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Arquitetura moderna em Belgrado : grupo de arquitetos do movimento moderno (1928-1934), projetos habitacionais

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Academic year: 2021

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Universidade de Brasília

Faculdade de Arquitetura e Urbanismo

Programa de Pesquisa e Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo

Sonja Vujnović Andrighetti

ARQUITETURA MODERNA EM BELGRADO:

Grupo de Arquitetos do Movimento Moderno (1928-1934),

projetos habitacionais

BRASÍLIA 2008

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Sonja Vujnović Andrighetti

ARQUITETURA MODERNA EM BELGRADO:

Grupo de Arquitetos do Movimento Moderno (1928-1934),

projetos habitacionais

Dissertação de mestrado apresentada ao Programa de Pesquisa e Pós-Graduação da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (PPG-FAU) da Universidade de Brasília, como parte das exigências para a obtenção do título de Mestre em Arquitetura e Urbanismo. Orientadora: Prof.ª Dr.ª Ana Elisabete de Almeida Medeiros

Dissertação aprovada em 10 de Março de 2008.

BANCA EXAMINADORA

Prof.ª Dr.ª Sylvia Ficher

Universidade de Brasília - UnB

Prof. Dr. Hugo Massaki Segawa Universidade de São Paulo - USP

Prof.ª Dr.ª Ana Elisabete de Almeida Medeiros Universidade de Brasília - UnB

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Za moje roditelje, Mirjanu i Dragana.

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AGRADECIMENTOS

Agradeço ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pelo apoio financeiro oferecido durante o período de estudo, permitindo uma maior dedicação.

À professora e orientadora Ana Elisabete, pelo apoio, leitura cuidadosa, crítica pertinente, confiança e envolvimento ao longo do desenvolvimento da dissertação. Aos demais professores da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo pelos conhecimentos transmitidos.

Aos funcionários da PPG-FAU pela ajuda nas questões administrativas e pela atenção. As minhas duas famílias: a sérvia, Mirjana e Dragan, Maja e Nikola, Ana e Nebojša; e a “brasileira”, Milan, Talita e Natália. A eles agradeço pelo todo o amor e carinho.

Ao Rivelino, pela confiança e amor, pela alegria, pela compreensão, por estar sempre disponível para me ouvir. Obrigada pela companhia nas viagens, na vida.

Ao amigo Bruno pelo interesse no meu trabalho. Às amigas Viviane e Hiatiane pela amizade.

À Mira ðelebñić, funcionária do Instituto para a Proteção de Monumentos Históricos em Belgrado, que gentilmente cedeu o seu tempo, agradeço pelo auxílio na pesquisa. Ao Pavle Stamenović, assistente na Faculdade de Arquitetura da Universidade de Belgrado, pela ajuda na procura de contatos e material bibliográfico.

Finalmente, a todos que, de alguma forma, ajudaram e apoiaram a realização deste trabalho, o meu mais sincero obrigada.

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OBSERVAÇÃO SOBRE PRONUNCIAÇÃO E TRADUÇÃO

A língua sérvia é uma língua eslava meridional. Possui dois alfabetos - o cirílico e o latino - ambos têm 30 letras, sendo que uma letra de um alfabeto tem uma correspondente no outro, apesar de a ordem das letras ser diferente.

Cirílico: А Б В Г Д Ђ Е Ж З И Ј К Л Љ М Н Њ О П Р С Т Ћ У Ф Х Ц Ч Џ Ш Latino: A B C Č Ć D Dž ð E F G H I J K L Lj M N Nj O P R S Š T U V Z Ž

O som das letras “ć” e “č” é parecido à /ȷ/, como na palavra “tchau”, enquanto pronuncia da letra “c” é /tç/, como em pizza. A letra “ñ” representa o som /ȵ/, como em “dia” no Sudeste do Brasil. Na lingua sérvia, “g” sempre tem o som de /g/ (como em gato). A letra “j”, como em Jan, é lida como “i”. “Lj” originou-se a partir da junção da letra el (Л) com a pronúncia suave (Ь) e tem o mesmo som da seqüência “lh”, como em milhão. A letra “nj” é o equivalente na língua portuguesa à seqüência “nh” em “senha”. A letra “š” é pronunciada como as letras “ch” em chocolate, por exemplo. A letra “ž”, pronunciada /Ȣ/, equivale à letra “j” na palavra “janeiro”.

Traduções de textos de publicações em sérvio são da autora, a não ser quando observado diferente.

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RESUMO

A dissertação aborda as origens do Movimento Moderno em Arquitetura na Sérvia, com interesse em desvendar a sua expressão e compreender os fatores que contribuíram para o seu surgimento, no contexto de um país situado em uma região da Europa Central que se submeteu às grandes transformações políticas, sociais e culturais desde o começo do século XX. Para tanto, introduz-se o Grupo de Arquitetos do Movimento Moderno (GAMM; 1928-1934), identificando a sua ideologia e participação na formação da Arquitetura Moderna na capital do país, Belgrado. Assim, com o intuito de caracterizar a nova arquitetura foi estabelecida uma análise sobre vinte obras habitacionais desenvolvidas pelos membros mais proeminentes do GAMM - os arquitetos Milan Zloković, Branislav Kojić, Jan Dubovy, Dušan Babić, Momčilo Belobrk, Petar Krstić, Branko Krstić e Dragiša Brašovan - durante os seis anos da atividade do Grupo. Estas foram registradas em fichas através de projetos, fotografias e imagens, após o que foram analisadas a partir da sua inserção no momento político, cultural e econômico específico da cidade. Estabelecidos os princípios e os aspectos formais que definiam a Arquitetura Moderna na Europa, foi possível delinear semelhanças, divergências e distorções na conformação dessas casas e edifícios habitacionais construídos em Belgrado durante o período entre 1928 a 1934. Pode ser argumentado que o Movimento Moderno no cenário arquitetônico de Belgrado não apresentou o seu propósito original, os aspectos mais restritos e as condições técnicas, considerando que os arquitetos do GAMM estiveram mais preocupados com a aparência dos edifícios do que com a sua essência.

Palavras-chave: Grupo de Arquitetos do Movimento Moderno; Arquitetura Moderna; Belgrado.

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ABSTRACT

This dissertation deals with the origins of the Modern Movement in Architecture in Serbia, the interest is to reveal its expression and understand the factors that contributed for its appearance, within the context of a country located in a region of Central Europe that was subjected to great political, social and cultural transformations since the beginning of the 20th century. Therefore, the Group of Architects of the Modern Movement (GAMM; 1928-1934) is introduced, identifying its ideology and participation in the formation of Modern Architecture in the country’s capital, Belgrade. Thus, with the intention of characterizing the new architecture it was established an analysis of twenty residential designs developed by the most prominent members of GAMM – the architects Milan Zloković, Branislav Kojić, Jan Dubovy, Dušan Babić, Momčilo Belobrk, Petar Krstić, Branko Krstić and Dragiša Brašovan – during six years of activity of the Group. These were registered in fiches by projects, photographs and pictures, succeeding the analysis by the insertion in the specific political, cultural and economic moment of the city. By establishing the principles and formal aspects that defined the Modern Architecture in Europe, it was possible to analyze the similarities, differences and distortions that the new architecture has suffered in those modern houses and building apartments constructed in Belgrade during the period from 1928 to 1934. It can be argued that the Modern Movement in the architectural scene of Belgrade did not present its original purposes, most strict aspects and technical conditions, in the way that the architects of GAMM were more preoccupied with the appearance of the buildings than to its essence.

Key-words: Group of Architects of the Modern Movement; Modern Architecture; Belgrade.

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KRATAK SADR

Ž

Ž

Ž

ŽAJ

Ova teza bavi se poreklom Modernog Pokreta u Arhitekturi u Srbiji, interes je ustanoviti svoj izražaji shvatiti činjenice koje su doprinele svom nastanku, unutar konteksta jedne države locirane u oblasti Centralne Evrope koja je bila izložena velikim političkim, socijalnim i kulturalnim transformacijama od početka 20-og veka. Radi toga, Grupa Arhitekata Modernog Pravca (GAMP; 1928-1934) je predstavljena, identifikovanjem njene ideologije i učestvovanjem na stvaranju Moderne Arhitekture u glavnom gradu države, Beogradu. Stoga, sa namerom da karakterizujemo novu arhitekturu bila je ustanovljena analiza dvadeset stambena projekta koji su razvili najznačajniji članovi GAMPa – arhitekte Milan Zloković, Branislav Kojić, Jan Dubovy, Dušan Babić, Momčilo Belobrk, Petar Krstić, Branko Krstić i Dragiša Brašovan – tokom šest godina aktivnosti Grupe. Ovi su zabeleženi kao fiše po projektima, fotografijama i crtežima, sledeći analizu koja je postavljena u poseban politički, socijalni i ekonomski momenat grada. Ustanovljavanjem osnova i formalnih odnosa koji su definisali Modernu Arhitekturu u Evropi, bilo je moguće analizirati sličnosti, razlike i izobličenja kroz koje je nova arhitektura prošla u tim modernim kućama i stambenim zgradama izgrañenim u Beogradu tokom perioda od 1928 do 1934. Može se argumentisati da Moderni Pokret u arhitektonskoj sceni u Beogradu nije prikazao svoje originalne namene, najstriktnije odnose i tehničke uslove, s obzirom da su arhitekte GAMPa više bili zabrinuti izgledom zgrada nego njihovom esencijom.

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LISTA DE ABREVIATURAS

CIAM Congresso Internacional de Arquitetura Moderna

CNPq Conselho Nacional de Desenvolvimento Cientifico e Tecnológico DOCOMOMO International Working Party for Documentation and Conservation

of Buildings, Sites and Neighbourhoods of the Modern Movement

GAMM Grupo de Arquitetos do Movimento Moderno OTAN Organização do Tratado do Atlântico Norte

PPG-FAU Programa de Pesquisa e Pós-Graduação da Faculdade de

Arquitetura e Urbanismo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO

11

CAP. I

MOVIMENTO MODERNO 15

1. Moderno, modernidade, modernismo 16

2. Movimento Moderno em Arquitetura 18

2.1. Habitação como programa por excelência 19

2.1.1. Europa Ocidental 21

2.1.2. Europa Oriental 27

2.2. Princípios e preceitos da Arquitetura Moderna 31

CAP. II

BELGRADO: ANTECEDENTES DA ARQUITETURA MODERNA 33

1. Panorama histórico introdutório 34

2. Primeira década após a I Guerra Mundial (1918-1928) 40

2.1. Problema habitacional 42

2.2. Movimentos de vanguarda 47

2.2.1. Surrealismo 48

2.2.2. Zenitismo 51

CAP. III

GRUPO DE ARQUITETOS DO MOVIMENTO MODERNO (1928-1934) 58

1. Da fundação à decadência 59

2. Arquitetos: vida e obra 70

3. Questão habitacional 84

4. Estudos de caso 88

4.1. Critérios de análise 89

4.2. Mapa de localização de obras 90

4.3. Fichas 91

CAP. IV ARQUITETURA HABITACIONAL MODERNA EM BELGRADO 154

CONCLUSÃO 169

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 174

LISTA DE FIGURAS 178

LISTA DE TABELAS 184

ANEXO 185

Anexo I: Revista “Zenit” 186

(11)

INTRODUÇÃO

“A memória, na qual cresce a história, que por sua vez a alimenta, procura salvar o passado para servir ao presente e ao futuro.”1

Nos últimos tempos, a arquitetura do Movimento Moderno tem assumido grande destaque, promovendo importantes investigações fundadas na reavaliação teórica do seu conteúdo. Particularmente, as obras concebidas e construídas nessa fase têm sido freqüentemente alvo de interessantes estudos nas áreas da crítica e da história. Todavia, a História da Arquitetura Moderna contada, até agora, parece ter ignorado a produção dos países Bálcãs. Aqui, o tormento do Comunismo, após a II Guerra Mundial, eliminou toda a análise histórica racional e objetiva da herança modernista que permanece, portanto, desconhecida.

A Arquitetura Moderna na Sérvia, apesar de estudada, sobretudo, em nível acadêmico, é ainda pouco divulgada em âmbito nacional e, principalmente, internacional, considerando-se seu valor arquitetônico, artístico, memorial.

Apenas recentemente o arquiteto Zoran Manević começou a se interessar fotograficamente sobre a obra produzida pelos arquitetos modernos sérvios. Os títulos literários que abordam esta temática tratam de estudos pontuais, em geral, sobre a vida e obra de alguns arquitetos. Entre os textos que proporcionam um panorama amplo sobre a produção arquitetônica do período destacam-se “História da Arquitetura Moderna, do historicismo ao modernismo”2, de Miloš Perović, e

“Arquitetura da Sérvia no século XX”3, de Bogdan Nestorović. Porém, no que se refere

especificamente ao Movimento Moderno, a situação é mais alarmante. Existe apenas um pequeno número de trabalhos que buscam examinar a Arquitetura Moderna sérvia, como é o caso do livro “Modernism in Serbia”4, de Ljiljana Blagojević.

De uma maneira geral, a produção modernista tem sido estudada sob algum aspecto particular, sobre a vida e obra de alguns arquitetos do período que atuavam em Belgrado, entre os quais podemos ressaltar “Branislav Kojić”5, de Snežana Toševa;

“Arquiteto Jan Dubovy”6, de Dijana Marić Milašinović; e “Vida e obra do arquiteto Milan

1 LE GOFF, Jacques. História e memória. Campinas: Editora da Unicamp, 2003, p. 471.

2 PEROVIĆ, Miloš, Istorija moderne arhitekture, od istoricizma do drugog modernizma (História da arquitetura moderna,

do historicismo ao segundo modernismo). Belgrado: Drasler Partner, 2003.

3 NESTOROVIĆ, Bogdan. Arhitektura Srbije u XX veku (Arquitetura da Sérvia no século XX). Belgrado: Art – press, 2006. 4 BLAGOJEVIĆ, Ljiljana. Modernism in Serbia: The elusive margins of Belgrade architecture, 1919–1941. Cambridge: MIT

Press, 2003.

5 TOŠEVA, Snežana. Branislav Kojić. Belgrado: Zadužbina Andrejević, 1998.

6 MILAŠINOVIĆ, Dijana Marić. Arhitekta Jan Dubovi (Arquiteto Jan Dubovy). Belgrado: Zadu

(12)

Zloković”7, de Marina ðurñević, além de alguns livros que versam sobre as obras

modernas em especial, como é o caso de “Arquitetura do edifício Generalštab”8, de

Bojan Kovačević. Estes trabalhos deixam claro que ainda existe uma lacuna na historiografia sobre a arquitetura na Sérvia, e expõem a necessidade de novas pesquisas e levantamentos que situem a produção modernista, por um lado, dentro do contexto sérvio e, por outro, no contexto internacional.

Atualmente, em um momento em que tem ocorrido uma revalorização do local em contraposição ao global, estamos (re)aprendendo a olhar para o patrimônio como um bem que representa identidade e que exalta o valor de uma cultura, de algo que é o retrato de um tempo histórico e das manifestações culturais a ele relacionados. Neste sentido, a herança arquitetônica de caráter moderno deixada aos sérvios está apenas começando a ser vista como um documento vivo do Movimento Moderno. Assim, o intuito da dissertação é colocar em foco a produção arquitetônica de uma geração de arquitetos cuja saída da condição de anonimato, atribuído pelas dificuldades das últimas décadas, impostas à Sérvia após o Partido Comunista assumir o poder em 1945, apenas se inicia.

Trata-se de um acervo arquitetônico, do final dos anos 1920 e começo dos anos 1930, atualmente em precário estado de preservação, ameaçado de degradação, descaracterização e destruição, quase não resistindo ao desgaste do tempo e ao assédio da especulação. É fato que a herança modernista é uma marca mais recente da identificação coletiva e da memória da sociedade e assim constitui um patrimônio mais difícil de ser reconhecido.

Em vista disso, a presente dissertação, “Arquitetura Moderna em Belgrado: Grupo de Arquitetos do Movimento Moderno (1928-1934), projetos habitacionais”, pretende contribuir para a escrita da história da Arquitetura Moderna na Sérvia, mais especificamente na sua capital, Belgrado, e servir como uma espécie de alerta quanto à necessidade de estudos, registros e ações preservacionistas voltadas para esta arquitetura. Considerando que este trabalho de pesquisa veio ao encontro de um questionamento a respeito das origens do Movimento Moderno arquitetônico na Sérvia, o seu interesse está em desvendar a sua expressão e compreender os fatores que contribuíram para o surgimento da Arquitetura Moderna, no contexto de um país situado em uma região da Europa Central que se submeteu às grandes mudanças e deslocamentos políticos, sociais e culturais desde o começo do século XX.

7 ðURðEVIĆ, Marina. Život i delo arhitekte Milana Zloković, 1965 (Vida e obra do arquiteto Milan Zloković,

1898-1965). Belgrado: Godišnjak grada Beograda, 1991.

8 KOVAČEVIĆ, Bojan. Arhitektura zgrade Generalštaba (Arquitetura do edifício Generalštab). Belgrado: Vojska, 2001. O

edifício Generalštab (Ministério da Defesa Nacional), projeto do arquiteto moderno Nikola Dobrović construído entre 1954-63, foi severamente destruído durante o bombardeio da OTAN, em 1999.

(13)

Portanto, averiguar como os princípios da Arquitetura Moderna da Europa do período entre-guerras foram adaptados à realidade sérvia motivou a realização desta dissertação. Todavia, este trabalho pretende tornar compreensível uma esfera, ainda mais particular: promover uma leitura do Movimento Moderno em Arquitetura em Belgrado por meio da análise do Grupo de Arquitetos do Movimento Moderno (GAMM), representado por Milan Zloković, Branislav Kojić, Jan Dubovy e Dušan Babić. Os quatro arquitetos, de descendências e formações acadêmicas variadas, tiveram por objetivo estabelecer uma identidade contemporânea para a arquitetura sérvia.

Considerando que um dos temas principais do Movimento Moderno foi o reestudo do programa básico da arquitetura – o habitar - através da prática de criação de novos espaços de moradia e da nova relação entre função e forma, a dissertação lança um olhar atento sobre Belgrado que, neste contexto, não foi uma exceção à regra. O espírito e caráter do Movimento Moderno na cidade, durante o período entre-guerras, realizaram-se primeiramente na arquitetura residencial. Aqui, também, a habitação foi o programa, por excelência, do Movimento Moderno. As casas construídas foram a prova de que a Arquitetura Moderna tornou-se suficientemente qualificada para começar a conquistar projetos maiores – edifícios públicos e privados.

Com o GAMM não foi diferente. Entre 1928 e 1934, seus fundadores e membros mais proeminentes produziram uma obra pouco numerosa, circunscrita a Belgrado, composta em sua maioria por residências uni-familiares e edifícios habitacionais, mas cuja importância, no contexto da sua produção, é inegável para a caracterização da Arquitetura Moderna na cidade.

Evidentemente, esta não é uma pesquisa conclusiva, mas se trata de uma discussão inicial que aborda o tema de forma exploratória e se enriquece pela geração de novos questionamentos. Através do exame das realizações do GAMM pode ser alcançado um quadro sobre a valorização e contribuição individual e geral dos seus arquitetos, que ainda não receberam o merecido reconhecimento e prestígio.

Para tanto, a dissertação está estruturada em quatro capítulos e organizada em tópicos. O primeiro capítulo é introdutório, foi desenvolvido com o objetivo de conceituar os termos “moderno”, “modernidade” e “modernismo”. Inicialmente, são apresentadas algumas reflexões de determinados autores que buscaram esclarecer esses termos, para que, nos capítulos seguintes, seja possível trabalhar com estes conceitos. Deste modo, segue-se a abordagem dos principais aspectos sobre o Movimento Moderno e seus desdobramentos na arquitetura. A ênfase pela arquitetura habitacional, no tópico seguinte, justifica-se pela ampla discussão em torno da problemática de moradias no período entre-guerras, objeto de interesse fundamental por parte dos arquitetos modernos. Para concluir o capítulo serão identificados os

(14)

princípios e preceitos gerais que definem a Arquitetura Moderna européia, sendo seguidos por vários arquitetos, das mais variadas escolas e tendências.

O conteúdo do segundo capítulo compreende, após situar a Sérvia e a sua capital dentro do mapa Europeu, o estudo sobre as condições sociais, políticas e econômicas em Belgrado, desde o momento da desintegração da Monarquia Austro-Húngara até a II Guerra Mundial; os antecedentes teóricos entendidos pelos movimentos de vanguarda, o Surrealismo e o Zenitismo; e a problematização da situação habitacional nos primeiros anos pós I Guerra Mundial. Deste modo, em se tratando de uma análise da produção de habitações modernas em Belgrado, o capítulo tem por objetivo vislumbrar os efeitos das políticas públicas e das condições econômicas, sócio-culturais e históricas apresentadas, esclarecendo assim as condicionantes que provocaram o surgimento do Movimento Moderno em Arquitetura, na cidade.

No terceiro capítulo introduz-se o Grupo de Arquitetos do Movimento Moderno, formado em 1928, identificando a sua ideologia e participação na formação da Arquitetura Moderna em Belgrado. Na seqüência, por meio do resgate das biografias pessoais, da trajetória profissional e das obras produzidas pelos fundadores do Grupo - Zloković, Kojić, Dubovy e Babić - além dos quatro membros mais proeminentes - Momčilo Belobrk, Petar Krstić, Branko Krstić e Dragiša Brašovan – são apontadas as influências na formação destes arquitetos. A incorporação desse instrumental, como base de dados organizada, caracteriza-se como uma etapa importante para futuros estudos da Arquitetura Moderna em Belgrado e, também, na Sérvia.

Após definir os critérios gerais para a análise a partir de um estudo histórico da questão e, sobretudo, da experiência européia, a seguir, são levantados e identificados, em forma de fichas e organizados cronologicamente, exemplares de arquitetura residencial realizados em Belgrado pelos arquitetos do GAMM ao longo do recorte temporal estabelecido. A maior parte das informações disponíveis sobre os projetos será apresentada em fichas individuais para cada obra, contendo, sempre que possível, plantas, cortes, fachadas, perspectivas e fotografias.

Sucedendo o panorama elaborado sobre algumas das obras projetadas pelos membros do Grupo, o quarto e último capítulo é composto pela caracterização da arquitetura residencial moderna em Belgrado a partir dos resultados de análise das fichas, ao inter-relacionar os princípios e preceitos definidos no primeiro capítulo, além de apontar dificuldades com as quais os arquitetos membros do GAMM se depararam ao tentar implementar estes princípios no contexto específico de Belgrado.

Por fim, na conclusão geral da dissertação são traçadas as inter-relações entre os capítulos.

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CAPÍTULO I

MOVIMENTO MODERNO

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1. MODERNO, MODERNIDADE, MODERNISMO

Em “História da Arquitetura Moderna”, Leonardo Benevolo afirma que o termo “Movimento Moderno” assumiu um significado bastante preciso em arquitetura.9

Kenneth Frampton, no livro “História Crítica da Arquitetura Moderna”, vem dizer-nos que “quanto mais rigorosa é nossa busca da origem da modernidade, mais remota nos parece estar esta”, sendo que ele chega a remeter-nos a meados do século XVII, quando uma nova visão da história levou os arquitetos a questionarem os cânones clássicos de Vitrúvio.10

Percebe-se aqui os esforços de delimitação da idéia de Movimento Moderno em Arquitetura, que muitas vezes conduz para a pesquisa de outros conceitos como modernidade, moderno e modernismo. Estes têm, pela própria natureza do que envolvem, uma trajetória histórica muito ampla e por vezes confusa. Portanto, para que possamos abordar tais conceitos no campo de arquitetura com o mínimo de ambigüidade, na dissertação será utilizada a compreensão de Hilde Heynen sobre a modernidade.

Segundo ela o conceito refere-se à nova condição de vida instaurada pelo processo sócio-econômico de modernização imposto aos indivíduos, trazendo como conseqüência, não somente o rompimento com a tradição, mas, sobretudo, a transformação do modo de vida e dos hábitos cotidianos.11 Estes efeitos refletem no

corpo de idéias artísticas e intelectuais e nos movimentos que tratam sobre o processo de modernização e a experiência da modernidade. De acordo com Heynen:

“As aceleradas mudanças nos valores tradicionais e nas condições de vida que são trazidas pela modernidade induzem indivíduos a experimentar uma cisão entre seu mundo interior e o procedimento padrão requisitado a eles pela sociedade. Modernos indivíduos experimentando a si mesmos como desenraizados, não estão em harmonia consigo mesmos e necessitam da construção clara de referências, de normas e formas como havia na sociedade onde prevalecia a tradição.”12

Verificou-se que qualquer definição atribuída ao Modernismo, remetia sempre a outra indagação do que se poderia entender por moderno. Esta terminologia, muitas vezes empregada com imprecisão, foi bem definida por José Teixeira Coelho Netto em sua obra “Moderno, pós Moderno: modos e versões”:

9 BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perspectiva, 1998.

10 FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p.IX. 11 HEYNEN, Hilde. Architecture and modernity: A critique. Cambridge: MIT Press, 1999.

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“Moderno é termo dêitico, termo que designa alguma coisa mostrando-a, sem conceituá-la; que aponta para ela mas não a define; indica-a, sem simbolizá-la. Moderno é assim, um índice, tipo de signo que veicula uma significação para alguém a partir de uma realidade concreta em sua situação e na dependência da experiência prévia que esse alguém possa ter tido em situações análogas.”13

Assim, o conceito de “moderno” relaciona-se com a questão temporal, possui um significado aberto e passa a designar o novo, o desconhecido, o estranho. Enquanto que o Modernismo foi definido por ele como “uma linguagem, um código, um sistema ou um conjunto de normas e uma unidade de significação”.14 Em suma, pode-se

entender o Modernismo como uma reflexão cultural da modernidade no século XX. Assim sendo, para evitar qualquer ambigüidade que estes conceitos possam trazer, na dissertação optamos pelo uso dos termos “Movimento Moderno em Arquitetura” e “Arquitetura Moderna”, entendendo que se refiram a uma tendência arquitetônica com delimitações temporais e definições instituídas tal e qual definidos no capítulo que se segue. Compreende-se que os outros conceitos, sendo possíveis substitutos para esta idéia, são atemporais, que dependem de uma ampla argumentação para sua delimitação, o que não é objetivo deste trabalho.

13 COELHO NETTO, José Teixeira. Moderno pós Moderno: Modos e versões. São Paulo: Iluminuras, 1995, p.13. 14 Idem, p.13.

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2. MOVIMENTO MODERNO EM ARQUITETURA

O Movimento Moderno surgiu na Europa em resposta a um determinado contexto marcado pelo fim da I Guerra Mundial (1914-1917), a formação da sociedade industrial e o acelerado processo de urbanização.15 Após o conflito armado, os países atingidos apresentavam a economia deprimida enquanto a sociedade estava desorganizada.

Esta situação provocou o desejo urgente pela transformação das relações sociais e do ambiente, em busca de uma vida melhor. Intelectuais, arquitetos e urbanistas uniram-se em torno da vontade de implementar tais transformações, empreendendo uma verdadeira revolução arquitetônica. Entretanto, nos primeiros anos do pós-guerra, devido à situação limitada pela escassez econômica de capital público, os arquitetos se viram obrigados a buscar a redução do esforço econômico e a maximização dos benefícios sociais.

Dentro deste contexto, os meios de industrialização e as inovações tecnológicas exerceram papéis fundamentais ao se apresentarem como instrumentos de diminuição de custo e socialização no processo de produção da Arquitetura Moderna. Além de, sobretudo, proporcionar os elementos de composição e as técnicas de construção revolucionárias, sendo responsáveis pela nova linguagem formal arquitetônica inaugurada pelo Movimento Moderno.

O Movimento levou a modernidade à arquitetura e urbanismo ao tentar unificar a arte, a funcionalidade e a técnica em atendimento às demandas sociais. Este conjunto de idéias viu na arquitetura a síntese de todas as artes, visto que é ela quem define e dá lugar aos acontecimentos da vida cotidiana. Deste modo, o campo da arquitetura compreendeu todo o ambiente habitável, desde os utensílios de uso doméstico até cidades inteiras.

Resultado do contexto histórico que vivia a Europa, nas décadas 1920 e 1930, a Arquitetura Moderna surgiu quase como um dogma a ser seguido pela geração do período entre-guerras. Assim sendo, legitimado pela situação sócio-econômica vivida pela população subseqüente a I Guerra Mundial, os arquitetos modernos fizeram do programa habitacional o ponto fundamental do debate e das realizações do Movimento Moderno em Arquitetura.

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2.1. Habitação como o programa por excelência

A partir da segunda metade do século XIX, o impulso da industrialização, o progresso da engenharia, o desenvolvimento de transporte e os grandes deslocamentos populacionais para as cidades, transformaram as condições da vida urbana na Europa. Entretanto, é apenas com o advento da I Guerra Mundial que o tema habitacional se torna objeto de preocupação arquitetônica.

“As destruições bélicas e sobretudo a parada das atividades produtivas durante a guerra impõem graves e urgentes tarefas de reconstrução. Onde quer que o problema de moradias já se encontrava presente antes da guerra, este se torna agudo no pós-guerra, e sobretudo depois de alguns anos, graças à retomada do crescimento demográfico.”16

Assim, no início dos anos 1920, o Movimento Moderno em Arquitetura na Europa teve por interesse as preocupações sociais, com ênfase no atendimento às demandas da produção em massa, relacionadas à urbanização e à industrialização. Nesse sentido, a habitação tornou-se objeto de importância fundamental por parte dos arquitetos modernos. Segundo Kopp, a própria concepção da habitação precisaria ser revista para que fosse possível cobrir o déficit acumulado durante a guerra e substituir os cortiços operários do século XIX.

“Foi o levar em consideração, sob o prisma da arquitetura e do urbanismo, as condições de vida e também das aspirações daqueles para os quais não existira outra arquitetura além daquela imaginada e desejada por seus empregadores ou por aqueles que especulavam com sua miséria - vilas operárias, cortiços, casas de aluguel em Berlim, etc - que fez com que para os ‘novos arquitetos’ dos anos vinte o moderno não fosse um estilo mas sim uma causa.”17

Os arquitetos modernos aceitaram a responsabilidade de promover as transformações sociais, onde a arquitetura deveria satisfazer às necessidades funcionais exigidas. Empenharam-se em resolver os problemas quantitativos das massas proletárias em relação à arquitetura e ao urbanismo, através da tipificação e da produção industrial dos materiais de construção, influenciando e, de alguma forma, determinando a realização de inúmeras construções, promovendo o desenvolvimento e o aprimoramento do campo habitacional.

Neste contexto de solo fértil para arquitetura, nas primeiras duas décadas do século XX, foram realizadas experiências em grande parte da Europa, entre as quais

16 BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perspectiva, 1998, p. 390. 17 KOPP. Anatole. Quando o moderno não era um estilo e sim uma causa. São Paulo: Nobel, 1990, p. 26.

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destacam-se o Construtivismo na União Soviética; o Neues Bauen, na Alemanha; o De Stijl na Holanda e o L’Espirit nouveau, na França.18 Seus artistas e arquitetos buscavam

aliar diversas manifestações artísticas, em especial a pintura e escultura, com a arquitetura, sob as novas possibilidades construtivas dos materiais industrializados tais como o vidro, ferro e concreto. Desenvolveram extensas conexões internacionais, o que os levou a conceber uma arquitetura socialmente engajada.

Considerando que as fronteiras que definem a Europa estão sujeitas à consideráveis flutuações e sobreposições, para a identificação dos princípios e preceitos que guiaram a Arquitetura Moderna, nesta dissertação será empregada a classificação do “The New York Times Almanac 2007”, no qual a Europa está dividida em Oriental – composta por Sérvia, Montenegro, Romênia, Bulgária, Croácia, Bósnia e Herzegovina, Macedônia, Grécia, República Tcheca, Eslováquia, Eslovênia, Húngria, Polônia, Ucrânia, Albânia e pelas repúblicas que constituíam a antiga União Soviética - e Ocidental, que compreende Áustria, Bélgica, França, Alemanha, Países Baixos (Holanda), Suíça, Luxemburgo, Mônaco, Irlanda, Reino Unido, Dinamarca, Noruega, Itália, Portugal e Espanha.

2.1. Divisão entre Europa Ocidental (cinza escuro) e Oriental (laranja). Fonte: The New York Times Almanac 2007.

18 KOCH, Wilfried. Estilos de arquitetura II: A arquitetura européia da antiguidade aos nossos dias. São Paulo: Martins

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2.1.1. Europa Ocidental

O papel da Alemanha na discussão e produção da habitação social foi significante para a produção arquitetônica na Europa Ocidental. Entretanto este foi proeminente mesmo antes da I Guerra Mundial, quando as condições de vida dos operários, funcionários e empregados eram preocupantes, e, particularmente, no período pós-guerra no qual essas condições foram ainda mais degradadas. A paralisia da construção civil, o incremento dos índices de matrimônio, a natividade e o afluxo populacional fizeram aumentar de forma exponencial a escassez de moradias nos grandes centros urbanos. Durante o breve período da existência da República de Weimar19 (1919-1933)

apareceram os arquitetos do Neues Bauen, como Walter Gropius, Ludwig Mies van der Rohe, Ernst May, Hannes Meyer, entre outros, que viam como a finalidade da nova arquitetura a melhoria das condições de vida da coletividade e a transformação da sociedade. Assim, a habitação tornou-se o tema principal entre os arquitetos alemães, que tiveram como idéias comuns o funcionalismo e a industrialização. Começavam a ser desenvolvidas uma série de experiências e tentativas orientadas para a questão da habitação e da cidade. Com esse objetivo, foi pesquisado o conceito de Existenzminimum20, declarando que os conhecimentos técnicos deviam ser aplicados

para melhorar as condições de vida do conjunto da sociedade e não apenas da elite. Os esforços destes criadores, destinados a encontrar uma linguagem para a nova era industrial, culminaram na obra de Walter Gropius, designado diretor da Escola Bauhaus21. A experiência da Bauhaus foi decisiva para o desenvolvimento de uma

linhagem racionalista no campo da arquitetura. As pesquisas formais e as tendências construtivistas realizadas com o máximo de economia na utilização do solo e na construção; a atenção às características específicas de diferentes materiais (madeira, ferro, vidro, metais), a idéia de que a forma artística deriva de um método ou problema previamente definido, o que leva à correspondência entre forma e função; e o recurso permanente às novas tecnologias estão entre os principais postulados da Escola. A tendência consolidou-se com os Siedlungen, grandes conjuntos habitacionais que comportavam centenas de habitações e equipamentos coletivos que eram, no que se refere a sua arquitetura e composição de construção, resultado dos novos métodos de concepção arquitetônica: científicos e higienistas. Assim, em 1927, Mies van der Rohe

19 Para resolver o problema de moradias existente, entre 1927 e 1931, a República de Weimar subsidiou o projeto e a

construção de em torno de um milhão de habitações. FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p.169.

20 Habitações de mínimo custo econômico desenhadas para proporcionar o máximo conforto.

21 A Bauhaus foi uma escola de design, artes plásticas e arquitectura de vanguarda que funcionou entre 1919 e 1933 na

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dirigiu a implantação da Weissenhofsiedlung22, em Stuttgart. Nesse conjunto de

edificações, o arquiteto projetou um prédio de apartamentos de habitações mínimas, explorando ao máximo a estrutura independente e demonstrando diferentes distribuições possíveis em cada unidade habitacional apenas com o deslocamento de divisórias móveis. Defendendo o fator econômico como sendo imperativo, Mies incorporou o conceito da flexibilidade e multifuncionalidade possibilitadas pela padronização e racionalização das habitações. 23

2.2. Weissenhofsiedlung (1927), de Ludwig Mies van der Rohe, em Stuttgart; 2.3. Weissenhofsiedlung (1927), plantas baixas.

Fonte: <http://soa.syr.edu/faculty/bcoleman/arc523/lectures/523.lecture.housing.packages.html>. Acessado em: 25 out 2007.

Mies van der Rohe procurou sempre uma abordagem racional que pudesse guiar o processo de projeto arquitectónico. Sua concepção dos espaços arquitetônicos envolvia uma profunda depuração da forma, voltada sempre às necessidades impostas pelo lugar, segundo o preceito do minimalismo “menos é mais”.

O rompimento com a história também fez parte do discurso de Adolf Loos. O arquiteto nascido na República Tcheca, exerceu a sua profissão na Áustria. É considerado o precursor do Movimento Moderno devido à publicação dos seus textos que foram reunidos no livro “Ornamento e crime”, em 1908. A coletânea foi a primeira a criticar o que Loos acreditava ser uma arquitetura preocupada com o supérfluo e o superficial, ele nunca condenou o ornamento em si, mas sim a sua utilização epidérmica e desligada da realidade funcional e construtiva dos edifícios.

Foi pioneiro na negação do papel da intuição artística na procura de um estilo, confiava mais nas formas fundamentais usadas pelo homem desde os seus primórdios. Precursor da nova objetividade, procurou sempre a solução mais simples para seus

22 Na construção deste conjunto de protótipos habitacionais participaram vários membros do Deutsche Werkbund além de

Le Corbusier, Mart Stam, J. P. Oud e Vitor Bougeois. BENEVOLO, Leonardo. História da Arquitetura Moderna. São Paulo: Perspectiva, 1998.

23 MIES VAN DER ROHE, Ludwig. Remarks on my block of flats, 1927, In: BENTON, Tim e Charlotte; SHARP, Dennis. Form and

function: A source book for the history of architecture and design, 1890-1939. Londres: Granada Publishing, 1980,

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projetos e métodos de construção, empregando apenas ocasionalmente motivos ornamentais como elementos articuladores.

Nesta concepção arquitetônica baseada na funcionalidade, o arquiteto desenvolveu o Raumplan, a planificação do espaço que poderá ser traduzida em planta baixa. Observa-se, entretanto, que esta idéia nunca foi desenvolvida por Loos em uma teoria formal. Esta concepção espacial reflete-se na sua arquitetura exercida através do jogo de interiores, no qual a hierarquização dos diferentes ambientes é produzida pela mudança de materiais e pelos diferentes níveis e alturas das divisões. Portanto, esta conjugação de espaços de distintas alturas no interior é o que caracteriza o Raumplan. O seu objetivo é, sobretudo, diferenciar graus de intimidade dos espaços através de alturas distintas e em distinguir zonas dentro da casa que, pela sua finalidade, adquirem assim cada uma um caráter próprio.24 Deste modo, os espaços menores

produziam ambientes mais íntimos, os mais amplos introduziam o caráter de convívio, enquanto os mezaninos confluíam áreas distintas formando um terceiro nível virtual, a combinação dos dois que o constituem. Em 1910, Loos realizou a Casa Steiner, em Viena, que representa a primeira de uma série de habitações nas quais o arquiteto desenvolveu a concepção do Raumplan.

2.4. Fachada principal da Casa Steiner (1910), Adolf Loos, Viena. Fonte: BENEVOLO, 1998; 2.5. Casa Steiner (1910), corte e

planta baixa. Fonte: <http://www.educatorium.com/projetos>. Acessado em: 20 set 2007.

Exteriormente as obras arquitetônicas de Loos foram marcadas pelo jogo de volumes que aparentam ser caixas fechadas, com recortes puros das janelas, que eram vistas por ele apenas como uma fonte de luz, sendo estas geralmente opacas ou fechadas por cortinas translúcidas, formando uma barreira. Assim, o exterior era apenas o invólucro, sendo impossibilitada qualquer comunicação com o interior. De acordo com

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o arquiteto, a “casa não tem que dizer nada ao exterior; pelo contrário, toda a sua riqueza deve manifestar-se no interior”.25

Enquanto isso, nas primeiras décadas do século XX, na Holanda surgiu o movimento de arte e arquitetura De Stijl, articulado pela revista do mesmo nome (1917-1928). Nela Theo van Doesburg publicava artigos sobre uma composição puramente tipográfica e rejeitara a inclusão de ornamentos. Entre seus colaboradores estavam Piet Mondrian, Bart van der Leck, Gerrit Rietveld, entre outros. O movimento holandês valorizava a pureza das cores primárias, a retangularidade, o alinhamento visual, a precisão geométrica e o equilíbrio, exemplificado nas pinturas abstratas de Mondrian. De Stijl deixou poucas obras construídas; contudo, a influência da sua ideologia foi significativa. Em 1924, Rietveld projetou a Residência Schröder, localizada em Utrecht, Com formas geométricas, porém assimétricas, representa um marco da Arquitetura Moderna, satisfazendo essencialmente as idéias e conceitos defendidos por De Stijl. Os “Dezesseis pontos de uma arquitetura plástica”26, publicados por Doesburg na mesma

época da construção, encontram-se aqui representados. Assim, a residência

correspondia aos ditames de elementaridade, economia, funcionalidade, não-monumentalidade, dinâmica, sendo a construção cúbica em sua forma e anti-decorativa na sua cor.27

2.6. Residência Schröder (1924), Gerrit Rietveld, Utrecht; 2.7. Planta baixa do andar superior “fechado” e “aberto”. Fonte:

FRAMPTON, 1996.

Durante esse período, nas décadas de 1920 e 1930, países europeus como França e Inglaterra ainda estavam dominados por arquitetos construindo no estilo Art Deco. Uma das exceções foi o franco-suíço Charles-Édouard Jeanneret, mais conhecido pelo pseudônimo de Le Corbusier, discípulo de Auguste Perret e Peter Behrens, cujas idéias

25 APUD, COLOMINA, Beatriz. Privacy and publicity: Modern architecture as mass media. Cambridge: MIT Press, 1996. 26 Naar een beeldende architectuur.

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sobre o habitar moderno foram difundidas na França. Porém, ao contrário do contexto alemão, a contribuição das primeiras obras de Le Corbusier na França, durante a década de 1920, não se aplica aos conjuntos habitacionais, demonstrando preferência por habitações uni-familiares.

Deste modo, nos seus primeiros projetos modernistas, o arquiteto adotou a continuidade espacial como determinante, propondo a superposição de funções nos ambientes e o enxugamento do programa de necessidades.28 Em 1915, juntamente

com o engenheiro suíço Max du Bois, Le Corbusier desenvolveu o protótipo “Casa Dom-Ino”, no qual a estrutura de concreto armado era o elemento mais expressivo, evidenciando o método construtivo e servindo-se do sistema Hennebique29, que se

tornaria a base estrutural da nova arquitetura.

2.8. Protótipo “Maison Dom-Ino” (1915); 2.9. Casa Citrohan, perspectiva, planta baixa do térreo e do primeiro pavimento.

(1920-22). Fonte: FRAMPTON, 1997.

A partir de elementos padronizados, os pisos, colunas, escadas e esquadrias, formava-se a planta livre, permitindo uma variedade de configurações internas e externas, além da liberdade na orientação. Seu interior seria composto por divisórias leves e por portas e armários embutidos produzidos em série pela indústria.

Mais tarde, Le Corbusier desenvolveu a Casa Citrohan (1920-22), chamada assim em analogia à marca de automóveis Citroën. Defendendo sua produção em série como um automóvel, o arquiteto pensou a sua organização interna como uma cabine de navio, não pelo tamanho, mas devido a racionalização do espaço. A casa também empregou o sistema estrutural Hennebique para projetar o longo volume retilíneo com duas paredes laterais de suporte da estrutura e duas extremidades abertas que apresentavam uma única e ampla janela a fim de garantir a ventilação e iluminação. Estas novas propostas estéticas de Le Corbusier que surgiram no meio arquitetônico europeu e a polêmica gerada pelas suas idéias apareceram na publicação de artigos na revista “L’Esprit Nouveau” no inicio da década de 1920, que depois foram reunidos no

28 LEMOS, Carlos Alberto Cerqueira. História da casa brasileira. São Paulo: Contexto, 1989, pp. 70-74.

29 O Sistema Hennebique data de 1892. O seu sistema estrutural em concreto armado é caracterizado pela introdução de

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livro “Vers une Architecture”30 (1923), no qual aparece a sua crítica aos arquitetos

historicistas e a valorização do trabalho técnico, simples e racional do engenheiro. Le Corbusier escreveu:

“Se eliminarmos de nossos corações e mentes todos os conceitos mortos a propósito das casas e examinarmos a questão a partir de um ponto de vista crítico e objetivo, chegaremos à ‘Máquina de morar’, a casa de produção em série, saudável (também moralmente) e bela como são as ferramentas e os instrumentos de trabalho que acompanham nossa existência.” 31

Quando afirmou que a “casa é uma máquina de habitar", Le Corbusier não apenas proclamou um princípio estético, como reconheceu, na sua admiração pela engenharia, a integração indispensável dos sistemas na construção moderna.32 Decorrente disso,

durante a década de 1920, o arquiteto projetou uma série de residências uni-familiares para clientes que, igual ao arquiteto, entendiam que a habitação moderna devia ser uma machine à habiter. Seus estudos para estruturas independentes de pilares e lajes o levaram a formular, em 1927, os "5 Points d’une architecture nouvelle”33. Estes foram:

1. Pilotis, a sua função era elevar a edificação e liberar o solo para o automóvel;

2. Planta livre, resultado direto da separação entre estruturas e vedações, foi possibilitada através dela maior diversidade dos espaços internos e a flexibilidade na sua articulação;

3. Fachada livre, também permitida pela independência entre a estrutura e a vedação, possibilitando a máxima abertura das paredes externas em vidro, em contraposição às maciças alvenarias que anteriormente recebiam todos os esforços estruturais dos edifícios;

4. Janela em fita, mais uma conseqüência da independência entre a estrutura e as vedações, compreendeu uma abertura longilínea que corta toda a extensão do edifício, permitindo iluminação mais uniforme e vistas panorâmicas do exterior; e

5. Terraço jardim, ou seja, as coberturas foram transformadas em terraços habitáveis, em contraposição aos telhados inclinados das construções tradicionais, ganhando uma aparência nova, abstrata e geométrica.

30 CORBUSIER, Le. Vers une Architecture. Paris: Flammarion, 1923.

31 CORBUSIER, Le. Vers une Architecture. Paris: Flammarion, 1923. APUD, FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da

Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p.183.

32 Segundo Frampton, a idéia da “maquina de se viver” também foi desenvolvida nas casas experimentais da Bauhaus

(1922-23), nas quais o acabamento mais refinado e o mobiliário foram projetados para poupar trabalho, de modo que, a casa tornasse uma Wohnmaschine, ou seja “máquina de se viver”. FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura

Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p.152.

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Os cinco pontos orientaram de modo parcial a concepção das primeiras casas projetadas por Le Corbusier, sendo materializados integralmente no conjunto habitacional Weissenhof (1927) e na Villa Savoye (1928-29), localizada em Poissy-sur-Seine, na região parisiense. Estas duas obras apresentam o andar principal sobre pilotis sendo separado do chão; a planta livre sem nenhuma subordinação à estrutura e a conseqüente fachada livre; a utilização de janelas horizontais para a entrada da iluminação natural; e a disposição dos terraços ajardinados de modo que permitam a vida ao ar livre.

2.10. Conjunto habitacional Weissenhof (1927), Le Corbusier, Stuttgart.; 2.11. Villa Savoye (1928-29), Le Corbusier, em

Poissy-sur-Seine. Fonte: <http://villa-savoye.monuments-nationaux.fr/>. Acessado em: 25 out 2007.

2.1.2. Europa Oriental

A União Soviética dos primeiros anos do século XX representava uma sociedade de contrastes agudos, rebeliões culturais e políticas, atraso e opressão. No entanto, com a vitória dos bolcheviques após a Revolução de Outubro de 1917, o poder passou “às mãos dos representantes daqueles para quem não existia até então nem arquitetura nem urbanismo.”34 A revolução, além de propor a transformação das estruturas

políticas, econômicas e sociais da secular sociedade feudal Czarista, também constituiu premissas para a reconstrução do modo de vida, o que seria uma das tarefas mais importantes que se conferiram aos artistas em geral e aos arquitetos em particular.

Como decorrência surgiu o movimento de vanguarda, o Construtivismo soviético, que divulgou idéias revolucionárias no campo da arquitetura e do urbanismo. Teve origem

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em 1920 através do “Manifesto Realista”, escrito por Anton Pevsner e Naum Gabo, e a publicação do livro de Alexei Gan, intitulado “O Construtivismo”35, em 1922. Através

de pesquisas os percussores do movimento almejavam romper com as tradições, participando diretamente da revolução cultural, conscientizando a coletividade. Deste modo, as décadas de 1920 e 1930 foram marcadas pela transição da pesquisa de formas expressivas às buscas mais complexas de um conteúdo novo para a arquitetura soviética. Para os construtivistas:

“a meta (objetivo, programa, intenção) não é a execução de uma encomenda enquanto tal, mas sim o trabalho comum com o proletariado, a participação na empreitada da edificação de uma nova vida, de um novo modo de vida”.36

Na busca desse “novo modo de vida”, em 1928, o Comitê de Construção do Conselho Econômico da União Soviética formou um grupo de pesquisa, sob a liderança do arquiteto Moisei Ginzburg, cujo objetivo era estudar a padronização da moradia. Deste modo, foram desenvolvidas uma série de unidades entre 27 e 30 metros quadrados que formavam os dom-komunna, ou seja, as residências comunais somadas aos equipamentos coletivos. Sendo exemplar o edifício projetado por Ginzburg e Ignaty Millins para os funcionários do Comissariado Popular das Finanças, chamado de “Narkomfin”, construído em Moscou no período entre 1928-1929.37

2.12. Edifício “Narkomfin” (1928-29), perspectiva. Fonte: BENEVOLO, 1998.

Embora a experiência do dom-kommuna não ter sido bem-sucedida, não somente pela falta de aceitação social, mas também pela instabilidade política e econômica que se seguiu à revolução não permitindo que fossem realizados muitos projetos pelos arquitetos, o Construtivismo soviético apresentou um papel importante na discussão sobre as novas formas de habitar, manifestando o caráter revolucionário dessa arquitetura.38

Contrário à experiência russa, na Tchecoslováquia a classe média freqüentemente buscou reconhecidos arquitetos estrangeiros que eram convidados a projetar e

35 GAN, Alexei. Konstruktivizm. Tver: Tverskoe izdatelstvo, 1922. 36 Editores. SA (Sovremennaya Arkhitektura), Moscou, n°. 5, 1928.

37 FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997, pp. 208-210. 38 Idem, pp. 212-213.

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construir novas casas e edifícios comerciais. Entre estes, destacam-se a Residência Müller (1930) de Loos, realizada em Praga - caracterizada pelo deslocamento nos níveis dos pavimentos, o Raumplan -e a Casa Tugendhat, em Brno, projetada em 1929 por Mies van der Rohe, sendo esta o primeiro monumento da Arquitetura Moderna construído na Tchecoslováquia, nela o arquiteto alemão adaptou a concepção espacial do Pavilhão Alemão de Barcelona, uma estrutura temporária para a exposição de 1929, a um programa residencial.39 O esqueleto de aço, decorado pelas janelas que vão do

teto até chão e por colunas esguias e cromadas que suportam os andares individuais, possibilitou a ligação entre a sala com o jardim num conjunto único.

2.13. Casa Müller (1930), Adolf Loos, Praga. Fonte: LESNIKOWSKI, 1996; 2.14. Casa Tugendhat (1929-30), Ludwig Mies van

der Rohe, Brno. Fonte: LESNIKOWSKI, 1996.

Enquanto isso, os arquitetos tchecoslovacos apresentavam uma posição especial no Movimento Moderno europeu, eles não iniciaram os movimentos vanguardistas nem desenvolveram teorias extremas como os construtivistas russos ou os representantes da Arquitetura Moderna na Alemanha. Porém, devido às influências estrangeiras e ao talento dos próprios arquitetos, a nova arquitetura gradualmente tornou-se representativa no país, e ao final dos anos 1920 foi concretizado um grande número de edifícios públicos e privados.40

Em 1928, semelhante à exposição organizada pelo Deutsche Werkbund em Stuttgart, foi realizada a primeira exibição habitacional pelo Werkbund tchecoslovaco em Brno, denominado “Nova Casa”41. Por ser executada sem o apoio financeiro das autoridades

locais, foram construídas residências uni-familiares para as classes média e alta. As 16 edificações apresentavam características funcionalistas com geometria clara nas fachadas e janelas em fita horizontais, sendo assim, esta branca arquitetura abstrata provocou uma reação negativa do público em geral. Mas, apesar da iniciativa em

39 FRAMPTON, Kenneth. História Crítica da Arquitetura Moderna. São Paulo: Martins Fontes, 1997, p.198.

40 LESNIKOWSKI, Wojciech G. East European modernism: Architecture in Czechoslovakia, Hungary, and Poland between

the wars. New York: Rizzoli International Publications, Inc., 1996, p.59.

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construir as residências não ser bem-sucedida, a exibição foi importante, pois causou impacto no desenvolvimento da Arquitetura Moderna no país.42

Em 1932 aconteceu a segunda exposição habitacional em Praga, também com financiamento privado e a conseqüente construção de casas uni-familiares. Destas destacam-se três projetos do arquiteto Ladislav Žák, as residências Dr. Karel Herain (1932), Professor Čenêk (1932) e Dr. Zaorálek (1932), que apresentam um espaço de estar longitudinal no térreo e dormitórios distribuídos como cabines de navio no pavimento superior.

2.15. Casa tripla (1928), Bohuslav Fuchs e Josef Štepánek, Brno; 2.16. Residência Dr. Karel Herain (1932), Ladislav Žák, Praga. Fonte: LESNIKOWSKI, 1996.

Os arquitetos húngaros, também influenciados pela obra de Adolf Loos, Otto Wagner, Josef Hoffmann e outros, estavam afastando-se do Ecletismo e dos excessos do Art Nouevau. Os mais proeminentes foram Farkas Molnár, József Fisher e Lajos Kozma. Nas suas obras destaca-se o emprego de janelas em fita horizontais e superfícies brancas, sendo exemplares a Casa na Rua Cserje (1931) de Molnár e o edifício de apartamentos na Rua Lotz Károly (1933) de Fisher, ambas construidas em Budapeste.

2.17. Casa na Rua Cserje (1931), Farkas Molnár, Budapeste; 2.18. Casa na Rua Csatárska (1932), József Fisher, Budapeste.

Fonte: LESNIKOWSKI, 1996.

42 LESNIKOWSKI, Wojciech G. East European modernism: Architecture in Czechoslovakia, Hungary, and Poland between

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Sendo assim, estes dados coletados mostram que os jovens arquitetos modernos na Húngria não projetavam edifícios nos quais poderia ser concretizada a sua ideologia social, diferente da Polônia onde a Arquitetura Moderna estava associada com a criação de habitações para as massas urbanas despovidas de condições adequadas de moradia. Entretanto, ao mesmo passo da pesquisa e construção de grandes conjuntos habitacionais pelos arquitetos modernos poloneses foi erguido um grande número de edifícios habitacionais e residências para as classes média e alta.

2.19. Colônia habitacional VII (1930-34), Bárbara e Stanislaw Brukalski, Varsóvia; 2.20. Residência uni-familiar na Rua

Čocimska (1935), Lucian Korngold, Varsóvia. Fonte: LESNIKOWSKI, 1996.

2.2. Princípios e preceitos da Arquitetura Moderna

Estas fontes tão diversas promoveram contatos nacionais e internacionais, através de publicações e organização de exibições e conferências. Tiveram por objetivo criar um fórum internacional para debater e propagar questões ligadas à Arquitetura Moderna. Assim, estes grupos de diferentes formações e procedências encontraram nos Congressos Internacionais de Arquitetura Moderna43 (CIAM) um instrumento de

convergência.

Produziram um ideário de aparência homogênea resultando no estabelecimento de alguns pontos comuns, traçando deste modo as diretrizes para a arquitetura e o urbanismo modernos. Ainda, nos CIAMs estava em discussão de que modo o paradigma da arquitetura do Movimento Moderno poderia responder aos problemas causados pelo rápido crescimento das cidades, causado, entre outros fatores, pela mecanização na produção e as mudanças no transporte. Graças aos CIAMs e outras organizações nacionais os arquitetos modernos tiveram a oportunidade de difundir e compartilhar informações. Deste modo, Gropius participou em competições na União Soviética; Mies van der Rohe realizou projetos na Tchecoslováquia; Loos trabalhou na

43 Os Congrès Internationaux d'Architecture Moderne, fundados em 1928, na Suíça, constituíram vários eventos organizados

pelos principais nomes da Arquitetura Moderna européia. Foram realizadas dez conferencias, sendo a última em 1956, em Dubrovnik, na ex-Iugoslávia. MUMFORD, Eric. The CIAM discourse on urbanism, 1928-1960. Cambridge: MIT Press, 2000.

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Suíça e França; enquanto Le Corbusier construiu em Moscou e Stuttgart. Por meio desta extensa atividade a Arquitetura Moderna estava sendo difundida pela Europa. Os arquitetos modernos europeus empenharam-se em resolver os problemas decorrentes do contexto pós-guerra em relação à arquitetura e ao urbanismo, através da tipificação e da produção industrial dos materiais de construção, influenciando e, de alguma forma, determinando a realização de inúmeras construções, principalmente na luta pela “casa mínima”, promovendo o desenvolvimento e o aprimoramento do campo habitacional. Na urgência de buscar suprir o déficit na produção de habitações, registrou-se, nessa época, a implantação de grandes conjuntos habitacionais em países como Alemanha, Holanda, Áustria e União Soviética. Assim, a Arquitetura Moderna incorporou como instrumento de estruturação prioritária de seu discurso o apego sintomático à essas questões sociais que eram colocadas à produção arquitetônica.

Apesar de ser um momento multifacetado da produção arquitetônica internacional, o Movimento Moderno manifestou alguns princípios e preceitos que foram seguidos por vários arquitetos, das mais variadas escolas e tendências. Segundo Giulio Carlo Argan, a Arquitetura Moderna caracterizou-se e desenvolveu-se de uma maneira generalizada e global a partir de alguns princípios gerais: a prioridade do planejamento urbano em relação ao projeto arquitetônico; a busca por um sistema construtivo adequado; o repertório formal sem referências na história, tendo como característica em comum a rejeição às normas acadêmicas de representação tradicional; a rigorosa racionalidade das formas arquitetônicas, entendidas como deduções lógicas a partir de exigências objetivas; o recurso sistemático à tecnologia industrial, à padronização, à pré-fabricação em série, isto é, a progressiva industrialização da produção; e a concepção voltada ao progresso social e à educação democrática da comunidade.44

Deste modo, a Arquitetura Moderna surgiu como fronteira entre duas épocas, ao representar a destruição da antiga forma de inspiração, rompendo com a cultura mimética e historicista, sendo vetado o uso de simbologia explícita do passado, com aceitação somente de referências históricas sutis, dando lugar ao desenvolvimento tecnológico, científico e industrial. Para tanto, os arquitetos modernos europeus manifestavam-se, sobretudo, por meio da simplificação das composições visuais, da abstração geométrica e do uso de cores primárias. Assim, estes princípios constituíram os pontos centrais da linguagem arquitetônica apresentada pelo Movimento Moderno, de modo a obter equilíbrio e regularidade no conjunto projetado.

44 ARGAN, Giulio Carlo. Arte Moderna: Do iluminismo aos movimentos contemporâneos. São Paulo: Companhia das

(33)

CAPÍTULO II

BELGRADO: ANTECEDENTES DA ARQUITETURA MODERNA

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1. PANORAMA HISTÓRICO INTRODUTÓRIO

Belgrado45 é a capital e a maior cidade da Sérvia46, antiga República da Iugoslávia, país

que se situa no centro da península Balcânica, localidade considerada a linha geográfica imaginária que divide a Europa em Ocidental e Oriental.47 A posição da

cidade, no cruzamento dos rios Sava e Danúbio, constitui um dos principais pontos de passagem para a Ásia, o que a torna importante no sentido geopolítico.48

1.1. Localização da Sérvia dentro da Europa; 1.2. Localização de Belgrado na Sérvia. Fonte: <http://www.srbija.sr.gov.yu/>.

Acessado em: 10 feb 2007. Imagens preparadas pela autora.

1.3. Vista aérea de Belgrado, em 2007. Fonte: Google Maps.

45 Beograd (Београд) em sérvio, significa cidade branca. 46 Estado independente desde junho de 2006.

47 As fronteiras entre grandes impérios percorreram o território da Sérvia atual durante longos períodos da história: entre as

partes Oriental e Ocidental do Império Romano; e entre o Império Otomano e o Império Austro-Húngaro. PAUNOVIĆ, Marinko. Beograd kroz vekove (Belgrado através de séculos). Belgrado: Svetozar Marković, 1971.

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Já na pré-história os povos migrantes notaram a posição estratégica da pequena colina que se elevava no cruzamento dos dois rios. Este ponto oferecia uma visão privilegiada dos afluentes e das planícies que se estendem para oeste e norte. A região, na qual atualmente a cidade está inserida, no século III a.C. primeiramente foi povoada pela tribo celta Scordisci. Sob a ocupação romana, no final do século I, no local foi instalada uma fortificação que recebeu o nome Singidunum que, no ano 441 d.C., foi totalmente devastada pelos nômades bárbaros, os hunos e ávaros. Por isso, em torno de 535 d.C., Justiniano I, governador do Império Bizantino, reconstruiu a muralha, agora em pedra. A fortaleza, chamada de Kalemegdan49, cercava a cidade a fim de protegê-la das

invasões bárbaras.

1.4. Vista da fortaleza Singidunum no século VI. Fonte: PAUNOVIĆ, 1971.

A região dos Bálcãs começou a ser habitada pelas primeiras tribos eslavas50 somente

no início do século VII. Os eslavos começaram a se desenvolver individualmente, criando diferenças culturais, que originariam as diversas nações que até hoje se encontram na região.51 O seu aparecimento coincide com o surgimento do nome atual

de Belgrado, cujo registro escrito mais antigo data de 878 d.C. Entretanto, a cidade passou sob o governo dos sérvios pela primeira vez somente em 1284, como parte do Reino da Sérvia. Contudo, este período teve pouca duração, pois os cinco séculos de ocupação de Belgrado pelos otomanos tiveram início com a derrota do exército cristão liderado pelo príncipe sérvio Lazar Hrebeljanović, na histórica batalha do Kosovo, que ocorreu em 28 de junho de 1389. 52

Logo, observamos que por vários séculos Belgrado foi culturalmente multiétnica e

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51 VUJNOVIĆ, Marija. Nacionalismo e conflitos: A desintegração da antiga Iugoslávia após a guerra fria. Brasília,

Dissertação (Mestrado em Relações Internacionais), Universidade de Brasília, 2001.

Imagem

Tabela 1. Aumento na população e da área construída em Belgrado, 1921-1929. Fonte: VIDAKOVIĆ, 1932
Tabela  2.  Construção  de  edifícios  em  relação  ao  aumento  populacional  em  Belgrado  no  período  entre  1919-1928
Tabela 3. Representação quantitativa e percentual das obras hbitacionais projetadas pelos membros de GAMM no período  entre 1928-1934
Tabela 5. Representação quantitativa e percentual sobre a Taxa de Ocupação dos estudos de caso
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Referências

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