• Nenhum resultado encontrado

Metodologia de índices de ações: o caso brasileiro

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "Metodologia de índices de ações: o caso brasileiro"

Copied!
48
0
0

Texto

(1)

FUNDAC

¸ ˜

AO GET ´

ULIO VARGAS

ESCOLA DE P ´

OS-GRADUAC

¸ ˜

AO EM ECONOMIA

Metodologias de ´

Indices de A¸

oes: O Caso Brasileiro

Guido Maia da Cunha

Rio de Janeiro Mar¸co 2018

(2)

Guido Maia da Cunha

Metodologias de ´

Indices de A¸

oes: O Caso Brasileiro*

Disserta¸c˜ao submetida a Escola de P´ os-Gradua¸c˜ao em Economia como requisito parcial para obten¸c˜ao de grau de Mestre em Economia

Orientador: Felipe Iachan

Rio de Janeiro Mar¸co 2018

(3)

Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Mario Henrique Simonsen/FGV

Cunha, Guido Maia da

Metodologia de índices de ações: o caso brasileiro / Guido Maia da Cunha. – 2018.

46 f.

Dissertação (mestrado) - Fundação Getulio Vargas, Escola de Pós- Graduação em Economia.

Orientador: Felipe Iachan Inclui bibliografia.

1. Risco (Economia). 2. Ações (Finanças). 3. Mercado de capitais. I. Iachan, Felipe Saraiva. II. Fundação Getulio Vargas. Escola de Pós-Graduação em Economia. III. Título.

CDD – 332

(4)
(5)

Abstract

O objetivo dessa disserta¸c˜ao ´e avaliar os efeitos que certas metodologias usadas na constru¸c˜ao de ´ındices e portfolios tˆem sobre suas performances e como elas diferem entre si. Para isso, analisaremos o caso do ´ındice Ibovespa cuja metodologia foi alterada em 2014. Esse trabalho analisa os indicadores de performance dos principais ´ındices de a¸c˜oes brasileiros durante o per´ıodo que engloba os anos 2003 a 2013, incluindo tamb´em uma simula¸c˜ao para o que teria sido o Ibovespa caso as mudan¸cas implementadas em 2014 estivessem em vigor durante esse per´ıodo. Posteriormente, por meio de testes e regress˜oes, ´e feita uma tentativa de encontrar fatores que expliquem as diferen¸cas encontradas nos comportamentos dos ´ındices. Os principais resultados encontrados s˜ao que a metodologia antiga do Ibovespa ´e menos eficiente e gera performance inferior aos outros trˆes ´ındices avaliados, todos utilizando uma pondera¸c˜ao por market cap. Al´em disso, encontra-se evidˆencias de que per´ıodos de piores rendimentos relativos do Ibovespa coincidem com momentos de grande atividade no mercado acion´ario, indicando uma rela¸c˜ao positiva entre os diferenciais de retorno dos ´ındices e o n´ıvel de transa¸c˜oes realizadas no per´ıodo.

(6)

1

Introdu¸

ao

Os primeiros ´ındices de a¸c˜oes foram criados com o objetivo de permitir que investi-dores acompanhassem o desempenho das a¸c˜oes de determinados grupos de empresas, em uma ´epoca na qual as informa¸c˜oes sobre o mercado acion´ario n˜ao eram t˜ao abundantes como hoje. Com o passar dos anos, as pr´oprias bolsas de valores ou empresas ligadas a elas passaram a construir e divulgar ´ındices amplos, que visam refletir a performance agregada de todo mercado acion´ario em quest˜ao. Hoje, al´em do car´ater informativo sobre o desempenho agregado das a¸c˜oes contidas neles, os ´ındices s˜ao muito utilizados como instrumentos diretos de diversifica¸c˜ao de investimento e como benchmarks de compara¸c˜ao para as performances de outros portfolios.

Em teoria, os ´ındices amplos buscam capturar a performance do portfolio de mer-cado, no qual h´a diversifica¸c˜ao completa. Isto ´e, um bom ´ındice amplo de a¸c˜oes deve refletir os movimentos mais relevantes, sob o ponto de vista de um agente (investidor) representativo, dos ativos negociados em determinada bolsa de valores. Assim, um in-vestidor que reproduz um ´ındice amplo na constru¸c˜ao do seu portfolio tem por objetivo expor o seu investimento apenas a fatores de risco sistem´atico, ou seja, que n˜ao s˜ao inerentes apenas a uma classe ou conjunto de ativos.

Mas por que um investidor deveria querer reproduzir o portfolio de mercado e manter seu investimento exposto apenas a fatores de risco sistem´atico? Desde que Markowitz (1952) introduziu a chamada Modern Portfolio Theory, incorporando a an´alise do im-pacto de risco na teoria de sele¸c˜ao de portfolios, a discuss˜ao em torno do que seria o portfolio ´otimo pautou boa parte da literatura de finan¸cas. Nesse contexto, o Capital

Asset Pricing Model (CAPM), disseminado por Sharpe (1964), se tornou o principal

referencial te´orico tanto para modelos de asset pricing quanto para investidores inter-essados em otimizar a performance dos seus portfolios.

O CAPM prevˆe, entre outras coisas, que, em um mercado eficiente, a pondera¸c˜ao dos ativos em um portfolio ´e ´otima, em termos de m´edia-variˆancia, quando segue o crit´erio de market capitalization. Em outras palavras, nenhum outro portfolio ´e capaz de apresentar retornos esperados iguais ou superiores e variˆancia inferior aos

(7)

apresen-tados por um portfolio que reproduz exatamente o mercado de ativos, em termos de participa¸c˜ao de cada ativo nele. Devido a sua simplicidade, o CAPM acabou sendo amplamente difundido e, com isso, a pondera¸c˜ao por market cap se tornou a padr˜ao para diversos ´ındices de a¸c˜oes, usados como referenciais para os investidores. Apesar disso, o modelo passou a receber cr´ıticas em fun¸c˜ao de algumas de suas premissas -consideradas irrealistas - como a homogeneidade nas expectativa dos investidores e a possiblidade de venda a descoberto ilimitada.

Haugen and Baker (1991) argumentam que, exceto sob condi¸c˜oes muito restritivas, investimentos em portfolios ponderados por market cap s˜ao ineficientes. Segundo eles, ainda que os mercados sejam informacionalmente eficientes e que, em equil´ıbrio, os investidores otimizem racionalmente a rela¸c˜ao entre risco e retorno esperado, a pon-dera¸c˜ao por market cap n˜ao ´e eficiente caso: (1) investidores discordem com rela¸c˜ao ao risco e ao retorno esperado de algum ativo; ou (2) haja qualquer tipo de restri¸c˜ao com rela¸c˜ao a vendas a descoberto; ou (3) os retornos dos investimentos estejam sujeitos a qualquer tipo de taxa¸c˜ao; ou (4) alguma alternativa de investimento n˜ao seja inclu´ıda no portfolio; ou (5) investidores estrangeiros atuem no mercado local. Em qualquer um desses cen´arios, os autores argumentam que ser´a poss´ıvel encontrar um portfolio com o mesmo retorno esperado e com variˆancia menor.

Hsu (2006), por sua vez, afirma que a pondera¸c˜ao por market cap tamb´em n˜ao ´e ´

otima caso os pre¸cos dos ativos apresentem ru´ıdos e n˜ao reflitam completamente os fundamentos das empresas. Nesse caso, os ativos que est˜ao subvalorizados ter˜ao capi-taliza¸c˜ao inferior ao seu valor justo e, inversamente, os ativos que est˜ao sobrevalorizados ter˜ao capitaliza¸c˜ao superior ao que deveriam. Com isso, um portfolio ponderado por market cap tenderia a colocar mais peso em ativos sobrevalorizados e menos peso em ativos subvalorizados, o que resultaria em uma performance pior do que a de outros po-tenciais portfolios uma vez que os ru´ıdos dos pre¸cos sejam eliminados. Nesse contexto, Hsu argumenta em favor de metodologias alternativas1, n˜ao dependentes de pre¸cos de

ativos, como a melhor forma de evitar esse vi´es negativo apresentado pela pondera¸c˜ao por market cap.

Apesar das cr´ıticas, a pondera¸c˜ao por market cap continua sendo a metodologia mais utilizada pelo mercado de a¸c˜oes na elabora¸c˜ao de ´ındices que buscam refletir a perfor-mance geral dos mercados e atuar como benchmark para outros portfolios. Fatores

(8)

como a alta liquidez, a f´acil replica¸c˜ao e o baixo turnover dessa metodologia fazem com que ela permane¸ca sendo usada pela grande maioria dos mais importantes ´ındices de bolsas de valores do mundo, como o S&P 500 (EUA), FTSE-100 (Reino Unido), DAX-30 (Alemanha), CAC 40 (Fran¸ca), SSE 180 (China), KOSPI (Coreia do Sul), IPSA (Chile), ASX 200 (Austr´alia). Duas raras exce¸c˜oes s˜ao o Dow Jones (EUA) e o Nikkei 225 (Jap˜ao), que adotam o sistema de pondera¸c˜ao por pre¸co, o qual explicaremos mais detalhadamente na pr´oxima se¸c˜ao.

Apesar de o mercado de capitais brasileiro contar com dois ´ındices amplos pondera-dos por market cap - IBrX 100 e IBrX 50 -, at´e 2013, o Ibovespa, principal ´ındice de bolsa de valores do Brasil, tamb´em era uma exce¸c˜ao. Desde a sua cria¸c˜ao em 1968, o Ibovespa utilizava uma metodologia diferente das usadas pelo resto do mundo, ponderando as a¸c˜oes que o compunham por um ´ındice de negociabilidade ao inv´es de ponderar por market cap. Esse ´ındice de negociabilidade, estabelecido pela pr´opria BM&FBovespa, era uma fun¸c˜ao do volume e do n´umero de trocas geradas por cada a¸c˜ao. Esses crit´erios foram mantidos at´e 2013, quando a BM&FBovespa anunciou altera¸c˜oes na metodolo-gia do Ibovespa “tendo em vista, principalmente, o cen´ario econˆomico atual e visando mantˆe-lo como o ´ındice que representa, com mais exatid˜ao, o desempenho do mercado brasileiro”2. Dentre as v´arias modifica¸c˜oes realizadas, a mais relevante foi a mudan¸ca

do m´etodo de pondera¸c˜ao por ´ındice de negociabilidade para o m´etodo de pondera¸c˜ao por market cap.

Um dos principais objetivos dessas altera¸c˜oes foi eliminar poss´ıveis distor¸c˜oes geradas pelo fato de se vincular o peso de determinada a¸c˜ao no ´ındice ´unica e exclusivamente ao quanto ela est´a sendo negociada nos ´ultimos per´ıodos. Por essa metodologia, por exemplo, uma a¸c˜ao de uma empresa em processo de falˆencia e que gera uma corrida entre os investidores para se livrar daquele ativo pode adquirir importˆancia grande no ´ındice, mesmo se a empresa tiver tamanho insignificante ou se o pre¸co da a¸c˜ao estiver pr´oximo de zero. Nesse caso, o efeito negativo gerado por essa a¸c˜ao no ´ındice poderia ser muito maior do que o real efeito sobre o mercado acion´ario como um todo, que ´e exatamente o que um ´ındice amplo busca refletir. Como explicaremos mais detalhada-mente na pr´oxima se¸c˜ao, um caso semelhante a esse ocorreu, de fato, entre 2010 e 2013 com a empresa OGX e motivou boa parte das discuss˜oes que antecederam a mudan¸ca de metodologia anunciada pela BM&FBovespa em 2013.

2Fonte: “Hist´orico de Adequa¸oes Metodol´ogicas dos ´Indices da BM&FBovespa”, Junho de 2014.

(9)

Neste trabalho, come¸caremos expondo as mudan¸cas metodol´ogicas e suas principais motiva¸c˜oes. Em seguida, exploramos e testamos as diferen¸cas metodol´ogicas entre os ´ındices brasileiros com diferentes tipos de pondera¸c˜ao e tentamos avaliar a eficiˆencia de cada um deles, levando em conta v´arias janelas temporais. Al´em disso, analisaremos al-gumas poss´ıveis causas desses distanciamentos e se eles s˜ao, de alguma forma, poss´ıveis de prever.

2

Metodologia

dos

´

Indices

Amplos

da

BM&FBovespa

Apesar de ser apurado h´a muito tempo - desde janeiro de 1968 -, at´e 2013 o Ibovespa nunca havia sofrido nenhuma altera¸c˜ao metodol´ogica. Em setembro de 2013, a BM&FBovespa anunciou uma s´erie de altera¸c˜oes na metodologia do ´ındice, propostas por um grupo de trabalho criado com o objetivo de adequ´a-lo `as grandes evolu¸c˜oes recentes do mercado acion´ario brasileiro e manter seu car´ater de principal benchmark para investidores do pa´ıs.

A seguir, explicaremos os principais crit´erios adotados para a constru¸c˜ao dos ´ındices Ibovespa, antes e depois das mudan¸cas metodol´ogicas, IBrX 100 e IBrX 50.

2.1 Ibovespa pr´e-2014

2.1.1 Crit´erios de Inclus˜ao

1. Estar entre os ativos que representem, em conjunto, 80% do somat´orio total do

´Indice de Negociabilidade - descrito abaixo -, em ordem decrescente, no per´ıodo referente `as 3 carteiras anteriores.

(10)

3. Ter participa¸c˜ao, em termos de volume financeiro, maior ou igual a 0.1% no mer-cado `a vista, no per´ıodo referente `as 3 carteiras anteriores.

2.1.2 ´Indice de Negociabilidade IN = PP i=1 qη i η νi ν P

onde P ´e o n´umero de preg˜oes no per´ıodo, ηi ´e o n´umero de neg´ocios com o ativo i no

mercado `a vista, η ´e o n´umero de neg´ocios totais no mercado `a vista, νi ´e o volume

financeiro gerado pelos neg´ocios com o ativo i no mercado `a vista e ν ´e o volume finan-ceiro gerado pelos neg´ocios totais no mercado `a vista.

2.1.3 Crit´erios de Pondera¸c˜ao

1. ´Indice de Negociabilidade

ωi =

INi

PN80 i=1INi

onde ωi ´e o peso atribu´ıdo `a a¸c˜ao i, INi ´e o seu respectivo ´Indice de Negociabilidade e

N80 ´e a ´ultima a¸c˜ao, em ordem decrescente, a fazer parte do conjunto que representa

(11)

2.2 Ibovespa p´os-2014

2.2.1 Crit´erios de Inclus˜ao

1. Estar entre os ativos que representem, em conjunto, 85% do somat´orio total do ´Indice de Negociabilidade - descrito abaixo -, em ordem decrescente, no per´ıodo referente `as 3 carteiras anteriores.

2. Estar presente em 95% dos preg˜oes no per´ıodo referente `as 3 carteiras anteriores.

3. Ter participa¸c˜ao, em termos de volume financeiro, maior ou igual a 0.1% no

mer-cado `a vista, no per´ıodo referente `as 3 carteiras anteriores.

4. N˜ao ser classificado como “Penny Stock” (A¸c˜ao com valor inferior a R$ 1,00)

2.2.2 ´Indice de Negociabilidade IN = PP i=1 3 r ηi η ν i ν 2 P

onde P ´e o n´umero de preg˜oes no per´ıodo, ηi ´e o n´umero de neg´ocios com o ativo i no

mercado `a vista, η ´e o n´umero de neg´ocios totais no mercado `a vista, νi ´e o volume

financeiro gerado pelos neg´ocios com o ativo i no mercado `a vista e ν ´e o volume finan-ceiro gerado pelos neg´ocios totais no mercado `a vista.

2.2.3 Crit´erios de Pondera¸c˜ao

1. Market Cap dos ativos em circula¸c˜ao - free float. 2. Peso no ´ındice n˜ao pode ultrapassar os 20%.

(12)

3. Peso n˜ao pode ser superior a duas vezes a participa¸c˜ao que a a¸c˜ao teria caso o ´ındice ainda fosse ponderado de acordo com o ´Indice de Negociabilidade.

ωi =

M Ci

PN85 i=1M Ci

onde ωi´e o peso atribu´ıdo `a a¸c˜ao i, M Ci´e o seu respectivo market cap e N85´e a ´ultima

a¸c˜ao, em ordem decrescente, a fazer parte do conjunto que representa 85% do somat´orio total dos market caps.

2.3 IBrX 100 (IBrX 50)

Uma vez que as metodologias para o IBrX 100 e para o IBrX 50 s˜ao idˆenticas, exce¸c˜ao feita ao primeiro t´opico do crit´erio de inclus˜ao, a exposi¸c˜ao ser´a feita conjuntamente.

2.3.1 Crit´erios de Inclus˜ao

1. Estar entre os 100 (50 para o IBrX 50) ativos com maior ´Indice de Negociabilidade, no per´ıodo referente `as 3 carteiras anteriores.

2. Estar presente em 95% dos preg˜oes no per´ıodo referente `as 3 carteiras anteriores.

3. N˜ao ser classificado como “Penny Stock” (A¸c˜ao com valor inferior a R$ 1,00)

2.3.2 ´Indice de Negociabilidade

O ´Indice de Negociabilidade usado para o IBrX 100 e para o IBrX 50 ´e idˆentico ao usado para o Ibovespa e passou pela mesma modifica¸c˜ao em 2014:

(13)

INP r´e−2014 = PP i=1 r ηi η  νi ν  P 2014 ⇓ INP ´os−2014 = PP i=1 3 r ηi η ν i ν 2 P

onde P ´e o n´umero de preg˜oes no per´ıodo, ηi ´e o n´umero de neg´ocios com o ativo i no

mercado `a vista, η ´e o n´umero de neg´ocios totais no mercado `a vista, νi ´e o volume

financeiro gerado pelos neg´ocios com o ativo i no mercado `a vista e ν ´e o volume finan-ceiro gerado pelos neg´ocios totais no mercado `a vista.

2.3.3 Crit´erios de Pondera¸c˜ao

1. Market Cap dos ativos em circula¸c˜ao - free float.

ωi =

M Ci

PN85 i=1M Ci

onde ωi´e o peso atribu´ıdo `a a¸c˜ao i, M Ci´e o seu respectivo market cap e N85´e a ´ultima

a¸c˜ao, em ordem decrescente, a fazer parte do conjunto que representa 85% do somat´orio total dos market caps.

(14)

3

An´

alise do Comportamento dos ´

Indices Amplos

da BM&FBovespa

Usando como motiva¸c˜ao as discuss˜oes observadas na literatura sobre a eficiˆencia de diferentes metodologias de pondera¸c˜ao de portfolio e as mudan¸cas realizadas pela BM&FBovespa em seus ´ındices, temos como objetivo, nessa sess˜ao, analisar e comparar os comportamentos desses quatro ´ındices mencionados na sess˜ao anterior. Vale notar que a metodologia utilizada para a constru¸c˜ao do ´ındice Ibovespa at´e 2014 era ´unica e diferente da utilizada em todo o mundo. Talvez por isso, n˜ao encontramos trabalhos que a testem, emp´ırica ou teoricamente, frente a outras metodologias de pondera¸c˜ao, como buscamos fazer aqui.

3.1 Dados

As s´eries de ´ındices utilizadas foram disponibilizadas pela BM&FBovespa, tˆem o dia 30 de dezembro de 2002 como data-base e abrangem o per´ıodo entre 2003 e 2013, inclu-sos. Para o IBrX 100, IBrX 50, e para a antiga metodologia do Ibovespa - cuja s´erie ser´a aqui chamada simplesmente de Ibovespa -, os valores utilizados s˜ao referentes `as real-iza¸c˜oes efetivas dos ´ındices. J´a para a nova metodologia do Ibovespa - aqui chamado de Novo Ibovespa - utilizamos uma simula¸c˜ao realizada pela pr´opria BM&FBovespa com o objetivo de avaliar como teria sido o comportamento do Ibovespa no passado, se as mudan¸cas nas regras anunciadas em 2013 j´a estivessem em vigor.

´

E importante ressaltar que a s´erie simulada do Novo Ibovespa ´e um contra-factual im-perfeito uma vez que estando em vigor, a nova metodologia do ´ındice poderia afetar n˜ao s´o o comportamento dos investidores, como os pre¸cos e retornos dos ativos negociados. Assim como a maior parte da literatura, Chen et al. (2004), por exemplo, encontram evidˆencias de que a inser¸c˜ao de uma a¸c˜ao no S&P 500 leva a um aumento permanente no seu pre¸co, causado pelo aumento da conscientiza¸c˜ao dos investidores com rela¸c˜ao `

a empresa em quest˜ao, enquanto a exclus˜ao n˜ao surte qualquer efeito. Nesse sentido, ´e de se esperar que, caso haja vi´es nos retornos da s´erie simulada do Novo Ibovespa, ele seja negativo, uma vez que estamos desconsiderando eventuais aprecia¸c˜oes causadas pela inser¸c˜ao de algumas a¸c˜oes no ´ındice. Como nossos resultados apontam para uma performance superior do Novo Ibovespa quando comparado ao Ibovespa, esse vi´es est´a

(15)

ao nosso favor, sendo poss´ıvel, portanto, que as diferen¸cas sejam ainda maiores do que as aqui encontradas.

Al´em dos dados da BM&FBovespa, usamos dados di´arios da Bloomberg relativos ao mercado acion´ario brasileiro, como pre¸co, volume e n´umero de negocia¸c˜oes realizadas envolvendo cada a¸c˜ao na BM&FBovespa. Assim como Cooper et al. (2004), estab-elecemos janelas temporais - t, t − 3, t − 5, t − 10, t − 30 e t − 50 - para analisar as performances acumuladas dos ´ındices e identificar comportamentos espec´ıficos.

3.2 Performance

Para avaliar as diferen¸cas de performances dos ´ındices, iniciaremos analisando a rentabilidade acumulada. Como se pode observar no Figura 1, os diferentes ´ındices pare-cem ter evolu´ıdo de forma semelhante at´e 2010, com um ´ındice apresentando rentabil-idade acumulada maior que o outro em alguns momentos e o inverso ocorrendo em outros per´ıodos. A partir de 2011, o IBrX 100 come¸ca a descolar positivamente dos demais ´ındices, enquanto ocorre o contr´ario com o Ibovespa. A Tabela 1 quantifica esses descolamentos: ao final do per´ıodo analisado, o IBrX 100 rendeu 532,99%, enquanto o Ibovespa rendeu 357,09% e, entre eles, o Novo Ibovespa e o IBrX 50 renderam semel-hantes 468,07% e 455,51%, respectivamente. Colocando em termos relativos, o IBrX 100, o Novo Ibovespa e o IBrX 50 renderam, respectivamente, 175,90 p.p, 110,98 p.p e 98,42 p.p a mais que o Ibovespa.

A Tabela 1 tamb´em nos permite observar mais detalhadamente as rentabilidades dos ´ındices ano a ano. Al´em de ser o ´ındice com maior rentabilidade acumulada ao final do per´ıodo, em 6 dos 11 anos analisados, o IBrX 100 gera o maior retorno entre os ´ındices e, em nenhum dos anos, gera o menor. O Ibovespa, por sua vez, apresenta o pior retorno de todos em 6 anos diferentes, mas tamb´em ´e o com maior rentabilidade em outros 3, o que indica potencialmente um grau de volatilidade maior que os demais. A tabela confirma ainda que o Novo Ibovespa e o IBrX 50 apresentam rentabilidades, geralmente, medianas e semelhantes.

(16)

Figura 1: Rentabilidade Acumulada - Ln

Em termos metodol´ogicos, como os crit´erios de pondera¸c˜ao desses dois ´ındices e do IBrX 100 s˜ao iguais, o crit´erio de inclus˜ao parece ser o que aproxima o Novo Ibovespa mais do IBrX 50 do que do IBrX 100. Analisando as carteiras do Novo Ibovespa, essa tendˆencia ´e confirmada: em m´edia, entre 50 e 70 empresas comp˜oem o ´ındice. Assim, uma poss´ıvel interpreta¸c˜ao para a origem dos diferenciais de rentabilidade entre esses ´ındices ´e a maior diversifica¸c˜ao existente no IBrX 100, que tenderia a gerar retornos

maiores.

Usando dados di´arios de retorno na tabela 2 e 3, ´e poss´ıvel confirmar algumas das expectativas em torno do comportamento dos ´ındices. Durante o per´ıodo analisado, o Ibovespa apresenta as maiores medidas de volatilidade dentre todos os ´ındices: maior variˆancia, maior varia¸c˜ao interquartil, maior percentil 90 e menor percentil 10. Em con-trapartida, o IBrX 100 apresenta comportamento oposto, com os menores indicadores de volatilidade: menor variˆancia, menor varia¸c˜ao interquartil, menor percentil 90 e

(17)

maior percentil 10. Al´em disso, novamente, o Novo Ibovespa e o IBrX 50 geraram resultados intermedi´arios e semelhantes.

Tabela 1: Rentabilidade Acumulada Anual e ao Final do Per´ıodo - %

Adicionalmente, como ´e poss´ıvel observar nas tabelas j´a mencionadas e na Figura 2, os quatro ´ındices tˆem skewnesses negativas, ou seja, a cauda esquerda mais pesada quando comparadas a uma distribui¸c˜ao log-normal, com as massas das suas distribui¸c˜oes concentradas `a direita. Outro resultado comum a todos os ´ındices ´e um excesso de curtose positiva, indicando a ocorrˆencia de mais outliers do que o previsto quando con-siderados retornos log-normais. Note ainda que esses resultados independem da janela temporal utilizada3.

Sob o ponto de vista de um investidor, as an´alises de rentabilidade e volatilidade de um portfolio s´o tˆem sentido quando feitas conjuntamente. Nesse contexto, estendemos a investiga¸c˜ao para examinar as performances dos ´ındices ajustadas ao seus riscos. Para 3Por motivos de concis˜ao, mostramos aqui apenas as janelas de 1 e 50 dias. Os resultados, no entanto, n˜ao se alteram se levarmos em considera¸c˜ao janelas de 3, 5, 10 ou 30 dias.

(18)

isso, usamos o conceito de eficiˆencia de Sharpe, que atribui uma maior eficiˆencia ao portfolio com o maior excesso de retorno por unidade de desvio (ou risco), seguindo a f´ormula a seguir: SRi = E [R i− Rf] q var (Ri− Rf) ≈ E [Rq i− Rf] var (Ri)

onde Ri ´e o retorno do portfolio i em quest˜ao e Rf ´e o retorno do portfolio livre de

risco usado como referˆencia4.

Usando esse conceito como base de compara¸c˜ao, a Tabela 4 exp˜oe os ´ındices de Sharpe no ano e no per´ıodo completo. Novamente, o IBrX 100 ´e o ´ındice que apresenta o melhor desempenho, tendo a maior raz˜ao de Sharpe em 7 dos 11 anos analisados e tamb´em quando considerado o per´ıodo inteiro. De forma semelhante, o Ibovespa tem o pior desempenho, com a menor raz˜ao de Sharpe na janela completa, al´em de em 6 dos 11 anos analisados. Seguindo essa defini¸c˜ao, podemos ranquear os ´ındices por ordem decrescente de eficiˆencia, definida em termos de retorno por risco: IBrX 100, Novo Ibovespa, IBrX 50 e Ibovespa. Esse resultado corrobora os resultados anteriores, no sentido de apontar que os ´ındices ponderados por market cap apresentam melhor performance do que o Ibovespa e sua metodologia de pondera¸c˜ao por negociabilidade.

Outro fator a ser observado ´e a correla¸c˜ao entre os diferentes ´ındices durante difer-entes per´ıodos, afinal as divergˆencias de performance agregada entre as s´eries podem ser consequˆencia direta de uma menor correla¸c˜ao entre os portfolios em quest˜ao. No entanto, apesar das consistentes diferen¸cas entre os ´ındices nos indicadores analisados at´e agora, a Tabela 5 nos mostra que a correla¸c˜ao par a par entre as s´eries ´e muito alta. Como era de se esperar em fun¸c˜ao da sua metodologia, o Ibovespa apresenta a menor correla¸c˜ao com os demais ´ındices, mas mesmo assim os valores s˜ao elevados. A Tabela 6 nos d´a ainda as correla¸c˜oes seriais anuais e podemos observar que a do Ibovespa com os demais ´ındices ´e mais baixa nos primeiros trˆes e nos ´ultimos dois anos. A an´alise dos dados de performance anuais parece indicar que n˜ao h´a rela¸c˜ao clara entre per´ıodos de correla¸c˜ao inferior e per´ıodos de rentabilidade ou volatilidade relativa alta ou baixa, mas entender a origem da menor correla¸c˜ao em alguns anos pode ser

(19)

um exec´ıcio futuro interessante, pois pode nos ajudar a entender as consequˆencias das diferen¸cas metodol´ogicas entre os ´ındices.

Tabela 2: Estat´ısticas Descritivas - Ln (Retorno Di´ario)

(20)
(21)

Tabela 4: ´Indice de Sharpe

(22)

Tabela 6: Matriz de Correla¸c˜ao Anual dos Retornos Di´arios

(1) Novo Ibov - Ibov; (2) Novo Ibov - IBrX 100; (3) Novo Ibov - IBrX 50; (4) Ibov - IBrX 100; (5) Ibov - IBrX 50.

3.3 Diferenciais de Rentabilidade

Nesta sess˜ao, buscaremos entender melhor as origens das diferen¸cas sistem´aticas de performances dos ´ındices, avaliando o comportamento dos diferenciais de rentabilidade nas v´arias janelas temporais consideradas. Resultados nesse sentido podem ajudar a esclarecer quais as vantagens e desvantagens das diferentes metodologias utilizadas na constru¸c˜ao n˜ao s´o de ´ındices, mas de portfolios em geral.

Antes de tentar entender as diferen¸cas sistem´aticas de performance entre os ´ındices, ´e necess´ario se certificar de que elas s˜ao estatisticamente significantes e n˜ao apenas frutos de ru´ıdos quaisquer. Para isso, realizaremos testes t de m´edia para avaliar se os diferenciais m´edios de retorno s˜ao, de fato, diferentes de zero e tamb´em testes F de variˆancia para avaliar se as variˆancias das s´eries de ´ındices s˜ao distintas entre si. Os resultados est˜ao reportados nas tabelas 7 e 8.

(23)

Nos testes t, as hip´oteses nulas avaliadas s˜ao que os diferenciais m´edios de retorno dos ´ındices em quest˜ao s˜ao nulos. Observe na Tabela 7 que, quando consideradas janelas iguais ou superiores a 3 dias, a hip´otese nula ´e rejeitada para todos os pares, exceto o formado por Novo Ibovespa e IBrX 50. Isso implica que, para essas janelas, o diferencial de rentabilidade ´e estatisticamente significante - diferente de zero - para todos os pares compostos pelo Ibovespa e algum dos outros trˆes ´ındices e tamb´em para o par Novo Ibovespa - IBrX 100. Por outro lado, temos que o diferencial entre Novo Ibovespa e IBrX 50 ´e estatisticamente nulo para todas as janelas avaliadas e, portanto, pode ser considerado irrelevante. Esses resultados apontam que os diferenciais de retorno entre o Ibovespa e os ´ındices ponderados por market cap n˜ao s˜ao desprez´ıveis, sendo, portanto, objetos v´alidos de estudo.

Como argumentamos, ter retorno esperado superior n˜ao significa, necessariamente, que um ´ındice ou portfolio ´e melhor e mais desej´avel que o outro. Para uma avalia¸c˜ao mais robusta, devemos testar tamb´em a significˆancia estat´ıstica das diferen¸cas de variˆancia entre os ´ındices aqui expostos. Para isso, utilizamos testes F de variˆancia nos quais a hip´otese nula a ser testada ´e a de que a raz˜ao entre as variˆancias das s´eries de ´ındices ´e igual a 1. Pela Tabela 8, a um n´ıvel de significˆancia de 95%, apenas para o par IBrX 100 e Ibovespa as diferen¸cas de variˆancias s˜ao estatisticamente sig-nificantes em todas as janelas temporais analisadas. Para janelas de 30 e 50 dias, as diferen¸cas do Novo Ibovespa e do IBrX 50 para o Ibovespa tamb´em s˜ao significantes, enquanto as diferen¸cas do IBrX 100 para o Novo Ibovespa s˜ao significantes apenas em janelas inferiores a 10 dias. Note ainda que em todos esses casos as raz˜oes s˜ao inferiores a 1, indicando menor variˆancia para os ´ındices `a esquerda. Por fim, assim como no caso do teste de m´edias do diferencial de rentabilidades, tamb´em n˜ao h´a significˆancia nas diferen¸cas entre a variˆancia do IBrX 50 e a do Novo Ibovespa, sinalizando que as divergˆencias entre esses ´ındices tendem a ser resultados apenas de ru´ıdos nas duas s´eries.

Os resultados dos testes realizados indicam que, para quase todas janelas analisadas, os ´ındices ponderados por market cap - Novo Ibovespa, IBrX 100 e IBrX 50 - tˆem re-torno m´edio superior e variˆancia igual ou inferior ao Ibovespa, quando considerado um n´ıvel de significˆancia de 95%. Essas caracter´ısticas s˜ao desej´aveis do ponto de vista dos investidores e indicam uma maior eficiˆencia de portfolios ponderados por market-cap quando comparados a portfolios ponderados por um indicador de liquidez e negocia-bilidade - no caso, o ´Indice de Negocianegocia-bilidade da BM&FBovespa. Sob essa ´otica, a mudan¸ca da metodologia do ´ındice Ibovespa parece ter sido positiva para os investidores que o utilizam como benchmark do mercado brasileiro.

(24)

Adicionalmente, utilizamos o teste - n˜ao param´etrico - Kolmogorov-Smirnov para avaliar as distribui¸c˜oes dos retornos de cada ´ındice. Na Figura 9 ´e poss´ıvel observar que a distribui¸c˜ao dos retornos do Ibovespa ´e estatisticamente diferente da distribui¸c˜ao dos retornos do IBrX 100 para todas as janelas de tempo analisadas e tamb´em difere da distribui¸c˜ao dos retornos do Novo Ibovespa e do IBrX 50 para as maiores janelas. Esse resultado refor¸ca os resultados dos testes t e F no sentido de haver diferen¸cas estatisticamente significantes entre os retornos dos ´ındices ponderados por market cap e o Ibovespa, seja em termos de momentos ou em termos da distribui¸c˜ao como um todo.

Para uma avalia¸c˜ao mais definitiva da efetividade da mudan¸ca de metodologia, no entanto, ´e necess´ario entender melhor as origens das divergˆencias entre o Ibovespa e os demais ´ındices. Nesse caso, os histogramas dos diferenciais de retorno exibidos na Figura 35 ajudam de certa forma a caracterizar os seus comportamentos e sugerem

algumas potenciais explica¸c˜oes para a existˆencia de uma divergˆencia de performance estatisticamente significante entre os ´ındices.

Tabela 7: Testes t de M´edia

5Novamente por motivos de concis˜ao, foram expostos apenas os gr´aficos relativos `as janelas de 1 e 50 dias - os casos extremos.

(25)

Tabela 8: Testes F de Variˆancia

(26)

Figura 3: Histogramas - Ln (Diferencial de Retorno Di´ario) e Ln (Diferencial de Retorno Acumulado em 50 dias)

(27)

Pelos histogramas dos diferenciais de retorno entre os ´ındices, ´e poss´ıvel observar, especialmente quando considerados retornos acumulados em per´ıodos superiores a 1 dia, que as distribui¸c˜oes dos diferenciais tˆem massas concentradas em valores positivos, o que, diante dos resultados pr´evios, era esperado, afinal o Ibovespa foi o ´ındice que ap-resentou piores resultados em termos de rentabilidade quando comparado aos demais. Por outro lado, ´e interessante notar que as distribui¸c˜oes apresentam assimetrias em suas caudas, com as negativas sendo mais longas e pesadas do que as positivas, o que parece indicar que momentos de maiores divergˆencias entre os ´ındices coincidem com momentos em que o Ibovespa tem retorno superior aos demais.

3.4 Rela¸c˜ao entre Retorno e Negociabilidade

A metodologia do Ibovespa, quando comparada com as dos outros ´ındices, d´a maior peso para empresas cujas a¸c˜oes s˜ao muito negociadas, mesmo que elas n˜ao sejam t˜ao grandes em termos de market cap, e menor peso para grandes empresas cujas a¸c˜oes apresentam menores ´ındices de negociabilidade. A princ´ıpio, uma poss´ıvel explica¸c˜ao para os diferenciais de rentabilidade ´e que, em alguns per´ıodos, a¸c˜oes de empresas de determinado porte geram maiores retornos que as de outro e isso faria com que ´ındices que as privilegiam obtivessem melhores resultados. Os testes apresentados na Figura 4, no entanto, indicam que n˜ao h´a autocorrela¸c˜ao significante em nenhuma das s´eries de diferenciais avaliadas, o que enfraquece a hip´otese de que um ´ındice supere o outro consistentemente em alguns per´ıodos e o inverso ocorra em outros.

Uma explica¸c˜ao mais razo´avel para o comportamento dos diferenciais ´e a de que eles sejam gerados pelo impacto de vari´aveis relacionadas a liquidez, como volume negociado e n´umero de transa¸c˜oes realizadas no per´ıodo, sobre o c´alculo do ´ındice de negociabilidade. Essa poss´ıvel explica¸c˜ao ´e corroborada pelo n´umero crescente de evidˆencias na literatura de asset pricing e de corporate finance que apontam para uma correla¸c˜ao negativa entre vari´aveis de liquidez e retornos futuros das a¸c˜oes das firmas. Em Scheinkman e Xiong (2003), diferen¸cas de opini˜oes entre investidores que sofrem de excesso de confian¸ca com rela¸c˜ao `as suas informa¸c˜oes privadas tendem a aumentar o volume negociado e distorcer os pre¸cos dos ativos, podendo gerar bolhas financeiras que culminam em grandes perdas.

Baker e Stein (2004) e Baker e Wurgler (2007) argumentam que vari´aveis de liquidez podem ser usadas como medidas de um suposto “sentimento” de investidor, o qual

(28)

de-finem como uma cren¸ca com rela¸c˜ao a futuros fluxos de caixa e riscos de investimentos que n˜ao s˜ao justificados pelos fatos ou fundamentos. A¸c˜oes especulativas - de empresas novas, de baixa capitaliza¸c˜ao de mercado ou com dificuldades financeiras - seriam mais sens´ıveis a esse sentimento em fun¸c˜ao da maior dificuldade e subjetividade para a de-termina¸c˜ao dos seus reais valores de mercado. De acordo com as evidˆencias emp´ıricas, a¸c˜oes desse tipo passam a ser negociadas com maior frequˆencia e em maior quanti-dade conforme apresentam boa performance e, em fun¸c˜ao dessa cren¸ca n˜ao justificada, acabam sendo sobrevalorizadas. O resultado ´e que nos per´ıodos seguintes a esse mo-mentos de otimismo, essas a¸c˜oes tendem a performar mal conforme o mercado se ajusta.

´

E f´acil ver o poss´ıvel impacto dessa rela¸c˜ao negativa entre liquidez e retorno futuro em um ´ındice que adota pondera¸c˜ao por vari´aveis de negociabilidade como o Ibovespa: o maior peso para a¸c˜oes mais negociadas seria, na realidade, um maior peso para a¸c˜oes cujos retornos futuros s˜ao inferiores, gerando um vi´es negativo indesejado no ´ındice em quest˜ao. Nesse sentido, ´e emblem´atico o caso da OGX - ´Oleo e G´as Participa¸c˜oes - , empresa cuja a¸c˜ao (OGXP3) compˆos o ´ındice Ibovespa entre 2010 e 2013. No ano de 2009, um ano ap´os sua estreia na BM&FBovespa, o pre¸co das a¸c˜oes da OGX saltou de R$ 510 para R$ 1805, uma valoriza¸c˜ao de cerca de 254 %. Essa aprecia¸c˜ao gerou um aumento consider´avel na liquidez dessa a¸c˜ao e, em janeiro de 2010, ela foi inclu´ıda no ´ındice Ibovespa, permanecendo nele at´e agosto de 2013. Nesse per´ıodo em que a a¸c˜ao da OGX fez parte do ´ındice Ibovespa, seu pre¸co caiu de R$ 1805 para R$ 30, uma desvaloriza¸c˜ao de 98,25%. Mesmo com o valor de mercado da empresa em queda vertig-inosa, que culminou em um pedido de recupera¸c˜ao judicial, a a¸c˜ao da OGX permaneceu como parte relevante do ´ındice durante muito tempo em fun¸c˜ao dos seus elevados in-dicadores de negociabilidade, gerando um impacto negativo sobre sua performance que seria evitado em caso de uma metodologia diferente.

Nesse contexto, analisaremos aqui, de forma geral, a hip´otese de que momentos de maior ou menor movimenta¸c˜ao no mercado podem favorecer a performance de um ou de outro ´ındice. Em especial, estamos interessados em avaliar se h´a, de fato, alguma previsibilidade dos retornos futuros ao observarmos indicadores de liquidez como vol-ume negociado e n´umero de transa¸c˜oes. Para testar essa hip´otese, inicialmente rodamos regress˜oes simples do diferencial de rentabilidade dos ´ındices sobre dummies referentes aos quartis de volume total e de n´umero de transa¸c˜oes nas janelas avaliadas. Al´em disso, para avaliar em m´odulo os diferenciais, testamos tamb´em o impacto das mesmas vari´aveis independentes sobre os quadrados dos diferenciais de rentabilidade. Os resul-tados est˜ao reportados nas tabelas 9 a 12.

(29)

Nas regress˜oes referentes ao diferencial de rentabilidade, em todas janelas e pares de ´ındices considerados, o coeficiente referente ao ´ultimo quartil do n´umero de transa¸c˜oes ´e estatisticamente significante e positivo, a um n´ıvel de significˆancia de 95%. J´a os co-eficientes referentes aos quartis de volume total s´o apresentam significˆancia estat´ıstica na janela de 50 dias e, mesmo assim, ela deixa de existir quando inclu´ımos os quartis de n´umero de transa¸c˜oes na regress˜ao. Desses resultados, podemos inferir que h´a uma rela¸c˜ao positiva entre per´ıodos com maior n´umero de transa¸c˜oes realizadas e per´ıodos de diferencial de rentabilidade positivo, ou seja, o Ibovespa tende a ter performance inferior aos demais ´ındices em momentos de muita atividade no mercado. Adicional-mente, n˜ao parece haver rela¸c˜ao direta significativa entre os diferenciais e o total de volume transacionado.

J´a nas regress˜oes com o quadrado do diferencial de rentabilidade como vari´avel de-pendente, tanto o coeficiente relativo ao primeiro quanto o relativo ao ´ultimo quartil do n´umero de transa¸c˜oes totais s˜ao positivos e estat´ısticamente significantes em todas especifica¸c˜oes e janelas consideradas. Al´em disso, eles s˜ao crescentes ao longo dos quar-tis, o que indica uma rela¸c˜ao positiva entre os quartis e os quadrados dos diferenciais. Os coeficientes referentes aos quartis de volume total apresentam o mesmo comporta-mento, com a diferen¸ca de que ao inclu´ırmos os quartis de n´umero de transa¸c˜oes nas regress˜oes, os coeficientes do primeiro quartil de volume deixam de ser significativos. Esses resultados fornecem evidˆencias de que quanto maiores o volume e n´umero de ne-gocia¸c˜oes totais, mais distantes de zero tendem a ser os diferenciais de rentabilidade do Ibovespa e dos demais ´ındices.

Por fim, como teste de robustez, rodamos regress˜oes localmente lineares para avaliar os resultados encontrados acima. Nas Figura 5, 6 e 7, como esperado, ´e poss´ıvel observar a inclina¸c˜ao positiva na curva referente `a rela¸c˜ao entre os diferenciais de rentabilidades e os n´umeros de transa¸c˜oes para janelas de 50 dias, embora a inclina¸c˜ao n˜ao seja t˜ao evidente quando consideramos janelas di´arias. J´a para as rela¸c˜oes entre os quadrados dos diferenciais de rentabilidade, a inclina¸c˜ao positiva sugerida pelos resultados anteri-ores tamb´em ´e confirmada, inclusive para as janelas mais curtas.

´

E importante ter em mente que a entrada e pondera¸c˜ao de a¸c˜oes no Ibovespa est˜ao as-sociadas a um ´ındice de negociabilidade relativamente elevado, ou seja, uma a¸c˜ao tende a adquirir importˆancia no Ibovespa conforme ´e mais negociada. Ao mesmo tempo, as evidˆencias apontam para uma performance relativa pior do Ibovespa em

(30)

momen-tos de maior atividade do mercado acion´ario. Nesse sentido, os resultados descritos nos par´agrafos anteriores dialogam com a literatura que prevˆe rela¸c˜ao negativa entre vari´aveis de liquidez e retorno esperado, uma vez que a maior relevˆancia atribu´ıda a a¸c˜oes com elevados n´ıveis de liquidez e com baixos retornos parece ser a principal re-spons´avel pela performance inferior do Ibovespa quando comparado aos demais ´ındices ponderados por market cap.

4

Conclus˜

ao

Apesar de diversas metodologias alternativas de pondera¸c˜ao de portfolios terem sido propostas na literatura, a metodologia de pondera¸c˜ao por market cap continua sendo a mais utilizada na formula¸c˜ao de ´ındices de a¸c˜oes de bolsas de valores. At´e 2013, o Ibovespa, principal benchmark do mercado acion´ario brasileiro, seguia uma metodolo-gia pr´opria de pondera¸c˜ao de acordo com um ´ındice de negociabilidade criado pela pr´opria BM&FBovespa. A partir de 2014, essa metodologia deixou de ser utilizada e a pondera¸c˜ao por market cap foi adotada.

Esse trabalho analisa os diferentes ´ındices amplos de a¸c˜oes brasileiros, comparando seus comportamentos ao longo de 11 anos. Na primeira parte da an´alise, examinamos os principais indicadores de performance e eficiˆencia dos ´ındices, comparando o com-portamento dos seus retornos, volatilidades e correla¸c˜oes. Nessa avalia¸c˜ao, s˜ao obtidas evidˆencias de uma performance superior por parte dos ´ındices ponderados por market cap - IBrX 100, IBrX 50 e Novo Ibovespa - quando comparados ao Ibovespa sob a metodologia antiga.

Em seguida, o foco se torna os diferenciais de rentabilidade, em especial entre o Ibovespa e os demais ´ındices. Para todos os ´ındices ponderados por market cap, en-contramos diferenciais positivos estatisticamente significantes contra o Ibovespa, al´em de variˆancia inferior para o IBrX 100. Al´em disso, verificamos que n˜ao h´a autocor-rela¸c˜ao nas s´eries dos diferenciais e, por meio de regress˜oes lineares e localmente lin-eares, encontramos evidˆencias de que os momentos de pior retorno relativo do Ibovespa - quando comparado aos demais ´ındices - coincidem com momentos de maior n´umero de transa¸c˜oes realizadas no per´ıodo e tamb´em obtemos evidˆencias de que uma maior atividade no mercado acion´ario est´a correlacionada com o maior distanciamento, em

(31)

m´odulo, entre as performances do Ibovespa e dos outros ´ındices.

No contexto dos resultados encontrados aqui, seria interessante para extens˜oes fu-turas construir s´eries de ´ındices para o mercado brasileiro que utilizem as metodologias alternativas aqui descritas, al´em de reproduzir detalhadamente os ´ındices j´a existentes. Esse exerc´ıcio permitiria n˜ao s´o a compara¸c˜ao de um conjunto maior de metodologias, mas tamb´em a an´alise detalhada da rela¸c˜ao entre as divergˆencias de performance e as divergˆencias de pesos atribu´ıdos `as a¸c˜oes por cada uma dessas metodologias, o que pode ajudar a explicar algumas das evidˆencias encontradas aqui.

(32)
(33)
(34)
(35)
(36)
(37)
(38)
(39)
(40)

References

[1] Arnott, R., Hsu, J. and Moore, P. (2005): “Fundamental Indexation”, Financial Analyst Journal, v. 61, n. 2, p. 83-99.

[2] Arnott, R., Kalesnik, V., Moghtader, P. and Scholl, C. (2010): “Beyond Cap Weight - The Empirical Evidence for a Diversified Beta”, Journal of Indexes, January/February 2010, p. 16-29. [3] Baker, M. and Stein, J. (2004): “Market Liquidity as a Sentiment Indicator”, Journal of Financial

Markets, v. 7, p. 271-299.

[4] Baker, M. and Wurgler, J. (2007): “Investor Sentiment in the Stock Market”, Journal of Economic

Perspectives, v. 21, n. 2, p. 129-152.

[5] Benartzi, S. and Thaler, R. (2001): “Naive Diversification Strategies in Defined Contribution Saving Plans”, The American Economic Review, v. 91, p. 79-98.

[6] Booth, D. and Fama, E. (1992): “Diversification Returns and Asset Contributions”, Financial

Analysts Journal, v. 48, n. 3, p. 26-32.

[7] Chen, H., Noronha, G. and Singal, V. (2004): “The Price Response to S&P 500 Index Additions and Deletions: Evidence of Asymmetry and a New Explanation”, The Journal of Finance, v. 59, n. 4, p. 1901-1929.

[8] Choueifaty, Y. and Coignard, Y. (2008): “Toward Maximum Diversification”, The Journal of

Portfolio Management, v. 35, p. 40-51.

[9] Clarke, R., Silva, H. and Thorley, S. (2006): “Minimum-Variance Portfolios in the U.S. Equity Market”, The Journal of Portfolio Management, v. 33, p. 10-24.

[10] Cooper, M., Gutierrez, R. and Hameed, A. (2004): “Market States and Momentum”, The Journal

of Finance, v. 59, n. 3, p. 1345-1365.

[11] Demey, P., Maillard, S. and Roncalli, T. (2010): “Risk-Based Indexation”, Available at SSRN:

https://ssrn.com/abstract=1582998.

[12] DeMiguel, V., Garlappi, L. and Uppal, R. (2009): “Optimal Versus Naive Diversification - How Inneficient is the 1/N Portfolio Strategy”, The Review of Financial Studies, v. 22, n. 5, p. 1915-1953.

[13] Estrada, J. (2008): “Fundamental Indexation and International Diversification”, The Journal of

Portfolio Management, v. 34, n. 3, p. 93-109.

[14] Fernholz, R., Garvy, R. and Hannon, J. (1998): “Diversity-Weighted Indexing”, The Journal of

Portfolio Management, v. 24, n. 2, p. 74-82.

[15] Haugen, R. and Baker, N. (1991): “The Efficient Market Inefficiency of Capitalization-Weighted Stock Portfolios”, The Journal of Portfolio Management, v. 17, n. 3, p. 35-40.

[16] Hsu, J. (2006): “Cap-Weighted Portfolios are Sub-Optimal Portfolios”, The Journal of Investment

(41)

[17] Maillard, S., Roncalli, T. and Teiletche, J. (2010): “On the Properties of Equally-Weighted Risk Contributions Portfolios”, The Journal of Portfolio Management, v. 36, n. 4, p. 60-70.

[18] Neukirch, T. (2008): “ Alternative Indexing with the MSCI World Index”, Available at SSRN:

https://ssrn.com/abstract=1106109.

[19] Perold, A. (2007): “Fundamentally Flawed Indexing”, Financial Analyst Journal, v. 63, n. 6, p. 31-37.

[20] Plyakha, Y., Uppal, R. and Vilkov, G. (2012): “Why Does an Equal-Weighted Portfolio Outper-form Value- and Price-Weighted Portfolios”, Working Paper EDHEC.

[21] Sharpe, W. (1964): “A Theory of Market Equilibrium Under Conditions of Risk”, The Journal of

Finance, v. 19, n. 3, p. 425-442.

[22] Scheinkman, J. and Xiong, W. (2003): “Overconfidence and Speculative Bubbles”, Journal of

(42)

Apˆ

endice

A

Metodologias de Pondera¸

ao de Portfolios

A.1

Market Cap

Popularizado pelo CAPM, o m´etodo de pondera¸c˜ao por market cap garante que o impacto de uma varia¸c˜ao de pre¸co de uma a¸c˜ao sobre o portfolio seja proporcional ao valor total de mercado da empresa em quest˜ao. A maior parte dos ´ındices que utilizam essa metodologia levam em considera¸c˜ao apenas as a¸c˜oes livres `a negocia¸c˜ao - free float - para o c´alculo do market cap sob o argumento de melhor refletir as varia¸c˜oes do mercado acion´ario, uma vez que a¸c˜oes fora do free float n˜ao est˜ao sendo negociadas e, portanto, n˜ao impactam o mercado.

Em termos gerais, um ´ındice ponderado por market cap ´e calculado da seguinte forma: Indext= X i QiPi,t em que Qi = M Ci,t−1 P jM Cj,t−1 · Indext−1 ! · 1 Pi,t−1

e M Ci,t = OSi,t· Pi,t

onde t ´e uma data qualquer de repondera¸c˜ao, Pi,t ´e o pre¸co da a¸c˜ao i na data t e

OSi,t ´e o n´umero de a¸c˜oes i em circula¸c˜ao na data t - outstanding shares.

Al´em de serem eficientes sob as condi¸c˜oes previstas pelo CAPM, ´ındices ponderados por market cap apresentam propriedades desejadas como a alta liquidez, f´acil replica¸c˜ao e baixos custos de transa¸c˜ao. A alta liquidez ´e justificada em fun¸c˜ao da atribui¸c˜ao de pesos maiores para empresas com maior valor de mercado e que tamb´em tendem a ser mais l´ıquidas, ao passo que a relativa simplicidade da f´ormula para o c´alculo dos

(43)

pesos torna a replica¸c˜ao f´acil por parte dos investidores. Al´em disso, como ´ındices desse tipo n˜ao s˜ao rebalanceados para corrigir flutua¸c˜oes no pre¸co, eles tendem a apresentar menores custos de transa¸c˜ao do que outros ´ındices cujos pesos s˜ao independentes dos pre¸cos das a¸c˜oes. Hsu (2006) e Plyakha et al. (2012), no entanto, argumentam que essa ausˆencia de corre¸c˜ao das flutua¸c˜oes nos pre¸cos dos ativos tem efeitos indesejados, pois gera um vi´es negativo na performance desses ´ındices, uma vez que tendem a dar pesos maiores para empresas sobrevalorizadas, cujos pre¸cos tendem a cair no futuro. Defensor da pondera¸c˜ao por market cap, Perold (2007) rebate esse argumento afirmando que utilizar essa metodologia na constru¸c˜ao de um portfolio n˜ao altera a probabilidade de que uma a¸c˜ao esteja sobrevalorizada ou subvalorizada. Nesse caso, a no¸c˜ao de que esse estrat´egia de pondera¸c˜ao tenha um vi´es negativo seria falsa.

A.2

Pre¸

cos

O m´etodo de pondera¸c˜ao por pre¸cos dos ativos atrela o impacto de uma varia¸c˜ao de pre¸co de um ativo sobre o portfolio ao valor nominal desse ativo. Para exemplificar, consideremos um portfolio com apenas duas a¸c˜oes, A e B. Se o pre¸co da a¸c˜ao A ´e $90 e o pre¸co da a¸c˜ao B ´e $10, ent˜ao o peso da a¸c˜ao A no portfolio ser´a 90% e o da a¸c˜ao B ser´a 10%. Nesse caso, a empresa com maior pre¸co da a¸c˜ao ser´a sempre a com maior peso no portfolio, mesmo que seja a empresa com menor valor de mercado. Isso ocorre pois nessa metodologia os pesos dependem apenas do valor nominal das a¸c˜oes e n˜ao do valor de mercado das empresas.

Muito mais simples que um ponderado por market cap, um ´ındice ponderado por pre¸cos ´e calculado da seguinte forma:

Indext=

P

iPi,t

N

onde Pi,t ´e o pre¸co da a¸c˜ao i na data t e N ´e o n´umero de a¸c˜oes que comp˜oem o ´ındice.

A principal vantagem da pondera¸c˜ao por pre¸cos ´e a n˜ao necessidade de repondera¸c˜oes e, consequentemente, custos de transa¸c˜ao praticamente nulos. Apesar de ainda ser adotada por alguns ´ındices, como o Dow Jones e o Nikkei 225, essa metodologia n˜ao ´e

(44)

mais t˜ao utilizada. Isso se d´a porque um ´ındice que utiliza esse m´etodo est´a vulner´avel a grandes distor¸c˜oes causadas pelas diferen¸cas nos valores nominais das a¸c˜oes, que dificilmente tˆem correla¸c˜ao com as diferen¸cas de representatividade das empresas no mercado acion´ario - o que, em geral, um ´ındice utilizado como benchmark busca refletir.

A.3

Pesos Iguais

Classificada como uma estrat´egia ingˆenua por Benartzi and Thaler (2001) por seu car´ater heur´ıstico, a metodologia de pesos iguais para diferentes ativos dentro de um portfolio ´e possivelmente uma das mais utilizadas na pr´atica, especialmente por investi-dores inexperientes. A ideia por tr´as desse tipo de pondera¸c˜ao ´e garantir que varia¸c˜oes equivalentes nos pre¸cos de ativos distintos tenham impacto igual na carteira de um investidor. Assim, em um portfolio composto por n a¸c˜oes, ser´a atribu´ıdo a cada uma delas peso n1.

A constru¸c˜ao de um ´ındice de a¸c˜oes com pesos iguais para cada uma delas segue a seguinte f´ormula: Indext= X i QiPi,t em que Qi = 1 N · Indext−1  · 1 Pi,t−1

onde t ´e uma data qualquer de repondera¸c˜ao, Pi,t ´e o pre¸co da a¸c˜ao i na data t e N ´e

o n´umero de a¸c˜oes que comp˜oem o ´ındice.

O m´etodo de atribuir pesos iguais para cada ativo presente no portfolio ´e eficiente em um cen´ario em que prever retorno e risco seja imposs´ıvel e que n˜ao haja qualquer consenso entre os investidores. Essa propriedade contrasta essa forma de pondera¸c˜ao com a metodologia de pondera¸c˜ao por market cap, que ´e ´otima em um contexto de mer-cado informacionalmente eficiente. Al´em disso, nesse caso, as repondera¸c˜oes tendem a corrigir flutua¸c˜oes de pre¸cos, evitando que sejam atribu´ıdos pesos maiores para ativos

(45)

potencialmente sobrevalorizados ou pesos menores para ativos potencialmente subval-orizados. Dessa forma, n˜ao haveria o mesmo vi´es negativo na performance que h´a nos portolios e ´ındices que seguem a pondera¸c˜ao por market cap, de acordo com a literatura.

Arnott et al. (2010) e Demey et al. (2010) encontram evidˆencias de que portfo-lios ponderados de forma igualit´aria tendem a apresentar performances superiores a portfolios ponderados por market cap. Por outro lado, esses mesmos estudos argumen-tam que essa metodologia requer maior volume de opera¸c˜oes, gerando potencialmente maiores custos de transa¸c˜ao, o que eventualmente poderia anular ou at´e mesmo reverter a diferen¸ca de resultado entre os portfolios. Em outro estudo de compara¸c˜ao de ´ındices, DeMiguel et al. (2009) identificam performances melhores em ´ındices que atribuem pesos iguais `as a¸c˜oes que os comp˜oem quando comparados a ´ındices que seguem outras metodologias, como a de m´ınima variˆancia, que ser´a explicada adiante.

A.4

Fundamentos

A metodologia de pondera¸c˜ao de portfolios por fundamentos consiste em utilizar indicadores econˆomicos e cont´abeis como medidas de tamanho e importˆancia relativa das empresas. Dentre os indicadores utilizados pela literatura est˜ao: dividendos, book

value, fluxos de caixa, receitas, emprego, etc. A utiliza¸c˜ao de um ou de uma combina¸c˜ao desses indicadores permite que o portfolio em quest˜ao seja composto por empresas de relativa relevˆancia no mercado acion´ario sem que os pesos atribu´ıdos a essas empresas estejam sujeitos a ru´ıdos nos pre¸cos das a¸c˜oes.

Um ´ındice ponderado por fundamentos segue uma f´ormula semelhante `a dos pon-derados por market cap:

Indext= X i QiPi,t em que Qi = Fi,t−1 P jFj,t−1 · Indext−1 ! · 1 Pi,t−1

(46)

onde t ´e uma data qualquer de repondera¸c˜ao, Pi,t ´e o pre¸co da a¸c˜ao i na data t e Fi,t

´e o indicador ou a combina¸c˜ao de indicadores referente a empresa i na data t.

Utilizada inicialmente por algumas institui¸c˜oes financeiras em alguns de seus ´ındices pr´oprios, essa metodologia passou a ser mais explorada pela literatura na ´ultima d´ecada. Arnott et al. (2005) popularizaram o termo fundamental indexation e encontram evidˆencias de que a pondera¸c˜ao por fundamentos apresenta retornos maiores e volatil-idades menores do que a usual pondera¸c˜ao por market cap. Estrada (2008) obt´em resultados semelhantes e argumenta ainda que essa metodologia permite a manuten¸c˜ao da correla¸c˜ao entre pesos e liquidez, umas das principais vantagens da pondera¸c˜ao por market cap quando comparada a outras formas de pondera¸c˜ao. Adicionalmente, as-sim como o m´etodo de atribuir pesos iguais para diferentes ativos, a pondera¸c˜ao por fundamentos tamb´em garante que os pesos sejam independentes de eventuais ru´ıdos nos pre¸cos, evitando o poss´ıvel vi´es negativo atribu´ıdo `a pondera¸c˜ao por market cap. Por outro lado, Perold (2007) rebate os defensores da pondera¸c˜ao por fundamentos e argumenta que essa metodologia ´e uma estrat´egia de sele¸c˜ao ativa complexa e que investidores que n˜ao tenham experiˆencia com an´alise do mercado acion´ario devem con-tinuar seguindo a pondera¸c˜ao por market cap.

A.5

Metodologias de Otimiza¸

ao

A.5.1 M´ınima Variˆancia

A estrat´egia de atribuir pesos aos ativos de forma a minimizar a variˆancia do portfolio ´e ´otima em um contexto em que todos os ativos da carteira apresentem os mesmo re-tornos esperados. Ainda que essa hip´otese n˜ao seja realista, Haugen and Baker (1991) e Clarke et al. (2006) encontram evidˆencias de que essa metodologia pode produzir retornos superiores e volatilidades inferiores aos gerados pela pondera¸c˜ao por market cap. Em compensa¸c˜ao, em geral, essa estrat´egia tende a gerar portfolios com pouca diversifica¸c˜ao e muito concentrados em um n´umero pequeno de ativos.

Essa estrat´egia requer a estima¸c˜ao da matriz de covariˆancia dos retornos de todos os ativos no portfolio e segue a seguinte f´ormula:

(47)

ω∗ = arg min ω ω TΣ ω s.a N X i=1 ωi = 1 0 ≤ ωi ≤ 1

onde ω ´e a matriz de pesos e Σ ´e a matriz de covariˆancia dos retornos dos ativos.

A.5.2 M´aximo ´Indice de Sharpe

Diversas metodologias s˜ao apresentadas como eficientes sob um determinado conjunto de premissas. Essas hip´oteses, em geral, s˜ao sempre muito restritivas e n˜ao refletem o mundo real. Usando esse argumento, Choueifaty and Coignard (2008) prop˜oem um m´etodo que visa utilizar informa¸c˜oes sobre retornos futuros de a¸c˜oes para construir um portfolio que atinja o m´aximo ´ındice de Sharpe poss´ıvel ex-ante, supondo apenas uma rela¸c˜ao linear entre o prˆemio esperado pela a¸c˜ao e a volatilidade dos seus retornos -E [Ri] − Rf = γσi, ∀i.

Nesse caso, a estrat´egia segue o seguinte problema de otimiza¸c˜ao restrita:

ω∗ = arg max ω ωTσˆ q ωTΣ ωˆ s.a N X i=1 ωi = 1 0 ≤ ωi ≤ 1, ∀i

onde ω ´e a matriz de pesos, ˆσ ´e o vetor de volatilidade estimada dos retornos e ˆΣ ´e a matriz de covariˆancia estimada dos retornos dos ativos.

(48)

A.6

Contribui¸

oes de Risco Iguais

A estrat´egia de atribuir pesos aos ativos de forma a minimizar a variˆancia do port-folio leva a carteiras pouco diversificadas e alguns estudos como Booth e Fama (1992) e Fernholtz et al. (1998) mostram que a diversifica¸c˜ao tende a gerar retornos maiores para os investidores. Nesse contexto, alguns estudos como Neukirch (2008) e Maillard et al. (2010) exploram a metodologia de igualdade entre as contribui¸c˜oes de risco dos ativos ao portfolio, bem mais complexa que as anteriores. Essa estrat´egia garante que todos ativos tenham o mesmo impacto sobre o risco total da carteira e tem a vantagem de gerar efeito semelhante `a metodologia de pesos iguais em termos de diversifica¸c˜ao, ao mesmo tempo que leva em conta as contribui¸c˜oes de risco individuais e conjuntas de cada ativo. De forma geral, quanto maior a volatilidade do ativo, menor ser´a o seu peso.

A constru¸c˜ao de um portfolio que segue essa estrat´egia passa pela seguinte condi¸c˜ao:

ωi ∂σ (ω) ∂ωi = ωj ∂σ (ω) ∂ωj , ∀i, j em que σ (ω) =ωTΣ ω = N X i=1 ωi ∂σ (ω) ∂ωi = N X i=1 RCi

onde ω ´e a matriz de pesos, σ ´e a volatilidade do portfolio, e Σ ´e a matriz de covariˆancia dos retornos dos ativos e RCi ´e a contribui¸c˜ao de risco do ativo i para o

Imagem

Figura 1: Rentabilidade Acumulada - Ln
Tabela 1: Rentabilidade Acumulada Anual e ao Final do Per´ıodo - %
Tabela 2: Estat´ısticas Descritivas - Ln (Retorno Di´ ario)
Figura 2: Histogramas - Ln (Retorno Di´ ario) e Ln (Retorno Acumulado em 50 dias)
+7

Referências

Documentos relacionados

Disciplinas CIÊNCIA POLÍTICA E TEORIA GERAL DO ESTADO I51 DIREITO CIVIL I51 ECONOMIA34 FILOSOFIA GERAL I34 FUNDAMENTOS DO DIREITO PÚBLICO I51 INTRODUÇÃO AO ESTUDO DO DIREITO

(grifos nossos). b) Em observância ao princípio da impessoalidade, a Administração não pode atuar com vistas a prejudicar ou beneficiar pessoas determinadas, vez que é

Para analisar as Componentes de Gestão foram utilizadas questões referentes à forma como o visitante considera as condições da ilha no momento da realização do

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

No processo da produção da tinta, foi utilizado o pó de carbono (pó de grafite), que apresenta baixo custo e facilidade de se encontrar no mercado, e um verniz

2 - OBJETIVOS O objetivo geral deste trabalho é avaliar o tratamento biológico anaeróbio de substrato sintético contendo feno!, sob condições mesofilicas, em um Reator

Assim, o presente trabalho surgiu com o objetivo de analisar e refletir sobre como o uso de novas tecnologias, em especial o data show, no ensino de Geografia nos dias atuais

Neste tipo de situações, os valores da propriedade cuisine da classe Restaurant deixam de ser apenas “valores” sem semântica a apresentar (possivelmente) numa caixa