidados com a minha saúde.” (E01)

“Nas aulas as professoras procuram dar exemplos de coisas que a gente conhece, porque é muito difícil quando a gente ouve falar de uma coisa que a gente nunca viu e não tem nada pra gente comparar. Que nem quando a gente estudou sobre energia e a Cléia deu o exemplo de antigamente que a gente usava lamparina.” (E03)

Neste contexto, observamos a necessidade de uma maior atenção pelos professores na realização de aulas que não foquem em um ensino conteudista e fragmentado e que promovam uma visão crítica das ciências e da sociedade. Schumacher e Heckler (2017) compreendem que o professor que atua na EJA, precisa desenvolver aulas de Ciências com metodologias e recursos didáticos diversificados e que sejam atreladas ao contexto social deste aluno.

As cartas elaboradas pelas participantes apresentaram um conteúdo que indicou como categoria principal a demonstração de carinho e gratidão pela oportunidade de estarem participando deste projeto que possibilitou a elas a oportunidade de realizarem o sonho de concluírem seus estudos.

“Agradeço demais a esses colaboradores por tornar possível concluir o ensino médio sinto-me uma pessoa mais informada, estou aprendendo muito mesmo com pouco tempo que tenho para estudar, as aulas são muito proveitosas.” (Participante 01)

(9)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

289

“Para mim foi muito bom porque estou realizando o que mais tinha vontade, terminar meus estudos.”(Participante 03)

“Tenho muito que agradecer a estes tão jovens professores por toda essa dedicação e paciência não é fácil, não é fácil ensinar a quem ficou muito tempo longe da escola.” (Participante 04)

A segunda categoria identificada nas cartas foi a possibilidade de aprendizagem. As estudantes que participaram desta pesquisa são trabalhadoras que também realizam todas as tarefas domesticas e com idades entre 30 e 63 anos. Em suas cartas notamos o quanto consideram a aprendizagem importante para suas vidas. Proporcionando uma sensação de empoderamento social.

“Espero ter esta disposição para prosseguir e buscar algo a mais para fortalecer meu aprendizado e meu conhecimento.”(Participante 01)

“Eu gosto muito da EJA porque cada momento que passa estamos aprendendo novidades, temos a chance de expressar e debater com os professores essa liberdade de expressão, faz com que a gente aprenda mais e sempre querer vir no outro dia.” (Participante 02)

“Sou uma aluna, participo deste projeto me sinto muito feliz e quase realizada, porque ainda não aprendi o suficiente mas vou chegar lá tenho 63 anos mas nunca desistir de estudar, tenho muito que aprender...” (Participante 04)

De acordo Strelhow (2010, p. 56) há inúmeros movimentos, campanhas, projetos, programas que visam ir além do ensinar dos códigos de linguagem e buscam dar um significado “a existência do indivíduo na sociedade através do empoderamento através do conhecimento.” Portanto, precisamos ponderar sobre o perfil de sujeitos que queremos formar. Se pretendemos que os estudantes da EJA sejam capazes de refletirem e se posicionarem criticamente em suas vidas é preciso que estas condições sejam criadas durante suas aulas.

Considerações finais

A contribuição do projeto de extensão “Educação de Jovens e Adultos na Universidade” na formação das participantes desta pesquisa ficou explícita a partir das análises do questionário e das cartas. Notamos que as estudantes percebiam a universidade como elitista e distante da sociedade, anteriormente a participação destas no projeto. Entretanto, o sentimento de pertencimento à instituição, foi posteriormente adquirido, assim como a mudança de opinião a respeito do papel da universidade na sociedade.

(10)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

290

De acordo com as participantes do projeto, este foi importante, principalmente, por

proporcionar a conclusão de seus estudos. Em relação ao ensino de ciências, consideram que tiveram a oportunidade de aprender de maneira prazerosa, sem as cobranças impostas pelo modelo tradicional de ensino. Além de conseguirem relacionar os conteúdos estudados com o cotidiano e terem uma compreensão ampliada do contexto em que vivem.

Este projeto foi também uma oportunidade de aprendizagem para os licenciandos voluntários que atuaram como professores. Pois, apesar do curso de licenciatura destes estudantes oferecer uma disciplina de Estagio Supervisiona que possibilita a atuação na EJA é sempre importante que mais ambientes disponibilizem oportunidades de debates e reflexões sobre o perfil adequado para o ensino de Ciências na EJA.

A educação é um direito essencial e inerente ao ser humano e insubstituível na vida dos mesmos, sendo ela responsável por promover mudanças por diversas áreas de sua vida. Portanto, acreditamos que para a melhoria na educação em todos os níveis e modalidades são necessárias ações de inclusão social e neste contexto, o projeto em questão tem desenvolvido esta perspectiva de acordo com as participantes desta pesquisa.

Referências

BRASIL. Governo Federal. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei n. 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: 1996.

______. Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Plano Nacional de Educação PNE 2014-2024: Linha de Base. – Brasília, DF: Inep, 2015.

COSTA, A. C. M. Educação de jovens e adultos no Brasil: novos programas, velhos problemas. Cadernos de Pesquisa – Pensamento Educacional, Curitiba, PR, v. 4, n. 8, p. 64-82, maio/ago. 2009. FARIAS, A. de F. A formação de professores de ciências naturais e as contribuições de um projeto de extensão universitária. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências da Universidade de Brasília, Brasília, 2020.

FONSECA, M. da C. F. R.; PEREIRA, J. E. D.; JANNES, C. E. SILVA, L. P. da. O significado de um projeto de extensão universitária na formação inicial de educadores de jovens e adultos. In:

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE PÓS-GRADUAÇÃO E PESQUISA EM EDUCAÇÃO, 23, 2000, Caxambu.Anais eletrônico [...] Rio de Janeiro: Anped, 2000. Disponível em:

http://23reuniao.anped.org.br/textos/1808t.PDF. Acesso em 03 de ago. 2019.

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua. Rio de Janeiro: IBGE, 2019.

(11)

Rev. Bras. de Iniciação Científica (RBIC), Itapetininga, v. 7, n.5, p. 281-291, out./dez., 2020.

291

LÜDKE, M.; ANDRÉ, M. E. D. A. Pesquisa em Educação: Abordagens Qualitativas. São Paulo:

Editora Pedagógica e Universitária, 13° edição, 2011.

MONTENEGRO, D. S. Formação Inicial de Professores de Ciências (Química e Física) para a Educação de Jovens e Adultos e o Silenciamento dos Cursos Formadores. Dissertação do Programa de Pós-Graduação em Ensino de Ciências e Matemática da Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2016.

SCHUMACHER, A. D.; HECKLER, D. O papel do professor no ensino de ciências em turmas de EJA. Trabalho de Conclusão de Curso de Licenciatura em Ciências da Universidade Federal do Rio Grande, Cachoeira do Sul, 2017.

STRELHOW, T. B. Breve história sobre a educação de jovens e adultos no Brasil. Revista HISTEDBR On-line, Campinas, SP, n. 38, p. 49-59, jun. 2010.

VILANOVA, R.; MARTINS, I. Educação em ciências e educação de jovens e adultos: pela

necessidade do diálogo entre campos e práticas. Ciência & Educação, Bauru, SP, v. 14, n. 2, p. 331-346, maio/ago. 2008.

VILELA. D. de A.; SOUZA, A. L. R.; VILELA, I. P. de A.; FERREIRA, J. A.; VILELA, M. P. de A.; ASSIS, R. M. de. Contribuições da extensão universitária para o resgaste da cidadania. In: SEMANA DE LICENCIATURA, 13, 2016, Jataí. Anais eletrônico [...] Jataí: Instituto Federal de Goiás, 2016. Disponível em: http://revistas.ifg.edu.br/semlic/article/view/538. Acesso em 10 de ago. 2019.

Referências

Documentos relacionados

En – Não foi fácil, porque a essa divulgação a gente teve que ir até a “Argos”, em Jundiaí, o curso foi lá, para fazer a divulgação de um em, porque senão as

Decomposição em fatores primos m.m.c. – determinação pela regra prática Problemas Números fracionários Leitura de frações Tipos de frações Frações equivalentes

Para tanto, a construção das Orientações Teórico-Metodológicas tomou como referência os documentos oficiais que norteiam os princípios da modalidade, tais como a Lei

A partir das diretrizes e orientações metodológicas apresentadas, no que se refere aos conteúdos, a educação de jovens e adultos deve atender aos preceitos curriculares referentes

16) Delia Lerner, em seu livro Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário, fala sobre as “dificuldades envolvidas na escolarização das práticas”.

Ainda em relação ao direito à educação escolar, é necessário não condicioná- la (sic) à necessidade de mercado, como função meramente voltada ao campo econômico.

A educação de jovens e adultos (EJA) no Brasil é marcada pela descontinuidade e por tênues políticas públicas, insuficientes para dar conta da demanda potencial e

A modalidade de ensino da matemática na EJA deve proporcionar ao aluno aprender de forma mais específica o conteúdo com materiais didáticos. Este deve ser estimulado