• Nenhum resultado encontrado

POLÍTICAS PÚBLICAS E UNIVERSIDADE: EFEITOS DA LEI DE INOVAÇÃO NA UENF

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2020

Share "POLÍTICAS PÚBLICAS E UNIVERSIDADE: EFEITOS DA LEI DE INOVAÇÃO NA UENF"

Copied!
16
0
0

Texto

(1)

Edição 29, volume 1, artigo nº 3, Abril/Junho 2014 D.O.I: 10.6020/1679-9844/2903

Página 35 de 175

POLÍTICAS PÚBLICAS E UNIVERSIDADE: EFEITOS DA LEI

DE INOVAÇÃO NA UENF

PUBLIC POLICIES AND THE UNIVERSITY: THE EFFECTS

OF THE INNOVATION LAW IN UENF

Suelen Vianna Bahiense1, Marcelo Carlos Gantos2

1LEEA – Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico. CCH – Centro de Ciências do Homem. Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil,

suelen.bahiense@gmail.com

2 LEEA – Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico. CCH – Centro de Ciências do Homem. Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro, Campos dos Goytacazes, RJ, Brasil,

mcgantos@gmail.com

Resumo – A universidade vive atualmente, em função de demandas da

consolidação da sociedade do conhecimento, a imposição da geração de inovação e tecnologia como premissa, passando agora a desenvolver além das atribuições tradicionais, o papel de ator econômico e social. Para que isso aconteça, é necessário que políticas públicas governamentais sejam desenvolvidas e implementadas como suporte de processos de inovação, sistemas legais sejam estabelecidos e as indústrias procurem adaptar-se a elas. No Brasil, o grande marco com relação à inovação foi à promulgação da Lei de Inovação nº 10.973/04 instituindo um conjunto de instrumentos normativos na busca de facilitar a junção da pesquisa acadêmica e as empresas. O estímulo à inovação a partir da lei federal, veio incentivando os Estados brasileiros a criarem suas próprias legislações, como no contexto do Estado do Rio de Janeiro através da Lei Estadual nº 5.361/08. O presente trabalho pretende problematizar e comunicar de que maneira vem ocorrendo o processo de institucionalização da inovação dentro da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF objetivando e analisando o contexto e aplicação das Leis de Inovação, tanto no âmbito federal como no Estado do Rio de Janeiro, tendo como foco as políticas públicas de inovação.

(2)

Página 36 de 175

Abstract –The University is living currently according to demands from the

consolidation of the knowledge society, the imposition of the generation of innovation and technology as a premise, developing now not only the traditional responsibilities (teaching - research -extension) but also the role of social and economic actor in the so called "entrepreneurial university" of the XXI century. For this to happen, governmental policies need to be developed and implemented as support of innovation processes, legal systems need to be established and industries need to adapt to the new technologies. In Brazil, the great mark regarding innovation was the Innovation Law nº 10.973/04, which instituted a set of normative measures seeking to facilitate the joining of academic research and business, giving a legal support and encouraging the commercialization of scientific and technological research, stimulating the relationship between universities and the private sector. The stimulus to innovation within Higher Education Institutions in Brazil from the federal law came encouraging Brazilian states to create their own legislation on innovation within universities and in the context of the State of Rio de Janeiro, where the enactment of State Law 5.361/08 encourages the application of regional science and technology with the aim of promoting technological development within the state. This paper aims to discuss and communicate how the process of institutionalization of innovation within the State University of North Fluminense Darcy Ribeiro - UENF is happening and aiming and analyzing the context and application of the Laws of Innovation, at both the federal and the State of Rio January, focusing on public policy innovation in accordance with existing laws.

Keywords: Innovation. University. Public policies.

1. Introdução

Este texto é um avanço da pesquisa de mestrado em andamento no Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF1. Este projeto se insere na linha de pesquisa denominada Política, Cultura e Conhecimento, que trata de questões relacionadas ao conhecimento e suas relações com a sociedade. Assim aqui serão abordadas e discutidas as políticas relacionadas com ciência e tecnologia na construção do espaço público.

Para entender tais questões é necessário ter consciência que em todo mundo a universidade vive uma segunda revolução acadêmica, caracterizada pela combinação de ensino e pesquisa com forte atuação de transferência de conhecimento para a sociedade. No Brasil, dada sua história e complexidade social,

1

A Universidade Estadual Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF) foi implantada em 1993, com base em Plano orientador elaborado por Darcy Ribeiro, com a missão de dotar o Estado do Rio de Janeiro de uma universidade capaz de operar nas fronteiras do conhecimento.

(3)

Página 37 de 175 há uma grande demanda de se ampliar a cooperação e os fluxos de conhecimento entre universidade e sociedade, determinantes para absorção, aprendizagem e a geração de inovação e tecnologia como pilares do novo paradigma.

No âmbito da inovação, entendida como “introdução de novidade ou aperfeiçoamento no ambiente produtivo ou social que resulte em novos produtos, processos ou serviços”, um dos desafios atuais da universidade brasileira se apresenta como a busca de uma (re) organização institucional. Isso se deve, em grande parte, a avanços significativos ocorridos nas áreas de proteção e conhecimento gerado por seus pesquisadores, tanto no sistema de licenciamento de patentes como na transferência de tecnologia.

Para Etzkowitz, a universidade é considerada tanto fonte de conhecimento como espaço propício à inovação, e essas inovações são passíveis de serem transferidas para a sociedade (Arbix et al, 2011). Assim, recentemente ocorreu no país motivações que estimulam mudanças no sistema universitário, indo além das habituais preocupações com sua expansão e melhoria da qualidade de ensino. A principal delas foi à aprovação da Lei de Inovação (Lei nº 10.973/2004) sancionada pelo Congresso em 2004, que marcou uma curvatura significativa na trajetória do sistema de gestão da propriedade intelectual e de transferência de tecnologia na universidade brasileira.

Os Estados também aderiram Leis Estaduais de Inovação Tecnológica, abordando questões específicas para a região correspondente, como é o caso da Lei nº 5.361/08, Lei de Inovação do Estado do Rio de Janeiro, fazendo parte também desse movimento.

A premissa fundamental deste trabalho aponta delinear os desafios provenientes do processo de institucionalização da inovação no âmbito da Universidade Estadual do Norte Fluminense (UENF), tendo como preocupação responder a pergunta sobre quais são suas matrizes orientadoras observando o modelo de organização vigente e as principais formas instituídas. Para tanto, nos propomos aqui, inicialmente, delinear a trajetória da construção do arcabouço legal que fundamenta o projeto da inovação adotado pela UENF, com o objetivo de contribuir para o entendimento deste processo a nível institucional.

Partiremos da compreensão dos fundamentos Lei de Inovação Tecnológica (Lei Federal nº 10.973/2004) e a Lei Estadual de nº 5.361/08, ambas tem como objetivo criar um ambiente propício para aumentar o envolvimento das empresas no

(4)

Página 38 de 175 desenvolvimento científico-tecnológico de projetos inovadores que levem a gerar novos produtos e processos. Busca-se através destas leis, facilitar uma elevação do nível de parcerias entre as empresas, universidades e institutos científicos e tecnológicos para que ganhem força e estimulem o fortalecimento do processo de inovação. Além disso, na esfera estadual, ainda incorpora-se a dimensão da inclusão social com fator ponderado da inovação.

Inicialmente, procura-se realizar uma aproximação a questão da inovação no Brasil mediante uma contextualização histórica deste processo em andamento. Posteriormente, apresenta-se uma revisão bibliográfica e documental sobre a temática, partindo de uma perspectiva de análise jurídica das leis federal e estadual, sendo esta ultima específica do Estado do Rio de Janeiro, sobre inovação tecnológica no Brasil.

2. Ciência, Tecnologia e Inovação como Políticas de Estado

Aprender e produzir conhecimento para transformá-los em inovações nas esferas tanto econômicas como sociais é, hoje mais do que nunca, estratégico, tanto para o dinamismo e a prosperidade da sociedade, quanto para que a nação se defina de forma soberana. Dessa forma, PD&I, isto é pesquisa, desenvolvimento e inovação vem sendo a formula crescente invocada para empresas, regiões e nações como solução para suas crônicas aflições econômicas e, consequentemente, promover o seu desenvolvimento.

Assim, a expectativa de vida da humanidade, o desenvolvimento e a riqueza dos países estão relacionadas com os avanços da Ciência, Tecnologia e Inovação (Torresi et al, 2010). Essas áreas devem ser tratadas como Políticas de Estado, primordialmente possuindo uma visão do futuro. Partindo dessa visão, cientistas no Brasil há alguns anos atrás reivindicaram para que houvesse uma política de Estado dedicada ao financiamento à ciência, tecnologia e inovação e que da mesma forma estas não sofressem descontinuidade por conta do governo. A concretização dessas reivindicações ocorreu no final do século XX, quando houve uma reconfiguração do fomento à pesquisa, modificada radicalmente a partir da implementação dos chamados “fundos setoriais”.

(5)

Página 39 de 175 Órgãos como a FINEP (Financiadora de Estudos de Projetos), o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) e a CAPES (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) também tiveram seus recursos para fomento, auxílios e bolsas, aumentados significativamente, bem como a Fundação de Amparo à Pesquisa - FAPs que ampliaram sua participação no fomento dos Estados e, mais recentemente, passaram a fazer convênios com as agências federais e entre as próprias FAPs. Isso ajudou a levar recursos para desenvolvimento da C&T, beneficiando todos os pesquisadores (Torresi et al, 2010).

Devido a essas mudanças, o Brasil possui atualmente o 13º lugar no ranking de produção científica mundial e ainda um aumento significativo na formação de doutores todos os anos, o que tem atraído investimentos de grandes empresas multinacionais para instalarem aqui seus centros de pesquisa. Mas ainda há uma necessidade de formar mais profissionais qualificados em termos de graduação e pós-graduação em número suficiente para atender a demanda.

Apesar disso, há uma necessidade de mudanças nas universidades brasileiras, juntamente com o setor privado para que estejam interagindo na produção de tecnologia, partindo de grupos de pesquisa dentro das universidades (Ferreira, 2002). Uma opção para ocorrerem mudanças nesse quadro seria que os alunos das universidades trabalharem dentro das linhas de interesse das empresas. A função primordial das universidades é formar profissionais altamente qualificados para serem incorporados nos laboratórios de pesquisas tecnológicas das empresas e de outros setores. Para tanto, é preciso motivar as empresas no sentido de ampliar o mercado de trabalho para recém-doutores, pois sem pesquisadores altamente qualificados prestando serviços para as mesmas, não há novas tecnologias e nem inovação de produtos.

Este problema é muito notado no Brasil devido a ausência de um fluxo de recém-doutores para as empresas, tornando como única opção a de continuarem nas universidades com bolsas de recém doutor, pesquisador associado ou pós-doutorando, através de projetos envolvendo as agências de fomento federais e estaduais.

Também temos o fenômeno da globalização, que muito embora não seja uma realidade fática recente que traz consigo assimetrias e descompassos entre as nações, se apresenta como forma de aprofundar a característica estrutural do sistema capitalista mundial.

(6)

Página 40 de 175 Com base nessas preocupações, o país passou a pensar e criar mecanismos de gestão aplicáveis às Instituições Científicas e as Empresas de Base Tecnológicas baseados na promulgação da Lei de Inovação (Lei nº 10.973/04). O Sistema de Ciência e Tecnologia no Brasil (SCTB), apesar de apoiar-se em uma base estrutural razoável, necessita ser fortalecido de várias maneiras para que possa ser ampliado, consolidado e garantido contra eventuais instabilidades no futuro.

Apesar dos avanços científicos das últimas décadas, suas consequências econômicas ainda são muito limitadas. O Brasil produz ciência de fronteira, contudo não consegue interagir, em um nível adequado, com o setor produtivo. A Lei de Inovação foi concebida como um instrumento legal direcionado incentivar o Brasil a produzir tecnologia de ponta a fim de que possa competir no mercado.

3. As motivações da Lei de Inovação

A primeira norma de incentivo a inovação instituída no cenário internacional foi a Lei de Inovação Americana – Bayh-Dole, que veio derrubando o tabu que existia contra a prática de atividades claramente comerciais nas universidades (Barbosa, 2011). Assim, a criação da Lei de Inovação americana influenciou a partir daí vários países, como, por exemplo, o Brasil, atuando principalmente no “casamento” do sistema produtivo com as Instituições Científicas e Tecnológicas.

Esse pensamento se iniciou no Brasil tendo em vista os resultados referentes da Conferência Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação, realizada em setembro de 2001. Essa conferência consistia no apoio do Governo Federal à pesquisa e à inovação brasileiras e continha uma proposta estratégica rumo aos dez próximos anos. Para que houvesse sucesso dessa reforma seria necessário um diálogo entre a comunidade científica, os demais órgãos do governo e o setor privado.

A partir desse ponto surgiria a intenção de um Projeto da Lei nº 3.476/04 do Poder Executivo que “dispõe sobre incentivos à Inovação e à Pesquisa Científica e Tecnológica no Ambiente produtivo e dá outras providências”, visando o fortalecimento das interfaces entre o setor público e o setor privado, de forma a se consolidar uma política do Sistema Nacional de CT&I. Para isso muitos atores deveriam ser envolvidos nesse processo como pesquisadores, governo, setor

(7)

Página 41 de 175 privado e sociedade em geral. Todavia o ator decisivo para esse processo é a empresa.

As nações mundialmente mais desenvolvidas investem de forma sistemática em C&T e são capazes de transformar os frutos desses esforços em inovações. Os resultados que esses países colhem com esse investimento são: propiciar alta qualidade de vida, empregos bem remunerados, segurança pública e seguridade social a seus cidadãos. Além disso, comercializam bens e serviços tecnologicamente avançados, dispondo de geração de renda e crescimento econômico, em função seja do valor agregado a esses produtos, seja do grande dinamismo de seus mercados.

Partindo de todos esses fatores, países em desenvolvimento como o Brasil são motivados a investirem em CT&I, uma vez que, conforme visto em experiências internacionais, o investimento em CT&I desempenha papel fundamental na criação de um círculo virtuoso de crescimento. Nesse contexto surge e se consolida no pais a premissa de que é preciso transformar o conhecimento em forma efetiva de desenvolvimento e por intermédio da inovação é que o avanço desse conhecimento se socializa e se materializa em bens e serviços para as pessoas.

4. Lei nº 10.973/04 (Lei de Inovação no Brasil) e suas prerrogativas

Hoje em dia tem que haver ação de esforços, investindo, estimulando o desenvolvimento industrial e particularmente tecnológico. A economia corre sérios riscos de declínio e de ser levada a situação satélite de economias mais poderosas, a ponto do comprometimento da independência nacional não somente no plano econômico e técnico, mas também no político (Barbosa, 2011).

A eficácia da intervenção direta e franca do Estado no tocante à política tecnológica foi empírica e fartamente demonstrada em um dos exemplos mais claros de sucesso de economias nacionais. Os países desenvolvidos recorrem a tal intervenção com intensidade.

Para se entender a importância da Lei de Inovação no Brasil é necessário partir de seu aspecto constitucional que gera instrumentos para sua interpretação. Inicialmente a Constituição Federal de 1988 prevê como direito fundamental ao desenvolvimento, sendo encargo do Estado (União, Estados, DF e Municípios) a

(8)

Página 42 de 175 promoção e o incentivo do desenvolvimento científico à pesquisa e a capacitação tecnológica (art. 3º da CF). A modalidade de desenvolvimento científico e tecnológico particulariza um princípio básico, elementar, constitutivo da República, onde diz que esta tem como objetivo garantir o desenvolvimento nacional.

O direito ao desenvolvimento nacional é uma norma jurídica de cunho constitucional e de caráter fundamental, caracterizado como direito de terceira geração (o direito ao desenvolvimento, à paz, ao meio ambiente, à comunicação e ao patrimônio comum da humanidade), consagrado inclusive na esfera internacional como direitos humanos (o direito ao desenvolvimento como um direito universal e inalienável e parte integral dos direitos fundamentais).

Há ainda na Constituição outros artigos que se referem à inovação, porém os que preconizam sobre a Lei de Inovação (Lei nº 10.973/04) são os artigos 218 e 219 da Carta Magna. O artigo 218 faz a distinção entre pesquisa científica e a pesquisa tecnológica, que são cruciais para a inovação. Já no artigo 219 há um apontamento como elemento essencial de interpretação e de estruturação na lei, como forma de entender como a mesma funciona e para que efeitos.

Existem várias prerrogativas quanto ao investimento em inovação partindo desses dois artigos. A mais importante delas é que a regulação constitucional de C&T determina que o estímulo da tecnologia seja na concessão de propriedade de resultados, voltados principalmente para solução de problemas dos brasileiros e para o desenvolvimento do sistema produtivo nacional e regional.

Dessa forma, caso a Lei de Inovação criada no Brasil tivesse por efeito atender a interesses da política externa de governo, independente de interesse social ou desenvolvimento tecnológico do país, ela seria inconstitucional. A Constituição deixa claro que os investimentos em tecnologia e sua apropriação têm que beneficiar aos brasileiros e a economia brasileira de maneira que a tecnologia é apropriável em favor do sistema produtivo nacional, sendo essa a tônica essencial da Lei de Inovação (Barbosa, 2011).

A criação da Lei nº 10.973/04 veio instituindo um conjunto de instrumentos facilitando a pesquisa acadêmica em interação com as empresas, dando um amparo legal e incentivando a comercialização dos resultados das pesquisas científicas e tecnológicas (Plonski, 2005).

(9)

Página 43 de 175 Nesse sentido, a lei estipula como obrigatoriedade a criação de Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) nas Instituições de Ciência e Tecnologia (ICTs)2. Estes núcleos são formados para tornarem-se referência no diálogo e no relacionamento com o setor empresarial, além de se responsabilizar pela defesa e proteção da propriedade intelectual e da inovação (Arbix et al, 2011).

A grande questão é que a Lei de inovação brasileira estimula o relacionamento entre a universidade e a iniciativa privada a partir dos NITs criados dentro destas ICTs, afim de que se institucionalizar a comercialização dos resultados das pesquisas acadêmicas, bem como o estímulo à incubação, segundo a qual a política de inovação das instituições de ciência e tecnologia deve prever o papel das incubadoras tecnológicas3 (Arbix et al, 2011).

Assim, a Lei de Inovação nº 10.973/04 visa incentivar a inovação de forma a aumentar a competitividade empresarial nos mercados nacionais e internacionais e seus objetivos específicos são: incentivar a pesquisa científica e tecnológica e a inovação; incentivar a cooperação entre agentes de inovação; facilitar a transferência de tecnologia; aperfeiçoar a gestão das instituições acadêmicas; servir de estímulo aos pesquisadores, incentivar a mobilidade dos pesquisadores; estimular a formação de empresas de base tecnológica e estimular o investimento em empresas inovadoras (Barbosa, 2011).

5. A Lei de Inovação Tecnológica no âmbito do estado do Rio de

Janeiro e sua aplicação na UENF

Um dos pontos mencionados pelo Livro Branco da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCT, 2002), é a entrada na agenda de consensos que norteia o Sistema Nacional de Ciência, Tecnologia e Inovação de uma agenda regional para o Ministério da Ciência e Tecnologia por meio de fixação de percentuais mínimos de gastos nas regiões menos desenvolvidas e pelo apoio a um conjunto de iniciativas a exemplo

2

ICTs: Órgão ou entidade da administração pública que tenha por missão institucional, dentre outras, executar atividades de pesquisa básica ou aplicada de caráter científico ou tecnológico. (Lei nº 10.973/2004, art. 1º, inc. V).

3

Incubadoras de empresas: organizações que incentivam a criação e o desenvolvimento de micro e pequenas empresas industriais ou prestação de serviços, de base tecnológica ou manufaturas leves, por meio do provimento de infra-estrutura básica e da qualificação técnica e gerencial do empreendedor, em caráter complementar, para viabilizar o seu acesso à inovação tecnológica e sua inserção competitiva no mercado. ( Lei nº 5.361/2008, art. II, inc. VII).

(10)

Página 44 de 175 dos arranjos produtivos locais.

Dessa forma, a agressiva disputa pela apropriação da informação, do conhecimento e do desenvolvimento da inovação no mundo contemporâneo, decorrente do processo de globalização, conforme delineado nas conclusões do mesmo Livro Branco da Ciência, Tecnologia e Inovação, indica a necessidade de o Brasil construir um modelo de desenvolvimento tecnológico autônomo (Plaza, 2011).

Isso se torna explícito na Lei de Inovação Tecnológica, tanto a federal quanto as Estaduais, cujo teor deve refletir claramente que a geração de conhecimento e a formação de recursos humanos são funções da universidade, e que a inovação tecnológica ocorre no âmbito das empresas e se apresenta como um instrumento e alternativa relevante para reduzir a dependência tecnológica do país.

Os Estados por sua vez ao instituírem a Lei de Inovação Tecnológica contribuem para fortalecer as áreas de pesquisa e da produção de conhecimentos, fomentando adequadamente a criação de novos ambientes, propícios à geração e absorção de inovações, atuando como instrumentos de apoio as políticas industriais e tecnológicas estaduais (Plaza, 2011).

Dentro desse contexto de mudanças nas Instituições Científicas e Tecnológicas – ICT’s do país, é que o Estado do Rio de Janeiro vem se aplicando e debatendo desde 1999 uma política orientada ao fomento e a promoção da inovação tecnológica concebida como um dos principais alavancas do crescimento econômico e, pela sua vez, de distribuição de riqueza, acoplado ao aumento de investimentos em pesquisa básica.

Essa política tem como objetivo promover o desenvolvimento tecnológico do Estado que, através da Lei nº 5.361/08 regula e “dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo no âmbito do Estado do Rio de Janeiro e dá outras providências”. Para isso, as universidades tem assumido uma importante missão diante de novos paradigmas, parando de utilizar o discurso de “ciência pela ciência”, ficando mais preocupadas com as necessidades regionais e desejando contribuir para o seu desenvolvimento (Terra et al, 2010).

A partir da Lei de Inovação Estadual, Sistemas Regionais de Inovação passaram a serem desenvolvidos no Estado do Rio de Janeiro, afim de que se integrem esforços dos setores públicos e privados, visando produzir bens e serviços inovadores, com objetivo de promoção do crescimento econômico e do

(11)

Página 45 de 175 desenvolvimento social, aumentando assim o mercado de trabalho e o direcionamento de investimentos.

Em parceria com as universidades e institutos de pesquisa dentro do Estado do Rio de Janeiro, a agência de fomento à pesquisa como a Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Rio de Janeiro (FAPERJ), busca encorajar as empresas a formar parcerias com as universidades no sentido de permitir à obtenção de incentivos governamentais para seus projetos. Universidade e empresa estabeleceriam um acordo de cooperação técnica sobre um dado projeto e o mesmo seria submetido à FAPERJ (Terra et al, 2010 ).

O Estado do Rio de Janeiro a partir da promulgação da Lei nº 5.361/2008 estabeleceu medidas de incentivo à inovação e à pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo que, como a Lei de Inovação federal, visa o alcance da autonomia tecnológica e o desenvolvimento industrial, porém incorpora em seu texto de forma inédita a noção de inclusão social. Esta lei regulamentou e estabeleceu uma série de critérios adotados a partir da sua promulgação, acrescentando pontos específicos do Estado que regularizam o Sistema Estadual de Inovação.

A Lei de Inovação Estadual reconhece que, para que ocorra inclusão social e o desenvolvimento nas regiões desfavorecidas do país, é necessário que o Estado reconheça e dinamize mecanismos que orientam medidas para gerar estímulos aos atores que inovam, flexibilizando atividades e as relações das ICT’s e, consequentemente, gerando uma cultura de inovação socialmente inclusiva para o país.

Visando tais mudanças no ambiente acadêmico associadas ao avanço da C&T no Brasil e no Estado do Rio de Janeiro, a Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro – UENF instituiu recentemente, em 4 de novembro de 2011, a Resolução Consuni nº 5, criando a Agência UENF de Inovação - AGIUENF, que tem como missão atuar como proponente e gestora de política de inovação da universidade, atendendo a um dos requisitos mencionados pela Lei de Inovação, tanto a federal como a estadual.

Entre suas atribuições está fomentar e administrar recursos captados pela universidade de investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D), estabelecer acordos e convênios com instituições públicas e privadas, atuar como intermediadora e facilitadora de professores, laboratórios e centros da UENF,

(12)

Página 46 de 175 instituições e empresas externas, com vistas à efetivação de projetos de pesquisa e de extensão, entre outras.

A UENF, por ser uma Instituição de Ensino Superior Estadual, vem assimilando e se adaptando a esta transformação em curso, fazendo parte dessa política de inovação e participando diretamente do Conselho Estadual de Ciência e Tecnologia. Este órgão colegiado deliberativo tem como atribuição estabelecer uma política de desenvolvimento de tecnologia e inovação no Estado do Rio de Janeiro. A UENF ainda se propõe como missão institucional executar atividades de pesquisa básica de caráter científico e tecnológico.

Apesar de tais iniciativas ainda incipientes por parte da UENF, verifica-se no momento desta pesquisa inconsistências, lacunas e dúvidas a serem esclarecidas, uma vez que a marcha da institucionalização da inovação se encontra em processo de implantação.

6. Considerações finais

É necessário superar a percepção de que a inovação é um processo linear, ou seja, aquele que se inicia com a pesquisa básica, avança para a pesquisa aplicada e o desenvolvimento experimental, e culmina com a operação de novos processos e produção de novos produtos ou serviços. Também deve-se superar a tentativa de compreender a inovação como um processo simplificado, exclusivamente dependente do que ocorre no interior da empresa.

Entende-se que a inovação deve ser percebida como um fenômeno complexo, multidimensional, que pressupõe a presença e articulação de número elevado de agentes e instituições de natureza diversa, com lógicas e procedimentos distintos, objetivos de curto e longo prazos diferenciados, potencialidades e restrições específicas e motivações variadas. É importante sublinhar que o processo de inovação tem características sistêmicas e é condicionado por políticas, por um conjunto de instituições, públicas e privadas, e pela qualidade e intensidade de suas inter-relações. A percepção da inovação como processo tem, assim, implicações relevantes para definição de políticas e estratégicas de e a partir da articulação das mesmas, promover o desenvolvimento de C&T.

(13)

Página 47 de 175 As Leis de Inovação mencionadas, tanto do âmbito federal quanto do âmbito estadual, constituem um instrumento positivo por reconhecer a importância da interação entre academia, a empresa e o governo, principalmente por reconhecer a empresa como local de se produzir inovações, muito embora não tenham sido elaboradas em específico para as mesmas.

Ao colocar a inovação como foco principal, a Lei de Inovação Tecnológica reconhece que não basta para um país fazer tão só C&T e P&D. Para seu desenvolvimento é preciso transformá-los em novos produtos e processos ou melhorar o que já existe para que os produtos finais sejam desejados pelos mercados nacional e internacional.

Portanto para que isso aconteça, cabe ao Estado orientar, apoiar e estimular o processo de inovação tecnológica no país, sem desconsiderar que a transformação da indústria é responsabilidade dela mesma. Dessa forma, a Lei de Inovação Tecnológica surge como instrumento institucional relevante para apoiar as políticas industriais e tecnológicas no Brasil.

A UENF, apesar de sua “juventude”, já mostra alguns indícios institucionais promissores da aplicação da Lei de Inovação, porém resta-nos saber se a institucionalização da lei ocorre de maneira integral, tendo em vista sua obrigatoriedade como norma legal. Simultaneamente as mudanças em curso, assiste-se a um novo cenário ainda permeado por dúvidas e desinformação respeito a natureza e implicâncias dos efeitos desta lei no cotidiano acadêmico, um desafio de ordem cultural que ocorre em paralelo.

Referências

Arbix, G.; Consoni, F. 2011. Inovar para transformar a universidade brasileira. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 26, nº 26. São Paulo.

Barbosa, D. B. et al. 2011. Direito da Inovação. (Comentários à Lei Federal de Inovação, Incentivos Fiscais à Inovação, Legislação estadual e local, Poder de Compra do Estado). Rio de Janeiro: Lumen Juris. p. 9-192.

Brasil. 1988. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado. __________1999. Plano Plurianual 2000-2003. Ministério do Planejamento.

(14)

Página 48 de 175 _____. 2002. Ministério da Ciência e Tecnologia. Livro Branco: Ciência, Tecnologia e

Inovação. Brasília: Ministério da Ciência e Tecnologia.

______. Diário Oficial da União de 2 de dezembro de 2004. Lei 10.973, de 2 de

dezembro de 2004. Dispõe sobre incentivos à inovação e à pesquisa tecnológica

no ambiente produtivo e dá outras providências.

______. Diário Oficial do Estado do Rio de Janeiro de 29 de dezembro de 2008. Lei

nº 5.361, de 29 de dezembro de 2008. Dispõe sobre incentivos à inovação e à

pesquisa científica e tecnológica no ambiente produtivo no âmbito do Estado do Rio de Janeiro, e dá outras providências.

Castro, B. S. de; 2012. O papel dos Núcleos de Inovação Tecnológica (NITs) nas universidades brasileiras. Liinc em Revista, v.8, nº 1, p. 125-140, mar. Rio de Janeiro.

Etzkowitz, H. 1990. The Second Academic Revolution: The Role Of The Research University in Economic development. p. 109-124. In: Cozzens S.E et al; The

Research System in Transition. Holanda: Kluwer Academic Publishers.

Etzkowitz, H.; Leydesdorff, L. 1997.Universities and the Global Knowledge Economy – A Triple Helix of University-Industry-Governement Relations. Londres: Continuum,.

Etzkowitz, H.; Terra, B. R. C. Setembro de 1998. A Universidade Empreendedora e a

Sociedade da Nova Era. In: Anais Seminário Business in Knowledge Era. Rio de

Janeiro.

Ferreira, V. F.; 2002. Universidade e Inovação Tecnológica. Quim.Nova. V. 25. n°2, p. 179.

Lima, M. M. T.; Dagnino, R. P.; Fonseca, R. Jul – Dez 2008.Um enfoque tecnológico

para inclusão social. Perspectivas em Políticas Públicas – Belo Horizonte, v. I, nº

2, p. 117-129.

Pereira, J. M.; Kruglianskas, I.; Jul-Dez 2005. Gestão de Inovação: A Lei da Inovação Tecnológica como Ferramenta de Apoio às Políticas Industrial e Tecnológica do Brasil. RAE – eletrônica, v. 4, n°2. Artigo 18.

Plaza, C. M. C. de A.; 2011. Análises das Leis Estaduais de Inovação Tecnológica de São Paulo, Minas Gerais, Santa Catarina, Mato Grosso e Amazonas e seus Respectivos Contratos. In: 2011. Direito de Inovação: Comentários à Lei Federal de Inovação, Incentivos Fiscais à Inovação, Legislação estadual e local, Poder de Compra do Estado. p. 690-705.

Plonski, G. A. Jan-Mar. de 2005. Bases para um movimento pela inovação

tecnológica no Brasil. São Paulo em Perspectiva, v.19 n.1, p. 25-33,.

Reis, R. C. C. 2005. As vozes do laboratório: A perspectiva dos pesquisadores de

(15)

Página 49 de 175

Universidade Livre de Bruxelas sobre patentes e pesquisa de inovação. 2005.

215p. Dissertação (Mestrado em Políticas Sociais). UENF. Campos dos Goytacazes/RJ.

Ribeiro, Darcy. Universidade do Terceiro Milênio. Plano Orientador da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Vol. 1, nº 1. Rio de Janeiro: UENF, 1993.

_______. Plano Orientador da Universidade Estadual do Norte Fluminense. Vol. 3, nº 1. Rio de Janeiro: UENF, 1994.

Scholze, S. H. C. 2002. Patentes, transgênicos e clonagem: implicações jurídicas e

bioéticas. Brasília: Universidade de Brasília.

Sobral, F. Jan-Jun 2004. Desafios das Ciências Sociais no desenvolvimento científico e tecnológico comtemporâneo. Sociologias. Porto Alegre, ano 6, nº 11, p. 220-237.

Terra, B. R. C.; Barros, F. C. P. de; Seild, P. R. 2010. Sistemas regionais de

inovação: o caso do estado do Rio de Janeiro.

Torresi, S. I. C.; Pardini, V. L.; Ferreira, V. F.; 2010. Ciência, Tecnologia e Inovação Devem Ser Políticas de Estado. Quim.Nova. v. 33, n°08, p. 1629.

Sobre os autores

Suelen Vianna Bahiense – Possui graduação em Direito pela Faculdade de Direito

de Cachoeiro de Itapemirim (2010). Atualmente é mestranda do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais pela Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro (UENF), atuando na linha de pesquisa “Política, Cultura e Conhecimento” tratando de questões relacionadas ao conhecimento e suas relações com a sociedade.

Marcelo Carlos Gantos – Possui graduação em História pela Universidad Nacional

de Mar del Plata (1987), Mestrado em História Urbana pela Universidade Federal Fluminense (1992) e Doutorado em História Social da América também pela Universidade Federal Fluminense (1998). Realizou estagio de Pós-doutoramento (2007) na EEHA - CSIC Escuela de Estudios Hispanamericanos, Sevilha, Espanha. Atualmente é professor associado e Chefe do LEEA- Laboratório de Estudos do Espaço Antrópico do Centro de Ciências do Homem desta instituição, lecionando no Curso de Graduação em Ciências Sociais, Licenciatura em Pedagogia e como

(16)

Página 50 de 175 Professor Orientador do Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais (UENF/CAPES). Tem experiência de pesquisa, docência e extensão nas áreas de História e no campo interdisciplinar das Ciências Humanas, com ênfase em estudos culturais locais e da America Latina, atuando principalmente nos campos da cultura visual ( fotografia, audiovisual, arte do vídeo) divulgação cientifica, história das políticas sociais, culturais, patrimônio, memória social e extensão universitária.Dirige desde 2000 a UESI-Unidade Experimental de Som e Imagem, pertencente ao CCH/UENF.

Referências

Documentos relacionados

O caso de gestão a ser estudado irá discutir sobre as possibilidades de atuação da Pró-Reitoria de Assistência Estudantil e Educação Inclusiva (PROAE) da

Então os pais divulgam nosso trabalho, e a escola também ela divulga todos os resultados, então nós temos alguns projetos que desenvolvemos durante o ano letivo, que

Em 2008 foram iniciadas na Faculdade de Educação Física e Desportos (FAEFID) as obras para a reestruturação de seu espaço físico. Foram investidos 16 milhões

Não obstante a reconhecida necessidade desses serviços, tem-se observado graves falhas na gestão dos contratos de fornecimento de mão de obra terceirizada, bem

intitulado “O Plano de Desenvolvimento da Educação: razões, princípios e programas” (BRASIL, 2007d), o PDE tem a intenção de “ser mais do que a tradução..

Esta dissertação pretende explicar o processo de implementação da Diretoria de Pessoal (DIPE) na Superintendência Regional de Ensino de Ubá (SRE/Ubá) que

De acordo com o Consed (2011), o cursista deve ter em mente os pressupostos básicos que sustentam a formulação do Progestão, tanto do ponto de vista do gerenciamento

A versão reduzida do Questionário de Conhecimentos da Diabetes (Sousa, McIntyre, Martins & Silva. 2015), foi desenvolvido com o objectivo de avaliar o